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Unidade II

Unidade II
3 INTRODUÇÃO GERAL À FORRAGICULTURA

3.1 Introdução/definições

Forragicultura significa manejo de forragens. Forragem é a matéria vegetal que representa o


volumoso na dieta do animal.

Dentro da forragicultura, devemos fornecer as condições adequadas para a máxima produção de


forragens, como solo de boa qualidade, com boa adubação e calagem do solo. Também é importante
relacionar o tipo de planta forrageira com a topografia e o clima do local, respeitando a idade da planta
e o nível basal (“altura mínima da planta”).

Dentre as forragens, existem as gramíneas e as leguminosas.

3.2 Tipos de crescimento das forragens com os respectivos exemplos de


espécies forrageiras

3.2.1 Gramíneas (capins em geral)

Classificação dos tipos de crescimento:

• Cespitosas: são aquelas que crescem na vertical, em touceiras, e possuem caules eretos. Para
poder utilizar na pastagem, devem ter no mínimo 20 cm de altura (caso fiquem mais baixas
que isso, demoram muito para rebrotar). Um exemplo pode ser o gênero Panicum spp – por
exemplo, colonião, tanzânia, mombaça e centenário necessitam de solo fértil e têm boa
resistência a seca.

Há também o gênero Pennisetum, como o napiê, o qual necessita de solo fértil, tem boa resistência
a seca e é utilizado como capineira, assim como o gênero Melinis, como o capim‑gordura, que cresce
em solo mais fraco.

• Prostrado ou estolonífero: emite caule horizontal, ou seja, rente ao chão. Por exemplo, o gênero
Cynodon spp, havendo como exemplos o capim estrela e coast‑cross, necessita de solo fértil e
possui baixa resistência à umidade, sendo muito utilizado para fazer feno.

• Decumbente: é uma mistura entre os tipos de crescimento dos dois anteriores, devendo ter
no mínimo 10 cm de altura. Há, por exemplo, capins do gênero Brachiaria, como a Brachiaria
decumbens, a qual cresce em solo fraco, não possui qualidade satisfatória, trazendo problemas
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de fotossensibilização em ruminantes e osteodistrofia em equinos, pois tem oxalato, que reage


quimicamente com o cálcio do organismo, resultando na quelação do cálcio, e aprisiona o íon
metálico, de modo a indisponibilizá‑lo ao organismo. Há a B. humidicola também de solo fraco,
um capim de solo pobre e muito resistente à seca que não serve para equinos pelo mesmo motivo
e nem para vacas paridas. E por fim há a B. brizantha, a qual é uma exceção frente às outras, pois
necessita de solo fértil e tem boa qualidade de PB (proteína bruta).

3.2.2 Leguminosas (aquelas que formam vagem)

Cresce em forma de arbustos ou volúvel. O principal exemplo de leguminosa é a alfafa, a qual


necessita de solo fértil e frio e baixa umidade, não resistindo à seca. É complicado trabalhar com alfafa,
pois ela cresce no frio e no Brasil o frio coincide com a seca. A dificuldade se dá porque devemos irrigar
mas não podemos encharcar, pois ela não resiste a grandes umidades.

3.3 Efeitos da desfolhação da pastagem

Desfolha é a remoção completa ou parcial de partes da planta acima do solo, vivas ou mortas, pelos
animais em pastejo ou cortes mecânicos.

Quando o pasto for desfolhado, ele precisa rebrotar. O tempo de rebrota é de 28 a 35 dias no verão,
mas varia de espécie para espécie.

O meristema apical é o responsável pelo crescimento da planta. O meristema da Brachiaria está de


10 a 12 cm do chão, então essa planta só pode ser usada até 10 a 12 cm de altura, nunca menos que
isso. Já em capins cespitosos, o meristema é de cerca de 20 cm.

Plantas mais velhas muitas vezes podem ser mais altas, mas a qualidade é pior porque possuem mais
celulose e lignina.

Além do meristema, existe também a rebrota a partir de gemas basais, que visa recuperar o
meristema e consequentemente demora mais para crescer.

3.4 Espécies de plantas forrageiras

Existem diversas espécies e variedades de plantas forrageiras e elas apresentam características muito
diferentes entre si. As forrageiras são importantes fontes de alimento dos ruminantes, como bovinos,
bubalinos, ovinos e caprinos.

Para que essas variedades de plantas pudessem ser agrupadas, sugeriu‑se reunir forrageiras com as
características e aptidões apresentadas em relação ao meio (solo, clima) que se encontram.

De forma geral, as forrageiras são divididas em gramíneas e leguminosas. O que difere esses dois
grupos de plantas é o tipo de mecanismo utilizado por cada um dos tipos de plantas para sua evolução
e a disposição de carboidratos e proteínas que elas dispõem.
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Os principais critérios para a escolha da forrageira a ser utilizada devem ser a sua capacidade de
produção e sua qualidade nutricional, juntamente com a verificação de sua adaptação à região que
estará localizada.

3.4.1 Leguminosas

O uso de leguminosas é realizado há mais de 1000 anos. No Império Romano já se tinha o


conhecimento da utilização das leguminosas para alimento do gado e das melhorias na fertilidade dos
solos que elas oferecem. São diversas as vantagens para o solo que o uso de leguminosas pode oferecer,
como: controle da erosão; cobertura do solo, conservando a umidade e evitando o aquecimento do solo;
fixação biológica do nitrogênio; ciclagem de nutrientes do solo etc.

As leguminosas estão associadas simbioticamente, em suas raízes, às bactérias fixadoras de


nitrogênio, que são responsáveis por disponibilizarem o nitrogênio atmosférico para a espécie
vegetal. Com isso, as leguminosas são responsáveis por uma maior oferta de proteínas. O uso de
leguminosas nas pastagens resulta num aumento da qualidade da forragem que estará à disposição
do rebanho, assim como, devido a suas características, o repasse de nitrogênio a todo o ecossistema
envolvido.

O uso de leguminosas melhora a produção animal, tanto na produção de leite como na produção
de carne, quando comparamos animais que se alimentam exclusivamente de pastagens de gramíneas.
O uso de leguminosas também interfere na redução de custos de produção, sendo responsável pela
melhoria e diversificação na dieta do rebanho, e aumenta a disponibilidade de forragem devido a sua
característica de fixação de nitrogênio, que também fica disponível para a gramínea que estiver sendo
cultivada junto à leguminosa.

Assim, o uso de leguminosas é recomendado junto com espécies gramíneas forrageiras ou


intercaladas com plantas perenes, pois elas promovem melhorias nos níveis protéticos das gramíneas
que são cultivadas junto com leguminosas.

As leguminosas pertencem à família angiosperma, sendo dicotiledôneas, e compreendem cerca


de onze mil espécies. Apresentam, em sua grande maioria, fruto do tipo legume, também chamado
de vagem, uma vasta variedade de tamanho e cumprimento dos caules, que podem ser subterrâneos
(acumulam reserva de nutrientes) ou aéreos (podendo ser herbáceos ou lenhosos, angulosos ou
cilíndricos, prostrados ou eretos), e folhas compostas.

Seu sistema radicular é axial, sendo originário da sua raiz embrionária. Apresenta uma raiz primária,
dominante e robusta, com pequenas extensões (raízes secundárias). Conforme já citado anteriormente,
as leguminosas apresentam em suas raízes nódulos formados por simbiose com bactérias do gênero
Rhizobium, sendo elas responsáveis pela fixação do nitrogênio atmosférico, na forma de amônia (NH3),
no solo e nas plantas.

Existem certa de onze mil espécies de plantas leguminosas. Trataremos aqui de algumas das mais
utilizadas como forrageiras no Brasil.
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Lembrete

As gramíneas são classificadas de acordo com os tipos de crescimento.

3.4.1.1 Alfafa (Medicago sativa L.)

É uma leguminosa perene, típica de clima temperado, embora se adapte a diversos climas, podendo
acomodar‑se até em climas tropicais. No Brasil, é muito bem adaptada no estado do Rio Grande do Sul.
Costuma se desenvolver bem em altitudes entre 200 e 3.000 metros, estando mais adaptada entre 700
e 2800 metros de altura. Ela se adaptada bem em solos neutros ou alcalinos.

Produz grande quantidade de forragem, em especial nas épocas mais quentes do ano, sendo esta de
boa qualidade, rica em proteína, cálcio, fósforo e vitaminas A e C.

A alfafa pode ser oferecida aos animais como pasto ou feno, sendo apreciada nas duas formas. Ela,
que atinge entre 60 e 90 cm de altura, apresenta caules com hábito ereto e folhosos. A alfafa possui
sistema de raízes profundo, chegando a atingir alguns metros de comprimento.

Suas folhas são trifolioladas e as flores estão distribuídas em diversas partes da planta, mas em pouca
quantidade. Apresentam coloração azulada e violeta, em ramos entre 15 e 30 cm de comprimento. Os
legumes, espiralados, possuem de 2 a 5 sementes.

Apesar de ser uma das plantas com boa adaptação, o cultivo de alfafa costuma apresentar alguns
fatores que possuem certa dificuldade de correção: semeadura com falhas; não efetivação de simbiose
com a bactéria fixadora de nitrogênio Sinorhizobium melioli; doenças responsáveis pelo tombamento
de plântulas (damping‑off) etc.

Essas dificuldades podem afetar o sucesso do cultivo de alfafa, e é o produtor quem deve ter atenção
ao possível surgimento de plantas daninhas, que também afetam o rendimento da forragem.

A alfafa apresenta raízes profundas e por isso é muito resistente a épocas de seca, além de ter
boa tolerância a grandes variações de temperatura. Apesar de ser adaptável a diferentes tipos de solo,
tem preferência por solos profundos, arenoargilosos, com boa drenagem, sendo uma leguminosa mais
exigente quanto ao pH, que deve ser entre 6,5 a 7,5, e à fertilidade. A umidade é um fator determinante
para a produção de alfafa, sendo a forrageira que melhor responde à irrigação, ainda que não suporte
excesso de umidade.

O outono (em abril) é o período mais adequado para sua semeadura. Nessa época há menos interferência
das plantas daninhas, o que permite que a planta já esteja com suas raízes bem desenvolvidas quando
chegar o verão, de forma que a planta já tenha condições de ser mais resistente na seca. Além disso, quando
semeadas no outono, já podem ser utilizadas na primavera seguinte. Para garantir a simbiose com as
bactérias fixadoras de nitrogênio, recomenda‑se que as sementes de alfafa sejam inoculadas e peletizadas.

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Para produção de alfafa, o primeiro corte na plantação pode ser feito entre 90 e 100 dias após
o surgimento de plântulas, e os demais podem ser feitos mediante observação da brotação basilar e
intervalo do último corte realizado (que varia de 28 dias nas estações de primavera e verão, 35 dias no
outono e 50 dias na época de inverno em regiões de alta latitude).

O produtor também pode se basear na altura do rebrote da planta para o corte, de modo que
quando chegar à altura de 8 a 10 cm, a planta pode sofrer novo corte. Com isso, o produtor garante o
restabelecimento da área foliar, sendo que também é recomendado que a alfafa seja cortada entre 6 e
8 cm acima do solo para acelerar o rebrote.

Quando feito o manejo correto, a alfafa permite de 6 a 8 cortes, de forma que é possível produzir
forragem de alta qualidade com rendimento mínimo de 10 toneladas por hectare de massa seca de
forragem.

A alfafa também pode ser armazenada na forma de feno. Para que o feno seja de boa
qualidade, é importante estar atento a todas as etapas, sendo que o corte deve ser feito
durante a manhã, após a evaporação do orvalho, e de modo que as condições climáticas sejam
desfavoráveis para chuva. O enfardamento deve ser realizado quando a planta apresentar
umidade entre 16 a 20%.

Outra opção para seu armazenamento é a produção de silagem de alfafa, embora não seja muito
comum, pois a ensilagem não é fácil de ser realizada para essas forrageiras leguminosas. O processo
de ensilagem para a alfafa não favorece a formação de ácido láctico. Para que a alfafa possa ser
armazenada na forma de silagem de boa qualidade, é recomendado que seja realizada a aplicação de
aditivos (químicos ou biológicos).

Observação

A alfafa é a leguminosa mais indicada e utilizada para a produção de


feno para consumo animal.

3.4.1.2 Leucena (Leucena spp, Leucena leucocephala)

É uma leguminosa perene, arbórea originária da América Central e México. A leucena é de grande
versatilidade, além de forrageira, podendo ser empregada na produção de madeira e carvão vegetal e
como adubo verde.

Adaptável em regiões de clima tropical, seu plantio é indicado para solos férteis, com boa drenagem,
profundos e com pH acima de 6,0, preferencialmente planos ou com poucas ondulações.

A leucena foi bastante utilizada durante a civilização maia devido sua capacidade de fixação de
nitrogênio em solos onde o milho era plantado. Sabe‑se que produções de até 25 toneladas de matéria
seca por hectare por ano podem fixar até 500 kg de nitrogênio por hectare por ano no solo.
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Suas sementes possuem casca muito dura, o que dificulta a penetração de água, de forma que
sua germinação é afetada com baixos índices, embora sementes armazenadas por mais de um ano
costumem ter um melhor índice de germinação. Para as sementes novas, é necessário usar alguns
artifícios para aumentar o índice germinativo, sendo o mais adotado pelos produtores a imersão em
água fervente durante dez minutos. É importante ressaltar que após esse processo, as sementes devem
secar à sombra e serem plantadas em no máximo sete dias.

Seu plantio pode ser realizado de diversas maneiras, dependendo de cada local. É importante que
o produtor atente para o melhor em cada situação de forma a garantir o máximo da produtividade da
leucena. Por ser palatável, pode ser utilizada como forragem ou consumida diretamente (in natura)
pelos animais como pastejo direto, além de poder ser oferecida como silagem ou feno.

Embora seja de difícil manejo sob pastejo e ser muito susceptível a pragas, a leucena possui excelente
valor nutritivo, com alta porcentagem de proteína bruta, sendo seus valores nutricionais semelhantes
aos da alfafa. Também apresenta alta digestibilidade, sendo maiores que 65% segundo alguns estudos
realizados pela Embrapa no Nordeste brasileiro.

Existem três tipos de leucena, cada uma com características próprias:

• leucena tipo Peru: plantas que podem chegar a até 10 metros de altura com boa produção de
galhos e folhagem abundante, sendo bastante utilizadas como forrageiras para o consumo de
ruminantes, em pastejo ou em forma de silagem e feno;

• leucena tipo Salvador: plantas arbóreas de até 20 metros de altura, porém pouco ramificadas,
de forma a serem utilizadas para sombreamentos e na produção de carvão vegetal;

• leucena tipo Havaí: plantas com características de arbusto, que podem chegar a 5 metros de
altura e folhas e vagens menores que dos demais tipos, sendo mais utilizadas para revestimento
de áreas degradadas em regiões tropicais de baixas altitudes.

