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Rússia x Ucrânia:

O CONFRONTO

Entenda mais sobre guerra!


A Ucrânia está localizada na Europa Oriental, sendo o
segundo maior país do continente, depois da Rússia.
Tem as suas fronteiras terrestres com a Bielorrússia a
norte (1.111 Km), com a Rússia a leste (1.944 Km), com
a Moldávia e a Roménia a sul (1.202 e 601 Km), com a
Hungria a sudoeste (128 Km), e com a Eslováquia e a
Polónia a oeste (97 e 535 Km), sendo banhada, a sul,
pelos mares Negro e de Azov.1 O seu território tem
uma área de 579.330 Km , pelo que é o maior país
totalmente no continente europeu. Está
administrativamente dividido em 24 províncias e uma
república autónoma, que entretanto proclamou a sua
secessão (a Crimeia). A sua capital e maior cidade
com um estatuto especial é Kiev, com cerca de 2 900
000 habitantes. A sua população é de cerca de 44,4
milhões de habitantes (Julho 2015), 77,8% dos quais
são ucranianos étnicos (embora cerca de 20% destes
sejam de origem polaca, habitando sobretudo nas
suas províncias junto à fronteira com a Polónia), com
minorias de russos (17,3%), bielorrussos, moldavos e
romenos. A língua oficial é o ucraniano (67,5%), sendo
também falada a língua russa (29,6%). A religião
dominante é o cristianismo ortodoxo oriental. A
Ucrânia é uma república com um sistema
semipresidencial havendo separação dos poderes
legislativo, executivo e judicial.
A Crimeia era uma república autónoma da Ucrânia, localizada
numa península no Mar Negro9 . A região passou a pertencer à
Rússia, desde a época de Catarina a Grande (séc. XVIII), quando
os russos a conquistaram ao Império Otomano10. Foi cedida à
Ucrânia em 1954 pelo então líder soviético Nikita Khrushchev, que
era de origem ucraniana. Tal como no leste da Ucrânia, a maioria
da população na região é de origem russa. Para muitos russos, a
Crimeia e a sua “Cidade Heróica” de Sebastopol, da era soviética,
sitiada pelos invasores nazis, tem um significado emocional muito
forte, por já ter sido parte do país e ainda por a maioria da sua
população ser de origem russa. 11 Ressalvese, no entanto, que
dez anos antes, Estaline tinha deportado toda a população tártara
da Crimeia, cerca de 300 mil pessoas, sob a acusação de terem
colaborado com os invasores alemães. A península fica numa área
estratégica do Mar Negro, muito próxima do sudoeste da Rússia.
A maior parte da frota russa do Mar Negro está na Crimeia, com o
seu comando e base naval na cidade de Sebastopol. 12 Em
termos étnicos a sua população compreende 58,3% de origem
russa, havendo também 24% de ucranianos e 13% de tártaros.
Com o colapso da União Soviética, a Crimeia permaneceu na
recém-independente Ucrânia, uma situação ressentida por parte
da população maioritariamente russa e causadora de tensões
entre a Rússia e a Ucrânia. Com a derrota eleitoral das principais
forças políticas radicais nacionalistas da Ucrânia essa tensão foi
diminuindo. A Crimeia proclamou sua autonomia em 5 de Maio de
1992, mas concordou mais tarde em permanecer parte integrante
da Ucrânia como uma república autónoma. O principal valor
estratégico da Crimeia é a sua posição geográfica que lhe confere
uma grande relevância para a Rússia, tanto no campo comercial
como no militar, pois facilita a movimentação de cargas para
exportação e importação e garante o controlo do canal que liga o
Mar Negro ao Mar de Azov. Num acordo firmado em 2010, a
Rússia pôde manter a sua base naval em Sebastopol, onde a
maior parte da população tem passaporte russo. A permanência
prevista das forças russas era até ao ano de 2042. No âmbito
desse acordo, o governo russo cedeu à Ucrânia 40 biliões de
dólares em gás natural. Com a substituição na Ucrânia do
presidente pró-russo, a proibição de utilização do russo como
idioma e a inclusão no governo ucraniano de elementos
neofascistas, a situação imediatamente se agudizou na Crimeia. O
parlamento local foi dominado por um grupo pró-Rússia. A nova
administração local, considerada ilegal pelo governo central da
Ucrânia, determinou que a 30 de março de 2014 se realizasse um
referendo em relação à autonomia da região.
