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Têm surgido não só em diversos órgãos de comuni- Apesar da existência de directivas europeias de
cação como em reuniões públicas várias críticas à natureza contabilística, a linguagem contabilística
versão portuguesa das Normas Internacionais de adoptada pelos vários Estados Membros enfermava
Relato Financeiro (IFRS), publicadas no Jornal de uma falta clara de regras comuns que tornassem
Oficial das Comunidades sob a forma de a informação compreensível por todos e compará-
Regulamentos Comunitários. vel. Alguns responsáveis chegaram a afirmar que
nesta área se estava perante uma autêntica Torre
O objectivo do presente artigo é o de dar a conhe- de Babel.
cer o processo que foi seguido na tradução dessas
normas de contabilidade, que, como é do conheci- A realidade é que as directivas se revelaram insufi-
mento da maioria dos técnicos, foram produzidas cientes e incapazes de responder às necessidades
pelo International Accounting Standards Board crescentes de informação financeira num mundo em
(IASB) originariamente em língua inglesa. rápida evolução. Isto porque, por um lado o seu
Pretende-se, de uma forma indirecta, dar resposta processo de actualização não acompanhou o cons-
a essas críticas. Nelas, é por vezes difícil distinguir tante desenvolvimento dos mercados financeiros e
o que são as discordâncias quanto à tradução para de capitais, e por outro lado, elas não constituíam
português da versão original em língua inglesa, do propriamente um conjunto de normas conducente
que são as discordâncias quanto à substância des- ao pretendido objectivo de comparabilidade, dado
sas normas contabilísticas. Muitas vezes critica-se a o elevado número de opções que deixava à discri-
tradução, quando o que se está criticar são os con- ção quer dos Estados-Membros quer das próprias
ceitos e as soluções constantes dessas normas inter- empresas.
nacionais.
A decisão política da UE de adoptar as normas
A União Europeia aprovou em Junho de 2000 um internacionais de contabilidade foi a resposta pos-
conjunto de medidas que tinham a finalidade de sível à alternativa que seria humilhante da adopção
tornar a Europa mais competitiva num mercado pura e simples das normas americanas.
global em pleno crescimento, a chamada Estratégia
de Lisboa. Um dos pontos era a adopção das nor- A adopção das normas internacionais teve como
mas internacionais de contabilidade. As grandes consequência imediata a aplicação de normas con-
empresas europeias que negociavam nos principais tabilísticas que estavam fora do contexto tradicio-
mercados financeiros e de capitais mundiais expe- nal e da linha de pensamento contabilístico que
rimentavam sérias dificuldades face às exigências durante muitos anos vigorou nos países mais
das entidades reguladoras das grandes bolsas mun- influentes da Europa.
diais, no que se refere à qualidade e normalização
da informação financeira disponível aos investido- Em termos gerais, as novas normas não apresentam
res. A principal bolsa do mundo, a de Nova Iorque, diferenças muito substanciais ao que se vinha pra-
é extraordinariamente exigente quanto à qualidade ticando. Contudo em termos conceptuais e termi-
da informação financeira das empresas que nela nológicos representam um corte com toda a tradi-
negoceiam, obrigando as empresas a apresentar as ção contabilística existente. Trazem com elas um
suas contas preparadas de acordo com as normas conjunto de conceitos, de terminologia, de proces-
vigentes nos Estados Unidos. Acrescenta-se que sos e de regras que diferem sensivelmente da cultu-
mesmo com tais requisitos não foram evitados os ra existente. Até a forma de elaboração, de prepa-
escândalos financeiros de todos conhecidos. ração e de apresentação dessas normas é diferente.
Mas o que é inegável é que dão uma melhor respos-
ta às necessidades de informação dos mercados.
Face a tal, e como se compreenderá, o processo de da Comissão que, como adiante se verá, foi compos-
tradução das normas internacionais foi algo com- ta por um número bastante alargado de elementos.
plexo, dada a nova realidade contabilística.
