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Resistências afro-indígenas na América Portuguesa

Os índios e os negros realizaram vários movimentos de contestação à violência colonial,


especialmente contra o trabalho forçado (escravidão) imposto a eles. A sua transformação em
escravizados ocorria de modo diferenciado e possuía bases de justificativa diferentes. Enquanto
os cativos indígenas eram produzidos através de uma série de protocolos que permitiam a guerra
justa (luta contra o paganismo), os cativos africanos eram feitos em guerras patrocinadas pelos
europeus que desejavam mão-de-obra para a colonização da América Portuguesa.
As guerras justas eram realizadas, geralmente, através de expedições de bandeirantes
que adentravam os sertões da América Portuguesa em busca de negros da terra para explorá-los
em atividades que não estavam envolvidas nas dinâmicas e riquezas da economia-mundo.
Diferentemente, o comércio Atlântico de escravos africanos estava intimamente ligado à
economia-mundo e gerava grandes lucros para as coroas européias, já que era taxado. Porém,
para manter essas estruturas, a coroa portuguesa, em especialm, precisou enfrentar diferentes
movimentos rebeldes. Para termos uma ideia, veremos a Santidade Indígena e o Quilombo de
Palmares, as maiores rebeliões indígena e negra do período colonial respectivamente.

Santidade Indígena
Santidade foi o nome pelo qual ficou conhecida a maior rebelião indígena no Brasil
durante o século XVI. O nome é devido ao forte caráter religioso do movimento, liderado por
um pajé chamado António, que tinha fugido de um aldeamento jesuítico da capitania de Ilhéus.
Esse indígena dizia que era a encarnação viva do ancestral dos tupinambás, chamado
Tamandaré, e tinha o poder de falar com os ancestrais. Pregava que os portugueses seriam todos
mortos e os poucos que restassem se tornariam escravos dos tupinambás.
Reuniu centenas de seguidores, que puseram fogo em igrejas e engenhos e desafiaram
os colonizadores portugueses. No entanto, esse mesmo líder dizia ser o “verdadeiro papa”, seus
principais seguidores tinham nomes de santos como São Luiz e São Paulo e sua mulher era
conhecida como “Santa Maria Mãe de Deus”. Mas, o movimento acabou sendo destroçado por
ordens do governador Manuel Teles Barreto, em 1585.

Palmares, Zumbi e a resistência quilombola


Localizado na serra da Barriga, região da atual Alagoas (que na época pertencia a
Pernambuco), Palmares cresceu muito na segunda metade do século XVII. Estima-se que
chegou a possuir dez fortes ou mocambos, com cerca de 20 mil quilombolas. Eles viviam da
caça, coleta e agricultura de milho e feijão, realizada em roçados familiares utilizando um
sistema de trabalho cooperativo. Os excedentes agrícolas eram vendidos nas vilas próximas.
O crescimento de Palmares levou as autoridades coloniais a multiplicar as expedições
repressivas. Todas fracassaram, repelidas por Ganga Zumba, grande chefe dos quilombolas. Em
1678, o governo de Pernambuco propôs um acordo ao chefe dos palamarinos. Em troca da paz,
Ganga Zumba obteve a alforria para os negros de Palmares, a concessão de terras em Cucaú
(norte de Alagoas) e a garantia de prosseguirem o comércio com os vizinhos. Comprometeu-se,
porém, a devolver todos os escravos que dali em diante fugissem para o quilombo.
O acordo dividiu os quilombolas e Ganga Zumba foi assassinado pelo grupo que
rejeitou os termos desse acordo, desconfiando das intenções do governo colonial. Prosseguiu,
assim, a guerra dos palmarinos, agora liderada por Zumbi. A resistência quilombola foi grande,
mas acabou sucumbindo em 1695, derrotada pelas tropas do bandeirante Domingos Jorge
Velho.Em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi degolado e sua cabeça foi enviada como troféu
para Recife – maior triunfo da sociedade escravista no Brasil colonial.
1) Complete o texto com as palavras a seguir: Trabalho – Escravidão – Resistência – Fuga

Onde houve escravidão, houve resistência. E de vários tipos. Mesmo sob a ameaça do
chicote, o escravo negociava espaços de autonomias com os senhores ou fazia corpo
mole no trabalho, quebrava ferramentas, incendiava plantações, agredia senhores e
feitores. Rebelava-se individual e coletivamente. Aqui a lista é grande e conhecida.
Houve, no entanto, um tipo de resistência que poderíamos caracterizar como a mais
típica da escravidão – a fuga.

2) É correto afirmar que, no Brasil Colônia, a escravização de africanos e afrodescendentes

a) eliminou a escravização de indígenas, que contavam com a proteção da Igreja Católica e dos
responsáveis pela administração colonial.
b) foi utilizada apenas nas lavouras de açúcar e café, pois os africanos escravizados não se
adaptavam ao trabalho nas minas.
c) permitiu rápida integração racial, mas agravou o preconceito contra os indígenas,
considerados inábeis para as atividades agrícolas.
d) teve implicações que ultrapassaram a esfera econômica, sendo decisiva para a
constituição de uma sociedade rigidamente hierarquizada.

3) Coloque (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as falsas.

( F) Os indígenas aceitaram mais facilmente o trabalho escravo e se acostumaram à vida com


seus senhores, ao contrário dos africanos que sempre resistiram.
( F) Os jesuítas empreenderam uma intensa campanha contra a escravização dos indígenas,
razão pela qual vieram para o Brasil no início da colonização.
( V ) As dificuldades de escravização dos indígenas e os lucros do tráfico negreiro levaram os
portugueses a optar pela mão de obra africana.
( V ) A Santidade Indigena foi uma revolta indígena que destruiu engenhos e igrejas.

4) Leia o texto a seguir.

“O Monumento a Zumbi é uma peça da imaginária da cidade do Rio de Janeiro localizada no


canteiro central de sua mais importante via urbana, a avenida Presidente Vargas. Com um total
de sete metros de altura, o monumento tem uma base piramidal em alvenaria, revestida em
mármore branco e encimada por uma cabeça masculina confeccionada com 800 quilos de
bronze, reprodução de uma escultura que, com freqüência, tem sido citada pela literatura como
exemplo da arte africana. De acordo com as normas técnicas o Monunumento a Zumbi trata-se
de uma “cabeça” e não “estátua”. O fato de ter sido escolhida uma cabeça para representar
Zumbi traz à tona a história do herói homenageado. No ano de 1685, no atual Estado de
Alagoas, Zumbi teria liderado até a morte a resistência à última evitoriosa investida da Coroa de
Portugal contra o famoso Quilombode Palmares. Zumbi teria sido aprisionado e morto no dia 20
de novembro de 1695 e, conforme o costume da época, o líder guerreiro teria tido a cabeça
cortada. Assim, o monumento representa, propositadamente ou não, a cabeça do herói
decapitado.” (SOARES, Mariza. Nos atalhos da memória: Monumento a Zumbi. In: KNAUSS, Paulo. Cidade vaidosa:
imagens urbanas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed. Sette Letras, 1999. p.117)

Por que a escolha de uma cabeça traz a tona a história de Zumbi? Explique a importância de ter
monumentos públicos que homegeiam personalidades negras, como Zumbi.
Porque a cabeça mete à decapitação do líder quilombola no século XVII. Ao trazer essas
homenagens na cena pública, o país permite pensar as histórias de resistências ao longo da
construção do país e a pensar as políticas públicas de reparação.

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