3.4.1.3 Guandu (Cajanus cajan)

É uma leguminosa originária da Ásia, bastante cultivada nas regiões tropicais. Apresenta grande
diversidade de usos, podendo ser utilizada como espécie forrageira, além de cultura de melhoria de
solo. O guandu é altamente adaptável em solos com baixa fertilidade e com baixa umidade. Embora
não possua boa palatabilidade e apresente difícil manejo sob pastejo, permite ser utilizado como
forragem verde, além de poder ser ofertado na forma de feno e como componente na produção
de silagens.

A variedade guandu taipeiro é arbustiva, podendo atingir até 1,5 metro de altura sob condições
favoráveis de manejo, embora normalmente apresente indivíduos com altura inferior a um metro.
Possui vagens achatadas e sementes com tonalidade cinza, talos verdes e folhas de três folíolos ovais
alongados e recobertos por uma pubescência aveludada.

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Sua floração costuma acontecer após 150 dias do plantio e a maturação, após 210 dias, em média.
Apresenta raiz pivotante, forte, profunda, podendo chegar a até 2 metros de profundidade. Dessa forma,
a guandu pode aproveitar da umidade das camadas mais profundas do solo. Sob condições naturais,
pode produzir até 5 toneladas por hectare de massa seca, produção que pode chegar a até 8 toneladas/
hectare em condições favoráveis.

Apresenta boa relação de folhas/caules, além de presença de caules finos e tenros. Tanto para o
uso em pastejo direto como para o corte, ocorre em torno de 170 dias após o plantio, sendo o corte
recomendado quando as plantas atingem 80 cm – altura com a qual o guandu pode ser cortado para
ser armazenado como feno. Por apresentar grande quantidade de folhas verdes, o guandu taipeiro é
uma opção de matéria verde disponível para alimento de animais na região do semiárido brasileiro
durante o período crítico de seca (setembro), sendo, portanto, uma boa opção para forragem nessa
região do Brasil.

3.4.2 Gramíneas

No Brasil, as gramíneas são a maioria nas pastagens. As gramíneas são a principal família dos
angiospermas. Pertencem a ela as gramas (ou capins), apresentam folhas lineares, com inflorescência
como espigas, panículas e racemos. Apresentam dois sistemas de raízes:

• raízes embrionárias: têm origem no embrião, cobertas pela coleorriza, sendo de curta duração.
A coleorriza tem a função de um órgão protetor, além de ser responsável pela absorção de
nutrientes e água. Algumas espécies apresentam sobre essas raízes pelos que fazem a função
de absorção;

• raízes permanentes: também chamadas de caulinares ou adventícias, são formadas a partir dos
primeiros nós basais, de estolões ou também de outros nós que possam estar em contato com o
solo. Essas raízes substituem as embrionárias e são bastante numerosas, com certo comprimento,
de forma que produzem diversas ramificações. As raízes permanentes morrem em espécies anuais.
Para as gramíneas perenes, as raízes permanentes possuem duas classificações que as diferem
entre si: anuais e perenes. As raízes anuais são as que se regeneram totalmente durante o período
de crescimento da planta, enquanto as raízes perenes são formadas durante o primeiro ano e
continuam em funcionamento durante o ano seguinte.

As gramíneas possuem folhas que, geralmente, apresentam bainha, lígula e lâmina. São fontes de
energia na forma de carboidratos. Na maioria das espécies o colmo é oco, sendo constituído de nós e
entrenós; esses entrenós também podem ser ocos (cereais de inverno) ou cheios (milho), e desses nós
surgem brotos que podem ser de dois tipos:

• intravaginais: brotos desenvolvidos no interior da bainha e que não a rompem ao surgirem;

• extravaginais: brotos que rompem a bainha foliar para que se desenvolvam por fora dela.

A forma com que o colmo cresce determina o hábito de crescimento das plantas.
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As gramíneas podem possuir diferentes hábitos, cada um com características e espécies próprias:

• cespitoso ereto: os entrenós basais são muito curtos, de forma a produzir brotos que crescem na
vertical (eretos), formando touceiras densas;

• cespitoso prostado: os colmos não possuem enraizamento nos nós e crescem rentes ao solo. A
única parte que fica erguida é a inflorescência;

• cespitoso‑estolonífero: apresenta brotos verticais e estolões, que são estimulados pelo pastejo
ou corte mecanizado;

• estolonífero: apresenta colmos rasteiros, com raízes nos nós que permanecem em contato com
o solo. Novas plantas são originadas em cada nó;

• rizomatoso: o colmo não possui clorofila, sendo subterrâneo e coberto por brotos. Nos nós surgem
raízes e plantas novas.

Inflorescência

Colmo e área foliar

Nervura
Colmo

Lâmina foliar Aurícula


entrenó Lâmina foliar
Lígula
Bainha Bainha
foliar Nó Ligula
Ligula
Folhas Aurícula

Lâmina foliar

Plântula Colar

Plântula
Superfície do solo

Raízes Rizomas
Estolão

Figura 6 – Esquema genérico de uma gramínea

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3.4.2.1 Espécies de gramíneas mais utilizadas como forragem no Brasil

3.4.2.1.1 Capim colonião (Panicum maximum)

Originária da África, é muito utilizada para formação de pastagens em regiões de clima tropical,
sendo sua utilização bastante difundida no território brasileiro. Por ser bastante utilizado no país,
algumas vezes o colonião pode ultrapassar os limites de sua plantação e invadir outras áreas, o que faz
com que seja considerada uma planta invasora de grande importância. Apresenta crescimento vertical,
sendo uma planta perene, robusta, com altura entre um e dois metros, e panículas durante a maior parte
do ano adaptada a diversas condições climáticas e tipos de solos. É uma planta com grande capacidade
de disseminação, sendo daninha em algumas plantações, e seu controle é de difícil manejo para o
sistema de plantio direto.

O colonião apresenta caule vertical, simples ou ramificado que podem chegar até 3,5 metros de
altura, folhas com pilosidade superficial em formato de lança, ápice entre 20 a 100 cm de comprimento
e até 3,5 cm de largura, sendo folhas planas de coloração verde‑clara. Apresenta inflorescência de até
50 cm de comprimento em panículas verdes e na parte terminal dos colmos apresenta rizomas, podendo
produzir entre 10 a 15 toneladas de matéria seca por hectare por ano.

Não se adapta em solos ácidos, pouco férteis ou mal drenados. Apresenta baixo crescimento em
época de seca, tendo um florescimento intenso nos períodos de outono e inverno, embora seja uma
forragem de qualidade e de alto valor nutricional. É uma das principais fontes de alimento para a criação
de ruminantes, em especial na criação de bovinos, principalmente devido a sua alta produtividade nos
períodos de chuvas.

3.4.2.1.2 Capim mombaça (Panicum maximum)

Nativa da África, é uma planta cespitosa que pode chegar a 1,70 metros de altura. Ela apresenta
folhas decumbentes com cerca de 3 cm de largura, com bainhas glabras e colmos de coloração arroxeada.
O capim mombaça necessita de solos com boa fertilidade, preferencialmente argilosos e arenosos, que
apresentem mínimo de 3 a 5 ppm de fósforo em sua composição.

O capim mombaça apresenta alta produtividade, sendo no Brasil o melhor período de plantio entre
os meses de outubro e janeiro. Por ter sementes de pequeno porte, é necessário um maior cuidado na
preparação do solo para seu plantio, sendo de 2 kg de sementes viáveis por hectare a taxa de semeadura
recomendada. Para seu manejo, recomenda‑se fazer o pastejo na área cultivada entre 60 a 100 dias
após sua germinação com uma alta lotação animal para que ocorra diminuição da competição entre as
plantas e eliminação da maioria das gemas apicais, havendo assim uma melhor e mais rápida cobertura
do solo pela forrageira.

A cultura de capim mombaça produz de 33 a 40 toneladas de matéria seca por hectare por ano, com
teor de aproximadamente 13% de proteína, o que o torna indicado para a produção de silagens.

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3.4.2.1.3 Capim tanzânia (Panicum maximum)

Planta forrageira cespitosa, com altura média de 1,4 metros e folhas decumbentes de largura de
cerca de 2,6 cm. Apresenta lâminas e bainhas glabras sem serosidade e colmos de tom arroxeado.
Possui ciclo anual e inflorescência, sendo panícula, com ramificações longas; suas espiguetas
também possuem coloração arroxeada. Apresentam palatabilidade aos animais, mesmo para os
colmos mais velhos.

O capim tanzânia necessita de solos com presença de fósforo e potássio, sendo exigente quanto
à fertilidade do solo para manter sua produtividade. É utilizado em pastejo, sendo melhor quando
utilizado sob pastejo rotacionado, com até cinco dias de pastejo para 25 a 30 dias de descanso durante
época de chuva e até 50 dias para períodos de seca (inverno). Possui uma ótima produção, chegando a
cerca de 25 toneladas de matéria seca por hectare por ano. Possui baixa tolerância a seca e frio e solos
mal drenados.

3.4.2.1.4 Capim aruana (Panicum maximum)

Gramínea originária da África, perene de verão, cespitosa com foliar vertical e aberto, próprio desse
tipo de forragem. Apresenta folhas estreitas e flexíveis, com colmos finos e touceiras próximas, sendo
uma forragem de alta densidade.

Utilizada na região Sul do Brasil, principalmente em criação de pequenos ruminantes e cavalos.


Apresenta porte médio, com cerca de 80 cm de altura, sendo uma pastagem adequada para ovinos
devido à sua altura e também por ser tolerante ao pastejo baixo. Apresenta boa capacidade de ocupação
da área de pastejo, pois não permite áreas descobertas no solo, o que auxilia no controle de pragas
e erosão, e possui um grande número de gemas basais, responsáveis pela rebrota após cada ciclo de
pastejo. Também produz uma boa quantidade de sementes, o que auxilia para uma rápida recuperação
da pastagem.

Apresenta boa aceitação pelos rebanhos, com alta produtividade, sendo maior no período de inverno
(época de seca – entre os meses de abril e setembro), sendo resistente às épocas de seca e frio. Seu
percentual de proteína bruta fica em torno de 12% e a produção de matéria seca é de 15 a 25% por
hectare por ano. Possui alta digestibilidade, que pode chegar a até 64%. Para o manejo, é importante
atentar‑se à altura da pastagem, em cerca de 40 cm de altura, para garantir um bom desempenho
animal e persistência da pastagem.

Sua semeadura deve ser realizada no começo do período de chuvas em solos, preferencialmente,
profundos, drenados, leves, friáveis e que apresentem bons níveis de fósforo, não sendo recomendado o
plantio em solos rasos ou muito argilosos.

3.4.2.1.5 Capim‑elefante (Pennisetum purpureum)

É uma cespitosa com crescimento vertical. Originário da África tropical, foi introduzido no
Brasil por volta da década de 1920, para fins forrageiros, de forma que adaptou‑se muito bem ao
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território nacional e atualmente está presente em todas as regiões brasileiras, sendo considerada
até uma planta daninha, uma vez que infesta lavouras e beiras de estrada, sendo muito agressiva
e de difícil controle – uma planta rústica e com facilidade de proliferação. Apresenta diversas
qualidades, sendo grande produtora de massa verde anual e de rápido crescimento, sendo o
primeiro corte entre dois e quatro meses após plantio. Planta pouco exigente quanto ao solo,
embora não tolere solos mal drenados e seja muito exigente com relação à fertilidade do solo,
não tolerando pH baixo e presença de alumínio no solo. São plantas de porte alto. Há alguns
grupos como:

• grupo anão: são mais adaptadas para o pastejo devido ao menor comprimento dos entrenós,
sendo elas de porte mais baixo, com até 1,5 metro de altura;

• grupo camerron: plantas de porte ereto, com colmos grossos, folhas largas, sendo seu
florescimento tardio (entre os meses de maio a julho) ou ausente, e touceiras densas;

• grupo mercker: apresentam porte menor, folhas e colmos finos, com florescimento precoce, nos
meses de março e abril;

• grupo napier: plantas que apresentam colmos grossos, folhas largas e touceiras abertas, com
florescimento intermediário, entre os meses de abril e maio;

• grupos intermediários: plantas resultantes do cruzamento entre espécies de Pennisetum


purpureum e Pennisetum americanum.

As diferentes variações são determinantes para utilizar o tipo de manejo correto para cada uma
delas.

De forma geral, podem atingir cerca de 5 metros de altura com colmos eretos, sendo eles dispostos
em touceiras que podem ser abertas ou não, preenchidos por parênquima suculento de até dois cm de
diâmetro e entrenós de cerca de 20 cm de diâmetro. Suas folhas podem apresentar coloração verde
escura ou clara com cerca de 10 cm de largura e até 110 cm de comprimento. Apresentam inflorescência
em panícula primária e terminal em formato de espiga e podem formar touceiras densas, entretanto
não fazem a total cobertura do solo. Seu plantio deve ocorrer no verão, assim que começar o período
de chuvas.

O capim‑elefante e suas variações apresentam alto potencial de produção, que pode chegar a 60
toneladas de matéria seca por hectare por ano.

3.4.2.1.6 Gramíneas do gênero Cynodon

Mundialmente recomendadas para a alimentação de rebanhos bovinos e equinos, são plantas


originárias da África, sendo adaptadas para regiões de clima tropical e subtropical. Apresentam
crescimento rasteiro, perene, tendo alta exigência quanto à fertilidade do solo, sendo seus cultivares
divididos da seguinte forma:
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• Cynodon dactylon (bermudas) – apresentam rizomas e estolões:

— coast‑cross;

— tifton;

— florakirk.

• Cynodon plectostachyus (estrela) – apresentam apenas estolões:

— estrela africana;

— estrela de Porto Rico;

— florona;

— florico;

— T68.

De forma geral, as espécies do gênero Cynodon apresentam teor de proteína bruta diretamente
proporcional ao aumento da disponibilidade de nitrogênio. A produção desse gênero costuma ser maior
em solos profundos, bem drenados e férteis, sendo o plantio realizado por mudas, preferencialmente no
verão, em períodos de chuva. As principais espécies cultivares utilizadas no Brasil são:

• Coast‑cross (Cynodon dactylon): apresenta capacidade de produzir grande quantidade de


forragem com boa relação entre folhas e colmos, sendo apropriada para a alimentação de rebanho
leiteiro e podendo ser utilizado para pastejo ou na forma de feno e até silagem. O coast‑cross
apresenta colmos finos, produzindo pastagem densa, e é resistente à seca e à geada. É muito
exigente quanto à fertilidade do solo, sendo importante para o produtor saber a taxa de nitrogênio
necessária no adubo para melhor aproveitamento da produção da forragem, além do intervalo de
corte, que deve ser de até doze semanas, de modo que a produção de matéria seca seja crescente,
enquanto o teor proteico bruto costuma ser inversamente proporcional ao intervalo de cortes.
Apresenta produção de matéria seca em média entre 18 a 20 toneladas por hectare por ano.

