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A História da

Loucura

MICHEL FOUCAULT
O fenômeno da loucura

• A loucura enquanto fenômeno


psicossocial acompanha o homem em sua
trajetória histórica.
• Em quase todas as sociedades há indícios
da existência de pessoas que perderam o
controle de suas emoções e alteraram o
seu comportamento a ponto de causar
estranheza em seus semelhantes.
• Como afirma Jaspers (1979), a loucura é
um fenômeno tipicamente humano, pois é
somente quando afetado em seu devir que
o sujeito põe em questão seu ser,
constituindo a psicopatologia.
Nau dos loucos
• Os processo de segregação e exclusão
do louco são anteriores à criação do
manicômio (final do séc. XVIII),
ficando claro desde a Idade Média
Instituições de reclusão: lepra
doentes venéreos loucos
"NAU DOS LOUCOS”
• Associação de tais condições com o
sagrado e sinais da ira ou bondade
divinas
• Na Idade Clássica, a loucura adquiriu
um significado moral, a partir de sua
associação com “desrazão”
• não obediência e transgressão
dos imites (morais);
• razão que optou deliberadamente
pela heteronomia e que, por isso,
perdeu sua
autonomia;▪caracterização da
loucura enquanto “condição de
impossibilidade” do exercício da
razão.

• Se a loucura é tida como


imoralidade, o louco deve ser
punido pela sua escolha
"Internação”
GRANDE INTERNAÇÃO

• Hospital Geral, fundado em 1656, em


Paris: atende a lógica de
internação/punição (função disciplinar de
controle da ordem social) e não a objetivos
médicos (função terapêutica)
• A loucura não era objeto de um saber e
práticas específicas, mas compunha um
leque heterogêneo de sujeitos “fora da
ordem”: loucos, ociosos, devassos,
libertinos, blasfemos... "
• Atuação do médico: esse
profissional entra no
internamento não com
intuito de atuar sobre o
interno como doente, mas
para proteger os cidadãos
dos indivíduos incuráveis
e determinar qual detento
é ou não incurável.
• O asilo exerce, então, a
dupla função de proteger
todos aqueles que são
“saudáveis” e de mostrar,
como um espetáculo, a
desrazão como um mal,
incitando à boa conduta
moral pelo medo.
Crise do
Internamento

• O internamento, que exercia uma


função social marcante, foi
duramente questionado mediante as
novas necessidades econômicas e
políticas a sociedade burguesa
nascente não podia admitir que
tanta gente fosse mantida presa, e
assim ociosa
• Após a Revolução Francesa
(segunda metade do séc.
XVIII), com Pinel na França e
Luke na Inglaterra, ocorre o
desenvolvimento da medicina
psiquiátrica: descoberta da
SAÚDE MENTAL e da melhor
atitude profilática, culminando
na HUMANIZAÇÃO ante o
louco e lhe reservando um
espaço mais adequado para
tratamento/cura, o hospital
psiquiátrico (psiquiatria asilar).
• O médico ganha caracterização
positivista, de cientista,
investigador, cujo objetivo é
estudar esse ser “animalesco”
Surgimento da Psiquiatria que é o louco e revelar sua
verdade até então recôndita.
No Brasil

• 1808 – Vinda da Família Real para o


Brasil
• 1830 – Relatório da Comissão de
Salubridade da Sociedade de
Medicina
• 1841 – Decreto n. 82 de 18 de julho
de 1841: criação do Hospício de Pedro
II (anexo ao Hospital de Santa Casa de
Misericórdia)
• 1851 – Inauguração do Hospício de
Pedro II na Praia Vermelha O palácio
dos loucos (Lima Barreto)
O Hospital Colônia

• Projetado inicialmente com 200


vagas, o hospital atingiu a marca
de cinco mil pacientes em 1960.
• Sessenta mil pessoas, entre
homens, mulheres e crianças
morreram de fome, diarréia,
tortura, eletrochoque, frio.
Os “pacientes”
• Cerca de 70% não tinham diagnóstico
de doença mental. Eram epiléticos,
alcoolistas, homossexuais, prostitutas,
negros, pobres, gente que se rebelava,
gente que se tornara incômoda para
alguém com mais poder.
• Eram meninas grávidas, violentadas por
seus patrões, eram esposas confinadas
para que o marido pudesse morar com
a amante, eram filhas de fazendeiros as
quais perderam a virgindade antes do
casamento.
• Eram homens e mulheres que haviam
extraviado seus documentos, eram todo
tipo de indesejados. Alguns eram
apenas tímidos. Pelo menos trinta e três
eram crianças.
• Os deserdados sociais
chegavam a Barbacena de
vários cantos do Brasil.
Tinham sido, a maioria,
enfiadas nos vagões de um
trem, internadas à força.
• Quando chegavam ao Colônia,
suas cabeças foram raspadas,
e as roupas, arrancadas.
Perderam o nome, foram
rebatizadas pelos
funcionários, começaram e
terminaram ali.
• Nos períodos de maior lotação,
dezesseis pessoas morriam a cada
dia. Morriam de tudo — e também
de invisibilidade. Ao morrer,
davam lucro. Entre 1969 e 1980,
1.853 corpos de pacientes do
manicômio foram vendidos para
dezessete faculdades de medicina
do país, sem que ninguém
questionasse.
• Quando houve excesso de
cadáveres e o mercado encolheu,
os corpos foram decompostos em
ácido, no pátio do Colônia, na
frente dos pacientes, para que as
ossadas pudessem ser
comercializadas. Nada se perdia,
exceto a vida.
• Homens, mulheres e crianças,
às vezes, comiam ratos, bebiam
esgoto ou urina, dormiam
sobre capim, eram espancados
e violados, eram obrigados a
trabalhar em funções pesadas e
sem remuneração.
• Nas noites geladas da serra da
Mantiqueira, eram atirados ao
relento, nus ou cobertos
apenas por trapos. Os
pacientes do Colônia morriam
de frio, de fome, de doença.
• Morriam também de choque.
Em alguns dias, os
eletrochoques eram tantos e
tão fortes, que a sobrecarga
derrubava a rede do município.

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