Você está na página 1de 8

Sobre a aula

Caro(a) cursista,

Seja bem-vindo(a) à Aula 1 do curso “Produção Editorial” da Universidade do Livro (UNIL).


Nesta semana iniciaremos o estudo das práticas de acompanhamento editorial, que são parte
do trabalho de todas as editoras de livros.
Nesta primeira aula veremos um panorama dos diferentes tipos de editoras e de suas
publicações. Além disso, teremos uma visão geral sobre as editoras mais marcantes de nosso
mercado.
Aproveite a leitura do texto da semana e também as sugestões de leitura
complementar que compõem o material da aula. Além disso, propomos dois exercícios
avaliativos. Seu tutor dará um feedback a você, juntamente com a nota para cada um deles.
Caso tenha alguma dúvida ou dificuldade, entre em contato com seu tutor via Mensagem.
Você também pode utilizar o Fórum de Dúvidas do curso localizado no topo da página.

Bons estudos!!!
Laura Bacellar

Última atualização: quinta-feira, 27 mai 2021, 17:20


Texto da aula
O mercado editorial de livros sempre teve uma diversidade enorme. Em nosso país são em
torno de 800 editoras em funcionamento de todos os tamanhos e linhas editoriais possíveis.
Há mais de 300 editoras sócias da Câmara Brasileira do Livro, por exemplo, uma das
entidades do setor que costuma ter entre seus membros as editoras maiores e mais
instaladas. O Sindicato Nacional dos Editores de Livros, outra entidade da categoria, tem
também várias centenas de editores associados, nem todos coincidentes com os da CBL. Há
mais de 100 editoras na Libre, Liga Brasileira de Editores, que congrega pequenas e médias
editoras. A Associação dos Editores Cristãos reúne quase este número. E a cada momento
alguém inventa de abrir alguma editora, outra fecha as portas, e outra ainda é englobada por
uma maior.

1. Polarização
Trata-se de um mercado dinâmico, com grandes diferenças também de faturamento. Uma
tendência, que já existia no começo deste século mas está aumentando muito de velocidade,
é a polarização do mercado.
De um lado concentram-se grandes corporações de mídia ou educação que incluem editoras
em seu portfólio – veja por exemplo os grupos Kroton, Pearson e Disney. De outro lado estão
uma infinidade de editoras pequenas, de nicho – veja os participantes da feira Plana em São
Paulo.
Essa polarização se estende à forma de trabalhar com livros.
As grandes corporações tendem a incentivar a produção de obras semelhantes às que foram
sucesso. Há uma busca constante, agressiva, por títulos com potencial de bestsellers. São
editoras que investem em obras de autores famosos, temas quentes, que exigem
adiantamentos e muitas ações de marketing.
Essas editoras de modo geral gostam de planificar todos os processos (haja planilhas!), têm
departamentos e cargos bem definidos e procuram baixar custos ao máximo. Não focam tanto
na qualidade de produção do livro quanto no marketing, e por conta de sua produção
numerosa requerem menos envolvimento dos profissionais com cada livro, mas fazem muita
cobrança de prazos. Quem trabalha para esse tipo de editora costuma precisar de inglês ou
espanhol, acompanhar traduções e ser feroz no cumprimento de prazos.
As editoras pequenas, por outro lado, costumam ter outro tipo de mentalidade. São muito
especializadas em algum tipo de tema ou público, funcionam próximas dos leitores, prezam
mais pela qualidade. No entanto, por não terem tanto poder econômico, nem sempre
conseguem investir o necessário no trabalho editorial.
Algumas delas são artesanais, geridas pelos donos. Quem trabalha para esse tipo de editora
costuma ter uma experiência mais ampla, já que faz de tudo um pouco, mas não se aprofunda
tanto em uma área. Os salários tendem a ser mais baixos também.
Entre os dois polos ainda há editoras de médio porte, mas a tendência é que fiquem apenas
as muito grandes e as pequenas no mercado.
Veja aqui o ranking das maiores editoras do mundo:

http://www.wischenbart.com/upload/Wischenbart_Ranking2015_analysis_final.pdf

Note a tabela na página 4, que mostra os dez maiores grupos editoriais, quatro
dos quais estão presentes no Brasil. Você sabe quais são?

