O documento descreve a história da Crimeia e suas relações com a Rússia e Ucrânia. A Crimeia foi transferida da Rússia para a Ucrânia em 1954, mas a maioria da população é de origem russa. Após a revolução ucraniana de 2014, a Rússia anexou a Crimeia depois de um referendo, alegando proteger os interesses da população de origem russa. Isso levou a tensões entre os dois países.
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O documento descreve a história da Crimeia e suas relações com a Rússia e Ucrânia. A Crimeia foi transferida da Rússia para a Ucrânia em 1954, mas a maioria da população é de origem russa. Após a revolução ucraniana de 2014, a Rússia anexou a Crimeia depois de um referendo, alegando proteger os interesses da população de origem russa. Isso levou a tensões entre os dois países.
O documento descreve a história da Crimeia e suas relações com a Rússia e Ucrânia. A Crimeia foi transferida da Rússia para a Ucrânia em 1954, mas a maioria da população é de origem russa. Após a revolução ucraniana de 2014, a Rússia anexou a Crimeia depois de um referendo, alegando proteger os interesses da população de origem russa. Isso levou a tensões entre os dois países.
A Ucrânia está localizada na Europa Oriental, sendo o segundo maior país do continente, depois da Rússia. Tem as suas fronteiras terrestres com a Bielorrússia a norte (1.111 Km), com a Rússia a leste (1.944 Km), com a Moldávia e a Roménia a sul (1.202 e 601 Km), com a Hungria a sudoeste (128 Km), e com a Eslováquia e a Polónia a oeste (97 e 535 Km), sendo banhada, a sul, pelos mares Negro e de Azov.1 O seu território tem uma área de 579.330 Km , pelo que é o maior país totalmente no continente europeu. Está administrativamente dividido em 24 províncias e uma república autónoma, que entretanto proclamou a sua secessão (a Crimeia). A sua capital e maior cidade com um estatuto especial é Kiev, com cerca de 2 900 000 habitantes. A sua população é de cerca de 44,4 milhões de habitantes (Julho 2015), 77,8% dos quais são ucranianos étnicos (embora cerca de 20% destes sejam de origem polaca, habitando sobretudo nas suas províncias junto à fronteira com a Polónia), com minorias de russos (17,3%), bielorrussos, moldavos e romenos. A língua oficial é o ucraniano (67,5%), sendo também falada a língua russa (29,6%). A religião dominante é o cristianismo ortodoxo oriental. A Ucrânia é uma república com um sistema semipresidencial havendo separação dos poderes legislativo, executivo e judicial. A Crimeia era uma república autónoma da Ucrânia, localizada numa península no Mar Negro9 . A região passou a pertencer à Rússia, desde a época de Catarina a Grande (séc. XVIII), quando os russos a conquistaram ao Império Otomano10. Foi cedida à Ucrânia em 1954 pelo então líder soviético Nikita Khrushchev, que era de origem ucraniana. Tal como no leste da Ucrânia, a maioria da população na região é de origem russa. Para muitos russos, a Crimeia e a sua “Cidade Heróica” de Sebastopol, da era soviética, sitiada pelos invasores nazis, tem um significado emocional muito forte, por já ter sido parte do país e ainda por a maioria da sua população ser de origem russa. 11 Ressalvese, no entanto, que dez anos antes, Estaline tinha deportado toda a população tártara da Crimeia, cerca de 300 mil pessoas, sob a acusação de terem colaborado com os invasores alemães. A península fica numa área estratégica do Mar Negro, muito próxima do sudoeste da Rússia. A maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia, com o seu comando e base naval na cidade de Sebastopol. 