Você está na página 1de 62

EXPEDIENTE

MINAS FAZ CIÊNCIA


Diretora de redação: Vanessa Fagundes
CARTA AO LEITOR
Editor-chefe: Maurício Guilherme Silva Jr.
Redação: Alessandra Ribeiro, Breno Ribeiro, Existem momentos em que o relógio parece estar
Lorena Tárcia, Luana Cruz, Luiza Lages, Mariana
Alencar, Maurício Guilherme Silva Jr.,Tuany Alves, brincando com a gente. Quando faltam apenas alguns
Vanessa Fagundes, Verônica Soares.
Editoração: Camila Aringhieri minutinhos para o recreio, para o início de um desenho que
Capa: Camila Aringhieri
queremos ver muito, ou para encontrar uma pessoa querida,
Redação - Av. José Cândido da Silveira, 1500,
Bairro Horto - CEP 31.035-536
a sensação é de que os ponteiros se movem na velocidade de
Belo Horizonte - MG - Brasil uma tartaruga! Quase como se o tempo estivesse passando
Telefone: +55 (31) 3 280-2105
E-mail: revista@fapemig.br mais devagar... Em outras ocasiões, ficamos tão envolvidos
REDES SOCIAIS com alguma atividade que nem vemos o tempo passar. Num
Site: www.minasfazciencia.com.br
Infantil: www.minasfazciencia.com.br/infantil minuto, é dia; no outro, já chegou a noite!
Facebook: www.facebook.com/minasfazciencia
Twitter: @minasfazciencia
A relação das pessoas com o tempo nem sempre é igual.
Instagram: @minasfazciencia Para atletas, a diferença entre a vitória e a derrota é medida
em questão de segundos. No caso de cientistas, saber muito
sobre alguma coisa pode significar anos – até toda uma vida –
GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS dedicada ao estudo de um único tema. Pense em quando você
Governador: Romeu Zema
está de férias: é muito comum esquecermos que existe hora
SECRETARIA DE ESTADO
DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
para comer, dormir...
Secretário: Cássio Rocha de Azevedo Mas sabe o que não tem hora certa para começar ou para
acabar? O tempo de aprender coisas novas. E esta edição da
Minas Faz Ciência está tão legal que, quando você começar
a ler, não vai querer parar – aposto que o tempo vai passar
Fundação de Amparo à Pesquisa voando! Há reportagens sobre o espaço e a vida em outros
do Estado de Minas Gerais planetas; sobre a internet, notícias que nos enganam e novos
Presidente interino: Paulo Sérgio Lacerda Beirão games; sobre invenções que parecem ter saído de filmes de
Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação:
Paulo Sérgio Lacerda Beirão ficção científica e descobertas de novas espécies; e sobre os
Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças:
Camila Pereira de Oliveira Ribeiro ciclos que fazem parte da vida de todos os seres.
Conselho Curador Se quiser, você pode dividir esse momento com alguém
Presidente: João dos Reis Canela
Membros: Eva Burger, Gustavo Henrique Penno
especial. Para isso, use um dos incríveis “vales-tempo”,
Macena, Luiz Roberto Guimarães Guilherme, Lyderson
Facio Viccini, Marcone Jamilson Freitas Souza,
disponíveis no encarte que acompanha a revista. Existe um
Marília Carvalho de Melo, Onofre Alves Batista vale adequado para cada ocasião. Uma ajudinha da nossa
Júnior, Sandra Regina Goulart Almeida, Trazilbo José
de Paula Júnior, Valentino Rizziioli equipe para lembrar que o tempo do descanso, da diversão e
Para receber gratuitamente a revista MINAS FAZ de estar com quem a gente gosta também é muito importante!
CIÊNCIA, envie seus dados (nome, profissão,
instituição/empresa, endereço completo, telefone, e Boa leitura!
e-mail) para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o
endereço: FAPEMIG / Revista MINAS FAZ CIÊNCIA
- Av. José Cândido da Silveira, 1500, Bairro Horto -
Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 31.035-536 Vanessa Fagundes e Maurício Guilherme Silva Jr.
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar
a produção científica e tecnológica do Estado para
(Que estão precisando de mais vales-tempo
a sociedade. A reprodução de seu conteúdo é para a “hora de falar com os amigos!”)
permitida, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

na rede! 8
Ops, cuidado! Tem hacker
uti e foguete. 12
Mas tem, também, tutti- fr

emoções! 13
Jogo ensina a compreender
traz lições... 16
E a emoção do nascer nos

la n ta s espertas! 19
Jar d in s cheinhos de p
coberta? 22
E, em Vênus, a vida é des

m udam co m o tempo! 24
Modos de im p re ss ão
em po r momentos... 26
E o te m po não pa ra , n

4 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Nas tais fake news, impera a mentira. 32
No cais da vida, o migrante se inspira. 35

Um lagartinho entre tantos gigantes. 39


Levitação por sons? Que intrigante! 43

Ei! Aqui, tem espaço sideral! 46


E game, filme, livro e portal! 50

No fim, as perdas pedem paciência. 55


Sem fim, as mulheres fazem ciência! 58

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 5


CIÊNCIA ABERTA

Geralmente, eles são os responsáveis pelo nosso primeiro contato


com as diversas áreas da ciência. Seja por meio de lições, seja
por meio de experimentos, os professores nos apresentam a esse
mundo repleto de curiosidades e possibilidades. Eu, por exemplo,
me lembro com carinho de vários “mestres”, alguns de quando eu
era pequenina e outros que ainda fazem parte da minha vida. Eles
são legais porque mostraram o quanto é importante (e fascinante!)
aprender coisas novas, mesmo que pareçam difíceis à primeira vista.

E vocês? Por que acham


seus professores legais? Vanessa Fagundes

Tatiane
“Minha professora
le g a l p o r q u e é en graçada
Oliveira é
s coisas.”
e me ensina muita
“Minha professora
Oliveira, 5 anos
Liliane Abranches é
ia Pa ul a Si lv a de
Mar

legal porque ela ensina


ernanda com amor.”
“ Minha professora F
ulas
e legal porque ela da a Emanuelle Araujo Ferre
ira
muito divertidas!” Martins, 7 anos

ira Arcebisp o Léo Teixeira, 10 anos


Arthur Vie

6 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL


SET/OUT/NOV
20202020
al porque
“Minha professora Jane Souto é leg

me ensina Matemática e eu adoro.
Guilherme Dalben Furtado, 7 anos

“Minha professora
Cristiane Elias é legal
porque é atenciosa e
carinh osa.” “Meus professores
Ana Carolina Silva de Oliveira, 8 anos são legais porque
eles ensinam com
dedicação e esmero.”
a, 14 anos
Maria Clara Ferreir

“A minha professora Sabrin


a é legal porque ela ensina
a
gente a ler, a escrever... Com
ela, eu aprendi tudo! Ela é
bem
carinhosa e resolve meuspr
oblemas. Ela ensina tarefas
muito
boase é uma ótima profess
ora. Eu gostomuitodela!”

Alice Minelli Valentim, 6


anos

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 7


MUNDO VIRTUAL

O QUE OS OLHOS
NÃO VEEM...

O mundo virtual é incrível, mas cuidado:


tem gente te observando!
Breno Ribeiro

8 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


!!! Tenho certeza de que você já teve – ou tem – algum tipo de
contato com equipamentos e brinquedos conectados à internet.
Este maravilhoso mundo virtual é cheio de coisas inacreditáveis,
que, por vezes, estão bem longe do que se possa passar em
nossa imaginação. Hoje, vou lhe contar certos segredinhos
deste... submundo!
Nossos celulares, computadores e tablets têm uma
“interface”, lugar onde executamos ações como abrir um jogo e
acessar a internet, que deixa tudo mais fácil para nós. Porém, por
trás destas facilidades, há uma imensidão de pessoas a trabalhar,
diariamente, para transformar um monte de letras e números em
algo visual e extremamente agradável aos nossos olhos. Mas
não se engane, viu? Existem, também, pessoas em busca de
informações supersecretas, que querem ter este acesso a todo
custo. Estes são os hackers e crackers!
Os nomes podem até parecer estranhos, e você pode já ter
ouvido falar sobre um deles. Afinal, é muito comum alguém
dizer: “‘hackearam’ minha rede social”. Ou “‘hackearam’ meu
computador”. Apesar de o termo ter se tornado comum, há uma
diferença entre o hacker e o cracker, assim como entre o que
cada uma dessas pessoas faz.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 9


Hackers
A partir dos exemplos acima, você deve pensar que hacker é alguém
com quem devemos nos preocupar, né? De fato, é importante, mas, como
explica Lucas Silva, cientista da computação formado na Universidade
Federal de Viçosa, a UFV, existem duas vertentes nesta “profissão”. Vamos
pensar em uma grande empresa: lá, existem muitos computadores, que se
conectam a apenas uma máquina, para troca de informações.
Neste caso, o hacker bem intencionado usa suas técnicas para
identificar falhas em sistemas e equipamentos, além de aplicar as correções
necessárias e evitar acesso inadequado ao computador no qual toda a rede
se conecta. Já o outro tipo de hacker, que pertence a um grupo distinto,
age sem ética, e se aproveita de brechas para invadir sistemas, sempre com
ações duvidosas.