Com a intensificação das tensões separatistas, o parlamento
russo aprovou, a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio
de tropas para a Crimeia a fim de “normalizar” a situação. A
escalada militar fez com que diversos oficiais do exército
ucraniano se juntassem ao governo local pró-russo e outros
abandonassem os seus postos. No dia 4 de março, o novo
governo da Crimeia anunciou que tinha assumido o controlo
da península e deu um ultimato para que os últimos oficiais
leais à Ucrânia se rendessem. 13 O novo governo ucraniano
criticou esse movimento separatista e classificou a aprovação
da intervenção militar russa como uma declaração de guerra.
Não se pode analisar o conflito na Ucrânia sem tomar em
atenção os interesses divergentes entre os vários atores que
aí intervieram e que, numa listagem que poderá pecar por
incompleta, serão os seguintes: a própria Ucrânia e a Rússia,
e, no seu conjunto, os EUA, a UE (leia-se: a Alemanha) e a
OTAN. Esta análise, neste momento, poderá pecar facilmente
por ser incompleta e poderá mesmo vir a revelar-se como
inadequada, pois os motivos, as hipóteses e os verdadeiros
objetivos dos seus protagonistas ainda estão, em parte, por
esclarecer; e o papel concreto dos países e entidades
internacionais que se envolveram e as suas manobras nos
bastidores da crise ucraniana ainda não são evidentes. Além
disso, os acontecimentos continuam a evoluir, dependendo de
imensas incógnitas, e os efeitos da crise são ainda difíceis de
avaliar em todas as suas implicações.
A questão ucraniana esteve sempre implicitamente presente
em todos os momentos críticos das relações entre a Rússia e
o Ocidente, a partir da queda do muro de Berlim, e era
previsível que seria nessa região que o confronto acabaria por
se materializar.
Rússia x Ucrânia: O CONFRONTO

Em democracia, a vontade soberana dos povos exerce-se em


eleições livres e democráticas. Na Ucrânia, existiam um
Presidente e um Parlamento eleitos nesses termos. Não se
nega que o Presidente ucraniano foi contestado em vários
momentos, mas tal é normal e acontece em vários países. No
entanto, em Kiev, os manifestantes não foram peticionar
eleições antecipadas, foram sim para derrubar o Governo e
através de “democracia direta” escolher os ministros em plena
praça Maidan, o que nunca seria aceite em qualquer estado
de direito. Para esse efeito, os milhares de manifestantes
usaram as mais diversas armas “democráticas” – cocktails-
molotov, barras de ferro, sabres e armas de fogo de precisão
– e entraram em confronto armado com as forças da ordem
que os impediam de derrubar “democraticamente” o
presidente pela força. Estes combatentes de armas na mão
teriam sido apelidados de terroristas em qualquer país
democrático, mas os mandatários das principais potências do
ocidente logo se mobilizaram para dar todo o seu apoio a
essas ações. O novo governo que resultou do derrube do
presidente legítimo e que incluía os sinistros elementos
neofascistas (sobretudo em posições que permitiram o
controlo do Ministério do Interior) rapidamente demonstrou o
seu cariz e uma das suas primeiras decisões foi precisamente
a de proibir a utilização da língua russa, apesar de na Crimeia
e no Leste da Ucrânia a maioria da população falar esse
idioma. O presidente eleito só por uma parte da população (o
oligarca Petro Poroshenko), em vez de tentar o diálogo com
as forças separatistas, enviou o exército com paraquedistas,
artilharia, helicópteros de ataque e bombardeiros para
combater os insurretos e tentar controlar a situação pela
força. O novo primeiro-ministro (“nomeado” por Victoria
Nuland, Subsecretário de Estado dos EUA para os assuntos
europeus e euro-asiáticos) 17 chefia um governo que é tudo
menos um governo de unidade nacional, como estava previsto
nos acordos de 21 de Fevereiro de 2014 e que se destinavam
a tranquilizar a população de língua russa das regiões
orientais e meridionais. Dos 19 ministros do novo governo,
apenas dois vêm do leste e nenhum do sul. Além da
questão do idioma, introduziu uma resolução para ilegalizar
o Partido Comunista, que teve 13% dos votos em 2012 e
que é, de facto, o único partido remanescente na oposição
após a dissolução do Partido das Regiões. Entretanto e na
repressão aos movimentos divisionistas no leste e no sul as
milícias neofascistas logo fizeram ver aos dissidentes do
novo regime o que os esperava – em Odessa, 43
manifestantes pró-russos foram queimados vivos – e desse
modo conseguiram radicalizar ainda mais as posições. A
formação, por essas milícias, de unidades militares com a
simbologia nazi, também em nada contribuiu para o
acalmar das tensões.
