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Apostila de técnica vocal para cantores

Professora: Andréia Pires Chinaglia de Oliveira

Desde que o homem tomou consciência de sua capacidade de cantar, iniciou


pesquisas para aperfeiçoar esta habilidade procurando compreender melhor o
mecanismo vocal. A técnica vocal é um recurso utilizado pelos profissionais da voz com
a finalidade de ensinar a usá-la com um maior rendimento e o mínimo de esforço, bem
como aprimorá-la.
Cantar é uma atividade muito prazerosa. Por isso, é comum a pessoa não ter a
paciência de adquirir conhecimento e técnica necessária para um canto adequado e
amadurecido. Só depois de alguns anos de atuação, o cantor vai procurar aulas de canto,
mas aí, já está cheio de vícios e até de alterações na laringe.
Assim com um atleta precisa de uma musculatura condicionada para praticar o
seu esporte, o cantor também deve estar preparado para a atividade do canto, uma vez
que o ato de cantar é uma atividade física e muscular. A musculatura laríngea deve ter
bom condicionamento para evitar o esforço desnecessário garantindo, assim, uma
melhor qualidade vocal. Por isso, é fundamental que o cantor avalie a importância do
canto em sua vida para, assim, adquirir os cuidados necessários para a sua voz.
Para um bom desenvolvimento vocal, precisamos, diariamente e dentro dos
ensaios, utilizar 4 movimentos corporais/vocais que auxiliam na técnica vocal:
-relaxamento
-respiração
-ressonância
-articulação

RELAXAMENTO
Entendemos por relaxamento, o ato de alongar e relaxar as partes tensas do corpo,
principalmente, pescoço, ombros e postura, responsável pelo equilíbrio corporal. Todo e
qualquer exercício que trabalhe o alongamento e relaxamento do corpo são
considerados bons. Eis alguns que sugerimos:
-pés retos, na altura do quadril possibilitam uma boa postura.
-espreguiçar, alongando o corpo todo.
-erguer os braços acima da cabeça, segurar o ar alguns segundos, e soltá-los com o ar.
-grande “SIM”
-grande “NÃO”
-grande “TALVEZ”
-movimentos de rotação com a cabeça, devagar e com os olhos abertos para não dar
tontura.
-rotação lenta dos ombros, primeiro par frente, depois para trás.
-erguer os ombros, segurar o ar alguns segundos e soltá-lo, juntamente com o ar com
um movimento brusco e rápido.

RESPIRAÇÃO
Saber respirar corretamente é um processo fundamental para o canto. Ter um
bom apoio respiratório ajuda na emissão de graves e agudos trabalhando principalmente
a afinação, bem como na dinâmica (fortes e pianos). Respirar bem é meio caminho
andado para se cantar bem.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


A voz é o som produzido pelas pregas vocais durante a expiração. O que faz
nossas pregas vocais vibrarem é a passagem do ar. Sem ar, não há som. A respiração
diafragmática, intercostal e torácica, fortifica os pulmões e oxigena o sangue, pois ativa
os órgãos responsáveis que equilibram estas funções.
A respiração possui dois movimentos: inspiração e expiração. Estes movimentos
contam com o auxílio do diafragma, que é o músculo que separa a cavidade torácica da
cavidade abdominal. O diafragma é essencial na respiração, principalmente na
inspiração, quando ele desce até o abdome tornando possível a entrada de ar nos
pulmões. Pode-se observar visivelmente este ar, pois forma-se uma pequena saliência
no abdome.
Na expiração, o diafragma apóia e pressiona a coluna de ar que irá passar através
das pregas vocais, produzindo assim, o som. Durante a emissão de som, o cantor deve
fazer uma leve pressão abdominal (baixo ventre, cinturão, mais ou menos 4 dedos
abaixo do umbigo). É para essa região que o cantor deve voltar sua atenção,
principalmente nas notas mais difíceis. Dependendo da altura e da intensidade do tom
que se está cantando, é necessária uma determinada energia que será fornecida pela
quantidade de ar. Controlar a respiração significa tirar dela toda a energia que o tom
exige para manter sua eficiência.
É fundamental o uso correto do diafragma na respiração, pois caso contrário, a
garganta assume a função de apoio e com isso a voz sai com grande esforço,
dificultando a boa emissão. O segredo do fôlego não está só na capacidade torácica, mas
sim em saber dosar, controlar e usar a musculatura que controla a nossa respiração.

