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COLECISTECTOMIA:

O que é:
A colecistectomia consiste na remoção cirúrgica da vesícula biliar por algum motivo que não a torne mais viável,
visando uma melhora no quadro clínico do animal após a sua retirada.

Colecistotomia: Diferentemente da colecistectomia, a colecistotomia é a drenagem externa de conteúdo da vesícula


biliar. É pouco utilizada na medicina veterinária por conta do risco de ocorrer uma peritonite biliar, que é o
extravasamento de bile para a cavidade abdominal, que é um quadro grave, de difícil tratamento e que pode levar o
animal a óbito. Por conta disso preconiza-se a remoção do órgão através da colecistectomia.

Indicações para o procedimento:


Geralmente a colecistectomia é indicada casos de:
- Colecistite, que é a inflamação da vesícula biliar geralmente por cálculos biliares, não responsiva ao tratamento por
antibioticoterapia ou nos casos de recidiva da doença.
- Mucocele biliar que é quando o conteúdo da vesícula biliar torna-se tão espesso que não consegue ser excretado
para fora do canal biliar levando a um acúmulo de conteúdo no órgão, que pode levar a necrose isquêmica, ruptura,
peritonite biliar e infecções oportunistas.
- Ruptura espontânea ou ruptura traumática do órgão.
- Colelitíases associadas a alguma outra doença.
- Neoplasias.

Localização e função da vesícula biliar:


A vesícula biliar encontra-se anexada ao fígado em uma fossa entre os lobos medial direito e quadrado. Sua função
principal é o armazenamento da bile, que é produzida pelo fígado, e tem como função a digestão de gorduras e
facilitar a absorção de vitaminas oriundas da alimentação.
De modo geral, a vesícula biliar não exerce uma função essencial a vida, inclusive alguns animais não a possuem,
como o pombo e o cavalo. Com isso sua retira não gera grandes prejuízos a saúde do animal, a única preocupação é
com a ingestão de gorduras, que deve ser diminuída.

Ducto biliar do cão x ducto biliar do gato:


No cão, o ducto biliar comum desemboca no duodeno, juntamente com os outros ductos hepáticos.
No gato, o conteúdo da vesícula biliar também desemboca no duodeno, porém o ducto pancreático se funde ao
ducto biliar antes de chegar ao intestino. O que leva a predisposição a tríade felina (colangite, duodenite e
pancreatite).

Sinais clínicos:
Geralmente, os sinais clínicos são inespecíficos, podendo inclusive serem assintomático como no caso das
obstruções parciais do fluxo biliar.
Em quadros de obstrução completa, o animal pode apresentar: Fezes acólicas (brancas), vômito, febre, anorexia,
diarreia, desidratação, dor abdominal, icterícia e em casos mais graves peritonite séptica por conta da ruptura da
vesícula biliar.

Diagnóstico:
A ultrassonografia é o exame padrão para diagnóstico, plano terapêutico e monitoramento de afecções biliares,
porém os achados podem ser inespecíficos.

Geralmente a parede da vesícula biliar de cães e gatos saudáveis é mal visualizada na ultrassonografia.
Já os casos de mucocele, geralmente são facilmente visualizado em cães. Os achados das imagens podem mostrar
distensão da vesícula biliar com presença de conteúdo ecogênico.
As descobertas ultrassonográficas devem ser sempre conciliadas com o histórico do paciente, exame físico, dados
clínicos e patológicos.
Relato de caso que nos mostra exemplos de sinais clínicos e diagnóstico em um quadro de mucocele biliar em cão:
- Cadela da raça yorkshire com 10 anos.
- Há 3 anos diagnosticada com dislipidemia que é a presença de níveis elevados de lipídios, ou seja, gorduras no
sangue, e afecções endócrinas.
- Apresentando dor à palpação abdominal, discreta icterícia na esclera, e sinais clínicos inespecíficos como: vômito,
anorexia e prostração.

Ultrassonografia:
Foi feito pedido de ultrassonografia que revelou uma distensão da vesícula biliar com presença moderada de
conteúdo ecogênico, denso e amorfo e ausência de liquido adjacente, como mostra a imagem.

IMAGEM COMPARANDO UMA VB NORMAL E UM QUADRO DE MUCOCELE.