• Tifton (Cynodon dactylon): apresenta alta produtividade e é uma forrageira de qualidade, sendo
utilizada como pastejo e também como feno, podendo ser cultivado tanto em regiões frias como
em quentes de clima tropical e subtropical. Pode ser cultivado em solos arenosos e argilosos, desde
que adubados, sendo intolerante a ambientes sombreados e sem drenagem adequada. É cultivado
por meio de estalões, uma vez que suas sementes não costumam ser viáveis. Seu plantio deve
ser realizado durante o período de chuvas, entre os meses de outubro e janeiro. Apresenta folhas
largas verde‑claras (tifton 68) e verde‑escuras (tifton 85). Em condições adequadas de temperatura
e umidade, pode ser feito o primeiro pastejo da área cultivada entre 90 e 120 dias após o plantio.
Tem produção de matéria seca em torno de 20 toneladas por hectare por ano para este espécime.
41
Unidade II

• Estrela africana (Cynodon plectostachyus): planta perene, prostrada com estolões arqueados,
esta espécie apresenta colmos grossos, folhas largas e caules finos. Não apresenta rizomas,
sendo de tonalidade verde claro e inflorescência no formato de espigas dispostas no extremo
do colmo. É cultivada a partir de mudas, já que apresenta sementes inférteis, sendo exigentes
quanto à fertilidade do solo, a respeito do qual o produtor deve ter atenção especial para
a adubação de forma a fornecer nitrogênio para a planta, e é também recomendada para
produção de feno, embora possa ser utilizada em pastejo (menor escala). É bastante utilizada
na região Norte do Brasil, sendo substituta da B. brizantha, e bastante tolerante ao pastejo e
pisoteio animal, com tolerância moderada ao frio, sendo uma planta agressiva. Para um melhor
manejo, deve ser permitida a entrada de animais na região de plantio ao atingir cerca de 25 cm
de altura e ter a saída destes com 10 cm de altura, sendo necessário um descanso de até 30 dias
para a área.

3.4.2.1.7 Brachiaria

São consideradas plantas forrageiras tropicais, com aproximadamente 80 espécies, que apresentam
boa produção e rápido estabelecimento. São gramíneas com alta produção de massa seca e se adaptam
a uma variedade de tipos de solos, sendo seu crescimento distribuído durante grande parte do ano. São
plantas que apresentam baixo valor nutritivo, baixa digestibilidade e baixo teor de nutrientes, podendo
ser utilizadas como forragens, na produção de feno e até na recuperação de áreas degradadas. Foram
de grande importância para a viabilização da pecuária de corte no Cerrado brasileiro, sendo a base das
pastagens cultivadas no país. São responsáveis pelo desenvolvimento da indústria de sementes no Brasil,
de forma a se tornar o maior exportador desse insumo.

O Brasil apresenta cerca de 16 espécies do gênero, cultivadas como forrageiras, sendo as principais:
Brachiaria brizantha, Brachiaria decumbens e Brachiaria humidicola.

A Brachiaria brizantha é uma espécie perene, com colmos de 1 a 1,5 metro de altura. Apresenta
folhas pilosas, lineares lanceoladas, com nós salientes e rizomas curtos, sendo eles cobertos de escamas
amareladas. Apresenta inflorescência de até 12 racemos que variam entre 50 e 150 mm de comprimento
e espiguetas ligeiramente pilosas na região apical da planta.

Normalmente, são propagadas a partir de sementes. O plantio é recomendado entre os meses


de setembro e novembro, na região Sul do Brasil, podendo estender‑se até fevereiro, verificando
as condições de chuva e solo no período. Por não ser tolerante a geadas, o manejo da altura
durante o período de outono é fundamental para a manutenção da forragem. Os animais devem
ser conduzidos para as áreas de pastagem quando esta estiver com cerca de 60 cm de altura e
retirados quando a forragem chegar a 20 cm de altura. Normalmente, essa espécie não é tolerante
a solos ácidos.

A Brachiaria decumbens apresenta dois tipos reconhecidos no Brasil. A ipean é uma espécie de cultivo
de restrita difusão, com baixa produção de sementes, crescimento prostrado e nós que se enraízam, e
apresenta melhor distribuição de produção de matéria seca anual. O tipo basilisk ou australiana é o
tipo de B. decumbens mais difundida no país. A B. decumbens apresenta tolerância a solos com baixa
42
CADEIAS PRODUTIVAS I

fertilidade e ácidos; entretanto, não é tolerante a solos mal drenados, grande produção de sementes e
facilidade em estabelecer‑se, sendo uma excelente espécie para a implementação de pastos vedados.
Além disso, apresenta médio valor nutricional, que tem lenta queda e também pode ser responsável por
provocar a fotossensibilização em bovinos, além de não poder ser consumida por equinos. Sua produção
de matéria seca fica em torno de 12 a 15 toneladas por hectare por ano.

A Brachiaria humidicola tem origem africana, apresenta alta adaptação a diversos tipos de solos,
inclusive os de baixa fertilidade, e alto nível de umidade, sendo utilizada na região amazônica. Mesmo
sem muito manejo e intervalos de corte pequenos quando em pastejo, essa espécie apresenta grande
potencial de rebrota, embora tenha baixa produção de sementes. Possui estalões fortes com grande
capacidade de enraizamento, o que faz com que a cobertura do solo seja rápida, de modo a proteger
o solo contra a infestação de pragas, e apresenta rizomas e alta densidade, sendo bem agressiva. Pode
produzir cerca de 20 toneladas de matéria seca por hectare por ano, embora apresente perda rápida de
seus valores nutricionais.

Saiba mais

Para saber mais sobre o assunto, consulte o site a seguir:

LIMA, J. L. S. de L. Plantas forrageiras das caatingas: usos e


potencialidades. Petrolina: Embrapa, 1996. Disponível em: <http://ainfo.
cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/18403/1/FORRAGEIRAS‑P1.
pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014.

4 BOVINOCULTURA DE CORTE

4.1 Introdução e índices

O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, com aproximadamente 200 milhões de cabeças,
cujo sistema de produção é 90% a pasto (conhecido como modelo extensivo de produção).

Alguns dados:

• A taxa de natalidade é de 65%, embora o ideal fosse 90%.

• A idade ao 1º parto é de 34 meses, embora o ideal fosse 27 meses.

• A idade média de abate é de 36 meses, embora o ideal fosse 30 meses. Portanto, o ideal seria
aumentar a produtividade/área, ocorrendo assim a obtenção de maior rendimento. A produção
média ideal por vaca é de um bezerro por ano, porém o que se consegue é um bezerro a cada um
ano e meio por fêmea.

43
Unidade II

4.2 Denominação de bovinos segundo a faixa etária e sexo

Do nascimento até por volta de 7 a 9 meses, o bovino é denominado bezerro ou bezerra mamando.
Dos 8 aos 12 meses de idade, é denominado bezerro ou bezerra desmamado.

As fêmeas entre um ano até o primeiro parto são chamadas de novilhas. Os machos entre um e dois
anos (média de 12 arrobas, sendo que uma arroba equivale a 15 kg de peso de carcaça) são considerados
garrotes. Entre 12 e 16 arrobas, boi magro, e acima de 16 arrobas, boi gordo. A partir dos três anos de
idade, o macho inteiro (destinado para reprodução) é denominado touro.

Fêmeas a partir do primeiro parto são denominadas vacas. Há a vaca seca (aquela que não está
amamentando), podendo existir ainda as seguintes classificações: vaca mojando (próxima da parição) e
vacas com bezerro ao pé (vacas paridas).

4.3 Principais raças de corte e cruzamentos

Raça é um conjunto de animais da mesma espécie que apresentam características fisiológicas e


anatômicas semelhantes que os diferencie de qualquer outro grupamento.

Há dois troncos (subespécies) de bovinos que são Bos indicus e Bos taurus. As características
morfológicas dos Bos indicus são presença de cupim, barbela mais desenvolvida e orelhas compridas.

As características morfológicas dos Bos taurus são ausência de cupim, barbelas menos desenvolvidas
e orelhas mais curtas. De uma forma geral Bos taurus são mais produtivos, ao passo que Bos indicus são
mais resistentes a parasitas e elevações de temperatura, ou seja, estes últimos são mais adaptados às
condições que encontramos em nosso país.

Dentre as raças européias (Bos taurus), há as britânicas e as continentais. As britânicas são de


pequeno porte, porém, mais precoces, ao passo que as continentais são de grande porte.

Tanto no gado europeu quanto no zebuíno, há o tipo zootécnico (finalidade comercial de determinada
espécie e/ou raça), corte ou leite.

Como zebuínos, há as raças Nelore, Tabapuã, Brahman, Sindi, Indubrasil, Gir, Guzerá e Cangaian.
Dentre as taurinas, há as britânicas (de pequeno porte) como a raça Angus, por exemplo, as quais
são bastante precoces. E há as raças continentais, as quais são de grande porte, havendo aqui raças
portuguesas como Caracu, francesas como Limousin e Charolês, alemãs como Simental e italianas como
Marquigiana e Piemontês (dupla musculatura).

44
CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 7 – Vaca e bezerro, exemplares da raça Nelore


(Feicorte – Feira Internacional da Cadeia Produtiva de Corte, 2013)

Figura 8 – Vaca da raça Simental, que tem aptidão para produção de corte e leite
(Feileite – Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite, 2007)

É extremamente importante a realização de cruzamentos em nosso país. Trata‑se da reprodução


entre animais de raça taurina com um animal de raça zebuína, buscando somar pontos positivos
entre ambas as raças, ou seja, seus descendentes nascerão com grande produção e precocidade
(iniciam mais cedo a reprodução e atingem o peso ao abate de forma mais rápida) associadas a
uma grande resistência. Para isso, existe o cruzamento industrial, em que toda F1 (primeira geração
de filhos) é destinada ao abate, tanto machos quanto fêmeas. O fato de as características positivas
serem somadas nos descendentes é chamado de vigor híbrido, ou seja, os filhos resultantes do
cruzamento serão superiores aos pais; contudo, esse fenômeno não é replicável e não é transmitido
com grande intensidade aos seus filhos, sendo por esse motivo que tanto machos quanto fêmeas
são destinados ao abate.

Há também o cruzamento maternal, em que as fêmeas são mantidas para reprodução e os machos
geralmente são abatidos, havendo cruzamento absorvente (31/32 de sangue da raça), tricross, formação
de uma nova raça ou raça sintética e cruzamento composto.

45
Unidade II

Exemplos de raças sintéticas de corte: Canchim, Santa Gertrudes, Braford, Simbrasil e Brangus,
dentre outras, as quais têm 5/8 de sangue taurino e 3/8 de sangue zebuíno. Composto é uma
raça que tem em sua constituição a união entre 6 ou mais raças – podemos citar o Montana e o
Composto Tropical.

Figura 9 – Animais sintéticos de corte, exemplares da raça Canchim


(Feicorte – Feira Internacional da Cadeia Produtiva de Corte, 2012)

Lembrete

As raças bovinas são separadas em dois grandes grupos: taurinas


(ausência de cupim) e zebuínas (presença de cupim).

4.4 Estação de monta

É o estabelecimento de um período quando a fêmea estará sujeita a monta natural ou inseminação


artificial. A época em que deve ser feita se dá em função da melhor época para o nascimento dos
bezerros; sendo na época da chuva que os bezerros deverão nascer, a estação de monta ocorrerá nove
meses antes. Deve ser realizada, por exemplo, entre dezembro a março, para os bezerros nascerem entre
setembro e dezembro.

O período de estação de monta deve durar por volta de quatro meses. A época citada anteriormente
ainda não é de seca, e para fazendas com regime extensivo (maioria no Brasil) não fica uma grande
necessidade de fornecer alimentos concentrados, como ração aos touros, pois eles ainda estarão com
boa condição corporal.

São inúmeras as vantagens da realização de estação de monta, como maior padronização do


rebanho, o que ajuda na realização de avaliação genética entre os animais, na facilidade de manejo e na
maior seleção sobre as matrizes (vacas), retirando do plantel aquelas que não tiveram bezerro, dentre
outras vantagens.

46
CADEIAS PRODUTIVAS I

4.5 Relação touro/vaca

A variável depende de condições climáticas e geográficas, da raça do touro e de sua idade.

Touros Bos taurus apresentam mais libido que Bos indicus; assim, a relação é de um touro Bos indicus
para 25 vacas e um touro Bos taurus para 30 ou 35 vacas. No entanto, em relação a esse último, é necessário
verificar a condição climática da região. Touros jovens devem ficar com um número menor de fêmeas.

Quanto à variável geográfica, para touros Bos indicus, são usados um para 25 vacas no Sudeste e
um para 10 vacas no Pantanal, onde os pastos são muito extensos. Em relação à geografia, depende das
condições de terreno, como vales e ocorrência de erosões.

O ideal é adquirir touros jovens e retirar os que apresentam idade mais avançada (oito a dez anos),
pois apresentam grande dominância sobre o rebanho e muitas vezes são inférteis ou subférteis, além de
existir o problema de parentesco.

4.6 Instalações

Curral é o nome da unidade de manejo utilizada principalmente na pecuária de corte. Nele há vários
compartimentos, iniciando pela seringa, a qual tem forma de triângulo, para direcionarmos o animal
para o tronco. Pode haver seringa para o embarcador quando ele for afastado do tronco. O embarcador
é uma rampa para embarque e desembarque dos animais no caminhão.

Há, após a seringa, o tronco (tronco de contenção), o qual é um corredor comprido que deve ter a
forma da letra “V” para os animais não deitarem. Lá são feitos diversos procedimentos, como vacinações
e realização de curativos. Em seguida há o brete, no qual podem ser feitas cirurgias de castração, por
exemplo, sendo um local todo fechado, que realiza o serviço de três ou quatro pessoas. Após o brete,
há o apartador para separar os animais por lotes em diferentes currais – por exemplo, entre machos e
fêmeas. Depois do apartador pode existir a balança. Para facilitar o manejo e não precisar haver duas
seringas, no fim do “corredor” pode existir o embarcador.

Figura 10 – Seringa e embarcador (Guaraci‑SP, 2006)

47
Unidade II

Figura 11 – Tronco (Guaraci‑SP, 2006)

Figura 12 – Brete (Guaraci‑SP, 2006)

O curral geralmente é de madeira, devendo toda a estrutura de tronco, brete e embarcador ser
bem fechada, evitando espaço entre uma tábua e outra. O brete também pode ser de ferro. As demais
compartições, como seringa e outros, além de madeira, podem ser de cordoaria.

Observação

O curral é a unidade básica de manejo em todos os tipos de produção


animal.

Quando a fazenda for muito grande e tiver vários currais, o local em que houver cada curral é
chamado de retiro.

A instalação pode ainda ter barracão para guardar o trator e os demais maquinários que serão
utilizados na fazenda.

48
CADEIAS PRODUTIVAS I

Podemos ter confinamento para criações intensivas, onde os animais andam pouco e o cocho de
comida, sal e água são próximos. Além disso, deve‑se ter também sombra no confinamento.