12 Em termos étnicos a sua população compreende 58,3% de origem russa, havendo também 24% de ucranianos e 13% de tártaros. Com o colapso da União Soviética, a Crimeia permaneceu na recém-independente Ucrânia, uma situação ressentida por parte da população maioritariamente russa e causadora de tensões entre a Rússia e a Ucrânia. Com a derrota eleitoral das principais forças políticas radicais nacionalistas da Ucrânia essa tensão foi diminuindo. A Crimeia proclamou sua autonomia em 5 de Maio de 1992, mas concordou mais tarde em permanecer parte integrante da Ucrânia como uma república autónoma. O principal valor estratégico da Crimeia é a sua posição geográfica que lhe confere uma grande relevância para a Rússia, tanto no campo comercial como no militar, pois facilita a movimentação de cargas para exportação e importação e garante o controlo do canal que liga o Mar Negro ao Mar de Azov. Num acordo firmado em 2010, a Rússia pôde manter a sua base naval em Sebastopol, onde a maior parte da população tem passaporte russo. A permanência prevista das forças russas era até ao ano de 2042. No âmbito desse acordo, o governo russo cedeu à Ucrânia 40 biliões de dólares em gás natural. Com a substituição na Ucrânia do presidente pró-russo, a proibição de utilização do russo como idioma e a inclusão no governo ucraniano de elementos neofascistas, a situação imediatamente se agudizou na Crimeia. O parlamento local foi dominado por um grupo pró-Rússia. A nova administração local, considerada ilegal pelo governo central da Ucrânia, determinou que a 30 de março de 2014 se realizasse um referendo em relação à autonomia da região. Com a intensificação das tensões separatistas, o parlamento russo aprovou, a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio de tropas para a Crimeia a fim de “normalizar” a situação. A escalada militar fez com que diversos oficiais do exército ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo e outros abandonassem os seus postos. No dia 4 de março, o novo governo da Crimeia anunciou que tinha assumido o controlo da península e deu um ultimato para que os últimos oficiais leais à Ucrânia se rendessem. 13 O novo governo ucraniano criticou esse movimento separatista e classificou a aprovação da intervenção militar russa como uma declaração de guerra. Não se pode analisar o conflito na Ucrânia sem tomar em atenção os interesses divergentes entre os vários atores que aí intervieram e que, numa listagem que poderá pecar por incompleta, serão os seguintes: a própria Ucrânia e a Rússia, e, no seu conjunto, os EUA, a UE (leia-se: a Alemanha) e a OTAN. Esta análise, neste momento, poderá pecar facilmente por ser incompleta e poderá mesmo vir a revelar-se como inadequada, pois os motivos, as hipóteses e os verdadeiros objetivos dos seus protagonistas ainda estão, em parte, por esclarecer; e o papel concreto dos países e entidades internacionais que se envolveram e as suas manobras nos bastidores da crise ucraniana ainda não são evidentes. Além disso, os acontecimentos continuam a evoluir, dependendo de imensas incógnitas, e os efeitos da crise são ainda difíceis de avaliar em todas as suas implicações. A questão ucraniana esteve sempre implicitamente presente em todos os momentos críticos das relações entre a Rússia e o Ocidente, a partir da queda do muro de Berlim, e era previsível que seria nessa região que o confronto acabaria por se materializar. Rússia x Ucrânia: O CONFRONTO
Em democracia, a vontade soberana dos povos exerce-se em
eleições livres e democráticas. Na Ucrânia, existiam um Presidente e um Parlamento eleitos nesses termos. Não se nega que o Presidente ucraniano foi contestado em vários momentos, mas tal é normal e acontece em vários países. No entanto, em Kiev, os manifestantes não foram peticionar eleições antecipadas, foram sim para derrubar o Governo e através de “democracia direta” escolher os ministros em plena praça Maidan, o que nunca seria aceite em qualquer estado de direito. Para esse efeito, os milhares de manifestantes usaram as mais diversas armas “democráticas” – cocktails- molotov, barras de ferro, sabres e armas de fogo de precisão – e entraram em confronto armado com as forças da ordem que os impediam de derrubar “democraticamente” o presidente pela força. Estes combatentes de armas na mão teriam sido apelidados de terroristas em qualquer país democrático, mas os mandatários das principais potências do ocidente logo se mobilizaram para dar todo o seu apoio