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Manu QEOC
Direitos autorais do texto original©
Todos os direitos reservados
Para meus amados leitores.
Quantos amores se pode ter nessa vida? Uma nova chance
para aquele relacionamento antigo que abalou suas estruturas ou
um novo amor que surge do nada e te arrebata por completo? Essa
é uma história de amor, só basta saber quem será a dona do coração
do nosso príncipe.
Índice
Tiro a queima roupa
Presa?
Mas já?
Uma noite diferente
Casal bagaceira
Família é família
Cada barco furado
Reza a lenda
Mais uma noite de...
Um belo contato
10 dias depois
Um romântico jantar a dois
Mais dois belos meses se conhecendo
Encontros e desencontros
A dor da defesa necessária
Após a tempestade...
Porra, cacete, caralho!
Ostras e outras artes
Epílogo
Três anos depois
Tiro a queima roupa
— Eu juro que eu sou o cara para a maratona sexual que você acabou
de narrar, mas só para saber, quanto tempo você tem em mente para o caso de
eu ter que cancelar meus compromissos da próxima semana?
— Relaxa garoto bonito, eu não sou tão compulsiva por sexo quanto
pode ter parecido. Pelo menos não sempre. — Nós chegamos em frente ao
meu carro e ficamos frente a frente. — A intenção era mais me livrar do
embuste do meu ex, que não entende o significado da palavra não.
— Núbia, existem assuntos sérios nessa vida, sexo é um deles! Na
verdade, sexo comigo é um deles! Você pode rasgar meu coração em mil
pedaços se me falar agora que tudo não passou de uma encenação para o
imbecil.
— Relaxa, você supera, a gente sabe que você é forte. Além disso, eu
ainda não decidi se você não é um idiota camuflado. Isso sem contar que nós
mal trocamos dez frases nessa vida.
— Se a gente trocar mais que dez frases nessa vida, possivelmente,
você vai apurar que eu sou efetivamente um idiota explícito. Sem contar que
eu não tenho nenhum problema em reconhecer que estou desesperado para
atualizar as definições de uma foda bem dada. Plano este esboçado por você.
Além disso, é cientificamente comprovado que frustações sexuais podem
causar provável morte súbita. Você não vai querer carregar essa culpa para o
resto da sua vida!
— Eu não aprendi isso na Universidade.
— Eles só ensinam bobagens lá, vai por mim. Nada relevante!
— Eu passei as últimas cinco horas quase presa, então vamos comer
algo e parar de fazer graça. Combinado?
— Combinado, desde que eu possa te beijar.
— Não.
— Não acho isso justo.
— A maioria da população mundial vive uma existência da mais
completa injustiça, acostume-se.
— Eis uma mulher de opinião.
— Com toda certeza. Mas eu reconheço que é até convidativa a ideia
de deixar minha boca passear nesse seu corpo massa a noite toda.
— Você curte me sacanear não é mesmo? Sério, isso foi maldade do
mais alto nível.
— Na verdade, é só um trecho de uma das minhas músicas preferidas.
— Então ela vai virar o seu toque no meu celular.
— A gente pode tirar uma foto dos meus peitos para combinar.
— Sério?
— Não, mas eu agradeço se você mandar um nude seu. Sabe como é,
sempre é bom guardar uma lembrancinha para a posteridade.
— Uma foto do meu pau não abre espaço para qualquer diminutivo
mulher!
— Vou manter isso em mente. — Ela se aproxima e dá um selinho no
canto direito da minha boca. — Reconheço que esse detalhe não deixa de ser
uma boa perspectiva.
— Puta que o pariu! A culpa é sua se eu me apaixonar por você.
— Alguns já caíram nesse erro rapaz, sabe como é, muito charme
reunido dá nisso. — Ela sorri com a suposta brincadeira, mas eu acho que
essa fala não passa da mais pura verdade.
Ela é toda gostosa, alta, por volta de um metro setenta e cinco, cheia
de curvas e com uma pele cor de chocolate tão gostosa que dá vontade de
lamber cada centímetro do seu corpo.
— Eu só espero sobreviver a todo esse charme. Mas, em todo caso,
pelo visto eu tenho que te alimentar primeiro.
— Bem pensado — ela pondera com um sorriso gostoso nos lábios.
— Acho que você pode facilmente me enlouquecer Núbia.
— Está aí uma verdade garoto bonito.
Por mais difícil que tenha sido, eu consegui dirigir para o restaurante
mais próximo que eu conheço. É o Nagô, um bar e restaurante do Joaquim,
que funciona madrugada adentro.
— Boa noite Doutor Henrique. — O recepcionista me reconhece, o
que é justificável, considerando as tantas vezes que eu vim com o Joaquim.
— Boa noite, nós queremos uma mesa para dois.
— Estamos lotados, mas a mesa privativa do Doutor Joaquim está
vazia, vamos que eu acompanho os senhores, ele não virá hoje.
Nós somos acomodados em um ambiente extremamente aconchegante
longe do agito da parte mais próxima do bar.
— O novo chefe de cozinha estreou esta semana na casa, gostariam de
alguma recomendação? — o garçom, que veio até nossa mesa nos atender,
indaga.
— Tudo bem se nós pedirmos a especialidade do chefe? — eu
pergunto para a Núbia, querendo ficar o mais breve possível sozinho com
essa mulher. Ela concorda sem pedir mais detalhes e o garçom anota nossas
bebidas indo embora logo em seguida.
— Eu acho que essa noite foi consideravelmente agitada. Quebrando
o nariz de uma doida sequestradora de bebês, sendo quase presa,
reencontrando e dispensando um ex.
— Roubando selinho.
— Convenhamos que você esboçou uma certa expectativa em relação
a isso Henrique.
— O problema não foi quase me beijar, foi não deixar eu retribuir.
— Calma garoto bonito.
— Você gostou de me chamar assim, não é mesmo?
— Acho apropriado. Convenhamos que você é bonito até demais.
— Nisso eu tenho que concordar.
— Nossa, que Narciso! Normalmente, as pessoas diriam são seus
olhos, imagine, algo do gênero.
— Eu não sou como a maioria das pessoas e nem você é.
— Nisso eu tenho que concordar garoto bonito.
— Sim, mas minha objeção está na parte do garoto. Não se engane
com o meu humor e com as bobagens recorrentes que eu falo. Tirando isso,
eu te garanto que aqui está um homem na sua frente, minha falta de
maturidade não atinge todos os âmbitos da minha personalidade, portanto
posso ser considerado uma boa pessoa, a qual não gosta de brincar com a
vida e os sentimentos dos outros.
Seu olhar me diz que ela não toma minhas palavras como uma
verdade completa. O que me traz a certeza que Núbia já viveu muito nessa
vida, circunstâncias que podem ter contribuído para a sua constante
desconfiança.
Mas antes que ela fale alguma coisa, nossos pratos chegam. O garçom
coloca os pratos ainda tampados em frente a cada um de nós e vai embora
logo em seguida.
— Eu devia ter saindo com o Marcão, segurança do condomínio do
Joaquim! — ela diz horrorizada olhando para o prato.
— Oi? — pergunto.
— Pelo menos ele não me traria para comer lesma! Eu não vou comer
esse treco nojento não Henrique. Nem ferrando!
— São ostras.
— Sim, lesmas marinhas! Exatamente o que eu falei. Pelo amor de
Cristo, quem consegue comer esse troço horrível? Se eu tivesse algo no
estômago eu teria vomitado tudo nesse exato momento, na sua cara
merecidamente eu diria!
— A gente pode pedir outra coisa — digo rindo da sua repulsa
evidente. — Deus me livre ser trocado pelo tal Marcão, isso sem contar que
eu não estou interessado em virar alvo de vômito.
— Você gosta dessas coisas?
— Sim.
— Cacete! Vamos combinar assim, das próximas vezes que a gente se
encontrar aleatoriamente, cada um já sai jantado de casa.
— Gostei da perspectiva de repetição, mas calma mulher, eu vou
chamar o garçom, a gente não precisa de atitudes extremas.
