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Disciplina 1: Princípios e Filosofia dos Cuidados Paliativos

Unidade 2: Indicações de Cuidados Paliativos

Desenvolvimento dos cuidados paliativos no Brasil

Sempre houve, nos hospitais públicos, a preocupação do que fazer com os pacientes
crônicos e incuráveis. Muitos hospitais, como o Hospital das Clínicas da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), incorporavam hospitais de
retaguarda. Para o HC-FMUSP havia o Hospital de Cotoxó, que dava retaguarda para a
pediatria, cardiologia e oncologia em pacientes com estadia por tempo mais prolongado; e
o Hospital de Suzano, para retaguarda de pacientes com permanência por tempo
indeterminado. No entanto, afora uma estrutura hospitalar mais rudimentar, não havia
nenhuma preocupação com cuidados ativos no sentido de verdadeiros cuidados
paliativos.

Na última década do Século XX espalharam-se pelo Brasil centros de tratamento da dor,


incluindo a associada ao câncer. Não foi difícil para esses serviços perceber que o
controle da dor, nos casos de neoplasia, era apenas uma parte do processo, e por isso,
alguns deles passaram a ampliar a assistência num modelo tendendo ao que poderíamos
chamar de cuidados paliativos.

Diante desse panorama, foi fundada em São Paulo, em 1997, a Associação Brasileira de
Cuidados Paliativos que visa proporcionar a vinculação científica e profissional entre a
equipe de saúde que estuda e pratica as disciplinas ligadas aos cuidados nas
enfermidades crônico-evolutivas, em fase avançada e na terminalidade; aperfeiçoar a
qualidade de atenção aos enfermos; fomentar as pesquisas no campo dos cuidados
paliativos por meio de congressos, seminários, conferências, visando elevar o nível
técnico científico de todos os profissionais de saúde; desenvolver, assessorar e prestar
assistência técnica sobre conteúdo, programas curriculares e acadêmicos de educação
na área de saúde; estudar e discutir problemas éticos e suas implicações na prática dos
cuidados paliativos; e promover o bem-estar da comunidade, preservando a melhoria da
qualidade de vida dos enfermos, nos diversos níveis de saúde.

Com os estatutos embasados na Associação Europeia de Cuidados Paliativos, os

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Estatutos da Associação Brasileira foram adaptados à nossa realidade e iniciou-se o
caminho para o que é a essência da medicina e a qualidade do atendimento contínuo.

A OMS definiu, em 1990, os cuidados paliativos como: “os cuidados totais e ativos ao
paciente, cuja doença não responde mais aos tratamentos curativos e, quando o controle
da dor e outros sintomas psicológicos, sociais e espirituais, tornam-se prioridade”.
Atualmente, muitos conceitos complementares aparecem, sempre abrangendo a
assistência e sublinhando em 2000, a importância de serem exercidos com um enfoque
multidisciplinar, de forma contínua e com intervenções cada vez mais precoces, focando
na prevenção.

A ABCP- Associação Brasileira de Cuidados Paliativos organizou inúmeros Seminários


Nacionais e Internacionais, trazendo ao Brasil nesses 11 anos, os mais respeitados
profissionais da América Latina, Europa, Estados Unidos e Canadá. Em cada evento,
procurou-se alcançar o máximo de qualidade científica, promovendo a divulgação da
filosofia e implantação dos serviços nos diversos países, apontando as diferenças
culturais, sociais, econômicas e espirituais.

A Associação Brasileira de Cuidados Paliativos promoveu o Fórum Nacional para


discussão e apresentação dos serviços de todo o Brasil e vem promovendo ações em
busca do aprimoramento e da formação de profissionais nessa área.

A ABCP foi se desenvolvendo, constituiu um Conselho Científico Nacional e Internacional


e organizou 3 Seminários Internacionais em parceria com o Hospital Israelita Albert
Einstein, em São Paulo, e o I Fórum Nacional de Cuidados Paliativos, no Instituto
Brasileiro de Controle de Câncer, com o apoio do Instituto Nacional de Câncer, da
Sociedade Brasileira de Cancerologia, do Centro Universitário São Camilo, do Hospital
Sírio Libanês, da Sociedade Brasileira de Estudos da Dor, da Sociedade Brasileira de
Psico-Oncologia, do Programa Nacional de Cuidados Paliativos em DST/AIDS do
Ministério da Saúde, da Fundação SOADE, Fundação Oncocentro de São Paulo e o apoio
intensivo do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center e Beth Israel Medical Center, em
Nova York, nos Estados Unidos.

A ABCP organizou seminários contando com a presença de profissionais representantes

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do Canadá: Prof Dr. Neil Mac Donald, da Universidade Mac Gill, autor do Oxford Textbook
for Palliative Medicine, Prof. Dr. Harvey Chochinov, Manitoba University e Canadian
Association for Palliative Medicine, Dr. Barbara Sourkes; Hospital de Montreal; da Europa:
Prof. Dr. Marie Fallon; Glasgow University, Guillermo Vanegas, Istituto dei Tumori e
Associação Européia de Cuidados Paliativos, e dos Estados Unidos: Dr. Richard Payne,
Dr. William Breitbart e Dr. David Payne, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e Dr.
Myra Glajchen, do Beth Israel Medical Center e também Dr. Gustavo de Simone, da
Argentina. Em cada evento, procurou-se alcançar o máximo de qualidade científica,
promovendo a divulgação da filosofia e implantação dos serviços nos diversos países,
apontando as diferenças culturais, sociais, econômicas e espirituais.

