psicossocial acompanha o homem em sua trajetória histórica. • Em quase todas as sociedades há indícios da existência de pessoas que perderam o controle de suas emoções e alteraram o seu comportamento a ponto de causar estranheza em seus semelhantes. • Como afirma Jaspers (1979), a loucura é um fenômeno tipicamente humano, pois é somente quando afetado em seu devir que o sujeito põe em questão seu ser, constituindo a psicopatologia. Nau dos loucos • Os processo de segregação e exclusão do louco são anteriores à criação do manicômio (final do séc. XVIII), ficando claro desde a Idade Média Instituições de reclusão: lepra doentes venéreos loucos "NAU DOS LOUCOS” • Associação de tais condições com o sagrado e sinais da ira ou bondade divinas • Na Idade Clássica, a loucura adquiriu um significado moral, a partir de sua associação com “desrazão” • não obediência e transgressão dos imites (morais); • razão que optou deliberadamente pela heteronomia e que, por isso, perdeu sua autonomia;▪caracterização da loucura enquanto “condição de impossibilidade” do exercício da razão.
• Se a loucura é tida como
imoralidade, o louco deve ser punido pela sua escolha "Internação” GRANDE INTERNAÇÃO
• Hospital Geral, fundado em 1656, em
Paris: atende a lógica de internação/punição (função disciplinar de controle da ordem social) e não a objetivos médicos (função terapêutica) • A loucura não era objeto de um saber e práticas específicas, mas compunha um leque heterogêneo de sujeitos “fora da ordem”: loucos, ociosos, devassos, libertinos, blasfemos... " • Atuação do médico: esse profissional entra no internamento não com intuito de atuar sobre o interno como doente, mas para proteger os cidadãos dos indivíduos incuráveis e determinar qual detento é ou não incurável. • O asilo exerce, então, a dupla função de proteger todos aqueles que são “saudáveis” e de mostrar, como um espetáculo, a desrazão como um mal, incitando à boa conduta moral pelo medo. Crise do Internamento
• O internamento, que exercia uma
função social marcante, foi duramente questionado mediante as novas necessidades econômicas e políticas a sociedade burguesa nascente não podia admitir que tanta gente fosse mantida presa, e assim ociosa • Após a Revolução Francesa (segunda metade do séc. XVIII), com Pinel na França e Luke na Inglaterra, ocorre o desenvolvimento da medicina psiquiátrica: descoberta da SAÚDE MENTAL e da melhor atitude profilática, culminando na HUMANIZAÇÃO ante o louco e lhe reservando um espaço mais adequado para tratamento/cura, o hospital psiquiátrico (psiquiatria asilar). • O médico ganha caracterização positivista, de cientista, investigador, cujo objetivo é estudar esse ser “animalesco” Surgimento da Psiquiatria que é o louco e revelar sua verdade até então recôndita. No Brasil
• 1808 – Vinda da Família Real para o
Brasil • 1830 – Relatório da Comissão de Salubridade da Sociedade de Medicina • 1841 – Decreto n. 82 de 18 de julho de 1841: criação do Hospício de Pedro II (anexo ao Hospital de Santa Casa de Misericórdia) • 1851 – Inauguração do Hospício de Pedro II na Praia Vermelha O palácio dos loucos (Lima Barreto) O Hospital Colônia
• Projetado inicialmente com 200
vagas, o hospital atingiu a marca de cinco mil pacientes em 1960. • Sessenta mil pessoas, entre homens, mulheres e crianças morreram de fome, diarréia, tortura, eletrochoque, frio. Os “pacientes” • Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, negros, pobres, gente que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder. • Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, eram filhas de fazendeiros as quais perderam a virgindade antes do casamento. • Eram homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos, eram todo tipo de indesejados. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos trinta e três eram crianças. • Os deserdados sociais chegavam a Barbacena de vários cantos do Brasil. Tinham sido, a maioria, enfiadas nos vagões de um trem, internadas à força. • Quando chegavam ao Colônia, suas cabeças foram raspadas, e as roupas, arrancadas. Perderam o nome, foram rebatizadas pelos funcionários, começaram e terminaram ali. • Nos períodos de maior lotação, dezesseis pessoas morriam a cada dia. Morriam de tudo — e também de invisibilidade. Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para dezessete faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. • Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio do Colônia, na frente dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida. • Homens, mulheres e crianças, às vezes, comiam ratos, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados, eram obrigados a trabalhar em funções pesadas e sem remuneração. • Nas noites geladas da serra da Mantiqueira, eram atirados ao relento, nus ou cobertos apenas por trapos. Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença. • Morriam também de choque. Em alguns dias, os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município.