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TRABALHO DE COORDENAÇÃO & CAPOEIRA (2)

Introdução:
Pretendemos neste artigo discutir algumas metodologias de
treinamento (especificamente: jogo de mão e seqüências) para otimizar o
desenvolvimento do trabalho de coordenação em capoeira.

Considerações Iniciais:
Entre a multiplicidade das diversas capacidades de coordenação,
podem se destacar três capacidades gerais de base. (cf. SCHNABEL,
1974,627):
- A capacidade de controle motor;
- A capacidade de adaptação e readaptação motoras;
- A capacidade de aprendizagem motora.
Em artigos anteriores frisamos a interdependência destas capacidades
e sua intima reciprocidade, no presente artigo vamos nos aprofundar um
pouco mais neste trinômio:
Hirtz (1981, 349) subordina às três capacidades de base cinco
capacidades de coordenação fundamentais e tenta classificá-las
hierarquicamente:
- Capacidade de orientação espacial;
- Capacidade de diferenciação cinestésica;
- Capacidade de reação;
- Capacidade de ritmo;
- Capacidade de equilíbrio;
Posteriormente iremos abordar técnicas de treinamento para cada
destas capacidades o que nos interessa agora é a percepção de que sua
“soma” caracteriza um BOM jogo de capoeira.
O importante é que metodologias são as mais indicadas para
desenvolver estas capacidades específicas, já que parece não restar duvidas
da sua necessidade para um bom capoeirista. Neste artigo vamos abordar o
jogo de mão e a técnica de seqüências.

Desenvolvimento.
O Jogo de mão.
O jogo de mão é um trabalho dois a dois onde um dos parceiros
coloca a mão estendida à frente do corpo servindo de alvo, normalmente
usa-se um protetor específico ou uma raquete acolchoada (comum nos
treinos de taenkendo), porém pode-se perfeitamente usar uma sandália
havaiana. O importante para o parceiro que esta servindo de alvo é que
mantenha o cotovelo semi-flexionado protegendo-o do impacto e que
mantenha com o executante um diálogo mantendo-o informado sobre a
qualidade do movimento, precisão (os movimentos devem atingir o centro
da raquete ou a palma da mão, nunca o pulso ou as pontas dos dedos do
parceiro), equilíbrio, etc....
A “priori” todos os movimentos da capoeira podem ser adaptados
para o jogo de mão porém aqueles que mais são passíveis deste tipo de
trabalho são os de ataque direto e os girados, os movimentos de fuga ou de
chão necessitam de outro tipo de adaptação.
Quanto a uma analise das capacidades abordadas pelo jogo de mão
temos:
Capacidade de orientação espacial – ao estabelecer um alvo para o
seu movimento o executante esta naturalmente observando o “sentimento
de distância” necessário para a execução deste mesmo trabalho em uma
roda, a precisão adquirida neste tipo de trabalho ira influenciar diretamente
sua performance em um jogo livre, ao mesmo tempo a presença do parceiro
dá ao executante um constante fit-back de sua atividade possibilitando
também um aprimoramento técnico.
Capacidade de diferenciação cinestésica – A repetição de um mesmo
movimento permite aos seus executantes tomar consciência dos grupos
musculares envolvidos no processo. A solicitação do parceiro da melhoria
técnica ira também contribuir para esta diferenciação propiciando inclusive
uma otimização do esforço empregado.
Capacidade de reação – esta capacidade pode ser abordada de acordo
com a forma de trabalho combinada entre os executantes. Por exemplo: a
alternância de mãos (alvos) – o executante ginga e tem por objetivo lançar
o movimento no alvo apresentado aleatoriamente. Mão esquerda duas
vezes; mão direita uma vez, etc.... Também se pode pensar em uma
mudança de direção onde o “alvo” gira ao redor do executante e este tem
que estar na posição correta a partir de um sinal pré determinado.
Capacidade de ritmo – Pode ser abordada acrescentando a ginga
entre a execução do movimento ou então estabelecer o trabalho de
movimentos conjugados, isto é, executar dois ou mais movimentos em
seqüência, por exemplo: armada e “chapa-pé rodado”, isto sem contar com
a possibilidade de solicitar ao executando realizar os movimentos dentro de
um ritmo pré determinado: São Bento pequeno, São Bento Grande, Iuna,
Benguela, etc.... (onde o “alvo” passa a Ter a função de ajustar o ritmo da
execução).
Capacidade de equilíbrio - O jogo de mão propicia um estudo
aprofundado desta capacidade já que o executante pode perceber toda a
movimentação solicitada no desenvolvimento da técnica sem a
preocupação de uma reação do adversário, ao mesmo tempo, conta com
um observador que irá determinar seus possíveis desequilíbrios, podendo
até estabelecer parâmetros específicos de execução: (a perna de ataque tem
que voltar exatamente de onde saiu).
A trabalho de seqüência:
As seqüências ou lições tanto do Mestre Bimba como do Mestre
Pastinha como outras tantas que temos visto sendo criadas por diversos
mestres obedecem ou deveriam obedecer as cinco capacidades acima
citadas o que se traduz em volume e qualidade de jogo.
Muitos Mestres não usam as seqüências alegando que isto limita o
desenvolvimento do jogo fazendo que o aluno apenas “decore”
movimentos já estabelecidos. Esta posição nos parece passível de uma
revisão. Por um lado, todas as outras artes marciais, sem exceção possuem
suas seqüências, desde as mais elaboradas como é o caso do Kung-Fu até
seqüências básicas como do box, e seu treino continuo não diminui a
eficácia nem a criatividade de seus lutadores. Por outro, se atentar para as
cinco capacidades necessárias para um bom jogo de capoeira, iremos notar
que todas sem exceção necessitam de concentração para o seu
desenvolvimento. Ora, o jogo livre aumenta consideravelmente o stress dos
jogadores na medida em que toda a atenção fica voltada para a manutenção
de sua integridade, com isto toda a possibilidade de estudo e
aprimoramento técnico se perdem. O trabalho de seqüências quando bem
feito exerce sobre o praticante o efeito de memorização muscular, em
outras palavras cria-se uma memória de resposta permitindo ao jogador a
partir desta incorporação CRIAR suas próprias “perguntas” e “respostas”
enriquecendo então seu jogo.
Temos que notar que estamos falando de seqüências bem feitas. O
que seria isto então? Existem seqüências mal montadas? Sim, existem
seqüências mal montadas são elas aquelas que não atendem as cinco
capacidades estudadas neste artigo. TODA SEQUÊNCIA DEVE
CONTEMPLAR ESTAS CAPACIDADES. Em segundo lugar, as
seqüências devem obedecer ao “espirito” do jogo, ou seja, para cada toque
um determinado tipo de seqüências. Todo o estudioso de capoeira sabe que
é pelo ritmo e cadencia do berimbau que se faz a movimentação necessária
para o bom desenvolvimento do jogo. Porque então não criar para cada
ritmo determinadas seqüências que irão temos certeza abrilhantar ainda
mais as nossas rodas?
Enfim, o treinamento das seqüências não só potencializar as
capacidades de coordenação, como também irão promover um aumento
significativo da qualidade técnica do Capoeirista.
Terminamos este artigo lançando um desafio-convite aos mestres de
capoeira: Que criem suas seqüências, as testem na roda e as divulguem. A
capoeira só tem a ganhar.

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