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Areia Monazita - Reportagem
Areia Monazita - Reportagem
br/bomba/
A GU
GUA
Uma hist
tropicais,
riqueza
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A guerra nuclear de Guarapari - Uma história s... http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/
AGLISSON LOPES
(ASLOPES@REDEGAZETA.COM.BR)
NATÁLIA BOURGUIGNON
(NBOURGUIGNON@REDEGAZETA.COM.BR)
Nesse caso, o tório virou alvo de cobiça internacional após a descoberta de que
poderia ser produzido a partir dele Urânio 233 (U-233), elemento criado em
laboratório e usado em reatores ou bombas atômicas.
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Retirada e transporte de areia monazítica de Guarapari no início do século XX. O material seguia para
galpões de separação e estocagem, como retrata a imagem da capa, também do mesmo período. Fotos:
Acervo Ufes
Entre boatos e verdades, há quem diga até que a areia monazítica de Guarapari foi
usada para a produção da bomba que caiu sobre a cidade japonesa de Hiroshima,
em 1945, matando cerca de 80 mil pessoas no episódio mais marcante da Segunda
Guerra Mundial. Tal história circulou por diversos jornais e permeou discursos de
figuras políticas brasileiras na década seguinte, a partir das investigações de que
centenas toneladas de areia monazítica saíram do Espírito Santo de forma
clandestina durante décadas a fio. O fato é que não é possível precisar quanto da
areia foi levado durante esse período. Após o escândalo invadir o noticiário,
estimou-se que pelo menos 200 mil toneladas de areia e tório haviam sido retiradas
(legal e ilegalmente) de praias brasileiras em pouco mais de 50 anos. Guarapari era
o principal polo de extração.
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país, e que fosse criada uma política nacional para desenvolvimento da tecnologia
nuclear, o que não avançou. Além disso, apesar de inúmeras tentativas, os EUA não
concordavam em compartilhar tecnologia e conhecimento atômico com o Brasil.
Isso acabou gerando um mal-estar político que culminou com a criação de uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) em 1956, para investigar os interesses
brasileiros em torno dos acordos com os EUA.
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/info1.png)Em outras negociações, foram trocadas toneladas de areia por trigo
americano. Documentos mostram que o acordo favorecia somente a potência
americana. O Brasil chegou a tentar enviar mais tório beneficiado em usinas locais,
como forma de garantir mais lucros. No entanto, em uma manobra política, os
Estados Unidos passaram a taxar a entrada do tório beneficiado em 33%,
inviabilizando o envio por parte do Brasil. A areia monazítica bruta, por sua vez, não
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era taxada.
Em um terceiro momento, o Brasil foi forçado a se decidir entre enviar tropas aliadas
para a Guerra da Coreia, em 1951, ou se comprometer a enviar mais areia
monazítica e outras “matérias-primas estratégicas” para os portos norte-americanos.
Parte da imprensa da época, de forte apelo nacionalista, chegou a tratar o assunto
como um escândalo, com a pergunta “areia ou carne para canhão?”.
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O BARÃO DA MONAZITA
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uma segunda empresa, de tratores, fazia a limpeza do terreno. Outra ainda montava
as instalações e maquinário para o beneficiamento, até que chegava a Mibra, que
ensacava e exportava. Para o transporte era utilizada a CENES, que possuía uma
pequena frota de navios. Além disso, outra empresa de Boris, a Inaremo, fazia o
beneficiamento da areia, extraindo o tório.
Boris Davidovitch também era acionista da “Lindsay Light and Chemicals”, empresa
americana que comprou monazita da Mibra durante vários anos. Ou seja: no final
das contas, o russo vendia dele para ele mesmo com a finalidade de se livrar de
taxações de exportação e outros impostos por parte do governo brasileiro.
Até o ano de 1956, ano em que foi instaurada uma CPI na Câmara dos Deputados
para investigar denúncias de corrupção e clandestinidade na extração da monazita,
todo a areia extraída e o tório extraído a partir dela desde o século anterior, além de
outras terras raras, teriam um valor estimado de 227 bilhões de dólares. Enquanto
isso, Boris pagava cerca de Cr$ 0,80 de imposto à prefeitura do município por ano
desde que começou a atuar na cidade, segundo denuncias da própria prefeitura de
Guarapari feitas ao jornal Tribuna da Imprensa (RJ).
