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Hibridismo de gêneros em João do Rio: análise da interseção entre literatura e

jornalismo em A alma encantadora das ruas

Gustavo Rocha Ferreira e SILVA1

Resumo
No final do século XIX e início do XX, o Rio de Janeiro viveu transformações
políticas, sociais, econômicas, urbanísticas e culturais: eram os primeiros anos da
República após quase sete décadas de Império; a estrutura urbana da então Capital
Federal sofria alterações, capitaneadas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906); o
jornalismo entrava em uma nova fase, gradativamente assumindo um caráter mais
empresarial e noticioso em substituição a um mais político e doutrinário, que vinha
prevalecendo desde meados do século anterior (SALGADO, 2006, p. 58-59). Foi neste
contexto de transição que despontou o escritor Paulo Barreto, mais conhecido pelo
pseudônimo de João do Rio (1881 – 1921). O presente artigo analisa o hibridismo entre
literatura e jornalismo nas crônicas que compõem A alma encantadora das ruas (1908).
A pesquisa destaca alguns comentários da crítica relativos ao estatuto de escritor-
jornalista do autor; pormenoriza a natureza ambígua da crônica, entendida como gênero
literário; desdobra a categoria de “crônica reporteira”, cunhada por Ronaldo Salgado; e,
finalmente, legitima o pioneirismo atribuído a João do Rio na prática de procedimentos
imprescindíveis ao fazer jornalístico, os quais vigoram até hoje.

Palavras-chave: João do Rio. Crônica. A alma encantadora das ruas. Literatura.


Jornalismo.

Abstract

At the end of the 19th century and beginning of the 20th, Rio de Janeiro had
many important changes: those were the early years of the Republic; Rio’s urban
structure was going through a process of modifications; the media finally started to
gradually focus more on reporting facts, rather than spreading its political views and
ideologies (SALGADO, 2006, p. 58-59). It was in this period of significant transitions
that the writer João do Rio (1881-1921) achieved praised recognition. This article
examines how the author mixed literature and journalism on A alma encantadora das
ruas (1908), and presents some of the commentaries, made by the critics, about his
“journalist-writer” status. This research also enlightens the very ambiguous nature of
the short story, considered as a literary genre; explains Ronaldo Salgado’s notion of
“journalistic short story”; and, finally, recognizes and praises João do Rio for being
the first one to put into practice many of the proceedings now required from any
journalist.

Keywords: João do Rio. Short story. A alma encantadora das ruas. Literature.
Journalism.

1
Bacharel em Comunicação Social (habilitação – Jornalismo) pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro – Mestrando em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – CEP:
21941-917 – Rio de Janeiro – RJ – E-mail: gustavo.rfs@gmail.com
Introdução

