Você está na página 1de 70

COMANDO DA AERONÁUTICA

ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA

TEORIAS E PREVENÇÃO CONTRAINCÊNDIO

TEORIAS CONTRAINCÊNDIO
VOLUME ÚNICO

SBO

CFS

IMPRESSO NA SUBSEÇÃO GRÁFICA DA EEAR


MINISTÉRIO DA DEFESA
COMANDO DA AERONÁUTICA
ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA

TEORIAS CONTRAINCÊNDIO

Apostila da disciplina Teorias e Prevenção


Contraincêndio, da Especialidade SBO, do Curso de
Formação de Sargento.

Elaborador: Grupo de Trabalho SBO 2012

Grupo de Trabalho SBO


Teoria Contraincêndio.- Guaratinguetá: SSDM,
2013 – (VÚ) 1° Edição.

Edição não consumível

1.Serviço de Bombeiro – Estudo e ensino.

360 CDD-363.37

GUARATINGUETÁ, SP
DOCUMENTO DE PROPRIEDADE DA EEAR
Todos os Direitos Reservados

Nos termos da legislação sobre direitos autorais, é


proibida a reprodução total ou parcial deste documento, utilizando-
se de qualquer forma ou meio eletrônico ou mecânico, inclusive
processos xerográficos de fotocópias e de gravação, sem a
permissão, expressa e por escrito, da Escola de Especialistas de
Aeronáutica - Guaratinguetá - SP.
SUMÁRIO

Introdução........................................................................................................................01
1 FUNDAMENTOS BÁSICOS......................................................................................03
1.1 História do fogo.............................................................................................03
1.2 Fogo e incêndio..............................................................................................03
1.3 Conceito de fogo............................................................................................04
1.4 Composição do fogo......................................................................................05
2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO FOGO....................................................................09
2.1 Combustível (Agente Redutor)......................................................................09
2.2 Comburente (Agente Oxidante).....................................................................13
2.3 Calor (Agente Ígneo).....................................................................................15
2.4 BLEVE – “Boiling liquid expanding vapor explosion”................................19
3 COMBUSTÃO.............................................................................................................29
3.1 Classificação da combustão...........................................................................29
3.2 Intensidade da combustão..............................................................................33
3.3 Produtos perigosos oriundos da combustão...................................................35
4 FASES DO INCÊNDIO...............................................................................................39
4.1 Fase inicial (ou estágio de crescimento)........................................................39
4.2 Fase da queima livre (ou estágio de pleno desenvolvimento).......................40
4.3 Fase da queima lenta (ou estágio de declínio)...............................................42
5 MÉTODOS DE EXTINÇÃO DO FOGO....................................................................45
5.1 Retirada do combustível................................................................................45
5.2 Resfriamento..................................................................................................46
5.3 Abafamento....................................................................................................46
6 CLASSIFICAÇÃO DOS INCÊNDIOS.......................................................................49
6.1 Incêndio classe A...........................................................................................49
6.2 Incêndio classe B...........................................................................................50
6.3 Incêndio classe C...........................................................................................51
6.4 Incêndio da classe D......................................................................................52
8 LEITURA COMPLEMENTAR...................................................................................55
8.1 Classe E..........................................................................................................55
8.2 Classe K.........................................................................................................56
Glossário..........................................................................................................................58
Conclusão........................................................................................................................63
Referências......................................................................................................................64
EEAR 1

INTRODUÇÃO

Iniciaremos um trabalho de grande utilidade em nosso cotidiano, juntamente com os


instrutores temos este material didático para lhe auxiliar e oferecer plenas condições na
compreensão dos assuntos que serão abordados, facilitando assim os trabalhos de prevenção,
salvamento e combate a incêndios.
Tenho certeza que ao final deste trabalho, sua conscientização para com a importância
deste aprendizado será de grande valia em nossa sociedade. Digo também que um bom
profissional não deve limitar-se ao conhecimento teórico que este material oferece, somente este
conhecimento não será suficiente para um desempenho ideal, sendo necessário também o
conhecimento prático, o bom condicionamento físico, a coragem, o senso de responsabilidade, a
confiança no material e principalmente na vontade de querer executar um bom trabalho.
Companheiro quero agradecer sua disposição para obter um novo conhecimento e me
colocar a disposição para qualquer dúvida.
Sucesso! Tenho certeza que sua caminhada será vitoriosa.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 3

1 FUNDAMENTOS BÁSICOS

1.1 História do fogo

Antes de entrarmos no estudo do fenômeno da combustão, faremos um breve relato sobre


o fogo, sua origem e evolução no tempo.
O fogo está intimamente ligado à história da evolução do homem.
A história contemporânea nos assegura que o fogo provavelmente foi descoberto pelo
homem primitivo que o conhecia como força misteriosa, servindo apenas como iluminação e
meio de aquecimento da caverna.
A partir da Idade da Pedra, passando pela Era dos Metais, pelas Guerras Medievais, a Era
das Conquistas e a Revolução Industrial, notamos a presença do Fogo na transformação da
matéria bruta em produtos manufaturados, como armas de guerra, ou preparo de alimentos,
utensílios, etc.
Obviamente, para bem empregá-lo, sempre houve uma nítida preocupação em controlar
seus efeitos, visando obter seu emprego da melhor maneira possível.

1.2 Fogo e incêndio

Neste capítulo vamos estabelecer a diferença entre Fogo e Incêndio que para alguns
parecem palavras sinônimas, mas tecnicamente não tem o mesmo significado.
O Fogo na concepção da palavra é um elemento de grande utilidade na vida moderna
como também foi aos nossos antepassados. Sua aplicação é mais intensificada à medida que
caminhamos em direção ao progresso. Ele acompanha, passo a passo, o desenvolvimento de uma
nação, figurando como um dos principais fatores de propulsão do progresso.
O Fogo para ser útil, deverá estar sob o controle do homem (Fig. 01); entretanto, quando
o homem perde seu controle, ele se transforma num agente de grande poder destruidor, com
ilimitada capacidade de destruição.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 4

Figura 01

Incêndio é, portanto, um fogo descontrolado, um fogo nocivo, um fogo destruidor (Fig.


02).

Figura 02

O que caracteriza o incêndio, não é a intensidade ou o estágio de desenvolvimento e sim


o objetivo da sua ação. O fogo, mesmo pequeno, mas nocivo, caracteriza um principio de
incêndio.

1.3 Conceito de fogo

O conceito utilizado pelos bombeiros é: Fogo é uma reação química exotérmica


denominada combustão (oxidação), que se caracteriza pela liberação de luz, calor, fumaça e
gases.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 5

1.4 Composição do fogo

Vimos que o Fogo é uma reação química, e para se viabilizar uma reação química, torna-
se necessária à existência de no mínimo 02 (dois) elementos que reajam entre si e em
circunstâncias favoráveis.

1.4.1 Triângulo do fogo

O Fogo é composto por 03 ( três) elementos essenciais, o Combustível (agente redutor), o


Oxigênio (Agente Oxidante) também chamado de Comburente e o Calor (Agente Ígneo). Para
efeito didático estes elementos formam um triângulo equilátero (Triângulo do Fogo), sendo que
cada um deles ocupa um lado deste triângulo (Fig. 03).

Figura 03

1.4.2 Tetraedro do fogo

Alguns autores consideram que o fogo é composto por 04 (quatro) elementos essenciais:
os 03 (três) já vistos no Triângulo do Fogo, acrescido da Reação em Cadeia. Nesta configuração,
o fogo passaria a ser representado geometricamente pelo “Tetraedro do Fogo” (Fig. 04) ou
“Quadrado do Fogo” (Fig. 05). Eles chegaram a esta conclusão, pois, a combustão sendo um
fenômeno químico, processa-se no sistema de reação em cadeia que, após a partida inicial, é
mantida pelo próprio calor produzido durante o processamento da reação.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 6

Figura 04

Figura 05

1.4.2.1 Reação em cadeia

Como a reação em cadeia ainda não foi muito bem explicada como sendo um elemento
essencial ao fogo, não a trataremos como um quarto elemento, e sim como uma consequência de
toda e qualquer reação química. Assim, sendo a combustão uma reação química, ela se processa
no sistema de reação em cadeia. (Fig. 06).
DIVISÃO DE ENSINO SSDMD
EEAR 7

Figura 06

A reação em cadeia torna a queima autossustentável. O calor originado da decomposição


das moléculas do combustível atinge outras moléculas que são decompostas em partículas
menores, que se combinam com o oxigênio e queimam, gerando mais calor para decompor
outras moléculas do combustível, formando um ciclo constante (reação em cadeia).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 9

2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO FOGO

Para uma melhor compreensão dos elementos que compõem o fogo, vamos estudar,
separadamente, cada um deles.