a essas ações. O novo governo que resultou do derrube do presidente legítimo e que incluía os sinistros elementos neofascistas (sobretudo em posições que permitiram o controlo do Ministério do Interior) rapidamente demonstrou o seu cariz e uma das suas primeiras decisões foi precisamente a de proibir a utilização da língua russa, apesar de na Crimeia e no Leste da Ucrânia a maioria da população falar esse idioma. O presidente eleito só por uma parte da população (o oligarca Petro Poroshenko), em vez de tentar o diálogo com as forças separatistas, enviou o exército com paraquedistas, artilharia, helicópteros de ataque e bombardeiros para combater os insurretos e tentar controlar a situação pela força. O novo primeiro-ministro (“nomeado” por Victoria Nuland, Subsecretário de Estado dos EUA para os assuntos europeus e euro-asiáticos) 17 chefia um governo que é tudo menos um governo de unidade nacional, como estava previsto nos acordos de 21 de Fevereiro de 2014 e que se destinavam a tranquilizar a população de língua russa das regiões orientais e meridionais. Dos 19 ministros do novo governo, apenas dois vêm do leste e nenhum do sul. Além da questão do idioma, introduziu uma resolução para ilegalizar o Partido Comunista, que teve 13% dos votos em 2012 e que é, de facto, o único partido remanescente na oposição após a dissolução do Partido das Regiões. Entretanto e na repressão aos movimentos divisionistas no leste e no sul as milícias neofascistas logo fizeram ver aos dissidentes do novo regime o que os esperava – em Odessa, 43 manifestantes pró-russos foram queimados vivos – e desse modo conseguiram radicalizar ainda mais as posições. A formação, por essas milícias, de unidades militares com a simbologia nazi, também em nada contribuiu para o acalmar das tensões. Para Putin, o momento de agir contra a Ucrânia e o Ocidente aconteceu quando o Parlamento da Ucrânia destituiu ilegalmente Yanukovych e o forçou a fugir para a Rússia. Pouco depois de 22 de fevereiro, ordenou que as forças russas tomassem a Crimeia e logo após, incorporou- a na Rússia. Essa ação foi relativamente fácil, por força dos milhares de militares russos já estacionados na base naval do porto de Sebastopol. A conquista da Crimeia também foi fácil, pois os habitantes de etnia russa são cerca de 60% da sua população e a sua maioria queria separar-se da Ucrânia. Em seguida, Putin aplicou uma enorme pressão sobre o novo governo em Kiev para o desencorajar de se aliar com o Ocidente contra Moscovo, deixando claro que iria destruir a Ucrânia como um estado capaz de subsistir, antes de permitir que ele se tornasse numa fortaleza ocidental às portas da Rússia. Para esse fim, concentrou um grande exército na fronteira com a Ucrânia e providenciou conselheiros, armas e apoio diplomático aos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, que conduziram o país para uma guerra civil; aumentou acentuadamente o preço do gás natural que a Rússia vende à Ucrânia e exigiu o pagamento imediato das anteriores exportações. Para a Rússia o controlo da Bielorrússia e da Ucrânia é fundamental para a sua segurança nacional. Se ficassem sob a alçada dos seus adversários – por exemplo, aderindo à OTAN – esse facto representaria para a Rússia um perigo de morte. Moscovo fica apenas a pouco mais de trezentos quilómetros da fronteira com a Bielorrússia e a Ucrânia está a menos de 300 km de Volgogrado, a antiga Estalinegrado. Contra Napoleão e Hitler a Rússia utilizou uma defesa em profundidade. Sem a Bielorrússia e a Ucrânia, não existe essa profundidade, não sendo possível ceder terreno em troca de tempo, desgastando o inimigo. Para o Ocidente é obviamente impensável que a OTAN represente uma ameaça para a Rússia, mas os russos sabem, por experiência própria, a rapidez com que o absurdo se transforma em realidade. Além disso a Rússia está também consciente que os Estados Unidos e a OTAN têm tentado sistematicamente expandir a sua área de influência, promovendo a adesão à OTAN dos países da Europa Oriental