“Nasci e criei-me aqui. Nunca vi esse homem fazer qualquer coisa em benefício
dessa terra”, protestou ao jornal o prefeito Epaminondas de Almeida, em 1956.
Epaminondas assumiu a prefeitura após seu antecessor, Edizio Cirne, ser afastado
porque deu uma “bofetada” na cara de Boris. O empresário queria brigar na justiça
pela exploração das areias da praia da Areia Preta, mas o prefeito disse que
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/Foto9-e1438182603452.jpg)
Barracão da Inaremo, onde o tório era separado da areia
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/Foto13-e1438182106471.jpg)
Vista da Prainha de Muquiçaba, com o galpão da Mibra à frente, na década de 1940
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
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/07/Foto12-e1438182204656.jpg)
Navio suíço no antigo porto da cidade
INVESTIGADO
A influência de Boris Davidovitch se dava além do mundo empresarial. Enquanto um
dos homens mais ricos do país, ele gozava também de boa influência política e
usava métodos nem sempre lícitos para conseguir o que queria.
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TRABALHO ESCRAVO
Durante a mesma CPI,
deputados, técnicos e
jornalistas visitaram as
instalações da Mibra em
Guarapari e descobriram diversas irregularidades. Faltavam livros de controle e o
fiscal designado pelo Governo não sabia identificar as diferentes areias por cor. O
fiscal sequer tinha autonomia para fiscalizar, visto que morava em um apartamento
bancado pela própria Mibra.
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Notícia de junho de 1956 relata a visita de deputados da CPI da Energia Atômica e jornalistas a
Guarapari, onde constataram indícios de trabalho escravo e falta de fiscalização nas atividades da Mibra.
Fonte: Imprensa Popular / RJ
Segundo Dr. Antônio da Silva Mello, médico que descobriu e popularizou o uso
terapêutico das areais monazíticas, a Mibra era a única empresa que empregava os
moradores de Guarapari, mas mantinha seus funcionários em condições precárias.
“A Mibra funcionava dia e noite, tendo três turnos de operários que recebiam
salários miseráveis e desconheciam a utilização e para onde era levadas as areias”,
afirmou Silva Mello em seu livro “Guarapari – Maravilha da Natureza”.
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MORTE MISTERIOSA
Boris
Davidovitch
faleceu no dia
20 de setembro
de 1960.
Segundo
informações
extra-oficiais,
ele morreu de
infarto após
desembarcar
no aeroporto
Charles de
Gaule, em Paris.
O OUTRO BARÃO
Além da Mibra, outra empresa atuava na extração e beneficiamento de monazita e
ilmenita no Espírito Santo: a Orquima (Indústrias Químicas Reunidas), com sede em
São Paulo. Seu proprietário, Augusto Frederico Schmidt, também foi convocado a
depor na CPI da Energia Atômica, quando se recusou a divulgar os nomes dos
principais acionistas da empresa à época. Schmidt era bastante influente no meio
político, foi assessor direto e amigo pessoal do presidente Juscelino Kubitschek e,
depois, do general Humberto Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura
militar.
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Dados do Departamento do Interior dos EUA mostram o volume de areia extraído em 62 anos pelos
principais produtores. Estima-se que pelo menos o dobro desse total tenha sido transportado
clandestinamente
Ainda assim, o trabalho da CPI ajudou a jogar luz sobre uma atividade que já durava
décadas, com fiscalização precária, denúncias de corrupção e acordos
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internacionais que prejudicavam o Brasil. O relatório final da CPI foi primordial para
criar uma política nacional de energia atômica, embora a maior parte das jazidas de
monazita e outras terras raras já estarem esgotadas na época.