2.1 Combustível (Agente Redutor)

Compreende toda substância capaz de se queimar (oxidar-se). É o elemento que serve de


campo de propagação e alimenta a combustão. A velocidade da queima de um combustível
depende de sua capacidade de se combinar com oxigênio sob a ação do calor, e da sua
fragmentação (área de contato com o oxigênio). Qualquer combustível suficientemente aquecido
torna-se passível de combustão.

2.1.1 Estado físico dos combustíveis

Os combustíveis podem ser encontrados nos estados sólidos, líquidos e gasosos e a


grande maioria precisa passar para o estado gasoso para, então, combinar com o oxigênio
(queimar-se).

2.1.1.1 Combustível Sólido

São todos os combustíveis sólidos de um modo geral. Queimam em superfície e


profundidade, deixando resíduos. Para a extinção do incêndio, o agente extintor mais indicado é
a água.
A maioria dos combustíveis sólidos transforma-se em vapores e então, reagem com o
oxigênio. Outros sólidos (ferro, parafina, cobre, bronze) primeiro transformam-se em líquidos
(liquefação), e posteriormente em vapores (gaseificação), para então se queimarem (Fig. 07).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 10

Figura 07

Quanto maior a superfície exposta ao calor, mais rápido será o aquecimento do material
e, consequentemente, o processo de combustão. Por exemplo: uma barra de aço exigirá muito
calor para queimar mas, se transformada em palha de aço, queimará com facilidade. Assim
sendo, quanto maior a fragmentação do material, maior será a velocidade da combustão.

2.1.1.2 Combustível Líquido

Os combustíveis líquidos (Fig. 08) queimam somente em superfície e, de uma maneira


geral, não deixam resíduos. Eles assumem a forma do recipiente que os contém. Se derramados,
os líquidos tomam a forma do piso, fluem e se acumulam nas suas partes mais baixas.

Figura 08

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 11

Os combustíveis líquidos possuem algumas propriedades físicas que causam riscos e


dificulta a sua extinção.

➢ Densidade de um Líquido: Tomando como base o peso da água, cujo litro pesa um
(1) quilograma, classificamos os demais líquidos como mais leve (menos denso) ou
mais pesado (mais denso) que a água. É importante salientar que a maioria dos
combustíveis líquidos são mais leves que a água e, portanto, flutuam sobre esta (Fig.
09).

Figura 09

➢ Solubilidade de um Líquido: É a capacidade do combustível líquido de misturar-se


com a água ou não. Os líquidos derivados do petróleo, conhecidos como
hidrocarbonetos, (gasolina, querosene, óleo diesel, xileno, tolueno, etc) têm pouca
solubilidade, ao passo que líquidos como o álcool, acetona e éter (conhecidos como
solventes polares) tem grande solubilidade, isto é, podem ser diluídos até um ponto em
que a mistura (solvente polar + água) não seja inflamável.

➢ Volatilidade de um Líquido: É a facilidade com que os líquidos liberam vapores


inflamáveis, também é de grande importância, porque quanto mais volátil for o
líquido, maior a possibilidade de haver fogo, ou mesmo explosão. Chamamos de
voláteis os líquidos que liberam vapores inflamáveis a temperaturas menores que 20º
C (temperatura ambiente).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 12

2.1.1.3 Combustível Gasoso

Correspondem aos gases inflamáveis (GLP, acetileno, etc.). Eles não possuem volume
definido, tendendo, rapidamente, a ocupar todo o recipiente em que estão contidos (Fig. 10).

Figura 10

➢ Densidade de um Gás: Se o peso do gás é menor (menos denso) que o do ar , o gás


tende a subir e dissipar-se. Mas se o peso do gás é maior (mais denso) que o do ar , o
gás permanece próximo ao solo e caminha na direção do vento, obedecendo ao
contorno do terreno.

2.1.2 Limite de inflamabilidade

É uma faixa de concentração de mistura de gases ou vapores inflamáveis na atmosfera


dentro da qual ocorre a queima. Fora dessa faixa não ocorrerá combustão.
Para um gás ou vapores de combustíveis líquidos queimarem, há necessidade de que
estejam em uma mistura ideal com o comburente, e, portanto, se estiver numa concentração fora
de determinados limites, não queimarão. Cada gás e cada vapor possui seu limite próprio. Por
exemplo, se num ambiente há menos de 1,4% ou mais de 7,6% de vapor de gasolina, não haverá
combustão, pois a concentração de vapor de gasolina neste local está fora do que se chama de
mistura ideal, ou limites de inflamabilidade.

CONCENTRAÇÃO NO COMBUSTÍVEL

AMBIENTE METANO PROPANO HIDROGÊNIO ACETILENO

LIMITE INFERIOR 1,4 % 5% 4% 2%

LIMITE SUPERIOR 7,6 % 17 % 75 % 100 %


Tabela 01

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 13

Observação: a tabela anterior tem o intuito de exemplificar o texto, evite decorá-la, pois são
inúmeros os combustíveis com seus limites de concentração. Procure aprender sobre os limites
de concentração dos combustíveis que você tem contato em seu cotidiano.

2.1.2.1 Limite de explosividade

É uma faixa de concentração de mistura de gases ou vapores inflamáveis na atmosfera


dentro da qual ocorre a queima em forma de explosão. Esta faixa está dentro da faixa de
inflamabilidade (figura 11).

Figura 11

2.2 Comburente (Agente Oxidante)

É o elemento que possibilita vida às chamas e intensifica a combustão. Assim é que em


ambientes pobres de oxigênio o fogo apresenta chamas com pouca intensidade ou não possui
chamas. E nos locais ricos em oxigênio, as chamas são intensas, brilhantes e com elevada
temperatura, como no caso dos maçaricos de oxiacetileno utilizados para corte de metais e
soldagem (Fig. 12).

Figura 12

A composição do ar atmosférico, em números aproximados, é de 78% de Nitrogênio,


21% de Oxigênio e 1% de outros gases.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 14

Em ambientes com 21% de oxigênio, a queima se desenvolve com boa velocidade e de


maneira completa, apresentando formação de chamas. Contudo, a combustão consome o
oxigênio do ar num processo contínuo. Quando a porcentagem de oxigênio do ambiente fica
abaixo de 15%, a queima torna-se incompleta, apresentando brasas e não mais chamas.
Normalmente o que atua como Comburente numa combustão é o oxigênio existente no ar
atmosférico. Porém existem substâncias e materiais que possuem oxigênio em sua estrutura
molecular que, ao entrarem em combustão, utilizam esse oxigênio, ficando independente do
oxigênio do ar atmosférico. É o caso das pólvoras dos cartuchos de arma de fogo.
As substâncias da classe 5 de produtos perigosos (5.1 - Substâncias Oxidantes e 5.2 -
Peróxidos Orgânicos) (Fig.13), além de possuírem o oxigênio em sua estrutura química, são
capazes de liberá-lo para alimentar a combustão de outros materiais que estejam em chamas nas
suas proximidades. São produtos oxidantes: peróxidos, permanganatos, cloratos, percloratos,
persulfatos, nitritos, iodatos, bromatos, cromatos e percromatos.

Figura 13

As substâncias oxidantes podem se apresentar como sólidos, líquidos ou gases.

➢ O Perclorato de Amônia - é utilizado como comburente sólido em foguetes;

➢ O Peróxido de Nitrogênio - é um gás utilizado na composição dos combustíveis de


foguete;

➢ O Peróxido de Hidrogênio – líquido viscoso e poderoso oxidante, é utilizado,


também como combustível em satélites artificiais.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 15

Em alguns casos particulares, outros gases diferentes do oxigênio atuam como


comburente, como por exemplo:

➢ A queima de Antimônio e de vapores Enxofre em atmosfera de Cloro;

➢ A queima espontânea do Fósforo em atmosfera de Cloro;

➢ A queima do Ferro e do Cobre na presença de vapores de Enxofre; e

➢ A queima do Zircônio em atmosfera de Anidrido Carbônico.

2.3 Calor (Agente Ígneo)

O calor é o elemento que inicia a combustão, a mantém, e incentiva a sua propagação. É a


forma de energia que eleva a temperatura. O calor é gerado da transformação de outra energia,
obtida através de processo físico ou químico. Quando um corpo é aquecido, a velocidade de
vibração das moléculas aumenta e o calor (demonstrado pela variação de temperatura) também
aumenta. (Fig. 14).

Figura 14

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 16

2.3.1 Fontes de Calor

O calor é gerado pela transformação de outras formas de energia (Fig. 15) são elas:

➢ Energia Química: O calor gerado pelo processo de combustão;

➢ Energia Elétrica: O calor gerado pela passagem de eletricidade através de um


condutor, como um fio elétrico ou um aparelho eletrodoméstico;

➢ Energia Mecânica: O calor gerado pelo atrito de dois corpos; e

➢ Energia Nuclear: O calor gerado pela quebra ou fusão de Átomos.