A cidade do Rio de Janeiro viveu consideráveis transformações políticas,


sociais, econômicas e urbanísticas no final do século XIX e início do XX: eram os
primeiros anos da República, instaurada após a abolição da escravatura e sete décadas
de Império; o jornalismo entrava em uma nova fase, “marcada principalmente pela
mudança do caráter doutrinário das publicações, prevalecente por quase todo o decorrer
do século anterior, e pelo advento de uma filosofia empresarial e um novo modo de
gestão” (SALGADO, 2006, p. 58-59); a estrutura urbana da então Capital Federal sofria
alterações, capitaneadas pelo prefeito Pereira Passos (1902-1906), inspirado por Luís
Napoleão e Georges-Eugène Haussman que, juntos, “construíram a Paris moderna, em
três programas integrados de demolição e construção, entre 1853 e 1870” (NEEDELL,
1993, p. 51). Como também afirma Jeffrey Needell, “Em ambos os esforços – o da
equipe de Müller [Lauro Müller, então ministro dos Transportes e Obras Públicas] e
Pereira Passos – a influência de Haussman é patente” (1993, p. 56). O período histórico
em questão recebeu a alcunha de “Bota-abaixo”: edifícios, casarões e cortiços antigos
foram demolidos para darem lugar ao alargamento de ruas e a novos logradouros
públicos. Com isso, visava-se também a melhoria das condições sanitárias da cidade,
acometida por doenças como varíola, febre amarela e cólera. As reformas valorizaram a
região central do Rio, obrigando a população pobre que ali vivia a migrar para os
subúrbios e morros do entorno. Surgiam, assim, as primeiras favelas cariocas. A alto
custo econômico e social, pois, o Rio de Janeiro modernizava-se. Fazia-o inspirado na
França, já que, à época, “civilização e progresso eram em geral vistos de uma
perspectiva francesa” (NEEDELL, 1993, p. 66).
Foi nesse contexto histórico de diversas transições em curso que emergiu a
avolumada produção textual de João do Rio, pseudônimo de João Paulo Emílio
Cristóvão dos Santos Coelho Barreto. Tal produção é composta por romances, contos,
ensaios, traduções, reportagens, crônicas e peças de teatro. Nas duas primeiras décadas
do século XX, o autor era presença frequente em veículos de grande porte, como A
Cidade do Rio, fundado pelo abolicionista José do Patrocínio; Kosmos, “uma das
pioneiras revistas ilustradas no Brasil” (SALGADO, 2016, p. 1097); O Paiz, que teve
Rui Barbosa como redator-chefe; Correio Mercantil, que chegou a publicar crônicas de
Machado de Assis; e Gazeta de Notícias, o mais longevo da lista. Textos do autor
também eram publicados por veículos mais subterrâneos, como O Tagarela, O Coió e
Atheneida. O artigo analisa o hibridismo entre literatura e jornalismo contido em suas
crônicas, mais especificamente nas que compõem A alma encantadora das ruas (1908);
traz à tona alguns comentários da crítica relativos ao estatuto de escritor-jornalista de
João do Rio, que legitimam a premissa fundacional da pesquisa; pormenoriza
brevemente a natureza ambígua do gênero crônica; reverbera e desdobra a categoria de
“crônica reporteira”, cunhada por Ronaldo Salgado para decodificar a ambivalência dos
textos que compõem A alma encantadora das ruas; e, finalmente, destaca o pioneirismo
atribuído ao escritor na prática de procedimentos imprescindíveis ao fazer jornalístico,
que vigoram até os dias de hoje. O trabalho foi originalmente produzido para avaliação
final da disciplina Pré-modernismo, pertencente à grade do Programa de Pós-graduação
em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no segundo
semestre de 2017. Viu-se, então, a oportunidade de aprimorá-lo, aproximando-o ao
máximo de um artigo com estrutura e conteúdo condizentes com periódicos acadêmicos
de alto nível. Para tal, acentuou-se a já iniciada incursão em referências – livros, teses e
trabalhos acadêmicos – acerca justamente da fusão entre literatura e jornalismo na obra
de João do Rio, sem deixar de lado uma discussão sobre a própria natureza da crônica
entendida como gênero literário. Por isso, conclui-se que a presente pesquisa se guiou
pelos métodos bibliográfico e genológico. O já referido esforço de aperfeiçoamento
consiste, também, em uma tentativa de conceder maior visibilidade à crônica,
erroneamente considerado gênero inferior e secundário pela academia.

1. Um escritor-jornalista – comentários da crítica sobre o estatuto híbrido da


crônica de João do Rio

O ponto de partida do artigo consiste em um breve inventário de comentários,


feitos pela crítica especializada, relativos ao hibridismo entre literatura e jornalismo nas
crônicas de João do Rio. Com isso, legitima-se a premissa inicial da pesquisa, isto é, a
de que houve tal fusão nos textos que compõem A alma encantadora das ruas.
A tônica das avaliações é, em geral, positiva. Segundo Afrânio Coutinho, “A
obra desse trepidante cronista representa a mais ousada tentativa para elevar a crônica à
categoria de um gênero não apenas influente, mas também dominante” (1986, p. 128).
Apesar de afirmar que, após a publicação de A alma encantadora das ruas, João do Rio
passou a ser menos jornalista e mais cronista, Raimundo Magalhães Júnior reconhece o
duplo papel de repórter e escritor exercido pelo autor quando da produção dos textos
que, compilados, viriam a originar o livro (1978, p. 41). O trânsito frutífero entre a
literatura e o jornalismo é destacado por Brito Broca, para quem “uma das principais
inovações que ele [João do Rio] trouxe para nossa imprensa literária foi a de
transformar a crônica em reportagem – reportagem por vezes lírica e com vislumbres
poéticos” (1960, p. 247). Cremilda Araújo Medina segue na mesma linha, ao afirmar
que o autor “levanta a questão até hoje controvertida – onde termina o jornalismo e
começa a literatura (ou onde termina a literatura e começa o jornalismo para não ser
parcial)” (1978, p. 54). Mas talvez seja de Carlos Drummond de Andrade a mais
esclarecedora observação nesse sentido:

Ele é, fundamentalmente, escritor-jornalista, mais do que jornalista-


escritor, e recorre à estilização do fato, apresentando flagrantes que
oscilam entre a reportagem e o conto. Seus contos têm objetividade
jornalística forrada de romantismo (...) João do Rio pagou por ser um
cronista fascinante, hostil ao lugar-comum e ao conformismo
(ANDRADE, 1992, p. 32).