Figura 13 – Espaço de confinamento vazio (Guaraci‑SP, 2006)

Para fazendas extensivas (no Brasil, corresponde a 90% das fazendas de gado de corte), há os pastos
ou piquetes, os quais podem ser separados por cerca de arame liso, arame farpado, cerca elétrica ou
ainda rio. Aqui devemos trabalhar com condicionadores de pastejo, como sal, sombra e água para
evitarmos perda por pisoteio e defecação (leva de 20 a 40% de perdas nas pastagens) num mesmo
ponto e estimular os animais a pastarem em todos os pontos do piquete.

4.7 Fases da criação: etapas de manejo

4.7.1 Cria

Congrega o rebanho de reprodução, ou seja, a maior parte do rebanho é composta de vacas,


sendo o produto final desta etapa o bezerro ou bezerra desmamado. Pode trabalhar com inseminação
artificial ou monta natural, cuja relação touro/vaca é variável segundo a raça e a idade do touro
e as condições climáticas e geográficas (de acordo com a topografia do local e tamanho de cada
pasto ou piquete).

Caso seja necessário optar por uma das fases de produção, esta é uma ótima opção, pois é possível
fazer seleção nos animais segundo habilidade materna (maneira como a vaca cuida do bezerro e
quantidade de leite que ela produz), intervalo entre partos e peso dos bezerros desmamados. Outras
vantagens são o retorno anual dos produtos – os quais foram produzidos na própria fazenda – e também
não precisar gastar dinheiro para comprar animais, já que todo ano, teoricamente, há um bezerro de
cada vaca para venda.

A separação dos lotes pode ser feita de diversas maneiras: um pasto para vacas secas, um pasto para
novilhas, um piquete maternidade, um pasto para bezerras desmamadas para reposição, um pasto para
vacas que pariram bezerro macho no início da estação de parição (pensando que a estação de monta
dura cerca de quatro meses), um pasto para vacas com bezerras fêmeas que pariram no início da estação
49
Unidade II

de parição, um pasto para vacas que pariram bezerros machos no final da época de crias e um pasto para
vacas que pariram bezerras fêmeas no final da época de crias.

O manejo sanitário geral aqui seria com vacinação contra febre aftosa, carbúnculo sintomático
(manqueira), vermífugo e brucelose para bezerras entre três e oito meses; dependendo da região,
também contra raiva. Nesse período não é necessário se preocupar em castrar os bezerros machos.

Em caso de crise financeira, pode‑se permanecer com os bezerros e vender as vacas, pois valem mais.

4.7.2 Recria

No que se refere ao rebanho de crescimento – garrotes e novilhas –, o produto inicial é o bezerro ou


bezerra desmamada. Quanto ao produto final, o macho será boi magro, podendo ser vendido castrado
ou não, e a fêmea será novilha para abate ou para outro criador que a utilizará como matriz.

Os animais podem ser divididos em apenas dois piquetes, sendo um para machos e o outro para
fêmeas.

Aqui não é necessária a vacina contra brucelose e pode‑se ou não vermifugar (isso depende do OPG
– ovos por grama de fezes –, encontrado após o exame de fezes, e também do estado físico dos animais),
mas precisa ser aplicada a vacina contra febre aftosa e carbúnculo sintomático (manqueira).

O produtor tem o lucro da venda, mas precisa gastar para comprar animais para o próximo ciclo.
Porém, há o chamado risco mercadológico, em função do preço que pagou no bezerro e do valor que
conseguirá no final, em função do preço da arroba do boi.

4.7.3 Engorda

É um rebanho de animais em terminação cujo produto inicial é o boi magro com aproximadamente
12 arrobas e o produto final, o boi gordo com 16 arrobas ou mais. O período de duração dessa fase
vai depender do peso que os animais tinham quando foram adquiridos e se o manejo em questão foi
realizado em pasto ou em confinamento.

Em confinamento, consegue‑se bom retorno em cerca de três meses. Em pastagem, se o pasto for
de qualidade, pode‑se conseguir vender em quatro meses no mínimo.

O ideal para a terminação é a utilização de confinamento, embora no Brasil a maioria dos criadores
utilize o pasto.

4.7.4 Ciclo completo

Fazenda que possui cria, recria e engorda. Mas para ter bom retorno, precisa ter grande área e de
preferência confinamento para acelerar o processo e sobrar mais espaço para as matrizes.

50
CADEIAS PRODUTIVAS I

4.8 Manejo de suplementação e degradação de pastagem

Cerca de 33% da pastagem do Brasil é considerada degradada, 33%, em degradação e 33%, de


razoável a satisfatória. Geralmente falta pasto para a época da seca; assim, deve‑se deixar pastos vedados
(sem utilização), que são as envernadas, para serem utilizados na época da seca. Como no período há
boa quantidade de forragem, porém com baixa qualidade, deve‑se muitas vezes utilizar o confinamento
para reduzir o efeito sanfona, que são bois que engordam na época da chuva e emagrecem na época
da seca.

Quanto ao confinamento, em primeiro lugar devemos utilizar cochos cimentados ou com


ladrilho, e não de barro, pois estes acarretam em redução no consumo de alimentos. O tamanho
do cocho deve permitir o acesso simultâneo de todos os animais; sendo de 40 a 50 cm/cabeça,
a linha de cocho deve ser interrompida em um metro a cada quatro metros para permitir a
circulação dos animais.

Dentre os tipos de cocho, existe também o sistema calanguete. Neste, o animal tem um colar com
chip e cada animal tem cocho exclusivo. Os lotes devem ser homogêneos, com animais da mesma
idade, para controle genético e avaliação de qual animal apresenta maior ganho de peso nesse espaço,
chamado de teste de performance.

4.9 Introdução ao melhoramento genético em bovinos de corte

Os bovinos, de acordo com a genética, são divididos em três tipos de rebanho. O de elite é aquele
no qual há seleção da melhor genética, fornecendo genes para o rebanho multiplicador e depois o
rebanho comercial, o qual é destinado ao abate.

Elite

Multiplicador

Comercial

Figura 14 – Pirâmide representando a escala genética do rebanho de corte

4.9.1 Características morfológicas a avaliar em bovinos de corte

No que se refere à coloração, em raças brancas como Nelore é comum o touro ter pescoço e cupim
cinza, mas isso não necessariamente o caracteriza como de cor cinza. Essa coloração mais escura está
51
Unidade II

relacionada com a presença do hormônio testosterona, tanto que ao término da realização da estação
de monta, ao retirar o touro de perto das vacas, ele normalmente fica mais claro.

O chanfro (comprimento entre os olhos até o início do focinho) e o pescoço no macho devem ser
mais curtos e mais largos e, na fêmea, mais delicados (pescoço lançado), demonstrando características
de macho ou de fêmea, respectivamente.

A boca deve ser grande, pois quanto mais rápido encher o rúmen, melhor.

Em relação à precocidade, ela deve ser avaliada medindo a altura da profundidade (distância entre o
dorso e o ventre do animal) e o vazio subesternal (comprimento de pernas). Se o animal for mais comprido
nas pernas, ele ainda crescerá; se as pernas forem mais curtas, ele não crescerá mais, caracterizando
precocidade. Animal precoce é mais baixo e mais profundo, e animal pernalta é muito tardio; assim, o
ideal é a característica mediana.

Existe correlação genética positiva e alta entre comprimento de umbigo e barbela: quanto maior o
umbigo, maior a barbela. Assim, o umbigo não deve ser muito curto, uma vez que a barbela tem a função
de ampliar a superfície corporal, aumentando a capacidade de troca de calor com o meio, o que é uma
característica de boa adaptação dos zebuínos aos trópicos. Por outro lado, pode haver traumatismos em
umbigos muito compridos.

A circunferência escrotal também deve ser medida, tendo no mínimo 32 cm ao sobreano.

4.9.2 Características de tipo em bovinos de corte

Estas são todas características morfológicas relacionadas à vida útil produtiva do animal.

Foi desenvolvido para avaliação de zebuínos o Epmuras, sigla que significa, estrutura, precocidade,
musculosidade, umbigo, características raciais, aprumos e características sexuais. Veja o significado de
cada uma dessas características:

• Estrutura: significa comprimento e altura e depende da raça em questão para o valor desejável
ser mais alto ou mais baixo.

• Precocidade: mostra a relação entre profundidade e comprimento de pernas, sendo ideal o valor
intermediário.

• Musculosidade: deve ser comprida e observar revestimento de paleta e dorso lombar.

• Umbigo: deve ser intermediário, pois caso seja muito comprido, pode ser lesionado. Possui
correlação positiva com barbela. Assim, caso seja muito curto, o animal apresentará pouca barbela.

• Raça: deve apresentar os padrões raciais em questão.

52
CADEIAS PRODUTIVAS I

• Aprumos: o casco com o chão deve ter angulação de 45º na parte dorsal e não pode ter jarrete
nem virado para fora (arqueado) e nem para dentro (ganchudo).

• Sexo: a fêmea deve ter estrutura delicada e o macho, estrutura masculina.

4.9.3 Seleção

A seleção é a escolha dos touros e novilhas que entrarão em reprodução, transmitindo assim seus
genes à geração seguinte.

As características gerais a selecionar em bovinos de corte são: circunferência escrotal (área do


testículo com maior diâmetro), intervalo entre partos, fertilidade, libido, rusticidade, habilidade materna
e ganho de peso, entre outras.

Devem‑se selecionar fêmeas que concebam mais cedo na estação de monta e retirar touros com
baixa capacidade de serviço e fêmeas com problemas de parto.

A matriz em uma fazenda deve parir cedo, desmamar um bezerro pesado e sadio e parir regularmente
(um bezerro/ano).

4.9.4 Índices usados no estudo de melhoramento genético em bovinos: DEP/Acc (Acurácia)

Com análise em um grande número de eventos, chega‑se ao índice chamado DEP (diferencial
esperado na progênie). O DEP é o índice que indica o quanto de diferença de desempenho fenotípico
haverá entre os descendentes de um determinado reprodutor e a média populacional ou média da raça.

Na raça simental, por exemplo, se a média ao nascimento é de 50 kg, caso o DEP do touro seja de 1,9,
seus bezerros nascerão com 51,9 kg, ganhando então 1,9 kg. O ganho de peso ao nascimento deve
ter valor intermediário, não podendo de forma alguma ter valor elevado.

A acurácia (Acc) é a percentualidade de certeza de que o índice de DEP irá se realizar.

Por exemplo, acurácia 0,98 significa que em 98% dos cruzamentos daquele touro deve ocorrer esse
DEP de 1,9 do exemplo que acabamos de apresentar. Quanto maior o número de dados analisados, maior
a acurácia. Em touros mais velhos é mais confiável, por isso geralmente a análise é realizada em centrais
de reprodução.

A acurácia vale mais a pena que o DEP. Acurácia baixa significa alto risco de investimento.

4.10 Manejo sanitário – bovinocultura de corte

Em termos sanitários, os primeiros cuidados com o animal devem ocorrer logo após o nascimento.
Deve‑se observar e garantir a ingestão de colostro nas primeiras seis horas – o que seria o tempo ideal
–, porém, o tempo limite é entre 24 e 36 horas. Outra coisa importante é em relação à antissepsia
53
Unidade II

de umbigo para evitar miíases e onfaloflebite, devido a infecções ascendentes. Em bezerros lactentes,
deve‑se observar complicações como curso (diarreia).

Para que o bezerro seja saudável, é importante que o seu nascimento ocorra no início da época de
chuvas. Assim, deve‑se evitar que haja vacas paridas na época de seca.

Quanto ao desmame, que precisa ocorrer entre os sete e nove meses de idade, ele deve ser
organizado e de preferência uma única vez, no máximo duas, dependendo do tempo da estação de
monta. Após o desmame, os machos poderão ser destinados à castração. Geralmente, é recomendável
ao desmame realizar a marcação a ferro com a sigla da propriedade e ano de nascimento para as
fêmeas, por exemplo.

Em relação ao calendário de vacinação, são obrigatórias, no Brasil, duas vacinas: brucelose para
todas as bezerras entre três e oito meses de idade e aftosa (o esquema de vacinação no estado de São
Paulo). Em todo o rebanho, para animais até dois anos, em maio e em novembro poderá ser feita junto
a vacinação contra carbúnculo sintomático (há hoje a vacina que inclui também o botulismo), o qual
traz prejuízos consideráveis ao produtor devido à mortalidade de animais jovens. Vacinação contra raiva,
somente em algumas regiões endêmicas (regiões em que a doença é comum), a partir dos três meses
de idade.

A vermifugação em maio, julho e setembro geralmente se inicia ao desmame e segue até por volta
de dois anos de idade.

4.11 Influência do meio ambiente na produção de bovinos

4.11.1 Adaptabilidade dos zebuínos aos trópicos

Os zebuínos, se comparados aos taurinos, apresentam maior quantidade de pele e maior superfície
corporal. Um exemplo disso seria a barbela, a qual é desenvolvida em zebuínos com o objetivo justamente
de aumentar a superfície corporal.

Eles possuem glândulas sudoríparas em maior quantidade e mais ativas que as dos europeus (taurinos).
Apresentam geralmente mucosas pretas, cuja função é proteger a pele contra raios ultravioletas, possuem
pelos curtos, finos e lisos que colaboram para a eliminação de calor e têm menor taxa metabólica, por
isso alimentam‑se menos, gerando menor quantidade de gordura. Também consomem menos água e
possuem maior facilidade de locomoção.

Zebuínos geralmente apresentam uma pelagem mais clara que taurinos. Uma pelagem branca,
por exemplo, pode absorver somente 20% da radiação solar, enquanto a preta pode absorver até
100%; os zebuínos em geral absorvem cerca de 49%, ao passo que o Aberdeen Angus absorve
cerca de 99%.

54
CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 15 – Animal zebuíno, adaptado. Apresenta cupim, orelha longa e mucosas escuras

4.11.2 Hábitos de pastejo

Os bovinos costumam pastar 65% do tempo durante o dia e 35% à noite. O período de pastejo tem
uma intensidade maior ao amanhecer e entardecer; já a ruminação é mais intensa à noite.

Os hábitos de pastejo podem ser influenciados pelo pasto em si ou pelo clima. Quanto ao pasto, se a
qualidade for boa, haverá um período de pastejo mais longo e um período de ruminação mais curto, ao
passo que se a qualidade for ruim, haverá um período de pastejo mais curto e um período de ruminação
mais longo. Deve‑se evitar pastos muito extensos, pois estimulam os animais a longas caminhadas. Além
disso, a sobra de capim traz prejuízo e com o tempo diminui a quantidade de proteína. Contudo, o pasto
deve ser explorado por inteiro, usando para isso os chamados condicionadores de pastejo, que são água,
sal e sombra. Deve‑se ter cada um em um local para estimular esses animais a andarem e não ficarem
pastando apenas em um local, o qual muitas vezes já possui um grande pisoteamento, levando de 20 a
40% de perdas.

