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Coleção UAB−UFSCar

Educação Musical

Daniel Gohn

Percussão
Percussão

Percussão

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Daniel Gohn

Reitor
Prof. Dr. Targino de Araújo Filho

Pró-Reitora de Graduação
Profa. Dra. Emília Freitas de Lima

Secretária de Educação a Distância - SEaD


Profa. Dra. Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali

Coordenação UAB-UFSCar
Prof. Dr. Daniel Mill
Profa. Dra. Denise Abreu-e-Lima
Profa. Dra. Valéria Sperduti Lima
Profa. Dra. Joice Lee Otsuka

Coordenação do curso de Licenciatura em Educação Musical


Prof. Dr. Glauber Lúcio Alves Santiago (Coordenador)

Universidade Federal de São Carlos


Via Washington Luís, km 235
13565-905 - São Carlos - São Paulo - Brasil
Telefax (0xx16) 3351 8137

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Percussão

Daniel Gohn

Percussão

São Carlos, 2009

3
Daniel Gohn

C
2009, Daniel Gohn. Todos os Direitos Reservados.

reimpressão em julho de 2010.

Livro destinado ao curso de Licenciatura em Educação Musical - UAB-UFSCar - EaD (Educação


a Distância).

Responsáveis pela Preparação e Revisão


Ms. Waine Teixeira Junior (designer/projetista)
Ms. Marcelo Fila Pecenin (revisor)
Douglas H. Perez Pino (revisor)

Arte da Capa
Jorge Oliveira

Ilustrações
Priscila Limonta
Jorge Oliveira

Editoração, diagramação eletrônica


Rodrigo Rosalis da Silva

UAB-UFSCar
Telefone (0xx16) 3351 8420
www.uab.ufscar.br

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmiti-
da por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia
e gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do
titular do direito autoral.

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Percussão

Sumário

Apresentação ...................................................................... 7

Ficha da disciplina ............................................................... 11

Unidade 1: Percussão e Educação Musical


1.1 Primeiras palavras ....................................................... 15
1.2 Problematizando o tema ................................................ 15
1.3 Texto básico para estudo ............................................... 15
1.3.1 Percussão: estilos e tradições ................................... 15
1.3.2 Percussão e Educação Musical ................................... 17
1.4 Considerações finais .................................................... 19
1.5 Atividades de aplicação, prática e avaliação ....................... 20
1.5.1 Para comprar baquetas e pandeiros ............................ 20
1.5.2 Participe do fórum, acessando as atividades propostas
no Moodle .......................................................... 22
1.6 Estudos complementares ............................................... 22
1.6.1 Saiba mais... ...................................................... 22
1.6.2 Outras referências ................................................ 23

Unidade 2: Introdução à técnica de baquetas e ao pandeiro


2.1 Primeiras palavras ....................................................... 27
2.2 Problematizando o tema ................................................ 27
2.3 Texto básico para estudo ............................................... 28
2.3.1 Baquetas ............................................................ 28
2.3.2 Baquetas e instrumentos de percussão ........................ 33
2.3.3 Pandeiro ............................................................ 35
2.4 Considerações finais .................................................... 38
2.5 Atividades de aplicação, prática e avaliação ....................... 39
2.5.1 Para comprar baquetas e pandeiros ............................ 39
2.5.2 Moodle .............................................................. 39
2.6 Estudos complementares ............................................... 40
2.6.1 Saiba mais... ...................................................... 40

Unidade 3: Rudimentos e Samba no Pandeiro


3.1 Primeiras palavras ....................................................... 43
3.2 Problematizando o tema ................................................ 43
3.3 Texto básico para estudo ............................................... 44
3.3.1 Rudimentos ........................................................ 44
3.3.2 Samba no pandeiro ............................................... 47

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Daniel Gohn

3.4 Considerações finais .................................................... 50


3.5 Atividades de aplicação, prática e avaliação ....................... 51
3.5.1 Exercícios ........................................................... 51
3.5.2 Moodle .............................................................. 52
3.6 Estudos complementares ............................................... 52
3.6.1 Saiba mais... ...................................................... 54
3.6.2 Outras referências ................................................ 54
3.7 Referências bibliográficas .............................................. 54

Unidade 4: A percussão como ferramenta educacional


4.1 Primeiras palavras ....................................................... 57
4.2 Problematizando o tema ................................................ 57
4.3 Texto básico para estudo ............................................... 57
4.3.1 Aplicações da percussão na Educação Musical ................ 59
4.3.2 Rudimentos ........................................................ 59
4.3.3 Samba no pandeiro ............................................... 61
4.4 Considerações finais .................................................... 61
4.5 Atividades de aplicação, prática e avaliação ....................... 63
4.5.1 Exercícios ........................................................... 63
4.5.2 Moodle .............................................................. 63
4.6 Estudos complementares ............................................... 64
4.6.1 Saiba mais... ...................................................... 64

Unidade 5: Peça para caixa clara e baião no pandeiro


5.1 Primeiras palavras ....................................................... 67
5.2 Problematizando o tema ................................................ 67
5.3 Texto básico para estudo ............................................... 68
5.3.1 Peça para caixa clara ............................................. 68
5.3.2 Baião no pandeiro ................................................. 70
5.4 Considerações finais .................................................... 71
5.5 Atividades de aplicação, prática e avaliação ....................... 73
5.5.1 Exercícios ........................................................... 73
5.5.2 Moodle ............................................................. 73
5.5.3 Avaliação presencial .............................................. 73
5.6 Estudos complementares ............................................... 74
5.6.1 Saiba mais... ...................................................... 76
5.6.2 Outras referências ................................................ 76