Crackers
Certas vezes, vamos a lugares onde há acesso wi-fi liberado para nós.
Acredito, inclusive, que você já tenha conectado seu smartphone a redes
assim... Estou certo? Seu aparelho pode até ter saído ileso desta conexão,
mas vou te contar: os crackers adorariam saber sua conexão foi realizada
em uma rede... insegura!
Siiiiim! Afinal, eles “aproveitam que o usuário desconhece as principais
práticas de segurança e modificam os serviços, para que possam capturar
informações do usuário: da senha das redes sociais a dados bancários”,
explica Silva.

10 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Superdica!
Agora que conhece melhor a diferença entre hackers
e crackers, já pode explicar às outras pessoas! Ah! Outra
dica superimportante (e básica): sempre que for acessar as
redes sociais, ou fazer algum tipo de compra na internet,
não basta estar acompanhado de adultos responsáveis por
ti. É preciso, também, verificar se o site contém o símbolo de
um “cadeado verde”, e se o endereço acessado corresponde
ao endereço oficial do local que está visitando.
Este passeio pelo ciberespaço foi bem rápido, né?!
Pois te espero numa próxima jornada! Até lá!

INTERNET
SEGURA MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 11
?
COMO FUNCIONA?

Foguetes e mangueiras Téo Scalioni


Na década de 1960, o mundo presenciou
uma empolgante corrida espacial rumo à Lua,
protagonizada, principalmente, pelos Estados Unidos
e pela extinta União Soviética. Hoje, quase seis
décadas depois, a disputa volta à tona, mas com outro
destino: Marte, “o planeta vermelho”. Agora, além dos
EUA, China e Rússia estão de olho na nova missão.
Independentemente de qual país alcançará a “glória”, Do tutti-frutti ao blueberry
sabe-se que os astronautas chegarão lá por meio de Vire e mexe, quando alguém compra bala
um transporte: o foguete. ou chiclete, escolhe tutti-frutti (que, aliás, é
Ops! Mas o que, exatamente, podemos chamar
delicioso, né?!). Apesar disso, não entendemos
de foguete?! Bem... O termo se aplica ao motor que
impulsiona um veículo e expele gases de combustão, direito que sabor é esse, adocicado na medida
por meio de queimadores situados na parte traseira certa de nosso paladar. Afinal, ao comprarmos
da aeronave. Nisso, ele funciona de modo diferente de sorvete de morango, por exemplo, sabemos
um motor a jato, já que transporta o próprio oxidante, que aquele gostinho bom vem... da fruta! Daí
o que lhe permite operar mesmo na ausência de ar. a pergunta: e o tutti-frutti, ora, bolas?! Para
Os motores de foguetes têm sido bastante usados compreender mais sobre ele, será preciso
em voos espaciais, quando a grande potência e a recorrer ao italiano, pois temos de traduzir seu
capacidade de operar no vácuo são essenciais. Porém,
nome ao pé da letra: “todas as frutas”. Siiiiiim!
eles também podem movimentar mísseis, aeroplanos
e automóveis. Esse gostinho bom nada mais é do que um mix
O princípio básico para a propulsão de foguetes de sabores, que muda conforme a região. No
é a chamada Terceira Lei de Newton, que diz: “Para Brasil, por exemplo, a base do tutti-frutti vem da
cada ação, há uma reação igual e oposta”. Esse efeito mistura entre banana, laranja e morango.
pode ser observado, por exemplo, numa mangueira de Ah! Tenho outra curiosidade... E o blueberry,
água: quando o líquido escapa com força, pelo bocal, a sabor encontrado, principalmente, nos sorvetes,
mangueira é impulsionada para trás. Se a gente diminui
e que parece uma combinação de vários outros
o diâmetro de saída, o empuxo será ainda mais forte.
No foguete, quando os gases queimados escapam em sabores? Ao contrário do tutti-fruti, ele vem de
um jato forte, por meio de um bocal comprimido, o uma fruta com o mesmo nome. Isso, mesmo!
engenho é impulsionado na direção oposta. Ou seja: Blueberry é uma fruta, que, inclusive, faz muito
para o alto e avante! bem à saúde. No Brasil, ela é conhecida como
mirtilo, que, graças à riqueza de seus nutrientes,
combate o ataque dos radicais livres nas células
e ajuda a reduzir níveis de colesterol ruim
(LDL) no sangue. Além disso, tem ação anti-
inflamatória e protege o cérebro dos efeitos de
deterioração de doenças degenerativas.

1
122 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL
SET/OUT/NOV
20202020
?
JOGOS

Imagens: divulgação.
EM
NOME
DAS
EMOÇÕES
Game ajuda pessoas
com autismo a
desenvolver interação
comportamental em
diferentes situações

Téo Scalioni

MINAS
MINAS
FAZ CIÊNCIA
FAZ CIÊNCIA
• SET/OUT/NOV
• ESPECIAL2020
2020 13
Se você tem um coleguinha que costuma ficar mais na dele,
não é muito de conversa, nem interage com as outras pessoas,
ele pode ter Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para quem não
sabe, trata-se de condição de saúde caracterizada pelo déficit de
comunicação social, expresso em dificuldades relacionadas à
socialização, à convivência etc.
Além disso, suas atitudes comportamentais podem ser
marcadas, principalmente, por interesses específicos, com
aparente frieza emocional e dificuldade de foco em certas
atividades. Hoje, os estudos buscam encontrar modos de
realizar diagnósticos mais precisos e antecipados do TEA, além
de ajudar a melhoria da qualidade de vida
Uma dessas pesquisas foi realizada por Adilmar Coelho
Dantas, que, em seu doutorado em Ciência da Computação,
na Universidade Federal de Uberlândia, a UFU, desenvolveu o
jogo Michelzinho. Com foco em pessoas com autismo, o game
simula a inteligência humana, por meio de técnicas avançadas
de análise de dados e processamento digital de imagens, que
permitem a identificação e a classificação, em tempo real, das
emoções dos jogadores.

14 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Assim, o jogador pode reconhecer e expressar emoções básicas, como alegria, tristeza,
raiva, medo, desgosto e surpresa, pelo smartphone ou via computador. De forma lúdica, o
game envolve o personagem virtual Michelzinho, que desenvolve essas habilidades sociais.

Mímicas
Ao entrar no jogo, o usuário pode treinar habilidades emocionais e sociais,
ao reconhecer as emoções por meio de fotos e animações em 3D. “Criei diversos
cenários interativos e situações, para que a criança possa aprender as emoções e,
posteriormente, aplicá-las na realidade. Nesses cenários, são trabalhadas aquelas de
difícil desenvolvimento para públicos com TEA”, explica Adilmar, ao lembrar que o
jogador precisa, por exemplo, fazer mímicas faciais ou expressões referentes à emoção
solicitada, com captação pelas câmeras do celular ou do computador.
A ideia do jogo surgiu com o projeto de doutorado de Adilmar, que notou a dificuldade
enfrentada pelo público com autismo em interpretar e expressar emoções. A partir daí,
ele buscou desenvolver cenários interativos, para que as crianças pudessem aprender e
aplicar tais sentimentos. “Elas têm maior possibilidade de criar, desenvolver e manter,
naturalmente, interações sociais com outros indivíduos”, acredita o pesquisador, ao
destacar que a iniciativa contou com apoio de profissionais da área de Psicologia.
Atualmente, Michelzinho conta com mais de 20 mil downloads e 500 mil partidas
jogadas. “Qualquer pessoa pode jogar, mesmo sem limitações neurológicas. Os feedbacks
também têm sido bem positivos por parte dos pais e especialistas”, conta.
Vale lembrar que o jogo é gratuito, que pode ser baixado para Android (https://play.
google.com/store/apps/details?id=com.fenix.emotionmichel) e PC (http://michelzinho.
pushsistemas.com.br/).

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 15


OI, VIDA!