e dos Estados bálticos. Quando os Estados Unidos começaram a tentar recrutar a Ucrânia para a OTAN, os russos imediatamente assinalaram que isso constituiria uma ameaça aos interesses russos e quando a Revolução Laranja parecia prestes a levar a Ucrânia para a NATO, a Rússia acusou os Estados Unidos de a tentar cercar e destruir, pois no seu entender a inclusão da Ucrânia na OTAN seria inquestionavelmente uma ameaça devastadora para a sua segurança nacional. Nessa altura a Rússia não mobilizou o seu exército. Em vez disso, empenhou os seus serviços de informações, cujas encobertas maquinações na Ucrânia produziram excelentes resultados – os russos debilitaram a Revolução Laranja, apostando numa divisão entre o leste pró-russo da Ucrânia e a Ucrânia ocidental pró-europeia, o que provou não ser difícil e rapidamente a política ucraniana ficou paralisada. A Rússia está plenamente convencida que a revolta em Kiev foi fomentada por organizações não- governamentais financiadas pelos EUA e que, sem isso, as manifestações teriam esmorecido e o governo teria sobrevivido. Já quando foi da Revolução Laranja afirmaram que esta tinha as mesmas origens. Embora o Ocidente negue, a realidade é que os russos acreditam mesmo nisso. E tal significa que também acreditam que o Ocidente tem a vontade e a capacidade de desestabilizar outros países na esfera de influência da Rússia, senão mesmo a própria Rússia. Nesta altura, quando os russos olham para um mapa da Europa, são confrontados com o seguinte: Os Estados Bálticos estão na OTAN e a Ucrânia alinhou com o Ocidente. O governo pró-russo da Bielorrússia poderá estar em risco, e no caso de alterar a sua lealdade, os potenciais inimigos da Rússia terão penetrado quase tão profundamente em direção ao núcleo da Rússia quanto o fizeram as tropas nazis. Para os russos, a Grande Guerra Patriótica (2ª Guerra Mundial), que causou mais de 20 milhões de mortos á URSS, é uma memória que está bem viva, bem como a traição de Hitler. Ora os russos não são um povo que confie muito nos outros povos e não têm razões para o fazer: Nada no seu passado lhes permite a ingenuidade de acreditar nas boas intenções, seja de quem for. Os recentes acontecimentos também deixaram aparentemente claro que os russos não vão invadir diretamente a Ucrânia. Não se consegue ocupar um país de quase 50 milhões de habitantes com os 50.000 militares que a Rússia mobilizou. Entre o rio Dniepre, que divide o país, e a fronteira russa, vivem cerca de 15 milhões de pessoas – um terço da população da Ucrânia. Uma esmagadora maioria dessas pessoas quer, seguramente, continuar a fazer parte da Ucrânia e por certo iria resistir a uma ocupação russa. Além disso, Moscovo também não está em condições de suportar uma custosa ocupação, pois a sua fraca economia sofreria ainda mais por força das consequentes e inevitáveis sanções. A Ucrânia tem uma importância estratégica fundamental para a Rússia. Mesmo que os separatistas do leste conquistem algum grau de autonomia, a Rússia continuará sempre profundamente apreensiva com a relação entre o resto da Ucrânia e o Ocidente. Embora para os ocidentais seja difícil de interiorizar, a história da Rússia engloba vários estados tampão que salvaram a Rússia de invasores ocidentais. Portanto, a Rússia deseja um acordo em que, no mínimo, a Ucrânia permaneça neutral. Quando a Guerra Fria chegou ao fim, os líderes soviéticos e os seus sucessores russos, embora aceitassem a permanência das forças americanas na Europa e que a OTAN ficasse intacta e ativa, não desejavam que esta se alargasse ainda mais e convenceramse que os diplomatas ocidentais entendiam as suas preocupações. Mas a administração Clinton pensava de forma contrária e, em meados dos anos 90, começou a pressionar para a OTAN se expandir. A primeira fase do alargamento ocorreu em 1999 e abrangeu a Hungria, a Polónia e a República Checa. A segunda teve lugar em 2004 e incluiu a Bulgária, a Eslováquia, a Eslovénia, a Estónia, a Letónia, a Lituânia e a Roménia. Desde o início