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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 034.

665/2017-0

GRUPO I – CLASSE IV – Primeira Câmara


TC 034.665/2017-0
Natureza: Atos de Admissão
Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (Ibama)
Interessado: Licinio Cavalcante Lima Filho (315.279.652-87)
Representação legal: não há

SUMÁRIO: ATO DE ADMISSÃO. IBAMA. ACUMULAÇÃO


IRREGULAR DE CARGOS PÚBLICOS. ILEGALIDADE.
POSSIBILIDADE DE OPÇÃO. DISPENSA DE DEVOLUÇÃO
DE VALORES RECEBIDOS DE BOA FÉ. DETERMINAÇÕES.

Relatório

Trata-se de ato de admissão de Licinio Cavalcante Lima Filho (CPF 315.279.652-87) ao


quadro de pessoal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), no cargo de técnico administrativo.
2. Transcrevo a seguir, com ajustes, a instrução de mérito da Secretaria de Fiscalização de
Pessoal (Sefip), peça 10, a qual contou com anuência do titular da unidade (peça 11) bem como a
manifestação de acordo pelo MP/TCU, representado pelo Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé
(peça (13):
“EXAME TÉCNICO
3. Os procedimentos para exame, apreciação e registro de atos de pessoal encontram-se
estabelecidos na Instrução Normativa - TCU 55/2007 e na Resolução - TCU 206/2007. Em seus
arts. 4o, § 2o, e 3o, § 3o, respectivamente, essas normas dispõem que os atos de pessoal
disponibilizados por meio do Sisac devem ser submetidos a crítica automatizada do próprio
sistema, com base em parâmetros predefinidos.
4. Relativamente aos atos de admissão de pessoal, as rotinas de crítica das informações
cadastradas no Sisac foram elaboradas e validadas levando-se em conta as peculiaridades desses
atos. Os itens de verificação do sistema compreendem prazos e fundamentos legais, assim como
eventuais ocorrências de acumulação. Trata-se de verificações mais abrangentes, minuciosas e
precisas do que aquelas que podem ser realizadas por mãos humanas, proporcionando um nível
de segurança ainda maior.
5. Além da crítica automatizada, há verificação humana adicional no caso de haver
alertas do sistema ou informações não formatadas, como esclarecimentos do gestor ou do
controle interno.
Constatação
6. Conforme se observa na peça 1, foi constatado pelo Ministério Público junto ao
TCU, no âmbito do TC 024.599/2017-4, que o interessado acumula dois cargos públicos de
forma irregular.
7. Verificou-se na ocasião, por meio do sistema RAIS, que o servidor acumulava a
titularidade do cargo de Procurador do Estado de Roraima e do cargo de técnico administrativo,
no Ibama.
8. Assim, mediante o subitem 1.7.1 do Acórdão 10003/2017-TCU-1ª Câmara, de
relatoria do Ministro Weder de Oliveira, foi determinada a realização de diligência ao Ibama, no
sentido de esclarecer se o senhor Licínio Cavalcante Lima Filho desligou-se do cargo público de

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procurador no Estado de Roraima, hipótese em que deveria encaminhar cópia da portaria de