— Só se for para pedir a conta, eu vou comer em outro lugar.
— É sério isso?
— Sim, eu preciso de ar depois dessa coisa nojenta. Vamos torcer
para que a minha ânsia de vômito passe até a gente chegar em algum outro
lugar.
— Juro que é primeira vez que uma mulher fala tantas vezes sobre
vômito em um encontro comigo, quer dizer em um “não encontro comigo”.
— Claro garoto bonito, as gatinhas que você sai devem ser meninas
ricas acostumadas a comer coisas nojentas simplesmente porque um outro
rico estranho disse que isso era bom. Eu, ao contrário, não nasci em berço de
ouro e não vou colocar na boca essa coisa escrota só para te agradar.
— Tudo bem gata selvagem, você decide.
— Agora vamos logo que eu estou morrendo de fome. Vai pagar a
conta por esse treco horroroso e, provavelmente, caro a ponto de ser uma
extorsão, que eu vou te levar para comer algo decente em um lugar que eu
tenha condições de me alimentar e pagar por minha própria refeição.
— Você não precisa pagar nada, eu faço questão.
— Agiliza doutor e tenha em mente que eu pago as minhas próprias
despesas. — Diante disso eu simplesmente decido não discutir e pago a conta
para que possamos ir embora.
Uma noite diferente
Depois da noite de ontem eu agradeço aos céus por não ter plantão
nesse sábado. Nem preciso dizer que foi difícil dormir e muito mais difícil
ainda tirar aquela mulher da minha cabeça. Seu beijo me incendiou por
completo por mais breve que tenha sido. Sinceramente, dormir de pau duro
não é algo muito agradável e punheta mais instiga que satisfaz.
São onze horas da manhã e, ao me deparar com uma geladeira cheia
de vento, a melhor decisão foi vir para a casa da minha mãe.
— Ora, ora, vocês não cansam de ficar assim grudados não. Já deu
né! Solta a minha mãe.
— Você sabe que sua mãe é minha esposa e que eu sempre posso
fazer um testamento que te prejudique.
— Isso são detalhes. Vem aqui amor da minha vida — digo puxando
minha mãe pela mão, que estava deitada com a cabeça no colo do meu pai no
sofá da sala. Ela abre um sorriso ainda maior e eu a pego no colo.
— Tá doido menino! — ela grita.
— Por você, a senhora vai ficar abraçadinha nesse outro sofá e
comigo. — Eu sento no sofá e ela se aconchega nos meus braços.
— Filhos para que tê-los?
— Que horror paixão! — minha mãe repreende o Seu Nelson.
— Para de chamar esse cara assim na minha frente.
— Ai meu Deus, eu vou bater em vocês dois!
— Vai nada — eu e meu pai falamos ao mesmo tempo.
— Cadê a minha irmãzinha?
— Foi correr no condomínio! Você acredita? Não sei o que
aconteceu, ela até deu um sorriso hoje. Um sorriso filhote da mãe, de
verdade, contido, mas um sorriso.
— Eu sei bem o que aconteceu.
— Como assim? — meu pai pergunta.
— Ela advogou ontem.
— Como assim? — minha mãe quase berra de tanta euforia e eu
acabo explicando tudo que se passou ontem à noite.
— Eu passei o último ano tentando de todas as formas fazer ela se
interessar novamente pelo direito, mas ela não tinha esboçado nenhum
interesse.
— Acho que a Núbia é mais persuasiva que o senhor.
— Eu preciso agradecer esse anjo! Um jantar, é isso, eu vou fazer um
jantar em homenagem a ela.
— Cida, eu também estou muito feliz, mas temos que ir com calma,
não podemos fazer um alarde que possa assustar a Amanda.
— Você tem razão — minha mãe fica pensativa —, já sei, não vamos
fazer um jantar em homenagem a ela.
— Acho que é melhor mesmo — pondero.
— Claro, você vai chamá-la para jantar conosco hoje à noite! Pronto,
resolvido o problema, a Amanda não precisa saber a razão do jantar.
— Isso seria uma mentira Dona Cida.
— Ai Henrique me poupe, existem mentiras maldosas e mentirinhas
bobas. Não me venha com repreensões indevidas.
— Andam me dizendo isso ultimamente.
— Eu só sei que será bom para a Amanda ficar perto desse anjinho de
menina.
— Mãe eu acho que anjinho não é bem uma definição para a Núbia e
eu tenho plena certeza que ela não vai aceitar um convite meu para jantar na
casa dos meus pais.
— É óbvio que ela é um anjo, ela salvou uma criança de um rapto,
trouxe sua irmã para a luz, ela só pode ser uma criatura enviada dos céus.
Pelo amor de Deus, com todos esses atributos que Deus te deu é impossível
que você não consiga convencer uma moça a vir em um jantar na casa dos
seus pais. Seu pai me convence de tudo que ele quer desde o primeiro
momento que eu o conheci.
— Menos informação, por favor! — Eu suspiro e ela senta de frente
para mim. — Mãe, a Núbia é uma mulher independente, dona do próprio
nariz, que mal me deu espaço para encontrá-la em um evento coletivo. Não é
como se ela quisesse conhecer meus pais no dia seguinte que a gente se
encontrou pela primeira vez. Sem contar que isso soaria estranho para
qualquer pessoa normal.
— Acho que nosso filho tem razão Cida.
— Verdade, precisamos de munição mais pesada. Eu vou ligar para
ela.
— Jamais!
— Henrique ouça bem. Eu vou falar com ela, ou você liga para essa
moça maravilhosa e me passa o telefone ou eu ligo para a Alice e consigo o
telefone dela. Qual você prefere?
— Sinceramente às vezes eu acho que o Seu Nelson deveria te trancar
em um hospício.
— Certeza que ele prefere me trancar em outro lugar.
— Eu não acordei para ouvir esse tipo de coisa não mãe! —
Estômago seja forte.
— Liga que eu paro.
— Tudo bem, mas deixa que eu falo com ela em particular primeiro.
Eu respiro fundo e antevejo o constrangimento que me espera. Após
uma forte respiração, que tinha pretensão de ser encorajadora, porém falhou
miseravelmente, eu pego o celular e ligo para a Núbia após sair da sala.
No quinto toque ela atende.
— Eu durmo até tarde no sábado e a sua sorte é que o Joaquim me
liberou hoje.
— Desculpa, mas é que eu estou em uma situação bem complicada
nesse momento.
— Por todos os santos e orixás, não vai dizer que alguém está
querendo te raptar e você quer que eu te salve!?
— Um pouco pior que isso — respiro fundo, novamente, sem
qualquer resultado prático e calmante —, então...
— Meu alarme de furada acabou de disparar. Toda vez que alguém
começa uma frase com um então, lá vem bomba!
— Então, você tem razão.
— Fala logo Henrique.
— A minha mãe quer que você jante aqui em casa.
— Oi?
— Exatamente o que você ouviu.
— Não.
— Me ouve.
— Não.
— Por favor, Núbia.
— Eu vou desligar.
— É sério mulher.
— Sim, é sério, com toda a certeza, você precisa de tratamento.
Stalker, eis seu sobrenome. Um encontro e você quer me levar para conhecer
seus pais. Jamais!
— Não é bem assim.
— É assim que parece.
— Me dá um minuto para eu explicar.
— Cinquenta e nove, cinquenta e oito, aproveita os segundos, pois o
tempo está passando e eu vou desligar o telefone.
— Minha irmã demonstrou uma melhora considerável hoje pela
manhã, por isso minha mãe achou que seria legal ela ter mais contato contigo.
— Seu tempo acabou. — Minha mãe surge ao meu lado e toma o
telefone da minha mão, colocando-o no viva-voz.
— Oi Núbia, tudo bem? Aqui quem fala é a Cidinha, mãe do
Henrique. — Um silêncio se instaura e eu suponho que ela interrompeu a
ligação. — Oi anjinho, você está ainda aí?
— Olá, tudo bem com a senhora?