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Percussão

Apresentação

Esta disciplina irá fazer um pequeno recorte no enorme universo dos ins-
trumentos de percussão. É importante saber que os conteúdos que veremos
representam apenas o primeiro passo de uma longa jornada para um educador
musical em formação, pois há muito mais para pesquisar e aprender. Existem
muitos instrumentos de percussão e diversas tradições musicais, construindo
um campo sonoro gigantesco a ser explorado. Além disso, em várias situações
de ensino e aprendizagem é preciso percutir, raspar, sacudir ou friccionar mate-
riais para fazer música, frequentemente exigindo técnicas específicas do pro-
fessor. Nossa disciplina apresenta um breve olhar sobre esses assuntos, visando
a contribuir na sua capacitação como futuro educador.
O intuito não é o de formar um percussionista. Tal objetivo seria irreal, já
que o tempo que vamos dedicar aos estudos da percussão é curto, e sabemos
que não é possível dominar as técnicas de um instrumento musical em poucas
semanas. No entanto, poderemos compreender o processo para desenvolver tais
técnicas e teremos a oportunidade de aprender os movimentos para tocar alguns
instrumentos, dando início ao que pode até se transformar em uma especializa-
ção, se assim for desejado. Ademais, o que veremos aqui será a base para
várias atividades que irão surgir em outras disciplinas, criando uma trajetória
de estudos que, com o esforço do educador em formação, terá continuidade por
toda a sua carreira.
Nossos estudos irão acontecer em duas frentes distintas: em um momento,
vamos escutar e assistir a outros músicos, discutindo em grupo sobre como a
percussão é utilizada em diferentes situações; em um outro momento, uma
série de exercícios deverá ser praticada individualmente para um desenvolvi-
mento básico da técnica de baquetas e de como tocar o pandeiro. A combinação
dessas duas formas de estudo, coletivo e individual, é que dará consistência à
disciplina. A interação entre os alunos poderá ser bastante produtiva, principal-
mente se observações de todos forem compartilhadas, e os mais experientes
puderem ajudar os iniciantes a avançar mais rapidamente. Teremos a nosso
favor todos os conteúdos abertos da Internet, acessíveis a todos, para demons-
trar os diversos estilos de percussão que existem e ilustrar nossas discussões.
Na sequência, as propostas para práticas em conjunto continuam nos momentos

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Daniel Gohn

presenciais dos pólos com sugestões para juntar padrões rítmicos que foram
estudados separadamente. Dessa forma, a percussão irá tomar vida, e a interação
entre alunos poderá ocorrer também no plano musical.
Nos estudos práticos de instrumentos, entre a enormidade de opções exis-
tentes, a escolha das baquetas e do pandeiro ocorreu porque, assim, há uma
preparação para muitas das atividades enfrentadas pelos educadores musicais.
A capacidade para tocar com baquetas será útil com os xilofones e a caixa clara
e também para aqueles interessados em aprender ritmos simples na bateria,
entre outras possibilidades. O pandeiro, instrumento tipicamente brasileiro, por
ser leve e compacto, é transportado facilmente e serve para acompanhar vários
tipos de música. São opções que demandam muito estudo, pois não somente
temos de saber como fazer, mas também temos de conseguir fazer. E, para isso,
a repetição contínua dos exercícios propostos é essencial. É importante ter pa-
ciência e persistência, sabendo que os resultados irão surgir somente depois de
um período considerável. Não há atalhos nesse caminho.
Muitos outros instrumentos de percussão não são difíceis de tocar, como o
caxixi, reco-reco ou o chocalho, sendo preciso apenas segurá-los de maneira
apropriada e usar ritmos adequados.
Com instrumentos tocados com baquetas e com o pandeiro, porém, a situ-
ação é diferente. As nuanças de cada toque mudam as sonoridades possíveis, e
muitos ritmos e efeitos só são obtidos com movimentos arduamente treinados,
exigindo atenção para detalhes muito finos e sutis.
Como foi colocado anteriormente, não será durante as próximas semanas
que você irá chegar aos seus objetivos finais com a percussão. Mas, após os
estudos nesta disciplina, será possível uma compreensão dos ajustes minucio-
sos que são necessários para melhorar uma performance. Saber quais elementos
nós devemos aperfeiçoar é sempre a primeira etapa, para que, então, a dedica-
ção seja focada no que realmente interessa.
Alguns dos exercícios que veremos estão nos livros da bibliografia indicada,
que pode ser consultada no Moodle. Procure esses livros na biblioteca do seu pólo
para aprofundar seus conhecimentos. Caso queira dar sequência aos estudos
sobre percussão após o término da disciplina, esse é um excelente ponto de
partida, começando pelo que foi visto e expandindo sua lista de ritmos, exercí-
cios e instrumentos. Muitos outros conteúdos estão disponíveis na Internet,
mas lembre que não adiantará contar com muitas fontes de informação se não
houver uma continuidade entre elas. Somente com a repetição de certos exercí-

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Percussão

cios é que iremos progredir para, em seguida, podermos avançar aos próximos
desafios.
Na Unidade 1, podem ser encontradas dicas para uma boa aquisição de
baquetas e de um pandeiro. Esses investimentos são recomendáveis para que o
desempenho na disciplina seja satisfatório, e certamente as peças compradas
serão de grande utilidade para o seu trabalho como educador. Portanto, procure
a melhor relação entre custo e benefício, mas não se esqueça de que alguns
equipamentos irão fazer parte constante de suas atividades futuras, e nem sem-
pre compensa economizar muito. Entretanto, se não houver condições para a
aquisição, procure as peças disponíveis no seu pólo. Ter acesso aos instrumen-
tos é preciso, praticar é essencial.