ÍPIO
IN C
O PR

O nascimento de um
bebê é recheado de
mágicas biológicas
Luana Cruz

16 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


A vida começa com um primeiro encontro. Duas células
especializadas se abraçam, para fecundar a semente do futuro. O
óvulo (a célula feminina) amadurece, até estar pronta para escolher
seu par. Os espermatozoides (as células masculinas) disputam
uma corrida acelerada, até que um deles seja selecionado para o
encontro. A ciência dá, a essas células o nome de gametas, por
serem responsáveis pela reprodução.
A partir daí, começa o ciclo perfeito da vida. O fruto amadurece
e se torna embrião, que cresce dentro da barriga da mamãe, até se
tornar feto, primeiro estágio de desenvolvimento do bebê. Como
herança, ele carrega as características genéticas dos gametas, que,
depois, serão marcas registradas da criança, como as cores de
olhos e cabelos.
Durante nove meses, o bebê cresce guardado dentro de órgão
muito especial das mães: o útero. Ele é a casa do feto, que o deixa
protegido e alimentado. O peso do útero aumenta quase 20 vezes
durante a gravidez, e a capacidade do órgão passa de cerca de 4
ml para 4000 ml – aumento de mil vezes! Ele acaba ocupando um
espaço que não existia. Por isso, a mamãe fica barriguda.
Também acontecem outras mudanças no corpo da mulher,
para que ela possa dar, ao bebê, tudo de que precisa. O coração
da mamãe aumenta sua capacidade de funcionamento e os vasos
sanguíneos dilatam, para circular mais sangue. Tudo isso para
conseguir carregar o pequeno ser humano em formação.
Existe um canudinho, o cordão umbilical, que liga o bebê à
mamãe. Através dele, são fornecidos oxigênio e nutrientes. No
primeiro mês, o embrião tem o tamanho aproximado de uma
semente de gergelim. Na metade da gravidez, o feto ganha a
dimensão de um pepino.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 17


Outras espécies
Em outros mamíferos, a gestação acontece em tempos bem diferentes. A mamãe elefante espera
a chegada do filhote por, aproximadamente, 22 meses. Ele já nasce “prontinho”... e caminhando.
Já nos cangurus, a gestação dura cerca de 40 dias, mas os pequenos saem em fase de formação.
Por isso, continuam guardados numa bolsa externa, o marsúpio, que fica na barriga da mamãe. O
canguruzinho só se desliga dela entre o oitavo e o décimo primeiro mês de vida.
Para nós, humanos, quando chega a hora de se despedir da barriga da mamãe, o bebê vai
iniciar longa jornada de aprendizagem. É momento do... parto! Durante toda a gestação, o corpo
da mamãe se preparou para o nascimento da criança. Portanto, tudo vai acontecer de forma bem
natural. Às vezes, é necessária uma forcinha da Medicina, mas importante, mesmo, é que todos
fiquem bem durante e após o nascimento.
Eis o segundo encontro que dá início à vida: mãe e bebê, finalmente, se conhecerão. O
cordão umbilical é cortado, para que se separem, mas, na verdade, eles continuarão sempre
juntos, ligados pelo amor.

Texto produzido a partir de entrevistas com os cientistas Fernando Marcos dos Reis e Zilma Silveira Nogueira
Reis, ambos da Faculdade de Medicina da UFMG.

Para ler e ouvir A canção “Como é que a gente nasce” nos inspirou a escrever
Confira duas histórias sobre esta reportagem. Um passarinho muito esperto narra o
nascimento, para aprender nascimento de um bebê. Você pode ver o clipe no canal do
ainda mais Mundo Bita, no YouTube.

O livro Tic Tic: o elástico invisível do coração, da escritora


Graziela Andrade, nos ensina que é possível ficarmos juntos à
mamãe para sempre, mesmo depois do parto.

18 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


EDUCAÇÃO

JARDINS
INDOMADOS
Que tal aprender a apreciar as plantas que nascem
de maneira espontânea em nossa cidade?

Lorena Tárcia

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 19


Você já parou para pensar por que consideramos bonito um jardim? Em geral, trata-se de espaço
muito bem cuidado, que dá trabalho, pois as plantas ali colocadas precisam lutar, dia a dia, contra
espécies invasoras, as chamadas “plantas daninhas”. Por falar nisso, o que aconteceria se o ser humano
parasse de “domar” seus jardins e deixasse as plantas crescerem naturalmente? Quais espécies se
desenvolveriam e ocupariam os espaços hoje destinados aos “verdinhos” ornamentais?
Perguntas assim fazem parte dos estudos científicos de dois pesquisadores da Universidade Federal
de Minas Gerais, a UFMG: Wagner Leite Viana, professor da Escola de Belas Artes, e Wellington Dias,
responsável pelo Projeto Jardim Mandala da Faculdade de Educação.
Educação
Os dois incentivam seus alunos a olhar e a sentir a natureza de maneira diferenciada, com respeito
por suas origens e forças vitais. Na visão de Wellington, os jardins precisam ser reconhecidos como
espaços sensoriais e de cura.
Achamos estas propostas muito legais! Tão incríveis que resolvemos trazer este desafio científico
a você: que tal explorar os vasos e jardins de sua casa, ou mesmo os espaços verdes da cidade, para
reconhecer as plantas nascidas de maneira espontânea?
Para isso, organizamos uma lista com as principais espécies, aquelas mais fáceis de se encontrar
em Minas Gerais. Fizemos, ainda, um pequeno jogo, para você conectar o nome com a aparência das
plantinhas. Se não conseguir encontrar todas as espécies ao andar pela cidade, sempre vale consultar
os sites especializados da internet, como o Dataplamt, mantido pelo museu de história natural da UFMG:
http://www.dataplamt.org.br/v3-novaversao-block/#/

Desenvolvido pelo pesquisador Wellington Dias, o


Jardim Mandala é um lugar muito especial. Trata-se de
lugar para refletir sobre o meio ambiente, a poesia, e para
realizar uma educação atrelada às diversas formas de vida. O
espaço tem, como base, estudos de Geobiologia e de Geometria
Sagrada, que buscam a sintonia entre os ciclos da vida e modos
mais naturais de lidar com o conhecimento e o mundo. Para
saber mais, acesse a página do projeto no Facebook:
https://www.facebook.com/jardimmandala.fae.
https://www.facebook.com/jardimmandala.fae

20 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Azedinha Assa-peixe Mamona
(Oxalis oxyptera
oxyptera)) (Vernonanthura (Ricinus communis
communis))
weediena)
weediena)

TENTE
ENCONTRAR
NA CIDADE
Dente-de-leão Tanchagem
(Taraxacum officinale
officinale)) (Plantago tomentosa
tomentosa))

Capim amargoso Picão-branco, fazendeiro, Capim-colchão


(Digitaria insularis
insularis)) Butão-de-ouro (Digitaria sanguinalis
sanguinalis))
(Galinsoga parviflora
parviflora))

Beldroega (Portulaca
Portulaca oleracea
oleracea)
Caruru (Amaranthus
Amaranthus viridis
viridis)
OUTRAS Guanxuma (Sida rhombifolia e Malvastrum
coromandelianum
coromandelianum)
ESPÉCIES Losna-brava (Artemisia
Artemisia verlotiorum
verlotiorum)
Capim-pé-de-galinha (Eleusine
Eleusine indica
indica)
URBANAS Capim –arroz (Echinochloa
Echinochloa crusgalli var. crusgalli
Tiririca (Cyperus
Cyperus rotundus
rotundus)
crusgalli)

Capim-quicuio (Pennisetum
Pennisetum cladestinum
cladestinum)

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 21


PLANETAS

VIDA
EXTRATERRESTRE?
Nova descoberta na atmosfera de Vênus indica
caminhos para a busca de vida fora da Terra Verônica Soares

O que é a vida? “Sabemos que uma pedra não é viva. Rato, aranha e formiga
são coisas vivas. Vida não precisa ter movimentos. As plantas, por exemplo, são
vivas, mas não se movem”, exemplifica o professor Eduardo Janot Pacheco, do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São
Paulo (USP), ao falar sobre a descoberta que pode indicar a presença de vida em
Vênus.
Em setembro de 2020, cientistas dos Estados Unidos, do Reino Unido
e do Japão identificaram, na atmosfera do planeta vizinho, uma substância
produzida por seres vivos na Terra. Fedida e tóxica, a “fosfina” chamou a atenção
porque, embora também esteja presente na poluição e nas fumaças de chaminés,
pode estar sendo produzida, em Vênus, por um tipo de vida bacteriana.
Cientistas vão pesquisar, agora, se existe algum processo químico – sem ajuda
de um ser vivo – que possa produzir a fosfina descoberta na atmosfera de Vênus,

Publicada no periódico Nature Astronomy, a pesquisa foi liderada pela cientista


Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido. Artigo disponível em:
www.nature.com/articles/s41550-020-1174-4.