RESPIRAÇÃO - Voz Falada

Gosto de comparar a respiração com a gasolina de um veículo. O combustível


adulterado traz inúmeras consequências ao desempenho do carro, que por sua vez pode
até "andar"... Mas com o passar do tempo o rendimento diminui. Diferente dos
benefícios que a gasolina aditivada traz ao carro.

Com a respiração é a mesma coisa, se o indivíduo não possui uma respiração adequada,
você até consegue falar, cantar... Mas o desempenho nunca será o mesmo, comparado a
uma respiração correta.

Respiração na Voz Falada

O ar é o combustível energético da fonação essencial à produção da voz. Sem ele é


impossível ativar a vibração das pregas vocais, fato que pode ser comprovado com a
oclusão de boca e nariz simultaneamente e tentativa de emitir algum som. Para
produção dos sons da fala, a respiração é natural e os ciclos respiratórios variam de
acordo com tamanho da frase e a emoção empregada na mesma, sendo que a inspiração
é lenta e nasal em pausas longas, ao passo que rápida e bucal nas pausas curtas, a
movimentação pulmonar é pequena com pouca expansão da caixa torácica.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


A respiração é dividida em dois processos: um físico-químico, responsável pela troca
gasosa e um mecânico, responsável por gerar a pressão de entrada e saída de ar dos
pulmões pela traquéia, laringe, faringe e cavidades nasal e oral.

O ciclo respiratório divide-se em inspiração e expiração. O grau de movimento e a


força respiratória modificam a partir da demanda respiratória. Dentro da produção vocal
o ciclo respiratório altera conforme a comunicação, quanto mais variações de
intensidade e entonação, maior a exigência da resistência vocal, que está diretamente
ligada à respiração quanto à capacidade vital.

O ar entra passivamente porque a pressão nos pulmões está negativa em relação à


pressão do ar no ambiente exterior, assim, não há necessidade de esforço para puxar o ar
para dentro. A expiração também ocorre por diferença de pressão intratorácica, mas é
ativa em relação à inspiração, ou seja, o ar é naturalmente expelido por causa do
relaxamento da musculatura respiratória, uma vez que a pressão nos pulmões é maior do
que a pressão atmosférica.

Recebe o nome de coordenação pneumofônica o controle de saída de ar durante a


fonação, a correta coordenação pneumofônica não utiliza o ar reserva, evitando a
hiperfunção e desequilíbrio dos músculos vocais. O músculo diafragma desempenha um
papel importante na projeção da voz, pois regula o sopro fonatório no momento da
produção vocal propriamente dita.

Na respiração silenciosa o ar deve entrar pelo nariz para que seja filtrado, aquecido e
umidificado, chegando aos pulmões em melhores condições. Durante a fala, porém, a
respiração é feita de modo buço nasal, ou seja, o ar entra pela boca durante a fala e
apenas em pausas mais longas a inspiração é feita exclusivamente pelo nariz.

RESPIRAÇÃO - Voz Cantada

Antes de entrar no tema propriamente dito, faz-se necessário esclarecer algumas


questões sobre a Voz Cantada.