Um abraço e bons estudos!


Daniel Gohn

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Daniel Gohn

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Percussão

Ficha da disciplina

Professor responsável pela disciplina

Daniel Gohn é doutorando na ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes da


Universidade de São Paulo) com bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico) e pesquisador da Escola do Futuro da USP,
investigando Educação Musical à distância. Bacharel em Música pela Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) e Mestre em Ciências da Comunicação
pela ECA/USP, é autor do livro Auto-aprendizagem musical: alternativas tecnoló-
gicas, publicado pela Editora Annablume em 2003. Estudou percussão na escola
Drummers Collective, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, durante três anos e
lá também completou cursos na New School University e New York University.
Participou da produção de DVDs educacionais de música da empresa Hudson
Music e realizou traduções e dublagens para a série Ultimate Beginners (Warner
Bros.). Integra os grupos Casa de Marimbondo e Tribores, realizando um traba-
lho experimental de percussão brasileira.

Ementário: Estudo sobre instrumentos de percussão com a realiza-


ção de exercícios que priorizam ritmos brasileiros e
exploram diferentes aspectos do universo da percus-
são. As atividades programadas visam a capacitar o
educador musical para situações de prática docente,
incluindo exercícios técnicos de baquetas e a execução
de ritmos no pandeiro.

Conteúdo da Estudo sobre os instrumentos musicais de percussão.


disciplina Papel da percussão em diferentes estilos musicais e na
Educação Musical. Exercícios para desenvolver a técni-
ca de baquetas. Ritmos de samba e baião no pandeiro.

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Daniel Gohn

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Percussão

Unidade 1

Percussão e Educação Musical

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Daniel Gohn

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Percussão

1.1 Primeiras palavras

Nesta unidade, vamos refletir sobre o papel que a percussão


pode ter na Educação Musical. Vamos também estudar as caracte-
rísticas de alguns dos instrumentos de percussão, observando os
materiais utilizados na sua construção e as técnicas empregadas
para tocá-los.

1.2 Problematizando o tema

Qual a função de instrumentos de percussão em processos de


Educação Musical? Qual a importância deles para os educadores mu-
sicais, e como podem ser utilizados em atividades educacionais?
Essas questões devem ser respondidas antes de começarmos
nossos estudos para que haja sentido nos objetivos traçados, e o
aprendizado seja diretamente relacionado a outras disciplinas do
nosso curso. É importante compreender a dimensão do que pode-
mos fazer, considerando o tempo disponível, dentro do enorme campo
de possibilidades apresentadas pela percussão.

1.3 Texto básico para estudo

1.3.1 Percussão: estilos e tradições

Não há registro do primeiro instrumento musical surgido no


planeta Terra, mas provavelmente foi um instrumento de percus-
são. Podemos imaginar o homem primitivo percutindo uma pedra
no tronco de uma árvore, depois experimentando materiais dife-
rentes na busca de sonoridades mais interessantes. Tal imagem

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Daniel Gohn

deixa evidente como é natural e instintivo o ato de movimentar o


corpo e apreciar os sons resultantes de superfícies que se tocam.
Após milhares e milhares de anos, ainda usamos pedras e troncos
de árvores juntamente com muitos outros tipos de materiais. A
percussão tornou-se uma arte refinada, com detalhamentos tanto
na qualidade dos sons utilizados como nas técnicas usadas para
tocar os instrumentos.
Existem muitos tipos de instrumentos de percussão no interior
de diferentes tradições musicais. Ser um estudante de percussão
usualmente significa escolher, como objeto de estudo, apenas al-
guns instrumentos e algumas dessas tradições, pois o universo for-
mado por todos os elementos da percussão é grande demais para
uma única vida de investigações.
Além disso, para realmente entender uma determinada cultu-
ra musical é preciso colocá-la em seu contexto de origem, relacio-
nando-a à forma de viver de seus músicos e sua história social.
Assim, um grupo de percussão como o Kodô (cf. <http://
www.kodo.or.jp>), no Japão, jamais existiria sem a herança cultu-
ral recebida por cada um de seus integrantes, o que resultou em
uma rotina de práticas mantidas durante anos, com disciplina em
ensaios e outras atividades - físicas e mentais - visando ao objeti-
vo musical.
Há tipos de percussão que primam pela precisão absoluta; já
outros estão baseados em certas doses de caos, em que a coloca-
ção de notas, para soar corretamente na música, deve obedecer
"irregularidades controladas". No samba, por exemplo, as semicol-
cheias devem ter variações próprias do estilo e não podem ser to-
das exatamente iguais. Por isso, músicos de fora do Brasil, incluin-
do aqueles formalmente treinados e com excelente técnica, muitas
vezes encontram dificuldades para executar padrões rítmicos de
samba. O mesmo já não ocorre com músicos brasileiros, que, em
sua maioria, estão habituados a ouvir as variações específicas des-
se tipo de música desde a infância. Em determinadas ocasiões, a
mistura de estilos pode gerar resultados interessantes, colocando
lado a lado ritmos mais "duros" e outros que exigem uma colocação
de notas mais aberta.