— Tô bem sim meu anjinho, eu sei que você não me conhece, mas eu
te tenho em melhor estima, você fez o que nós não conseguimos fazer em
muito tempo, por isso eu queria muito que você viesse hoje aqui em casa para
jantar conosco.
— Eu agradeço, mas sinceramente eu acho que vocês deveriam
apostar em um psicólogo ou algo do gênero.
— Nubiazinha do meu coração, você conhece a história da minha
filhota Amanda?
— Na verdade, não.
— Pois é, ela já percorreu todos os melhores psicólogos e psiquiatras
do país, chegando ao ponto de atentar contra a própria vida. Então quando eu
digo que você é um anjo que fez um verdadeiro milagre, eu estou falando
seríssimo. Você entende a gravidade da situação?
— Eu sinto muito.
— Eu sei que uma menina boa como você sente sim. Então diante
desse prisma, será que você poderia vir aqui hoje à noite jantar conosco, tudo
muito simples, sem cerimônia, na verdade, a Amanda nem vai saber que é
por conta dela que você está vindo aqui, vamos falar que o Henrique que te
chamou.
— Eu entendo — Núbia diz, mas minha mãe nem a deixa terminar.
— Você tem mãe né Núbia?
— Sim senhora.
— Então, imagina como sua mãe estaria se você estivesse numa
circunstância como essa. Eu estou pedindo isso como mãe, você não vai
rasgar a única esperança de uma pobre mãe preocupada, não é mesmo?
— Tudo bem Dona Cida.
— Só Cida, venha às vinte horas. Eu vou passar o telefone para o
Henrique agora minha querida. — Assim, minha mãe me entrega o celular e
sai toda saltitante.
— Oi — digo.
— Sinceramente você é pior que a encomenda.
— Infelizmente eu não posso negar o conteúdo dessa afirmação.
— Com toda a certeza que não. Meu Deus Henrique, como que eu
vou surgir aí na casa dos seus pais hoje à noite?
— Linda?
— Sem gracinha.
— Desculpa.
— Meu Deus, sua mãe é pior que a minha quando põe algo na cabeça.
— Você quer que eu te busque.
— Não, com certeza não! Caso a sua família seja uma sucursal da
família Adams, eu prefiro ter um meio de locomoção para fugir.
— Eu te aguardo ansiosamente então.
— É sério, eu não acredito que você me acordou para isso.
— Eu prometo compensar.
— Assim espero.
— Já tenho várias coisas em mente.
— Garanto que todas envolvem o seu pau — ela diz irônica e eu
acabo gargalhando. — Pervertido.
— Envolvem também outras partes anatômicas minhas e suas.
— Eu vou desligar na sua cara.
— Beijos — digo e me deparo novamente com o seu silêncio por uns
bons segundos.
— Beijos garoto bonito. — E assim se encerra a ligação.
Cada barco furado
— Seja bem-vinda — digo para Núbia assim que abro a porta do meu
apartamento. — Sinta-se em casa, pode abrir a geladeira, tirar o sapato, deitar
no sofá, tirar essa roupa que é literalmente desnecessária. Em resumo, o
apartamento é seu.
— Hum — ela diz sem esboçar qualquer reação. Sua postura é de
nítido reconhecimento do território, ela observa tudo, anda pela sala em
silêncio, analisa cada livro da minha estante e para, especificamente, em
frente ao sofá objeto da minha recente piadinha que não fez muito sucesso, o
qual se encontra localizado no centro do cômodo.
— Você quer algo para beber?
— Cerveja. — Eu a deixo na sala e vou até a geladeira pegar duas
garrafas. Só que quando eu dou a volta e olho em sua direção, lá está ela só
de lingerie deitada no bendito sofá. Linda e deliciosamente gostosa.
— Caralho!
— Foi você que sugeriu.
— Teria sugerido antes se eu soubesse que você toparia.
— Antes eu não teria aceitado. — Eu vou até ela e entrego a garrafa.
— Ou quem sabe teria, não sou muito boa em conjecturar sobre o passado.
— Eu posso tocar?
— Ainda não. — Eu engulo seco, buscando o resto de autocontrole
que ainda me resta. — Mas você pode me acompanhar, afinal, faz algum
tempo que penso seriamente sobre te ver sem toda essa roupa desnecessária.
Esse jogo de sedução aberto é tão excitante e natural, que eu me sinto
totalmente à vontade.
Eu deixo minha cerveja sobre a mesa de centro, tiro a minha camisa,
abro o botão e o zíper da minha calça. Tudo sem tirar os olhos dela.
Ela lentamente toma um gole da cerveja e seus olhos passeiam pelo
meu corpo.
— Você definitivamente é um garoto bonito. Ou melhor, um homem
devastadoramente lindo.
— Agradeço por ter subido de nível, eu prefiro ser visto como um
homem do que como um garoto. Mas se tem uma pessoa bonita nessa sala,
essa pessoa é você. Núbia você é assustadoramente a mulher mais linda que
eu já vi.
— É bem possível.
— É insofismável eu diria.
— Você tem chocolate?
— Não faço a mínima ideia.
— Acho que essa é a hora de você descobrir — ela diz passando
lentamente o dedo indicador pela parte de pele do seu seio que não está
coberta pelo tecido do sutiã.
— Dar as costas para você não me parece algo tão atrativo assim.
— Depende do ponto de vista. — Ela pisca e sorri. — Só vai.
Como dizer um não para essa mulher está fora de cogitação, eu vou
até a cozinha e em poucos segundos acho um chocolate perdido na minha
despensa.
— Seu chocolate tão querido.
— Na verdade, eu tenho que reconhecer que eu queria mesmo era ver
as suas costas.
— Minhas costas? — pergunto quase gargalhando.
— Sim, eu sou uma mulher que curte costas largas e másculas. — Ela
morde um pequeno pedaço do chocolate. — Gostoso.
— Obrigado.
— Eu me referia ao chocolate, porém também se aplica a você.
— Posso experimentar?
— Sim. — Mas quando eu vou pegar da sua mão, ela o leva em
direção a boca segurando o pequeno pedaço entre os dentes.
Eu meto um foda-se para a distância por ela estabelecida e me apoio
no sofá ficando sobre o seu corpo, como se eu estivesse fazendo flexão.
Poucos milímetros nos afastam e eu agradeço aos céus por ter comprado um
sofá que mais parece uma cama de tão grande.
Nossas bocas se encontram e eu mordo um pequeno pedaço do
chocolate. Ambos mastigamos sem perder nem por um segundo o contato
visual.
— Acho que agora é a hora que eu te beijo e sinto cada maravilhoso
contato da sua pele na minha.
— É exatamente o que eu espero.
Existem vários tipos de beijos, mas esse é quente e forte. Eu estou
completamente duro em questão de segundos. Suas mãos arranham as minhas
costas, ao passo que as minhas passeiam freneticamente pela sua bunda
gostosa e macia. Eu esfrego o meu pau sobre a sua entrada quente ainda
coberta pela calcinha.
O sabor doce deixa tudo ainda mais sexy e, quando eu acho que não
me sobra mais qualquer resquício de oxigênio nos meus pulmões, meus
lábios percorrem seu pescoço até chegar ao seu peito farto.
Ela puxa o tecido para baixo e guia minha boca até o seu mamilo,
contorcendo-se de prazer enquanto eu me delicio com toda essa maré de
sensações.
Por mais incrível que pareça, eu, um homem feito, tenho que me
controlar para não gozar antes de tudo efetivamente começar.
— Eu quero sentir você dentro de mim, diz para mim que você tem
uma camisinha em um lugar próximo.
— Na minha carteira. — A qual por sorte está caída no chão ao lado
do sofá.
Sem qualquer rodeio eu tiro a minha cueca, e ela fica completamente
sem roupa diante de mim.
— Puta que o pariu Núbia!
— Só vem.
Em um tempo recorde eu coloco a bendita camisinha e me posiciono
sobre ela.
Ela está totalmente molhada, mostrando que ambos estamos no limite
do prazer. Eu tento entrar devagar, porém ela levanta o quadril em minha
direção.
Estou totalmente dentro dela.
