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A Maior Diversidade de Plantas Do Mundo: Ciência
A Maior Diversidade de Plantas Do Mundo: Ciência
A maior
diversidade
de plantas do
mundo
Botânicos registram 46 mil espécies
e identificam em média
250 por ano no Brasil
Claudio Nicoletti Fraga / JBRJ
Carlos Fioravanti
tituições privadas e fundações estaduais como a Flora brasiliensis, coleção de 15 volumes e 10.367
FAPESP, o Flora do Brasil indica que a Amazônia páginas escrita por 65 botânicos de vários países
abriga a maior diversidade do grupo das plantas sob a coordenação de Carl Friedrich Philipp von
sem frutos e com sementes expostas, as gimnos Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban,
permas, que predominaram de 300 milhões até e publicada de 1840 a 1906.
60 milhões de anos atrás, quando os dinossauros Na Flora brasiliensis, o grupo predominante,
circulavam pela Terra. Seus representantes mais com 32.813 espécies, são as plantas com sementes
conhecidos são árvores em formato de cone típi protegidas por frutos carnosos
cas do clima frio do sul do país, como a araucária, ou secos, as chamadas angios
com uma única espécie no Brasil, e quatro espé permas. Nesse grupo estão as
cies de Podocarpus. Dispersas nas matas da região árvores como o ipê e o jacaran
Norte, porém, vivem seis espécies de cipós de fo dá, a roseira e outras espécies
lhas largas do gênero Gnetum, que crescem sob o ornamentais, o feijão, o amen
clima quente e úmido ao redor de árvores. Suas doim, o milho e a maioria dos
sementes vermelhas ou lilases são tão parecidas vegetais usados na alimenta
com frutos que já confundiram até os botânicos. ção. Somente de feijões, per
O
s quase 50 mil exemplares de espécies Canavalia e Phaseolus, a flora
nativas colocam o Brasil como o país con brasileira registra cerca de 30
tinental com maior diversidade de espé espécies nativas e naturaliza
cies do mundo, seguido por China, Indonésia, das, “a maioria delas com um
México e África do Sul. Em número de espécies potencial para a alimentação
endêmicas, perde apenas para grandes ilhas co humana ainda pouco investiga
mo Austrália, Madagascar e Papua Nova Guiné, do”, comentou Vinicius Souza,
cujo isolamento favorece a formação de varieda professor da Escola Superior 2
des únicas, e para apenas uma área continental, de Agricultura Luiz de Queiroz
o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul. O (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) que
total de espécies não chega aos 60 mil das es participou da produção e organização das infor
timativas mais otimistas, mas é maior que o da mações desse trabalho.
Colômbia, antes vista como o país da América do As angiospermas se espalharam quando o clima
Sul com maior diversidade, e é mais que o dobro se tornou quente e úmido, depois da extinção dos
das 22.767 espécies descritas na monumental dinossauros. As mudanças do clima eliminaram
cinco anos
ntificadas nos últimos
Algumas espécies ide
Simaba tocantina
Encholirium
fragae
infográfico ana paula campos fotos e ilustrações botânicas 1 Marcelo Kubo / USP 2 Ana Kelly Koch / IBt-SP 3 Paulo Ormindo 4 Maria Alice Rezende 5 Marcos Vinicius Meiado / UFS 6 João Iganci / USP
Amazônia
gu
3
14.035 X in
Rio
espécies
Caatinga
5.780
espécies
Melocactus sergipensis
Cerrado
13.488
4 Pantanal espécies
Bromelia
1.518
gracilisepala
espécies
or es Mata Atlântica
Plantas com fl
5
Total de 20.241
espécies espécies
57,5%
36,7%
6 8,7%
Samambaias
Gimnospermas e licófitas
1.253 espécies
30 espécies
460 endêmicas
2 endêmicas
Fonte Grupo da Flora do Brasil Obs.: O total de espécies por bioma inclui plantas e fungos
a maioria das gimnospermas, hoje raras em todo
o mundo: os botânicos encontraram apenas 30
espécies, sendo 23 nativas, desse grupo no Brasil.
Por sua vez, as samambaias e as licófitas – plantas
sem sementes e sem flores, que se reproduzem
por esporos, também com origem antiga – estão
representadas por 1.253 espécies no Brasil; algu
mas d elas a tingem 20 metros de altura, lembrando
as variedades gigantes que marcavam a paisagem
terrestre há 300 milhões de anos.
