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Raymundo de Lima
Duas categorias de mulheres convivem no nosso tempo: a mulher tradicional e a mulher pós-
moderna.
A mulher-tradicional passou a ser vista como uma coitada na cama, uma escrava no lar e uma
bobinha na sociedade. Contradizendo a mulher-tradicional que até se gabava de nunca ter sentido
“nada” durante o ato sexual, a mulher pós-moderna se preocupa em conseguir um orgasmo a
qualquer preço. Fazer psicoterapia ou se consultar com um sexólogo hoje é uma escolha ‘natural’
das mulheres que tomaram consciência do seu direito ao prazer sexual e uma existência plena.
Relação. O ato sexual para a mulher tradicional significa um recurso para a fecundação; para a
mulher pós-moderna é prazer, independe da intenção de ter filhos e de se ver amarrada a um(a) cara.
O sexo da mulher tradicional é uma obrigação, às vezes sente nojo, exceto quando ela se vê
destinada a ‘padecer no paraíso’ na hora do parto. Nas raras conversas sobre sua intimidade com
amigas do lar escapa-lhe falar com vergonha das ‘porcarias’ que seus maridos as obrigam a fazer, e
também sua incapacidade de dizer não às obrigações matrimoniais. Uma entrevistada considera o
homem “um porco”, que só pensa em porcarias, e que era preciso enganar, constantemente com
desculpas.
Por seu lado, o marido tradicional não se atreve a pedir certos prazeres à esposa tradicional por
achar que não é ‘certo’ e, ela imagina que deve se mostrar fria e passiva nas relações sexuais.
Alguns autores consideram que esse mau entendimento entre os casais pode gerar desde frustrações,
até aumentar a falsa frigidez da mulher.
Geralmente ela deixa transparecer o medo e ciúme do marido procurar uma amante ou prostituta,
enfim, outra que saiba melhor satisfazê-lo. Afinal, a mulher-tradicional nunca aprendeu sobre
educação sexual, portanto, ignora como ser uma boa mulher na cama. Teme tomar a iniciativa, por
vergonha, culpa ou medo de ser confundida como uma vadia. Submissa, ela ignora que a cultura lhe
impôs como destino ser apenas mãe e dona-de-casa.
A mulher pós-moderna cultua a liberdade sexual, mas odeia assédios. Extrai gozo narcisista de estar
na tela ou no website. Sua imagem glamourosa, poderosa, deve dominar sua realidade cotidiana. Ela
evita expressar valores, mas fica indignada contra as limitações, principalmente à sua liberdade
sexual. Demonstra preocupação ética com os direitos humanos, a ecologia, seu direito ao aborto, o
direito dos homossexuais de adotarem crianças, etc.
Os homens, hoje – tradicionais e modernos –, parecem assustados com a mulher pós-moderna, tanto
na intimidade sexual como no seu forte desempenho na sociedade competitiva. Não
conscientemente, alguns temem ser devorados por essa mulher dominadora, com desejos sexuais
ativos, inextinguíveis e ilimitados. O “mito da vagina dentada” recalcado nos homens desperta-lhes
conflitos endopsíquicos. Que homem não é surpreendido com um orgasmo que parece um ataque
epiléptico?
As mulheres pós-modernas são criticadas por copiarem o que há de pior nos homens: desde o uso
de terninho estilo coveiro até a virilidade excessiva quando ocupa cargo de chefia, observa o
sociólogo Domenico de Masi, em conferência direcionada às mulheres no Senado Federal. Mas
também existe admiração por sua autonomia e ousadia dentro e fora do lar. Sua dupla ou tripla
jornada de trabalho, o estresse, o sentimento de culpa por não dar atenção aos filhos, não farão a
mulher pós-moderna desistir das suas conquistas e optar pelo modo de ser submisso da mulher
tradicional. Os avanços das mulheres são irreversíveis.