Figura 145

2.3.2 Efeito do calor

O calor é a forma de energia que provocará mudança de temperatura no ambiente e nos


corpos.
O aumento da temperatura produz efeitos físicos e químicos nos corpos e efeitos
fisiológicos nos seres vivos. Assim, por exemplo, ao aquecermos um pedaço de ferro, este,
inicialmente aumenta sua temperatura e, a seguir, o seu volume. Mantido o processo de
aquecimento, o ferro muda de cor, perde a forma, até atingir o seu ponto de fusão, quando se
transforma de sólido para líquido (liquefação). Continuando ainda o aquecimento, gaseifica-se e
queima em contato com o oxigênio, transformando-se em outra substância.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 17

2.3.2.1 Elevação da Temperatura

Este fenômeno se desenvolve com maior rapidez nos corpos considerados bons
condutores de calor, como os metais; mais vagarosamente, nos corpos tidos como maus
condutores de calor, como por exemplo, o amianto.
Por ser mau condutor de calor, o amianto era utilizado na confecção de materiais de
combate a incêndios, como roupas, capas e luvas de proteção ao calor. Atualmente estes foram
substituídos por outros materiais maus condutores de calor (ex. nomex, kevlar, etc.).
O conhecimento sobre a condutibilidade de calor dos diversos materiais é de grande valia
na prevenção de incêndios (Fig. 16). Aprendemos que materiais combustíveis nunca devem
permanecer em contato com corpos bons condutores, sujeitos a uma fonte de aquecimento.

Figura 16

2.3.2.2 Efeitos da Elevação de Temperatura

➢ Aumento de Volume

Todos as substâncias (sólidas, líquidas ou gasosas) se dilatam quando aumenta a


temperatura e se contraem com sua diminuição. A única exceção é a água que aumenta seu
volume quando congela.
A atuação do calor não se faz de maneira igual sobre todos os materiais. Alguns
problemas podem decorrer dessa diferença. Imaginemos por exemplo uma viga de concreto de
10 m exposta a uma variação de temperatura de 700º C. A esta variação, o ferro, dentro da viga,
DIVISÃO DE ENSINO SSDMD
EEAR 18

aumentará seu comprimento cerca de 84 mm, e o concreto, 42 mm. Com isso, o ferro tende a se
deslocar no concreto, que perde sua capacidade de sustentação ocasionando trincas e risco de
desabamento (Fig. 17).

Figura 17

Os materiais sólidos não resistem a variações bruscas de temperatura. Por exemplo, ao


jogarmos água de maneira localizada em apenas uma pequena parte de um corpo superaquecido,
este se contrai de forma rápida e desigual, o que lhe causa rompimentos, fissuras e danos. Pode
ocorrer um enfraquecimento deste corpo, chegando até a um colapso, isto é, podem surgir
grandes rupturas internas ou alterações em suas propriedades que fazem com que o material não
mais se sustente (OBS:. mudanças bruscas de temperatura, como as relatadas acima, são causas
comuns de desabamentos de estruturas).
A dilatação dos líquidos também pode produzir situações perigosas, provocando
transbordamento de vasilhas, rupturas de recipientes contendo produtos perigosos ou
inflamáveis, etc.
O aquecimento dos gases proporciona a sua dilatação volumétrica, acarretando o risco de
explosões físicas dos recipientes que os contém, pois, de um modo geral, ao serem aquecidos até
273º C os gases duplicam de volume; a 546º C o seu volume é triplicado, e assim
sucessivamente.
Com o aumento da temperatura, ocorre o aumento do volume dos gases no interior de um
recipiente e, consequentemente, a pressão interna também aumenta. Caso o recipiente não possua
dispositivo de segurança ou, se existir, o dispositivo não seja suficiente para dar vazão ao gás em

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 19

expansão, ocorrerá uma explosão, provocada pela ruptura das paredes do recipiente, e pela
violenta expansão dos gases em chamas.
Atenção: Os vapores de líquidos (inflamáveis ou não) se comportam como os gases.
BLEVE – “Boiling liquid expanding vapor explosion”

Corresponde às explosões que ocorrem em reservatórios (tanques de estocagem,


caminhões e vagões tanque) de combustíveis líquidos e gases inflamáveis.
Quando um reservatório contendo líquido ou gás inflamável fica exposto diretamente às
chamas de um incêndio externo, a temperatura do combustível aumenta e a pressão interna do
reservatório também (Fig. 18). Então a válvula de segurança começa a liberar vapores
inflamáveis, aliviando o excesso de pressão (Fig. 19).

Figura 18

Figura 19

Caso o incêndio externo ao reservatório não seja extinto, a temperatura do combustível


continuará aumentando até atingir seu ponto de combustão (Fig. 20), fato que poderá ser
observado pelos vapores que se inflamam ao sair pela válvula de segurança.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 20

Figura 20

A válvula de alívio de pressão não conseguirá dar vazão ao aumento excessivo da pressão
interna do reservatório (Fig. 21), fato que provocará o rompimento violento da parede do
reservatório (explosão) (Fig. 22 e 23)lançando estilhaços em todas as direções e liberando para a
atmosfera todo combustível que está acima do ponto de ignição, provocando uma enorme bola
de fogo “fire ball” com enorme irradiação de calor.

Figura 21

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 21

Figura 22

Figura 23

Para se evitar o BLEVE é necessário resfriar exaustivamente os recipientes que estejam


sendo aquecidos por exposição direta ao fogo, ou por calor irradiado e extinguir o incêndio que
está aquecendo o reservatório.

➢ Mudança no Estado Físico da Matéria

Com o aumento da temperatura, os corpos tendem a mudar seu estado físico: os sólidos,
ao alcançarem o ponto de fusão, transformam-se em líquidos. Os líquidos, ao alcançarem a
temperatura de vaporização, transformam-se em gases. Existem alguns sólidos que se
transformam diretamente em gases (sublimação). Isso se deve ao fato de que a elevação da

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 22

temperatura faz com que aumente o espaço entre as moléculas e estas, separando-se, mudam o
estado físico da matéria.
As estruturas metálicas não protegidas, quando expostas ao calor de um incêndio,
tornam-se maleáveis e entram em colapso.
Quando a água está congelada (gelo), suas moléculas vibram pouco e estão bem juntas;
com o aumento da temperatura elas adquirem maior velocidade de vibração e maior
espaçamento, transformando-se em líquido (água) (Fig. 24).

Figura 24

Os vapores gerados dos líquidos inflamáveis podem formar atmosferas explosivas.

➢ Alteração química da matéria

Mudança química é aquela em que ocorre a transformação de uma substância em outra


diferente.
O calor pode provocar alterações químicas nos combustíveis, podendo ocorrer a
formação de gases tóxicos.

➢ Efeitos fisiológicos do calor

O aumento da temperatura é a causa direta de vários problemas para o ser humano.


Dentre eles destacamos a desidratação, a insolação, a fadiga e problemas para o aparelho
respiratório, além de queimaduras (1º, 2º e 3º graus), que nos casos mais graves, podem levar a
morte (Fig. 25).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 23

Figura 25

2.3.3 Propagação do calor

O calor pode se propagar de três diferentes maneiras: condução, convecção e radiação.


Como tudo na natureza tende ao equilíbrio, o calor é transferido de objetos com temperatura
mais alta para aqueles com temperatura mais baixa. O mais frio dos dois objetos absorverá calor
até que esteja com a mesma quantidade de energia do outro.

2.3.3.1 Condução

Condução é a transferência de calor de molécula para molécula, ou seja, para que haja
transmissão por condução é necessário que os corpos estejam juntos.
Se colocarmos a extremidade de uma barra de ferro próxima a uma fonte de calor as
moléculas desta extremidade absorverão calor, elas vibrarão mais rigorosamente e se chocarão
com as moléculas vizinhas, transferindo-lhes calor. Esses moléculas vizinhas, por sua vez,
passarão adiante a energia calorífica, de modo que o calor será conduzido ao longo da barra para
a extremidade fria.
Na condução, o calor passa de molécula para molécula, mas nenhuma molécula é
transportada pelo calor (Fig. 26).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 24

Figura 26

Quando dois ou mais corpos estão em contato, o calor é conduzido através deles como
fossem um só corpo.
A transmissão de calor por condução ocorre principalmente nos combustíveis sólidos.

2.3.3.2 Irradiação

É a transmissão de calor por ondas de energia calorífica que se deslocam através do ar e


do vácuo, atravessam superfícies transparentes e refletem nas polidas. Por exemplo, o calor do
Sol é transmitido através do vácuo celeste até alcançar a Terra, quando é absorvido.
Um corpo aquecido emite ondas de energia calorífica em linha reta e em todas as
direções, que são absorvidas pelos corpos que estão expostos (Fig. 27). A intensidade com que
os corpos são atingidos aumenta ou diminui à medida que estão mais próximos ou mais afastados
da fonte de calor.

