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O mito da beleza

Um padrão de beleza estabelecido socialmente remonta à 1830, é o primeiro registro


que se tem, “quando se consolidou o culto à domesticidade e inventou-se o código da
beleza” (p. 18).

Durante a Revolução Industrial, a beleza não era um padrão que se imperava, mas sim a
força e a capacidade reprodutiva das mulheres, porém com a ascendência de uma classe
burguesa, mulheres letradas e ociosas, o mito da beleza surgiu como um disfarce para
ocupar essas mulheres com algo que podiam controlar. Afinal, se essas mulheres
alfabetizadas e conhecedoras de seus direitos, se juntassem, eram uma ameaça para o
patriarcado.

Ai que vem todas aquelas ficções sobre as mulheres histéricas e hipocondríacas da


classe média. Essas mulheres passaram a ser ocupadas com tarefas repetitivas,
demoradas e trabalhosas, como o bordado e a renda feita à mão. Isso ocupava a mulher,
gastava sua energia, inteligência e criatividade.

As mulheres passaram a se ocupar com à moda, ao bordado, à educação infantil e


depois ao cuidado com a casa.

Porém, depois que as mulheres passaram a superar as opressões materiais, percebeu-se


que, uma opressão psicológica poderia ser mais eficaz, ai que entra com toda a força o
mito da beleza. Para prejudicar o progresso das mulheres.

A indústria das dietas gera 33 milhões de dólares; Dos cosméticos 20 milhões de


dólares; Da cirurgia plástico estética, 300 milhões de dólares e da pornografia, 7 bilhões
de dólares.

QBP: Qualificação da beleza profissional. Surgiu com o próprio mito da beleza,


juntamente com a emancipação feminina, ampliando-se de forma a acompanhar a
liberação profissional das mulheres. Teve início na década de 1960, a jovem mulher da
classe média que trabalhava, estudava, era independente. Porém, ela precisava ser sexy,
pois assim o trabalho não se apresentava como perigoso, e sim como ridículo, pois logo
ela se casaria e tornar-se-ia mulher.

Mulheres foram acostumadas a considerar a beleza como um bem e desacostumadas a


controlar muito dinheiro próprio.

1980: Mulheres já buscavam ter status por meio da beleza. A beleza desempenha o
mesmo papel que o dinheiro representa para os homens.

Em 1971, um juiz sentenciou uma mulher a perder um quilo e meio por semana ou ser
presa.

1972, a beleza passou a ser validada na contratação ou não das mulheres no mercado de
trabalho.
A QBP se iniciou valendo para profissão como aeromoças, secretárias, depois para as
garçonetes, depois passou valer para qualquer profissão em que a mulher não
trabalhasse em total isolamento.

As neuroses femininas não são fruto do desequilíbrio da mente das mulheres, mas
consequências normais de uma situação em que elas não tem para onde correr.

Mulheres estão em um constante confronto em ser ao mesmo tempo “feminina” e


“eficiente”. Enquanto nos homens não se observa essa mesma contradição.

O uso de uniforme pelas mulheres foi uma estratégia para evitar os abusos, a indústria
da moda não aceitou essa mudança.

O mito da beleza gera nas mulheres uma redução do amor-próprio, com o resultado de
altos lucros para as empresas (seus salários são menores).

Vida útil de uma “mulher linda” – é uma questão de sobrevivência, investem na sua
sexualidade na juventude, pois é quando ela tem o valor máximo, enquanto a velhice é
uma ameaça, por isso se agarram à QBP.

Conforme envelhecem, se veem na obrigação de aderir as cirurgias plásticas.

Enquanto os homens mais velhos e bem-sucedidos que aparentam a idade que têm, são
vistos como exemplos pelos mais novos.

Por que as mulheres compram mais produtos para o corpo? De alguma forma, alguém
em algum lugar deve ter imaginado que elas comprarão mais se forem mantidas no
estado de ódio a si mesmas, de fracasso constante, de fome e insegurança sexual em que
vivem como aspirantes à beleza.

Antes, heroína: não podia parar de ter filhos

Hoje, para ser heroína não pode parar de ser linda

Mulheres ativistas: mulheres repulsivas para encontrar maridos. “feministas eram


criticadas como mulheres defeituosas, homens pela metade, masculinizadas”.

1985 - EUA a pornografia gerou meio bilhão de dólares.

A pornografia no mundo inteiro está se tornando cada vez mais violenta.

