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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS


DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

ANDRÉ BRITO

Experimento 1
Cinética Química: Influência da temperatura na constante de
velocidade da reação

VITÓRIA, 22 DE ABRIL DE 2018


Introdução
A cinética química, também chamada de cinética de reação, é a ciência que
estuda a velocidade das reações ou processos químicos, bem como os fatores que
as influenciam. Dentre os fatores que influenciam na velocidade da reação,
encontram-se: natureza dos reagentes, temperatura, estado físico, superfície de
contato, catalisador, concentração, pressão, etc.
A velocidade de uma reação, também chamada de taxa de reação, depende
de diversos fatores como, por exemplo, concentração dos reagentes e temperatura,
além de uma constante à dada temperatura.
A análise desta prática é feita sobre a reação de hidrólise do acetato de etila,
gerando ácido acético e etanol em meio aquoso sob catálise ácida.
H+
CH3 COOC2 H6 (𝑎𝑞) + H2 O → CH3 COOH(𝑎𝑞) + CH3 CH2 OH(𝑎𝑞)

Essa é uma reação de segunda ordem, porém como o solvente (água) atua
como reagente, adota-se que sua velocidade depende apenas da concentração de
éster. Por esse motivo a reação acima é classificada como pseudo primeira ordem, e
obedece a seguinte equação:
𝑘𝑣 𝑡
log(𝛼0 − 𝑥) = log(𝛼0 ) −
2,303
No qual α0 é a concentração no tempo igual a 0; (α0 - x) é a concentração num
tempo t.
Uma vez que é difícil calcular concentrações de espécies durante uma reação
em andamento, foi desenvolvido um método de extração de amostras, no qual
evidencia-se a relação de proporcionalidade entre concentração e volume.
São três os volumes de solução titulante necessários para esse método: o
volume usado para titular apenas o HCl catalisador (V0), o volume em um tempo
qualquer (Vt) e o volume após o termino da reação (V∞). Através de transformações
algébricas a equação acima pode ser reescrita como [LEVINE 2012]:
𝑘𝑣 𝑡
log(𝑉∞ − 𝑉𝑡 ) = log(𝑉∞ − 𝑉0 ), −
2,303
A constante de velocidade por ser obtida através do coeficiente angular do
gráfico de log(𝑉∞ − 𝑉𝑡 ) em função do tempo (t), que pode ser obtida através da
linearização. O valor da constante de velocidade depende da frequência de colisões,
da energia de ativação e da temperatura do sistema. Arrhenius propôs uma equação
que relaciona esses parâmetros:
Eat
k v = A𝑒 (− RT )
Com 𝐴 sendo a constante denominada fator de frequência, 𝐸𝑎𝑡 é a energia de
ativação, 𝑇 é a temperatura e 𝑅 é a constante universal dos gases.
Tomando o logaritmo nos dois lados da equação, temos:
𝐸𝑎𝑡
log(𝑘𝑣 ) = log 𝐴 −
2,303𝑅𝑇
Usando a variação da constante de velocidade em duas temperaturas é
possível determinar a energia de ativação.

𝑘𝑣 𝐸𝑎𝑡 1 1
log ( 1 ) = − ( − )
𝑘𝑣2 2,303𝑅 𝑇1 𝑇2
Experimental

Parte 1: Preparação e padronização de soluções


Preparou-se 500 mL de uma solução de NaOH 0,50 mol L-1 que foi padronizada
com 0,514g de hidrogenoftalato de potássio, usando como indicador o fenolftaleína.
Após padronização da solução básica, preparou-se 250 mL de uma solução de
HCl 1,0 mol L-1 a partir da solução 12,0 mol/L de HCl. Retirou-se 5,0 mL da solução e
padronizou-se com a solução de NaOH já padronizada, usando como indicador a
fenolftaleína.

Parte 2: Determinação da constante de velocidade a 25°C


Num erlenmeyer colocou-se 100 mL de HCl 1,0 mol L-1 e 5 mL de acetato de
etila concentrado. A solução foi homogeneizada e mantida a temperatura constante.
Depois de 25 min, retirou-se uma alíquota de 5,0 mL da solução reacional,
colocou-se num erlenmeyer introduzido no banho de gelo e titulou-se com a solução
de NaOH preparada e padronizada, usando fenolftaleína como indicador. O processo
foi repetido a cada 15 min até 100 min e uma última vez após 180 min.

Parte 3: Determinação da constante velocidade a 40°C


O procedimento descrito acima foi adotado também para determinação da
constante de velocidade de uma reação mantida sob aquecimento constante para
manutenção da temperatura na faixa de 40°C
Resultados e Discussão
Parte 1: Preparação e padronização de soluções

A titulação do biftalato forneceu V = 5,60 mL. Para obtenção da concentração


real da solução de NaOH foi feito o seguinte cálculo:

1 𝑚𝑜𝑙 𝑏𝑖𝑓𝑡𝑎𝑙𝑎𝑡𝑜 1𝑚𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑂𝐻 1


𝑐 = 0,514𝑔 𝑏𝑖𝑓𝑡𝑎𝑙𝑎𝑡𝑜 × × × = 0,449 𝑚𝑜𝑙/𝐿
204,22𝑔 𝑏𝑖𝑓𝑡𝑎𝑙𝑎𝑡𝑜 1 𝑚𝑜𝑙 𝑏𝑖𝑓𝑡𝑎𝑙𝑎𝑡𝑜 5,60 𝑚𝐿
A titulação de 5 mL do ácido clorídrico com hidróxido de sódio forneceu V 0 =
9,80 mL:
0,449 𝑚𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑂𝐻 1𝑚𝑜𝑙 𝐻𝐶𝑙 1
𝑐 = 9,80 𝑚𝐿 𝑠𝑜𝑙.× × × = 0,880 𝑚𝑜𝑙/𝐿
1000 𝑚𝐿 𝑠𝑜𝑙. 1 𝑚𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑂𝐻 5,00 𝑚𝐿