Para Ronaldo Salgado, “o trabalho de João do Rio com a crônica e a reportagem


exprime uma atitude consciente” frente a um contexto histórico marcado por “mudanças
de cunho modernizador na atividade jornalística, ambiente marcado pelas estreitas
relações com a literatura as quais também sofrem modificação” (2006, p. 148). Prova,
pois, de que o autor não foi “um mero espectador” das alterações pelas quais a imprensa
brasileira passava à época (2006, p. 148). Isso porque a crônica é essencial e
irredutivelmente ambígua, variando “entre ser no e para o jornal” (MOISÉS, 1997, p.
104-105). O cronista faz da notícia efêmera (jornalismo) matéria-prima para criação de
um texto com feições literárias mesmo sabendo que “[a crônica] não tem pretensões a
durar, uma vez que é filha do jornal e da era da máquina, onde tudo acaba tão depressa”
(CANDIDO et al, 1992, p. 14). Luiz Roncari leva o comentário de Antonio Candido um
passo à frente, ao afirmar que a crônica literária “realiza seu verdadeiro ser na brevidade
dos jornais, mas espera repousar dessa passagem agitada e curta no livro que a lembre e
recorde, como a imagem de quem foi um dia” (1985, p. 9-16). O cronista, pois, visa
estetizar os fatos cotidianos. Logo, pode-se afirmar que a crônica é terreno fértil para a
fusão entre literatura e jornalismo, fertilidade bem explorada por João do Rio em A
alma encantadora das ruas.

O que interessa é que a crônica, acusada injustamente como um


desdobramento marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio
fazer literário. E quando não o é, não é por causa dela, a crônica, mas
por culpa dele, o cronista. Aquele que se apega à notícia, que não é
capaz de constituir uma existência além do cotidiano, este se perde no
dia-a-dia e tem apenas a vida efêmera do jornal. Os outros, esses
transcendem e permanecem (PORTELA, 1979, p. 53-54).

O viés jornalístico das crônicas de A alma encantadora das ruas obviamente não
se restringe ao fato de haverem sido originariamente publicadas em jornais, sobretudo
no Gazeta de Notícias. Isso porque João do Rio extraía, de suas andanças pelo Rio de
Janeiro de então, a matéria-prima para seus textos, que versavam

sobre a vida urbana, a fisionomia das ruas cariocas, as pequenas


profissões citadinas, os vendedores de selos, os fazedores de
tatuagens, os vendedores de orações fortes, os músicos ambulantes, os
velhos cocheiros a quem os automóveis não tardariam a tirar os
empregos, os papa-defuntos ou agentes funerários (no capítulo
intitulado “Os Urubus”), os estivadores e os foliões dos cordões
carnavalescos. Para levantar essas figuras da vida carioca, João do Rio
perambulou pelo cais e pelos subúrbios, chegando até o Méier
(JÚNIOR, 1978, p. 36).

Ruas, avenidas, praças, mercados, a região portuária, casas de consumo de


ópio... Eram diversos os logradouros públicos visitados pelo escritor. Deles João do Rio
colhia temas (ou deve-se dizer “pautas”?), daí a dimensão jornalística de suas crônicas.
Para compreendê-la melhor, o artigo direciona o olhar às características do texto de
reportagem.

2. As feições jornalísticas de A alma encantadora das ruas


A análise dos traços jornalísticos dos textos de A alma encantadora das ruas
depende da afirmação de um modo tal de existência como reportagem e de um
levantamento prévio das características que a definem como tal. Tratam-se de traços
imprescindíveis que, se não exatamente distinguem o texto jornalístico dos demais, ao
menos facilitam sua identificação e compreensão.
O primeiro deles é o viés narrativo. Como afirma Cláudio Abramo, “A
reportagem é uma narrativa, simplesmente uma narrativa” (1988, p. 111). Ela contém
em si variáveis temporais, sobretudo a do presente (atualidade). Trata-se de uma
sucessão de fatos que se deu em determinado espaço e período de tempo. Nela, há a
presença de personagens (tanto agentes ativos como passivos do evento narrado) e,
consequentemente, de falas. O viés humano é, pois, imprescindível.