A Voz Cantada exige uma atividade muscular permanente e apta para várias situações.
A arte do canto requer a perfeição do aparelho fonador, ou seja, o estado de
normalidade é indispensável, afinal não podemos submeter nosso órgão vocal a
tamanho esforço sem verificar suas condições anatômicas e fisiológicas; sem antes

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


treiná-lo e prepará-lo. O esforço que utilizado para o canto é maior que do que para a
fala. A apropriação da técnica de canto tem por objetivo, desenvolver a voz natural do
aluno e o cantor que não possuir essa técnica, poderá utilizar mecanismos
compensatórios, predispondo uma fadiga no aparelho fonador e até mesmo alterações
significativas em nível de timbre.
O conhecimento e a atualização sobre as técnicas vocais existentes permite um
rendimento máximo e longevidade da voz, sendo tal conhecimento um pré-requisito
importante para a atuação fonoaudiológica preventiva e clínica.

Respiração na Voz Cantada

A compreensão sobre o mecanismo respiratório e sua importância no processo


fonatório, pode auxiliar no desenvolvimento da resistência vocal e coordenação
pneumofônica direcionadas ao canto.

O diafragma desempenha papel muito importante na respiração, pois na fase ativa do


ciclo respiratório ele se retifica à medida que o ar entra nos pulmões, porém a idéia de
se cantar ou respirar pelo diafragma além de equivocada estava difundida entre
professores de canto, atualmente algumas pessoas acreditam que para cantar deve-se
“respirar pelo diafragma” .

A respiração para a voz cantada é diferente da voz falada, porque o cantor precisa
aprender a regular constantemente o gasto de ar de acordo com a intensidade, a altura
tonal, o timbre, a extensão e a duração da frase a ser cantada.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


Assim como para outros profissionais, é importante que os cantores sejam submetidos a
treinamento de controle dos músculos respiratórios durante a expiração, pois quanto
mais longa a frase e a restrição quanto ao número de inspirações, maior o controle e
responsabilidade desses músculos. É necessário também um treinamento para ampliação
da capacidade de inspiração visto que muitas vezes precisa-se de maior quantidade de ar
para falar e cantar.

Considera-se importante e superior a respiração nasal, pelo fato do ar ser


purificado, aquecido e umedecido, porém a respiração bucal além de mais rápida,
consegue direcionar uma quantidade maior de ar para os pulmões em um tempo
muito mais curto, devido ao trajeto percorrido ser menor e a porta de entrada
maior.
Portanto, no canto ou mesmo em conversas, é impraticável a respiração unicamente
nasal, sendo esta utilizada durante as pausas longas.

Ainda há uma discussão sobre o melhor tipo respiratório para o canto, porém,
atualmente não há a valorização deste critério como antigamente, pois as escolas de
canto têm priorizado a coordenação entre a respiração e a produção da voz, essa
coordenação ou controle é popularmente conhecido como APOIO.

Outra questão discutida é em relação à orientação que o aluno recebe para não mover os
ombros durante a respiração...
Durante a inspiração se os ombros forem elevados, o limite da caixa torácica será
liberado parcialmente, propiciando uma entrada de ar mais rápida, portanto no canto
essa manobra pode ser utilizada em situações de exigência de grande fluxo de ar, como
em dinâmicas que tenham muita intensidade.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


Na seqüência, vamos realizar alguns exercícios que nos auxiliaram na respiração:
-com as mãos sobre o abdome, deixar o ar entrar sem esforço (como se estivesse
sentindo o perfume de uma flor), segurar o ar alguns segundos, pressionando o abdome,
e soltá-lo com força, murchando o abdome. (3 a 5 vezes)
-fazer o mesmo, mas com as mãos nas laterais do abdome.
-inspirar com o nariz e a boca, segurar o ar, pressionando o abdome e,
controladamente, soltá-lo, fazendo sons longos de : “sss..” (mínimo 25 segundos)
“xxx..” (mínimo de 20 segundos)
“zzz..” (mínimo de 25 segundos)
“vvv..” (mínimo de 25 segundos)
“JJJ..” (mínimo de 25 segundos)
OBS: fazer cada um dos exercícios anteriores mais ou menos 5 vezes cada um.