22 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


onde não existem fábricas para poluir…. Afinal, muito alta da atmosfera, e produzindo a fosfina”,
só pela presença desse gás tóxico, não podemos conta Wagner Corradi.
afirmar, ainda, que encontramos ETs venusianos.
“É como o pum de um bicho. A gente só tem que A pesquisa
descobrir se tem bicho lá, mesmo”, explica o Cientistas sabem que toda molécula vibra
professor Wagner Corradi, do departamento de e libera energia. Por isso, tiveram a ideia de
Física da Universidade Federal de Minas Gerais olhar para Vênus e observar, daqui da Terra, se
(UFMG) e atual diretor do Laboratório Nacional havia fosfina vibrando por lá. Para isso, usaram
de Astrofísica LNA-MCTI. telescópios muito especiais e precisos: um
no Havaí – pertencente aos EUA – e outro no
Problemas deserto do Atacama, no Chile, comandado pelos
As chances de encontrar vida em Vênus europeus. Acharam, então, a radiação, ou seja,
eram consideradas baixas porque lá chove ácido essa dança vibrante da fosfina na atmosfera de
sulfúrico o tempo todo. A superfície do planeta Vênus. Se a substância está lá, se não estiver
é pura lava, com temperaturas altíssimas, que sendo produzida por seres vivos, quem é que a
variam de 400 a 500 graus Celsius. Com solo produz? Bingo! Talvez, eles tenham encontrado
muito quente e atmosfera bastante espessa, é indícios de vida extraterrestre!
como se tudo estivesse coberto por um grosso “Todos os estudos científicos seguem um
edredom, que segura todo o calor por ali. método para provar como as coisas funcionam.
“Já mandamos sondas para lá, mas elas logo Se chegarmos à conclusão de que não dá para
derretem e se desintegram”, conta o professor fazer fosfina sem um ser vivo em Vênus, então,
Janot. Vênus é quente, mesmo! a chance de que seja vida produzindo isso por
Diante da descoberta da fosfina na lá é quase certa”, explica o professor Janot, que
atmosfera, imagina-se que a substância esteja acha bastante provável que, realmente, haja vida
sendo produzida por bactérias que vivem em em outros planetas – a gente só não comprovou
determinada altura, onde estariam “protegidas” ainda! “Temos que ter o espírito aberto para
do ácido sulfúrico e da radiação ultravioleta entender que também há outras formas de vida,
do Sol, em temperatura mais “amena”, que diferentes das que conhecemos. Suspeitamos
pode variar de 0 a 40 graus Celsius. “O que que exista vida no subsolo de Marte, pois há
foi encontrado é uma indicação: opa! Deve muita água, que tem relação com a vida. Daqui a
haver um micróbio, uma bactéria, muito leve dois anos, vamos mandar um robozinho lá, para
e pequeniníssima, sobrevivendo nessa camada ver se tem micróbios no subsolo”, completa.

Vênus é o segundo planeta mais próximo do


Sol. Por conta disso, e de sua atmosfera muito
espessa (o tal edredom), é muito mais quente
que a Terra.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 23


TECNOLOGIAS

Historiadora explica as mudanças, ao longo


do tempo, nos métodos de impressão
Tuany Alves

24 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Livros, jornais ou as provas da escola Letras juntinhas
precisam ser impressos, para sair da tela A impressão tipográfica passou por
do computador e chegar às nossas mãos. A modernizações, e as tecnologias marcaram
reprodução de textos e imagens, com auxílio a história dos métodos. A máquina movida a
de impressoras ou máquinas gráficas, surgiu vapor acelerou o processo de impressão e foi
há muitos anos, mas não parou no tempo – a primeira a mudar tudo. Depois, veio o offset,
e tem sempre mudado, de acordo as novas técnica que transformou a forma de imprimir, já
tecnologias desenvolvidas pela humanidade. que não havia mais letrinhas trimendissionais,
É o que conta Ana Terra, coordenadora mas uma faixa de metal, capaz de diferenciar
do Museu Vivo Memória Gráfica e do água e óleo para dar vida as palavras.
Laboratório de História do Livro. Segundo “A lâmina era áspera onde estava a
a professora, as primeiras tentativas de informação, e isso fixava a tinta. As outras
imprimir, com a lógica do caracter móvel – partes eram lisas e a água lavava a cor”, conta
letras do alfabeto feitas em material duro – a professora. Por fim, veio a impressão digital.
aconteceu na China, quando Bi Sheng criou Sim, essa que temos em casa e imprime textos
caracteres feitos de argila cozida. do computador, a partir de uma impressora. Tudo
Já no Ocidente – a parte do mundo é feito por meio de dados invisíveis aos olhos.
em que nós, brasileiros, vivemos –, essa
história começou no século XV, com o
alemão Johannes Gutemberg, que teve a Isso ou aquilo?
ideia de produzir letras e símbolos de metal, Apesar de todas essas mudanças, além
que, juntos, formariam palavras e frases. das que hão de surgir – como a impressão
Após posicioná-las na ordem, o inventor de cheiros e 3D –, as tecnologias de diversos
passava tinta no texto, que era impresso com períodos ainda estão por aí, e convivem com
a ajuda de uma prensa em papel (ou outros harmonia. “O impresso é volátil, e se espalha
materiais). “O primeiro livro que Gutemberg aos quatro ventos. Tal capacidade de estar
imprimiu, por exemplo, foi feito de peles de em todos os cantos ao mesmo tempo lhe dá
pequenos animais, tratadas com calcário, forças”, completa Ana Terra.
para fixar a tinta”, lembra Ana Terra.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 25


ESPECIAL

Tempo,
tempo... tempo,
De que modo, afinal,
a ciência percebe o
permanente passar
das horas?
Verônica Soares

26 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


“Se ninguém me pergunta, eu sei o que é; mas se me perguntam,
e quero explicar, não sei mais nada”. Essa frase, que parece uma
charada ou adivinha, é, na verdade, uma das maiores reflexões sobre
o tempo, escrita por Santo Agostinho, filósofo e teólogo que viveu
nos anos 300.
Muito estudado até hoje, ele refletiu, profundamente, sobre este
conceito que nos põe a quebrar a cabeça: o que é isso que muda os
números do relógio, e faz a gente envelhecer, mas parece durar uma
eternidade, quando precisamos esperar uns minutinhos, na porta do
banheiro, com a bexiga cheia?
Desde a Grécia Antiga, muitos foram os sentidos atribuídos ao
tempo, entendendo-o em relação a outros princípios: o movimento, o
ciclo da vida, um ordenamento da rotina em horas e dias, que definem
nossos afazeres: tempo de dormir, acordar, estudar, trabalhar. Na
ciência, Isaac Newton diferenciou tempo “absoluto” do “relativo”.
Séculos depois, foi Albert Einstein quem nos trouxe outra
concepção, a partir de estudos anteriores, de Newton e Galileu: ele
compreendeu o espaço e o tempo como faces de uma mesma moeda
– e dizia, ainda, que o tempo passa de maneira diferente para mim ou
para você. Mas como assim?
O físico italiano Carlo Rovelli explica que Einstein o concebeu
não como um, mas como muitos: “Cada quantidade ‘tempo’ se divide
numa teia de tempos. Não descrevemos como o mundo evolui no
tempo: descrevemos o que acontece em tempos locais e os tempos
locais que acontecem um em relação ao outro. O mundo não é como
um pelotão que avança no ritmo de um comandante. É uma rede de
eventos que se influenciam mutuamente”.
Logo, se o tempo é relativo, o que é o agora e o que vem depois?
O futuro não é aquilo que nos espera no final da seta do tempo. Afinal,
para as leis da ciência, não há essa distinção entre passado e futuro.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 27


CANÇÕES
AO TEMPO!
Muitos compositores
e compositoras
se dedicaram à
escrita de músicas
em homenagem ao
passar dos dias, das
horas, dos segundos...