As palavras de Abramo referendam um conceito de reportagem como


narrativa, ideia que atende a uma parcela expressiva de jornalistas e
acadêmicos, na medida em que é possível identificar na sua expressão
textual a presença das variáveis de tempo, espaço, personagens, foco
narrativo e enredo (SALGADO, 2006, p. 144).

Os acontecimentos relatados são fruto do exercício da observação cuidadosa por


parte do jornalista, do trânsito deste por todos os lugares que não o ambiente da
redação: “Uma observação cuidadosa não é necessariamente uma boa reportagem. Mas
uma reportagem é necessariamente o fruto de uma observação cuidadosa” (ABRAMO,
1988, p. 111). Antonio Olinto complementa o apontamento ao afirmar que “é no contar
o que viu, o que ouviu, o que sentiu, é no informar, aos leitores, algo sobre uma pessoa,
um lugar, uma situação é, enfim, no fazer a reportagem – que o jornalista exerce sua
função específica no jornal” (1960, p. 92). Toma-se o cuidado, aqui, de não atribuir ao
jornalista a obrigação de atender à objetividade e à imparcialidade no exercício dessa
observação, conceitos já muito problematizados por áreas como a Linguística, a
Filosofia Contemporânea e até a Ciência Política. Uma incursão nesse esforço de
problematização, empreendido pelas áreas citadas, apesar de pertinente ao tema geral do
artigo, extrapolaria o espaço ao qual a pesquisa deve limitar-se. Afirma-se aqui,
somente e seguramente, que o exercício da observação é imprescindível ao repórter.
Consequência direta desse exercício, a referencialidade é outra característica da
reportagem. O texto noticioso deve relatar eventos ligados a logradouros,
personalidades, autoridades, instituições e contextos, enfim, conhecidos pelo público
leitor. Tais eventos devem ser os mais atuais possíveis, obrigatoriamente. A
efemeridade, pois, é traço característico da notícia, ainda mais a do jornal, “publicação
efêmera que se compra num dia e no dia seguinte é usada para embrulhar um par de
sapatos ou forrar o chão da cozinha” (CANDIDO et al, 1992, p. 14).
Todas as características acima apontadas como imprescindíveis ao texto
jornalístico – ainda que não necessariamente o distingam dos demais gêneros – estão
contidas, em menor ou maior intensidade, nas crônicas que compõem A alma
encantadora das ruas. O que João do Rio faz é redimensionar a crônica, isto é, conferir
a ela feições de reportagem ao tingi-la com essas cores, o que lhe garantiu o título de
“escritor-jornalista mais do que jornalista-escritor” atribuído por Carlos Drummond de
Andrade (1992, p. 32). Assoma à vista, logo à primeira leitura da obra em questão, o
fato de João do Rio haver circulado por logradouros e regiões da cidade. Logo, a
referencialidade é traço inegável das crônicas que compõem A alma encantadora das
ruas, consequência direta do exercício da observação cuidadosa (leia-se “apuração”) por
parte do autor. É o que se percebe nas seguintes passagens de “Visões d’Ópio”, em que
o João do Rio apresenta os muitos imigrantes então residentes no Rio de Janeiro e parte
da paisagem urbana de então, respectivamente, dados verossímeis à fase da história da
cidade à qual a crônica em questão se refere.

Há de tudo — vícios, horrores, gente de variados matizes, niilistas


rumaicos, professores russos na miséria, anarquistas espanhóis,
ciganos debochados. Todas as raças trazem qualidades que aqui
desabrocham numa seiva delirante. Porto de mar, meu caro! Os
chineses são o resto da famosa imigração, vendem peixe na praia e
vivem entre a Rua da Misericórdia e a Rua d. Manuel. Às 5 da tarde
deixam o trabalho e metem-se em casa para as tremendas fumeries (...)
O meu amigo dobrou uma esquina. Estávamos no Beco dos Ferreiros,
uma ruela de cinco palmos de largura, com casas de dois andares,
velhas e a cair. A população desse beco mora em magotes em cada
quarto e pendura a roupa lavada em bambus nas janelas, de modo que
a gente tem a perene impressão de chitas festivas a flamular no alto.
Há portas de hospedarias sempre fechadas, linhas de fachadas
tombando, e a miséria besunta de sujo e de gordura as antigas
pinturas. Um cheiro nauseabundo paira nessa ruela desconhecida
(JOÃO DO RIO, 2008, p. 37-38).