Figura 27

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 25

O bombeiro deve estar atento aos materiais ao redor de uma fonte que irradie calor,
devendo protegê-los, evitando novos focos de incêndios. Para se proteger do calor irradiado, o
bombeiro deve utilizar roupas apropriadas e água em forma de chuveiro (como escudo).
Compreendendo o efeito da irradiação e da condução do calor através das estruturas
metálicas, poderemos entender o porquê da necessidade de preservar a fuselagem, realizando a
sua proteção e resfriamento antes do combate ao incêndio numa extremidade de asa, pois uma
vez aquecido, o metal continuará a conduzir o calor, mesmo após o fogo ter sido extinto. (fig.
28).

Figura 28

2.3.3.3 Convecção

É o processo de transferência de calor que se faz através da circulação do meio


transmissor: gás ou líquido.
Quando a água é aquecida num recipiente de vidro, pode-se observar um movimento,
dentro do próprio líquido, de baixo para cima. À medida que a água é aquecida, ela se expande e
fica menos densa (mais leve) provocando um movimento para cima, deixando espaço para que
outro volume de água mais denso ocupe o seu lugar para ser aquecido e, assim, sucessivamente.
Da mesma forma, o ar aquecido se expande e tende a subir para as partes mais altas do
ambiente, enquanto o ar frio toma lugar nos níveis mais baixos. Em incêndios de edifícios, essa é
a principal forma de propagação de calor para andares superiores, quando os gases aquecidos
encontram caminho através de escadas, corredores de circulação de elevadores, etc. (Fig. 29).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 26

Figura 29

2.3.4 Pontos de temperatura

Os combustíveis são transformados pelo calor, e a partir desta transformação, é que


combinam com o oxigênio, resultando a combustão. Essa transformação desenvolve-se em
temperaturas diferentes, à medida que o material vai sendo aquecido.
Com o aquecimento, chega-se a uma temperatura em que o material começa a liberar
vapores, que se incendeiam se houver uma fonte externa de calor. Neste ponto, chamamos de
“Ponto de Fulgor”, as chamas não se mantêm, devido à pequena quantidade de vapores.
Prosseguindo no aquecimento, atinge-se uma temperatura em que os gases desprendidos do
material, ao entrarem em contato com uma fonte externa de calor, iniciam a combustão, e
continuam a queimar sem auxílio daquela fonte. Esse ponto é chamado de “Ponto de
Combustão”. Continuando o aquecimento, atinge-se um ponto no qual o combustível, exposto ao
ar, entra em combustão sem que haja uma fonte externa de calor. Esse ponto é chamado de
“Ponto de Ignição”. Definindo, para fins didáticos, teremos: Ponto de fulgor, ponto de
combustão e ponto de ignição.

2.3.4.1 Ponto de fulgor

Ponto de Fulgor é a temperatura na qual os corpos combustíveis começam a desprender


vapores que se incendeiam com uma fonte de calor, entretanto a chama não se mantém, devido à
insuficiência nas quantidades de vapores (Fig. 30).
DIVISÃO DE ENSINO SSDMD
EEAR 27

Figura 30

2.3.4.2 Ponto de combustão

Ponto de Combustão é a temperatura na qual os vapores desprendidos dos corpos


combustíveis, ao entrarem em contato com uma fonte de calor, inflamam-se e mantém a
combustão (Fig. 31).

Figura 31

2.3.4.3 Ponto de ignição

Ponto de Ignição é a temperatura na qual os vapores desprendidos dos combustíveis, ao


entrarem em contato com o oxigênio do ar, se inflamam, independente de qualquer fonte de calor
(chama ou centelha) e mantém a combustão (Fig. 32).

Figura 32

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 28

COMBUSTÍVEL PONTO DE PONTO DE PONTO DE


FULGOR 0C COMBUSTÃO 0C IGNIÇÃO 0C
Álcool 12,8 15,8 a 16,8 371
Éter - 40 - 37 a – 36 160
Gasolina de aviação - 45,5 - 42,5 a - 41,5 440
Glicerina 160 163 a 164 365
Naftalina 79 82 a 83 524,5
Óleo de soja 282 285 a 286 445
Parafina 199 202 a 203 245
Querosene 38 41 a 42 210
Tabela 02

Observação: a tabela acima tem o intuito de exemplificar o texto, evite decorá-la, pois são
inúmeros os combustíveis com seus pontos de fulgor, combustão e ignição. Procure aprender
sobre os limites de concentração dos combustíveis que você tem contato no dia a dia.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 29

3 COMBUSTÃO

3.1 Classificação da combustão

Diversos autores têm apresentado diferentes conceituações sobre os tipos de combustão.


No nosso estudo, que é especificamente relacionado com os incêndios, classificaremos as
combustões quanto a velocidade e quanto a forma.

3.1.1 Quanto a velocidade

Dois elementos são preponderantes na velocidade da combustão: o comburente e o


combustível. O calor entra no processo para decompor o combustível. A velocidade da
combustão variará de acordo com a porcentagem do oxigênio no ambiente e as características
físicas e químicas do combustível.
De acordo com a velocidade da reação as combustões podem ser:

➢ Lenta: quando o processo da reação ocorre de maneira lenta e não há produção de


chamas, ou qualquer fenômeno luminoso. A liberação de calor é muito fraca,
baixíssima. Ocorre, geralmente, em ambientes pobres em oxigênio. Como exemplo
podemos citar a oxidação lenta de materiais combustíveis (ferrugem);

➢ Viva: quando ocorre a produção de muitas chamas, ou qualquer fenômeno luminoso.


Como exemplo citamos qualquer atividade de queima em ambiente aberto;

➢ Muito Viva: é um tipo de explosão (deflagração) caracterizada por apresentar


velocidade de reação muito rápida, mas inferior à velocidade do som (340 m/s) e pela
elevação da pressão até 1 atmosfera por metro quadrado; e

➢ Instantânea: é um tipo de explosão (detonação) caracterizada por apresentar


velocidade de reação superior à velocidade do som (340 m/s) e pela elevação da
pressão numa faixa compreendida entre 5 a 30 atmosferas. A combustão se processa
de forma súbita e atinge de imediato o combustível por completo. (Fig. 33).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 30

Figura 33

A combustão instantânea de “pseudoexplosivos” merece especial atenção, pois quando


ocorrem em ambientes confinados, se comportam como verdadeiras explosões. Isso ocorre com
materiais combustíveis sólidos finamente divididos (particulados) em suspensão no ar, ou com
líquidos inflamáveis pulverizados no ar ou em ambientes gasados (saturados por gases ou
vapores inflamáveis), quando a mistura do combustível com o ar está dentro da faixa de
explosividade, formando assim, uma atmosfera explosiva (explosões de gases, poeiras, etc.).
Limites de explosividade de alguns combustíveis quando em mistura com o ar:

COMBUSTÍVEL MÍNIMO MÁXIMO


Acetona 2,15% 13,00%
Acetileno 2,50% 80,00%
Butano 1,60% 8,50%
Monóxido de Carbono 12,50% 74,20%
Álcool Etílico 3,28% 19,00%
Óleo Diesel 6,60% 13,50%
Gás Encanado 5,30% 31,00%
Gasolina 1,30% 6,00%
Querosene 1,16% 6,00%
Metano 5,30% 13,90%
Hidrogênio 4,10% 74,20%
Tabela 03

Observação: a tabela acima tem o intuito de exemplificar o texto, evite decorá-la, pois são
inúmeros os combustíveis com seus limites de explosividade. Procure aprender sobre os limites
de concentração dos combustíveis que você tem contato no dia a dia.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 31

3.1.2 Quanto a forma

Quanto a forma, a combustão pode ser classificada em:

➢ Combustão Completa: É aquela em que a queima se processa em ambiente rico em


oxigênio, tendo como resultante a predominância de CO2 (dióxido de carbono), dentre
outros gases (Fig. 34). Como exemplo podemos citar as queimas em ambientes
abertos;

Figura 34

➢ Combustão Incompleta: É aquela que a queima se processa em ambiente pobre em


oxigênio, tendo como resultante a predominância de CO (monóxido de carbono),
dentre outros gases (Fig. 35). Este gás é tóxico e explosivo; e

Figura 35

➢ Combustão Espontânea: Processo em que um material combustível, armazenado em


condições favoráveis (locais com umidade, mal ventilado, com presença de
catalisadores), reage com o oxigênio do ar ou de um outro portador, gerando calor e
iniciando o seu aquecimento. Caso esse calor não se dissipe, o material combustível

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 32

continuará se aquecendo até pegar fogo sozinho (sem o concurso de uma fonte de
ignição).
O processo da combustão espontânea geralmente é lento (através da combustão lenta), e o
fogo pode ocorrer após dias, semanas ou mesmo meses, durante os quais a temperatura se elevou
lentamente. É o que ocorre, por exemplo, quando do armazenamento de certos cereais que, pela
ação de bactérias, fermentam. A fermentação concorre para a aceleração da oxidação e
consequente produção de calor e liberação de gases que podem se incendiar. (Fig. 36).