Aqui o relatório de 2014 comentado

http://www.publishnews.com.br/materias/2015/06/26/82463-ftd-volta-ao-ranking-
das-maiores-editoras-do-mundo

2. Autores independentes
Existem outros movimentos no mercado, que passa por um momento de profunda
transformação. Uma outra tendência que impacta produtores editoriais é o crescimento
vertiginoso do número de pessoas que desejam publicar suas próprias obras.
Antes marginal, esse segmento agora tornou-se muito ativo e cresce sem parar.
Há muitas oportunidades de trabalho aqui, porém trata-se de uma área que exige bastante
jogo de cintura, visto que a maioria dos autores desconhece os trabalhos de produção
editorial. Eles em geral querem fazer seus livros da forma mais barata possível e não têm
noção do que é importante ou necessário.

3. Novos canais
A tecnologia tem criado novas maneiras de levar conteúdos ao público. O livro digital foi uma
onda que assustou muito o mercado, que temia uma reviravolta radical. O desdobramento
está sendo diferente do esperado: o livro físico não desapareceu e continua preferido por
grande parcela dos leitores.
O livro digital exigiu que produtores começassem a entender de vídeos, animações,
plataformas, interatividade. No entanto, por ter se tornado mais uma extensão em outro
formato do livro físico e não algo totalmente diferente – o mercado não quis pagar por um
produto cheio de recursos digitais –, não houve uma alteração extrema na produção.
O que tem acontecido até agora é que livros físicos são convertidos para o formato digital e
ganham alguns recursos extras apenas, sendo o trabalho de produção editorial basicamente o
mesmo.
O audiolivro está acontecendo com provável resultado semelhante, ainda não sabemos. No
entanto, o conteúdo passado oralmente, por alguém que lê, fica mais distante da página
escrita. Produtores editoriais vão ter que aprender a selecionar leitores com boas vozes e
enunciado claro, vão precisar adaptar textos para serem compreendidos pela via oral, vão ter
que montar um sistema de revisão antes da leitura e de conferência depois da gravação.
No momento, o mercado está expandindo esse canal, não havendo ainda volume suficiente
para produções inteiramente separadas. Profissionais fazem bem em ficar alertas e, na
medida do possível, aprender novas habilidades. O trabalho com o texto e o
acompanhamento das etapas permanece, mas vale ficar atento para as novas etapas
atreladas aos novos canais.
4. Tipos de editoras
O mercado ainda assim permanece em essência espraiado pelos tipos de livros que sempre
existiram, ainda que agora sejam publicados em maior quantidade.
Vamos ver a seguir os principais tipos de editora por publicação.

Literárias

 Publicam autores de prestígio nas áreas de ficção e ciências sociais, incluindo


muitos estrangeiros.
 São as editoras mais prestigiadas.
 Dirigem-se a um público mais culto, de nível superior e postura crítica.
 O trabalho de produção editorial costuma ser mais meticuloso, com especial
atenção para citações, bibliografia, nomes próprios, com a qualidade das
traduções e a clareza dos raciocínios.
 Exemplos: Companhia das Letras, Editora 34, Iluminuras.

Técnicas e religiosas

 Publicam autores respeitados em determinado meio (direito, administração,


pedagogia, religião), tanto nacionais quanto estrangeiros.
 Costumam ser empresas sólidas.
 Dirigem-se a um público já familiarizado com seus temas ou com grande interesse
em conhecê-los.
 O trabalho de produção editorial precisa respeitar as particularidades da área
específica com a qual trabalha, e tomar decisões levando em conta vocabulário e
usos daquele segmento.
 Exemplos: Mundo Cristão, Casa do Psicólogo, Ágora, Elsevier, Rideel.

Universitárias

 Publicam autores do meio acadêmico.