A presença das variáveis temporais é visível nos textos, como no trecho de


“Visões d’Ópio”, listado acima, a título de exemplo: notam-se diferentes tempos
verbais, tanto do passado como do presente. Há uma sucessão de fatos. Há, portanto,
uma narrativa em curso. Os trechos acima refletem o tom da crônica-reportagem,
entendido como a apresentação de fatos concretos revestidos de uma linguagem mais
literária, ou, ainda, como a “estilização do fato”, para retomar a definição de Carlos
Drummond de Andrade. O exercício da observação é, pois, visível na obra. Afinal, na
rua da Misericórdia, no centro da cidade, de fato residiam imigrantes chineses usuários
de ópio (PAIXÃO, 2008, p. 178). O viés informativo – isto é, de notícia referente à
atualidade daquele momento, de um relato de um acontecimento real – é, portanto, outro
dos traços de reportagem presentes não só no excerto em questão, mas em todos os
textos de A alma encantadora das ruas, mais ou menos evidente a depender da crônica
em questão.

Tenho duas casas no meu booknotes, uma na Rua da Misericórdia,


onde os celestes se espancam, jogando o monte com os beiços rubros
de mastigar folhas de bétel, e à Rua d. Manuel no 72, onde as fumeries
tomam proporções infernais. Ouço com assombro, duvidando
intimamente desse fervilhar de vício, de ninguém ainda suspeitado.
Mas acompanho-o. A Rua d. Manuel parece a rua de um bairro
afastado. O Necrotério com um capinzal cercado de arame, por trás do
qual os ciganos confabulam, tem um ar de subúrbio. Parece que se
chegou, nas pedras irregulares do mau calçamento, olhando os
pardieiros seculares, ao fim da cidade. Nas esquinas, onde larápios, de
lenço no pescoço e andar gingante, estragam o tempo com rameiras de
galho de arruda na carapinha, veem-se pequenas ruas, nascidas dos
socalcos do Castelo, estreitas e sem luz. A noite, na opala do
crepúsculo, vai apagando em treva o velho casaredo. (JOÃO DO RIO,
2008, p. 39).

O trecho acima, também de “Visões d’Ópio”, demonstra fatos objetivos


literariamente estilizados, isto é, o tom literário no relato de eventos que realmente
aconteceram. Ancora-se o argumento a favor da veracidade do testemunho de João do
Rio, expresso na crônica em questão, nas correspondências entre elementos citados no
texto com o Rio de Janeiro de então: de fato havia duas ruas de nome “Misericórdia” e
“d. Manuel”; o Necrotério da cidade localizava-se nesta última; por estes logradouros
realmente circulavam agrupamentos de ciganos (SANTOS, 2011, p. 266).
Tal veracidade é ainda mais patente em “Tatuadores”. Aqui, o autor deixa
evidente a estratégia de estilização literária do cotidiano carioca de seu tempo, possível
somente após as exaustivas apuração e andanças que empreendeu pelas ruas do Centro
da cidade. João do Rio constrói um mosaico das crenças religiosas das classes mais
humildes a partir da prática da tatuagem, indiretamente também traçando, com isso, um
variado quadro de tipos e etnias que habitavam a então Capital Federal. Para isso, o
autor circulou pelas ruas Clapp, do Alcântara, Barão de S. Félix e do bairro da Saúde,
para citar alguns dos reais logradouros de então presentes em “Tatuadores”. Em seu
trabalho de apuração, entrevistou cidadãos que se dispunham a marcar a pele com
desenhos, cujos simbolismos o autor apresenta ao leitor. Registra, no texto, os diálogos
e explicações que ouviu, direta ou indiretamente, de maneira a humanizar o texto, de
ressaltar o elemento humano do fato concreto noticiado. Nos trechos abaixo, verifica-se
a observação atenta e o registro dos menores detalhes, por parte de João do Rio –
incluindo os tais diálogos que presenciou –, práticas imprescindíveis a um bom trabalho
de reportagem.