-fazer impulsos de sons, soquinhos, com sons curtos, precisos e fortes que
chamamos de stacatto, com ssss... ;xxxx....;ffff....;zzzz....;jjjj....; no qual o abdome
também fará os impulsos (soquinhos).
-fazer o exercício da bochecha, pressionando o abdome aberto.
-executar TRRR.../BRR...Primeiro em som longo e uníssono e depois com
glissandos.

RESSONÂNCIA E ARTICULAÇÃO

Temos pontos de ressonância em todo o nosso corpo, e devemos estimulá-los,


principalmente na cabeça e no rosto (ressoadores faciais). A ressonância é responsável
para uma boa emissão do som, pois o aparelho ressoador é o local de onde se tira a
qualidade do som e sua amplitude.

A passagem fácil e sem defeitos do grave para o agudo depende muito da


posição correta da boca, que é a articulação e que desempenha um papel importante no
aparelho ressoador. Ou seja, a articulação, juntamente com a ressonância, desempenha
um papel fundamental para a emissão e qualidade do timbre. A boca deve sempre estar
em posição vertical para emitir as vogais, ou seja, a mandíbula inferior deve estar
relaxada. A língua também tem papel importante, pois ela limpa ou obstrui a passagem
do som dependendo da sua posição. Ela deverá sempre estar deitada e rasa na
mandíbula inferior. O palato mole desobstrui o fundo da garganta ao levantar-se e
elimina a aspereza do som. Com todos estes movimentos da boca, língua, palato, e a
ressonância, o som que emitimos fica mais redonda, encorpado, e “gordo”, e não raso e
estridente.

A vocalização ajuda na impostação da voz. Os vocalizes são feitos com


intervalos musicais dispostos melodicamente e acompanhados por um instrumento
harmônico assegurando a afinação do cantor. Os intervalos musicais na vocalização
ajudam a educar o ouvido e aumentam a extensão de voz. A vocalização correta exige o
domínio da respiração (inspiração-expiração/diafragma), dos ressoadores e
articuladores. E, se realizada corretamente, a vocalização contínua aumenta a extensão
vocal, melhora a sonoridade, e realiza o alcance das notas com mais facilidade, firmeza
e segurança.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


Em poucas palavras, o mecanismo da voz acontece da seguinte forma: pela
inspiração de ar enchemos os pulmões. Este ar se transforma em som quando, na
expiração, acontece as vibrações das pregas vocais. Os articuladores têm a função de
receber o som da laringe e dirigi-lo para o aparelho ressoador onde adquiri amplitude e
qualidade.

ARTICULAÇÃO Parte I - Voz Falada

Qual a semelhança entre a figura ao lado e a nossa


ARTICULAÇÃO?

De um modo simples, podemos afirmar que a articulação é responsável pela


"moldagem" dos sons que produzimos. É ela que dará "forma" a cada som  depois de
amplificado pelos nossos ressonadores.

Os diversos sons da língua são produzidos pelas cavidades acima da laringe. Os sons
são moldados através de movimentos precisos de língua, lábios e mandíbula. A
articulação deve ser precisa para que as palavras sejam inteligíveis. Os movimentos
articulatórios são definidos pela língua utilizada, porém o padrão de articulação sofre
influência de fatores emocionais do discurso.

A articulação propicia, além da inteligibilidade da mensagem, um equilíbrio da


ressonância vocal. Uma articulação ampla contribui para o equilíbrio das pressões supra
e infraglóticas, obtendo uma voz com projeção sem esforço vocal. Como já mencionei

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


inúmeras vezes, TUDO ESTÁ INTERLIGADO, se há um déficit em qualquer das
"partes" do aparelho fonador, certamente, o comprometimento será no todo.
Podemos então definir Articulação do som como a passagem do fluxo de ar por
algumas estruturas móveis, que podem impedir, bloquear, canalizar ou moldar o som.
As estruturas articulatórias para fala são: lábios, bochechas, palato duro, dentes, crista
alveolar e palato mole.
 