Figura 36

Entre as substâncias mais suscetíveis de combustão espontânea, destacam-se: alfafa,


carvão, óleos (de linhaça, de milho, de semente de algodão, de pinho, de mostarda) tecidos
impregnados com óleo, o amendoim, os vernizes, certos fertilizantes orgânicos e inorgânicos, as
misturas contendo nitratos e material orgânico, estrume, os pós metálicos, o feno, terebentina,
juta, sisal, cânhamo, serragem e outros.
Para evitar a combustão espontânea, as substâncias a ela sujeitas devem ser arrumadas em
estrados, em locais secos e ventilados.
Alguns combustíveis entram em combustão sem a ação de uma fonte de calor (materiais
com baixo ponto de ignição), como o fósforo branco (Fig. 37) que entra em combustão à
temperatura ambiente (20 °C).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 33

Figura 37

Ocorre também na mistura de determinadas substâncias químicas, quando a combinação


gera calor e libera gases em quantidade suficiente para iniciar a combustão. Por exemplo, água +
sódio metálico (Fig. 38).

Figura 38

3.2 Intensidade da combustão

É o volume de chamas desprendido do material que está sendo consumido pelo incêndio.
A intensidade da combustão varia em função dos seguintes fatores:

➢ Da Superfície de Contato com o Ar - Quanto maior for a superfície do combustível


em contato com o ar, maior será o volume de chamas (Fig. 39).

Figura 39

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 34

➢ Do Volume do Combustível em Chamas - Quanto maior o volume ou a quantidade


do combustível envolvido no incêndio, maior será o volume de chamas (Fig 40).

Figura 40

➢ Do Tipo de Combustível - Alguns tipos de combustíveis possuem a característica de


não produzir muitas chamas quando em combustão (Fig. 41).

Figura 41

➢ Da Quantidade de Oxigênio Existente na Atmosfera - A quantidade de oxigênio na


atmosfera é diretamente proporcional ao volume de chamas desprendido de um
incêndio, ou seja, quanto maior é a quantidade de oxigênio no ambiente, maior será o
volume das chamas (Fig. 42).

Figura 42

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 35

3.3 Produtos perigosos oriundos da combustão

A fumaça emanada de um incêndio é formada por uma mistura de gases, vapores,


substâncias e partículas de carbono finamente divididas, tudo liberado pelos materiais em
combustão.
O Bombeiro deve se lembrar de que um incêndio produz substâncias tóxicas e irritantes.
No entanto, não podemos prever, antecipadamente, quais serão essas substâncias. A inalação de
uma mistura de substâncias, sejam tóxicas ou irritantes, pode ter efeitos mais graves do que
quando inaladas separadamente.
A inalação de substâncias tóxicas pode determinar vários efeitos no corpo humano.
Algumas delas causam danos diretamente aos tecidos dos pulmões e perda de suas funções.
Outras não produzem efeito direto nos pulmões, mas quando entram na corrente sanguínea,
inibem a capacidade dos glóbulos vermelhos transportarem o oxigênio.
Algumas substâncias tóxicas que podem estar presentes na fumaça, não são produtos da
combustão, mas são liberadas de equipamentos ou materiais armazenados quando expostos ao
calor excessivo de um incêndio.
Se a substância não for gás em condições normais, o calor excessivo do fogo pode
convertê-la para o estado gasoso.
Algumas substâncias produtos da combustão, quando inaladas, reagem com a umidade
das vias aéreas e dos pulmões produzindo ácidos e álcalis fortes (cloro, forgênio, bióxido de
enxofre e a amônia) (Fig. 43).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 36

Figura 43

Dentre os vários gases oriundos de uma combustão destacamos:

➢ Gás Carbônico (Anidrido Carbônico, Bióxido de Carbono) ou CO2 - Gás

asfixiante, incolor e inodoro, produzido em praticamente todas as combustões.


Concentrações de 3 a 4 % provocam o aumento do ritmo da respiração e dores de
cabeça, concentrações de 9 % provocam desorientação, distúrbios visuais, zumbido
nos ouvidos, tremores e perda da consciência, e concentrações de 20 % ou mais pode
matar por asfixia em 20 a 30 minutos de exposição.

➢ Monóxido de carbono ou CO - Em uma combustão completa, com suficiência de


oxigênio, a combinação entre o carbono e o oxigênio, formará um composto estável, o

gás carbônico (CO2); mas, em ambientes fechados ou mal ventilados, quando houver

carência de oxigênio, ocorrerá a combustão incompleta com formação de um


composto instável, o monóxido de carbono (CO), além de outros compostos.

O monóxido de carbono (CO), também chamado de óxido de carbono, óxido


carbônico e protóxido de carbono; é um gás incolor, inodoro e insípido. Ele é tóxico e
explosivo.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 37

Na proporção de 12,5 a 74% na atmosfera ambiente, torna-se altamente perigoso,


formando uma atmosfera explosiva.

É tóxico. Quando absorvido pelo sangue, forma um composto estável denominado


carboxihemoglobina, que impede a chegada do oxigênio nas células do corpo, e

impede a que elas eliminem o CO2. Normalmente a fumaça contém menos de 0,5%

deste gás, entretanto 0,1% é suficiente para privar o homem de suas faculdades
locomotoras, 0,5% produz a inconsciência, 2% matam em uma hora e 10%
imediatamente. Duas respirações profundas, em concentrações de 2% de CO, podem
matar uma pessoa em três minutos. Por este motivo quando o operador sentir a mais
leve dor de cabeça em um ambiente enfumaçado, deve abandoná-lo imediatamente
procurando respirar ar fresco, antes que o monóxido de carbono o impeça. Daí a
importância de usar equipamentos autônomos de respiração.

A combustão incompleta provoca a formação de fumaça tão densa que impossibilita a


visão, mesmo com a luz do dia. Por isso, quando o bombeiro tiver que penetrar em
locais enfumaçados, além de um equipamento autônomo de respiração, deverá
também usar de uma corda espia amarrada à cintura, a qual lhe servirá como cabo
guia. Quando possível, executa-se um trabalho de ventilação do ambiente, facilitando
a atuação do bombeiro.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 39

4 FASES DO INCÊNDIO

Se o fogo ocorrer em área ocupada por pessoas, há grandes chances de que o fogo seja
descoberto no início e apagado com rapidez; mas se ocorrer quando a edificação estiver deserta e
fechada, o fogo continuará crescendo até ganhar grandes proporções.
Podemos entender melhor os incêndios se compreendermos suas fases de
desenvolvimento (fase inicial, fase da queima livre e fase da queima lenta).

4.1 Fase inicial (ou estágio de crescimento)

Nesta primeira fase, o oxigênio contido no ar não está significativamente reduzido e o

fogo está produzindo vapor d’água (H2O), dióxido de carbono (CO2) e outros gases. Grande parte

do calor está sendo consumido no aquecimento dos combustíveis, e a temperatura do ambiente,


neste estágio, está ainda pouco acima do normal. O calor está sendo gerado e evoluirá com o
aumento do fogo (Fig. 44).

Figura 44

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 40

4.2 Fase da queima livre (ou estágio de pleno desenvolvimento)

Durante esta fase, o ar, rico em oxigênio, é arrastado para dentro do ambiente pelo efeito
da convecção, isto é, o ar quente “sobe” e sai do ambiente, forçando a entrada de ar fresco pelas
aberturas nos pontos mais baixos do ambiente (Fig. 45).

Figura 45

Na fase da queima livre, o fogo aquece gradualmente todos os combustíveis do ambiente


fazendo-os liberar gases e vapores inflamáveis, formando uma massa gasosa que ocupa os níveis
mais altos do ambiente. Num determinado momento, quando a temperatura dessa massa estiver
no ponto de fulgor, começam a surgir algumas chamas distantes do ponto de origem da
combustão. Este fenômeno é denominado “Lean Flashover” ou “Roll Over” (Fig. 46). É o
fenômeno que antecede o “flashover”.

Figura 46

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 41

Os gases aquecidos espalham-se preenchendo o ambiente e, de cima para baixo, forçam o


ar menos aquecido a permanecer junto ao solo. Estes gases aquecidos é uma das razões pelas
quais os bombeiros devem se manter abaixados e usar equipamentos de proteção respiratória,
evitando queimar as vias aéreas. Neste momento a temperatura nas regiões superiores do
ambiente pode exceder 700º C (Fig. 47).

Figura 47

Caso não seja iniciado o combate ao incêndio essa massa gasosa irá atingir seu ponto de
ignição e haverá uma queima imediata e concomitante, o que provocará uma ignição
generalizada de todo ambiente, ficando todo local envolvido pelas chamas. Este fenômeno é
conhecido como “Flashover” (Fig. 48).

