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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

Programa de Pós - Graduação em Arquitetura

ANASTASIA MYTKO

«RIO 40 GRAUS - BANGU 50 GRAUS».


RESILIÊNCIA DAS ILHAS DE CALOR URBANAS.
Introdução.

As ondas de calor, provocadas pelas mudanças climáticas, estão se tornando cada vez
mais prevalentes. A última década foi a mais quente da história da humanidade.
O artigo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) revela que
os aumentos de temperatura, incêndios, ciclones e furacões são cada vez mais o novo
normal, e as emissões são 62% mais altas agora do que quando as negociações
internacionais sobre o clima começaram em 1990.

De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) o planeta está agora


quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização e a
temperatura global pode aumentar de 1,5ºC a 2ºC ainda neste século.
Baseado em uma base de dados da BBC, o julho de 2019 deve ser o mês mais quente da
história – e as temperaturas em julho em quase todos os lugares do planeta foram mais
altas nos últimos 10 anos em comparação com os anos 1880-1900.

Com o crescente aumento das temperaturas, a previsão é que o mundo continuará


esquentando. Mas quanto pode piorar?
Se essa tendência continuar, as temperaturas poderão subir entre 3ºC e 5ºC até 2100
como está apresentando na Figura 01.

Figura 01. Emissões e aquecimento esperado ate 2100.

Fonte: Climate Action Tracker (BBC)

As pesquisas publicadas no artigo na Geophysical Research Letters em fevereiro desse


ano indicam que em 2040 mais de 50% dos verões serão mais quentes do que em 2003 e
em 2100 as mesmas temperaturas do verão serão consideradas frias.

O relatório do PNUMA «Um Guia Prático para Construções e Comunidades Resilientes


ao Clima», mostra que em 2050, 1,6 bilhão de pessoas que vivem em mais de 970
cidades estarão regularmente expostas a temperaturas altas extremas. Juntamente com o
"efeito de ilha de calor urbana", que torna as cidades mais quentes do que a área rural
circundante, isso coloca os moradores urbanos em alto risco.

Atualmente há uma diversidade de fenômenos naturais que provocam desastres nas


cidades, como inundações, terremotos, tempestades e ondas de calor, no entanto, este
estudo vai investigar especificamente o fenômeno de aumento de temperaturas nas ilhas
de calor urbanas, através do caso de estudo de um bairro da Zona Oeste do Rio de
Janeiro – Bangu.
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Objetivos.
O objetivo geral de pesquisa está focado em um dos desafios do planejamento urbano
na atualidade, no que se refere a capacidade do espaço urbano de ser resiliente aos
impactos causados pelas mudanças climáticas e, especificamente, as ondas de
temperaturas altas nas ilhas de calor urbanas.

As questões principais deste estudo são:

 identificar as principais definições de resiliência urbana;


 levantar as principais abordagens teóricas-conceituais sobre o planeamento
urbano, riscos e vulnerabilidades;
 determinar em qual medida o Bangu, como ilha de calor urbana, está em risco e
vulnerável ao aumento de temperaturas;
 avaliar como a gestão do risco de temperaturas extremas pode ser integrada ao
planeamento urbano;
 delinear novos projetos de resiliência para a área de ilha de calor urbana e
elaborar um plano de adaptação a mudanças climáticas;

E objetivo central deste trabalho é:

• Como reforçar a resiliência da cidade através do planejamento urbano e da


gestão de riscos climáticos?

Objeto de estudo.
O aquecimento global que está impactando o mundo todo deve provocar graves
consequências também no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro. O análise das
condições climáticas do Estado do Rio de Janeiro feito por meteorologista da UFF
Márcio Cataldi apontou que os grandes problemas para os moradores da Região
Metropolitana serão o aumento de ilhas de calor e a diminuição média da chuva e
esclareceu: «Quando você tem as regiões de fundo da baía, onde a brisa não chega, a
ilha de calor pode agravar e a gente pode ter ondas de calor, semelhantes aos que a
gente teve na Europa e teve no Canadá nesse ano.»
As regiões mais afetadas pelo aumento de temperatura do ar serão os municípios da
Baixada Fluminense e os bairros da Zona Oeste, como Santa Cruz e Bangu. (Figura 02)

De acordo com esses dados, Bangu, como um dos bairros mais quentes do município,
foi escolhido como o alvo principal da minha pesquisa. Quem sabe esse nome, sem
dúvida conhece a associação que é feita entre o bairro e as temperaturas altas. Este
episódio ocorre porque durante muito tempo o bairro da Zona Oeste registrou as
maiores temperaturas do Rio de Janeiro durante o verão. Durante boa parte do verão, a
cidade do Rio costuma ter temperaturas muito elevadas, sendo assim, não é exagero
dizer que em Bangu eram registradas as temperaturas máximas do Brasil.