Os marcadores têm uma tabela especial, o preço fixo do trabalho. As


cinco chagas custam 1$000, uma rosa 2$000, o signo de Salomão, o
mais comum e o menos compreendido porque nem um só dos que
interroguei o soube explicar, 3$000, as armas da Monarquia e da
República 6$ a 8$, e há Cristos para todos os preços.
Os tatuadores têm várias maneiras de tatuar: por picadas, incisão, por
queimadura subepidérmica. As conhecidas entre nós são incisivas nos
negros que trouxeram a tradição da África e, principalmente, as por
picadas que se fazem com três agulhas amarradas e embebidas em
graxa, tinta, anil ou fuligem, pólvora, acompanhando o desenho
prévio. O marcador trabalha como as senhoras bordam.
(...)
Há ainda a vaidade imitativa. As barregãs das vielas baratas têm
sempre um sinalzinho azul na face. É a pacholice, o grain de beauté, a
gracinha, principalmente para as mulatas e as negras fulas que o
consideram o seu maior atrativo. Quando envelhecem, as pobres
mulheres mandam apagar os sinais — porque querem ir limpas para o
outro mundo, e a Florinda, há pouco falecida, que rolara quarenta anos
nos bordéis de S. Jorge e da Conceição, dizia-me antes de morrer:
— Ai, meu senhor, isto é para os homens! Quando se fica velho
arranca-se, porque a terra não vê e Deus não perdoa.
(JOÃO DO RIO, 2008, p. 19-20)

Não à toa, como apontou-se antes, críticos como Raimundo Magalhães Júnior,
Brito Broca, Cremilda Araújo Medina e Carlos Drummond de Andrade destacaram o
fato de, em suas crônicas, João do Rio ter se posicionado no entre-lugar, ou seja, na
fronteira, na interseção entre a literatura e o jornalismo. Tal estratégia de criação
literária foi oportuna e consciente, sinal da sagacidade do autor em saber ler o tempo
histórico do qual fazia parte, marcado pela tônica da transição, da mutação, da
ambiguidade entre o antigo e o moderno, tanto nas esferas da política e economia como,
também, na paisagem urbanística, na cultura, na prática midiática e na própria essência
dos veículos de informação. Assim, abre-se caminho para uma oportuna e detalhada
reverberação da categoria teórica da “crônica reporteira”, engenhosamente cunhada por
Ronaldo Salgado para dar conta justamente desse hibridismo entre literatura e
reportagem, que funda e atravessa as crônicas que compõem A alma encantadora das
ruas.

3. “Crônica reporteira” – a decodificação de uma ambiguidade


A natureza ambígua dos textos que compõem A alma encantadora das ruas,
ainda que encante – cumprindo, assim, a promessa do título –, não deixa de também
causar estranhamento nos leitores mais atentos às particularidades estilísticas de João do
Rio. Ronaldo Salgado, na tentativa de decodificar essa ambiguidade, sugere a categoria
“crônica reporteira” como chave para o enigma. Trata-se de um esforço sincrônico,
amalgamando a dicotomia literatura-jornalismo. Mas como se pode entender o conceito
de “crônica reporteira”? Por que se escolheu repercuti-lo como categoria teórica?
A “crônica reporteira”, mais do que destacar a evidente fusão entre literatura e
jornalismo em A alma encantadora das ruas, aponta para a intrínseca ligação dos textos
com a rua, com o cotidiano da cidade. É do espaço urbano e dos personagens nele
contidos que a “crônica reporteira” do autor extrai seu “húmus permanente”, para citar
uma expressão de Massaud Moisés (1997, p. 104-105). É, portanto, expressão seminal
da reportagem, como continuou a ser praticada posteriormente a João do Rio.
Em A alma encantadora das ruas, as crônicas não são somente textos de cunho
literário produzido no e para o suporte do jornal. Vão além, ao extraírem do cotidiano e
da dinâmica do espaço urbano – “amálgama de ruas e gente, fatos e acontecimentos,
memórias e quotidianos” (SALGADO, 2006, p. 155) – sua matéria-prima. Vão além,
ao temperarem a literatura com o ingrediente do jornalismo, com traços da reportagem,
com as andanças pelas ruas (flânerie) concomitantes ao exercício de uma observação
cuidadosa: “Com efeito, A alma encantadora das ruas reflete a flânerie do escritor
jornalista pelas ruas, avenidas e praças do Rio de Janeiro, estendendo-se por
logradouros públicos, cais do porto, presídios e outros locais” (SALGADO, 2006, p.
88). Ao nutrir-se do cotidiano, ao ficcionaliza-lo, a “crônica reporteira” assenta os pés
também na dimensão histórica. Consegue, com isso, registrar historicamente a dinâmica
do espaço urbano da época em que foi produzida. Não que se atribua a ela o caráter de
documento histórico. Mas não deixa de ser um flagrante – de viés cinematográfico, de
documentário – de uma época específica da formação da cidade do Rio de Janeiro, sob a
batuta do “Bota-abaixo!” do então prefeito Pereira Passos, no início do século XX.
A “crônica reporteira” é expressão fulgurante do duplo domínio temporal da
crônica. Com ela, João do Rio apontou tanto para a atualidade – ao retratar o dia-a-dia
da então Capital Federal – quanto, também, para a dimensão da posteridade, ao revesti-
la com um caráter historiográfico e documentarista. Tal estratégia de criação literária, se
não inédita per se, certamente o foi nas letras brasileiras, e pode ser melhor
compreendida se levar-se em conta que a Belle Époque carioca consistiu em um período
de produção e difusão em massa de imagens. Possibilitadas por “avanços técnicos
ocorridos no último quartel do século XIX” (SALGADO, 2016, p. 1096), a demanda e a
circulação em massa de imagens no período acabaram por estabelecer novos padrões
plásticos de representação da realidade empírica. Assim,