Figura 48

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 42

4.3 Fase da queima lenta (ou estágio de declínio)

Caso o incêndio esteja se desenvolvendo num ambiente confinado, ocorrerá a redução da


quantidade de oxigênio e o monóxido de carbono (CO) começa a ser produzido. Nesta fase, as
chamas podem deixar de existir se não houver ar suficiente para mantê-las (Fig. 49).

Figura 49

O fogo é normalmente reduzido a brasas, o ambiente torna-se completamente ocupado


por fumaça densa e os gases se expandem. Devido à pressão interna ser maior que a externa, os
gases saem por todas as fendas em forma de golfadas, fato que pode ser observado em todos os
pontos do ambiente.
Na fase da queima lenta, a combustão é incompleta porque não há oxigênio suficiente
para sustentar o fogo. Contudo, o calor da queima livre permanece, e o combustível (partículas
de carbono não queimadas bem como outros gases inflamáveis, produtos da combustão) estão
prontas para incendiar-se rapidamente, assim que o oxigênio for suficiente. Na presença de
oxigênio, esse ambiente explodirá. A essa explosão chamamos “backdraft” (Fig. 50).

Figura 50

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 43

Uma ventilação adequada (ventilação pelo ponto mais alto do ambiente) permite que os
gases combustíveis superaquecidos sejam retirados do ambiente.
O uso de técnicas de ventilação adequada e de maneira correta permite eliminar o risco da
ocorrência do bacdraft. De uma maneira geral, primeiramente efetua-se uma abertura (mínimo de

1 m2) no ponto mais alto do ambiente. Em seguida, no lado oposto à primeira abertura, efetua-se
uma abertura na parte inferior do ambiente. Isto permite que os gases combustíveis
superaquecidos sejam retirados do ambiente de maneira segura. Toda a operação deve ser
efetuada com a proteção de linhas de mangueiras (Fig. 51).
São condições que podem indicar que um “backdraft” está prestes a acontecer (Fig. 51):

Figura 51

➢ Fumaça sob pressão, num ambiente fechado;


➢ Fumaça escura, tornando-se densa, mudando de cor (cinza e amarelada) e saindo do
ambiente em formas de golfadas;
➢ Calor excessivo (nota-se pela temperatura da porta);
➢ Pequenas chamas ou inexistência destas;
➢ Resíduos da fumaça impregnando o vidro das janelas de um ambiente fechado;
➢ Pouco ruído; e
➢ Movimento de ar para o interior do ambiente quando alguma abertura é feita (em
alguns casos ouve-se o ar assobiando ao passar pelas frestas).

O “backdraft” pode ocorrer em incêndio em ambientes onde ventilação não é suficiente


para suprir as necessidades de oxigênio da combustão.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 45

5 MÉTODOS DE EXTINÇÃO DO FOGO

Os métodos de extinção do fogo baseiam-se na eliminação de um ou mais dos elementos


essenciais que provocam o fogo.

5.1 Retirada do combustível

A retirada de material ou controle do combustível ou isolamento do combustível. É o


método de extinção mais simples, porém trabalhoso na sua realização, pois é executado com a
força física, não exige aparelhos especializados; consiste na retirada ou interrupção do campo de
propagação do fogo, no material ainda não atingido pelo incêndio.
Como exemplo do emprego deste tipo de extinção, citamos o aceiro praticado nos casos
de incêndios em matas, florestas e campos, que interrompem a continuidade do fogo, facultando
o seu domínio. O fechamento da válvula ou interrupção de vazamento de combustível líquido ou
gasoso é outro exemplo do método de extinção através da retirada de combustível (Fig. 52). Este
método é também denominado como corte ou remoção do suprimento do combustível.

Figura 52

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 46

5.2 Resfriamento

O resfriamento ou controle do calor é o método de extinção mais usado. Consiste em


abaixar a temperatura do material incendiado até o ponto que ele não libere mais gases e vapores
inflamáveis.
A água é o agente extintor mais usado, devido ao fato de possuir grande capacidade de
absorver calor e ser facilmente encontrada na natureza. Por causa das suas características e
propriedades torna-se fácil a sua utilização pelos bombeiros (Fig. 53).

Figura 53

A redução da temperatura está ligada à quantidade e à forma de aplicação da água num


incêndio. O objetivo é que a água absorva mais calor que o incêndio é capaz de produzir. Jatos d
´água em forma de chuveiro e neblina possuem grande capacidade de absorção de calor e
consequente poder de redução de temperatura.

5.3 Abafamento

O abafamento ou controle do comburente é o método de extinção mais difícil, pois a não


ser em pequenos incêndios que podem ser abafados com tampas de vasilhas, panos, cobertores
etc., necessita-se de aparelhamento e produtos específicos para sua obtenção.
Consiste em diminuir ou impedir o contato do comburente com o material combustível.
Não havendo comburente para reagir com o combustível, não haverá fogo. Como exceção,
citamos os materiais que possuem o oxigênio em sua composição química, ou geram oxigênio, e
queimam sem a necessidade do oxigênio do ar, como os peróxidos orgânicos, os conhecidos
palitos de fósforo, etc.
DIVISÃO DE ENSINO SSDMD
EEAR 47

Conforme já vimos anteriormente, a diminuição do oxigênio em contato com o


combustível vai diminuindo a intensidade das chamas, até a concentração de oxigênio chegar
abaixo de 8%, onde não haverá mais combustão.
As espumas, pós químicos e os agentes extintores gasosos são os agentes extintores mais
indicados. Pode-se, também, abafar o fogo com uso de materiais diversos, como areia, terra,
cobertores, vapor d’água, etc. (Fig. 54).

Figura 54

Colocar uma tampa sobre um recipiente contendo álcool em chamas, ou colocar um copo
voltado de boca para baixo sobre uma vela acesa, são duas experiências práticas que mostram
que o fogo se apagará tão logo se esgote o oxigênio em contato com o combustível.

Determinados agentes extintores, como os Pós Químicos e os Gases Halogenados, ao


entrarem na área de combustão, interagem quimicamente com alguns radicais livres oriundos da
própria combustão e formam Gás Carbônico (agente extintor), vapor d’água e diferentes gases
inertes que potencializam o efeito do abafamento (Fig. 55).

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 48

Figura 55

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 49

6 CLASSIFICAÇÃO DOS INCÊNDIOS

A classificação adotada pelo Comando da Aeronáutica é a classificação elaborada pela


NFPA “National Fire Protection Association/EUA”, adotada pela IFSTA “International Fire
Service Training Association/EUA” e adotada, também, pelos Corpos de Bombeiros Brasileiros.

Os incêndios são classificados de acordo com os materiais neles envolvidos, bem como
pelos riscos que eles oferecem. A classificação foi feita de modo que seja possível determinar o
agente extintor adequado para o tipo de incêndio específico. As classes de incêndio são em
numero de quatro: A, B, C e D (Fig. 56).

Figura 56

6.1 Incêndio classe A

São incêndios envolvendo combustíveis sólidos comuns (Fig. 57) como papel, madeira,
tecido, borracha, etc. É caracterizado pelas cinzas e brasas que deixam como resíduos e por
queimar em razão do seu volume, isto é, a queima se dá na superfície e em profundidade.

Figura 57

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 50

Necessita de resfriamento para sua extinção (Fig. 58), isto é, do uso de água ou soluções
que a contenha em grande porcentagem, a fim de reduzir a temperatura do material em
combustão até o ponto em que não libere mais vapores ou produza gases inflamáveis.

Figura 58

6.2 Incêndio classe B

São os incêndios em combustíveis líquidos (Fig. 59), graxas e gases combustíveis.

Exemplo: gasolina, óleo, tintas, gases inflamáveis, álcool, graxas.

Figura 59

Esta classe de incêndio é caracterizada pelo fato do fogo queimar unicamente à razão da
superfície e não deixar resíduos.

Os líquidos inflamáveis pegam fogo com grande facilidade, pois em temperatura


ambiente já estão produzindo vapores capazes de sustentar as chamas (ponto de combustão).
DIVISÃO DE ENSINO SSDMD
EEAR 51

Esta classe de incêndio necessita para sua extinção o método do abafamento (Fig. 60). No
caso de líquidos muito aquecidos, que já atingiram o ponto de ignição, é necessário também o
resfriamento.

Figura 60

6.3 Incêndio classe C

Incêndios envolvendo equipamentos energizados (Fig. 61), tais como condutores e


motores elétricos, transformadores de voltagem, disjuntores e outros aparelhos elétricos
energizados. Caracteriza-se pelo risco das pessoas receberem descargas elétricas durante o
combate ao fogo.

Figura 61

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 52

Para sua extinção necessita de agente extintor que não conduza a corrente elétrica e

utilize o princípio de abafamento (Ex. Agentes estintores gasosos como o CO2 e outros) (Fig.

62).

Figura 62

Algumas pessoas dizem que esta classe de incêndio pode ser mudada para “Classe A”, se
for interrompido o fluxo elétrico. Porém, deve-se ter cuidado, pois alguns equipamentos
(televisores, por exemplo) acumulam eletricidade e, mesmo após a interrupção da energia
elétrica, continuam energizados por vários dias.