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Figura 02. Baixada Fluminense e bairros das zonas Norte e Oeste do Rio
sofrerão com mudanças climáticas.

Fonte: Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU e os professores Márcio
Cataldi, da UFF, e Jílio César da Silva, da UERJ
Infográfico elaborado em 10/08/2021 por Elcio Horiuchi/G1

A explicação para o calor intenso está na localização do bairro. Em uma parte da Zona
Oeste da cidade, entre Realengo e Santíssimo, há uma região que fica cercada de
montanhas: de um lado o maciço da Pedra Branca (que separa a Zona Oeste da Barra da
Tijuca); e do outro lado o maciço do Gericinó (que também é conhecido como
Mendanha e separa a Zona Oeste da Baixada Fluminense).

Essas duas montanhas são as mais altas da região, com mais de 1000 metros de altitude.
A região historicamente mais quente da cidade fica encravada entre os dois maciços, em
uma área de vale que impede a chegada de vento que vem do mar. (Figura 03)

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Figura 03. Localização geográfica explica motivo de Bangu ser tão quente

Fonte: Imagem da Record TV adaptada pelo autor

Justificativa.
Na cidade do Rio de Janeiro, as regiões mais afastadas do mar estão mais suscetíveis a
formarem ondas de calor, especialmente nas áreas parcial ou totalmente bloqueadas ao
vento, como aquelas contíguas aos maciços da Tijuca, Pedra Branca e Gericinó. Estima-
se que bairros como Bangu, Realengo, Santa Cruz e Campo Grande sejam os mais
propensos a formarem ilhas de calor. (Prefeitura do Rio de Janeiro «Rio Resiliente:
Diagnóstico e Áreas de Foco», 2015)

De acordo com livro da Prefeitura, o bairro de Bangu é uma das ilhas de calor
localizada em centro urbano que, por suas características físicas acumula mais ar
quente. Predominância de concreto e o asfalto, de vários prédios e casas com telhados
escuros favorece o acúmulo de calor de dia e de noite ao invés de dissipá-lo, como
acontece nas áreas verdes. O resultado é que uma área dentro de uma ilha de calor que
tem temperaturas mais altas em comparação às áreas ao redor.

Ondas de calor e ilhas de calor geram diversos impactos negativos à cidade e aos
cidadãos:
 Aumento de doenças respiratórias (o ar quente favorece o acúmulo de ozônio nas
camadas baixas da atmosfera, e a falta de ventos propicia acúmulo de poluição no ar).
 Aumento de casos de hipertermia e desidratação, principalmente entre crianças e
idosos, causando sobrecarga dos serviços municipais de saúde.
 Aumento do consumo de energia elétrica, devido ao aumento do uso de ar-
condicionado, com possibilidade de queda de energia por uso excessivo.
 Aumento do consumo de água.
 Dias secos, com perigo de incêndio em encostas, muitas das quais próximas a
moradias.
(Prefeitura do Rio de Janeiro «Rio Resiliente: Diagnóstico e Áreas de Foco», 2015)

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A escolha do caso de estudo – o bairro de Bangu - obedeceu, assim, a um conjunto
cumulativo de critérios de uma área urbana que necessita de apoio em seu caminho para
a redução de riscos e desenvolvimento de resiliência por meio de um roteiro para a
resiliência urbana. Um bairro que exige a preparação para absorver e se recuperar de
qualquer tipo de impacto negativo, enquanto mantêm suas funções e estruturas
essenciais e sua identidade, assim como se mostra capaz de se adaptar e enfrentar outras
mudanças que virão. Para construir essa capacidade de resiliência precisa, antes de tudo,
Identificar e avaliar os riscos, de maneira a reduzir a vulnerabilidade e a exposição da
área em relação a eles, aumentando a resistência, a capacidade de adaptação e ação
mediante emergência.

Revisão de literatura.

Devido a novos desafios para cidades, como as mudanças climáticas, existem vários
projetos, artigos, publicações e livros desenvolvidos sobre as cidades resilientes.

Um deles é o «Projeto 100 cidades resilientes» criado pela Fundação Rockefeller, no


seu centenário em 2013. Esse projeto garante 100 milhões de dólares como ajuda para
100 cidades se transformarem e serem mais resilientes,se preparar para enfrentar
desafios socioeconômicos e de infraestrutura para um planejamento sustentável. Neste
projeto se fala sobre como ajudar as cidades a desenharem uma estratégia de resiliência,
fazer um diagnóstico de quais são seus desafios, em quais assuntos a cidade está mais
debilitada e uma série de atividades para gerar propostas e iniciativas de estratégia;
compor esse plano de resiliência que é um plano a longo prazo para as cidades. O
«Projeto 100 cidades resilientes» tem como um dos objetivos a criação de uma rede de
praticantes de resiliência espalhados pelo mundo para um ajudar o outro e as cidades
vão aprendendo com as outras a superar crises e problemas que as mudanças climáticas
trazem para o mundo.

