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Lições nos 29, 30 e 31: Derivadas parciais.

Matriz
Jacobiana. Diferenciabilidade, linearização e plano
tangente. Relações entre os conceitos de classe C1,
diferenciabilidade e continuidade1
Derivadas parciais
Recordemos que para funções de uma variável real, f : I ⊂ R → R, temos a
seguinte definição de derivada num ponto a ∈ I,
f (a + h) − f (a)
f 0 (a) = lim .
h→0 h
A existência de f 0 (a) equivale à existência da recta (não vertical) tangente ao
gráfico de f em (a, f (a)), sendo f 0 (a) o valor do seu declive (ou em notação
vectorial sendo (1, f 0 (a)) um seu vector director).
y
a)
f(

y = f (x)
+
a)
x−
a)(

f (a)
f 0(
y=

x
a

Não menos importante que a interpretação geométrica da derivada é


reconhecer que o valor da derivada de f em a, f 0 (a), pode ser interpretado
como a taxa de variação de f em a.

A derivada de uma função y = f (x) denota-se por y 0 ou


df dy
f 0 (x) ou ou ainda por .
dx dx

A generalização do conceito de derivada para funções de várias variáveis


não é imediata.
Para funções de mais do que uma variável comecemos por definir as
chamadas derivadas parciais, ou seja, comecemos por estudar a variação
da função de uma variável, dita parcial, que se obtém, considerando a(s)
outra(s) variáveis constante(s).
Seja z = f (x, y) definida num aberto D ⊂ R 2 e (a, b) ∈ D.
Se fixarmos, por exemplo, a variável y = b (b constante) obtemos uma
função z = f (x, b) de apenas uma variável x. Geometricamente isto corre-
sponde a seccionar a superfı́cie z = f (x, y) pelo plano y = b.
1
Adaptadas das folhas de apoio da disciplina de Análise Matemática II.

1
z

(1, 0, fx0 (a, b))


z = f (x, y)

z = f (x, b)

b y

Plano y = b

A derivada de z = f (x, b) em x = a é

df (x, b) f (a + h, b) − f (a, b)
(a) = lim ,
dx h→0 h
que é precisamente a derivada parcial de f em ordem a x no ponto (a, b), e
que se denota por ∂f 0
∂x (a, b) ou por fx (a, b), isto é,

f (a + h, b) − f (a, b)
fx0 (a, b) = lim .
h→0 h

O valor de fx0 (a, b) é o declive da recta do plano y = b,


tangente à curva z = f (x, b) em (a, b, f (a, b)). Em R3 essa
recta tem vector director (1, 0, fx0 (a, b)).
O valor de fx0 (a, b) é também a taxa de variação de f no
ponto (a, b) na direcção do eixo dos xx.

Analogamente se define derivada parcial em ordem à variável y no ponto


∂f
(a, b) que se denota por (a, b) ou por fy0 (a, b). Se fixarmos x = a obtemos
∂x
uma função z = f (a, y) de apenas uma variável y, cuja derivada em y = b é
precisamente

f (a, b + h) − f (a, b)
fy0 (a, b) = lim .
h→0 h

2
z

z = f (a, y)

Plano x = a (0, 1, fy0 (a, b))

b y

z = f (x, y)
x

O valor de fy0 (a, b) é o declive da recta do plano x = a,


tangente à curva z = f (a, y) em (a, b, f (a, b)). Em R3 essa
recta tem vector director (0, 1, fy0 (a, b)).
O valor de fy0 (a, b) é também a taxa de variação de f no
ponto (a, b) na direcção do eixo dos yy.

Na maior parte dos casos, as derivadas parciais calculam-se recorrendo às


regras de derivação conhecidas para funções de uma variável, considerando
a outra variável como uma constante.