As revistas transmitem o mito da beleza como um evangelho de uma nova religião:


Igreja da Beleza. Pesquisas revelam que, enquanto as mulheres encaram seus corpos de
forma irrealisticamente negativa, os homens encaram os seus de forma irrealisticamente
positiva. O legado para o Ocidente de uma religião baseada no conceito de que os
homens se parecem com Deus significa, para as mulheres, que é artigo de fé sentir que
seus corpos têm algum problema, mesmo que isso não reflita necessariamente a
realidade (p. 120).
Antes o pecado era o sexo, hoje com o mito da beleza, o pecado é a comida.

“Prossegue o debate para se saber se a pornografia clássica torna os homens violentos


para com as mulheres. A pornografia da beleza, porém, está nitidamente tornando as
mulheres violentas consigo mesmas. As provas estão à nossa volta. Um cirurgião estica
a pele de uma incisão no seio, aqui. Ali, um cirurgião joga todo o seu peso sobre o peito
de uma mulher para desfazer caroços de silicone com as próprias mãos. Aí está o
cadáver ambulante. Aí está a mulher que vomita sangue” (p. 187)

Os anúncios não vendem o sexo. Vendem insatisfação sexual.

“A sexualidade feminina não é apenas definida de forma negativa, ela é elaborada de


forma negativa”, de modo que a beleza ganhe espaço.

Adrienne Rich chama de "heterossexualidade compulsória": proibição das mulheres de


verem outras mulheres como fontes de prazer sexual sob qualquer circunstância.
Quando as mulheres heterossexuais observam o corpo de outra mulher, causa angústia
de competição, que é um resíduo venenoso do amor original.

“Cada mulher tem de aprender sozinha, a partir do nada, como se sentir um ser sexual
(muito embora ela constantemente aprenda como aparentar sua sexualidade)”.

“Debbie Taylor sugere que o equivalente a cem milhões de meninas "podem estar sendo
estupradas por adultos — geralmente seus pais” (p. 213).

A cirurgia plástica Elizabeth Morgan examinou a relação entre o incesto e o desejo de


uma cirurgia plástica depois de muitas pacientes suas terem admitido ter sido vítimas de
abuso sexual na infância.

“É quatro vezes mais provável que uma mulher seja violentada por um conhecido do
que por um estranho”. (p.220).

“Quando os homens são mais atraídos por símbolos da sexualidade do que pela
sexualidade das próprias mulheres, eles estão sendo fetichistas”.

A beleza ideal é ideal porque não existe. A ação se situa no espaço entre o desejo e a
satisfação. As mulheres só são belezas perfeitas a alguma distância. Numa cultura de
consumo, esse espaço é lucrativo. O mito da beleza se movimenta para os homens como
uma miragem. Seu poder reside no recuo constante. Quando esse espaço se fecha, o
amante abraça apenas sua própria decepção.

Inversão do gênero ao se tratar sobre a anorexia/bulimia. Interessantíssimo pensar que


se fosse os homens, uma política pública e medidas preventivas estariam sendo tomadas
com todo vigor.

Sobre a violência:

A mulher vitoriana era reduzida aos seus ovários, como a mulher de hoje está reduzida à sua
"beleza". (p.295)
Perseguia-se de forma obsessiva a regularização da menstruação, da mesma forma que se
persegue hoje em dia o controle da gordura.

Uma mulher que se considerasse doente de feminilidade não poderia comprar uma cura
definitiva para o seu problema. Já uma mulher que se acha doente de feiúra feminina é
atualmente convencida de que pode comprar tal cura. (capitalismo=lucro).

Há um século, a atividade feminina normal, especialmente aquela que conduziria a mulher ao


poder, era classificada como feia e doentia. Se uma mulher lesse demais, o seu útero se
"atrofiaria". Se ela continuasse a ler, todo o seu sistema reprodutivo deixaria de funcionar e,
segundo o comentário médico da época, "teríamos diante de nós um ser híbrido repugnante e
inútil". (p. 299).

Os vitorianos insistiam que a libertação da mulher da "esfera isolada" prejudicava a


feminilidade, da mesma forma que hoje nos pedem que acreditemos que a libertação da
mulher do mito da beleza prejudica a beleza.

“A mulher que grita durante o parto, ou que chora depois, muitas vezes é forçada a sentir que
não devia ter agido assim, que se descontrolou, que seus sentimentos não são naturais, ou que
não deveria se deixar dominar por eles”. (p. 340)

“O mundo é dirigido por homens velhos; mas as mulheres velhas são eliminadas da cultura.” P
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