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/Última-Hora-RJ-161019511.png)
Reportagem de Edmar Morel para o Última Hora em 1957 retratava a condição degradante dos
trabalhadores de Guarapari
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/http-memoria.bn_.brDocReaderDocReader.aspxbib154083_01PagFis28352-
e1440706549847.jpg)
O jornal carioca Tribuna da Imprensa tratou a CPI de 1956 como um escândalo nacional de corrupção
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/http-memoria.bn_.brDocReaderDocReader.aspxbib154083_01PagFis28273.jpg)
O mesmo jornal acompanhou os deputados e constatou que o fiscal do governo não sabia sequer
diferenciar monazita de outras areias
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/http-memoria.bn_.brDocReaderDocReader.aspxbib221961_03PagFis47000-
e1438183803313.jpg)
O repórter do Diário da Noite, Antenor Novais, viajou a Guarapari para constatar a total falta de controle
na exploração do tório de Guarapari
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Denúncia do deputado capixaba Anibal Soares, representando a ala nacionalista política, de que o tório
chegava a ser mais caro que o ouro nos EUA, mas era declarada a preço de banana pela Mibra no Brasil
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/http-memoria.bn_.brDocReaderDocReader.aspxbib221961_03PagFis47009-
e1438183085650.jpg)
Reportagem do “Diário da Noite” de 1956 comparava o esquema americano de proteção ao minério com
o descaso em Guarapari na proteção do mesmo patrimônio
Nova reportagem denuncia o aumento do embarque da areia do Espírito Santo, muitas vezes feito
durante a madrugada
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O Última Hora de dezembro de 1956 destacava que a “praia mais famosa do Brasil” estava abandonada
pelo poder público, sem qualquer fiscalização da extração de areia. Diversos jornalistas viajaram para a
cidade para cobrir a polêmica das areias radioativas exportadas sem controle
O PRIMEIRO EXPLORADOR
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AREIA CAPIXABA
A areia monazítica de Guarapari
só foi descoberta em 1898 e,
oito ano depois, foi instalada a
empresa franco-brasileira
Société Minière Industrielle
Franco-Brasilienne.
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encher navios vazios de areia já era feita por Gordon no Sul da Bahia.
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O PROJETO MANHATTAN
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/Teapot_Met_001.jpg)
Bomba de Urânio-233 lançada em 1956 durante testes no deserto de Nevada, nos Estados Unidos
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Teste com bomba de U-233 durante a Operação Teapot, 1955. Todas as fotos desta galeria pertencem
ao Departamento de Estado norte-americano
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/07/teapot1.jpg)
Destroços analisados após queda de bomba-teste em Nevada, 1955
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A BOMBA BRASILEIRA
A questão nuclear brasileira
começou no primeiro governo
Vargas e refletiu durante muitos
anos o papel do Brasil como
exportador de matérias primas
em detrimento do
desenvolvimento de produtos e
tecnologias.
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Neste ano foi firmado com os EUA um Programa de Cooperação para a Prospecção
de Recursos Minerais que possibilitou a identificação de depósitos de areias
monazíticas localizados entre São Francisco de Itabapoana (RJ) e Guarapari (ES).
Em 1945, foi assinado o primeiro acordo com os Estados Unidos, que previa um
fornecimento de 5.000 toneladas anuais de monazita e que poderia ser prorrogável
por até dez vezes. Três anos depois, o Conselho de Segurança Nacional denunciou
o acordo alegando que não havia nenhum retorno de benefício claro dos EUA em
troca da monazita. As exportações foram interrompidas demonstrando o primeiro
ato de preocupação do governo visando resguardar as matérias-primas nucleares
existentes no solo brasileiro.
Para o CNPq, o material radioativo só poderia ser exportado caso houvesse uma
compensação específica: o material seria trocado por conhecimento tecnológico
para a criação de reatores nucleares. No entanto, essa demanda ia contra a Lei
McMahon dos Estados Unidos, que protegia todos os conhecimentos associados à
energia nuclear.
O almirante passou, então, a procurar e propor acordos com outros países que
fossem mais vantajosos para o Brasil. Ele defendia, notadamente, uma cooperação
com a República Federal da Alemanha, que estava pesquisando uma maneira
alternativa de enriquecimento de urânio.
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Assim, foi feito um acordo secreto com a Alemanha para instalação de três
equipamentos de enriquecimento de urânio no Brasil, apesar da eficácia do método
pesquisado pelos alemães estar longe de ser comprovada.
A Constituição de 1988 havia proibido o país de usar a tecnologia nuclear para fins
bélicos, mas o “esforço paralelo” dos militares sobreviveu até 1990, segundo
confirmou mais tarde José Carlos Santana, ex-presidente da Comissão Nacional de
Energia Nuclear no governo Collor.