Exemplos
1. Pretende-se calcular fx0 (1, 2) e fy0 (1, 2), para f (x, y) = 2x + 3y. Recor-
rendo às regras usuais de derivação vem

fx0 (x, y) = (2x + 3y)0x = (2x)0x + (3y)0x = 2 + 0 = 2,


fy0 (x, y) = (2x + 3y)0y = (2x)0y + (3y)0y = 0 + 3 = 3.

Em particular temos fx0 (1, 2) = 2 e fy0 (1, 2) = 3. Note que (3y)0x = 0


uma vez a expressão 3y é “constante relativamente a x” (a variável x
não figura nessa expressão). Analogamente, (2x) 0y = 0 uma vez que a
expressão 2x é “constante relativamente a y”.
Podemos também determinar estas derivadas parciais recorrendo à
definição. Tem-se:

f (1 + h, 2) − f (1, 2)
fx0 (1, 2) = lim
h→0 h
2(1 + h) + 6 − (2 · 1 + 6)
= lim
h→0 h
2h
= lim = 2,
h→0 h

3
e,
f (1, 2 + h) − f (1, 2)
fy0 (1, 2) = lim
h→0 h
2 · 1 + 3(2 + h) − (2 + 6)
= lim
h→0 h
3h
= lim = 3.
h→0 h

2. Pretende-se calcular fx0 (1, 2) e fy0 (1, 2), para f (x, y) = x2 y + y 3 . Se


considerarmos uma das variáveis constante e derivarmos em ordem à
outra obtemos2

fx0 (x, y) = (x2 y + y 3 )0x = y(x2 )0x + (y 3 )0x = 2xy + 0 = 2xy,


fy0 (x, y) = (x2 y + y 3 )0y = x2 (y)0y + (y 3 )0y = x2 · 1 + 3y 2 = x2 + 3y 2 .

Os valores fx0 (1, 2) e fy0 (1, 2) obtêm-se substituindo x por 1 e y por 2.


x
3. Se, por exemplo, f (x, y) = exy + , obtemos
y
∂f 1
(x, y) = fx0 (x, y) = y exy + ,
∂x y
∂f x
(x, y) = fy0 (x, y) = x exy − .
∂y y2

4. Por vezes há necessidade de recorrer à definição de derivada parcial.


Consideremos a função definida em R 2 por
( 2
3x y−y
x2 +y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0).

Notemos que a função não pode ser definida em (0, 0) e em pontos


próximos de (0, 0) por uma única expressão. Temos então que

6(xy)(x2 +y 2 )−(3x2 y−y)2x

 (x2 +y 2 )2 , (x, y) 6= (0, 0)
∂f
(x, y) =
∂x 
limh→0 f (0+h,0)−f (0,0)
= limh→0 h02 h , (x, y) = (0, 0).

h

6xy 3 +2xy
 (x2 +y2 )2 , (x, y) 6= (0, 0)

=

 0, (x, y) = (0, 0).
2
Podemos também determinar as derivadas parciais da seguinte forma: fixando y = 2
obtém-se a função de uma variável f (x, 2) = 2x2 + 8. Portanto
fx0 (1, 2) = (2x2 + 8)0 |x=1 = (4x)|x=1 = 4.
Analogamente fixando x = 1 tem-se f (1, y) = y + y 3 e
fy0 (1, 2) = (y + y 3 )0 |y=2 = (1 + 3y 2 )|y=2 = 13.

4
Analogamente,

(3x2 −1)(x2 +y 2 )−(3x2 y−y)2y

 (x2 +y 2 )2
, (x, y) 6= (0, 0)
∂f
(x, y) =
∂y 
 f (0,0+h)−f (0,0) −h
limh→0 h = limh→0 h2
, (x, y) = (0, 0).

3x4 −3x2 y 2 −x2 +y 2

 (x2 +y 2 )2
, (x, y) 6= (0, 0)
=

 ∞, (x, y) = (0, 0).

Observe-se que

Dom(fx0 ) = Dom(f ) = R2 , Dom(fy0 ) = R2 \ {(0, 0)}.