Quente e sexy como o inferno.
Nos beijamos com mais paixão, cada investida é um passo para o
abismo. Ela se entrega por completo e eu estou a ponto de me perder
completamente.
Seus seios balançam gloriosamente diante dos meus olhos e eu os
devoro com a minha boca.
Isso a leva ao ápice, um gemido de prazer insano e seu corpo se
dissolve de prazer.
Como nada mais passa de sentidos descontrolados, eu gozo quase
perdendo a minha consciência.
Após um tempo que eu sequer sei quantificar, duas respirações
descompassadas são os únicos sons que se ouve na sala.
— Eu espero que suas paredes sejam a prova de som.
— Eu verdadeiramente não ligo.
— Como queira — ela diz dando um leve beijo na minha boca.
— A única coisa que eu quero é curtir cada centímetro do seu corpo.
Como dizia mesmo aquela sua música preferida? Deixar minha boca passear
nesse seu corpo massa a noite toda.
— Aprendeu certinho.
— Eu reconheço que eu a ouvi de uma forma quase vergonhosa nos
últimos dias.
— Eu gosto disso.
— Eu tenho certeza que sim. — Eu beijo seu pescoço lentamente.
— Rezava a lenda que o doutor tem a pica da galáxia. Se bem me
lembro foi assim que o senhor classificou o seu pau.
— E aí?
— Pode ser que eu tenha danos internos sérios! — ela declara e
acabamos gargalhando juntos.
— Sorte que alguém aqui já é formado em medicina.
— Sorte a minha.
— Na verdade, eu acho que o sortudo aqui sou eu.
— Ah, mas eu não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Afinal, não é
todo dia que você se delicia com uma hecatombe de gostosura como eu.
Acho que foi isso que você disse para o Joaquim, não é mesmo?
— O filha da puta te contou?
— Não, eu ouvi atrás da porta. Se eu bem me lembro ele acha que eu
vou te jantar e não vão achar sequer o seu corpo.
— É um risco que vale a pena correr. — E assim tudo se torna fogo
outra vez.
— Estou diante de um homem corajoso então.
— Não se esqueça que você também me acha muito bonito.
— Isso é verdade.
Eu acaricio seus cabelos e ela parece totalmente confortável
completamente nua em meus braços.
— Você é uma mulher sem igual Núbia.
— Eu tenho que fazer uma confidência garoto bonito — ela
interrompe a sua fala teatralmente —, opa, homem bonito. Não, isso ficou
estranho, só bonito eu acho que fica melhor.
— Concordo.
— Então bonito, lá vai um grande segredo, existem várias de mim no
meu mundo. O detalhe é que daí de cima do mundo dos endinheirados fica
difícil reparar.
— Uma pena.
— Concordo — ela completa. — A gente precisa de um banho.
— Sério que você quer levantar?
— Reformulando, principalmente você precisa de um banho.
— Eu tô fedendo por acaso? — pergunto e ela sorri de uma forma
linda.
— Não muito.
— Filha da mãe!
— Brincadeira, mas eu curto um banho depois de toda essa atividade.
E eu não quero quebrar o clima, mas eu acho que tem chocolate grudado nas
minhas costas. Não sei como isso aconteceu, mas é uma realidade.
— Pois lavemos essa donzela. — Eu levanto e a pego no colo.
— Henrique se você me derrubar, eu mato você.
— Nossa que medo.
— Engraçadinho.
— Sempre.
Eu entro no banheiro da minha suíte com ela nos meus braços.
— Banheira ou chuveiro.
— Banheira.
— Eu prefiro chuveiro.
— Bem típico de gente rica dizer isso.
— Engraçadinha.
— Olha como a gente combina, somos iguais. — Ela dá um beijo na
minha boca. — Eu até topo o chuveiro, mas eu fico embaixo da agua e você
passa frio fora. Curtindo só as gotinhas que escaparem involuntariamente.
— Você é mesmo uma pessoa do mal mulher. Não se dispõe nem a
dividir um chuveiro.
— Não.
— Eu sinto estragar seus planos maléficos, mas o chuveiro é bem
grande, não vai faltar água mulher perversa. — Eu a coloco no chão e abro o
registro, deixando a água banhar nossos corpos. — O que você acha de eu
esfregar cada centímetro do seu corpo.
— Esfregar? Gosto. Muito, muitíssimo.
— Então façamos assim, eu te lavo inteirinha e você retribui da
mesma maneira.
— Te esfregar? Também gosto. Na verdade, até mais que ser
esfregada.
E madrugada adentro todo esse clima de intimidade regado por muito
sexo se prolonga, até que ambos caímos no sono tamanha exaustão e prazer.
Uma breve despedida
Núbia narradora
Com muito custo nós dois conseguimos sair da casa da Núbia. Você
não tem ideia da dificuldade que foi fazer a minha mãe dar tchau e
interromper a conversa com a Dona Sebastiana. No final das contas, ambas
combinaram um jantar para semana que vem.
Agora nós dois estamos jogados na minha cama após uma das fodas
mais bem dadas da minha vida.
— Núbia, eu juro que isso foi bom pra caralho!
— Bonito, se for para fazer que seja da melhor forma. Está aí o meu
lema.
— Deu para perceber.
— Eu tenho que reconhecer que o doutor é muito bom no que faz
também.
— Eu sei, não é à toa que sou conhecido como a pica da galáxia.
— Nossa que escroto!
— Fala sério! Reconheça que eu sou a sua melhor experiência sexual,
mulher!
— Mas é muito presunçoso! Sua sorte é que o seu pau imenso
compensa as bobagens que você diz.
— Eu juro que a parte do imenso me deixou ainda mais presunçoso.
— Ato falho, não quero inflar ainda mais o seu ego.
— Ele já é imenso igual o meu pau. Você tem razão.
— Meu Deus! Só para — ela diz sorrindo e eu dou um beijo no seu
pescoço.
— Santo Cristo! Como eu gosto de estar com a minha boca em você.
— Claro, eu sou a hecatombe da gostosura.
— Olha que par perfeito, o pau homérico e a hecatombe da gostosura.
Somos predestinados mulher.
— Devemos ser mesmo. Mas acho que já tá na hora de eu ir.
— Fica aqui hoje à noite.
— Seria meio estranho eu dormir duas noites seguidas na sua casa
Henrique.
— Não vejo razão.
— Eu vejo.
— Núbia, eu sei que você só faz o que quer e se você decidir que quer
ir embora não vai ter Cristo que te destitua dessa decisão, mas fica aqui hoje.
Sério.
— Henrique, eu acho melhor a gente ir devagar.
— Normalmente eu concordaria com isso. Meu passado é testemunha
disso. Mas parece tão errado você ir embora.
— Não vai me dizer que já tá caído de amores por mim?
— Acho que eu não sou o único presunçoso.
— Acho que você tem razão.
— Linda.
— Bonito.
— Não digo que somos o casal perfeito!? — digo e nós engatamos
um beijo delicioso e demorado.
— Eu fico, mas o senhor vai ter que realizar um desejo meu.
— Todos os que você quiser.
— Braços para cima.
— Não vai me dizer que você quer me amarrar na cama?
— Exatamente gostosão.
Assim eu fico refém com essa mulher avassaladora.
Ela me arrama e começa a tortura mais deliciosa que se possa
imaginar. Seus lábios passeiam por todos os cantos me instigando. Um misto
de excitação e vontade de livrar minhas mãos tomam as rédeas da situação.
Porém eu adoro aquela postura de rainha da porra toda que ela tem.
Ela tem uma confiança que salta pelos poros, parece uma divindade
africana sobre mim.
Uma diva guerreira, com certeza, a mulher mais forte que eu já
conheci.
— Eu gosto de tudo nesse seu corpo — ela diz lambendo o meu
abdômen.
— Cada gominho desses me leva ao delírio. Você não tem ideia do
quão molhada eu estou — sussurra. — Acho que eu poderia te mostrar. — E
para a minha glória ela levanta e logo em seguida se posiciona sobre o meu
rosto. Minha língua passeia sobre a sua fenda encharcada e eu amo o seu
gosto.