exoneração.
9. Por conseguinte, esta Unidade Técnica autuou o presente processo e realizou
diligência ao órgão de origem por meio do Ofício 6964/2017-TCU-SEFIP (peça 3), o qual foi
atendido (peça 7).
Análise
10. No que concerne à resposta acerca do questionamento efetuado por este Tribunal,
cumpre transcrever na íntegra a manifestação do interessado (peça 7, p. 2):
‘Em resposta ao Ofício 6964/2017 (1423167), comunico que nunca exerci a função de
Procurador no Estado de Roraima. O cargo que ainda exerço é lícito conforme a
Constituição Federal que permite a cumulação de professor com outro técnico ou
científico. E ainda para registro, informo que já estou em processo de afastamento deste
junto a Secretaria de Educação do Estado de Roraima por motivos particulares’.
11. Verifica-se, portanto, que o interessado nunca exerceu o cargo de procurador. Na
verdade, ele atua como docente na rede pública estadual de Roraima.
12. Desse modo, cumpre lembrar que o art. 37, inciso XVI, alínea ‘b’, da Constituição
Federal de 1.988, permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou
científico, desde que fique comprovada a compatibilidade de horários.
13. Contudo, a Corte de Contas entende que é indevida a acumulação de cargo de
professor e de cargo de nível intermediário para o qual não se exigiu nenhuma formação
específica para ingresso e cujas atribuições não tenham natureza técnica ou científica. Nesse
sentido, cumpre mencionar os Acórdãos 2.485/2008 e 2.982/2013, ambos do Plenário; 408/2004
e 3.184/2014, ambos da 1.ª Câmara; e 211/2008 e 1.136/2014, ambos proferidos pela 2.ª
Câmara.
14. O Superior Tribunal de Justiça - STJ - mantém a mesma linha de entendimento:
‘PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. SERVIDOR PÚBLICO. ART. 37, XVI, ‘B’, DA CF/88.
CUMULAÇÃO DO CARGO DE PROFESSOR COM OUTRO QUE NÃO EXIGE
CONHECIMENTO ESPECÍFICO PARA O SEU EXERCÍCIO. IMPOSSIBILIDADE.
PROVIMENTO NEGADO.
1. É inviável a cumulação do cargo de professor com cargo que, apesar da nomenclatura
de técnico, não exige nenhum conhecimento específico para o seu exercício. Precedentes.
2. O cargo de técnico penitenciário exercido pelo recorrente, a despeito da nomenclatura,
não exige nenhum conhecimento específico para o seu exercício.
3. A adoção de fundamentos diversos para o indeferimento do pedido formulado no
mandado de segurança, já denegado pelas instâncias ordinárias, não implica reformatio in
pejus, tampouco ofensa ao princípio do tantum devolutum quantum appellatum.
4. Agravo regimental não provido.’
(AgRg no RMS 28.147/MS, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA
TURMA, julgado em 19/03/2015, DJe 30/03/2015)
‘MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO. ACUMULAÇÃO ILÍCITA DE
CARGOS. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. NÃO OCORRÊNCIA.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO. PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. OBSERVÂNCIA. ART. 37, INCISO XVI,
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. ACUMULAÇÃO DE CARGOS. PROFESSOR
ESTADUAL E AGENTE ADMINISTRATIVO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE.
IMPOSSIBILIDADE.

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1. Na forma das disposições contidas no artigo 142 da Lei n.º 8.112/90, tem-se por
afastada ‘a ocorrência de prescrição se, no momento da demissão do servidor, não
tiverem transcorrido cinco anos do conhecimento dos fatos pela Administração’. (MS
8928/DF, Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA
SEÇÃO, DJe 07/10/2008)
2. No aspecto jurídico-formal, não há que se falar em ausência de cerceamento de defesa,
tendo em vista que a autoridade coatora observou os princípios constitucionais do devido
processo legal e da ampla defesa, em obediência ao disposto no art. 133, incisos I e II, §§
1º ao 7º, da Lei nº 8.112/90.
3. O art. 37, inciso XVI, da Constituição Federal possibilita a acumulação de um cargo de
professor com outro técnico ou científico. Todavia, no caso em apreço, o cargo de Agente
Administrativo do Quadro de Pessoal do Ministério da Saúde ocupado pela impetrante
não possui natureza técnica, não sendo lícita, portanto, a sua acumulação com o cargo de
professora estadual. Precedentes.
4. Segurança denegada.’
(MS 8.590/DF, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
24/06/2009, DJe 04/08/2009)
‘RECURSO ORDINÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. ADMINISTRATIVO.
ACUMULAÇÃO DE CARGOS. AGENTE DE POLÍCIA E PROFESSOR.
DESCABIMENTO. NATUREZA DE CARGO TÉCNICO NÃO CARACTERIZADA.
ART. 37, XVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
1. É vedada a acumulação do cargo de professor com o de agente de polícia civil do
Estado da Bahia, que não se caracteriza como cargo técnico (art. 37, XVI, ‘b’, da
Constituição Federal), assim definido como aquele que requer conhecimento específico
na área de atuação do profissional, com habilitação específica de grau universitário ou
profissionalizante de 2º grau.
2. Recurso ordinário improvido.’
(RMS 23.131/BA, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 18/11/2008, DJe 09/12/2008).
‘CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM
MANDADO DE SEGURANÇA. ACUMULAÇÃO DE CARGOS PÚBLICOS.
PROFESSOR E TÉCNICO JUDICIÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTE.
OPÇÃO. PROCEDIMENTO. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E
DO CONTRADITÓRIO. NÃO-OCORRÊNCIA. OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO
ESTADUAL. RECURSO IMPROVIDO.
1. ‘Não é possível a acumulação dos cargos de professor e Técnico Judiciário, de nível
médio, para o qual não se exige qualquer formação específica e cujas atribuições são de
natureza eminentemente burocrática’ (RMS 14.456/AM, Rel. Min. Hamilton Carvalhido,
Sexta Turma).
2. A circunstância de o servidor público, em substituição, exercer funções para as quais se
requer graduação em Direito não possibilita a acumulação, tendo em vista que o texto
constitucional excepciona a regra de inacumulabilidade tão-somente para os titulares de
cargos públicos, e não de funções, havendo nítida distinção a respeito.
3. Constatado o acúmulo indevido de cargos, o servidor público do Estado de Roraima
deverá ser intimado para apresentar sua opção. A ausência de manifestação do interessado
é que dará início ao processo administrativo disciplinar, em que deverão ser observados
os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, nos termos da Lei
Complementar Estadual 53/01.
4. Recurso ordinário improvido.’
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(RMS 21.224/RR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA,