Para Putin, o momento de agir contra a Ucrânia e o
Ocidente aconteceu quando o Parlamento da Ucrânia
destituiu ilegalmente Yanukovych e o forçou a fugir para a
Rússia. Pouco depois de 22 de fevereiro, ordenou que as
forças russas tomassem a Crimeia e logo após, incorporou-
a na Rússia. Essa ação foi relativamente fácil, por força dos
milhares de militares russos já estacionados na base naval
do porto de Sebastopol. A conquista da Crimeia também foi
fácil, pois os habitantes de etnia russa são cerca de 60%
da sua população e a sua maioria queria separar-se da
Ucrânia. Em seguida, Putin aplicou uma enorme pressão
sobre o novo governo em Kiev para o desencorajar de se
aliar com o Ocidente contra Moscovo, deixando claro que
iria destruir a Ucrânia como um estado capaz de subsistir,
antes de permitir que ele se tornasse numa fortaleza
ocidental às portas da Rússia. Para esse fim, concentrou
um grande exército na fronteira com a Ucrânia e
providenciou conselheiros, armas e apoio diplomático aos
separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, que
conduziram o país para uma guerra civil;
aumentou acentuadamente o preço do gás natural que a Rússia
vende à Ucrânia e exigiu o pagamento imediato das anteriores
exportações.
Para a Rússia o controlo da Bielorrússia e da Ucrânia é
fundamental para a sua segurança nacional. Se ficassem sob a
alçada dos seus adversários – por exemplo, aderindo à OTAN –
esse facto representaria para a Rússia um perigo de morte.
Moscovo fica apenas a pouco mais de trezentos quilómetros da
fronteira com a Bielorrússia e a Ucrânia está a menos de 300 km
de Volgogrado, a antiga Estalinegrado. Contra Napoleão e Hitler
a Rússia utilizou uma defesa em profundidade. Sem a
Bielorrússia e a Ucrânia, não existe essa profundidade, não
sendo possível ceder terreno em troca de tempo, desgastando
o inimigo. Para o Ocidente é obviamente impensável que a
OTAN represente uma ameaça para a Rússia, mas os russos
sabem, por experiência própria, a rapidez com que o absurdo se
transforma em realidade. Além disso a Rússia está também
consciente que os Estados Unidos e a OTAN têm tentado
sistematicamente expandir a sua área de influência,
promovendo a adesão à OTAN dos países da Europa Oriental e
dos Estados bálticos. Quando os Estados Unidos começaram a
tentar recrutar a Ucrânia para a OTAN, os russos imediatamente
assinalaram que isso constituiria uma ameaça aos interesses
russos e quando a Revolução Laranja parecia prestes a levar a
Ucrânia para a NATO, a Rússia acusou os Estados Unidos de a
tentar cercar e destruir, pois no seu entender a inclusão da
Ucrânia na OTAN seria inquestionavelmente uma ameaça
devastadora para a sua segurança nacional. Nessa altura a
Rússia não mobilizou o seu exército. Em vez disso, empenhou os
seus serviços de informações, cujas encobertas maquinações
na Ucrânia produziram excelentes resultados – os russos
debilitaram a Revolução Laranja, apostando numa divisão entre
o leste pró-russo da Ucrânia e a Ucrânia ocidental pró-europeia,
o que provou não ser difícil e rapidamente a política ucraniana
ficou paralisada. A Rússia está plenamente convencida que a
revolta em Kiev foi fomentada por organizações não-
governamentais financiadas pelos EUA e que, sem isso, as
manifestações teriam esmorecido e o governo teria sobrevivido.