IMAGEM MOSTRANDO ESTRIAÇÕES HIPERECOICAS NA LUZ DA VB EM UM QUADRO DE MUCOCELE.

OBS: Em cães a incidência de afecções biliares é relativamente baixa, e geralmente sinais de colecistite, colelitíase ou
mucocele são achados de exames de imagem ou na necropsia.

Exames complementares:
No caso das alterações hematológicas, geralmente encontramos aumento das enzimas FA (fosfatase alcalina –
presente principalmente nos ductos biliares), ALT (alanina aminotransferase – função hepática), GGT (gama HT –
função hepática) e, nos casos de colestase (diminuição ou ausência do fluxo de bile), bilirrubina conjugada.
Leucocitose, neutrofilia e monocitose também podem ser encontrados.

Sempre considerar outras condições que possam causar obstrução do trato biliar extra hepático parcial ou
completo.

Cuidados pré-operatórios e transoperatórios:


- O manejo pré-operatório depende de cada caso.
- Antibióticos pré-operatórios são indicados, embora seu uso possa ser postergado em alguns casos até obter
material de cultura.
- Muita atenção ao manejo anestésico em pacientes com obstrução biliar, sendo de suma importância a
estabilização do paciente e controle hídrico.

MPA:
- Pode ser utilizado hidromorfona + diazepam em boulos até atingir o efeito necessário.
- Entubar e administrar etomidato ou propofol para indução e manutenção com isoflurano ou sevoflurano.

Procedimento cirúrgico:
A colecistectomia geralmente é feita por laparotomia – técnica aberta, porém com o avanço da medicina veterinária
já há relatos da cirurgia por laparoscopia – técnica fechada, ainda com pouca abrangência (por ser mais cara) mas
com boas perspectivas.

1- Após o posicionamento do animal e preparo da região para uma cirurgia asséptica, é feita uma incisão pré-
umbilical da linha média ventral, abrindo a cavidade abdominal e localizando a vesícula biliar.
2- Em seguida a vesícula e exposta e é feita uma incisão no peritônio visceral ao longo da junção do fígado com
a vesícula, tracionando e usando uma dissecção romba para libera-la do fígado.
3- Identificar o ducto biliar comum para evitar danos durante o procedimento, através da colocação de um
cateter macio no ducto através da papila duodenal. Fazer uma pequena enterotomia no duodeno proximal,
localizando a papila duodenal e introduzindo um pequeno tubo de borracha vermelha no ducto biliar
comum.
4- Irrigar o ducto para garantir a sua desobstrução.
5- Clampear e ligar duplamente a artéria cística com fio de sutura não absorvível (2-0 a 4-0).
6- Seccionar o ducto distal as ligaduras e remover a vesícula biliar.
7- Submeter uma parte da parede mais a bile à cultura em casos de suspeita de infecção e submeter o restante
da vesícula a análise histopatológica quando indicado por colecistite ou neoplasia.
8- Omentalização do fígado próximo a inserção da vesícula.
9- Fechar a incisão duodenal com padrão de sutura simples interrompido com fio absorvível 2-0 a 4-0.

OBS: TENHA CERTEZA QUE O DUCTO BILIAR COMUM ESTÁ DESOBSTRUÍDO ANTES DE REALIZAR A
COLECISTECTOMIA. O ANIMAL DEVE TER UMA VIA DE DRENAGEM BILIAR PARA O INTESTINO.

Complicações:
- O prognóstico é reservado e depende da gravidade das lesões.
- Durante a cirurgia pode ocorrer perfurações que levam a peritonite séptica, choque, sepse, hipoglicemia,
hipoproteinemia e hipocalemia.
- Animais com alimentação gordurosa podem apresentar diarreia pois a absorção e digestão de gorduras e
carboidratos estará prejudicada.

Pós-operatório:
- A fluidoterapia deve ser mantida até que o estado de hidratação do animal seja restaurado.
- Uso de suplementação nutricional (opcional), antibioticoterapia de 7 a 10 dias, antinflamatório e analgésico.
- Acompanhamento através de exames de sangue e de imagem.
OBS: A drenagem abdominal aberta deve ser considerada em pacientes com peritonite biliar generalizada.

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