É um banquete excitante, perco a noção de tudo, a deleitando de
prazer até que ela goza na minha boca.
Eu sinto a sua boceta latejando e sua respiração se torna
descompassada.
Nesse momento, ela solta os meus punhos e deita sobre mim.
Eu sinto o cheio dos seus cabelos e noite adentro eu me acabo no
corpo dessa mulher.
Após algumas boas horas de sono, eu acordo com ela nos meus
braços. Depois de toda a maratona de ontem, eu decido deixá-la descansar
um pouco mais e vou para a cozinha beber alguma coisa, afinal, hoje é
feriado municipal.
Eu pega um copo de água e recolho a minha calça que estava jogada
no chão da cozinha.
Nesse momento eu ouço meu celular tocando e o vejo sobre a
bancada. Na tela surge o rostinho da minha pessoa preferida no mundo.
— Fala minha princesa encantada.
— Príncipe! Que saudadinhas suas — a pequena filhota da Sônia e do
Gustavo grita quase estourando os meus tímpanos.
— Eu também estou morrendo de saudades de você Dudinha!
— Imagino, eu sou muito legal, né?
— Com certeza, a pessoa mais legal que eu conheço.
— Eu sei.
— Quais são as novidades?
— Eu tenho um celular meu, mas a mãe só deixa eu ligar se ela
deixar.
— Eu sei, você me disse isso semana passada.
— Ah é verdadinha. Peraí deixa eu pensar. — Ela fica uns segundos
em silêncio. — Lembreiiii! Eu tenho que comprar um presentinho.
— Para mim?
— Não bobo, para um amiguinho meu que eu adoro.
— Um amiguinho que tem o cabelo vermelho?
— Como você sabe?
— Eu sou um cara inteligente.
— É verdade, papai Gustavo também diz que eu sou muito
inteligente. A menina mais inteligente que ele conhece.
— Ele tem razão. Mas voltando ao assunto do presente.
— Opa, então, na turma de natação a gente tá fazendo amigo oculto.
— E por sorte você pegou o Nicolas.
— Sim, foi muita sorte, o Thiago pegou ele e eu tomei o papelzinho
dele.
— E ele topou trocar?
— Eu comecei a chorar e ele deixou.
— Entendi — digo sorrindo das táticas dessa pequena espertinha. —
Nós sabemos que você gosta muito do seu amiguinho Nicolas.
— Eu gosto dele desde a primeira vez que eu vi ele, igual você, gosto
de você desde semprezinho.
— Nós somos meninos especiais.
— Dois príncipes. — Eu ouço ela suspirando e imagino o quanto o
Gustavo, também conhecido como o psicopata pai ciumento, odiaria ouvir
essa conversa. — É engraçadinho como tem gente que a gente gosta de
montão e do fundo do coraçãozinho desde a primeira vez, né? — ela diz isso
com aquela voz fofa que derrete qualquer coração.
— Eu gosto de você desde sempre, acho que até antes de te conhecer
minha princesinha.
— Tá doidinho? Como que você ia gostar de mim antes de conhecer
euzinha?
— Você é uma menina especial.
— Tipo uma princesa superpoderosa?
— Tipo isso.
— É, acho que princesas superpoderosas têm esse poder. Um
minutinho e as pessoas já se apaixonam pela gente. — Eu rio da sua fala,
agradecendo aos céus por essa garotinha não ter problema de autoestima. —
Eu vou comer meu chocolate agora.
— Vai lá.
— Beijinhos príncipe.
— Beijinhos princesa. — Eu me despeço e encerro a chamada,
enquanto encho a chaleira de água para fazer um café.
— Às vezes eu tenho medo essa baixinha. — As mãos da Núbia
enlaçam a minha cintura. Ela dá um leve beijo na minha nuca.
— E como você sabe com quem eu estava falando? — pergunto após
me virar e encarrar essa perfeição em forma de mulher.
— Digamos que eu sei muito bem quem é a sua princesinha, para
falar a verdade eu passei uns bons minutos ouvido ela falar sobre o fato de
vocês serem verdadeiros membros da nobreza.
— Imagino que deve ter sido interessante. — Dou um beijo nos seus
lábios.
— Reconheço que passei a gostar um pouco de ti depois que vi todo o
carinho que ela tem por você.
— Eu sou um homem carismático.
— Dentre outras qualidades.
— Exato, a gente não pode se esquecer do tamanho do meu pau.
— Fique tranquilo soldado, nesse quesito o doutor é inesquecível.
— Só nesse?
— Digamos que em mais um ou dois quesitos.
— Que seriam?
— Um segredo de estado. — O seu sorriso é contagiante.
— E qual é o plano para o feriado.
— Além de tomar meu rumo?
— Não gostei dessa perspectiva. Acho que deveríamos aproveitar o
feriado juntos. Pelados na verdade.
— Henrique, nosso primeiro encontro aleatório foi na sexta, no
sábado eu conheci seus pais em um jantar na casa deles, no domingo nós
apresentamos sua família inteira para a minha. Acho que passar o feriado já
seria um pouco demais.
— Não comungo da mesma conclusão, muito menos estou
interessado em deixar você tomar seu rumo. A não ser que esse rumo seja em
direção à minha rola.
— Não deixa de ser uma boa opção.
— Exato.
— Mas você tem que reconhecer que isso tá ficando estranho.
— Isso o quê?
— Isso nós dois, nem nos falávamos até pouco tempo, agora eu nem
sei como descrever.
— Eu queria falar com você desde a primeira vez que te vi.
— Sei, e eu posso saber a razão?
— Parafraseando a Dudinha, princesas superpoderosas têm esse poder
de encantamento imediato.
— Eu princesa?
— É, acho que um título mais apropriado seria a dona da porra toda.
— Ela gargalha com a minha declaração.
— Confesso que gosto mais dessa nominação.
— Eu não tenho dúvidas, combina mais com você.
— Que viva a ascensão do proletariado e abaixo a monarquia! — ela
declara dando um soquinho no ar.
— Eu não reclamaria de perder qualquer título de nobreza para ver
você por cima.
— Safado.
— Fato! — Nós nos beijamos e eu adoro a sensação do seu corpo
colado no meu.
— E qual é a programação, bonito?
— Pelados e largados no sofá?
— Convidativo. Aceito se você arranjar uma comida para nós. Estou
quase vesga de fome.
— Tem uma ótima padaria do outro lado da rua.
— Amo e topo.
— Ótimo, então vamos tomar um banho matinal, conhecido como
sexo selvagem embaixo do chuveiro, e depois eu vou alimentar a senhorita.
— Amo e topo.
— Quer dizer que eu já atingi a mesma categoria de afeto que uma
padaria?
— Digamos que seu chuveiro é grande.
— Engraçadinha.
— Quando eu quero.
— Eu sei bem disso.
E assim se passam duas horas até a gente conseguir sair de casa.
— Qual você vai escolher? — ela pergunta olhando os salgados
expostos na padaria.
— Acho que um de cada.
— Meu Deus! E a minha mãe que diz que eu sou a vermenta.
— Eu não tenho culpa se você sugou todas as minhas energias, eu
preciso me alimentar.
— Tá bom. — Nessa hora a atendente pergunta quais são os nossos
pedidos. — Dois de todos e eu quero um café preto — Núbia responde.
— Dois.
— Que lindo um casal que combina até na hora de comer. — Uma
senhorinha ao nosso lado se manifesta de forma simpática.
— Nem sempre, eu amo ostras e ela odeia — digo jogando o braço
sobre o ombro da Núbia.
— Acho que ela tem razão.
— Eu sabia que a senhora tinha bom gosto desde a primeira vez que
bati os olhos em você. — Elas sorriem e discorrem sobre o quanto um dos
meus alimentos preferidos é asqueroso.
— Beijinhos para vocês pombinhos. Até. — Nos despedimos e
seguimos até uma mesa no deck que fica na parte da frente da padaria. Em
poucos minutos nosso café da manhã é servido.