Classificação da ARTICULAÇÃO na Voz Falada

Podemos classificar os tipos de articulação na voz falada em 3 categorias:

- Articulação precisa (é aquela adequada para nossa fala, bem aceita socialmente, há um
equilíbrio em todas as estruturas envolvidas)

- Articulação imprecisa (não há muito movimento dos lábios e os dentes ficam


praticamente ocluídos, geralmente é acompanhada de loudness diminuido, ou seja,
volume baixo)

- Articulação exagerada (o indivíduo faz um esforço desnecessário e há excesso de


movimentos da língua, lábios e na abertura da boca).

RESSONÂNCIA - Voz Falada

O que é R E S S O N Â N C I A?

Devido à fraca intensidade do som laríngeo e a falta de semelhança com os sons


consonantais e vocálicos da nossa língua, torna-se necessária uma modificação e
amplificação desse som. Estas modificações do som ocorre por todo o caminho do trato
vocal, passando por estruturas que formam obstáculos ou aberturas, até atingir a saída
para o ambiente, pela boca e/ou nariz, este processo é denominado ressonância.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


As cavidades de ressonância quando ajustadas, funcionam como um auto-falante
natural... Há comparação entre ressonância e uma “caixa acústica” da voz, ou seja, 
essas estruturas ou cavidades (pulmões, laringe, faringe, boca, nariz e seios paranasais)
propiciam a reverberação do som, fazendo com que este seja modificado e/ou
amplificado.

A cor da voz depende da disposição das cavidades de ressonância que possuem


características anatômicas individuais, em resumo, podemos reconhecer uma pessoa
sobretudo devido a características singulares das suas cavidades de ressonância. Esse é
um dos fatores que justificam o fato de que a voz pode ser comparada a uma digital,
ninguém possui a mesma, pode ser semelhante, mas igual... jamais!

Focos de RESSONÂNCIA na VOZ FALADA

Os focos de ressonância na voz falada são: nasal, oral e laringo-faríngeo. O ideal é que
haja um equilíbrio entre os 3 focos, quando a predominância  ou a ausência de qualquer
um deles, o resultado pode ser de uma voz inaceitável socialmente.

Exemplos:

Quando uma pessoa está resfriada, outra ao ouvir sua voz diz: "Você está falando pelo
nariz!"
Na verdade, o que está acontecendo é exatamente ao contrário. Se a cavidade nasal está
obstruída, o som não é capaz de passar por ela, ou seja, o som está sendo amplificado
apenas pelas cavidades oral e laringo-faríngea. Então, todos os sons (fonemas) nasais
(m, n, nh, ão, em, en) estarão modificados. Ao invés de mamãe, o indivíduo pronunciará
babãe, por exemplo.

Uma pessoa que ao falar, passa aos ouvintes a sensação de estar com a voz
estrangulada e que o esforço para falar é muito maior que o normal...
É provável que o foco predominante desse indivíduo seja o  laríngo-faríngeo.

Ao contrário, temos aquelas pessoas que literalmente "falam pelo nariz"! É uma
característica encontrada também em alguns homossexuais...
Nesse caso o foco predominante é o nasal.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


Quando há um desequilíbrio entre os focos de ressonância, o ideal é procurar um
Fonoaudiólogo, que fará uma entrevista e uma avaliação completa para descobrir a
causa de tal desequilíbrio e planejará juntamente com o paciente, as medidas a serem
tomadas para a melhora do padrão vocal.

RESSONÂNCIA - Voz Cantada

Ao longo dos anos de estudo, pude perceber que a medida que há uma base teórica junto
a prática do canto, um entendimento sobre fisiologia, a exploração na arte de cantar
torna-se muito mais prazerosa e rica.