Obviamente fx0 e fy0 só se definem em pontos do domı́nio de


f , isto é, os domı́nios de fx0 e fy0 estão contidos no domı́nio
de f .

Uma vez que fx0 e fy0 são funções de duas variáveis podemos geralmente
derivá-las parcialmente obtendo as derivadas parciais de 2 a ordem para f e
assim sucessivamente.
A notação utilizada é a seguinte:
Derivadas parciais: de 1a ordem de 2a ordem de 3a ordem etc . . .
3
∂ f
fx0003 = ∂x3
∂2 f
fx002 = ∂x2
∂3 f
fx0002 y = ∂x2 ∂y
∂f
fx0 = ∂x
000 ∂3 f
fxyx = ∂x∂y∂x
00 ∂2 f
fxy = ∂x∂y
000 ∂3 f
fxy 2 = ∂x∂y 2
f
000 ∂3 f
fyx 2 = ∂y∂x2
00 ∂2 f
fyx = ∂y∂x
000 ∂3 f
fyxy = ∂y∂x∂y
∂f
fy0 = ∂y
∂3 f
fy0002 x = ∂y 2 ∂x
∂2 f
fy002 = ∂y 2
∂3 f
fy0003 = ∂y 3

5
Exemplo
Vamos determinar as derivadas parciais de 2 a ordem para f (x, y) = x log y
definida em Df = {(x, y) : y > 0}. Tem-se para todo (x, y) ∈ D f ,
fx002 = 0

fx0 = log y

00 1
fxy = y
f = x log y
00 1
fyx = y

x
fy0 = y

fy002 = − yx2

Matriz jacobiana
Seja f : Df ⊂ R2 → R uma função definida num aberto D f . Seja (a, b) ∈ Df
tais que existem
∂f ∂f
(a, b) = fx0 (a, b), (a, b) = fy0 (a, b).
∂x ∂y

Chamamos matriz jacobiana de f em (a, b) à matriz das derivadas parciais


de f em (a, b), ou seja,
 
∂f ∂f
Jf (a, b) = (a, b) (a, b) .
∂x ∂y 1×2

Em geral, consideremos uma função vectorial f~ : Df~ ⊂ Rn → Rm ,


f~ = (f1 , . . . , fm ), definida num aberto D f~ e seja (a1 , . . . , an ) ∈ Df~ tais que
existem todas as derivadas parciais,
∂fi
(a1 , . . . , an ), i = 1, . . . , m, j = 1, . . . , n.
∂xj

Chamamos matriz jacobiana de f~ em (a1 , . . . , an ) à matriz do tipo m × n,


das derivadas parciais das componentes de f~ em (a1 , . . . , an ), ou seja,
 ∂f ∂f1 ∂f1

∂x1
1
∂x2 · · · ∂x n
 
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 ∂x1 ∂x2 · · · ∂xn 
 
Jf~(a1 , . . . , an ) = 
 .
 (a1 , . . . , an ).
 . .. .. .. 
 . . . . 
 
 
∂fm ∂fm ∂fm
∂x1 ∂x2 · · · ∂xn

6
Note que  
Jf1 (a1 , . . . , an )

 Jf2 (a1 , . . . , an ) 

Jf~(a1 , . . . , an ) =  .. .
 . 
Jfm (a1 , . . . , an )

Exemplo
Consideremos a função vectorial f~ = (f1 , f2 , f3 ) : R2 → R3 , definida por
 p 
~ y) = 2x − y , ey , x2 + y 2 + 1 .
f(x,
| {z } |{z} | {z }
f1 (x,y) f2 (x,y) f3 (x,y)

Tem-se
 ∂f1 ∂f1   
∂x ∂y 2 −1
   
   
∂f2 ∂f2

Jf~(x, y) =  ∂x ∂y

 (x, y) = 
 0 ey .