que Moscovo protestou abertamente, mas, nessa altura, os russos não tinham poder suficiente para conseguir suster o movimento para leste da OTAN – o qual, de qualquer modo, não era muito ameaçador, já que nenhum dos novos membros tinha fronteira com a Rússia, com exceção dos pequenos países bálticos. Em seguida, a OTAN começou a dirigir a sua atenção ainda mais para leste. Na cimeira de Bucareste em Abril de 2008, a aliança considerou poder vir a admitir a Geórgia e a Ucrânia e a administração de George W. Bush apoiou essa ideia, mas a França e a Alemanha opuseram-se com receio que esse facto fosse antagonizar demasiado a Rússia. No final da cimeira, os membros da OTAN chegaram a um compromisso e a aliança não iniciou o processo formal que levaria à entrada desses países na organização, mas emitiu uma declaração apoiando as aspirações da Geórgia e da Ucrânia. Contudo, Moscovo não entendeu esse facto como um grande compromisso e Putin afirmou que a admissão desses dois países na OTAN constituiria uma “ameaça direta” para a Rússia, tendo um jornal russo noticiado que Putin, ao falar com Bush, “deu a entender de uma forma muito clara que se a Ucrânia fosse aceite na OTAN, deixaria de existir”. A invasão da Geórgia pela Rússia, em agosto de 2008, deveria ter dissipado quaisquer dúvidas remanescentes quanto à determinação de Putin em evitar que a Geórgia e a Ucrânia ingressassem na OTAN. No entanto e apesar deste claro aviso, a OTAN nunca abandonou publicamente o seu objetivo de incluir a Geórgia e a Ucrânia na aliança. E entretanto, a expansão da OTAN continuou a progredir, tendo a Albânia e a Croácia entrado como membros em 2009. Também a UE tentou progredir para leste. Em maio de 2008, foi dada a conhecer publicamente a sua iniciativa de Parceria Oriental – um programa destinado a promover a prosperidade em países como a Ucrânia e a integrá-los na economia da UE. Tal como seria de esperar, os líderes russos consideraram esse plano como hostil aos interesses do seu país. Em fevereiro de 2014, o Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, acusou a UE de tentar criar uma “esfera de influência” na Europa Oriental – para os dirigentes russos, a expansão da União Europeia é o “Cavalo de Tróia” da expansão da OTAN. Os Estados Unidos e os seus aliados europeus tiveram na realidade a maior quota parte da responsabilidade pela crise na Ucrânia. E a principal raiz desse facto foi o alargamento da OTAN e a consequente estratégia de tentar retirar a Ucrânia da órbita da Rússia e integrá-la no Ocidente. Os líderes russos foram sempre inflexíveis na sua posição contra o alargamento da NATO e deixaram sempre bem claro que não deixariam de reagir se o país seu vizinho e estrategicamente fundamental se transformasse num bastião ocidental. Simultaneamente, a expansão da UE para leste e o seu apoio aos movimentos próocidentais na Ucrânia – que começaram com a Revolução Laranja em 2004 – foram também uma sucessão de factos relevantes no antagonizar dos interesses russos. Para Putin, o derrube ilegal do democraticamente eleito e presidente pró-russo da Ucrânia – acção que ele corretamente rotulou de “golpe de estado” – foi a gota d'água. Em resposta e mesmo contrariando a sua própria opinião expressa pouco antes, tomou a Crimeia, pois considerou intolerável a sequência dos acontecimentos e, no fundo, temia que o novo governo concedesse à OTAN a possibilidade de aí estabelecer uma base naval. Por outro lado, é curioso verificar que as potências ocidentais que tanto se empenharam para que o Kosovo, parte integrante da Sérvia, pudesse ser independente, só porque a maioria da sua população era albanesa, agora em relação à Crimeia opõem-se vigorosamente a essa independência. Ora, na Crimeia a maioria é russa e o referendo entretanto realizado confirma esse facto. As potências como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e sobretudo os EUA afirmam que os seus interesses coincidem com os do novo poder em Kiev e que estão totalmente solidárias com ele. Ou