No capítulo 3 O “Leviatã” e o Estado burguês do livro O que é poder, Lebrun discorre
sobre o conceito de soberania, modelo político e propriedade privada sob a visão de
Hobbes e Locke. Neste sentido Lebrun define o modelo político como mecânico teoria de Hobbes, na perspectiva em que o politizar do homem é sua inserção a um maquinário que por sua vez irá trazer benefícios que o indivíduo sozinho não conseguiria, e a soberania é um sinal de mudança no pensar a coisa política. Segundo o pensamento de Hobbes o soberano tem o poder de conceber a propriedade para o súdito, mas quando necessário retomar, pois temia que a anarquia pudesse afetar o poder político. E para Locke o poder soberano não poderia se manifestar em segurar o bem do súdito, sem a sua permissão, porque temia o despotismo e da soberania exceder a função estatal, por conseguinte não pode ser absolutamente soberano enquanto exerce seus deveres. Neste contexto para Locke seria melhor o regresso para o Estado de natureza, do que permanecer em um Estado onde o soberano impusesse a sua vontade, interferindo na propriedade privada que é um direito do cidadão. E por outro lado no modelo de Hobbes caracteriza a dominação política sendo necessária para um bom funcionamento da sociedade moderna. Portanto pela lógica de Hobbes o poder central e absoluto é imprescindível para impedir que o indivíduo se distancie do contrato social. E com isso, Lebrun acredita que a teoria de Hobbes seria a forma mais adequada para abordar a questão do poder, com o fundamento em que com o surgimento do Estado os indivíduos passam a abrir mão dos direitos naturais, para aderir os direitos à vida, pois é dever do Estado assegurar o direito a saúde e educação a todos os indivíduos, assim que passa a obter o poder soberano. Contudo Lebrun não tem a mesma concepção que Locke referente a soberania como um poder repressivo, mas sim uma certa cumplicidade entre súdito e soberano. Além do mais na teoria hobbesiana em que a lei se torna uma solução e ser baseada na vontade única do soberano, Lebrun destaca como um fundamento de importância a utilidade da lei para que o cidadão à obedeça. O que difere ao pensamento de Locke, que para ele o poder nesse sentido é simplesmente uma forma do Estado influenciar na vida pública e privada, um domínio de exercer a função social decretada. E com isso Lebrun expõe o que entende do conceito de cidadão; ”indivíduo político enquanto participante do poder, e a cada vez mais “indivíduo político enquanto codificado pelo poder, determinado inteiramente por ele, produzido por ele” ( Lebrun,O que é o poder 1981, pág 68). Sendo assim esse conceito refere-se a participação do indivíduo no poder. Em sua análise Lebrun identifica que ao longo do século os indivíduos estão cada vez mais apolíticos, mesmo que compreendam o papel de cidadão tornam-se passivos frente a decisões políticas, se distanciando cada vez mais da esfera pública e política. E dessa forma com o indivíduo se tornando apolítico, para Lebrun é coerente o pensamento de Hobbes em definir o Estado como soberano. Contudo é importante frisar que Lebrun subverte a tese de Macpherson, que indica que o modelo de Hobbes foi criado para defender o mercado e a economia, dessa forma contextualizando que a teoria de Locke que se identifica com a defesa da economia do mercado. Lebrun faz a síntese do surgimento do Estado moderno, especificando a transição social entre a “cidade antiga”, onde havia igualdade entre os indivíduos mas não o domínio do poder. E nesse sentido para Hobbes, o politizar do homem é consolidar a harmonia e a segurança que é oferecido pelo Estado, mesmo que para isso seja necessário usar a força, mas não no sentido de força física, esse seria o caminho para o bem comum. Retomando a teoria de Locke, em que o poder é necessário para a sociedade de mercado, e com o Estado constitucional burguês, pode ocorrer um dominação tradicional segundo Lebrun, em que o poder burguês se modifica para uma dominação de classe. E nesse contexto a dominação burguesa, faz com que o cidadão como indivíduo político se torne menos participante do poder, e cada vez mais codificado pelo poder. Com isso, assim como já foi mencionado sobre o indivíduo ter se tornado cada vez mais apolítico segundo Lebrun, é uma ocorrência devido ao contexto do poder político criado pela modernidade e a dominação burguesa, a partir disso a sociedade entra num processo de “repolitização” não é incompatível com o apolitismo (Lebrun, 1981). Que significa nesse sentido para Lebrun que o indivíduo embora se fale de política no Estado burguês não significa efetivamente ser participante da esfera política, sem a potilização a decisão é tomada por poucos. Ainda na representação de Locke, sobre a finalidade do Estado em apenas estabelecer a segurança da sociedade civil, e garantir a liberdade e propriedade privada, para Lebrun é subestimar todos os recursos que o poder do Estado oferece à sociedade. Dentro desse contexto Lebrun faz a crítica referente ao livro “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos” escrito por Karl Popper que define Hobbes e Hegel como totalitário, e Lebrun usa como argumento o fato de que se o Estado hegeliano é fundador da sociedade, não teria sentindo absorvê-la, e o conceito de Hegel fazer apologia ao despotismo nada mais é que um mito para Lebrun pois ao contrário disso a Filosofia do Direito teve finalidade para os juristas reacionários. (Lebrun, 1981). Portanto retomando para a teoria de Hobbes, para ele o conceito de liberdade do súdito não é exatamente o indivíduo estar isento as leis, pois nesse sentido a “liberdade” seria como estar acometido a agressividade de todos os outros, sendo assim a verdadeira liberdade para Hobbes, cabe ao Soberano decidir em relação aos meios de segurança que serão adquiridos para segurança e proteção dos súditos. Por todos esses aspectos, entende-se que Lebrun concorda mesmo que em partes com a teoria de Hobbes, e que o poder precisa da soberania para uma boa organização da sociedade, o que não seria viável na teoria de Locke, para esse contexto segundo Lebrun. E claramente faz crítica ao liberalismo relacionado ao desenvolvimento do Estado no decorrer do século. Contudo para Lebrun o Estado moderno deve garantir o bem comum para todos, e para isso é necessário um poder maior para uma boa administração da sociedade, ou seja o poder Soberano, e dessa forma segundo o autor o homem pode viver em paz para desenvolver a suas potencialidades, e sendo assim Lebrun reconhece que os elementos analisados pela visão de Hobbes faz sentido, pois incentivam os indivíduos a obediência das ordens do Estado. E por fim defende a instalação do modelo de dominação política que Hobbes estabeleceu como uma condição necessária para instituição de uma sociedade moderna.