Já quando foi da Revolução Laranja afirmaram que esta tinha as
mesmas origens. Embora o Ocidente negue, a realidade é que
os russos acreditam mesmo nisso. E tal significa que também
acreditam que o Ocidente tem a vontade e a capacidade de
desestabilizar outros países na esfera de influência da Rússia,
senão mesmo a própria Rússia.
Nesta altura, quando os russos olham para um mapa da Europa,
são confrontados com o seguinte: Os Estados Bálticos estão na
OTAN e a Ucrânia alinhou com o Ocidente. O governo pró-russo
da Bielorrússia poderá estar em risco, e no caso de alterar a sua
lealdade, os potenciais inimigos da Rússia terão penetrado
quase tão profundamente em direção ao núcleo da Rússia
quanto o fizeram as tropas nazis. Para os russos, a Grande
Guerra Patriótica (2ª Guerra Mundial), que causou mais de 20
milhões de mortos á URSS, é uma memória que está bem viva,
bem como a traição de Hitler. Ora os russos não são um povo
que confie muito nos outros povos e não têm razões para o
fazer: Nada no seu passado lhes permite a ingenuidade de
acreditar nas boas intenções, seja de quem for. Os recentes
acontecimentos também deixaram aparentemente claro que os
russos não vão invadir diretamente a Ucrânia. Não se consegue
ocupar um país de quase 50 milhões de habitantes com os
50.000 militares que a Rússia mobilizou. Entre o rio Dniepre, que
divide o país, e a fronteira russa, vivem cerca de 15 milhões de
pessoas – um terço da população da Ucrânia. Uma esmagadora
maioria dessas pessoas quer, seguramente, continuar a fazer
parte da Ucrânia e por certo iria resistir a uma ocupação russa.
Além disso, Moscovo também não está em condições de
suportar uma custosa ocupação, pois a sua fraca economia
sofreria ainda mais por força das consequentes e inevitáveis
sanções. A Ucrânia tem uma importância estratégica
fundamental para a Rússia. Mesmo que os separatistas do leste
conquistem algum grau de autonomia, a Rússia continuará
sempre profundamente apreensiva com a relação entre o resto
da Ucrânia e o Ocidente. Embora para os ocidentais seja difícil
de interiorizar, a história da Rússia engloba vários estados
tampão que salvaram a Rússia de invasores ocidentais.
Portanto, a Rússia deseja um acordo em que, no mínimo, a
Ucrânia permaneça neutral.
Quando a Guerra Fria chegou ao fim, os líderes soviéticos e os
seus sucessores russos, embora aceitassem a permanência das
forças americanas na Europa e que a OTAN ficasse intacta e ativa,
não desejavam que esta se alargasse ainda mais e convenceramse
que os diplomatas ocidentais entendiam as suas preocupações.