julgado em 16/08/2007, DJ 01/10/2007, p. 294)
15. Assim, cabe proposta de ilegalidade e recusa de registro do ato, nos termos do art.
260, § 1º, do Regimento Interno do TCU.
16. Na forma dos arts. 261 do Regimento Interno do TCU, 8 º, caput, da Resolução -
TCU 206/2007 e 15, caput, da Instrução Normativa - TCU 55/2007, cabe, ainda, proposta de
determinar ao IBAMA que, no prazo de quinze dias, faça cessar os pagamentos decorrentes do
ato impugnado.
17. Quanto aos valores indevidos já pagos, sua percepção de boa-fé por parte do
interessado fundamenta a aplicação do Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU,
dispensando-se a devolução.
18. Para maior clareza, cabe esclarecer ao interessado que a dispensa de devolução de
valores indevidamente recebidos, fundamentada no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência
do TCU, alcança apenas os valores recebidos de boa-fé até a data de ciência do acórdão. Assim,
no caso de não provimento de recurso eventualmente interposto, deverão ser repostos os valores
recebidos após aquela ciência.
19. Impende destacar a necessidade de esclarecer ao interessado quanto à possibilidade
de optar por um dos dois cargos, nos termos do art. 133, caput, da Lei 8.112/1990.
20. No caso de haver opção pelo cargo tratado no presente processo, o IBAMA deverá
emitir novo ato, submetendo-o ao TCU no prazo de trinta dias, nos termos do art. 15, § 1 o, da
Instrução Normativa - TCU 55/2007.
21. Por fim, vale destacar que o ato em análise foi ao TCU em 22/4/2015, há menos de
cinco anos, portanto. Assim, segundo o entendimento estabelecido no Acórdão 587/2011-TCU-
Plenário, não é necessária a instauração do contraditório.
CONCLUSÃO
22. No tocante ao ato de admissão de pessoal integrante deste processo, constatou-se que
o interessado já se encontra vinculado a outro cargo, não acumulável com aquele tratado neste
processo.
23. Assim, cabe proposta no sentido da ilegalidade do presente ato, recusando-se o seu
registro. Cumpre, ainda, determinar que faça cessar os pagamentos indevidos.
24. Quanto aos valores já pagos, propõe-se dispensar a devolução, com fundamento no
Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU.
25. Cabe, contudo, esclarecer ao interessado que:
a) poderá optar por um dos dois cargos, nos termos do art. 133 da Lei 8.112/1990;
b) a dispensa de devolução dos valores indevidamente recebidos alcança apenas os
valores recebidos de boa-fé até a data de ciência do acórdão.
26. No caso de haver opção pelo cargo tratado neste processo, a unidade jurisdicionada
deverá emitir novo ato, nos termos do art. 15, § 1o, da Instrução Normativa - TCU 55/2007.
27. Por fim, importa observar que o ato foi disponibilizado ao TCU há menos de cinco
anos. Portanto, não é necessária a instauração do contraditório, nos termos do Acórdão
587/2011-TCU-Plenário.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
28. Ante o exposto, propõe-se:
a) considerar ilegal e recusar registro ao ato de admissão de Licinio Cavalcante Lima
Filho (CPF 315.279.652-87) ao cargo de técnico administrativo do quadro de pessoal do Ibama,