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Percussão

Percussionistas em bandas militares são exemplos da busca por


unidade. Diversos músicos procuram tocar com movimentos idênti-
cos, sonoramente e visualmente sincronizados, revelando ordem,
coesão e integração do grupo. Em outras situações musicais, a no-
ção de grupo pode ser diferente: a ideia de coesão e integração sur-
ge de outra forma, pois há espaço para destacar a personalidade de
cada um dos músicos, e a combinação das diferenças é que define o
resultado do conjunto. Em um grupo de percussão afrocubana, por
exemplo, utilizando congas, bongôs, cowbells, timbales e guiros, as
partes tocadas apresentam sobreposições de ritmos. As característi-
cas individuais de cada instrumentista irão surgir de acordo com as
reações do músico ao ouvir o que é feito por seus companheiros.
Embora seja difícil conhecer cada detalhe, é importante sa-
ber, em linhas gerais, o que torna cada tipo de percussão especial.
Para ver exemplos dos diferentes estilos de percussão que foram
mencionados, acesse os links no Moodle.

1.3.2 Percussão e Educação Musical

Para um educador musical, é muito útil não só desenvolver


conhecimentos sobre instrumentos de percussão e suas tradições,
mas também tocá-los e praticar a técnica específica de alguns de-
les. Independentemente de qual for o instrumento principal de um
professor de música, algumas características da percussão serão
únicas e compensarão o esforço no envolvimento com as rotinas de
estudo necessárias.
Ao passo que alguns instrumentos musicais são tocados com
movimentos mínimos do instrumentista, visíveis somente a espec-
tadores situados bem próximos do músico, muitos dos instrumen-
tos de percussão possibilitam uma clara visualização da relação entre
movimento e som. Tal aspecto torna esses instrumentos bastante
úteis para a Educação Musical, pois demonstram a fonte sonora de
uma maneira evidente, facilitando a sua compreensão. Um violão
quando observado a 15 m de distância não transmite indicações de

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Daniel Gohn

como o som está sendo produzido e muito menos revela detalhes


dos dedos das mãos atacando as cordas. Um tambor, seja tocado
com baquetas ou pelas mãos do percussionista, sempre deixa total-
mente visível a origem das sonoridades produzidas.
Essa relação entre movimento e som abre um leque de possi-
bilidades para a Educação Musical. O corpo pode reagir ao som da
percussão ou o som da percussão do corpo pode ser usado. No pri-
meiro caso, aprendemos a responder aos ritmos, dançando e
interiorizando a pulsação musical. No segundo caso, os movimen-
tos é que produzem o som, seja com o uso de instrumentos, com
técnicas de percussão corporal ou percutindo elementos presentes
no ambiente em que estamos. Um exemplo é o sapateado, em que
os pés atacam o solo em busca de fraseados musicais, usualmente
complementando a música que está sendo dançada. Muitos bateris-
tas conhecidos do jazz americano, como Buddy Rich e Steve Gadd,
desenvolveram também excelentes técnicas como sapateadores.
Portanto, a percussão promove experiências sensoriais que
ligam diretamente a percepção e a produção musical ao corpo. To-
dos os músicos, de certa forma, estabelecem contatos com essa
ligação, pois têm de organizar seus movimentos de acordo com o
resultado sonoro esperado, seja qual for o instrumento. Mas é com
instrumentos de percussão que o ritmo do músico é trazido à tona
de forma mais evidente, tornando óbvias suas dificuldades e facili-
tando o aperfeiçoamento de sua musicalidade.
Para processos de musicalização, a percussão é vantajosa por-
que conta com muitos instrumentos leves e simples para carregar,
que facilmente são utilizados por crianças pequenas. Aspectos me-
lódicos podem ser trabalhados com os xilofones Orff, e aspectos
rítmicos demandam somente baquetas e uma superfície para tocar.
Tal simplicidade não deve ser confundida, no entanto, com falta de
recursos educacionais. Mesmo que uma escola tenha equipamentos
modernos, como computadores e sintetizadores, ainda será impor-
tante trabalhar com chocalhos, pandeiros e tambores.
Em grande parte da música de tradição europeia, a percussão
é usada como complemento a linhas rítmicas de instrumentos de
cordas e de sopro. Dessa maneira, em muitos casos, os instrumen-

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Percussão

tos de percussão surgem apenas para modificar os timbres de uma


determinada composição e não assumem um primeiro plano, como
usualmente ocorre na música brasileira.
Em estilos típicos do nosso país, como samba, choro, baião,
entre vários outros, a percussão tem um papel muito importante. A
capacidade para tocar ritmos no pandeiro, portanto, possibilita acom-
panhar músicas oriundas de nossas tradições. Um educador poderá
estimular seus alunos a ouvir e tocar mais músicas brasileiras se
tiver um conhecimento mais aprofundado sobre as nuanças rítmi-
cas e as técnicas utilizadas para alguns dos instrumentos comumente
usados em nossa cultura musical.
Há muitos detalhes para perceber em qualquer tipo de percus-
são, e a sensibilização para essas pequenas diferenças é essencial
tanto para crianças em seus primeiros estudos musicais como para
músicos profissionais. Preste atenção não apenas à colocação rít-
mica das notas, mas também a qualidades do som. Procure ouvir os
grandes percussionistas e perceba quantas sonoridades diferentes
são extraídas de instrumentos aparentemente simples. A valoriza-
ção de elementos que são insignificantes em um determinado con-
texto muitas vezes dá origem a resultados surpreendentes. Para
ter exemplos disso, escute o trabalho do grupo Uakti, como a músi-
ca Sueño con serpientes, de Milton Nascimento, em que uma ideia
singela como garrafas sopradas acrescenta uma proposta rica e ino-
vadora.