Mas a administração Clinton pensava de forma contrária e, em
meados dos anos 90, começou a pressionar para a OTAN se
expandir. A primeira fase do alargamento ocorreu em 1999 e
abrangeu a Hungria, a Polónia e a República Checa. A segunda
teve lugar em 2004 e incluiu a Bulgária, a Eslováquia, a Eslovénia,
a Estónia, a Letónia, a Lituânia e a Roménia. Desde o início que
Moscovo protestou abertamente, mas, nessa altura, os russos não
tinham poder suficiente para conseguir suster o movimento para
leste da OTAN – o qual, de qualquer modo, não era muito
ameaçador, já que nenhum dos novos membros tinha fronteira
com a Rússia, com exceção dos pequenos países bálticos. Em
seguida, a OTAN começou a dirigir a sua atenção ainda mais para
leste. Na cimeira de Bucareste em Abril de 2008, a aliança
considerou poder vir a admitir a Geórgia e a Ucrânia e a
administração de George W. Bush apoiou essa ideia, mas a França
e a Alemanha opuseram-se com receio que esse facto fosse
antagonizar demasiado a Rússia. No final da cimeira, os membros
da OTAN chegaram a um compromisso e a aliança não iniciou o
processo formal que levaria à entrada desses países na
organização, mas emitiu uma declaração apoiando as aspirações
da Geórgia e da Ucrânia. Contudo, Moscovo não entendeu esse
facto como um grande compromisso e Putin afirmou que a
admissão desses dois países na OTAN constituiria uma “ameaça
direta” para a Rússia, tendo um jornal russo noticiado que Putin, ao
falar com Bush, “deu a entender de uma forma muito clara que se
a Ucrânia fosse aceite na OTAN, deixaria de existir”. A invasão da
Geórgia pela Rússia, em agosto de 2008, deveria ter dissipado
quaisquer dúvidas remanescentes quanto à determinação de Putin
em evitar que a Geórgia e a Ucrânia ingressassem na OTAN. No
entanto e apesar deste claro aviso, a OTAN nunca abandonou
publicamente o seu objetivo de incluir a Geórgia e a Ucrânia na
aliança. E entretanto, a expansão da OTAN continuou a progredir,
tendo a Albânia e a Croácia entrado como membros em 2009.
Também a UE tentou progredir para leste. Em maio de 2008, foi
dada a conhecer publicamente a sua iniciativa de Parceria Oriental
– um programa destinado a promover a prosperidade em países
como a Ucrânia e a integrá-los na economia da UE. Tal como seria
de esperar, os líderes russos consideraram esse plano como hostil
aos interesses do seu país. Em fevereiro de 2014, o Ministro dos
Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, acusou a UE de
tentar criar uma “esfera de influência” na Europa Oriental – para os
dirigentes russos, a expansão da União Europeia é o “Cavalo de
Tróia” da expansão da OTAN.
Os Estados Unidos e os seus aliados europeus tiveram na
realidade a maior quota parte da responsabilidade pela crise na
Ucrânia. E a principal raiz desse facto foi o alargamento da OTAN
e a consequente estratégia de tentar retirar a Ucrânia da órbita da
Rússia e integrá-la no Ocidente. Os líderes russos foram sempre
inflexíveis na sua posição contra o alargamento da NATO e
deixaram sempre bem claro que não deixariam de reagir se o país
seu vizinho e estrategicamente fundamental se transformasse num
bastião ocidental. Simultaneamente, a expansão da UE para leste e
o seu apoio aos movimentos próocidentais na Ucrânia – que
começaram com a Revolução Laranja em 2004 – foram também
uma sucessão de factos relevantes no antagonizar dos interesses
russos. Para Putin, o derrube ilegal do democraticamente eleito e
presidente pró-russo da Ucrânia – acção que ele corretamente
rotulou de “golpe de estado” – foi a gota d'água. Em resposta e
mesmo contrariando a sua própria opinião expressa pouco antes,
tomou a Crimeia, pois considerou intolerável a sequência dos
acontecimentos e, no fundo, temia que o novo governo
concedesse à OTAN a possibilidade de aí estabelecer uma base
naval. Por outro lado, é curioso verificar que as potências
ocidentais que tanto se empenharam para que o Kosovo, parte
integrante da Sérvia, pudesse ser independente, só porque a
maioria da sua população era albanesa, agora em relação à
Crimeia opõem-se vigorosamente a essa independência. Ora, na
Crimeia a maioria é russa e o referendo entretanto realizado
confirma esse facto.