 Algumas são subsidiadas e podem sobreviver independentemente do mercado.
 Dirigem-se a um público de professores e estudantes universitários, em geral
muito atentos e críticos.
 O trabalho de produção editorial requer conhecimento das formalidades
acadêmicas e cuidadoso acompanhamento de bibliografia, citações e semelhantes
detalhes de texto e conteúdo.
 Exemplos: Editora UNESP, Edusp, editoras das universidades federais, das PUCs,
Mackenzie.
Infantis e juvenis

 Publicam livros ilustrados, atraentes, para venda em livrarias e para o governo,


principalmente de autores nacionais.
 As editoras dessa área costumam ser ágeis e competitivas.
 Dirigem-se a um público diversificado: pais e professores; funcionários do governo
colocados na função de julgar obras a serem adotadas; e os próprios jovens e
crianças, em teoria leitores das obras.
 O trabalho de produção editorial foca as necessidades específicas do segmento,
como atender aos requisitos pedagógicos de escolas e programas
governamentais, assim como trabalhar a linguagem de acordo com a idade dos
leitores e produzir ilustrações adequadas.
 Exemplos: SM, Callis, Companhia das Letrinhas (selo editorial da Companhia das
Letras), DCL, Dubolsinho (cooperativa de editoras).

Didáticas

 Publicam obras para serem adotadas por escolas e pelos programas do governo.
 Trabalham principalmente com obras extensas (vários volumes, uma para cada
ano de ensino) de autores nacionais.
 São editoras grandes, acompanham de perto todos os programas do governo, têm
ritmo de trabalho de picos intensos.
 O trabalho de produção editorial precisa abarcar as muitas especificidades desses
livros, tanto as de forma, como exercícios, ilustrações, livro do professor com
indicações de aula; quanto de conteúdo, como material dentro dos parâmetros
pedagógicos ditados pelo governo.
 Exemplos: FTD, Moderna, Ática/Scipione, DCL, Positivo.

Interesse geral

 Publicam obras de giro rápido de autores na maior parte estrangeiros.


 São editoras muito ágeis e competitivas.
 Dirigem-se ao público dito geral, pouco crítico e informado.
 O trabalho de produção editorial exige principalmente rapidez e capacidade de
definir o que é importante comercialmente.
 Exemplos: Intrínseca, Sextante, Rocco, Record, Leya, Globo.

Não é muito fácil separar as editoras com precisão porque muitas delas, como por exemplo
Record, Leya e Planeta, atuam em mais de um segmento, podendo exibir selos literários,
técnicos, de interesse geral e infantil.
Em todo caso, quem pretende trabalhar no setor ou quer mudar de área faz bem em conhecer
ao máximo as editoras, a forma como atuam, aquilo que mais prezam.

Última atualização: quinta-feira, 27 mai 2021, 17:20


Leitura(s) complementar(es)
Caro(a) cursista,

Sugerimos aqui uma Leitura Complementar.

Os muitos caminhos do editor independente - A PublishNewsTV dessa semana


entrevistou Eduardo Lacerda, publisher da Patuá
https://www.publishnews.com.br/materias/2019/11/14/os-muitos-caminhos-do-editor-
independente

Outra ótima sugestão de leitura é o artigo Reconfiguração do mercado editorial brasileiro


de livros didáticos no início do século XXI: história das principais editoras e suas
práticas comerciais, de Célia Cristina de Figueiredo Cassiano, publicado na Revista Em
Questão, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 281-312, jul./dez. 2005.
Clique aqui e leia o texto.

Há uma discussão importante no meio editorial sobre a importância da diversidade nas


publicações, origem do termo bibliodiversidade, em reação à cultura de livros voltados para
vendas massivas.
Veja o dossiê que norteou muitas associações de editoras independentes mundo afora,
inclusive a Libre aqui no Brasil. O dossiê está em três idiomas, inglês, francês e espanhol:

Bibliodiversity Indicators
Acesse:
https://youtu.be/IPdR408Ll9s
https://youtu.be/-R5WRJu2uSA

Uma pesquisadora brasileira, Julia Alves dos Santos, faz considerações sobre este conceito e
seu impacto nas coleções de bibliotecas.

Bibliodiversidade: conceito e abordagens


Acesse: https://www.fespsp.org.br/seminarios/anaisVI/GT_05/Julia_Santos_GT05.pdf

Boa leitura!!!
Última atualização: quinta-feira, 27 mai 2021, 17:20

Você também pode gostar