1.4 Considerações finais

Nesta primeira unidade, falamos sobre diferentes estilos de


percussão e discutimos algumas implicações que nossos estudos
poderão ter na sua carreira como educador. Todos os instrumentos
musicais trazem contribuições para a Educação Musical, todos têm
vantagens e dificuldades, todos apresentam seus desafios. Come-
çamos aqui uma reflexão sobre essas questões no interior do uni-
verso da percussão.

19
Daniel Gohn

A partir da próxima unidade, terá início o nosso programa de


exercícios práticos. Iremos desdobrar nossas atividades para usar
as baquetas e o pandeiro. Mantenha a sua motivação nos estudos
apoiado nas discussões que serão mantidas nos fóruns, sempre ajus-
tando o foco para seu objetivo como educador musical. Lembre-se
de que sempre haverá um fórum aberto para suas dúvidas, relacio-
nadas a qualquer questão que for abordada.

1.5 Atividades de aplicação,


prática e avaliação

1.5.1 Para comprar baquetas e pandeiros

Para esta disciplina será necessário ter acesso a um par de


baquetas e um pandeiro. É possível utilizar os equipamentos do seu
pólo, mas somente com uma rotina diária de exercícios é que pode-
remos avançar para propostas mais desafiadoras. Portanto, o ideal
é que você possa praticar em sua casa, sem restrições de horários
ou disponibilidade, reservando os momentos de sua presença nos
pólos para outras finalidades.
Antes do início do semestre atual, você assistiu a um vídeo
em que falamos sobre a aquisição de baquetas e do pandeiro. Veja
esse vídeo no Moodle novamente.
Resumidamente, os pontos que devem ser observados são:

 Não pratique com baquetas muito leves ou muito pesadas. Pro-


cure começar com um modelo médio. Cada fabricante tem nomes
específicos para os seus modelos, mas usualmente o código 5A é
utilizado para baquetas que podem ser consideradas médias. O
modelo 5b é mais pesado, mas também serve;
 Não importa se a ponta das baquetas é de madeira ou de nylon.
A diferença entre essas duas opções surge na sonoridade que obte-
mos com alguns instrumentos, principalmente nos pratos da bate-

20
Percussão

ria. Para os objetivos da nossa disciplina, essa escolha não faz di-
ferença;
 Compre um pandeiro leve, pois com os exercícios o desgaste
físico nos pulsos é grande. Procure os modelos na medida de 10
polegadas;
 Outro aspecto importante a ser observado é a sonoridade tanto
das platinelas como da pele. Compare os pandeiros mais caros com
os mais baratos e analise as diferenças e, se puder, convide um
percussionista para lhe ajudar a escolher.

Além desses equipamentos, para praticar com as baquetas,


também será preciso ter o que chamamos de borracha de estudo ou
pad de estudo. Para não incomodar os vizinhos e seus familiares,
usamos uma superfície que vai simular a pele de um tambor, emi-
tindo sons de menor intensidade. É importante praticar na caixa
clara também, mas sabemos que é mais difícil ficar 20 min escu-
tando semicolcheias tocadas em um tambor do que em uma borra-
cha especial. Tente manter uma rotina de exercícios no pad e, às
vezes, experimente praticar em diferentes tambores.
É possível comprar um pad de estudo ou, se você preferir,
fazê-lo, cortando um pedaço de madeira e colando nele tiras de
borracha. Como existem borrachas mais duras e outras moles, para
escolher os materiais empregados em nosso pad temos de testar o
resultado, avaliando se é preciso colar uma borracha diferente. Isso
é o que chamamos de resposta ou rebote do tambor, ou seja, ava-
liamos a rapidez com que as baquetas são jogadas de volta após um
toque na pele.
Assista no Moodle a um vídeo com dicas para comprar ou cons-
truir um pad de estudos.

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Daniel Gohn

1.5.2 Participe do fórum, acessando as


atividades propostas no Moodle.

1.6 Estudos complementares

Assim como em todas as outras áreas relacionadas à música,


para desenvolver capacidades com a percussão é preciso abrir os
ouvidos. Na música popular, uma parcela considerável dos
percussionistas profissionais é autodidata, comprovando que o
aprendizado informal e a observação dos mestres podem formar
excelentes músicos.
O contato com artistas em ação também irá contribuir para a
sua formação como educador. Perceba como muitos percussionistas
não precisam de técnicas refinadas para produzir a sua arte, pois
apenas usam uma sensibilidade aguçada para encontrar as sonori-
dades perfeitas para cada momento. Compreender e trabalhar com
tal conceito enriquecerá suas atividades.
Vivemos em uma era tecnológica que nos fornece sons e ima-
gens constantemente. Aproveite. Pesquise no YouTube e utilize as
ferramentas de busca como o Google para encontrar vídeos dos
percussionistas que são citados nesta disciplina.

1.6.1 Saiba mais...

Para saber mais sobre percussão, procure material com os


seguintes músicos:

- Giovanni Hidalgo, percussionista portorriquenho especialista em


estilos afrocubanos;
- Trilok Gurtu, conhecido por misturar os intrincados ritmos indi-
anos com jazz e rock;

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Percussão

- Jim Kilpatrick, britânico que foi diversas vezes campeão mundi-


al de competições de percussão (pipe band drumming);
- Glen Vélez, mestre do frame drum;
- Os bateristas de jazz Elvin Jones, Tony Williams e Max Roach;
- Os brasileiros Naná Vasconcelos, Airto Moreira, Marcos Suzano,
Edison Machado, Milton Banana e José Eduardo Nazário.

