Meu verbo é transbordar, que para quem me rodeia, pode parecer clichê.
Transbordar é sentir tudo à flor da pele. É sentir demais. Ocupar espaço
demais, e ter a sensação de num se bastar, ou bastar para outros, o que faz com que se viva numa eterna busca por mais, mais ocupações, mais de si mesmo, mais do novo e mais do que já se tem. É querer preencher espaços, e todo ele. O que acaba se tornando uma obrigação e por vezes pesa. Transbordar também é exigir, ou esperar, embora eu sei que sejam palavras bastante diferentes no seu significado. Mas, na medida em que se doa, que se dedica, se cria um outro espaço da espera, da expectativa e que quer se seja suprida da mesma forma. Transbordar é tomar cuidado consigo mesmo. É viver num eterno caminho de procura. É um pirata em busca de um tesouro. É a espera de uma mãe pelo filho. É a chegada do primeiro dia do trabalho tão esperado. É a sensação de saber o resultado do vestibular. E ter muito amor é conviver com a necessidade de canalizar, o que é uma difícil tarefa por si só. É transbordar em desejo, em vontades e potencializades, inclusive em se superar. Transbordar é entregar um presente, já pensando e mirabolando um próximo, porque o desejo de demonstrar o afeto é maior, é intenso. Transbordar é se chorar dois dias antes da despedida, porque o colo da mãe é um lar, é refúgio. Transbordar é não querer largar o sobrinho, porque a vontade é de te-lo perto de si. É querer parar o tempo e apreciar aquele por do sol, paisagem de tantos momentos. É querer parar o tempo, quando a chuva cai sobre a terra quente, trazendo aquele cheiro de infância. É o desejo de querer o abraço da avó, que já se foi e faz tanta falta, ao ponto de encher os olhos d’agua. Transbordar é saudade, da vontade de fazer bem, da vontade do que foi um dia. Mas também é a vontade do que se é hoje e do que estar por vir. E transbordar é amor constante. É o vento carregando a folha em câmera lenta, para que seja alimento para si mesma, no processo de atrito com a terra. É renovar. É encher o copo e não querer parar de escrever, porque a dificuldade em finalizar os processos é turbulenta demais. É aquele frio da barriga do novo que chegou, que vai se espalhando para o corpo inteiro. É a calmaria das noites em claro, mas é o demônio dela também. I have so much love in me.