Alegria e inquietação
Os botânicos agora convivem com a satisfação
de ver mais uma etapa do projeto concluída e,
ao mesmo tempo, uma desagradável inquietação, 1, 2 e 3 Pelos
porque eles sabem que a distribuição geográfica laboratórios da
empresa circulam
das coletas de amostras de plantas, sobre as quais 300 pesquisadores
o trabalho foi feito, não era equilibrada: havia
muito mais informações sobre as regiões Sul e 4 Detalhe do prédio
Sudeste, onde se concentram as coletas, os gru feito de concreto
aparente e vidro
pos de especialistas e as instituições de pesquisa,
do que nas outras partes do país. Enquanto no
Rio de Janeiro havia 5,8 coletas por quilômetro
quadrado (km2) e no Espírito Santo, 3,9 por km2,
no Pará e no Amazonas essa relação era de 0,10
e 0,17 por km2.
Provavelmente por causa do número de cole
tas aquém do desejado pelos botânicos, o estado
do Amazonas aparece em terceiro lugar entre os
estados com maior diversidade, seguindo Minas
Gerais, em primeiro, e Bahia. Os botânicos não es
tão satisfeitos com esse resultado. “No Amazonas
poderia haver pelo menos mais 20 mil espécies
ainda não amostradas”, disse Souza.
São Paulo encontra-se em quarto lugar de di
versidade. Além de ser um espaço bastante per
corrido por expedições botânicas, o estado apre
senta uma variedade de relevos, com planícies a
oeste e montanhas a leste, e de tipos de vegetação maior diversidade de angiospermas, samam Em aclimatação na
que favorecem a formação de novas espécies. baias, licófitas e fungos, em razão de coletas mais capital paulista: flor
e fruto de Euphorbia
“Tanto as formações vegetais de clima frio que numerosas e da variedade de altitudes, climas e
attastoma, cacto
vêm do sul quanto as de clima quente, como o latitudes. Em segundo lugar está a Amazônia e endêmico da serra de
Cerrado, param em São Paulo”, disse José Rubens em terceiro, o Cerrado. Grão Mogol, MG, com
Pirani, professor do Instituto de Biociências (IB) “Ainda estamos longe dos prováveis números látex fosforescente
da USP (ver tabela na página 45). reais”, observou Souza. “Quanto maior o número
“Infelizmente, mantivemos a distorção do tra de coletas por região ou estado, maior o número
balho de Von Martius, que coletou principalmen de espécies.” Uma evidência de sua afirmação
te na Mata Atlântica, Caatinga e Cerrado e andou é que, por causa das coletas mais numerosas, a
pouco pela Amazônia”, comentou Rafaela. “Pre diversidade de plantas do Tocantins aumentou
cisamos de um plano nacional de mapeamento 70% e a do Piauí, 40%, em relação ao registrado
das espécies de plantas da Floresta Amazônica na primeira versão da Flora, de 2010. “Não estáva
para resolver o problema da subamostragem do mos trabalhando lá e as plantas não apareciam”,
maior bioma brasileiro, que representa metade comentou Pirani. Em 2013, com sua equipe, ele
do território nacional.” identificou uma espécie nova de arbusto, Simaba
Elaborado com informações mantidas em her tocantina, em uma área de Cerrado pouco conhe
bários e em bases on-line como o Reflora, atual cida no interior e nas proximidades do parque do
mente com 1.390.218 registros de plantas nativas Jalapão, leste do Tocantins, marcada por vastos
(ver Pesquisa FAPESP nº 229), o levantamento areais como os descritos no livro Grande sertão:
apontou a Mata Atlântica como o bioma com veredas, de Guimarães Rosa.
A
s cactáceas, um dos grupos em que ela ruas e nas margens de estradas é uma forma de
é especialista, apresentam uma elevada preservar a diversidade.” Em seguida ele apre
diversidade no Brasil – em Minas vivem sentou um arbusto de flores azuis, a canela-de-
103 espécies e na Bahia, 98 –, mas 32% das 260 -ema, duas bromélias, o gravatá e a macambira, e
espécies desse grupo encontram-se em grau va outras plantas coletadas na serra de Grão Mogol,
riável de risco de extinção. As áreas que ocupam norte de Minas Gerais, que ele procura adaptar
são continuamente substituídas por plantações ao clima da capital. “Aqui chove mais do que em
de eucalipto, agricultura ou mineração. Os cac Minas, mas, mesmo assim, algumas delas flores
tos são explorados como plantas ornamentais e cem todo ano.” n
colhidos para servir como alimento para o gado
ou para pessoas, que também os usam como fonte
de medicamentos, geralmente sem se preocupar Artigos científicos
em repor as populações originais. Outro problema COSTA, D. P. e PERALTA, D. F. Bryophytes diversity in Brazil. Rodri-
é que muitas espécies crescem apenas em áreas guésia. v. 66, n. 4, p. 1063-71. 2015.
específicas. É o caso do Arrojadoa marylaniae, MAIA, L. C. et al. Diversity of Brazilian Fungi. Rodriguésia. v. 66, n.
4, p. 1033-45. 2015.
um cacto colunar com anéis de flores vermelhas
fotos eduardo cesar