1.6.2 Outras referências

Muitas informações relevantes sobre os músicos citados nes-


ta unidade podem ser encontradas no site:
<http://www.drummerworld.com>.

23
Daniel Gohn

24
Percussão

Unidade 2

Introdução à técnica de baquetas


e ao pandeiro

25
Daniel Gohn

26
Percussão

2.1 Primeiras palavras

Na segunda unidade, vamos falar sobre técnica de baquetas e


de pandeiro, propondo exercícios iniciais, e discutir características
de alguns instrumentos de percussão.
A partir de agora, você deverá manter uma rotina de prática
diária, além da participação no AVA (Ambiente Virtual de Aprendiza-
gem). Se possível, sempre reserve entre 40 e 60 min diários para
isso, e lembre-se de que é melhor estudar um pouco todos os dias do
que tentar "compensar" em um único dia da semana. Os exercícios
têm como objetivo desenvolver a memória muscular para certos
movimentos, e, por isso, é necessário repeti-los muitas e muitas
vezes, até que você consiga uma coordenação fina e controlada.
Saiba que, no início, esses exercícios poderão causar um grande
desgaste físico. Especialmente com o pandeiro, é comum experi-
mentar dor nos pulsos, pois os músculos estão sendo exigidos de
uma forma com a qual não estavam acostumados. Mantenha uma
boa postura e sempre faça alongamentos antes de praticar, confor-
me as recomendações do item 2.3.1, que servem tanto para as
baquetas como para o pandeiro. Não exagere, mas também não
use isso como desculpa para deixar de praticar. Organize sessões
intercaladas com minutos de descanso e gradativamente aumente
os períodos de estudo. Em caso de qualquer problema que você
julga ser sério, entre em contato com o tutor.
Bom estudo!

2.2 Problematizando o tema

Como desenvolvemos as técnicas para tocar instrumentos de


percussão? Tocar um tambor com baquetas não é simplesmente se-
gurar em uma ponta e atacar a pele do instrumento com a outra? Há
diferenças entre o som produzido por dois percussionistas com um
mesmo equipamento?

27
Daniel Gohn

Tais questões nos levam a pensar sobre o processo físico de


produção do som, considerando as características de cada instru-
mento de percussão, e sobre as etapas enfrentadas por percussio-
nistas em sua evolução musical.
Embora a formação de um músico seja única e esteja atrelada
à história de vida pessoal de cada indivíduo, certos elementos
permeiam o caminho de todos. Iremos tratar de alguns aspectos
desse assunto, sempre tendo em vista a sua capacitação para o uso
da percussão em atividades educacionais.

2.3 Texto básico para estudo

2.3.1 Baquetas

Não existe uma única técnica que seja correta para tocar to-
dos os instrumentos de percussão. Cada instrumento apresenta di-
ferentes leques de possibilidades para o percussionista, muitas vezes
exigindo adaptações em função dos materiais de que o instrumento
é feito e a forma na qual foi construído.
Vamos começar nossos estudos sobre a técnica de baquetas
com uma série de recomendações sobre o que não devemos fazer.
Não devemos tensionar nenhum músculo em demasia. O correto é
manter dedos, pulsos, braços e ombros sempre relaxados. Para isso,
vamos descrever uma situação ideal para praticar os exercícios que
serão propostos mais adiante: uma cadeira ou banquinho que deixe

28
Percussão

suas pernas em um ângulo de 90° em relação ao solo, com a coluna


reta, tendo o seu pad de estudo colocado a sua frente, um pouco
acima dos joelhos:

29
Daniel Gohn

Antes de começar a praticar, sempre aqueça os pulsos com


movimentos circulares e alongue os pulsos, conforme a imagem
abaixo:

Com o corpo na posição indicada, levante o antebraço e encai-


xe as baquetas entre seus polegares e dedos indicadores. Isso é o
que chamamos de pinça. A pressão exercida pelos seus dedos deve-
rá ser suficiente apenas para que a baqueta não caia. Não a aperte
muito. Se fizer muita força, seus músculos irão enrijecer-se e será
mais difícil tocar. Além disso, assim você estaria impedindo a com-

30
Percussão

pleta vibração da pele de um tambor ou da tecla de um xilofone se


estivesse tocando um desses instrumentos.

Assista no Moodle ao vídeo que mostra a postura para praticar


e como a baqueta fica encaixada entre seus dedos.
É importante compreender que qualquer som, dependendo do
contexto, pode ser desejável musicalmente. Por exemplo: você po-
derá propositalmente "travar" a baqueta na pele de um tambor, não
o deixando soar depois do ataque, pois o efeito resultante lhe inte-
ressa para uma passagem musical. Existem muitas variáveis, e,
com o tempo, aprendemos a encontrar as diversas sonoridades pos-
síveis com um único instrumento. Mas, como primeira regra geral,
vamos assumir que sempre iremos explorar a sonoridade máxima
que um instrumento pode produzir.
Assim, quando tocarmos um tambor, o objetivo deve ser acer-
tar o centro do instrumento, deixando a baqueta e a pele em conta-
to pelo menor tempo possível. Logo após o toque, se não estiver-
mos pressionando a baqueta, a resistência da pele irá devolvê-la
para cima - como vimos na primeira unidade, é o que chamamos de
resposta ou rebote -, enquanto a vibração do tambor produzirá som.