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nos termos dos arts. 71, inciso III, da Constituição Federal, 1º, inciso V, e 39, inciso I, da Lei
8.443/1992 e 260, § 1o, do Regimento Interno do Tribunal de Contas da União (TCU);
b) dispensar a devolução dos valores indevidamente recebidos até a data da ciência do
acórdão que vier a ser prolatado, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do
TCU;
c) esclarecer ao interessado que:
c.1) poderá optar por um dos cargos aos quais se encontra vinculado, nos termos do art.
133 da Lei 8.112/1990;
c.2) no caso de não provimento de recurso eventualmente interposto, deverão ser repostos
os valores recebidos após a ciência do acórdão pelo Ibama;
d) determinar ao Ibama que:
d.1) faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado, comunicando ao TCU, no
prazo de quinze dias, as providências adotadas, nos termos dos arts. 45 da Lei 8.443/1992, 261
do Regimento Interno do TCU, 8o, caput, da Resolução - TCU 206/2007 e 15, caput, da
Instrução Normativa - TCU 55/2007;
d.2) informe ao interessado o teor do acórdão que vier a ser prolatado, notadamente no
que diz respeito ao direito de opção por um dos cargos acumulados, encaminhando ao TCU, no
prazo de trinta dias, comprovante da data de ciência pelo interessado, nos termos do art. 4 o, § 3o,
da Resolução - TCU 170/2004;
d.3) no caso de a opção do art. 133 da Lei 8.112/1990 recair sobre o cargo tratado no
presente processo, emita novo ato, submetendo-o ao TCU no prazo de trinta dias, nos termos
do15, § 1o, da Instrução Normativa - TCU 55/2007”.
É o relatório.

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Proposta de Deliberação

Trata-se de ato de admissão de Licinio Cavalcante Lima Filho (CPF 315.279.652-87) ao


quadro de pessoal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama), no cargo de técnico administrativo.
3. Em consulta ao Rais, o MP/TCU constatou, no âmbito do TC 024.599/2017-4, que o
servidor seria, também, procurador do estado de Roraima, havendo indícios de acúmulo indevido de
dois cargos públicos efetivos.
4. Diante dessa constatação, o Tribunal determinou, por meio do acórdão 10003/2017-TCU-
1ª Câmara, a constituição de apartado para realização de diligência ao Ibama, no sentido de esclarecer
se o senhor Licínio Cavalcante Lima Filho havia se desligado do cargo de procurador do estado de
Roraima, hipótese em que deveria encaminhar cópia da portaria de exoneração.
5. A Sefip autuou o presente processo e diligenciou o Ibama para obter informações sobre a
situação funcional do interessado.
6. O Ibama encaminhou “manifestação do servidor Licinio Cavalcante Lima Filho acerca do
questionamento”, nos seguintes termos:
“Comunico que nunca exerci a função de Procurador no Estado de Roraima. O cargo que
ainda exerço é lícito conforme a Constituição Federal que permite a cumulação de professor
com outro técnico ou científico. E ainda para registro, informo que já estou em processo de
afastamento deste junto a Secretaria de Educação do Estado de Roraima por motivos
particulares” (peça 7, p.2)
7. Considerando que é “indevida a acumulação de cargo de professor e de cargo de nível
intermediário para o qual não se exigiu nenhuma formação específica para ingresso e cujas atribuições
não tenham natureza técnica ou científica”, a unidade propõe que o ato de admissão seja considerado
ilegal, dispensando o servidor da devolução dos valores indevidamente recebidos (Súmula 106),
franquear ao servidor o direito à opção por um dos cargos aos quais se encontra vinculado, com
expedição de determinação ao Ibama para que dê ciência da deliberação que vier a ser proferida, bem
como fazer cessar imediatamente todo e qualquer pagamento decorrente da admissão considerada
ilegal e, no caso de a opção do servidor recair sobre o cargo tratado no presente processo, emitir novo
ato, submetendo-o ao TCU.
8. Acolho a proposta da Sefip, endossada pelo Parquet especializado.
9. O Sr. Licinio Cavalcante Lima Filho ainda ocupava, em abril/2018, o cargo de professor da
rede pública de ensino do estado de Roraima, conforme consulta ao portal de transparência do estado
(peça 14).
10. Somente é permitido o acúmulo de cargo ou emprego público civil nas hipóteses previstas
no art. 37, XVI, da Constituição:
“Art. 37. (...)
XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando houver
compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;”
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11. Também, a Lei 8.112/1990 dispõe em seu art. 118 que é vedada a acumulação de cargos
públicos.
12. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) caminham no sentido de que cargo “técnico ou científico” é aquele para cujo exercício são
exigidos conhecimentos técnicos específicos e habilitação legal, não necessariamente de nível superior,
não podendo possuir atribuições de natureza eminentemente burocráticas ou repetitivas (AI 192.918-
AgR, STF (Relator Ministro Octavio Gallotti) ; RMS 20.033/RS, STJ (Relator Ministro Arnaldo
Esteves Lima) , RMS 14.456/AM, STJ (Relator Ministro Hamilton Carvalhido) e MS 7.216/DF, STJ
(Relator Ministro Arnaldo Esteves Lima).
13. O cargo de técnico administrativo não se qualifica como cargo “técnico ou científico”, para
fins de acumulação, consoante reiteradas decisões do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal
de Justiça, com as quais se alinham precedentes deste Tribunal:
“É irregular a acumulação de cargo de professor com de técnico de nível médio para o
qual não se exige qualquer formação específica e cujas atribuições não são de natureza
eminentemente técnica ou científica. A expressão "técnico" em nome de cargo não é suficiente,
por si só, para classificá-lo na categoria de cargo técnico ou científico a que se refere o art. 37,
inciso XVI, alínea b, da Constituição Federal” (Enunciado Jurisprudência Selecionada, acordão
3184/2014 - Primeira Câmara).
É ilícita a acumulação de cargo de técnico de nível médio - para o qual não se exige
formação específica e cujas atribuições não são de natureza eminentemente técnica ou científica
- com cargo de professor” (Enunciado Jurisprudência Selecionada, acordão 3718/2015 -
Primeira Câmara).”
14. Em razão da impossibilidade de acumulação do cargo em exame com o de docente na rede
pública estadual de Roraima, nos termos do art. 37, § 10º, da Constituição Federal, acompanho a
proposta da Sefip, anuída pelo MP/TCU, de considerar o ato de admissão irregular e expedir
determinações ao Ibama.
Diante do exposto, manifesto-me pela aprovação do acórdão que ora submeto à apreciação
deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 5 de junho de 2018.