6.4 Incêndio da classe D

Correspondem aos incêndios em metais combustíveis, denominados metais pirofóricos.


Eles possuem alto poder de oxidação (Fig. 63). Quando puros, reagem violentamente com a
água, liberando gás hidrogênio e grande quantidade de calor. E é esse calor gerado que faz com
que o gás hidrogênio queime em forma de explosão. Os metais alcalinos lítio (Li), sódio (Na),
potássio (K) , rubídio (Rb), césio (Cs) e frâncio (Fr), os alcalinos terrosos berílio ( Be ),
magnésio (Mg), cálcio (Ca), estrôncio (Sr), bário (Ba) e radio (Ra), bem como o selênio,
antimônio, alumínio ou chumbo pulverizado, zinco, titânio, urânio e zircônio, são metais
pirofóricos.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 53

Figura 63

Felizmente, os metais pirofóricos não são utilizados na forma pura, e sim em ligas
compostas com outros metais, o que lhes confere uma maior estabilidade, tornando a sua queima
mais difícil. Porém, caso uma liga de magnésio, por exemplo, entre em combustão, nenhum
extintor que provoque o resfriamento deve ser utilizado, pois ocorrerá a liberação de hidrogênio
e posterior explosão.

Para sua extinção, necessitam de agentes extintores especiais que reagem


endotermicamente com o fogo abaixando a temperatura. Aliado a isso, em contato com o metal
combustível superaquecido, eles se fundem, formando uma espécie de capa que isola o metal do
ar atmosférico, agindo por abafamento (Fig. 64).

Atualmente, os pós químicos a base de cloreto de sódio, cloreto de bário, monofosfato de


amônia ou grafite seco são os agentes extintores mais utilizados. Estes produtos deverão cumprir
as especificações da norma 7202 da ISO - “International Organization for Standardization”

(Organização Internacional de Normatização), chamada de ISO 7202.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 54

Figura 64

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 55

8 LEITURA COMPLEMENTAR

Apesar de ainda não estarem definidas nas literaturas das corporações de bombeiros
brasileiras, encontraremos divulgações referentes a duas classes de incêndio: as classes E e K.

8.1 Classe E

Conforme pesquisa em literaturas não oficiais, considera-se incêndio de classe “E”


aqueles que envolvem substâncias que emitem radiação ionizante (césio, cobalto, urânio
enriquecido, etc.). Estas substâncias (chamadas de fontes radioativas) podem ser encontradas em
indústrias, hospitais, centros radiológicos, etc. Elas são mantidas dentro de blindagens, que são
dispositivos que reduzem a radiação à níveis aceitáveis ou impedem a sua emanação. As
embalagens dos materiais radioativos devem ser identificadas sobre o risco de radiação (fig. 65).

Figura 65

Os materiais radioativos oferecem 2 (dois) grandes riscos: a irradiação e a


contaminação.
A irradiação ocorre quando uma pessoa é atingida pelas ondas de radiação emanadas de
um material radioativo. Dependendo da intensidade da fonte, do tempo de exposição, da
distância em que nos mantemos dela e da sensibilidade da parte do organismo atingida, podemos
nada sofrer, ou apresentarmos alterações que podem comprometer o funcionamento do
organismo a médio e longo prazo.
A contaminação ocorre quando uma pessoa tem contato com uma fonte radioativa que
está fora da blindagem e incorpora ao seu corpo (externamente ou internamente) fragmentos
dela. Com isso, além dela se tornar uma fonte radioativa, emanando radiação por onde se

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 56

deslocar, ela espalha também os fragmentos da fonte, difundindo a contaminação, ampliando a


área de risco (fato ocorrido na cidade de Goiânia, no ano de 1987, envolvendo o Césio 137).
O acidente radiológico de Goiânia, amplamente conhecido como acidente com o
Césio-137, foi um grave episódio de contaminação por radioatividade ocorrido no Brasil. A
contaminação teve início em 13 de setembro de 1987, quando um aparelho utilizado em
radioterapias das instalações de um hospital abandonado foi encontrado, na zona central de
Goiânia, no estado de Goiás. Foi classificado como nível 5 na Escala Internacional de Acidentes
Nucleares.
O instrumento, irresponsavelmente deixado no hospital, foi encontrado por catadores de
um ferro velho do local, que entenderam tratar-se de sucata. Foi desmontado e repassado para
terceiros, gerando um rastro de contaminação, o qual afetou seriamente a saúde de centenas de
pessoas. O acidente com Césio-137 foi o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo
ocorrido fora das usinas nucleares.
Para qualquer situação de emergência envolvendo materiais radioativos, uma equipe
especializada (CNEN - Comissão Nacional de Energia Nuclear), provida de equipamentos de
proteção e monitoração adequados, deve ser acionada.
Os locais onde existe incêndio envolvendo materiais radioativos devem isolados
(distância inicial de 100 m) e toda a área para onde a massa de gases se desloca, deve ser
evacuada (distância inicial de 300 m). O fogo deve ser combatido à distância e a favor do vento.
Os resíduos do incêndio, bem como agentes extintores aplicados devem ser considerados
contaminados, devendo ser contidos no local para serem monitorados pela equipe radiológica
para descarte adequado. Todos os bombeiros que trabalharam na emergência, bem como todas as
vítimas, devem ficar isolados nas proximidades do local da emergência, aguardando o
monitoramento da equipe de emergência radiológica.
Vítimas que necessitam de transporte imediato, podem ser transportadas, porém deve-se
alertar a equipe do hospital que ela é vítima de emergência radioativa.

8.2 Classe K

Conforme pesquisa em literaturas não oficiais, a NFPA 10 (desde 1998) reconhece que os
incêndios ocorridos em óleos para fritura, gorduras e banhas de cozinhar, em função de conterem
gorduras saturadas, são diferentes dos incêndios da classe B, em virtude dessas substâncias

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 57

sofrerem redução do seu ponto de ignição (cerca de 10º) após se incendiarem pela primeira vez.
Desta forma, os incêndios em tais combustíveis passaram a ser classificados como classe K (Fig.
66).

Figura 66

Quando um agente extintor de base alcalina, como os pós químicos BC a base de


Bicarbonato de Sódio e de Bicarbonato de Potássio, são aplicados em gorduras saturadas em
chamas (à altas temperaturas), ocorre uma reação de saponificação, que forma uma espumação
na superfície das gorduras abafando o fogo.
Mas, segundo as literaturas não oficiais, a aplicação de um agente extintor específico para
a classe K, como a solução de Acetato de Potássio diluída em água, é mais eficiente, pois além
de provocar a extinção conforme descrito no parágrafo anterior, ele, ao ser aplicado com uma
névoa fina, tem a vantagem de provocar o resfriamento das gorduras saturadas.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 58

GLOSSÁRIO

➢ Acroleína (Aldeído Acrílico) – CH2=CH-CHO - É um gás (ou líquido muito volátil)


irritante incolor ou ligeiramente amarelado, com cheiro característico, muito irritante,
tóxico e congestionante das mucosas. A acroleína é resultante da combustão de
derivados de petróleo, graxas, óleos, etc. (carpetes de acrílico, paredes revestidas de
papel e laqueadas, luminárias acrílicas). Na concentração de 0,0001 % a acroleína já se
torna incômoda ao ser humano e, nas concentrações superiores a 0,001 % se torna
mortal em breve espaço de tempo.

➢ Agente Oxidante - É o reagente de uma reação química que sofre redução (ganha
elétrons). Ao ganhar elétrons, este reagente promove a perda de elétrons (oxidação) de
um outro reagente, agindo assim, como um agente oxidante.

➢ Agente Redutor - É no reagente de uma reação química que sofre oxidação (perde
elétrons). Ao perder elétrons, este reagente promove o ganho de elétrons (redução) de
um outro reagente, agindo assim, como um agente redutor.

➢ Álcalis Forte - Também chamado de base. É qualquer substância que libera única e

exclusivamente o ânion OH- (ions hidroxila ou oxidrina) em soluções aquosas. Os


álcalis possuem baixas concentrações de ions H+, sendo considerados álcalis as
soluções que possuem potencial de hidrogênio (pH) acima de 7. Os álcalis são
considerados fortes quando seu pH está próximo a 14. Os álcalis fortes possuem ação
cáustica ao reagirem com a umidade do organismo. Ex: hidróxido de sódio (NaOH) ou
soda cáustica, hidróxido ce cálcio, hidróxido de potássio ou potassa cáustica,
carboneto de cálcio, carbonato de potássio, óxido de cálcio, óxido de potássio, óxido
de sódio, etc.