“Oração ao tempo” Que sejas ainda mais vivo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
(Caetano Veloso) No som do meu estribilho Apenas contigo e comigo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
És um senhor tão bonito Ouve bem o que te digo
Quanto a cara do meu filho Tempo, Tempo, Tempo, Tempo E quando eu tiver saído
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Para fora do teu círculo
Vou te fazer um pedido Peço-te o prazer legítimo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo E o movimento preciso Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Compositor de destinos Quando o tempo for propício
Tambor de todos os ritmos Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Ainda assim acredito
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Ser possível reunirmo-nos
Entro num acordo contigo De modo que o meu espírito Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Ganhe um brilho definido Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Por seres tão inventivo E eu espalhe benefícios
E pareceres contínuo Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Portanto peço-te aquilo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo E te ofereço elogios
És um dos deuses mais lindos O que usaremos pra isso Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo Fica guardado em sigilo Nas rimas do meu estilo

28 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


“Sobre o tempo” “O relógio”
(Pato Fu) (Vinicius de Moraes)

Tempo, tempo mano velho, Passa, tempo, tic-tac


falta um tanto ainda eu sei Tic-tac, passa, hora
Pra você correr macio Chega logo, tic-tac
Tic-tac, e vai-te embora
Tempo, tempo mano velho, Passa, tempo
falta um tanto ainda eu sei Bem depressa
Pra você correr macio Não atrasa
Como zune um novo sedã Não demora
Que já estou
Tempo, tempo, tempo mano velho Muito cansado
Tempo, tempo, tempo mano velho Já perdi
Vai, vai, vai, vai, vai, vai Toda a alegria
De fazer
Tempo amigo seja legal Meu tic-tac
Conto contigo pela madrugada Dia e noite
Só me derrube no final Noite e dia
Tic-tac
Tic-tac
Dia e noite
Noite e dia

Meus tempos de criança


(Ataulfo Alves)

Eu daria tudo que eu tivesse Que saudade da professorinha


Pra voltar aos dias de criança Que me ensinou o beabá
Eu não sei pra que que a gente cresce Onde andará Mariazinha
Se não sai da gente essa lembrança Meu primeiro amor, onde andará?

Aos domingos, missa na matriz Eu igual a toda meninada


Da cidadezinha onde eu nasci Quanta travessura que eu fazia
Ai, meu Deus, eu era tão feliz Jogo de botões sobre a calçada
No meu pequenino Miraí Eu era feliz e não sabia

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 29


A gente já chegou?
O geógrafo, escritor e cientista brasileiro Milton Santos
escreveu, certa vez, sobre as diferentes relações que estabelecemos
com o tempo, ao andarmos pela cidade. Esse espaço social,
ocupado por gente tão diversa – homens, mulheres, crianças e
adolescentes, empresas, escolas, universidades e instituições,
uns ricos, outros pobres, de cores e classes tão diferentes –,
serve a todos e a todas, mas de maneiras distintas: uns andando
rápido, com pressa para chegar, outros caminhando calmamente
e bem devagar, apreciando a vista. Há quem ande de carro próprio
e quem dependa de metrô ou ônibus para se deslocar. Como é ver
o tempo passar desses diferentes lugares?
“Do aeroporto ao centro da cidade vai-se muito depressa,
criam-se condições materiais para que o tempo gasto na viagem
seja curto. Já entre os bairros vai-se mais devagar, no sentido
de que não há uma materialidade que favoreça o tempo rápido”,
disse Milton Santos.
As cidades são construídas de modo que o tempo acaba
sendo uma experiência diferente para uns e outros. E, veja só, é
como se nem todos se beneficiassem igualmente do tempo de
deslocamento entre os espaços...

Sou mais rápido que você!


Já parou para pensar em como o tempo pode fazer uma
diferença enorme entre quem fica em primeiro, segundo ou
terceiro lugar numa corrida? Nos Jogos Olímpicos, por exemplo,
é tão emocionante acompanhar as competições de natação ou
atletismo e perceber que a diferença entre o primeiro e o segundo
no pódio, às vezes, ficam em milésimos de segundo! Essa busca
pela velocidade nas competições é tão importante que existe até
uma área de pesquisa, a chamada Física Aplicada ao Desporto,
com o objetivo de melhorar o desempenho dos atletas e diminuir
seus tempos na prática esportiva.

30 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


O que fazer agora?
O que é o presente? Você piscou e já passou. Piscou é agora. Piscou
de novo... Ih, o presente ficou no passado! Aliás, talvez você já esteja um
pouquinho mais velho agora do que quando começou a ler esse texto. E não
dá para voltar atrás – ninguém inventou aquela máquina dos filmes, que nos
permite voltar no tempo. Tic-tac! Quantos minutos se passaram? Que tal checar
o relógio? Ih, será que já está na hora de parar de ler e se arrumar? Pode ser
dia de ir para a escola, de se sentar, bem confortável, para estudar. Depois dos
compromissos, quem sabe a gente não ganha um tempo para brincar?
Já reparou que, quando estamos nos divertindo, a gente não sente o tempo
passar? É como se aquele momento tão legal parasse todos os relógios do
mundo... e só existissem você, seus amigos e suas amigas, seus brinquedos
e suas pessoas favoritas.
Mas os adultos, às vezes, têm outra relação com o tempo: para eles, é
como se ele fosse uma espécie de controlador, que diz que tudo tem hora para
começar e terminar – e eles se esquecem de que esse passar do tempo se
chama viver.
Um dia, também você será adulto, e vai se sentir assim, com uma vida
cheia de compromissos, com início meio e fim, que não podem durar para
sempre. Mas, no fundo – lá no fundo! –, talvez, seus adultos se lembrem de
como era esse tempo do brincar em que, na verdade, contra todas as leis da
física, o tempo não existia!

Ah! Que tal, agora, cortar o


vale-tempo aqui da revista
e entregar para eles viverem
essa experiência de novo
com você?

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 31


VERDADES E MENTIRAS

32 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Você deve conhecer a história do Pinóquio, o boneco de
madeira que sonha em se transformar em menino de verdade.
A cada vez que mente, o nariz dele cresce. Também tem o Lobo
Mau, que finge ser a vovó da Chapeuzinho Vermelho, mas acaba
desmascarado. Esperto, mesmo, é o Gato de Botas, que, para
escapar de ser comido, convence até o rei de que seu dono é um
homem rico, o tal Marquês de Carabá.
Dos livros à realidade, talvez você já tenha ouvido falar das fake
news. O termo, em inglês, significa “notícias falsas”. Na internet,
elas se espalham com velocidade inacreditável, especialmente nas
redes sociais digitais. Mas as fake news não são apenas mentiras!
Elas podem ser criadas com a intenção de confundir as pessoas
ou de fazê-las acreditar em algo – assim como fez o famoso gato,
nos contos de fadas, para se safar.
“Na maior parte das vezes, uma notícia é apresentada como
se fosse correta, para parecer que foi criada por uma fonte
confiável, como a ciência ou o jornalismo”, observa Geane
Alzamora, professora do departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal de Minas Gerais, a UFMG.
E o que uma pessoa, ou um grupo de pessoas, que produz
notícias falsas pretende? “Querem que você acredite em algo que
não é exatamente verdadeiro, mas que julgam importante”, afirma
Geane. Em geral, há uma intenção por trás disso: ganhar audiência
ou fazer com que outras pessoas pensem como elas, para ganhar
votos em uma eleição, por exemplo.
“Então, antes de acreditar
em tudo que chega pela
internet – em um grupo
de WhatsApp de amigos
ou de familiares, ou numa
rede social mais ampla,
como Facebook e Instagram
–, é muito importante
verificar essa informação”,
orienta a professora.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 33


Não se deixe
enganar
Confira outras dicas da professora
Geane Alzamora, para que você não
canha em lorotas perigosas

“Se você está em dúvida se determinada


informação é falsa ou verdadeira, não repasse
a outras pessoas. Primeiro, pergunte a um
adulto em quem você confia se um canal
do Youtube é confiável, ou se o link em
que clicou é adequado para sua idade, por
exemplo.”

“Caso não tenha um adulto por perto, acesse


o Google. Você pode digitar, e até mesmo usar
o comando de voz, para procurar o título da
notícia ou uma palavra-chave, e descobrir o
que já foi dito sobre determinado assunto. A
maior parte das informações grosseiramente
falsas é desmentida em vários links que
aparecem na busca pela internet.”

“Não é correto produzir uma informação


falsa com o objetivo de prejudicar os outros.
Assim como não devemos falar mal de alguém
que não está presente para se defender, não
devemos compartilhar mensagens ou vídeos
que possam deixar um colega envergonhado.
Isso também é considerado bullying.”