As potências como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e
sobretudo os EUA afirmam que os seus interesses coincidem com
os do novo poder em Kiev e que estão totalmente solidárias com
ele. Ou seja: a real política do ocidente é que a legitimidade de um
regime não advém de este resultar de eleições livres e
democráticas, mas sim e apenas do facto de esse regime estar de
acordo com os seus interesses. O apoio de Washington e de
outras capitais ocidentais permitiu estabilizar para já a cena
política em Kiev, mas essa estabilidade é conjuntural e deixou de
lado alguns setores importantes da sociedade ucraniana. Embora
esteja salvaguardada a “opção europeia”, as aspirações que
levaram os ucranianos à praça Maidan continuam ainda sem
resposta. Há no entanto que reconhecer que a Rússia tem também
interesses no que ao futuro da Ucrânia diz respeito. Esses
resultam da ligação que sempre existiu entre a Rússia e a Ucrânia,
mesmo antes da URSS, e são consequência de um conjunto de
fatores que têm a ver com a própria composição nacional do povo
ucraniano. Resultam ainda e sobretudo pela existência da
esquadra russa do mar Negro e da longa fronteira ocidental com a
Ucrânia, cujo território é para a Rússia uma planície de enorme
extensão que serve como um tampão de grande importância
estratégica para a sua defesa.
Os Estados Unidos e os seus aliados europeus tiveram na
realidade a maior quota parte da responsabilidade pela crise na
Ucrânia. E a principal raiz desse facto foi o alargamento da OTAN
e a consequente estratégia de tentar retirar a Ucrânia da órbita da
Rússia e integrá-la no Ocidente. Os líderes russos foram sempre
inflexíveis na sua posição contra o alargamento da NATO e
deixaram sempre bem claro que não deixariam de reagir se o país
seu vizinho e estrategicamente fundamental se transformasse num
bastião ocidental. Simultaneamente, a expansão da UE para leste e
o seu apoio aos movimentos próocidentais na Ucrânia – que
começaram com a Revolução Laranja em 2004 – foram também
uma sucessão de factos relevantes no antagonizar dos interesses
russos. Para Putin, o derrube ilegal do democraticamente eleito e
presidente pró-russo da Ucrânia – acção que ele corretamente
rotulou de “golpe de estado” – foi a gota d'água. Em resposta e
mesmo contrariando a sua própria opinião expressa pouco antes,
tomou a Crimeia, pois considerou intolerável a sequência dos
acontecimentos e, no fundo, temia que o novo governo
concedesse à OTAN a possibilidade de aí estabelecer uma base
naval. Por outro lado, é curioso verificar que as potências
ocidentais que tanto se empenharam para que o Kosovo, parte
integrante da Sérvia, pudesse ser independente, só porque a
maioria da sua população era albanesa, agora em relação à
Crimeia opõem-se vigorosamente a essa independência. Ora, na
Crimeia a maioria é russa e o referendo entretanto realizado
confirma esse facto.
As potências como a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e
sobretudo os EUA afirmam que os seus interesses coincidem com
os do novo poder em Kiev e que estão totalmente solidárias com
ele. Ou seja: a real política do ocidente é que a legitimidade de um
regime não advém de este resultar de eleições livres e
democráticas, mas sim e apenas do facto de esse regime estar de
acordo com os seus interesses. O apoio de Washington e de
outras capitais ocidentais permitiu estabilizar para já a cena
política em Kiev, mas essa estabilidade é conjuntural e deixou de
lado alguns setores importantes da sociedade ucraniana. Embora
esteja salvaguardada a “opção europeia”, as aspirações que
levaram os ucranianos à praça Maidan continuam ainda sem
resposta. Há no entanto que reconhecer que a Rússia tem também
interesses no que ao futuro da Ucrânia diz respeito. Esses
resultam da ligação que sempre existiu entre a Rússia e a Ucrânia,
mesmo antes da URSS, e são consequência de um conjunto de
fatores que têm a ver com a própria composição nacional do povo
ucraniano. Resultam ainda e sobretudo pela existência da
esquadra russa do mar Negro e da longa fronteira ocidental com a
Ucrânia, cujo território é para a Rússia uma planície de enorme
extensão que serve como um tampão de grande importância
estratégica para a sua defesa.

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