seja: a real política do ocidente é que a legitimidade de um regime não advém de este resultar de eleições livres e democráticas, mas sim e apenas do facto de esse regime estar de acordo com os seus interesses. O apoio de Washington e de outras capitais ocidentais permitiu estabilizar para já a cena política em Kiev, mas essa estabilidade é conjuntural e deixou de lado alguns setores importantes da sociedade ucraniana. Embora esteja salvaguardada a “opção europeia”, as aspirações que levaram os ucranianos à praça Maidan continuam ainda sem resposta. Há no entanto que reconhecer que a Rússia tem também interesses no que ao futuro da Ucrânia diz respeito. Esses resultam da ligação que sempre existiu entre a Rússia e a Ucrânia, mesmo antes da URSS, e são consequência de um conjunto de fatores que têm a ver com a própria composição nacional do povo ucraniano. Resultam ainda e sobretudo pela existência da esquadra russa do mar Negro e da longa fronteira ocidental com a Ucrânia, cujo território é para a Rússia uma planície de enorme extensão que serve como um tampão de grande importância estratégica para a sua defesa. Os Estados Unidos e os seus aliados europeus tiveram na realidade a maior quota parte da responsabilidade pela crise na Ucrânia. E a principal raiz desse facto foi o alargamento da OTAN e a consequente estratégia de tentar retirar a Ucrânia da órbita da Rússia e integrá-la no Ocidente. Os líderes russos foram sempre inflexíveis na sua posição contra o alargamento da NATO e deixaram sempre bem claro que não deixariam de reagir se o país seu vizinho e estrategicamente fundamental se transformasse num bastião ocidental. Simultaneamente, a expansão da UE para leste e o seu apoio aos movimentos próocidentais na Ucrânia – que começaram com a Revolução Laranja em 2004 – foram também uma sucessão de factos relevantes no antagonizar dos interesses russos. Para Putin, o derrube ilegal do democraticamente eleito e presidente pró-russo da Ucrânia – acção que ele corretamente rotulou de “golpe de estado” – foi a gota d'água. Em resposta e mesmo contrariando a sua própria opinião expressa pouco antes, tomou a Crimeia, pois considerou intolerável a sequência dos acontecimentos e, no fundo, temia que o novo governo concedesse à OTAN a possibilidade de aí estabelecer uma base naval. Por outro lado, é curioso verificar que as potências ocidentais que tanto se empenharam para que o Kosovo, parte integrante da Sérvia, pudesse ser independente, só porque a maioria da sua população era albanesa, agora em relação à Crimeia opõem-se vigorosamente a essa independência. Ora, na Crimeia a maioria é russa e o referendo entretanto realizado confirma esse facto. As potências como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e sobretudo os EUA afirmam que os seus interesses coincidem com os do novo poder em Kiev e que estão totalmente solidárias com ele. Ou seja: a real política do ocidente é que a legitimidade de um regime não advém de este resultar de eleições livres e democráticas, mas sim e apenas do facto de esse regime estar de acordo com os seus interesses. O apoio de Washington e de outras capitais ocidentais permitiu estabilizar para já a cena política em Kiev, mas essa estabilidade é conjuntural e deixou de lado alguns setores importantes da sociedade ucraniana. Embora esteja salvaguardada a “opção europeia”, as aspirações que levaram os ucranianos à praça Maidan continuam ainda sem resposta. Há no entanto que reconhecer que a Rússia tem também interesses no que ao futuro da Ucrânia diz respeito. Esses resultam da ligação que sempre existiu entre a Rússia e a Ucrânia, mesmo antes da URSS, e são consequência de um conjunto de fatores que têm a ver com a própria composição nacional do povo ucraniano. Resultam ainda e sobretudo pela existência da esquadra russa do mar Negro e da longa fronteira ocidental com a Ucrânia, cujo território é para a Rússia uma planície de enorme extensão que serve como um tampão de grande importância estratégica para a sua defesa.