Todos estes elementos tiveram acesso ao processo guagem mais acessível, poderia aparentemente
por via internet e intervieram sempre que o enten- conduzir na língua nativa a uma frase mais clara
deram. Os conflitos que se levantavam eram resol- e correcta, com melhor redacção, mas corria-se o
vidos, em última análise, pelo coordenador. Muitas risco de alterar, mesmo que seja de forma apa-
das questões foram transmitidas ao departamento rentemente insignificante, o sentido da frase ori-
do IASB responsável por todas as traduções. ginal. Algumas experiências mal sucedidas de
“boa tradução no sentido literário” obrigaram a
voltar atrás. Teve que se optar por uma tradução
literal, o que veio ainda facilitar o trabalho do
LIMITAÇÕES E DIFICULDADES DA tradutor profissional, dada a utilização de avan-
TRADUÇÃO çados programas informáticos de tradução;
aspectos. Creio firmemente que tal dificuldade conceptual em tudo semelhante à internacional.
desaparecerá, ou será quase totalmente eliminada, Espera-se assim que, após a divulgação do novo
quando a Comissão de Normalização Contabilística Sistema nacional, que vem substituir o Plano
der a conhecer o futuro Sistema de Normalização Oficial de Contabilidade, acabará a maioria das crí-
Contabilística, onde de uma forma louvável se faz ticas à versão portuguesa das IFRS.
uma grande aproximação às normas internacionais.
Este Sistema incorporará também uma estrutura
1 - De acordo com a IAS 27, as demonstrações financeiras separadas são as que são apresentadas por uma entidade mãe, um investidor numa
associada ou um empreendedor numa entidade conjuntamente controlada, em que os investimentos são contabilizados na base do interesse
directo no capital próprio em vez de o ser na base dos resultados e activos líquidos relatados das investidas.
através de resultados e activos financeiros disponí- tico. Assim, se o valor contabilístico do investimen-
veis para venda. to numa filial for recuperado essencialmente atra-
vés da venda e não do seu uso continuado, o que se
Os investimentos em filiais classificados como acti- verifica quando o activo está disponível para venda
vos financeiros pelo justo valor através de resulta- imediata no seu estado actual, nos termos usuais
dos devem ser mensurados inicialmente pelo preço da venda daqueles activos e sendo esta altamente
de compra, excluindo-se os custos de transacção, e provável, o investimento em filiais deve ser classifi-
subsequente pelo justo valor, com as variações cado como um activo não corrente detido para
favoráveis e desfavoráveis do justo valor reconheci- venda.
das em resultados.
Os activos não correntes classificados como detidos
Os investimentos em filiais classificados como acti- para venda devem ser mensurados pelo menor
vos financeiros disponíveis para venda devem ser entre o valor contabilístico imediatamente antes da
mensurados inicialmente pelo custo de aquisição, o data da sua classificação como activo não corrente
qual deve incluir os custos de transacção, e subse- detido para venda e o justo valor na data do
quente pelo justo valor, com as variações favoráveis Balanço, deduzido das despesas que a entidade
e desfavoráveis do justo valor reconhecidas numa prevê suportar na data de venda. A eventual dife-
rubrica do capital próprio. rença apurada entre o valor contabilístico do inves-
timento e o justo valor deduzido das despesas com
a venda deve ser reconhecida como gasto.
C) CLASSIFICAÇÃO COMO ACTIVO NÃO COR-
RENTE DETIDO PARA VENDA
ciadas pelo método de equivalência patrimonial período. Este tratamento contabilístico é divergen-
(IAS 28), excepto quando os investimentos forem te do previsto no normativo nacional, que naquela
classificados como activos não correntes detidos situação não prevê qualquer movimento contabilís-
para venda (IFRS 5). Contudo, nas demonstrações tico.
financeiras separadas da entidade mãe, o investi-
mento em associadas deve ser valorizado pelo Após a data de aquisição, e durante o período em
método do custo ou pelo método do justo valor que a entidade detém o investimento na associada,
(IAS 27). o valor do investimento deve ser ajustado de modo
a incluir a parte que corresponde ao investidor nos
Se o investidor numa associada não for uma enti- resultados líquidos e nas outras alterações nos capi-
dade mãe, ele deverá evidenciar o investimento em tais próprios da associada reconhecidos nas suas
associadas pelo método de equivalência patrimo- demonstrações financeiras. Adicionalmente, o valor
nial (IAS 28) nas suas demonstrações financeiras, do investimento deve ser reduzido devido à distri-
excepto se os investimentos em associadas forem buição de dividendos.