Atualmente no Brasil, após levantamento realizado pela Associação Brasileira de


Cuidados Paliativos existem 63 (sessenta e três) serviços no país, com características
próprias e peculiares e que nasceram em sua maioria de serviços de dor dentro dos
hospitais. Tais serviços são os que responderam o contato com esta Associação. O
objetivo principal dessa iniciativa é criar as diretrizes nessa área e modelos que sejam
adequados à realidade de nosso país.

O Brasil é um país imenso, com peculiaridades sócio-culturais e econômicas que devem


ser respeitadas, para que esses serviços, localizados nos diversos estados, possam ser
efetivos em sua abordagem e contribuir para uma melhoria do atendimento.

A Associação Brasileira de Cuidados Paliativos tem o objetivo de agregar cada vez mais
esses serviços e de ultrapassar os obstáculos existentes na formação dos profissionais,
promoção de informações, política de saúde, em busca do exercício da essência da
medicina. Cuidar e não apenas curar, buscar o alívio dos sintomas e o controle da dor;
viver e acompanhar esse processo do adoecimento com respeito e dignidade, prevenindo
o sofrimento desnecessário.

A ABCP incentivou Fóruns de Discussão, realizou eventos e cursos por todo o Brasil e em
vários Hospitais durante todos esses anos, sempre em parceria e gratuitamente. Realiza
o dia mundial de cuidados paliativos há 5 anos e tem um música composta pelo músico
Nico Rezende dedicada a esse dia, com o objetivo de disseminar, para uma maior
quantidade de profissionais, informações de qualidade.

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Atualmente a ABCP já tem publicado os Consensos e Constipação induzida por Opioides,
de Fadiga, e em publicação os de Caquexia e Náuseas e Vômitos, além da Revista
Brasileira de Cuidados Paliativos.

A ABCP participou de inúmeros eventos de Sociedades pares, sempre divulgando e


abrindo espaço no campo dos cuidados paliativos. Formou um grupo coeso de
profissionais engajados em todo o Brasil, que procuram trabalhar em conjunto, visando
uma melhor qualidade de vida para o paciente e familiares, por meio da sensibilização e
da formação de profissionais.

Em função de discordâncias ideológicas em relação à formação e transformação dos


cuidados paliativos em especialidade, em 26 de fevereiro 2005 um grupo dissidente de
profissionais fundou, na cidade de São Paulo, SP, a Academia Nacional de Cuidados
Paliativos (ANCP). Esse grupo dissidente fomentou suas idéias entre pessoas atuantes
na área e levou sua proposta ao Congresso Internacional de Cuidados Paliativos & Dor
realizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) em outubro de 2004. A grande maioria
dos participantes pertencia a grupos de assistência e/ou ensino dos Cuidados Paliativos
de diversos Estados brasileiros. No evento, um grupo de profissionais discutiu a
possibilidade e fez a proposta de criação da ANCP, que nos dizeres deles, se justificava
por “sentimos a necessidade de organizar uma entidade que nos represente e que lute
pelo reconhecimento de uma especialidade na área médica e por sua viabilidade junto ao
Sistema Único de Saúde. É necessário ainda que esta alternativa de tratamento seja
conhecida em todo o Brasil e que todos possam ter acesso aos Cuidados Paliativos”.

Uma das bandeiras mais importantes da ANCP é o reconhecimento pela Associação


Médica Brasileira (AMB) da Medicina Paliativa como especialidade no Brasil, a ANCP foi
fundada e será dirigida por médicos, “é uma justa exigência da AMB”. No dia em que
pudermos emitir títulos de especialistas, a AMB só poderá fazê-lo para os médicos. Seria
inadequado regular a prática de qualquer outro profissional.

Segundo o estatuto da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, os objetivos da ANCP


são:

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I - Congregar e coordenar profissionais da área de saúde e outros interessados na
pesquisa, no estudo e na implementação dos Cuidados Paliativos.
II - Estimular e apoiar o desenvolvimento e a divulgação científica na área dos Cuidados
Paliativos, promovendo o aprimoramento e a capacitação permanente dos seus
associados.
III - Estimular iniciativas e obras sociais de amparo ao paciente portador de doença
incurável e em fase final de vida e cooperar com outras organizações interessadas em
atividades educacionais, assistenciais e de pesquisa relacionadas com os Cuidados
Paliativos.
IV - Auxiliar os profissionais da área de saúde interessados em estabelecer unidades para
estudo, pesquisa e tratamento dos principais sintomas e problemas relacionados aos
cuidados paliativos.
V - Manter intercâmbio com associações congêneres nacionais e internacionais
envolvidas no estudo, pesquisa e terapêutica dos Cuidados Paliativos, em âmbito
nacional ou internacional.
VI - Organizar eventos científicos.
VII - Estimular a criação e o desenvolvimento de regionais da Academia Nacional de
Cuidados Paliativos.
VIII - Manter um cadastro atualizado das instituições públicas ou privadas que realizam
trabalho na área de Cuidados Paliativos, facilitando o intercâmbio entre as mesmas.
IX - Zelar pelo nível ético, eficiência técnica e sentido social no exercício profissional dos
Cuidados Paliativos.

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