31
Daniel Gohn

Diferentes instrumentos apresentam respostas diferentes, exigin-


do técnicas apropriadas. Mais adiante, vamos discutir as caracte-
rísticas de alguns instrumentos de percussão.
O movimento chicote, como o nome indica, se assemelha a
um chicote em nossas mãos: usamos os pulsos para colocar as
baquetas na trajetória e depois elas fazem o resto sozinhas. Assis-
ta no Moodle ao vídeo que demonstra esse movimento chicote e a
diferença no som resultante quando comparado com o movimento
travado.
Vamos demonstrar os exercícios propostos no pad de estudos,
pois essa será a realidade da maioria dos alunos. Se possível, expe-
rimente tocar também em outras superfícies, especialmente na caixa
clara e no xilofone. Nosso primeiro exercício será com toque sim-
ples, ou seja, as mãos tocarão sempre alternadas, direita e esquer-
da, conforme a partitura abaixo:

Praticar com o auxílio de um metrônomo é muito importante.


É recomendável que você possua um aparelho próprio, pois isso
será muito útil no seu trabalho como educador musical. Portanto,
caso ainda não tenha um, considere a ideia de adquiri-lo. Uma ou-
tra alternativa é sentar-se em frente ao computador e utilizar
metrônomos on-line, como o que se encontra no site <http://
www.metronomeonline.com>.
Coloque o metrônomo em 80 batidas por minuto para começar
e aumente somente quando estiver preparado para isso. Ao prati-
car, observe os seguintes aspectos:

 Mantenha seus cotovelos próximos ao corpo, com os ombros


relaxados e a coluna reta. Para tocar, você irá movimentar os pul-
sos, mantendo os antebraços quase imóveis. Com o molejo dos
pulsos também podem ser usados os dedos e um pouco dos ante-
braços, mas sem "travar" o pulso, como se ele estivesse engessado;

32
Percussão

 As duas mãos devem tocar com a mesma intensidade e sonori-


dade. As baquetas devem ser levantadas na mesma altura para to-
dos os toques;
 As mudanças de semínima para colcheia, colcheia para semicol-
cheia e a volta para semínima deverão acontecer de forma precisa,
sem alterações na dinâmica;
 Cada movimento deve resultar em um único som, claro e articu-
lado em relação a outros. Se a baqueta for pressionada contra o
pad, poderá causar sons posteriores ao primeiro toque. Queremos
evitar isso, utilizando o princípio do movimento chicote.

Lembre-se de que o exercício só irá servir se for repetido


continuamente. Não é difícil tocar as figuras rítmicas escritas, mas
não considere o caso encerrado assim que executá-las algumas ve-
zes. Seus pulsos irão se acostumar com os movimentos, e será
possível aumentar a marcação do metrônomo.
Assista ao vídeo desse exercício no Moodle, primeiro com 80
bpm e depois com 110 bpm.

2.3.2 Baquetas e instrumentos de percussão

Quando tocamos com baquetas, para decidir quais técnicas


serão utilizadas, devemos levar em consideração o instrumento que
é tocado. Se tocarmos um membranofone, ou seja, se há uma mem-
brana que irá vibrar, o diâmetro do instrumento, o tipo da membra-
na e a tensão aplicada a ela irão modificar a resposta que obtere-
mos. Até a década de 1950, eram utilizadas somente peles de ani-
mais, com afinações muito suscetíveis a variações climáticas. De-
pois surgiram as peles sintéticas, feitas de plástico, que se torna-
ram comuns e deram origem a novas sonoridades, com outros tipos
de resposta.
Também a baqueta utilizada deve ser adequada ao instrumen-
to. Para tocar uma alfaia, com uma pele de couro animal, usamos
baquetas diferentes daquelas empregadas com o xilofone, o

33
Daniel Gohn

vibrafone ou o glockenspiel. Por causa da natureza rígida dos mate-


riais usados na construção das teclas nesses instrumentos - madei-
ra no xilofone e metal no vibrafone e glockenspiel -, é comum que
eles sejam tocados com baquetas de pontas recobertas com feltro,
lã ou borracha.
Um tambor grande, afinado para obter um som bem grave -
como um surdo de escola de samba, por exemplo -, soará bem dife-
rente se for atacado com uma baqueta de pontas recobertas, menos
dura, ou com baquetas com pontas de madeira. Da mesma forma, os
pratos de uma bateria soam com mais definição quando tocados por
baquetas duras, sendo que o formato, o peso e a espessura das
baquetas também são determinantes no resultado final.
Portanto, a escolha das baquetas é importante tanto para fa-
cilitar uma performance, como também para que possa obter um
determinado efeito sonoro, dependendo das características do ins-
trumento musical utilizado. Muitas vezes, um instrumento pode ser
tocado com diversos tipos de baquetas, e os resultados são todos
considerados bons. Outras vezes, o som resultante não agrada à
maioria dos músicos. Para ter um exemplo disso, experimente to-
car o glockenspiel com uma baqueta com ponta de madeira e com-
pare a sonoridade produzida com a de outras baquetas, depois de-
cida qual soa melhor.
Tais questões são importantes para nosso desenvolvimento
técnico, pois iremos executar exercícios para a caixa clara, com
baquetas diferentes das que são comumente usadas para tocar al-
faias, xilofones, vibrafones, glockenspiels e surdos. Em alguns as-
pectos, todas as situações apresentam momentos parecidos: te-
mos de levantar as baquetas, exercer força para atacar o instru-
mento, e há uma reação a essa ação, quando a baqueta é jogada de
volta. A pele age como uma cama elástica: quanto mais esticada
estiver sobre o tambor, mais rápida é a volta da baqueta, nos dei-
xando aptos a tocar o instrumento novamente. Com uma membra-
na pouco esticada, produzindo um som mais grave, esse tempo
será maior e talvez seja necessário "ajudar" a baqueta a voltar.
Ao aperfeiçoar o controle das baquetas com a caixa clara tam-
bém estaremos nos preparando para tocar outros instrumentos. Mas

34
Percussão

será preciso uma adaptação a cada situação particular. Muitas são


as formas de tocar e várias podem nos servir. É preciso desenvolver
a capacidade para julgar qual é a alternativa mais apropriada, de-
pendendo das condições e do objetivo musical. O melhor juiz será
sempre o seu ouvido.