Nessa coabitação com a fotografia, a literatura acabaria por mimetizar


a linguagem emergente, compondo e revelando imagens
verdadeiramente fotográficas, que, por sua vez, refletem a fascinação
da época com o cartão postal. Em Kosmos [revista ilustrada, da
primeira década do século XX, para a qual João do Rio escreveu],
muitos textos funcionam como registros verbais de paisagens e
aspectos arquitetônicos ou urbanísticos, contendo forte apelo
imagético. Isso se verifica sobretudo entre os cronistas, que, com o
aparato gráfico disponibilizado pela revista, conduziam a crônica para
um território limítrofe ao da visualidade (SALGADO, 2016, p. 1097).

Na constatação de tal ineditismo tem-se, pois, a deixa para o próximo e último


tópico desse artigo, referente à relação entre João do Rio e o jornalismo que veio a ser
produzido posteriormente.

4. João do Rio – precursor do jornalismo moderno brasileiro


O simples fato de ter ido às ruas garimpar informações para suas crônicas e
reportagens – ou melhor, para as “crônicas reporteiras” que compõem A alma
encantadora das ruas – confere a João do Rio um status de pioneiro nas letras
brasileiras, não somente por se tratar de procedimento inédito até então, mas, sobretudo,
por acarretar na abertura de novo caminho para a imprensa do país. Por isso, críticos
como Brito Broca, Cremilda Araújo Medina e o próprio Ronaldo Salgado – criador da
categoria “crônica reporteira” – atribuem ao autor a arquitetura de uma espécie de
antessala do jornalismo de cidade, do jornalismo moderno. Isto é, a “crônica reporteira”
é a expressão seminal da reportagem brasileira.

Que antessala [grifo do autor] seria essa? João do Rio a inaugura ao


sair às ruas da cidade do Rio de Janeiro em transformação, rompendo
os limites burocráticos do fazer jornalístico antes restrito ao espaço
das redações dos jornais. Ao captar, por assim dizer, com sua pena
transformada em lente de aumento, o sentido das mudanças, o seu
alcance, as suas consequências e os seus resultados imediatos (...), ele
inaugura a reportagem moderna [grifo do autor] e redimensiona a
crônica” (SALGADO, 2006, p. 64 e 65).
Para Salgado, o redimensionamento do gênero, perpetrado por João do Rio ao
conferir a ele traços jornalísticos, “não subordina o caráter literário da crônica, antes ao
contrário, faz com que se entenda melhor o porquê de ela constituir-se liame
autossustentado das relações entre jornalismo e literatura” (2006, p. 152). Tal estratégia
de criação literária é, para o crítico, um legado “de quem está à frente de seu tempo,
herança que a cultura jornalística contemporânea, cem anos depois, põe em prática no
seu dia-a-dia profissional” (SALGADO, 2006, p. 154). João do Rio lançou as bases de
um novo modus faciendi para a imprensa nacional, as quais vigoram até hoje.
Cremilda Araújo Medina segue na mesma linha ao afirmar que o escritor atuou
como o “Repórter que vai à rua e constrói sobre o momento a história dos fatos
presentes. Da união destes dois conceitos nasce a definição moderna de jornalismo”
(1978, p. 57-58). Raimundo Magalhães Júnior afirma, ainda, que João do Rio foi, “sem
dúvida, o primeiro grande repórter brasileiro do início deste século [XX]” (1978, p. 32).
Mas é de Brito Broca o melhor comentário sobre a originalidade do autor.