WEDER DE OLIVEIRA
Relator

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ACÓRDÃO Nº 5267/2018 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo nº TC 034.665/2017-0.
2. Grupo I – Classe IV – Assunto: Ato de Admissão.
3. Interessado: Licinio Cavalcante Lima Filho (315.279.652-87).
4. Entidade: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
5. Relator: Ministro-Substituto Weder de Oliveira.
6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip).
8. Representação legal: não há.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos que tratam de ato de admissão de Licinio
Cavalcante Lima Filho (CPF 315.279.652-87) ao quadro de pessoal do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no cargo de técnico administrativo.
ACORDAM os ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da 1ª
Câmara, ante as razões expostas pelo relator e com fundamento no art. 71, III, da Constituição Federal
e nos arts. 1º, V, e 39, I, da Lei 8.443/1992, e 260, § 1º, do RI/TCU, em:
9.1. considerar ilegal o ato de admissão de Licinio Cavalcante Lima Filho (peça 8),
negando-lhe o registro, nos termos do § 1º do art. 260 do RI/TCU;
9.2. dispensar o interessado da devolução dos valores indevidamente recebidos até a data
da ciência desta decisão, com base no Enunciado 106 da Súmula da Jurisprudência do TCU;
9.3. determinar ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis que:
9.3.1. faça cessar os pagamentos decorrentes do ato impugnado, comunicando a este
Tribunal, no prazo de 15 (quinze) dias, as providências adotadas, nos termos dos arts. 45 da Lei
8.443/1992, 261 do RI/TCU, 8o, caput, da Resolução TCU 206/2007 e 19, I, da Instrução Normativa
TCU 78/2018;
9.3.2. dê ciência, no prazo de 15 (quinze) dias, do inteiro teor desta deliberação ao
interessado, cujo ato foi considerado ilegal, alertando-o de que o efeito suspensivo proveniente da
interposição de eventuais recursos junto a este Tribunal não o exime da devolução dos valores
percebidos indevidamente após a respectiva notificação, caso esses não sejam providos;
9.3.3. dentro do mesmo prazo fixado do item anterior, adote as providências necessárias ao
exato cumprimento da lei, franqueando ao servidor supracitado o direito à opção pela manutenção de
um dos cargos aos quais se encontra vinculado, nos termos do art. 133 da Lei 8.112/ 1990;
9.3.4. caso a opção do interessado recaia sobre o cargo tratado no presente processo, emita
novo ato e o submeta a este Tribunal no prazo de 30 (trinta) dias, nos termos do art. 15, § 1º, da
Instrução Normativa TCU 55/2007;
9.3.5. encaminhe a este Tribunal, no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contados da
ciência desta deliberação:
9.3.5.1. a comprovação de que o interessado teve conhecimento do presente acórdão;
9.3.5.2. a comprovação do eventual exercício pelo interessado do direito de opção previsto
no art. 133 da Lei 8.112/1990.

10. Ata n° 18/2018 – 1ª Câmara.


11. Data da Sessão: 5/6/2018 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-5267-18/18-1.

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13. Especificação do quorum:


13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler, Bruno Dantas e
Vital do Rêgo.
13.2. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti e Weder de Oliveira (Relator).

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


WALTON ALENCAR RODRIGUES WEDER DE OLIVEIRA
Presidente Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO
Subprocurador-Geral

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