Parte 2: Determinação da constante de velocidade a 25°C


Os valores de volumes obtidos nas titulações a 25°C estão relacionados abaixo:
Tabela 1: Volumes das titulações a 25 °C
T (K) Tempo Vt V∞ V∞ - Vt log(V∞-Vt) Coef. Ang.
(min) (mL) (mL) (mL)
298 25 9,30 10,70 1,40 0,1461 -0,0019
298 40 9,40 10,70 1,30 0,1139 -0,0019
298 55 9,40 10,70 1,30 0,1139 -0,0019
298 70 9,50 10,70 1,20 0,0791 -0,0019
298 85 9,90 10,70 0,80 -0,0969 -0,0019
298 100 9,70 10,70 1,00 0 -0,0019

O gráfico que relaciona log(V∞-Vt) e t é mostrado abaixo.


0,18
y = -0,0019x + 0,1997
0,16
R² = 0,9421
0,14

0,12
Log (V∞-Vt)

0,1

0,08

0,06

0,04

0,02

0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (min)

Usando a equação mostrada anteriormente, é possível achar o valor de k a


partir do valor do coeficiente angular a:
𝑘𝑣
𝑎=− ∴ 𝑘𝑣 = 0,0043757
2,303
Parte 3: Determinação da constante velocidade a 40°C
Os valores das titulações a 40ºC estão mostradas abaixo:
Tabela 1: Volumes das titulações a 40 °C
T (K) Tempo Vt V∞ V∞ - Vt log(V∞-Vt) Coef. Ang.
(min) (mL) (mL) (mL)
313 25 9,80 13,10 3,3 0,5185 -0,0028
313 40 10,00 13,10 3,1 0,4913 -0,0028
313 55 10,00 13,10 3,1 0,4913 -0,0028
313 70 10,70 13,10 2,4 0,3802 -0,0028
313 85 10,60 13,10 2,5 0,3979 -0,0028
313 100 11,10 13,10 2 0,3010 -0,0028

O gráfico que relaciona log(V∞-Vt) e t é mostrado abaixo.


0,6
y = -0,0028x + 0,6061
R² = 0,8799
0,5

0,4
Log (V∞-Vt)

0,3

0,2

0,1

0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo (min)

𝑘𝑣
𝑎=− ∴ 𝑘𝑣 = 0,0064484
2,303
Agora com dois valores de K em temperaturas diferentes, pode-se usar a
variação para achar o valor da energia de ativação:
kv Eat 1 1
log ( 1 ) = − ( − )
k v2 2,303R T1 T2
0,0043757 Eat 1 1
log ( )=− ( − )
0,0064484 2,303R 298 313

Eat = 20,050 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙


Agora para encontrar o fator de colisão A usamos a seguinte equação:
Eat
log k v = log A −
2,303RT
Eat
log A = log k v +
2,303RT
A = 1,1676

É importante ressaltar que durante a realização dessa prática alguns


imprevistos ocorreram, que podem ter afetado a credibilidade dos dados: o roteiro
pedia a preparação de uma solução 0,5 mol/L, o que foi feito, mas em sala a instrução
dada foi que fosse feita uma solução 0,25 mol/L em seu lugar. A maior concentração
pode acarretar mais erros, já que foi usado um volume pequeno (por volta de 10 mL),
então os erros relativos aumentam.
Outro agravante foi o fato das soluções, principalmente de HCl ficarem abaixo
da concentração ideal. Erros de operador também não são descartados, uma vez que
sempre estarão presentes na prática laboratorial.
O fato mais preocupante dessa prática, em relação à confiança dos valores, foi
que as titulações a 25ºC, de forma geral, não chegaram nem a ultrapassar o valor de
V0, então não se pode ter certeza da quantidade de solução de NaOH usada para
titular apenas o ácido liberado na solução e quanto foi gasto apenas para
neutralização do HCl catalisador.
Mesmo sem certeza sobre a validade dos dados apresentados, foi discutido
com o professor sobre o comportamento esperado, e analisando os resultados, é
possível confirmar que a tendência teórica (constantes com valores maiores em
temperaturas elevadas) foi observada.
Conclusões
Realizando o experimento foi possível confirmar a relação entre a temperatura
e a velocidade de uma reação, mais especificamente através do aumento do valor da
constante.
Também foi possível descobrir os valores de outros fatores importantes para
a velocidade de uma reação, como a energia de ativação e taxa de colisões através
de propriedades mensuráveis em laboratório.
Bibliografia

ATKINS, P. W.; PAULA, J.Físico-Química, 9. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. vol. 1.
ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química: Questionando a vida moderna e o meio
ambiente. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. Bibliografia: p. 82.
CASTELLAN, Gilbert W. Fundamentos de Físico Química. Rio de Janeiro: LTC, 1986
LEVINE, I. N. Físico-química. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. vol. 1
RANGEL, R. N. Práticas de físico-química. 3 ed. São Paulo: Editora Edgar Blücher,
2006.

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