Quando entendemos o funcionamento da nossa voz, as combinações que podemos fazer


tornam-se infinitas e imensuráveis... Não dá para explicar, apenas perceber, ouvir...
Sabemos que a ressonância é responsável pela amplificação do som que é produzido na
laringe. Entretanto, quando nos referimos à ARTE DO CANTO temos algo a mais para
nos aprofundar.

As diferenças entre a Voz Falada e a Cantada são imensas e isso é algo que me motiva a
buscar mais conhecimento. Falando sobre ressonância na voz falada, se uma pessoa
possui algum desequilíbrio entre os focos (como vimos anteriormente), isso pode não
ser bem aceito pela sociedade, o que leva muitas vezes o indivíduo procurar um
profissional para ajudá-lo.

Porém, quando nos referimos ao CANTO, estamos falando de arte, de emoções,


sentimentos, idéias, expressão, personalidade...  Com a apropriação das técnicas
adequadas podemos fazer inúmeras variações no timbre sem que isso seja um problema,
aliás, muito pelo contrário,  essas variações são as responsáveis pelo colorido do timbre.

Portanto, se há fatores na voz falada que não são aceitos, na voz cantada eles podem se
transformar em técnicas, em arte!

 Focos de RESSONÂNCIA na Voz Cantada

Ainda não há uma nomenclatura universal para os diferentes focos de ressonância no


canto, os professores de canto e fonoaudiólogos especialistas nessa área utilizam

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


variados termos para se fazer entender: voz coberta, voz metálica, voz com brilho, voz
escura, caixa alta, caixa baixa, enfim.

Recentemente participei de uma aula com a Dra.Silvia Pinho, e uma das coisas que ela
mencinou foi exatamente isso, precisamos falar uma mesma linguagem.

Vou utilizar os termos Ressonância Coberta e Ressonância Metálica. Para entendermos


melhor, vamos dividir nossa cabeça em dois pilares, um para ressonância coberta /n/ e o
outro para ressonância metálica /m/, conforme a figura ao lado.

Se prolongarmos o som do /n/, iremos perceber que ele está focado exatamente onde
mostra a figura, na parte superior da máscara e o resultado é um som mais coberto, com
mais brilho.

Se prolongarmos o som do /m/, iremos perceber que o foco de ressonância abaixou, e o


resultado foi um som mais metálico.

Dica: Alternando os fonemas /n/ e /m/ em uma mesma pronúncia, fica mais perceptível
a mudança do foco.

Existem cantores que fazem uma excelente variação entre focos, o que deixa a música
bem mais rica em termos de técnica, outros seguem um padrão mais coberto ou mais
metálico.

Há cantores ainda que se utilizam de técnicas de ressonância com sons nasais e com
sons guturais (drive e/ou grow - técnica utilizada na black music).
Como disse anteriormente, na arte do canto, desde que haja um domínio da técnica, tudo
é permitido. O que vale é a criatividade nas variações e o famoso "feeling", para saber
onde exatamente colocar a "cerejinha da taça sorvete"!

Segue alguns Exercícios que vão ajudar na articulação e ressonância:

1) -inspirar profundamente, e controlar a saída de ar com : mémmmmmm


2) -inspirar profundamente e controlar a saída de ar com: nnnnnn sentindo o ar e
o som sair do nariz. (deixar a boca boba)
3) -inspirar, fazer boca chiusa (boca fechada por fora e aberta por dentro como
um bocejo de boca fechada e som de mmm).

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


4) -“mastigar” o som com boca chuisa e soltá-lo em : mua / mué/ muó. Sempre
mantendo a boca boba.
5) -cantar: Ba,Da,Ga (utilizando a boca vertical, língua relaxada – como bocejo-
e a respiração). Substituir a vogal “a” pelas outras (ê, é, i, ô, ó, u)
6) -cantar Pa,Ta,Ka e fazer o mesmo de exercício anterior.
-cantar Va,Za,Já e fazer o mesmo do exercício anterior.
-cantar FaÇaXa e fazer o mesmo.
-Realizar vocalizes com vogais para o aquecimento do grupo.