Em relação ao clima, há diferenças entre zebuínos e europeus. Os animais de raças zebuínas procuram
sombra em poucas quantidades e costumam empregar mais de 80% do tempo diário na pastagem, ao
passo que a raça Angus, por exemplo, utiliza 45% do tempo buscando sombras, reduzindo então o
tempo de pastagens.

4.11.3 Resistência a agentes infecciosos e parasitários

A pelagem curta de zebuínos impede ou dificulta a penetração de ectoparasitos na superfície da pele


e a cor clara dos pêlos também atrai menos esses ectoparasitas. As orelhas longas e bastante móveis dos
zebuínos ajudam na luta contra moscas, como a “mosca dos chifres” (Haematobia irritans).

Os zebuínos são também mais resistentes a algumas doenças, como tristeza parasitária, tuberculose
e febre aftosa, por apresentarem menor predisposição.

55
Unidade II

4.11.4 Efeitos do ambiente tropical sobre a produção de leite

A produção de leite em regiões tropicais é muito baixa. O problema principal está na adaptação das
raças leiteiras de origem europeia, que são raças de alta produtividade mas muito sensíveis a temperaturas
elevadas. A temperatura corporal e a produção de leite têm uma correlação negativa (ocorrem de forma
antagônica), então quanto maior a temperatura corporal, menor será a produção de leite.

Foi analisado em alguns experimentos que existem muito mais decréscimos na produção de leite
quando há alta temperatura e alta umidade; já quando há alta temperatura e baixa umidade, a produção
de leite decai, porém, há menores perdas do que quando a umidade também é alta. No Brasil, nos meses
quentes, de verão, a temperatura ultrapassa os 29 ºC (temperatura crítica) e a umidade relativa do ar é
bastante alta.

A queda de produção de leite para vacas da raça Holandesa é ao redor de 26,5 ºC; acima dessa
temperatura, começa a produzir menos leite. Para a raça Jersey, isso ocorre em temperaturas a partir de
29,5 ºC. A umidade só influencia quando a temperatura for acima de 24 ºC.

Temperaturas mais elevadas trazem também aumento de CCS (contagem de células somáticas) e
incidência de mastite. Além disso, aumentam a susceptibilidade dos animais a infecções, por queda na
resistência e aumento à exposição aos patógenos, estando relacionado ao sistema imune.

4.11.5 Efeitos do ambiente tropical sobre a produção de manteiga

À medida que aumenta a temperatura, a porcentagem de gordura no leite também aumenta, ou


seja, em altas temperaturas há diminuição na produção de leite e com isso há aumento na produção
de gordura. Assim, dizemos que há correlação negativa entre produção de leite e produção de gordura.

4.11.6 Efeitos sobre o ganho de peso:

A zona de conforto térmico de Bos taurus se dá entre 0,5 e 16 ºC, ao passo que a de Bos indicus ocorre
entre 15 e 36 ºC. Assim, as raças zebuínas suportam uma temperatura mais alta. Em um experimento
feito na Colômbia, viram que a raça que mais suportou variações de temperatura foi a Santa Gertrudis
(5/8 Short Horn, 3/8 Brahman), o que mostra que herdou aptidões de adaptação para o frio do Short
Horn e as de calor do Brahman.

Em provas de ganho de peso, o recorde de ganho de peso por dia foi de 1776 kg para um animal da
raça Santa Gertrudis, na década de 1970.

4.12 Manejo nutricional

A criação de bovinos no Brasil é a atividade econômica que ocupa a maior extensão de terra. Segundo
o último censo agropecuário realizado pelo IBGE (BRASIL, 2006), o Brasil possui cerca de 172 milhões de
hectares ocupados com pastagens ligadas à criação de bovinos e apresenta o segundo maior rebanho
bovino do mundo, atrás apenas da Índia, que, por questões religiosas e culturais, não utiliza esses
56
CADEIAS PRODUTIVAS I

animais com finalidade econômica. Com isso, o Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos de
todo o mundo.

Em termos de produção, no período entre 1990 e 2007, a produção de carne bovina no país passou
de 4,1 para 9 milhões de toneladas. Esse aumento fez com que o Brasil, a partir de 2004, se tornasse o
maior exportador mundial de carne bovina, superando a Austrália.

Assim como na produção de carne, o Brasil vem se consolidando na produção de leite (é o sétimo
maior produtor mundial), com cerca de 27 bilhões de litros por ano. Ao lado de Nova Zelândia, Austrália
e países pertencentes à União Europeia, é um dos maiores exportadores de produtos lácteos.

Atualmente, o Brasil possui alguns dos maiores frigoríficos do mundo, como a JBS‑Friboi e a Marfrig,
que inclusive possuem empresas fora do território nacional. O país se tornou responsável, em 2007, por
aproximadamente 33% das exportações mundiais de carne bovina.

O gado bovino está presente no Brasil desde a chegada dos primeiros portugueses e sua presença
histórica foi de grande importância, segundo historiadores, sendo responsável em sua extensão territorial
atual. Durante séculos, sua criação foi considerada como uma atividade secundária no Brasil, de modo
a apoiar as atividades centrais do país, sendo vinculada à produção das chamadas commodities de
exportação, como o cultivo de cana‑de‑açúcar no Nordeste brasileiro. De fato, os primeiros rebanhos
bovinos brasileiros foram utilizados não apenas para alimentação da população, mas para realizar
funções como a movimentação dos moinhos de cana e transporte da produção de cana no país, além
de terem o couro para a fabricação de calçados, roupas e demais utensílios.

Devido ao fato de o Brasil priorizar a produção de cana‑de‑açúcar e as dificuldades do período


histórico (por exemplo, ausência de cercas de arame), era proibida a criação de gado em áreas próximas
às plantações de cana, de modo que as terras mais férteis e com melhor clima eram priorizadas para
o cultivo da cana‑de‑açúcar. Por essa razão, a pecuária de corte foi estabelecendo‑se no Brasil no
interior da região Nordeste. Devido às condições desfavoráveis da região, o início da pecuária brasileira
apresentava um baixo nível de produtividade e qualidade. Essas desvantagens explicam a dispersão
territorial que caracteriza o desenvolvimento da atividade pecuarista na região.

Diferentemente de outras atividades no Brasil, como a criação de frangos e suínos, que apresentam
sofisticado padrão tecnológico, a pecuária bovina não apresentou, de forma geral, grandes modificações
ao longo dos séculos. Logo, ainda nos tempos atuais prevalece na pecuária bovina a produção extensiva,
sem o uso de estábulos ou outros requisitos, assim como era realizado na época dos colonos.

Atualmente, as regiões Norte e Centro‑Oeste brasileiras apresentam as maiores taxas na expansão


do rebanho bovino brasileiro.

Com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, houve um deslocamento do eixo de crescimento para
o Sudeste do país, assim como a expansão da pecuária bovina, que passou a se concentrar nessa mesma
região. A partir do começo do século XX, ocorreu a entrada dos primeiros frigoríficos estrangeiros no
Brasil, alterando o cenário da atividade pecuarista bovina no país, que passou a visar apenas à exportação
57
Unidade II

de carne para a Europa, de modo que toda a indústria brasileira de carnes congeladas passou a ser
formada por filiais de grandes empresas estrangeiras. Durante décadas, essas multinacionais passaram a
dominar o mercado de carne nacional, chegando até a iniciar a criação de gado em território brasileiro.
Durante o período entre 1940 e 1967, as pastagens em terras brasileiras passaram a ser de quase 35
milhões de hectares, sendo que o rebanho bovino nesse mesmo período quase dobrou, chegando a cerca
de 90 milhões de animais. É importante ressaltar que ainda durante esse período houve um aumento no
consumo doméstico de carne, leite e derivados, principalmente nas áreas urbanas do país.

Com a expansão das pastagens, as regiões de São Paulo, Goiás e Mato Grosso, inexploradas até então,
passaram por um ritmo de expansão acelerado, correspondendo com a intensificação das exportações
de carne do país. Essa expansão, em grande parte, se deu devido à substituição da agricultura pela
pecuária, o que demonstra a decadência das atividades agrícolas, em especial nas regiões de exploração
mais antigas. De fato, quando há o esgotamento da fertilidade natural do solo, a pecuária resta como
alternativa. Com ela, não há demanda de um grande número de mão de obra, sem necessidade de
solos com alta fertilidade, sendo de fácil instalação. Por isso, a pecuária aparece como uma atividade
econômica ideal à substituição das atividades em terras já desgastadas, com erosão, que não apresentam
mais rendimento agrícola.

A substituição da agricultura acentuou‑se a partir da Segunda Guerra Mundial (1939–1945),


principalmente com a valorização da carne bovina, valorização esta que fez com que a pecuária bovina
fosse explorada até em áreas de terras de qualidade que até aquele momento ainda eram ocupadas por
atividades agrícolas. Na década de 1970, o estado do Mato Grosso já despontava como uma das maiores
regiões pecuaristas do país. De forma geral, houve um grande crescimento da pecuária bovina com 5%
de crescimento em todo o rebanho nacional. A partir da década de 1990, iniciou‑se a exploração da
região amazônica com a introdução de pastagens (e terras com preços mais baixos), o que fez com que
a pecuária bovina sofresse uma diminuição na região Centro‑Oeste. O rebanho bovino se expandiu em
cerca de 7,4%, concentrando‑se nos estados de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins, que juntos
foram responsáveis por aproximadamente 70% do crescimento total do rebanho brasileiro.

Recentemente, em especial no estado de São Paulo, a cana‑de‑açúcar está tomando o lugar do gado
bovino. Regiões como Araçatuba, antes conhecida como “capital nacional do boi gordo”, veem a criação
de gado ser substituída pelo plantio de cana. Os pecuaristas têm optado por arrendar suas propriedades
para as usinas para o plantio de cana‑de‑açúcar devido tanto à rentabilidade desse tipo de atividade, que
chega a ser até três vezes maior, quanto à estabilidade da atividade que oferecem com os contratos de
arrendamento. No ano de 2005, o estado de São Paulo era responsável por 61% de toda a carne bovina
exportada pelo país; já em 2007, essa porcentagem caiu para em torno de 50% do total de exportações.

Pesquisadores estimam que o rebanho bovino brasileiro sofrerá um aumento de 7,8% em relação
ao seu tamanho atual, que é estimado em algo em torno de 170 milhões de cabeças. Isso é considerado
uma recuperação do setor, visto que no período de 2003 e 2004 o rebanho nacional era estimado em
200 milhões de animais. Nos últimos anos, devido aos baixos preços dos produtos de pecuária, ocorreu
um abate de matrizes, reduzindo o número de animais. Há a expectativa que para os próximos anos
ocorra um aumento contínuo da capacidade de suporte das pastagens, de modo que haja um número
maior de animais em áreas cada vez menores.
58
CADEIAS PRODUTIVAS I

Por utilizar predominantemente a criação de maneira extensiva (a pasto) e somando‑se a isso a


proibição do uso de hormônio de crescimento nas criações, o rebanho brasileiro demora mais tempo
para atingir o peso ideal para o abate quando comparado aos demais produtores de carne bovina,
como os Estados Unidos, a Rússia e a China, embora esta última não apresente as mesmas técnicas de
criação dos demais países, pois ali o abate costuma ocorrer antes de o animal atingir o peso e idade
considerados ideais.

O Brasil, juntamente com o restante da América do Sul e a Austrália, apresenta atualmente a maior
produção excedente de carne bovina do mundo, enquanto há déficits de produção na União Europeia,
Rússia, China e América do Norte, o que torna essas regiões dependentes de importação.

Embora o setor pecuário envolva produtores artesanais, que ainda não apresentam gerenciamentos
técnicos, ele também conta com pecuaristas altamente tecnificados, sendo que esta atividade vem se
tornando mais complexa. O avanço da tecnologia e sua aplicação na cultura de grãos permitiu que terras
antes consideradas improdutivas para a agricultura e usadas apenas para a pecuária extensiva sejam utilizadas
também para tal propósito. Assim, a criação de gado passou a disputar espaço com as demais atividades.

Nos últimos 20 anos, o mercado consumidor também passou por algumas mudanças, desde
exigências sanitárias no transporte da carne e concorrência com carnes de outras origens (frango, por
exemplo) até exigência do público consumidor. Essas mudanças geraram algumas alterações na criação
e no tipo de animal criado no país. De forma geral, o mercado ficou mais exigente quanto à qualidade
da carne consumida, de forma que o gado mais novo (que possui a carne mais macia) passou a ser mais
valorizado pelo mercado. Assim, quanto mais velho for o animal de abate, menor será o seu valor de
mercado (mais dura será a carne).

Dentro da cadeia produtiva da pecuária bovina, o couro aparece como o principal subproduto,
representando aproximadamente 17% do animal (cerca de 40 kg). É exportado para diversos países, o
que gera uma renda de cerca de U$ 2 bilhões/ano. O sebo bovino também apresenta valor econômico
por ser utilizado na indústria de cosméticos e também na produção de biodiesel. Os miúdos e tripas
também costumam ser comercializados pelos frigoríficos.

Os pecuaristas alegam que os frigoríficos não pagam a eles por todos esses subprodutos
comercializados. A cadeia produtiva preserva a prática de precificação do boi. Nela, conforme as tradições
do século XIX, os abatedouros prestavam o serviço de abate: entregavam a carcaça ao produtor e como
pagamento por esse serviço ficavam com o couro e com os miúdos do animal.

Embora os frigoríficos aleguem que o valor do couro esteja contabilizado no valor pago aos produtores,
segundo os frigoríficos, aproximadamente 93% do couro brasileiro apresenta defeitos (marcas de fogo,
cicatrizes, carrapatos, bernes e sarnas, entre outros), o que implica um menor valor agregado desse
material. Tais divergências são responsáveis pelas constantes tensões comerciais entre produtores e
frigoríficos, juntamente com a relação do preço pago pelo boi gordo.

Devido às suas dimensões, a pecuária de forma geral é considerada uma atividade econômica que
apresenta impacto significativo ao meio ambiente.
59
Unidade II

Seguem os principais impactos causados pela atividade pecuarista no Brasil:

• destruição de ecossistemas, pois áreas que apresentam baixa produtividade ou que chegam
a seu esgotamento podem ser incentivadas a expandir suas fronteiras sobre biomas próximos,
sendo responsáveis pela destruição do habitat natural de diversas espécies (fauna e flora nativa),
sendo juntamente com outras atividades agrícolas a principal ameaça de biomas importantes
como a Amazônia e o Cerrado brasileiro;

• degradação do solo, assim como sua compactação e erosão, devido ao baixo investimento
para a manutenção das pastagens;

• poluição dos recursos hídricos, pela carga de nutrientes (potássio, fósforo e nitrogênio do
esterco dos animais), hormônios, juntamente com patógenos, e até metais pesados, carregados
para o leito dos rios por meio da lixiviação do solo;

• emissão de gases causadores do efeito estufa, pois estudos mais recentes apontam a
atividade da pecuária como responsável em até 9% da emissão desses gases (metano – CH4 e
óxido nitroso – N2O).