Foi essa experiência nova que João do Rio trouxe para a crônica, a do
repórter, do homem que, frequentando os salões, varejava também as
baiucas e as tavernas, os antros do crime e do vício. Subia ao morro do
Santo Antônio pela madrugada com um bando de seresteiros e ia aos
presídios entrevistar os sentenciados (...). A crônica deixava de se
fazer entre as quatro paredes de um gabinete tranquilo, para buscar
diretamente na rua, na vida agitada da cidade o seu interesse literário,
jornalístico e humano” (BROCA, 1960, p. 247).

Aproveitou-se, na primeira etapa da análise, a citação de Ronaldo Salgado


referente ao fato de João do Rio não ter sido um “um mero espectador” das mudanças
pelas quais a imprensa brasileira passava à época (2006, p. 148), isto é, no início do
século XX. Tal apontamento ganha ainda mais relevo ao se considerar a coluna
“Cinematographo”, do jornal Gazeta de Notícias de 1º de setembro de 1907, cujo trecho
segue abaixo.
O jornal de hoje é uma empresa comercial em toda parte do mundo.
Há empresas que pagam bem e outras que pagam mal. As latinas
pagam mal. Deixamos de parte os proprietários. Estes arriscam
capitais e responsabilidades aqui, num país que tem muitos jornais e
não tem quinhentos mil leitores ao todo. Falemos dos que fazem os
jornais e para os quais não há a menor complacência (...) Não há
redatores artísticos. Já houve literários. Ainda restam os chamados
teatrais. Mas esses hão de desaparecer, para dar lugar apenas à
reclame pega pelo empresário e por causa dos oficiosos. Não há moço
com tenções conquistadoras e com vontade de assistir aos espetáculos
grátis que não seja crítico, a troco de algumas entradas (JOÃO DO
RIO, 1907, p. 1).

Vê-se que João do Rio denuncia as más condições de trabalho enfrentadas pelos
jornalistas de então, além dos baixos salários que recebiam, prova do olhar atento do
autor em relação ao período histórico de que fez parte.

Considerações finais

Em A alma encantadora das ruas, João do Rio redimensionou os traços


morfológicos da crônica, enquanto gênero, ao revesti-la com características da
reportagem. Com isso, traçou, nessa obra, uma zona fronteiriça entre a literatura e o
jornalismo, inovando-o com procedimentos como a realização de entrevistas e,
sobretudo, a circulação pelas ruas e logradouros públicos da cidade, práticas que
passaram a pautar a atuação dos repórteres desde então e que se mantêm em vigor até
hoje, tamanha sua imprescindibilidade. A categoria da “crônica reporteira”, cunhada
por Ronaldo Salgado e aqui utilizada como baliza teórica, procura abranger essa fusão
entre literatura e jornalismo, levada a cabo por João do Rio, causadora de um efeito
tanto de encantamento quanto de estranhamento ao leitor de A alma encantadora das
ruas. Tal fusão é mais fidedigna e criativamente descrita por Ronaldo Salgado, segundo
o qual os textos que compõem a obra apresentam traços ora literários, ora jornalísticos,
“formando um caleidoscópio multifacetado, que faz, a cada movimento, emergir com
cores mais nítidas um ou outro gênero – aqui o tino do cronista, ali o faro do repórter”
(2006, p. 36). O artigo repercutiu e pormenorizou essa categoria teórica na tentativa de
decodificar a ambivalência dos textos que compõem A alma encantadora das ruas. Para
também dar conta deste esforço de decodificação, o trabalho acessou todas as crônicas
que perfazem a obra para delas extrair os exemplos mais evidentes da presença de traços
e práticas imprescindíveis ao jornalismo. Acredita-se que, com isso, contribui-se com os
estudos sobre o hibridismo entre literatura e reportagem na volumosa produção de João
do Rio, e se confere maior relevância à crônica entendida como gênero literário.
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