SAÙDE VOCAL

Entendemos por saúde ou higiene vocal, a questão da saúde da voz e os


procedimentos necessários para sua conservação e longevidade. As normas básicas de
saúde vocal são praticamente desconhecidas da população. Quem já não foi aconselhado
por alguém a tomar um chá, chupar uma pastilha, um spray “mágico” para se livrar da
dor de garganta? Ou ainda, comer cebola, ovo cru ( que horror) óleos diversos para
deixar a voz mais bonita?
Atualmente muitos destes “mitos” já foram e estão sendo quebrados através de
estudos e comprovações de sua ineficácia. Vamos ressaltar alguns pontos e conhecer as
verdades e mentiras:

1)-o cantor não deve se utilizar de pastilhas, spray local, balas de hortelã e gengibre com
a finalidade de manter uma voz saudável, pois estes recursos causam efeito contrário, ou
seja, mascaram a dor do esforço vocal, dando uma falsa sensação de melhora e
prejudicando ainda mais o estado das mucosas, que é o tecido que reveste a faringe e as
pregas vocais.

2)-o fumo e a fumaça do cigarro fazem mal à voz e a saúde. Um indivíduo fumante
provoca alterações na voz, pois causam um aumento de secreção e de muco o que
provoca o pigarro. Além disso é responsável pela incidência do câncer da laringe e dos
pulmões.

3)-não é certo ficar pigarreando para tirar a secreção da garganta, pois as tentativas de
soltar esta secreção causam uma irritação na mucosa e descamação do tecido. O mais
adequado para soltá-la é a super-hidratação, e os exercícios de vibração (trrrr/brrr).

4)-uísque, conhaque, pinga, etc, não são indicados para o cantor, pois uma vez
ingeridos, o indivíduo se sente mais solto e a laringe é levemente anestesiada, por isso
ele acaba cometendo abusos vocais e só perceberá suas conseqüências após o efeito da
bebida que são: ardor, queimação e voz rouca e fraca.

5)-o cantor não tem uma alimentação específica, mas deve ser bem equilibrada e
basicamente protéica, para dar força e vigor ao tônus muscular. Alimentos pesados e
muito condimentados dificultam a digestão e também a movimentação livre do
diafragma.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira


6)-antes de cantar, o cantor não deve comer chocolates, mel, leite e derivados, pois
aumentam a formação de secreção e engrossam a saliva prejudicando a ressonância e
produzindo pigarros.

7)-alimentos com a maçã, salsão possuem propriedades adstringentes e devem ser


ingeridos com freqüência, pois auxiliam na limpeza da boca e faringe, afinam a saliva e
ajudam a eliminar a secreção. Os sucos de laranja e limão também auxiliam a absorção
do excesso de secreção.

8)-a água deve ser o carro chefe dos cantores, pois hidratam a mucosa, eliminando a
secreção e ajuda a afinar a saliva, além de fazer muito bem à saúde.

9)-alimentos e bebidas geladas fazem mal, pois provoca choques térmicos com a
mudança brusca de temperatura o que pode causar edemas nas pregas vocais.

10)-ventilador e ar condicionado podem causar alterações na voz em indivíduos pré-


dispostos. Quando muito tempo em ambiente com ar condicionado é necessário uma
melhor e maior hidratação da mucosa.

11)-no período pré-mesntrual e nos primeiros dias de menstruação, em conseqüência do


inchaço nas pregas vocais provocado pela alteração hormonal, há uma alteração na voz.
Podemos observar voz cansada, discreta rouquidão com voz mais grossa e dificuldade
de afinar.

12)-nunca cante quando estiver em más condições de saúde – gripes, crises alérgicas-
pois não há uma boa emissão de voz e o inchaço nas pregas vocais causado por estes
sintomas podem provocar a rouquidão.

13)-aquecer a voz sempre antes de cantar.

Andréia Pires Chinaglia de Oliveira

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