34 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


CAMINHOS DO MUNDO

UM
VAI-E-VEM
SEM FIM...
Movimentos
migratórios são
importantes
para a economia
e a cultura dos
países
Mariana Alencar

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 35


Silva, Pitanga, Mendes, Lopes, Bianchi, Suzuki... O que esses
sobrenomes têm em comum? A real é que cada um deles conta
com uma origem diferente. Enquanto o Silva vem de Portugal,
o Suzuki desembarcou do Japão! Ok! Mas como esses nomes
se tornaram tão populares no Brasil? A resposta é simples: tal
popularização, em lugares diferentes de sua origem, acontece
devido aos movimentos migratórios!
Siiiiim! Eles correspondem à transição de pessoas de um lugar a
outro do Planeta. Segundo Durval Fernandes, professor do Programa
de Pós-graduação em Geografia da PUC Minas, a migração é definida,
de forma geral, como uma mudança de endereço.
“Quando você muda de casa, pode migrar dentro de sua cidade,
por exemplo. Mas há um tipo de migração, a ‘internacional’, que
acontece ao mudar de um país a outro. É importante lembrar, contudo,
que só ocorre migração quando há mudança de endereço. Não é a
mesma coisa que fazer um passeio durante as férias”, explica.
Quando um país
recebe alguém de fora,
essa pessoa é chamada Imigrantes X Refugiados
de “imigrante”. Porém, Durval também esclarece que há várias razões para que ocorra
quando ela sai de sua um movimento migratório. Uma pessoa pode mudar de país
nação, ela se torna porque conseguiu um emprego em outro lugar (“migração laboral”),
“emigrante”. porque quer melhorar de vida (“migração econômica”) ou conheceu
alguém especial em outro país (“migração do coração”). Em outros
casos, as pessoas são obrigadas a deixar o local onde moram.

36 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


“Quando acontece, por exemplo, uma tempestade muito forte ou um terremoto, que destrói
completamente uma cidade, os moradores dali são obrigados a se mudar. A gente chama esse processo
de ‘migração climática’”, conta. Há, também, os casos em que as pessoas precisam se mexer porque
acontece uma guerra em seu país, ou porque estão sendo perseguidas por pensarem de modo diferente.
“A esse conjunto de pessoas, damos o nome de refugiados, pois trata-se de pessoas que buscam
refúgio e apoio em outro país”, detalha.
Segundo o professor, atualmente, há, no mundo todo, cerca de 70 milhões de pessoas que tiveram
que sair de seus países de origem devido a guerras ou a perseguições. O Brasil é o destino de pelo
menos 30 mil refugiados vindos da Venezuela, da Síria e da República Democrática do Congo. “Esse
tipo de migração é muito bem definida pela lei. Só pode ser considerado refugiado alguém que sai de
seu país por risco de vida. A nação que recebe os refugiados dá proteção a eles e garante acesso a saúde
e educação”, comenta.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 37


Aprendizado
A vida de quem migra é atravessada por dificuldades. A primeira delas é o idioma. Mesmo que a
pessoa tenha um pouco de noção da língua falada no país para onde vai, o cotidiano em outro idioma
não é fácil. O segundo problema se refere ao trabalho. Nem sempre o diploma de determinada nação
é válido em outro. Então, quem migra precisa arrumar emprego em áreas diferentes de sua formação.
Os imigrantes e refugiados também enfrentam muito preconceito em certos países. A adaptação numa
nova terra pode ser difícil. Por isso, quando encontramos alguém de fora, é importante conversamos e
sermos gentis com aquela pessoa.
“Quando recebemos alguém de outro país, temos a oportunidade de conhecer culturas diferentes da
nossa. Além disso, precisamos ter em mente que, no futuro, também podemos ser imigrantes. Só temos
a ganhar quando somos educados”, ressalta o professor.

Labirinto
de destinos
O Brasil sempre recebeu
imigrantes de várias partes
do mundo, que, por aqui,
(re)construíram suas vidas e
contribuíram muito com o País.
Observe bem as vestimentas e os
traços culturais das personagens
abaixo, que há tempos fazem
história por aqui, e ligue cada
uma delas a sua nação de origem! ITÁLIA ALEMANHA JAPÃO

38 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


PRÉ HISTÓRIA

Em solo mineiro, cientistas descobrem lagartinho


que viveu no tempo dos dinossauros
Tuany Alves

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 39


Antes de o mundo se tornar o que hoje conhecemos, ele era
povoado por enormes feras. Estegossauros, tricerátopos ou T-Rexs
comandavam o Planeta, bem antes de o ser humano pisar por aqui.
Porém, nem todos que caminhavam na Terra eram gigantes, e, apesar
de conhecida como “a idade dos dinossauros", a era mesozoica
também se apresentava como lar de animais muito pequeninos. Que
o diga a descoberta realizada, por pesquisadores, em João Pinheiro,
cidade na região Noroeste de Minas Gerais.
Com quatro patinhas posicionadas aos lados do corpo e uma
cauda longa, o novo réptil identificado pelos cientistas bem poderia
ser confundido com os pequenos lagartos que, atualmente, vemos
em nossos jardins – à exceção de algo: ele viveu há mais de 135
milhões de anos!
Do tamanho de uma caneta, o pequenino se comparava a
uma lagartixa pequena. “Mas era parecido com os lagartos de
parede”, destaca Jonathas Bittencourt, professor da Universidade
Federal de Minas Gerais e coordenador da pesquisa, que conta
com apoio FAPEMIG.
A nova espécie é diferente de todos os lagartos já vistos, vivos ou
em fósseis, e foi batizada de Neokotus sanfranciscanus, em homenagem
ao rio São Francisco. O professor explica que o termo Neokotus vem
do grego e significa “coisa nova” ou “diferente”. “O lagarto seria, então,
o novo morador do São Francisco”, conta Bittencourt.

40 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Tubarão mineiro
O lagarto é tão pequeno que sua
descoberta aconteceu por acaso. Se-
gundo o coordenador, o grupo estava
procurando rochas, que poderiam ter
fósseis, e encontraram várias escamas
de tubarões, que também viveram junto
aos dinossauros.
Isso já foi beeeeeeem bacana, já
que os tubarões têm um esqueleto que,
normalmente, não se torna fóssil. Bit-
tencourt conta que também foram des-
cobertos vários animais com conchas
pequenas, que viviam no local onde
havia um lago. “Enquanto analisávamos
todo esse material, apareceu o lagarto,
quase sem querer”, lembra.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 41


Divulgação

O mais antigo
O Neokotus sanfranciscanus é
o fóssil de lagarto mais antigo da
América do Sul, o que mostra que
a atual biodiversidade surgiu há
mais tempo do que se imaginava.
Outra coisa interessante é que o
pequenino pertencia a uma família
de lagartos praticamente extinta.
Além disso, não se sabia que eles
haviam existido por essas bandas.
Segundo Bittencourt, com a
descoberta, será possível estudar
como os grupos de lagartos
surgiram no Brasil. “Podemos
reconstruir a história da evolução
Ossinhos do desses animais, ao olhar para
lagarto foram registros que eles deixaram há
descobertos junto muito e muito tempo”, conta.
a outros materiais
pré-históricos

Ilustração do Neokotus sanfranciscanus, produzida por Jorge Blanco

42 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


LEVITAÇÃO

r!
tA
Evi
Egal é l
ue l Com ajuda da ciência, já é
Q

possível levantar pequenos


objetos por meio do som

Verônica Soares

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 43


Com certeza, você já viu, em filmes e desenhos animados, objetos
flutuantes pelo ar. Vale pensar nas vassouras do Harry Potter ou nos carros
voadores de Os Jetsons, além do desejado hoverboard de De volta para o
futuro II. Bem, esses últimos talvez sejam exemplos que seus pais vão se
lembrar...
Mas essa ideia de levitar objetos não é só mágica ou ilusão. Na Universidade
Federal de Uberlândia, a UFU, bem ali no Triângulo Mineiro, uma pesquisadora
se dedica a transformar essa ideia em realidade! O nome dela é Geisa Zuffi,
uma engenheira mecânica que estuda a técnica de “levitação acústica de campo
próximo”. Por meio de uma corrente elétrica, nossa cientista consegue aumentar
a pressão do ar localizado entre um transdutor e um objeto. E aí, sim, ele levita!
Quando descobriu esse tema de estudos, Geisa ficou muito animada: “Achei
sensacional e um ‘baita’ desafio. Imagine você sair por aí levitando coisas?!
[risos]”. A pesquisa até já levou a pesquisadora a um Instituto de Tecnologia
em Israel, onde ela aprofundou os estudos para voltar ao Brasil, com ainda mais
conhecimentos sobre a ciência da levitação.
Mas será que a gente pode levitar nosso
próprio corpo? Ela conta que ainda não.
Embora seja possível levitar objetos de
diferentes formas e tamanhos, há limitação
de peso: “Por enquanto, só é possível a
levitação de pequenas cargas, na ordem
de centenas de gramas”. Que pena, né?!
A ideia de “sair levitando coisas por aí”
é tão legal, mas ainda precisa de muita
pesquisa e de muitos estudos. Quem
sabe, no futuro, você não vai ser parte da
equipe de cientistas que, pela primeira
vez, levitará um grande objeto? Foto: arquiv
o da pesqu
isadora

pressão do A corren
ar entre um te elétrica aumenta a
transdutor
e o objeto

44 MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2020


quisadora
Entrevista com

ivo da pes
a pesquisadora

Foto: arqu
Oi, Geisa! Sobre o que é sua pesquisa?
É verdade que você estuda a levitação?
Sim, pesquiso uma forma de fazer com que objetos
sejam levitados.