   
 
∂f3 ∂f3 x y
∂x ∂y x2 +y 2 +1 x2 +y 2 +1

Diferenciabilidade, linearização e plano tangente


Comecemos por recordar que uma função real de uma variável real diz-se
derivável (ou diferenciável) num ponto a se existir
f (x) − f (a)
f 0 (a) = lim .
x→a x−a
Reescrevendo esta última expressão obtemos
 
f (x) − f (a) 0
lim − f (a) = 0,
x→a x−a
ou seja,  
f (x) − (f 0 (a)(x − a) + f (a))
lim = 0.
x−a→0 x−a
Esta igualdade significa que

R(x) = f (x) − (f 0 (a)(x − a) + f (a)),

se aproxima de zero “mais depressa” que x − a, isto é, a recta tangente é


uma boa aproximação linear da função f numa vizinhança de a. A função
L(x) = f (a) + f 0 (a)(x − a) é designada por linearização de f em a.
É a generalização deste comportamento para funções de duas variáveis
que nos vai conduzir à definição de diferenciabilidade.
É natural esperar que uma função de duas variáveis seja diferenciável
num ponto se existir o plano tangente ao seu gráfico nesse ponto.
O plano tangente a z = f (x, y) em (a, b) deverá conter as rectas tangentes
às curvas z = f (x, b) e z = f (a, y). Sabemos que

(1, 0, fx0 (a, b)) e (0, 1, fy0 (a, b)),

7
são os vectores directores dessas rectas tangentes. Logo o referido plano terá
vector normal dado pelo produto externo dos dois vectores directores:
~n = (1, 0, fx0 (a, b)) × (0, 1, fy0 (a, b)) = (fx0 (a, b), fy0 (a, b), −1),
e equação cartesiana
z = f (a, b) + fx0 (a, b)(x − a) + fy0 (a, b)(y − b).
Chamamos linearização de f em (a, b) à função
L(x, y) = f (a, b) + fx0 (a, b)(x − a) + fy0 (a, b)(y − b).

Definição 1 Sejam f : D ⊂ R2 → R, D um conjunto aberto e (a, b) ∈ D.


A função f diz-se diferenciável em (a, b) se:
1. Existirem fx0 (a, b) e fy0 (a, b),
f (x, y) − L(x, y)
2. lim = 0.
(x,y)→(a,b) k(x, y) − (a, b)k
Note que a segunda condição é equivalente a dizer que a função z = f (x, y)
pode ser bem aproximada, perto do ponto (x, y), pela função mais simples
z = L(x, y).

Definição 2 Se f for diferenciável em (a, b) então o plano de equação,

z = f (a, b) + fx0 (a, b)(x − a) + fy0 (a, b)(y − b),

é designado por plano tangente ao gráfico de f em (a, b, f (a, b)).

A segunda condição da definição de diferenciabilidade garante que para


pontos (x, y) próximos de (a, b) o plano tangente é uma boa aproximação
linear do gráfico de f .
z

z = fx0 (a, b)(x − a) + fy0 (a, b)(y − b) + f (a, b)

z = f (x, y)

b y

8
Exemplos
1. Consideremos a função
(
2xy
x2 +y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0, (x, y) = (0, 0).

Para estudar a diferenciabilidade de f no ponto (0, 0) comecemos por


calcular as derivadas parciais de f nesse ponto. Tem-se
f (h, 0) − f (0, 0) 0
fx0 (0, 0) = lim = lim = 0.
h→0 h h→0 h

De forma análoga concluı́mos que fy0 (0, 0) = 0. Logo L(x, y) = 0.


Vejamos então se existe e qual o valor de
f (x, y) − L(x, y) 2xy
lim = lim p .
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)k (x,y)→(0,0) (x + y ) x2 + y 2
2 2

Se calcularmos o limite ao longo da recta y = x obtemos


2x2
lim √ = ∞.
x→0 2x2 2x2

Daqui resulta que o limite anterior não é zero (de facto, o limite não
existe) e portanto que f não é diferenciável em (0, 0).

2. Mostremos agora que



x2 y 3

 x2 +y 2
, (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =

 0, (x, y) = (0, 0),

é diferenciável em (0, 0).