O outro documento que fala sobre a resiliência da cidade é um livro lançado em 2015
pela Prefeitura do Rio de Janeiro da Subsecretaria de Planejamento e Gestão
Governamental «Rio Resiliente: Diagnóstico e Áreas de Foco». Onde se fala sobre as
áreas de foco na cidade do Rio de Janeiro, de uma estratégia e os objetivos para a
resiliência da cidade no futuro próximo. Os objetivos desse livro são apresentar os
impactos das mudanças climáticas para preparar o Rio de Janeiro para enfrentar os
eventos climáticos extremos. Transformar a cidade no espaço urbano verde, fresco,
seguro e flexível; oferecer serviços básicos de alta qualidade para todos os cidadãos,
utilizando os recursos de forma resiliente e sustentável; promover uma economia
inclusiva, diversificada, circular e de baixo carbono; além de aumentar a resiliência de
cidadãos e promover a coesão social.

Mais um livro que gostaria de citar é o «Mudanças climáticas e Resiliência de cidades»


que foi produzido em 2015 pelo Laboratório de Estudos Periurbanos (LEPUR) do
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Urbano (MDU) da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), como parte da pesquisa intitulada «Resiliência Urbana
de Cidades Costeiras: um recurso para enfrentar as mudanças climáticas». Os trabalhos
foram coordenados pela professora doutora Maria de Fátima Ribeiro de Gusmão
Furtado (PhD) e desenvolvidos pelos doutores Edinéa Alcântara e Luiz Priori Jr.

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Este livro faz uma abordagem muito importante sobre as mudanças climáticas globais
para as cidades e seus habitantes. Destaca a necessidade de aumentar o nível de
resiliência urbana nos seus aspectos socioculturais. A ideia central desse trabalho é
desenvolver uma publicação com reflexões sobre as interfaces entre mudanças no clima,
desastres provocados por elas e as políticas públicas de gestão de cidades. Os autores
debatem os impactos das alterações climáticas no cotidiano das pessoas, mostrando a
necessidade de se implementarem medidas para reduzir o risco de desastres e se adaptar
às novas condições ambientais.

Metodologia.

A metodologia foi desenvolvida passo a passo partindo de uma visão geral para um caso
concreto.
O primeiro capítulo é Introdução onde se faz o enquadramento do problema, se
identificam as questões principais que levam ao desenvolvimento desta pesquisa e
também o objetivo central.

O capítulo seguinte é Referencial Teórico. Nele se apresentam os fundamentos teóricos-


conceituais de acordo com livros, artigos e trabalhos realizados sobre as principais
contribuições para o planeamento urbano ao longo dos anos, as diversas perspectivas da
resiliência urbana, dos riscos e vulnerabilidades, a fim de se alcançar uma compreensão
profunda sobre todas essas temáticas.

Metodologia é o terceiro capítulo onde se realiza a formulação detalhada do método de


pesquisa, que inicia com a construção de um índice geográfico e social do risco de
aumento de temperaturas. De acordo com o resultado dessa análise, se elabora um
diagnóstico urbano socioambiental que identifica as condições problemáticas e as
qualidades do espaço urbano e depois, serão elaboradas propostas de soluções para o
planejamento urbano e gestão do risco de ondas de calor com objetivo de se promover a
resiliência urbana.

No quarto capítulo Caso de Estudo: Bairro de Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, se
explicam as justificativas de escolha do caso de estudo como uma ilha de calor urbana
em situação mais crítica de vulnerabilidade e o histórico de ocorrências de casos de
temperaturas elevadas nessa área, além de realizar um breve relato da fundação e
ocupação do território para se identificar as origens das ocupações populacionais em
áreas de riscos e as diversas situações de vulnerabilidades. A seguir, são identificadas as
características físicas e territoriais ao apresentar questões de formação de ilhas de calor
urbanas, no que se refere aos eventos climáticos extremos que causam aumento de
temperaturas, ondas de calor extremas e secas, além das condições topográficas e a falta
de áreas verdes que aumentam essas ocorrências.

Resultados e Discussões é o quinto capítulo desse trabalho que se destina para a


implementação e validação do método de investigação com objetivo de produzir e
apresentar os resultados, sendo estes analisados posteriormente quanto a sua coerência,
implicações práticas e os possíveis problemas resolvidos.

O último capítulo é Conclusão onde estão apresentadas as principais conclusões desta


pesquisa e sua contribuição para o pensamento científico sobre a resiliência urbana e
também algumas recomendações e propostas para trabalhos futuros.

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