A maior comprovação do esforço para criação de uma ogiva nuclear, porém, só veio
no final dos anos 80. O jornal Folha de São Paulo expôs a construção de instalações
subterrâneas que “se prestam a testes nucleares diversos” na Serra do Cachimbo,
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no Sul do Pará. A área era militar, delimitada por decreto durante o governo Geisel.
Na época o presidente José Sarney negou que o espaço fosse utilizado para esses
fins.
Pouco depois, ele jogou uma simbólica pá de cal num poço de 320 m para testes
nucleares e ordenou sua destruição.
02:50
A pesquisadora Beatriz Bueno explica propriedades das areias de
Guarapari
Gazeta Online
O FIM DA EXPLORAÇÃO
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(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content/uploads/sites/9/2015
/08/espindula1.jpg)
O prefeito de Guarapari, Graciano Espíndula, concede entrevista em 1983 ao jornal A Gazeta, dando sua
versão da briga judicial travada pelo fim da exploração de areia na cidade. Entrevista à repórter Maura
Fraga. Foto: Helô Santana
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Por outro lado, a continuação das atividades da Nuclemon deixava grandes buracos
pela cidade e incomodava autoridades e moradores. A areia extraída na cidade era
enviada para uma usina em São Paulo, de onde se retirava diversos elementos para
fabricação industrial, de eletrodos a fibras de vidro, indústria de lentes, de
televisores, além do próprio tório, de interesse da Comissão Nacional de Energia
Nuclear.
NA JUSTIÇA
O caso foi parar na Justiça Federal após a denuncia da prefeitura de que a a
Nuclemon estava extraindo areia em terrenos ilegais e destruindo trechos da
Rodovia do Sol e de praias onde a exploração já havia sido embargada por leis do
próprio município, como Areia Preta, Praia dos Namorados e Praia do Morro.
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Nos arquivos público franceses, mais de 210 documentos entre cartas, pedidos de
material e recibos ligam a Société Minière Industrielle Franco- Brésilienne,
precursora da Mibra, em Guarapari, a diversos laboratórios franceses e alemães.
A maioria dos contatos são de compra, venda e aluguel de tubos de Tório entre a
empresa e o Institut du Radium, laboratório presidido pela ganhadora do prêmio
Nobel de Química, Marie Curie. Ela e o marido, Pierre, foram responsáveis pela
descoberta da radioatividade e por ter dedicado a vida às pesquisas sobre o uso
terapêutico dos materiais radioativos.
Segundo o estudo “Marie Curie and the Radium industry” do pesquisador Xavier
Roqué, a partir de 1903 o uso na medicina de materiais radioativos foi popularizado
na França, o que fez aparecer um mercado de extração de materiais radioativos
pelo mundo. O material era usado em centros de tratamento de câncer tanto em
Paris quanto em outras cidades. Na capital Francesa, a Société Minière et
Industrielle Franco-Brésilienne mantinha um escritório no número 20 do boulevard
Montmartre, e uma usina de tratamento de tório e outos materiais radioativos na
cidade de Clichy. Por questões de segurança, nos anos 80, a usina foi demolida e
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Marie Curie visitou o Brasil em 1926, atraída pela fama das águas radioativas do
Termas de Lindóia, em São Paulo. Na época, o local já era conhecido como
terapêutico. Curie visitou o local durante um dia.
A visita às terras brasileiras, no total, durou mais de 40 dias. Madame Curie esteve
em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde visitou o primeiro hospital
brasileiro especializado em tratamento de câncer com uso de radiação. Marie Curie
faleceu em 1934, depois de muitos problemas de saúde, provavelmente em razão
da contínua exposição à radiação.
O LIXO NA LATINHA
Afinal, o que teria acontecido com as toneladas e mais toneladas de tório
exportados para os Estados Unidos principalmente durante a Guerra Fria? No final
das contas, o que restou delas agora é encarado como problema de segurança
nacional e opinião pública.
Pouco mais de 1.500 quilos de Urânio-233 criado a partir do tório – e que chegou a
ser testado em bombas e reatores na década de 1950 – está agora armazenado em
latas e tubos em um depósito do governo americano no estado de Tennessee.