Como f (0, 0) = fx0 (0, 0) = fy0 (0, 0) = 0 tem-se L(x, y) = 0. Falta
mostrar que
x y 2 3
f (x, y) − L(x, y) x2 +y 2
−0
lim = lim p = 0.
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)k (x,y)→(0,0) x2 + y 2
Ora,


x2 y 3
|x|2 |y|3
p − 0 = p
(x2 + y 2 ) x2 + y 2 (x2 + y 2 ) x2 + y 2
k(x, y)k5

k(x, y)k3
(x,y)→(0,0)
= k(x, y)k2 = x2 + y 2 −−−→ 0.
f (x, y) − L(x, y)
Logo existe lim = 0. Neste caso, a equação do
(x,y)→(0,0) k(x, y) − (0, 0)k
plano tangente ao gráfico de f no ponto (0, 0, 0) é z = 0.

9
A relação entre os conceitos de continuidade e de diferenciabilidade de
uma função de duas (ou mais) variáveis é expressa no seguinte teorema
(análogo ao que foi anteriormente estudado para funções de uma variável).

Teorema 1 Se f é diferenciável em (a, b) então f é contı́nua em (a, b).

A não continuidade de f num ponto (a, b) implica portanto a não difer-


enciabilidade de f em (a, b). Note no entanto que se f é contı́nua em (a, b)
nada se pode concluir sobre a diferenciabilidade de f em (a, b).

Exemplo
2xy
Deixamos ao cuidado do leitor mostrar que a função f (x, y) = não
x2
+ y2
é contı́nua no ponto (0, 0). Do teorema anterior resulta que f (x, y) também
não diferenciável nesse ponto.

Vamos enunciar em seguida um teorema que, em muitos casos, torna


simples o estudo da diferenciabilidade de uma função.

Definição 3 Uma função f diz-se de classe C 1 num subconjunto aberto A


do seu domı́nio, e escreve-se f ∈ C 1 (A), se f tiver derivadas parciais f x0 e fy0
contı́nuas em A.

Analogamente se define f ∈ C 2 (A), f ∈ C 3 (A), . . . , se


respectivamente, as derivadas parciais até à 2a ordem, 3a
ordem, . . . , forem contı́nuas em A. Note que f ∈ C 0 (A)
significa simplesmente que f é contı́nua em A.

A importância desta definição deve-se sobretudo ao seguinte teorema.

Teorema 2 Se f ∈ C 1 (Df ) então f é diferenciável em Df .

O seguinte resultado diz-nos que as funções polinomiais e racionais têm


derivadas parciais contı́nuas de qualquer ordem em todos os pontos do
domı́nio. Em particular são diferenciáveis nesses pontos.

Teorema 3 As funções polinomiais são de classe C k (R2 ), com k arbitrário.


As funções racionais são de classe C k , k arbitrário, em todos os pontos de
R2 que não anulam o denominador.

Exemplos
1. A função f (x, y) = x2 + xy 2 é de classe C 1 (R2 ). Em particular é
diferenciável em todos os pontos de R 2 .
y
2. f (x, y) = é de classe C 1 (Df ) com Df = {(x, y) : x 6= ±1}.
x2 − 1
Em particular é diferenciável em todos os pontos de R 2 que não estão
sobre as duas rectas verticais de abcissas x = 1 e x = −1.

10
Exemplos
1. Vimos no exemplo acima que f (x, y) = x 2 + y 2 era de classe C 1 em
R2 , logo f é diferenciável em R2 .

2. Vimos num dos exemplos anteriores que


( 2 3
x y
f (x, y) = x2 +y 2 , (x, y) 6= (0, 0)
0, (x, y) = (0, 0),

era diferenciável em (0, 0). Fora de (0, 0), f é dada por uma expressão
racional cujo denominador não se anula. Logo é diferenciável para
todos os pontos (x, y) 6= (0, 0). Mais precisamente, se (x, y) 6= (0, 0)
temos que

