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QUESTIONÁRIO

TEORIA GERAL DA PROVA

1. O termo “prova”, no Direito, ganha uma multiplicidade de significados. Dentro do


processo penal aponte as possíveis acepções ofertadas ao tema e o objetivo da prova
dentro do processo penal, considerando que a verdade real é um significado ainda
utilizado como possível de ser demonstrado.

Resposta:

De acordo com Aury Lopes Jr. 1, a prova é o meio através do qual será feita a
reconstrução histórica do fato passado (crime), que auxilia o processo penal na
formação do convencimento do juiz. Em outras palavras, a prova é o ato que busca
comprovar a “verdade” dos fatos, com o objetivo de instruir o julgador.
Entretanto, o referido autor discorda da existência de uma verdade real no
processo penal, pois o mito da verdade real estaria intimamente relacionado
com a estrutura do sistema inquisitório; com o ‘interesse público’
(cláusula geral que serviu de argumento para as maiores atrocidades);
com sistemas políticos autoritários; com a busca de uma ‘verdade’ a
qualquer custo (chegando a legitimar a tortura em determinados
momentos históricos); e com a figura do juiz-ator (inquisidor)2.

Por tal motivo, relativiza-se a noção de verdade para satisfazer os objetivos


do sistema acusatório, afinal, a verdade real é inatingível. Admite-se, por outro lado,
uma verdade reconstruída a partir dos atores processuais, sob a ótica do contraditório
judicial.

2. Na sentença penal, o magistrado, para condenar o réu, utiliza-se de um testemunho


colhido exclusivamente na fase policial da persecução penal. Na qualidade de
advogado do condenado, elenque as eventuais violações na postura do juiz.

Resposta:

O processo penal é regido pelo princípio da contraposição dialética, o qual não


legitima condenações fundamentadas em elementos produzidos de forma unilateral
pelos órgãos da acusação penal. Nesse sentido, os elementos informativos, aqueles
produzidos em fase pré-processual, não são aptos, quando isoladamente
considerados, a fundamentar uma sentença condenatória.

1
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, livro eletrônico,
p. 556.
2
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020, livro eletrônico,
p. 564.
De acordo com o voto do ministro Celso de Mello, no julgamento da AP 985-
QO,
A condenação do réu pela prática de qualquer delito – até mesmo
pela prática de uma simples contravenção penal – somente se
justificará quando existentes, no processo, e sempre colhidos sob
a égide do postulado constitucional do contraditório, elementos de
convicção que, projetando-se “beyond all reasonable doubt”
(além, portanto, de qualquer dúvida razoável), veiculem dados
consistentes que possam legitimar a prolação de um decreto
condenatório pelo Poder Judiciário.
Somente a prova penal produzida em juízo pelo órgão da
acusação penal, sob a égide da garantia constitucional do
contraditório, pode revestir-se de eficácia jurídica bastante para
legitimar a prolação de um decreto condenatório (...).

Portanto, tendo em vista que as provas do inquérito policial não passam pelo
crivo da ampla defesa e do contraditório, estando sempre sob dúvida razoável, não
podem basear condenações criminais. Deste modo, o magistrado incorreu na violação
dos três princípios referidos.

3. Dr. Júlio César dos Santos, juiz de Direito, presidiu a audiência de instrução e
julgamento do processo 1234-5, mas quem sentenciou o caso foi sua colega,
Raulinda Silva Barbosa, pois o magistrado entrou em férias. Neste caso, há algum
prejuízo ou violação ao devido processo? Fundamente.

Resposta:

Houve desrespeito à previsão contida no artigo 399, § 2º do CPP, de que “O


juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”, o que corrobora para
eventual alegação de violação ao devido processo penal.
Tal norma surgiu com a finalidade de preservar as impressões e observações
psicológicas e de experiência do magistrado, já que o contato direto na produção da
prova oral (testemunhal, depoimentos pessoais, interrogatório) aprimoraria o
julgamento. Esse é o núcleo conceitual do princípio da identidade física do juiz.

4. Apresente um resumo do texto disponibilizado, pontuando os aspectos que


chamaram sua atenção, concordando ou não com os autores.

Resposta:

Os autores iniciam o artigo falando sobre o processo penal, que é instrumento


essencial à validade do direito de punir do Estado. Na busca pelo convencimento do
juízo, deve-se entender a falibilidade humana para se alcançar uma verdade real, a
qual seria ilusória, de modo que Prado e França defendem uma verdade meramente
processual, com base nas informações contidas nos autos.
Por tal pressuposto, é essencial que, num Estado Social e Democrático de
Direito, a relação entre juiz e prova seja balizada pela dignidade da pessoa humana,
com o julgador respeitando e zelando pelos direitos e garantias fundamentais dos
envolvidos. Tudo isso, em atenção ao contraditório e aos demais sustentáculos do
devido processo legal e do próprio sistema acusatório.
Importante salientar, também, que o princípio da proporcionalidade deve
orientar a atuação do julgador, no que tange à produção e valoração das provas no
contraditório judicial. Isso porque não devem ser admitidas as provas ilícitas, que
violam normas de direito constitucional ou material. Além da proporcionalidade em
relação às provas, o julgador também a utiliza para a ponderação casuística de
direitos, quando entram em colisão.
Essa é a postura esperada de um verdadeiro juiz de garantias, o que só se
acentuou com a previsão da chamada “identidade física do juiz”, positivada no artigo
399, parágrafo 2º do CPP, com a alteração da Lei nº 11.719/08.
Entretanto, com a positivação da teoria da descoberta inevitável, a partir da
Lei nº 11.690/2008, passou-se a admitir nova estratégia, que consiste no
aproveitamento, no processo penal, das provas que, mesmo ilícitas ou derivadas
destas, seriam obtidas de forma autônoma no curso regular da persecução penal.
Com o passar do tempo, percebeu-se que a ponderação de interesses na esfera da
vedação às provas ilegais resultou em interpretação desfavorável à defesa, na
medida em que flexibilizou a vedação das provas ilegais para embasar a condenação.
No STF, o entendimento que ainda tem prevalecido é o da relativização da
vedação das provas ilícitas, como se observa no julgamento do HC 91.867/PA. Os
autores, por sua vez, acreditam que é mais razoável, em respeito aos preceitos do
sistema acusatório e do devido processo legal, “se outros meios de obtenção de
prova, inevitavelmente, conduziriam à mesma constatação a que chegou a polícia,
com muito mais razão, seria de se impedir a valoração da prova obtida por meios
ilícitos”.
Concordo em parte com os autores, pois acredito que, no julgamento de
crimes de maior potencial ofensivo – a exemplo dos crimes contra a vida –, a vedação
à prova ilícita deve ser relativizada, pois pode haver vítimas em estado de perigo.

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