Apesar de toda a importância da atividade pecuarista do bovino para o Brasil, os sistemas


de criação predominantes no país ainda são caracterizados pelos baixos índices zootécnicos que
resultam em problemas sanitários, nutrição não adequada, manejo precário e animais com baixo
potencial genético.

Em termos econômicos, a pecuária representa cerca de 8% do PIB (produto interno bruto) brasileiro.
O rebanho brasileiro atual está distribuído da seguinte forma:
Norte
11%

Centro Oeste
34%
Sul
17%

Sudeste
23%

Nordeste
15%

Figura 16 – Distribuição do rebanho de gado bovino de corte no Brasil

60
CADEIAS PRODUTIVAS I

A criação de gado bovino comercial tem por objetivo a produção de carne bovina de qualidade para
alimentação humana. Junto a isso, também fornece matéria‑prima para as indústrias de calçado, de
roupas, de rações, de cosméticos e farmacêuticas. Já a criação de gado bovino de elite visa à criação de
animais para matrizes e reprodutores, sendo estes utilizados em ambos os tipos de criação.

Para qualquer sistema de produção de gado bovino de corte, é importante considerar os seguintes
aspectos:

• práticas e tecnologias de manejo;

• propósito da criação animal;

• tipo de animal utilizado, raça ou grupamento genético;

• região (aspectos ecológicos, sociais, culturais e econômicos) onde a atividade será desenvolvida.

Esses aspectos são de grande importância para que a criação seja eficaz e atinja os resultados
esperados. Junto a tais aspectos, também devem ser levadas em consideração a demanda a ser atendida,
as definições do mercado e as exigências do mercado consumidor.

Conforme já citado anteriormente, a produção de carne bovina no Brasil é caracterizada por sua
dependência, quase exclusiva, de pastagens. Se por um lado o uso de pastagens resulta em produção com
custos relativamente baixos, por outro, seu uso como fonte exclusiva de alimentação causa problemas
de competitividade no setor, já que nos dias atuais há, com a relação preço x qualidade, uma maior
exigência do mercado, que está buscando produtos que apresentem uma melhor qualidade. O manejo
dessas pastagens também pode interferir na qualidade do produto final.

As áreas de pasto têm sofrido uma rápida e forte diminuição de sua capacidade produtiva, ocorrida
principalmente por processos de degradação que acabam por limitar e até inviabilizar a atividade
pecuária nessa região. Em torno de 60 a 80% das pastagens brasileiras apresentam algum grau de
degradação, sendo incompatível com sua condição ecológica local. Esse dado demonstra de que forma
a degradação dos pastos brasileiros apresenta um impacto econômico na criação do gado no país.

Para a criação dos animais a pasto, há técnicas que permitem que a criação seja eficiente e levam à
rápida rebrota da pastagem, de forma que a manutenção das pastagens resulte em plantas forrageiras
perenes.

O sistema de pastejo, seja ele contínuo ou rotacionado, apresenta inúmeros aspectos a serem
considerados: intensidade de desfolha, frequência de pastejo, teor de carboidratos de reserva, eficiência
na colheita da forragem, ajuste de animais por oferta de pastagem e utilização de adubos, entre outros.

Comparar os dois tipos de sistema de criação a pasto (contínuo e rotacionado) revela vantagens e
desvantagens que devem ser levadas em consideração pelo pecuarista na hora de decidir qual sistema
utilizar.
61
Unidade II

A comparação entre as vantagens e desvantagens de diversos aspectos para cada um desses sistemas
pode ser representado no quadro a seguir:

Quadro 1

Comparação entre sistemas de pastejo contínuo e pastejo rotacionado


Aspectos relacionados Sistema contínuo Sistema rotacionado
Investimentos
Mão de obra Positivo Negativo
Instalação de cercas e água Positivo Negativo
Manejo das pastagens
Ajuste da carga animal Negativo Positivo
Pressão de pastejo Negativo Positivo
Consumo seletivo Positivo Negativo
Observação do comportamento animal Negativo Positivo
Aproveitamento da forragem Negativo Positivo
Produção (direta e indireta)
Ganho de peso/animal Positivo Positivo/negativo
Controle de plantas invasoras Negativo Positivo
Distribuição de esterco/adubo Negativo Positivo
Sustentabilidade das pastagens Negativo Positivo

Ao analisar o quadro, é possível verificar que o sistema de pastejo rotacionado permite ao produtor
mais vantagens de manejo, sendo este facilitado pela adoção de períodos de descanso e controle no
fluxo de animais por piquetes.

Para a utilização de pasto com sistema rotacionado, o produtor deve se utilizar de piquetes, que são
as divisões do pasto. Suas dimensões ideais podem ser estipuladas a partir de um cálculo, que relaciona
a quantidade de área disponível para pastagem à quantidade de animais e ao período de pastagem.

Cálculos

Quantidade de piquetes = PD ÷ PO + número de grupos de animais

Tamanho do piquete = número de UA x área UA/dia x período de uso

Área total necessária: nº de piquetes x tamanho de cada piquete

Sendo

UA = unidade animal, de forma que 1UA = 450 kg de peso vivo (PV)

Área/UA/dia = 30 a 150 m², sendo 80m² (em média)

62
CADEIAS PRODUTIVAS I

Período de ocupação (PO)

Período de descanso (PD)

O sistema rotacionado tende a ter a produção do rebanho aumentada, o que aumenta a


competitividade da bovinocultura.

Sendo as pastagens a fonte de alimento mais econômica para os bovinos, durante o período de
chuvas, de forma geral, ocorre um aumento contínuo no crescimento dos animais. Entretanto, há uma
redução considerável da produção durante a estiagem, junto com a redução de oferta e o valor nutritivo
das pastagens. Assim, para os sistemas de criação a pasto, é importante que o produtor se planeje
de modo a conseguir oferecer, na época da seca, forragem para o rebanho. Ele deve também deve se
atentar ao fornecimento de volumoso para essa época de escassez de forragem, visto que nessa época
a qualidade e a quantidade de forragem podem ser deficientes. Portanto, é necessário que o pecuarista
utilize estratégias para evitar que ocorra queda de produção e peso de seu rebanho.

Pode‑se reservar parte do pasto (entre 90 a 120 dias antes de sua utilização) para ser utilizado
juntamente com suplementação concentrada, oferta de cana‑de‑açúcar corrigida (com ureia e sulfato
de amônio, ambos com cuidado para evitar possíveis intoxicações) e utilização de silagens, fenos e
resíduos e subprodutos agrícolas.

O excesso da forragem produzida durante a época de chuvas pode ser armazenada como feno
ou silagem para ser oferecida ao rebanho durante a estiagem, embora muitas vezes sejam técnicas
consideras inviáveis para o fazendeiro devido a problemas estruturais e operacionais das propriedades.
O produtor também pode fazer a reserva de pasto, como a vedação de alguns piquetes durante o
período chuvoso, para ser oferecido ao rebanho quando há diminuição da produção de pasto na seca.
Esse manejo costuma gerar um acúmulo de tecidos mortos e de caules, além de uma diminuição na
qualidade das folhas remanescentes, sendo que estas costumam acumular nessa época uma quantidade
maior de fibras não digeríveis, tendo menos proteína bruta, o que gera perda de aproveitamento do
pasto, causando possíveis perdas de peso para o rebanho durante a estiagem.

Para que tais efeitos sejam amenizados durante esse período, o produtor deve se utilizar de algumas
estratégias de suplementação alimentar para seu rebanho. Devido aos diferentes modos de suplementação
dos rebanhos criados a pasto, é importante saber o conceito das nomenclaturas amplamente utilizadas.
Veja:

• Suplemento: tudo aquilo que se oferece a mais, de forma a suprir alguma deficiência; parte que
se adiciona a um todo de modo a melhorá‑lo.

• Complemento: tudo aquilo que se agrega a outra parte; o que falta para completar o todo. Ao
suplementar a dieta, complementa‑se a alimentação dos animais.

• Suplemento proteico: mistura de alimentos proteicos, acrescidos de NaCl (sal mineral) e ureia.

63
Unidade II

• Suplemento energético: mistura de sal mineral e alimentos energéticos.

• Suplemento múltiplo: mistura de mineral (ureia e NaCl) junto a alimentos proteicos e energéticos,
sendo uma ração concentrada que possui um regulador de consumo voluntário.

Para os animais criados a pastos tropicais, o fator de proteína bruta costuma ser o limitante no
crescimento do rebanho. Quando esse teor de proteína bruta é inferior a aproximadamente 60 ou
70 g/kg de MS, ocorre a redução na ingestão da forragem causada por deficiência de nitrogênio (N).
Esse fato ocorre bastante no período da estiagem. Ao oferecer nitrogênio adicional para os animais, o
produtor favorece o crescimento de bactérias fibrolíticas que aumentam a taxa de digestão e síntese de
proteínas, o que permite melhorar o balanço energético do animal, pois melhora o consumo voluntário
da forragem.

No Brasil, a ureia é uma importante alternativa para elevar o percentual de nitrogênio de dietas
deficientes desse nutriente por ser de baixo custo, bem disponível no mercado e possuir elevada
concentração de nitrogênio. Como ela não é palatável, a ureia também atua como controlador no
consumo do suplemento pelo animal e apresenta maior eficiência quando oferecida junto aos alimentos
energéticos com alto teor de carboidratos não fibrosos. Para evitar que ocorra intoxicação do rebanho por
ureia, deve‑se fazer corretamente sua mistura com os demais ingredientes de modo que seu consumo
seja ajustado para entre 0,1 e 0,2 g/kg de peso vivo durante a fase de adaptação e entre 0,3 e 0,4 g/kg
de peso vivo após o período de adaptação.

O sal mineral (NaCl) também é muito utilizado na suplementação do rebanho. Costuma‑se utilizar até
350 g de NaCl/kg de suplemento, por isso é importante que o rebanho tenha a sua disposição um bom
volume de água. Para evitar o consumo excessivo de sal pelo rebanho, o produtor deve iniciar a oferta
de concentrado com altos níveis de NaCl e ir reduzindo sua proporção até obter o consumo desejável. O
sal mineral é utilizado como controlador no consumo do suplemento por parte do rebanho. Para que o
consumo aumente, deve‑se diminuir a proporção de NaCl na mistura; para que ocorra a diminuição do
consumo, o produtor deve aumentar a proporção de NaCl, lembrando que baixos níveis de NaCl como
controlador do consumo estão relacionados com a palatabilidade dos demais componentes da dieta,
como a ureia e farinha de peixe, entre outros.

4.13 Confinamento de bovinos de corte

No confinamento, os animais são terminados em piquetes, ou currais com área restrita, de forma
que os alimentos e a água são fornecidos em cochos. De forma geral, o sistema de confinamento é
utilizado na fase de terminação dos bovinos, embora os demais animais do rebanho também possam ser
alimentados dessa forma.

O confinamento é muito utilizado no Brasil durante a época de estiagem, no período de entressafra


da produção de carne, com o objetivo de que o produto alcance melhor preço no ápice desse período.

Os rebanhos engordados a pasto apresentam ganho de peso de aproximadamente 0,5 kg/dia durante
o período de chuvas, o que é considerado um bom desempenho. Durante a estiagem, o rebanho costuma
64
CADEIAS PRODUTIVAS I

apresentar um desempenho fraco; nesse período, o rebanho pode manter ou até perder peso devido
à qualidade e diminuição das pastagens. No Brasil, devido a esses desempenhos, o animal de corte
costuma ser abatido antes dos 54 meses de idade, tendo como peso médio algo em torno dos 525 kg.

A partir de práticas de manejo adequado, o produtor poderia aumentar a produção de seu rebanho
durante a seca, mesmo que esse aumento não gerasse resultados semelhantes ao do período das chuvas,
pois a maturação do pasto e das forragens está relacionada aos períodos de seca (meses de junho a
setembro). Assim, se o produtor tem interesse em manter o ganho de peso de seus animais durante
o período de estiagem, é imprescindível que seja oferecida uma alimentação mais equilibrada para o
rebanho, sendo o confinamento uma boa opção para tal propósito.

A variação de objetivos e recursos disponíveis acarreta em diversas combinações entre animais, tipos
de instalações e rações. Sendo o Brasil um país em que há muita terra, pouco capital e um sistema de
classificação de carcaça ainda incipiente, além de um baixo poder aquisitivo, seria mais lógico pensar
no sistema de confinamento apenas na etapa de terminação dos animais durante o período de seca,
de modo a utilizar instalações simples e alimentos produzidos no próprio local. Porém, para o sistema
de confinamento, é importante saber que o produtor deve ter à sua disposição bons animais, bons
alimentos, preços competitivos e mercado para o gado, além de uma gerência eficiente, como condições
fundamentais para poder adotar o confinamento.

No que se refere à fase de criação do confinamento, ela pode ser realizada pelo proprietário do gado
ou por produtores comerciais que, utilizando‑se de contratos, produzem ou compram os alimentos e
recebem os animais de terceiros, mas fazem a terminação deles em suas instalações.

Para a terminação de animais de corte, o confinamento pode significar diversas vantagens. Com o
aumento da eficiência da produção do rebanho, os animais podem ter sua idade para abate diminuída,
de modo que seja mais bem aproveitado, e diminuindo o capital investido, que pode retornar para as
fases anteriores. Ao diminuir a idade de abate, há melhorias nos indicadores físicos da produção de
modo a tornar o sistema de confinamento mais eficiente na produção de animais. O produtor pode usar
a pastagem excedente do período de chuvas e assim liberar as áreas de pastagem para outras atividades
durante o tempo de confinamento.

No confinamento, o uso de insumos, máquinas e mão de obra é realizado de maneira mais eficiente.
É importante, nesse período, estar atento aos custos, sendo que a alimentação é responsável pela maior
parte desses custos. Considera‑se importante que o confinamento esteja localizado em regiões que
possuam grande disponibilidade de alimentos, em especial quando o proprietário depende da compra
de alimentos para serem utilizados pelo rebanho.

O curral de confinamento também deve estar bem localizado dentro da própria propriedade, sendo
recomendado que fique próximo a fontes de água, preferencialmente fartas e de boa qualidade, mas
não perto de córregos ou rios, para evitar o impacto ambiental. É também necessário que esteja próximo
à rede elétrica, deve possuir piso com declive entre 3% e 8%, sendo preciso evitar áreas próximas a
rodovias ou locais de grande circulação para que não ocorra estresse animal, infecções e furtos do
rebanho. Também não é recomendável que se localize em áreas que possam apresentar vento canalizado,
65
Unidade II

para não incomodar a vizinhança. É importante optar por áreas bem drenadas, garantindo piso seco para
os animais e solo firme que seja resistente à erosão, e evitar locais que estejam sujeitos a inundações.