2xy 3 (x2 + y 2 ) − x2 y 3 2x
fx0 (x, y) = , (x, y) 6= (0, 0),
(x2 + y 2 )2
e
3x2 y 2 (x2 + y 2 ) − x2 y 3 2y
fy0 (x, y) = , (x, y) 6= (0, 0),
(x2 + y 2 )2
são 2 funções racionais cujo denominador não se anula. Daqui resulta
que fx0 e fy0 são funções contı́nuas em R2 \ {(0, 0)} e portanto que f é
diferenciável em R2 \ {(0, 0)}. Como já tı́nhamos provado, utilizando
a definição, que f também era diferenciável em (0, 0) concluı́mos que
f é diferenciável em R2 .

Definição 4 Para f diferenciável em (a, b) define-se derivada de f em (a, b)


como a matriz linha das suas derivadas parciais em (a, b) e representa-se

f 0 (a, b) = [fx0 (a, b) fy0 (a, b)].

Exemplos
1. Considere a função diferenciável em R 2 , f (x, y) = y 2 sin x. A derivada
π 
de f em , 1 é
2
π 
f0 , 1 = [y 2 cos x 2y sin x]( π ,1) = [0 2].
2 2

(
x2 y 3
(x, y) 6= (0, 0)
x2 +y 2
,
2. Como vimos no exemplo acima, f (x, y) = ,
0, (x, y) = (0, 0),
é diferenciável em todos os pontos de R 2 . Pelos cálculos acima,

f 0 (x, y) = [fx0 (x, y) fy0 (x, y)]


 
2xy 3 (x2 + y 2 ) − x2 y 3 2x 3x2 y 2 (x2 + y 2 ) − x2 y 3 2y
= ,
(x2 + y 2 )2 (x2 + y 2 )2

se (x, y) 6= (0, 0) e f 0 (0, 0) = [0 0].

11
A generalização do conceito de derivada para funções vectoriais é agora
muito simples.

Definição 5 Consideremos uma função vectorial definida num aberto D f~,

f~ = (f1 , . . . , fm ) : Df~ ⊂ Rn → Rm ,

e seja a = (a1 , . . . , an ) ∈ Df~.


Dizemos que f~ é diferenciável em a se f1 , . . . , fm forem todas difer-
enciáveis em a e nessa altura chamamos derivada de f~ em a a
 ∂f ∂f1 ∂f1

1
∂x1 ∂x2 · · · ∂x n
 
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2 
 ∂x1 ∂x2 · · · ∂xn 
 
~ 0
f (a) = Jf~(a) =    (a1 , . . . , an ).

 .. .. .. .. 
 . . . . 
 
 
∂fm ∂fm ∂fm
∂x1 ∂x2 · · · ∂xn

Note que f~ 0 (a) = (f10 (a), . . . , fm


0 (a)). Analogamente se define função de
k
classe C , etc. . . As relações entre continuidade, diferenciabilidade e classe
C 1 enunciadas atrás mantêm-se válidas para as funções vectoriais.

Exemplo
Voltemos ao exemplo f~ = (f1 , f2 , f3 ) : R2 → R3 , definida por
 p 
~ y) = 2x − y , ey , x2 + y 2 + 1 .
f(x,
| {z } |{z} | {z }
f1 (x,y) f2 (x,y) f3 (x,y)

Tem-se
 ∂f1 ∂f1   
∂x ∂y 2 −1
   
   
∂f2 ∂f2

Jf~(x, y) =  ∂x ∂y

 (x, y) = 
 0 ey .

   
 
∂f3 ∂f3 x y
∂x ∂y x2 +y 2 +1 x2 +y 2 +1

Como as derivadas parciais de f~ são todas funções contı́nuas, f~ é uma função


de classe C 1 (R2 ) e portanto diferenciável em todos os pontos de R 2 . Logo
existe f~ 0 (x, y) = Jf~(x, y) para (x, y) ∈ R2 .

12

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