— Henrique eu estou passando mal.
— Dois.
— Acho que a gente não deveria ter comido tanto.
— Verdade.
— Nós temos que andar uns bons quilômetros para baixar essa
comilança.
— Não concordo.
— Não?
— Não, prefiro exercícios que possam ser feitos sem roupa lá na
minha casa.
— Nada bobo você. — Seu sorriso malicioso me incita ainda mais.
— Nada. — Pego a sua mão e acaricio os seus dedos. — Vamos?
— Vamos bonito.
Nós pagamos a conta, sendo que a Núbia faz questão de pagar a
metade mesmo diante da minha irresignação, a qual ela mandou eu enfiar no
rabo. Reconheço que a moça do caixa teve que segurar o riso diante da fala
nada delicada da Núbia. Porém eu desisti de qualquer contestação assim que
ela me calou com um beijo demorado e delicioso.
Considerando a qualidade insana de comida ingerida, achamos por
bem dar uma volta no quarteirão antes de voltarmos para o meu apartamento.
— Nossa que lindo — ela diz observando um quadro que está exposto
em uma galeria de artes a poucos metros da entrada da portaria do meu
prédio.
— É mesmo — confirmo, mas na verdade minha declaração se refere
a Núbia, meus olhos estão vidrados observando cada detalhe do seu
semblante. Ela olha para mim e sorri, notando que eu claramente estava
falando dela. — Você gosta de arte?
— Amo. Acho que uma obra é capaz de atingir a nossa alma de uma
forma indescritível, eu lembro até hoje da primeira vez que fui a um museu.
— Seus olhos brilham com a lembrança. — Teve um concurso de redação
entre os colégios estaduais e o prêmio era um passeio. — Na época eu
deveria ter uns 10 anos e me dediquei ao máximo para ganhar. Nossa
situação financeira era um desastre, nem sei como minha mãe conseguia por
comida na mesa. Enfim, eu queria muito ter um dia diferente e já tinha plena
consciência que minha mãe não poderia gastar um centavo para me
proporcionar qualquer diversão que fosse paga. Era tudo contado, nem
dinheiro para o ônibus nós tínhamos para desperdiçar.
— E você ganhou? — pergunto chocado com a sua realidade tão
distinta da minha.
— Ganhei, me matei de escrever e reescrever, uma professora minha
me incentivou e eu consegui. Valeu a pena demais, nesse dia eu vi que eu só
teria uma vida melhor se eu estudasse como uma louca.
— E foi o que você fez.
— Exato. Aquela professora que eu mencionei, o nome dela era
Wilma, não tinha filhos e era viúva, morava em uma casa ao lado da nossa
rua. Daquele dia em diante, até eu terminar o ensino médio, ela me deu aulas
extras nas suas horas vagas. Eu ficava com ela enquanto minha mãe
trabalhava em mil empregos, além de vender salgados.
— Uma história de mulheres incríveis.
— Sim e homens ausentes — ela diz com os olhos levemente
marejados, mas sem deixar cair qualquer lágrima. — A Wilma era uma
mulher sem igual, a melhor professora desse mundo, inteligente, forte,
batalhadora, a primeira mulher preta que me mostrou que eu poderia ser o
que eu quisesse. Eu a via como uma heroína.
— Você ainda tem contato com ela? — pergunto e ela engole seco.
— Ela faleceu um dia depois da minha aprovação no vestibular da
Federal.
— Eu sinto muito.
— Obrigada.
— Ela deve ter ficado muito orgulhosa por você.
— Ela ficou radiante. Eu nunca a vi tão feliz, ela e a minha mãe
estavam nas nuvens. Mas infelizmente ela morreu por conta de uma bala
perdida durante uma operação da polícia.
— Eu sinto muito mesmo, nem sei o que te falar.
— Relaxa, que nem eu sei o que falar quando esse assunto surge.
— Como foi ir para a Universidade depois dessa tragédia? Você deve
ter ficado muito abalada.
— Chorei feito uma doida, gritei como uma psicopata. Não aceitava
aquilo. Foram dois dias insanos, eu me revoltei.
— Você pensou em desistir de tudo?
— Sim, gritei isso na frente da minha mãe.
— E ela?
— Me chacoalhou e olhou fundo nos meus olhos até eu ficar quieta.
Estabelecido o silêncio, ela disse que mulheres pretas como nós não temos a
opção de surtar, que a vida é difícil e que a gente simplesmente segue em
frente, que ela não ia me deixar desistir de nada, nem que ela me levasse
debaixo de surra para a Universidade.
— Eu consigo imaginar ela fazendo isso.
— Eu chorei mais uma noite inteira e no dia seguinte minha mãe
apareceu com um jaleco branco, que uma outra vizinha costureira tinha feito
fiado para ela, o qual eu aceitei sem dar nem um pio. Afinal, era essa a única
forma de tirar a minha família da pobreza.
— Você é muito foda! — digo dando um beijo no topo da sua cabeça
enquanto ela me abraça. Não tinha dúvidas que ela era uma lutadora, porém,
ouvir esses detalhes da sua história só me mostrou ainda mais a sua força.
— Sou mesmo — ela diz sorrindo.
— Quer entrar na galeria?
— Em outra oportunidade, agora eu prefiro transar com você.
— Amo e topo.
— Eu não tinha dúvidas disso bonito.
Em resumo, em poucos minutos estamos entrando no meu
apartamento e o que se presencia é uma maré de roupas ao chão.
Eu acabo de jogá-la na cama e ela está completamente nua.
— Puta que o pariu Núbia! Você é linda pra caralho!
— A recíproca é verdadeira.
Sinceramente eu tenho que me concentrar para tentar controlar o tesão
que eu sinto por essa mulher. Eu deito sobre ela e passeio a minha boca pelo
seu corpo. Começo pelo pescoço, desço até aqueles gloriosos peitos fartos e
me delicio ao chegar na sua entrada, que já está completamente molhada.
— Vontade de me enterrar completamente em você.
— Combinado, mas primeiro me chupa — ela geme quando eu lambo
lentamente o seu clitóris e isso me deixa mais ligado. Meu pau está duro feito
pedra e é um prazer indescritível sentir o gosto da sua boceta apertada na
minha boca.
— Lambe — ela sussurra e eu obedeço. O que começou lento, agora
se torna mais intenso. Eu encontro aquele ponto exato que a faz se contorcer.
Para deixar tudo mais intenso, eu enfio dois dedos dentro dela mexendo-os
vigorosamente.
Com a minha outra mão eu aperto o bico do seu seio e ela está perto
do ápice. Sinceramente eu nunca conheci uma mulher que chegasse tão
rápido ao prazer.
Eu sinto os sinais do seu corpo, me delicio em saber que ela está perto
do abismo e com mais algumas estocadas, lambendo sua bocetinha deliciosa,
ela goza na minha boca.
Sinto sua boceta se contraído ritmadamente e, antes que ela se
recupere, eu a viro de costas de modo que sua bunda empinada fique
gloriosamente a minha disposição.
— Hoje não, mas eu ainda vou enfiar gostoso nesse seu cuzinho
apertado.
— Me come. — São as únicas palavras que ela diz.
— Onde?
— Por favor — ela suplica.
— Fala onde você quer meu pau!
— Na minha boceta.
— Seu desejo é uma ordem. — Eu entro sem qualquer demora e urro
de satisfação. A sensação é indescritível, quente e apertadinha.
Da posição que eu estou, de joelho entre as usas pernas, a bunda dela
fica ainda mais deliciosa. Redonda e empinada. Farta e convidativa.
— Você tem a bunda mais gostosa que eu vi na minha vida.
— E você tem o pau mais delicioso do universo.
— Você gosta? — pergunto enquanto a como com força.
— Sim. — Ela empina a bunda e eu entro cada vez mais fundo.
Sem tirar meu pau de dentro dela, eu levanto o seu corpo, deixando
ela de quatro e, assim, o que já era bom, ficou excelente.
Puxo o seu cabelo com uma mão e tomo o seu peito com outra.
— Não para!