Mas o que é a levitação?


É quando você suspende ou movimenta um
objeto sem tocá-lo.

formas de E qual a participação do som nesse


eis a Zuffi pesquisa s
G a
uenas carg processo?
levitar peq
Ele faz com que a pressão do ar, que se encontra
no ambiente, aumente e seja maior do que o peso
do objeto que queremos levitar. Quando isso
acontece, temos a “levitação acústica de campo
próximo”, o nome técnico do processo.

Puxa, quero ser como você quando


crescer! O que preciso estudar?
Matemática, Física e Programação.

Algum recado para crianças que sonham


em ser engenheiras e cientistas?
Não desista e se divirta! Vai ser difícil, e muitas
coisas não vão sair como o esperado, mas será uma
grande aventura!

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 45


ESPAÇO SIDERAL

O Universo
fica logo ali
Novas tecnologias e o
sonho de se aproximar
do desconhecido levam
o ser humano a ampliar
suas viagens pelo
espaço sideral

Luiza Lages

46 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Há quase 60 anos, o ser humano viajou para o espaço pela primeira vez. O
sortudo? Um cosmonauta (ou astronauta) da Rússia, chamado Iuri Gagarin, a
bordo da nave Vostok 1, no dia 12 de abril de 1961. Ele não foi para muito longe,
nem ficou ali por muito tempo: deu uma volta ao redor da Terra e voltou para cá,
em menos de duas horas. Tal missão “rapidinha”, contudo, abriu caminho para
nossas viagens a outros cantos do Universo.
Quando sair do Planeta ainda era um sonho muito distante, o ser humano
olhava para o espaço com curiosidade. Conhecer o Universo, afinal, é saber mais
sobre a gente: de onde viemos? Para onde vamos? Desde 1961, pisamos na Lua,
olhamos (lá de fora) para a Terra, criamos a estação espacial internacional (onde
vários astronautas “moram” por alguns dias) e lançamos vários satélites, que
aproximam de nós os lugares distantes. Ah! E nunca deixamos de lado a ânsia
por desvendar o que existe lá no alto e além.
No entanto, muita coisa mudou! Para além da ciência, as viagens espaciais
têm outros objetivos. “O homem pensa em usar o espaço como forma de ganhar
dinheiro. Já existem empresas, por exemplo, para mineração de asteroides”, diz
Renato Las Casas, professor do departamento de Física da Universidade Federal
de Minas Gerais, a UFMG. Outra aposta é o turismo! Há algum tempo, era difícil
imaginar que uma pessoa comum, que não é astronauta, poderia ir ao espaço.
“Quem sabe, daqui a 20 ou 50 anos, poderemos dar uma voltinha na Lua?”,
pergunta o professor.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 47


Marte
Certas empresas já trabalham duro para levar turistas
às estrelas! Uma delas é bem famosa: a SpaceX, com sede
nos Estados Unidos, quer melhorar e tornar o transporte
espacial mais barato, além de permitir que seres humanos
cheguem até Marte e vivam por lá! Para o professor Renato,
tal missão não é fácil.
“Hoje, ainda não temos conhecimento suficiente para
levar o homem a Marte com segurança. Então, é um desafio
bem grande. A radiação da viagem até lá, por exemplo, é
muito grande. E como sobreviver ali? Como se alimentar
ou conseguir água?”, pergunta. Primeiro, precisamos
entender como chegar e viver em Marte – assim como na
Lua. O que aprendermos nessa jornada será importante
para chegarmos a outros planetas. “Essas colônias
funcionariam como uma rodoviária. O homem iria à Lua
em pequenas naves, e, de lá, pegaria outras para Marte,
Saturno ou viagens mais longas. Hoje, não fazemos ideia
de como, mas é algo fundamental, para a humanidade,
espalhar-se pelo universo”, diz o professor.
Existem vários porquês de viajarmos pelos céus...
Para Renato Las Casas, o principal, realmente, é espalhar
a humanidade por diferentes planetas e sistemas solares.
Só assim poderemos garantir nossa sobrevivência, daqui
a muitos e muitos anos. Antes disso, claro, precisamos dar
passos menores: “Falo para meus netos que eles, talvez,
poderão fazer uma coisa que eu sonhei muito quando era
pequeno: viajar para a Lua, pois ela não está mais tão
longe assim”.

48 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 49
DICAS

PARA TODOS
OS GOSTOS
(E SENTIDOS)
Um game, um livro, um site, um filme
Alessandra Ribeiro

Sêntimus
Este jogo musical foi desenvolvido especialmente para os
pequenos e as pequenas com hipersensibilidade sonora, ou
seja, que sofrem ao ouvir determinados sons. Isto é comum em
crianças autistas ou com outros transtornos de desenvolvimento
neurológico. A iniciativa foi desenvolvida por uma pesquisadora
da Escola de Música, em parceria com o Departamento de
Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas
Gerais, a UFMG. Para saber mais e ver as instruções sobre como
baixar o game,, disponível para as plataformas Android e IOS,
acesse: sentimus.wixsite.com/sentimus.

50 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


O que é um livro?
E lá vêm outras perguntas sobre esse tema
legal aí do título: quem inventou o livro?
Como ele é feito? Desde quando lemos
esses objetos? Na coleção “Universidade
das Crianças”, especialistas respondem
a perguntas feitas por garotos e garotas.
Uma pessoa também é convidada a fazer as
ilustrações, para lá de especiais. Em O que
é um livro?, o texto é da escritora Ana Elisa
Ribeiro, com desenhos de Anna Cunha.
A publicação faz parte do selo infantil da
Editora UFMG, o Estraladabão.

Portal Sesi Educação


Imagine mais de 17 mil atividades digitais de aprendizagem gratuitas, reunidas
em uma única plataforma educativa on-line! O conteúdo se volta a estudantes da
educação básica, do infantil ao ensino médio, e pode interessar, ainda, a familiares
e profissionais da área. São jogos, vídeos, desafios e diversos recursos, como
planetário e tabela periódica. Uma das áreas é dedicada ao aprendizado “mão na
massa”, também conhecido como cultura maker. Lá, estão tutoriais que ensinam
a montar objetos com materiais fáceis de encontrar. Tem máquina de desenhar,
labirinto de gude e até um robô. Acesse: sesieducacao.com.br.

Um espião animal
Produção da Blue Sky Studios, responsável por sucessos como A era do gelo
(2002) e Rio (2011), esta animação é inspirada em filmes de espionagem, como
007 e Missão: Impossível. Lance é o maior espião do mundo, infalível e sempre
impecável em seu terno de alta costura. Depois de se meter numa enrascada, ele
precisa da ajuda de Walter, jovem brilhante, que se formou aos 15 anos no MIT,
um dos principais centros de pesquisa em ciências, engenharia e tecnologia do
mundo. Tudo fica mais engraçado quando o agente secreto é transformado em
um pombo, por acidente. A versão dublada, em português, tem a participação de
Lázaro Ramos e Taís Araújo. Disponível para locação e compra no Youtube e no
Google Play Filmes.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 51


MEIO AMBIENTE

SUJEIRA PRA
TODO LADO!
Por que a poluição do ar, promovida por carros, fábricas e
queimadas, é tão ruim para a saúde das pessoas e do Planeta?
Luiza Lages

52 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


Quando andamos pelas ruas ou paramos no trânsito, é muito
comum vermos um tanto de fumaça escura saindo de motos, carros,
ônibus e caminhões. Aquilo que escoa pelo escapamento dos veículos
é uma forma de poluição. Todos os dias, veículos, fábricas e, até
mesmo, fornos a lenha de pizzarias lançam um tantão de sujeira na
atmosfera, e, assim, contaminam o ar de todo o mundo.
Isso é um problema porque os seres humanos e o Planeta precisam
de ar limpo para viver. Taciana Toledo, professora do departamento de
Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Minas
Gerais, a UFMG, explica que o ar é formado por diversas substâncias.
E podemos considerar como poluição qualquer coisa diferente que a
gente jogue na atmosfera, como gases ou partículas –, inclusive, as
bem pequenininhas, que mal conseguimos ver.
A poluição até acontece naturalmente – por exemplo, a partir
de queimadas naturais ou quando um vulcão fica ativo –, mas o ser
humano é, hoje, o principal responsável por lançar poluentes na
atmosfera. E, além de ser ruim para nossa saúde, toda essa sujeira
transforma o clima e afeta toda a vida aqui na Terra.