classificados como activos não correntes detidos
para venda (IFRS 5). Nas demonstrações financei- Por último, a entidade deverá aferir da necessida-
ras separadas, caso sejam preparadas e apresenta- de de reconhecer uma perda de imparidade. A IAS
das, o investidor deverá adoptar para os investi- 39 exige que as entidades avaliem, em cada data do
mentos em associadas o método do custo ou o Balanço, se existe ou não evidência objectiva de
método do justo valor2 (IAS 27). que os activos estão em imparidade. Se tal evidên-
cia existir, a entidade deverá reconhecer uma perda
O método de equivalência patrimonial, entendido de imparidade quando o valor recuperável do inves-
como a regra geral de mensuração dos investimen- timento for inferior ao seu valor contabilístico.
tos em associadas nas demonstrações financeira de
uma entidade que não é entidade mãe, consiste em
mensurar inicialmente o investimento pelo custo de 5. TRATAMENTO CONTABILÍSTICO
aquisição. DOS OUTROS INVESTIMENTOS
Se, na sua data de aquisição, o custo do investi- A IAS 39 identifica quatro categorias de activos
mento for superior ao valor da participação do financeiros: activos financeiros pelo justo valor
investidor no justo valor dos activos, passivos e através de resultados, investimentos detidos até à
passivos contingentes identificáveis da associada, a maturidade, empréstimos concedidos e valores a
diferença deve ser reflectida no valor do investi- receber, e activos financeiros disponíveis para
mento. Contrariamente ao normativo nacional, venda.
essa diferença não é amortizada.
A classificação de um activo numa das quatro cate-
Se, pelo contrário, na data de aquisição, o custo do gorias de activos financeiros determina uma forma
investimento for inferior ao valor da participação de apresentação diferente, no Balanço, e afecta a
do investidor no justo valor dos activos, passivos e sua mensuração subsequente.
passivos contingentes identificáveis da associada, a
diferença deve ser excluída do valor do investimen- Atendendo à definição de cada uma das quatro
to e deve ser reconhecida como rendimento do categorias, podemos concluir que os outros investi-
2 - Contudo, se nas demonstrações financeiras consolidadas os investimentos em associadas estão mensurados de acordo com a IAS 39, a
entidade deverá adoptar o mesmo critério de mensuração nas demonstrações financeiras separadas.
mentos em acções, regra geral, apenas podem ser como activos correntes, de acordo com o estabele-
classificados como activos financeiros pelo justo cido na IAS 1.
valor através de resultados ou como activos finan-
ceiros disponíveis para venda.
Os activos financeiros pelo justo valor através de
A) CLASSIFICAÇÃO COMO ACTIVOS resultados são mensurados inicialmente pelo preço
FINANCEIROS PELO JUSTO VALOR ATRAVÉS de compra, não incluindo os custos de transacção,
DE RESULTADOS os quais devem ser reconhecidos de imediato como
gasto.
O reconhecimento de um investimento em acções
como activo financeiro pelo justo valor através de Durante o período em que a entidade detém o
resultados pressupõe que a entidade tem a intenção investimento, as acções devem ser mensuradas pelo
de o alienar num futuro próximo, entendido geral- justo valor com as variações favoráveis e desfavorá-
mente como três meses, e além disso procede a esse veis do justo valor reconhecidas em resultados.
reconhecimento no momento de aquisição das
acções. Os activos financeiros pelo justo valor atra- Como as acções classificadas como activos financei-
vés de resultados são apresentados no Balanço ros pelo justo valor através de resultados estão per-
manentemente mensuradas pelo justo valor e as Os activos financeiros disponíveis para venda são
variações do justo valor são reconhecidas em resul- inicialmente mensurados pelo custo de aquisição, o
tados, não é necessário proceder a qualquer teste qual inclui o preço de compra e as despesas adicio-
de imparidade. nais com a compra das acções.
BIBLIOGRAFIA
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INTERNATIONAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD, 2003, IAS 39: Instrumentos financeiros: reconhecimento e mensuração.
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MORAIS, A. e I. LOURENÇO, 2005, APLICAÇÃO DAS NORMAS DO IASB EM PORTUGAL, Publisher Team.