— Eu não conseguiria nem se quisesse.
Eu meto sem parar. Forte. Sem qualquer delicadeza. Eu sei que ela
ama desse jeito e eu me delicio ao admirar seu semblante de puro prazer.
— Eu tô gozando. — E só essas três palavras já são suficientes para
me levar com ela ao ápice do prazer. Nós gozamos juntos de uma forma tão
intensa, que ficamos completamente sem ar.
Eu deito na cama ao seu lado e logo ela se aconchega em mim. Não
sei a hora exata, mas ambos acabamos caindo no sono e eu não me lembro de
já ter me sentido tão em paz.
Um belo contato
10 dias depois
Como a frase acima sugere, faz mais ou menos dois meses que eu
estou saindo com a Núbia e eu tenho algumas considerações a fazer: ela come
feito um boi — obviamente, somente o que ela gosta, de modo que eu tenho
que me adaptar ao paladar da moça —, é brava feito o demônio e a minha
rola definitivamente declarou devoção eterna àquela criatura.
Sério, a pica da galáxia chegou gloriosamente em uma situação
deplorável, como um soldado que voltou da guerra, todo esfolado, mas a
sensação de dever cumprido. Essa descrição deve ser pecaminosa em uma
dezena de crenças, além de crime de guerra em um par de nações.
Porém, na última semana a coisas não estão muito boas para nós. E
quando eu digo nós, eu me refiro a minha pessoa e ao meu camarada que
habita minhas partes baixas, já que instituída está a semana de provas do
último bimestre desse ano.
Ou seja, eu mal recebi uma fotinha de uma polpa de bunda, uma
nesga de seio, ou algo parecido. Afinal, como a Núbia decretou, não tem rola
que valha um futuro, pois entre ser médica e dormir com um médico, ela
prefere me mandar para o IML.
Em suma, preferi não atacar a cobra com vara curta. Se bem que essa
frase não condiz muito com a minha pessoa. Convenhamos que eu sou um
cara de extensão.
Mas como hoje é o dia que antecede a última prova, eu decidi fazer
uma colaboração solidária.
Eu ligo para a Núbia e ela atende no segundo toque.
— Estava olhando para o celular e esperando a minha ligação.
— Não Henrique, estava no redtube vendo filme pornô.
— Sério? Puta que o pariu me chama!
— Acho melhor não, vai que você se sente constrangido com aquelas
rolas imensas. Não quero atacar seu ego.
— Só se você estiver vendo algo relacionado à zoofilia e tenha um
cavalo transando na tela do seu celular.
— Isso é meio nojento.
— Também acho.
— Tô com saudades — ela diz com uma voz cansada, afinal, já é
quase onze horas da noite.
— De mim ou da minha rola imensa?
— De ambos, mas mais da sua rola imensa.
— Boa garota. O que você está fazendo?
— Tô deitada na cama. Acabei de estudar a matéria da prova de
amanhã, tô morta de fome, mas sem opinião de escolher alguma coisa.
— Tá no Joaquim ou na sua mãe?
— No Joaquim.
— Achei que você estava de férias essa semana.
— Estou, mas ele foi viajar com a Alice e as crianças. Em resumo,
eles falaram para eu ficar aqui estudando, para não perder tempo com o
trânsito.
— Ele às vezes consegue não ser um arrombado.
— Verdade, tirando os momentos de pai superprotetor, ele é um cara
decente.
— Posso ir aí?
— Não.
— Nossa! Que veemência. Tomei um toco e nem sabia?
— Não bonito, é que quando eu te ver nem guindaste me levanta.
Além disso, eu não vou transar no meu serviço e se você vier aqui eu vou
pular na sua rola.
— Gosto dessa perspectiva.
— Eu também. — Ela suspira, nitidamente cansada. — Tô morrendo
de fome.
— Dois.
— Mas sabe quando você está tão cansada que nem a fome te motiva
a levantar? Então esse é o meu cenário.
— Nunca estive tão cansado a ponto de não ir atrás de comida. Não
tem nem lógica isso.
— Acho que você tem razão. Sério, eu preciso comer!
— Já que você não quer que eu vá aí para a gente transar, será que
você permitiria que eu providenciasse o seu jantar?
— Sim.
— Nossa achei que ia receber um não categórico.
— Não se recusa comida grátis Henrique, isso é um princípio básico
da boa amizade e cordialidade.
— Somos bons amigos agora? — pergunto rindo e um silêncio se
instaura. — Núbia, você tá aí?
— Estou pensando.
— Será que você poderia pensar falando?
— Bonito, você faz perguntas difíceis, não espere respostas
eloquentes e instantâneas.
— Um bom argumento.
— Sou conhecida por ter bons argumentos.
— E por ser cordial ao que parece.
— Acho que não. — Agora ela está rindo.
— Você tem outras qualidades.
— Com certeza. Pizza. Eu quero pizza. Dezesseis pedaços.
— Está tendo algum grupo de estudo aí?
— Sim, eu e minhas lombrigas estamos debruçadas sobre o livro.
Hoje eu pretendo comer uns oito pedaços, amanhã de manhã mais uns quatro
e o que sobrar dou para alguém.
— Nossa que alimentação saudável.
— Eu aceito o seu sarcasmo, porém, também reconheço que eu até
queria ter uma alimentação regradinha, cheia de fibras e bons alimentos, no
entanto eu sou trabalhada na gula e estou evitando atos inócuos.
Simplesmente não vai rolar.
— Entendi. Quais sabores?
— Quatro queijos, peperone, calabresa com cebola e sensação.
— Isso que é uma mulher decidida.
— Também sou conhecida por isso, eu sei o que quero e o que gosto.
— Bom saber.
— Ah, Henrique, respondendo a sua indagação inicial, você é meu
amigo sim, eu gosto de você, você é um cara bacana e isso vale muito para
mim. Mas eu te definiria como o boy que eu tô pegando e eu já te aviso que
eu não curto compartilhar.
— Gostei da definição e eu também não curto compartilhar. A não ser
que você tenha uma amiga íntima, bonita como você.
— Não vai rolar, seu pervertido!
— Um homem pode sonhar.
Passada uma hora, aqui estou eu estacionando a minha moto em
frente à casa do Joaquim. Eu aperto a campainha e Núbia abre a porta vestida
com um pijama imenso que cobre quase todo o seu corpo, o qual está todo
amassado, cara lavada e com o cabelo preso em um coque bagunçado no topo
da cabeça. Em resumo, linda de uma forma quase ignorante.
— Não acredito que você tá fazendo bico no Ifood!
— Pela mulher certa, não custa expandir a minha gama profissional.
— Você é um cara legal Henrique — ela diz e tasca um beijo na
minha boca. Mas um beijo de final de novela das oito, sendo que eu quase
derrubo a pizza no chão.
— Acho que a gente deveria entrar.
— Não, não bonitão. Não vou colocar homem dentro da casa do meu
chefe.
— Vai dizer que você não vai dividir nenhum pedaço de pizza
comigo?
— Claro que vou dividir, mas sentadinhos ali no meio fio. Não é
como se alguém fosse ver a gente comendo essa delícia que você trouxe uma
hora dessas.
— Oh mulher teimosa!
— Relaxa que amanhã eu vou decretar o dia do tributo a sua rola
depois da prova.
— Que horas você termina esse troço?
— Acho que ao meio dia.
— Eu te pego na Universidade.
— Combinado, agora vamos comer.
— No meio fio?
— Já comi em lugares piores.
— Falta muito para você se formar?
— Bastante, mal passei da metade.
— Cacete, definitivamente eu odeio semanas de provas.
— Te entendo — ela concorda divertida, enquanto sentamos no
famigerado meio fio. Obviamente, como somos bons vermentos, ambos já
estamos no segundo pedaço de pizza.
— Vai ser glorioso quando eu te olhar entrando no salão na formatura
de medicina, sem mais períodos torturantes sem sexo.
— Isso que é pensar em longo prazo.
— Já disse que um homem pode sonhar.
— Verdade. — Ela morde mais um pedaço de pizza. — Mas acho que
isso nunca vai acontecer.