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 53


Cuidado!
Na verdade, não conseguimos enxergar ou sentir o cheiro
da maior parte dos poluentes. Por isso, existem testes que
mostram se o ar está limpo ou não, e quais os efeitos disso.
“Certos poluentes causam mais irritação nos olhos. Outros
provocam problemas para respirar. Cada um afeta nosso
corpo de forma diferente, e depende do tanto que respiramos.
Quanto maior a quantidade, mais fácil será de apresentarmos
problemas de saúde”, explica Taciana.
Quando o ar não está muito bom, podemos fazer algumas
coisas para não respirar tanta poluição, como ficar mais
quietinhos dentro de casa e, até mesmo, usar máscaras na
rua. A professora destaca que, na hora de brincar ou passear,
o ideal é escolher ruas menos movimentadas, onde passam
menos carros, e evitar sair em horário de trânsito ruim. “O
trânsito parado é uma das piores situações. Dentro do carro,
o melhor é fechar os vidros e ligar o ar”, explica.
O mais importante é encontrarmos formas de poluir menos
o nosso ar. Para isso, podemos diminuir as atividades humanas
que dependem de combustíveis como o carvão e a gasolina.
E investir mais na energia que vem do vento ou do Sol, além
de diminuir o uso de carros. “Cada pessoa que fizer isso vai
contribuir. Mas a gente precisa de segurança, de ciclovias e de
bom transporte público”, completa Taciana Toledo.

54 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


BEM-ESTAR

HORA DE
PA R T I R

Precisamos saber lidar com as


perdas, pois uma de nossas
poucas certezas é a de que, um
dia, a vida chegará ao fim

Mariana Alencar

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 55


O que acontece com a gente quando o sangue para de
correr nas veias, e nossos órgãos deixam de funcionar? Para
onde vão aqueles que não estão mais aqui conosco? O que
acontece quando morremos?
Falar sobre a morte e lidar com suas consequências não
são tarefas fáceis. Até mesmo para profissionais que lidam
com ela todos os dias, como médicos, coveiros e cientistas,
trata-se de algo difícil de explicar. Isso porque, apesar de ser
um acontecimento certo em nossas vidas, a maioria de nós a
encara como algo beeeeem complicado.
Imagine uma tempestade feroz, porém necessária, que
chega sem avisar e interrompe, em um dia lindo, a brincadeira
no parque. Você fica triste, com raiva, e se frustra. Afinal, terá
de voltar para casa correndo, e com a sensação de que aquilo
tudo nunca vai passar. Perder alguém que a gente ama é quase
igual essa chuva forte, que, muitas vezes, surge sem anúncio.

Turbilhão de emoções
Quando perdemos alguém querido, entramos em uma
fase de luto, a experiência de quem fica. A própria mistura
de sentimentos – tristeza, raiva, saudades etc. – é comum (e
muito importante!) neste período. Todos nós, em um momento
ou outro, teremos de lidar com a morte, mas, quando temos
o cuidado das pessoas que amamos, passamos a lidar
melhor com o sofrimento e o medo. Daí o luto, a forma como
simbolizamos a morte e dá sentido ao fim da nossa presença
física na Terra.

56 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


O processo do luto é dividido em etapas: há momentos de negação e de aceitação.
Mas elas não acontecem uma depois da outra. Tudo se mistura e, muitas vezes, não
sabemos exatamente em que fase estamos. Na negação, sentimos uma tristeza imensa
e somos incapazes de lidar com a morte. Na aceitação, vem a saudade. É quando
o luto passa a fazer sentido. E a tempestade começa a passar, para que os raios
de sol voltem a aparecer no céu. Em ambas as fases, é importante falar de nossos
sentimentos, chorar, buscar o colo das pessoas que amamos.

Sentir é importante
Quando perdemos alguém, precisamos entender que não estamos sozinhos.
Outras pessoas permanecem, e são elas que nos ajudarão a passar por momento
tão difícil. Para aliviar a dor da partida, que tal fazer um desenho bem bonito, criar
uma história, uma música ou um vídeo para a pessoa que se foi? Tudo isso pode nos
ajudar a manter viva a memória de quem morreu.
Algumas vezes, o luto pode fazer com que a gente fique doente. Por isso,
é importante falarmos sempre, para as pessoas de nosso convívio, sobre como
estamos nos sentindo. Ficar o tempo todo sozinho, sentir medo de falar dos nossos
sentimentos, não ter mais vontade de brincar são sinais de que precisamos de ajuda.
Assim como a tempestade nas tardes de verão, a morte é algo natural e que,
simplesmente, acontece. Aprendemos que ela marca o fim da presença física na Terra,
mas devemos nos lembrar, também, que ela faz parte da vida. Fomos ensinados a temê-
la, é verdade... E há quem passe toda a vida tentando evitá-la. Mas, se encararmos
tudo como algo absolutamente ruim, nos esqueceremos de que, para morrermos, é
preciso ter muita... vida!

Esta reportagem contou com a colaboração de Aisllan Assis, professor de Saúde


Coletiva da Escola de Medicina da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop).

MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020 57


UMA
Nesta semana, como vocês já sabem,
vamos começar de um jeito diferente.
A cada dia, no início da aula, alguém
vai apresentar uma mulher cientista.

SENHORA Vamos começar pela Bia.

FÍSICA
Roteiro:
Alessandra
Ribeiro

Escolhi falar sobre uma mulher pioneira no


ensino da Física aqui em Minas: minha xará,
a Beatriz Alvarenga. Em 1946, ela foi a única
mulher a se formar em Engenharia Civil,
pela Universidade de Minas Gerais, que
depois passou a se chamar UFMG. Naquela
época, ainda não existia curso superior
de Física no Brasil.

Ainda nos anos 1940,


ela foi a primeira
professora de Física Ótima escolha, Bia! A Beatriz Alvarenga
do Colégio Estadual é uma das autoras do livro didático Física:
Central de Beagá. contexto e aplicações, lançado na década
Até então, mulheres de 1970, em parceria com o professor Antônio
só davam aulas de Máximo. É uma referência para várias gerações.
trabalhos manuais, Eu estudei com ele, que já vendeu mais de
ginástica e culinária. um milhão de exemplares.

Hoje, Beatriz Alvarenga está com 97 anos.


Em 2020, um espaço temático sobre eficiência
energética, no Museu de Artes e Ofícios, na
Praça da Estação, em Belo Horizonte,
recebeu o nome da cientista.

*As imagens em preto e branco são da exposição “Beatriz Alvarenga:


ensinando física às gerações”, disponíveis no site do projeto
“Memória” do Departamento de Física da UFMG.

58 MINAS FAZ CIÊNCIA • ESPECIAL 2020


PARA USO DOS CORREIOS
MUDOU-SE
DESCONHECIDO
RECUSADO
FALECIDO
AUSENTE
NÃO PROCURADO
END. INSUFICIENTE
CEP
NÃO EXISTE Nº INDICADO
INFORMAÇÃO ESCRITA PELO
PORTEIRO OU SÍNDICO

REINTEGRADO AO SERVIÇO
POSTAL EM ___/___/___
___/___/___ _______________
RESPONSÁVEL

Avenida José Cândido da Silveira, 1500


Bairro Horto
Belo Horizonte (MG)
CEP: 31 035-536
Contatos: revista@fapemig.br
Site: minasfazciencia.com.br
www.facebook.com/minasfazciencia
www.twitter.com/minasfazciencia/
www.instagram.com/minasfazciencia/

60 MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2020


Confira esta incrível coleção de
“vales-tempo”, para usar quando quiser!
Que tal recortar e guardar tudo, para, no momento que
bem entender, fazer um convite a quem você ama?

VALE-TEMPO
VALE-TEMPO VALE-TEMPO

HORA VAMOS
DO
HORA DE
DESLIGAR O
CELULAR E VER
BRINCAR?
O PÔR DO SOL!
GAME !
VALE-TEMPO
HORA DE
IR PASSEAR
VALE-TEMPO NA PRAÇA!
QUE TAL
LERMOS UM
LIVRO JUNTOS?
VALE-TEMPO

Quero
QUE TAL CONVERSAR

abraço ou
UM POUQUINHO?
VALE-TEMPO

VALE-TEMPO
A GENTE PRECISA DE
ESCUTAR MÚSICA! cafuné

VALE-TEMPO
HORA DE FALAR
COM OS AMIGOS!

Você também pode gostar