Os sistemas de confinamento para bovinos de corte, quando bem projetados, costumam apresentar:

• centro para o manejo dos animais, brete, apartador, balança e embarcador;

• área para a produção de alimentos utilizados pelos animais em confinamento (milho, sorgo,
forragens, capineiras);

• silos e/ou salas para o armazenamento de feno;

• área de preparo dos alimentos, podendo ser um galpão com maquinário ou equipamentos para
triturar, picar, misturar os alimentos e balança;

• currais de engorda;

• estrutura para coleta de esterco;

• estrutura de conservação do solo e água como controle de poluição e conservação da área.

O curral deve estar orientado de preferência no sentido Leste‑Oeste, de modo a evitar que ocorra
maior incidência dos raios solares durante o dia, minimizando a exposição dos animais ao calor. Nos
piquetes, onde não há limitação de espaço nas laterais, recomenda‑se a disposição Norte‑Sul, de forma
que os animais se movimentem junto com o deslocamento da sombra do abrigo. Desse modo, o piso fica
mais exposto ao sol, reduzindo a formação de lama.

As instalações devem ser práticas e funcionais, de baixo custo, visando facilitar o manejo do rebanho
– lembrando que o produtor pode aproveitar de todas as estruturas e equipamentos já existentes na
propriedade, desde que apresentem as condições necessárias.

Os animais confinados devem estar separados em lotes, de modo a se obter animais homogêneos
nas mesmas divisões. Para isso, deve‑se evitar incluir novos animais em lotes que já estejam em
confinamento, sendo que lotes homogêneos permitem o uso de rações específicas para os animais de
cada divisão, de forma que melhore o desempenho e tenha melhor controle da produção em cada uma.
É recomendado que os lotes possuam número de animais compatível com a capacidade de carga dos
transportes, evitando exceder o número de 100 animais/curral.

Normalmente, sugere‑se um espaço entre 12 a 50 m² por animal. A região onde a propriedade


está localizada é fundamental para determinar esse espaço: regiões mais secas permitem utilizar áreas
menores por animal, enquanto regiões mais úmidas tendem a necessitar de uma área maior por animal.
Isso evita que os animais entrem em contato com a lama, o que costuma interferir negativamente no
seu desempenho. Para isso, recomenda‑se nessas regiões a construção de calçadas ao longo dos cochos
e de galpões com pé direito elevado (com cerca de três metros de altura).
66
CADEIAS PRODUTIVAS I

As cercas do confinamento podem ser construídas de diversos materiais (arame liso, tábuas, cordoalha)
e devem ter altura mínima de 1,80 m. Currais que possuam terminação a céu aberto normalmente
dispõem dos cochos de alimentação na sua parte frontal, com as porteiras na parte posterior, de forma
que elas possam se comunicar com o corredor de circulação. Os cochos também podem ser de diversos
materiais, devendo ficar ao abrigo do sol e da chuva para ter um maior tempo de vida. Para que todos
os animais se alimentem ao mesmo tempo sem que ocorra estresse ou competição pelo alimento,
recomenda‑se que o cocho possua um espaço de 70 cm de comprimento para cada animal.

Para aplicação de vacinas, vermífugos e outros produtos veterinários são ministrados no tronco de
contenção coletiva, onde os animais são enfileirados. Por ser um local estreito – mesmo não estando
totalmente contidos, os animais têm mais dificuldade de se movimentar –, o acesso ao tronco de
contenção é feito através de uma estrutura conhecida como seringa, que se assemelha a um funil, o que
acelera e facilita o manejo. O tronco de contenção costuma ser utilizado para encaminhar os animais
para o tronco de contenção individual. Nele é possível realizar a marcação e a identificação dos animais
e também podem ser realizados no local os exames e os tratamentos de ferimentos individuais.

Figura 17 – Confinamento bovinos de corte (Guaraci‑SP, 2007)

4.14 Confinamento de gado leiteiro

Para a criação de gado leiteiro, após a desmama os machos costumam ser vendidos para recriadores ou
mantidos na propriedade até a idade de abate e as novilhas e as vacas de descarte são vendidas para o corte.

Em sistemas extensivos, a produtividade das vacas leiteiras costuma ser baixa. Nos casos em que o
rebanho costuma ser composto de animais mestiços, é comum as vacas serem ordenhadas apenas uma
vez ao dia com o bezerro ao pé, ocorrendo o aleitamento natural com desmama próximo aos oito meses
de idade do bezerro.

Já em sistemas semi‑intensivos, a alimentação é realizada em pastagens, mas com a suplementação


com volumosos (normalmente de baixa qualidade nos períodos de seca), o uso de concentrados
comerciais ou alimentos simples, como farelo de soja, trigo e milho, é mais comum, juntamente com
subprodutos agroindustriais.
67
Unidade II

O rebanho ainda costuma ser composto de animais mestiços. As vacas costumam ser ordenhadas
duas vezes ao dia, o aleitamento dos bezerros é predominantemente natural e a desmama ocorre por
um período entre oito e dez meses. Há produtores que mesmo no sistema semi‑intensivo utilizam
aleitamento artificial para bezerros com desmama já em torno dos três meses de idade. Nesse sistema,
as instalações costumam ser simples, apresentando algum investimento para salas de ordenha e tanques
de resfriamento de leite. Eventualmente, há a assistência de técnicos de cooperativas ou empresas de
insumos e laticínios.

O sistema intensivo em pastagens a partir do uso de gramíneas de alta capacidade de suplementação


com volumosos nos períodos de estiagem, embora alguns produtores utilizem da suplementação no
cocho durante todo o ano, faz com que a produtividade dos animais cresça. O uso de concentrados varia
de acordo com o rebanho, mas é comum o uso de concentrados comerciais ou misturados na própria
fazenda com ingredientes de boa qualidade (milho, farelo de soja e trigo) para todo o rebanho (vacas em
lactação, secas e novilhas). Alguns rebanhos possuem ainda animais mestiços, mas outros já apresentam
animais puros, das raças Holandesa e Gir.

Nesse sistema, as vacas são ordenhadas duas vezes ao dia e o aleitamento é artificial, com desmame
aos três meses de idade. De forma geral, os machos são vendidos o mais cedo possível para o abate
e as novilhas ou vacas de descarte são vendidas para o corte ou para outros produtores. O sistema
apresenta instalações simples, com investimento nas salas de ordenha e tanques de resfriamento
de leite, e nele é comum a assistência permanente de veterinários ou técnicos das cooperativas e
indústrias de laticínios.

Há também o sistema intensivo em confinamento para o rebanho leiteiro. A alimentação do rebanho


é realizada de forma exclusiva no cocho, sendo utilizados normalmente silagem de milho, feno de alfafa
ou gramíneas de alta qualidade como volumosos.

Os concentrados são oferecidos para todas as categorias de animais do rebanho, sendo predominante
o uso de rações comerciais, embora em muitas propriedades ainda sejam utilizadas misturas feitas na
própria fazenda. Os rebanhos são formados, principalmente, de animais puros de raças taurinas, mas há
animais mestiços que apresentam alto grau de sangue holandês.

As vacas em lactação são ordenhadas até três vezes ao dia, dependendo da produção ou estágio de
lactação. O aleitamento dos bezerros é feito de forma artificial com desmame entre dois e três meses de
idade. Os machos são descartados o mais cedo possível e a maioria deles é vendida para abate, embora
alguns sejam destinados para recria como futuros reprodutores.

As novilhas e vacas de descarte podem ser comercializadas como reprodutoras ou para corte, sendo
essas fontes alternativas de renda para o produtor no contexto de sistemas modernos de criação. Nesse
sistema, há um rigoroso controle sanitário, o que diminui potencialmente o risco de propagação de
doenças, sendo que esse risco é muito menor quando comparado aos outros sistemas de produção, e a
assistência veterinária é permanente. No sistema intensivo de confinamento, há maiores investimentos
para as instalações; incluindo salas de ordenha modernas e de resfriamento do leite e alojamentos, que
normalmente são do sistema free‑stall, para as vacas em lactação.
68
CADEIAS PRODUTIVAS I

Já as instalações de confinamento para rebanho de gado leiteiro apresentam os modelos free‑stall:


baias individuais com livre acesso aos animais cobertas por uma cama (areia, capim, maravalha) para
repouso das fêmeas. O modelo loose‑housing utiliza baias coletivas com cobertura de livre acesso aos
animais e também cama (capim, areia) para fornecer mais conforto a eles. Também existe o modelo
de estabulação mista, onde pastagens e piquetes estão à disposição dos animais, de modo que
possam permanecer durante algumas horas do dia (no restante do tempo, os animais permanecem
em estábulos). É importante ressaltar que em condições climáticas quentes e úmidas recomenda‑se
que os animais permaneçam nos estábulos durante o dia e fiquem nos piquetes no período noturno,
que é mais ameno.

Atualmente, o modelo free‑stall é o mais utilizado, por apresentar área para repouso em baias
individuais e área de circulação que oferece exercício e acesso ao cocho e bebedouro.

Apesar dos custos de implantação, quando comparados ao sistema de criação a pasto, o sistema de
confinamento apresenta maior lucro para o produtor.

Saiba mais

Para obter maior conhecimento sobre o tema, consulte a obra a seguir:

GOTTSCHALL, C. S. Produção de novilhos precoces: nutrição, manejo e


custos de produção. 2. ed. Guaíba: Agrolivros, 2005.

4.15 Implantação de pastagem, calagem e adubação, divisão de piquetes

4.15.1 Implementos agrícolas utilizados e implantação de pastagem

Para a implantação de uma pastagem, em primeiro lugar vem o preparo do solo, visando controlar
ervas daninhas (plantas invasoras), auxiliar na incorporação de corretivos do solo, acertar o terreno,
aumentar a infiltração de água no solo, eliminar camadas compactadas e combater a erosão.

Quanto ao preparo do solo, podem ser utilizados: grade, arado e subsolador.

• A grade possui discos recortados e corta a terra entre 8 a 10 cm de profundidade. Como vantagem,
tem alto rendimento operacional e consegue atuar sobre ervas daninhas. Já como desvantagem,
trabalha com profundidade mais baixa e facilita a erosão.

• O arado corta a terra entre 20 e 30 cm de profundidade. Como vantagem, atua em camadas mais
profundas, consegue trabalhar em solos mais duros e favorece boa incorporação de corretivos. Já
como desvantagem, realiza baixo rendimento operacional, traz formação de pé de arado (deixando
a terra muito dura) e tem pouca eficiência sobre ervas daninhas, pois o solo sai em torrões. Há
menor risco de ocorrência de erosões quando comparado com a grade.

69
Unidade II

• O subsolador corta com profundidade aproximada de 40 cm e é utilizado quando existe “pé de


arado”. Como vantagens, rompe camadas compactadas (solo compactado é o solo “duro”, no qual
a água não consegue ser absorvida) profundas (pé de arado) e melhora a infiltração de água no
solo. Como desvantagens, não controla plantas daninhas e requer tratores com alta potência.

É possível escolher um dos três como preparo do solo, utilizando‑se bom senso.

Após o preparo do solo, a segunda etapa é o nivelamento, realizado com a grade niveladora, que visa
destruir os torrões de terra e facilitar o plantio de sementes de plantas forrageiras.

A terceira etapa é a semeadura, ou seja, a plantação das sementes. Em média são utilizados de dois a
quatro quilogramas de semente/hectare. A época de realizar a semeadura ocorre no período de chuvas.

A forma de semeadura pode ser manual ou mecânica, devendo ter uma profundidade de 0,5 a 1,0
cm para sementes pequenas e 1,0 a 2,0 cm para sementes maiores, como as de milho. Geralmente,
quando feita a lanço irregular ou quando há pouca água, deverá ser realizada a compactação. Por fim,
é preciso realizar a adubação de plantio com fósforo ou adubos nitrogenados, por exemplo.

Figura 18 – Grade (Guaraci‑SP, 2012)

Figura 19 – Arado (Guaraci‑ SP, 2005)

70
CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 20 – Subsolador (São José do Rio Preto‑SP, 2014)

Figura 21 – Terra trabalhada para implantação de pastagem (Guaraci‑SP, 2005)

4.15.2 Degradação de pastagens

Aproximadamente 33% do solo do Brasil são considerados “degradados”, 33% são classificados
como “em degradação” e o restante é classificado entre razoável e bom.

As causas da degradação de pastagens são diversas, tais como utilização de espécie de planta
forrageira inadequada ao local, adubação incorreta, manejo animal incorreto, excesso de roçagens,
71
Unidade II

descapitalização no setor devido à variação do preço da arroba do boi, má qualificação de mão de obra,
dentre outros.

A pastagem degradada reduz o ganho de peso dos animais, trazendo prejuízo para o produtor, e
também pode trazer problemas ambientais, tais como erosão e assoreamento de rios.

Para recuperar ou renovar uma pastagem, é necessário levar em consideração o clima, a topografia,
as condições do solo e a espécie de planta forrageira que deverá ser utilizada. Um fator muito importante
para a recuperação e a renovação de pastagem é a integração entre agricultura e pecuária. Tal integração
traz custo mais baixo para o produtor, pois ele possui lucro na produção de grãos, além disso, os resíduos
da cultura melhoram as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

Uma forma de recuperação do solo com o uso da agricultura pode ser feito por meio do arrendamento
da terra, no qual o proprietário fornece a terra para outra pessoa plantar no local. Geralmente, o contrato
tem durabilidade de dois a três anos. Nele, a pessoa que arrendou a terra paga uma porcentagem do
lucro para o produtor, o qual tem como interesse principal a recuperação da qualidade do solo para a
realização de manejo produtivo animal.

Figura 22 – Pasto “tomado” por ervas daninhas.


Exemplo de degradação de pastagem (Guaraci‑SP, 2006)

Figura 23 – Erosão. O grande fator predisponente para


a sua ocorrência é a degradação das pastagens (Lins‑SP, 2010)

72
CADEIAS PRODUTIVAS I

4.15.3 Análise de solo: calagem e adubação

A adubação serve para fornecer nutrientes ao solo e a calagem significa adicionar calcário. O objetivo
é elevar o pH do solo, eliminando o hidrogênio e o alumínio, que são indisponíveis para a planta. O ideal
é o pH ao redor de 6,0 para plantas forrageiras.

A análise do solo é feita com diversas amostras (por amostragem homogênea), que são destinadas
para análise em laboratório.

NC = Necessidade de calagem (toneladas/hectare).

NC (ton/ha) = [(V2‑V1) x CTC] ÷ [10 x PNRT]

Onde PNRT = Dado do calcário, poder de neutralização que vai de 60 a 95.

O valor do PNRT vem impresso na nota, quanto maior o valor melhor, porém, menor o tempo de
atuação.

V2 = Saturação por base, gramínea = 60; leguminosa = 70.