— Você aposta tão pouco em nós? Sério, você precisa ter contato com
a minha rola com urgência.
— Não, seu bobo. Eu estou falando de me ver na formatura de
medicina. Você tem noção de que dá para comprar uma casa com o preço
dessa joça?
— Sinceramente eu não lembro.
— É obsceno de tão caro! Vai por mim. Isso sem contar que são
quatro dias de festa. Que diabo de criatura instituiu quatro dias de festa? Não
que eu não goste de festa, mas a população normal do universo não tem nem
quatro dias de folga!
— Acho que o Joaquim tinha que te dar de presente, considerando
que você salvou a filha dele do rapto da mãe maluca.
— Prefiro a casa.
— E sua mãe sairia da comunidade? Pelo que eu vi aquele dia ela é
bem apegada ao pessoal de lá.
— Oh meu anjo, sabe de nada inocente. Minha mãe não é burra e,
com certeza, não curte o risco perpétuo de acordar com barulho de tiro
furando a parede. Ela sairia de lá assim que pudesse. Definitivamente,
manteria todas as amizades, iria lá toda hora, mas aquilo não é lugar para
ninguém morar e olha que a gente está na parte mais nobre daquela região,
bem no comecinho, onde ainda tem asfalto e luz elétrica sem gato. Graças ao
Wesley.
— Sério?
— Sim, ele que arranjou aquela casa para a gente, nós duas moramos
em um lugar muito pior, por muito tempo, depois que o marido dela largou a
mulher e a filha.
— Seu pai?
— Acho que precisa de um pouco mais de atuação para receber esse
título.
— Você tem razão.
— Eu sei. — Ela encosta a cabeça no meu ombro e segue comendo
mais um pedaço de pizza. Assim nós ficamos por quase meia hora,
intercalando sobre conversas obscenas e uma competição ridícula de quem
come mais, sendo que por pouco ela não ganha de mim.
— Obrigada Henrique.
— Por?
— Por me alimentar, por ter paciência de aguentar a minha rabugice
nessa semana por telefone e por ficar aqui conversando comigo, mesmo que a
gente não vá transar.
— É sério que a gente não vai transar? Não tem ninguém na rua,
imagina nós dois encima dessa moto.
— A gente ia cair — ela diz gargalhando. — E você é muito
barulhento, ia acordar a vizinhança inteira.
— Eu sou o barulhento da relação?
— É o que dizem.
— Quem diz?
— Eu, já basta. — Agora sou eu que a beijo, um beijo com gosto de
calabresa e cebolas, dentre outras especiarias, porém, majestosamente
delicioso. Estamos nós dois nesse meio fio, como dois adolescentes
namorando no portão de casa.
— Eu estava com saudades de você Núbia.
— Dois.
Encontros e desencontros
Dois dias, faz exatos dois dias que eu não vejo a Núbia, mas parece
uma eternidade. Ela não retornou nenhuma das minhas chamadas, muito
menos respondeu às mensagens que eu enviei.
Eu sei que tudo era muito recente, mas essa mulher não sai da minha
cabeça. É como se ela tivesse roubado a porra do ar que eu respiro. Eu virei
um imbecil desatento, que sequer consegue manter uma conversa simples e
aleatória.
Basicamente, a mulher foi capaz de virar a minha vida do avesso, sem
que eu tenha qualquer perspectiva de melhora. Quanto a Madu, eu soube
involuntariamente que ela retornou para a Europa, porque era só uma viagem
rápida em razão de trabalho na gravadora.
Agora, aqui estou eu adentrando na sala do escritório do Joaquim, que
me olha com cara de desconfiança.
— Nem fudendo. — Essa é a recepção do meu nada solícito amigo.
— Eu te pedi alguma coisa? — rebato.
— Eu sei exatamente a razão do doutorzinho estar aqui.
— Por que você é tão imbecil?
— Acho que é algo relacionado a minha genética.
— Acho que é uma opção pessoal, você gosta de ser um completo
babaca.
— Você pode ter razão — ele diz apontando para a cadeira em frente
da sua mesa. Eu sento e passo as mãos pelos meus cabelos sem saber por
onde começar.
— Eu disse que ela ia te jantar e que você não sobreviveria.
— Obrigado pelo aviso prévio.
— Conselho este não seguido.
— Isso é um fato irrefutável. E o pior é que ela sequer quer falar
comigo.
— Nem eu que sou seu amigo de décadas quero falar contigo.
Imagina ela que deve ter tido o desprazer de olhar para o seu pau minúsculo.
É uma consequência lógica, a decepção leva ao afastamento.
— Só hoje a gente pode deixar meu pau fora dessa conversa?
— Eita que a situação é pior do que eu pensava. Você tem quase uma
fixação em falar sobre essa coisa pequena que você chama de rola.
— Pior é pouco.
— Explique-se.
— Eu preciso falar com ela. Isso não basta?
— Não.
— Joaquim você simplesmente não pode me ajudar como um bom
amigo faria?
— Não.
— Eu estou apaixonado pela Núbia.
— O quê?
— Você ouviu, imbecil! Eu não vou repetir — digo sem paciência,
enquanto ele parece se deleitar com o meu sofrimento.
— Você se fudeu então.
— Nossa como você é inteligente.
— As pessoas sempre dizem isso. Então eu devo ser mesmo um
gênio.
— Joaquim você não tá ajudando.
— Era para eu ajudar?
— Você é um arrombado do caralho viu!
— Digamos que eu já tenha ouvido isso antes.
— Eu preciso falar com ela.
— Mas não vai.
— Sério cara, eu não posso perder essa mulher. Ela não me atende,
não responde as minhas mensagens.
— Eu muito menos! A Alicia é doida na Núbia. Eu prefiro perder a
nossa amizade a fazer a minha filha amada perder a melhor amiga dela. Você
tem noção do quanto é difícil achar uma babá como ela? Ah e já aviso,
quando ela se formar ela passa a ser a médica da minha filha, mesmo que ela
escolha a geriatria.
— Obrigado pela consideração.
— Sinto muito, mas ela é bem melhor do que você.
— Não tenho dúvidas. — Eu suspiro e levanto me sentido um tigre
enjaulado. — Eu preciso fazer alguma coisa Joaquim.
— Olha eu deveria te deixar no limbo sofrendo tudo o que você
merece, mas eu vou te contar um segredinho. — Ele se levanta, serve uma
dose de whisky e me entrega o copo, que tomo de uma só vez. — Ela trocou
de número, por isso que ela não te respondeu.
— Você tá falando sério?
— Sim, ela perdeu o aparelho no ônibus e como a linha estava no
nome da mãe, foi mais fácil trocar de número do que ter que levar a Dona
Sebastiana na loja de celulares. Enfim, ela perdeu vários contatos e eu
imagino que o seu seja um deles.
— Puta que o pariu. Então pode ser que ela queira falar comigo.
— Eu também não disse isso.
— Vai se fuder Joaquim.
— Desejo em dobro tudo que você deseja a mim.
— Trouxa.
— Eu acho que o trouxa não sou bem eu. Você tá fudido demais.
— Não é como se eu não soubesse. Eu preciso do número dela.
— Não.
— Fala sério Joaquim.
— Tô falando, se ela quiser, ela mesma pode te dar. Eu não vou fazer
isso.
— Então saiba que eu vou surgir na sua casa para falar com ela.
— Não vai ser necessário. Como eu estou benevolente, uma
verdadeira alma iluminada, eu vou te contar o paradeiro da moça. Hoje vai ter
um evento de arte em um dos meus restaurantes. Como ela e a Alice adoram
esses quadros esquisitos, que para mim não passam de tinta sobre tela, elas
combinaram de irem juntas. — Ele vai até a sua mesa e abre a primeira
gaveta. — Aqui está um convite para o doutorzinho apaixonado.
— Obrigado.
— Não me agradeça, isso vai custar caro.
— Posso saber o que você quer em troca?
— Um rim se eu precisar ou algo do tipo.
Ostras e outras artes