Novas tecnologias nucleares mais seguras tornaram obsoleta a pesquisa com
U-233 há várias décadas. Sem serventia, o governo decidiu transportar esse
material para um túnel de armazenamento de lixo nuclear em Nevada, justamente
onde as bombas atômicas eram testadas, perto de Las Vegas.
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relação ao que
sobrou da matéria
prima usada pela
empresa, que
utilizou o tório
primeiramente para
fabricação de
lâmpadas e, mais
tarde, foi a principal
fornecedora do
material para os
projetos secretos
(http://especiais.gazetaonline.com.br/bomba/wp-content
de construção de
/uploads/sites/9/2015/08/chicago.jpg)
bombas atômicas.
Vista da região de Streeterville, a oeste de Chicago, onde boa parte do
bairro foi aterrado com areia monazítica ao longo do século XX. Foto; Matt
Reportagens de Howry / Flickr / creative commons
diversos jornais de
Chicago nos
últimos anos relatam que, após feita a separação do tório, a areia que sobrava era
vendida para utilização em aterros. Assim, a região de Streeterville, fortemente
industrializada na época, recebeu toneladas de aterro radioativo para construção de
novos prédios e fábricas. Ninguém sabe exatamente quando a venda da sobre de
areia foi encerrada pela Lindsay Light, mas o bairro passa atualmente por uma
modernização e a construção de novos edifícios residenciais, hotéis e condomínios
de luxo levanta o risco à saúde ao se revirar a areia radioativa.
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alegou que o governo brasileiro estaria fazendo pressão para que Lindsay
instalasse uma fábrica no Brasil para tratamento do tório. Ele também declarou ao
jornal que “mantinha um grande estoque de areia monazítica nos Estados Unidos”,
sem citar, porém, a quantidade.
CURIOSIDADES
1. Foi na época de bastante movimento no porto de Guarapari que foram criados
os hotéis Torium, Radium e Monazita. O Radium foi um casino muito
frequentado na década de XX, e símbolo de ostentação da classe mais
abastada do Espírito Santo. Hoje está desativado.
2. Boris Davidovitch é nome de rua na Praia do Morro, em Guarapari, exatamente
a mesma onde funcionava a antiga Inaremo. Não é possível precisar a data
exata da criação da lei, na Câmara dos Vereadores da cidade, que dá à rua o
nome do empresário russo
3. Augusto Frederido Schmidt, além de proprietário da Orquima, que explorava
areia no Norte do Espírito Santo, foi um grande empresário paulista, criador de
uma rede de supermercado e firmas industriais. Ele também é criador do
famoso slogan “50 anos em 5”, usado na campanha de Juscelino Kubitschek
para a construção de Brasília. No entanto, o fato mais curioso é que Schmidt é
um dos poetas mais conhecidos da segunda geração do Modernismo
brasileiro, com três livros publicados. Assim como Boris Davidovitch, morreu
após um infarto fulminante.
4. O problema da exploração ilegal de areia monazítica também foi denunciado
pela imprensa da Índia, sobretudo por volta de 1990. Reportagens de diversos
jornais relatavam que empresas escondiam o volume de areia retirado,
exportava sem autorização e causava impacto a comunidades em volta das
áreas com maior volume de areia monazítica.
5. A Índia, aliás, que desde o fim da Segunda Guerra Mundial havia proibido a
exportação de terras raras, trabalha atualmente em um reator de tório para
geração de energia. A tecnologia também é visada por países como China e
Irã. A previsão é de que o reator indiano entre em operação a partir de 2018.
6. Em 2013, o Brasil negociou a venda de 16 mil toneladas de Torta II, resíduo
radioativo proveniente do tratamento químico da areia monazítica. O
comprador foi uma empresa de Taiwan chamada Global Green, que domina
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técnicas para extrair terras raras desse tipo de resíduo. A alegação na época é
de que o Brasil não possui tecnologia para fazer essa extração. O estoque
ficava situado na cidade mineira de Caldas. De acordo com as Indústrias
Nucleares do Brasil (INB), o material é estocado desde 1940.
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“Nuclebrás fica em Guarapari por mais três anos”, Jornal A Gazeta, 7/05/1983
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Semana (RJ), Diário de Notícias (RJ), Folha Capixaba (ES), Diário da Noite (RJ)
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Disponível online (http://archives.chicagotribune.com/1950/04/03/page
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Publicada em 29/08/2015
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