V1 = Análise do solo → V1 = [SB / CTC] x 100

CTC = Capacidade de troca catiônica →CTC = K + Ca + Mg + H + Al

SB = Soma de bases → SB = K + Ca + Mg

Exemplo de aplicação

Resolva a questão a partir dos seguintes valores:

pH = 4,7; P = 16; K = 0,9; Ca = 16; Mg = 3; H + Al = 18

Gramínea:

PNRT = 60

Resolução:

CTC = 0,9 + 16 + 3 + 18 ≈ 38

V2 gramínea = 60

SB = 0,9 + 16 + 3 ≈ 20

73
Unidade II

V1 % = [SB/CTC] x 100 → V1 = [20/38] x 100 → V1 = 52,6%

NC = [(V2‑V1) x CTC] ÷ [10 x PNRT] → NC = [(60 – 52,6) x 38] ÷ [10 x 60] → NC = 0,46 ton/ha ou
→NC = 460 kg/ha.

Figura 24 – Calcário (Guaraci‑ SP, 2006)

4.15.4 Unidade de medidas de pastagens/unidades de animal por área

Hectare = 10.000 m².

Alqueire paulista = 24.000 m².

Alqueire mineiro = 48.000 m².

Alqueire baiano = 196.000 m².

u. A (unidade animal) = 450 kg → para zebuínos.

u. A = 500 kg → para taurinos.

4.15.5 Métodos de pastejo

4.15.5.1 Introdução

Deve‑se manejar a pastagem corretamente para obtermos eficiente produção animal.

Existem a lotação contínua de pastejo e a lotação rotacionada. A lotação contínua (há alto
pisoteamento sobre a pastagem e alto consumo por parte dos animais) se dá quando os animais são
mantidos sempre no mesmo local – o que é ruim, pois permite pastejo seletivo e isso acaba trazendo
perdas significativas de forragens. Já a lotação rotacionada ocorre quando a pastagem é subdividida.
74
CADEIAS PRODUTIVAS I

Este tipo traz diversas vantagens, como melhor controle sanitário, possibilidade de conservar o capim
excedente (silagem), redução da seletividade, melhor controle do proprietário e o fato de admitir o uso
de mais de um lote, dentre outras. Como pontos negativos, há o custo mais alto com cercas, mão de obra
e alguns condicionadores de pastejo.

Figura 25 – Pastejo contínuo (Guaraci‑SP, 2005)

4.15.6 Formas de divisão dos piquetes

As principais formas para a separação dos piquetes são:

• cerca elétrica;

• cerca de arame liso;

• cerca de arame farpado;

• cerca viva.

Figura 26 – Cerca de arame farpado (Lins‑SP, 2010)

75
Unidade II

Figura 27 – Cerca elétrica (Guaraci‑SP, 2010)

4.15.7 Condicionadores de pastejo

Os condicionadores de pastejo são elementos que estimulam os animais a andarem por todo o pasto
e não ficarem em um único local, reduzindo dessa forma a seletividade e o pisoteamento.

São exemplos de condicionadores de pastejo o sal, a sombra e a água “artificial”, devendo ficar
um em cada ponto da pastagem. Isso estimula os animais a caminharem por todos os locais do pasto;
consequentemente, eles acabam consumindo a forragem por igual ao longo da extensão do pasto.

O pastejo rotacionado muitas vezes só é utilizado quando há diferentes lotes no rebanho (diferentes
categorias), tais como vacas paridas, vacas secas e bezerros desmamados; porém, o ideal é sempre
utilizar pastejo rotacionado, mesmo quando trabalhar com uma única categoria animal, tal como boi de
engorda a pasto, para aproveitar a pastagem ao máximo.

Figura 28 – Cocho para sal mineral, colocado na cerca


entre dois piquetes (Lins‑SP, 2008)

76
CADEIAS PRODUTIVAS I

Figura 29 – Sombra (Guaraci‑SP, 2005)

4.15.8 Tipos de pastejo

4.15.8.1 Pastejo em faixa

Nele, é feita cerca elétrica à frente e atrás da área utilizada. Muitas vezes é utilizada cerca elétrica
móvel, sendo mais comum para vacas leiteiras. Não permite a seletividade; contudo, há custos adicionais,
como bebedouros, cochos de sal e sombra.

4.15.8.2 Pastejo diferido ou protelado

Um dos piquetes não é utilizado para pastagem, e sim utilizado para plantar forragem para
estocá‑las na época da seca. Em relação às desvantagens, piora a qualidade da forragem, pois ela
fica mais velha.

4.15.8.3 Pastejo limite

Ocorre quando existem a gramínea e a leguminosa, uma em cada pasto, e os animais são colocados
cada hora em um desses pastos. É muito utilizado para vacas leiteiras.

A leguminosa tem qualidade nutricional melhor, porém, palatabilidade menor.

4.15.8.4 Pastejo zero

Significa cortar o material e fornecer no cocho. Com isso, um maior número de animais pode ser
alimentado em determinada área. Há também menores perdas e seletividade da forragem, mas os custos
com equipamentos são altos e existe problema de compactação na terra, devido ao fato de sempre
haver um trator trabalhando.

77
Unidade II

4.15.8.5 Creep grazing

Pastejo ao qual apenas os bezerros têm acesso.

4.15.8.6 Creep grazing avançado

É igual ao anterior; porém, o lote de animais mais jovens vai à frente e as vacas ou ovelhas vão
depois. Há um maior cuidado nutricional e sanitário com os animais jovens, e o adulto vai depois para
reduzir seletividade.

4.15.8.7 Creep (“rastejar”) feeding

Semelhante ao creep grazing; porém, é realizado no cocho para mineral ou suplementação, por
exemplo.

Figura 30 – Creep feeding para cordeiros, vista externa (Ibiúna‑SP, 2006)

Figura 31 – Creep feeding para cordeiros, vista interna (Ibiúna‑SP, 2006)

78
CADEIAS PRODUTIVAS I

4.15.9 Cálculo geral para número de piquetes

Número de piquetes = [PD ÷ PO] + 1

Onde:

PD = Período de descanso

PO = Período de ocupação

Exemplo:

PO = 5 dias

PD = 30 dias

N° de piquetes = [30 ÷ 5] + 1 = 7 piquetes.

Pode‑se utilizar esse cálculo para uma propriedade pequena. Para propriedades grandes, o cálculo
poderá ser realizado para cada categoria animal – por exemplo, em fazendas de gado de corte, os
animais podem ser divididos em grupos, tais como vacas paridas, vacas secas, touros (estação de monta),
bezerros desmamados, garrotes e novilhas.

O correto para calcular a quantidade de animal/área é em cima da u. A. (unidade animal), como


veremos mais adiante, ou então de uma forma mais leiga, pensando em três cabeças/alqueire paulista.

4.15.10 Cálculo da área de pastejo/unidade animal

Zebuíno u. A. = 450 kg

Taurino u. A = 500 kg

Tabela 1

Categoria animal Fator de conversão (u. A.)


Touro 1,25
Vacas adultas 1,00
Novilhas (gestação) 0,86
Bois de engorda 1,00
Bezerros desmamados 0,61
Garrotes 0,69
Equinos 1,20
Ovinos 0,16

79
Unidade II

Deve‑se multiplicar esse valor por 450 ou 500 kg.

Exemplo: propriedade de 100 hectares.

3 touros: 1,25 x 3 = 3,75

90 vacas em lactação: 1,00 x 90 = 90,00

30 bois de engorda: 1,00 x 30 = 30,00

60 bezerros desmamados: 0,61 x 60 = 36,6

20 garrotes: 0,69 x 20 = 13,8

4 equinos: 1,20 x 04 = 4,80

Total: 179 u. A.

O proprietário deve comprar ou vender animais?

179 u. A. x 450 kg = 80550 kg

O animal consome de 2% a 4% do peso vivo em matéria seca por dia, geralmente em torno de 2%:
80550 x 0,02 = 1611 kg de matéria seca por dia.

Para saber o quanto de matéria original existe por área, pega‑se um quadrado de 0,25 m² e verifica‑se
quanto há de capim (geralmente, pega‑se material equivalente a 30 quadrados). Em seguida, verifica‑se
o quanto há de capim em peso e a amostra é enviada para o laboratório para se verificar quanto tem
de matéria seca.

Exemplo:

0,25 x 30 quadrados = 7,5 m².

Se em 7,5 m² o resultado foi de, por exemplo, 3 kg de capim,

7,5 m² _________ 3 kg

100 hectares ____ X

7,5 m² ________3 kg

1.000.000 m² ____X

X = 400.000 kg de matéria original.


80
CADEIAS PRODUTIVAS I

Geralmente, em janeiro, 25% são de matéria seca:

25% de 400.000 = 100.000 kg

A avaliação da forragem deve ser feita de 30 em 30 dias e o consumo dos animais deve ser feito
diariamente.

Assim, 1.611 x 30 = 48.330 kg/mês de consumo. Como a pastagem tem 100.000 kg, dá para dobrar
o número de u. A. Isso deve ser avaliado em cada piquete.

Resumo

Nesta unidade, estudamos as principais espécies de plantas forrageiras


utilizadas para o consumo dos animais em nosso país, sendo as mais
comuns as gramíneas e as leguminosas.

Dentre as gramíneas, vimos inicialmente aquelas que possuem


crescimento prostrado ou estolonífero, ou seja, rente ao chão, como coast
cross e tifton. Em seguida, conhecemos aquelas com crescimento cespitoso,
ou seja, que emitem caules verticais, como tanzânia, mombaça, colonião
e napiê. Estas precisam ter no mínimo 30 cm de altura para poderem
ser destinadas ao consumo dos animais. Vimos ainda as gramíneas com
crescimento decumbente, que são aquelas que emitem caules tanto
horizontais quanto verticais, e também as gramíneas com crescimento
decumbente, tais como forragens do gênero Brachiaria. Dentre elas, há a
espécie Brachiaria decumbens, que predomina no cenário nacional, a qual
é a forragem de pior qualidade existente.

Estudamos também as leguminosas. A mais conhecida das leguminosas


é a alfafa, a qual também é utilizada para o processo de fenação. Essa
espécie necessita de manejo adequado, pois é típica em épocas frias
e necessita de umidade. É a mais indicada para produção de feno, pois
dificilmente perde as folhas.

Na sequência, vimos que a bovinocultura de corte é uma atividade


de grande expressão no Brasil. Para melhor produção, faz‑se necessário o
conhecimento de manejo, iniciando com as instalações.

As instalações são apresentadas em duas formas. Há aquelas utilizadas


no curral (unidade de manejo), sendo este separado em diferentes setores,
tais como seringa, tronco, brete, embarcadouro e curraletes; e instalações
utilizadas a campo, ou seja, nos pastos, iniciando pelas cercas, as quais
podem ser de arame farpado ou liso, elétrica ou ainda cercas vivas. Como
81
Unidade II

instalações, há ainda os condicionadores de pastejo (elementos que


estimulam os animais a andarem por toda a área da pastagem), como
sombra, cochos para mineral e tanques de água.

As etapas de manejo diferem em cada fase de vida dos animais:


nascimento, desmama e fase adulta (vacas e touros). É importante que o
produtor tenha conhecimento do manejo nutricional, sanitário e geral em
todas as fases de vida dos animais, assim como do manejo reprodutivo para
animais adultos.

Também é importante o conhecimento prévio das raças bovinas de corte,


que são separadas em alguns grupos. Um deles é o das zebuínas ou indianas
(aquelas que apresentam cupim) – dentre elas, destaca‑se a raça Nelore,
que é a principal criada no país, mas também há outras, como Gir, Guzerá,
Sindi, Tabapuã e Brahman. Outro grupo é o das raças taurinas ou europeias
(sem presença de cupim). Elas são separadas em britânicas (pequeno porte)
– dentre elas, a Angus é a raça mais conhecida – e continentais (grande
porte), como Limousin, Charolês e Simental. Há ainda as raças denominadas
sintéticas, as quais são resultado do cruzamento entre raças taurinas e
zebuínas. Dentre elas, destacam‑se as raças Canchim (cruzamento entre
Nelore e Charolês) e Brangus (cruzamento entre Brahman e Angus).

Exercícios

Questão 1. (IF/CE, 2017) Dentre as principais plantas forrageiras tropicais cultivadas, têm-se as
espécies Pennisetum purpureum e Cynodon sp., que têm diferenças estruturais e utilização diferenciada.
De acordo com as características destas forrageiras é correto revelar-se que

A) Cynodon sp. é o nome científico do capim elefante, o qual tem sua principal utilização como
capim de corte, recomendado para ser fornecido picado no cocho ou ensilado.

B) Penissetum purpureum é o nome científico do capim elefante e sua principal utilização, na


alimentação de ruminantes, é na forma de feno devido ao seu porte baixo e ao colmo fino.

C) Penissetum purpureum é o nome científico do capim elefante, o qual tem sua principal utilização
como capim de corte, recomendado para ser fornecido picado no cocho ou ensilado.

D) Cynodon sp. é o nome científico do capim Tifton e sua principal utilização, na alimentação de
ruminantes, é na forma de silagem devido ao seu porte alto e à sua elevada relação folha/colmo.

E) mesmo possuindo diferenças estruturais, ambas as espécies forrageiras são indicadas para serem
utilizadas na forma de feno na alimentação de ruminantes.

Resposta correta: alternativa C.


82
CADEIAS PRODUTIVAS I

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: Pennisetum purpureum é o nome científico do capim elefante e é uma forrageira tradicional
utilizada na alimentação de rebanhos leiteiros, picado para fornecimento no cocho e, em menor escala, como
forragem conservada.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: Penissetum purpureum é o nome científico do capim elefante e sua principal utilização, na
alimentação de ruminantes, é na forma de ensilagem devido ao seu porte alto e o teor da matéria seca (30-35%).

C) Alternativa correta.

Justificativa: Penissetum purpureum é o nome científico do capim elefante, o qual tem sua principal utilização
como capim de corte, sendo uma das opções de volumoso para alimentação de bovinos, pois, no período das
águas, pode ser pastejado diretamente pelos animais (pastejo rotacionado) ou picado para fornecimento no
cocho.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: Cynodon dactylon é o nome científico do capim Tifton apresenta alta produtividade e é uma
forrageira de qualidade, sendo utilizada como pastejo e como feno, podendo ser cultivado tanto em regiões frias
como em quentes de clima tropical e subtropical.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: as espécies do gênero Cynodon apresentam teor de proteína bruta diretamente proporcional
ao aumento da disponibilidade de nitrogênio, sendo usadas como feno, e o capim elefante pode ser pastejado
diretamente pelos animais (pastejo rotacionado) ou picado para fornecimento no cocho.

Questão 2. São cuidados necessários em uma instalação para bovinos leiteiros, exceto:

A) boa drenagem do terreno.

B) exposição aos raios solares, facilitando a secagem e diminuindo a proliferação de patógenos.

C) ser atravessada por correntes de ar frio para evitar surtos de doenças do sistema respiratório.

D) preocupação com conforto térmico do animal.

E) boa higienização.

Resolução desta questão na plataforma.


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