➢ Anidrido sulfuroso (Dióxido ou Bióxido de Enxofre, Gás Sulfuroso) – SO2 - Gás

tóxico e incolor com cheiro irritante e desagradável, resultante da combustão de


madeiras, lãs, substâncias orgânicas que contenham enxofre. É altamente irritante aos
olhos e às vias respiratórias, constituindo perigosa a inalação durante poucos minutos,
em concentrações de 0,05 %.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 59

➢ Amoníaco – NH3 - Gás irritante, incolor, de odor irritante, produzido na combustão


de materiais plásticos acrílicos, plásticos fenólicos, seda, resinas, lãs, carpetes de nylon
etc. É muito utilizado nos sistemas de refrigeração e tinturaria. O amoníaco é
extremamente irritante à pele, às mucosas e, particularmente, aos pulmões, olhos e
garganta. A concentração de 0,25 a 0,65 % de amoníaco no ar é o bastante para causar
lesões graves ou mesmo a morte à pessoa exposta durante 20 a 30 minutos.

➢ Carboemoglobina - Denominação dada ao composto instável formado pela


combinação da hemoglobina com o dióxido de carbono produzido pelo metabolismo
celular.

➢ Carboxihemoglobina - Denominação dada ao composto estável formado pela


combinação da hemoglobina com o monóxido de carbono inspirado.

➢ Catalizador - Substâncias que interferem aumentando a velocidade da reação sem,


contudo, tomar parte na reação. Como exemplo podemos citar a interferência de certas
substâncias que provocam fermentação de combustíveis, acelerando uma combustão
lenta.

➢ Cianeto de Hidrogênio (Cianureto de Hidrogênio, Ácido Cianídrico, Ácido


Prússico, Ácido hidrociânico) – HCN - Gás altamente tóxico, de odor característico
(amêndoas amargas); forma-se com a combustão incompleta de certas substâncias que
contém nitrogênio (acrílico, lãs, seda, couro, uretana, etc.) – (carpete de nylon e
acrílico, revestimentos de poliuretano); a exposição a uma concentração de 0,3 % é
suficiente para causar a morte. É muito usado na composição de inseticidas.

➢ Cloreto de Hidrogênio (Gás Clorídrico) – Hcl - Gás irritante, incolor, corrosivo e


altamente tóxico que possui um odor forte, liberado da combustão de materiais
plásticos que possuem cloro em sua composição, empregado comumente nos isolantes
de condutores elétricos, pisos emborrachados e revestimentos de vinil. Corrói metais
quando em combustão. A inalação na concentração de 0,15 % no ar, durante alguns
minutos é fatal.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 60

➢ Combustíveis Líquidos - Os combustíveis líquidos são classificados pela Norma


Regulamentadora 20 (NR 20) da seguinte forma:

Combustível Líquido Ponto de Fulgor


Classe 1 Líquido Inflamável Até 37,7º C
Classe 2 Líquido Inflamável De 37,7º C a 70º C
Classe 3 Líquido Combustível De 70º C a 93,3º C
Tabela 04

➢ Dióxido de Nitrogênio (Bióxido de Nitrogênio ou Azoto, Peróxido de Nitrogênio


ou Azoto) – NO2 - Gás marrom altamente tóxico, inodoro, anestésico e hilariante

(produz risos), produzido nas combustões onde está presente o nitrato de amônia,
nitratos inorgânicos, nitrato de celulose e quando há contato de materiais combustíveis
(inclusive metais) com ácido nítrico. Pode ser absorvido por via cutânea e, portanto,
seu limite de tolerância não deve ser ultrapassado. A concentração de 0,0025 %, após
alguns minutos, já pode oferecer risco. A pessoa não sente, de início, a intoxicação,
pois seus efeitos aparecem posteriormente, o que dificulta a recuperação do
intoxicado. A exposição rápida em concentrações de 0,002 a 0,007% pode ser mortal.

➢ Fósforo Branco - É uma forma alotrópica do fósforo, muito venenosa, que deve ser
mantida sob a água devido à sua propriedade de inflamar-se espontaneamente em
contato com o ar. É usado regularmente para a fabricação de fogos de artifício e
bombas de fumaça para camuflar movimentos de tropas, em operações militares.

➢ Fosgênio (Cloreto de Carbonila) – COCl2 - Gás altamente tóxico formado a partir da

aplicação de compostos clorados (gás halogenado tetracloreto de carbono) em


combustões ou superfícies quentes. Origina-se também da decomposição de pisos
emborrachados, revestimentos de vinil, cabos elétricos pelo fogo.

➢ Gás - Substância que nas condições normais de temperatura e pressão está no estado
gasoso. Líquido Combustível.

➢ Kevlar - É uma marca registada de uma fibra sintética de aramida desenvolvida pela
empresa DuPont, resitente a chamas.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 61

➢ Nomex - É uma marca registrada de uma fibra sintética de meta-aramida desenvolvida


pela empresa DuPont, resistente a chamas que não perde a eficiência com o uso
contínuo ou lavagens.

➢ Palito de Fósforo - A cabeça do palito de fósforo é formada por clorato de potássio


(parte vermelha), revestida por parafina. A parte abrasiva da caixinha, destinada a
produzir calor por atrito, é composta por areia, pó de vidro e fósforo (o fósforo fica na
caixa e não no palito).Quando o palito é riscado na caixinha, ocorre a produção de
uma pequena faísca que provoca o início da combustão do clorato de potássio, que
libera uma grande quantidade de oxigênio para alimentar a queima inicial, e da
parafina. Em seguida a chama irá se propagar pelo palito de madeira ou papelão, sendo
alimentada pelo oxigênio contido no ar ambiente.

➢ Radiação Ionizante - É a radiação que possui energia suficiente para ionizar átomos e
moléculas. Pode danificar as células do corpo humano e afetar o material genético
(DNA), causando doenças graves (por exemplo: câncer), levando até a morte.

➢ Sódio Metálico (Na) - É um elemento bastante reativo, nunca encontrado livre na


natureza. É um metal macio, brilhante que, em contato com a água, a decompõe com a
formação de hidróxido e liberação de hidrogênio em uma violenta reação. Deve ser
conservado em atmosfera inerte ou imerso em um líquido protetor como querosene. É
considerado venenoso e reage violentamente com a água conforme já comentado. Se
pulverizado, inflama-se espontaneamente em contato com o oxigênio do ar. É usado
na manufatura de ésteres e no preparo de compostos orgânicos. Também é usado em
certas ligas, para decapar metais e para purificar metais fundidos.

➢ Sulfeto de Hidrogênio (Gás Sulfídrico, Sulfidreto, Ácido Sulfídrico) – H2S - Gás

irritante, incolor, inflamável que possui um odor idêntico ao de ovos podres. É


resultante da combustão incompleta de substâncias orgânicas (lãs, couro, cabelos,
pêlos, etc.). É irritante aos olhos e ao aparelho respiratório. Em concentrações de 0,04
a 0,07 % durante mais de 30 minutos é perigoso e pode produzir sintomas como
vômito, desarranjos intestinais, assim como seqüelas e moléstia no sistema
respiratório. Em concentrações superiores a 0,07 %, o gás sulfídrico afeta o sistema

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 62

nervoso, causando uma respiração acelerada, seguida de parada respiratória.

➢ Vapor - Substância que, nas condições normais de temperatura e pressão, se encontra


no estado sólido ou líquido e, quando alteradas as condições normais, passa para o
estado gasoso, se transformando em vapor.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 63

CONCLUSÃO

Este assunto é o ponto de partida para a jornada que se inicia, o alicerce de todos os
demais conhecimentos que serão adquiridos ao longo da carreira que escolheste, e que servirão
de referência para o desenvolvimento de novas técnicas e procedimentos operacionais na área de
contraincêndio.
Ao concluirmos este tema, tenha a certeza que você logrou apenas uma pequena parte do
vasto conteúdo que ainda está por vir, fazendo de você um profissional diferenciado e admirado
por sua classe, por ser reconhecido como o paladino que se dirige rumo ao perigo e desafia as
chamas ameaçadoras, enquanto a maioria das pessoas se deixa abater e foge amedrontada.

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD


EEAR 64

REFERÊNCIAS

DIRETORIA DE ENGENHARIA DA AERONÁUTICA. Divisão Contraincêndio.


Apostila de Teorias Contraincêndio. Rio de Janeiro, [2012].

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO. Corpo de Bombeiros.


Manual de fundamentos de bombeiros. São Paulo, [2006].

POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Corpo de Bombeiros.


Manual de atividades de bombeiros. Minas Gerais, [19--].

CENTRO DE INSTRUÇÃO E ADESTRAMENTO AERONAVAL.


Combate a incêndio.
[s.l], [19--].

ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA.


Apostila Teoria contra incêndio
Módulo II. Guaratinguetá, 2000.

Revista BOMBEIROS EM EMERGÊNCIAS


Edições nº 5 e nº 8 – São Paulo.

BASE AÉREA DE SÃO PAULO – Companhia Contraincêndio


Manual de Fundamentos dos Bombeiros da BASP

DIVISÃO DE ENSINO SSDMD

Você também pode gostar