2.3.3 Pandeiro

O pandeiro apresenta grandes desafios para os percussionistas.


Aparentemente trata-se de um instrumento simples, com uma pele
esticada em um aro e platinelas ao redor. No entanto, há muitas
possibilidades sonoras e técnicas que exigem bastante prática e
destreza.
Iremos explorar sons que o pandeiro produz para mais tarde
combiná-los em dois ritmos. Os livros listados na bibliografia que
está no Moodle expandem esse universo para incluir outros ritmos,
oferecendo também uma maior quantidade de variações dos exer-
cícios técnicos que veremos.
No primeiro contato com o instrumento, segure o pandeiro
com a mão esquerda - se você for canhoto, segure-o com a mão
direita - sem quebrar o pulso. Inicialmente teremos apenas dois
exercícios:

1) Com o dedão da mão que vai tocar o pandeiro, procure a maior


intensidade de som que conseguir produzir. Para isso, deixe a pele
vibrar por completo, sem abafá-la. O dedão deverá estar solto,

35
Daniel Gohn

tocando na borda da pele, enquanto a base do dedão ataca o aro do


pandeiro, conforme a foto abaixo:

Assista no Moodle ao vídeo desse exercício.

2) Com a mão em forma de concha, mas não muito fechada, alter-


ne toques do punho com toques das pontas dos dedos. Para que o
pulso se solte, esse exercício deve ser repetido muitas e muitas
vezes, em diversos andamentos. Comece com 60 bpm e depois au-
mente até 120 bpm, marcando no relógio quanto tempo você con-
segue suportar até que seus pulsos comecem a doer. No começo,
sentir um pouco de dor é normal. Portanto, não se assuste. Caso
isso aconteça, pare, alongue os pulsos conforme as figuras abaixo,

36
Percussão

e volte a praticar. Tente aumentar gradativamente os períodos de


estudo sem interrupção, para desenvolver a resistência muscular.

37
Daniel Gohn

Depois que esse movimento ficar mais confortável, o segundo


passo será movimentar o pandeiro com a mão esquerda, girando o
pulso para coordenar o instrumento com os toques da mão direita.
Assista no Moodle aos vídeos desse exercício.

2.4 Considerações finais

Nesta unidade, começamos com os exercícios com baquetas e


com o pandeiro. A partir desse momento, se você praticar um pou-
co todos os dias, essas ferramentas poderão estar à sua disposição
ao longo de sua carreira como educador. Pense nisso como força de
motivação e imagine como será proveitoso poder tocar os instru-
mentos que estamos vendo em vídeos e sempre escutamos em gra-
vações de áudio.
Os exercícios terão maior complexidade na próxima unidade,
com elementos que exigem mais coordenação entre as mãos. Por
isso, pratique bastante o que está sendo proposto agora para se
preparar bem rumo aos novos desafios.

38
Percussão

2.5 Atividades de aplicação, prática e


avaliação

2.5.1 Exercícios

Pratique os exercícios propostos nas seções 2.3.1 e 2.3.3. Man-


tenha a regularidade no seu estudo. É melhor reservar um período
diário mais curto do que esperar até o único dia da semana que você
terá totalmente livre. Tente dedicar no mínimo 30 min todos os dias
para o pandeiro e as baquetas. O relógio pode ser um grande aliado:
controle os minutos para cada atividade e não estude menos nos dias
em que estiver cansado. Estabeleça metas para os dias da sua sema-
na, planejando os períodos como desafios a cumprir.
Alguns dos movimentos que utilizamos exigem o desenvolvi-
mento de sua "memória muscular". Por isso, também funciona re-
petir os exercícios enquanto está realizando outra atividade, como
assistir a televisão ou conversar com amigos. Mas alterne esses
momentos com estudos completamente focados, nos quais sua aten-
ção fica direcionada apenas para o exercício. Correções não acon-
tecem de forma inconsciente. Você deve identificar problemas e
trabalhar para solucioná-los!

2.5.2 Moodle

Acesse o Moodle e contribua para montar um glossário de per-


cussão.

39
Daniel Gohn

2.6 Estudos complementares

A observação de outros músicos com a tentativa de emular


seus movimentos e obter suas sonoridades é uma prática bastante
comum na aprendizagem de qualquer instrumento musical. Apro-
veite todas as oportunidades para assistir a percussionistas ao vivo
ou em vídeos, sempre prestando atenção a detalhes técnicos: como
o músico segura as baquetas ou o pandeiro?; como ele movimenta
os pulsos para tocar os instrumentos?; a maneira de tocar muda de
acordo com o instrumento que está sendo tocado?
Compare diversos músicos e perceba que não existe uma úni-
ca forma de tocar instrumentos de percussão. É "emprestando" um
pouco de cada observação que usualmente conseguimos encontrar
nossos caminhos.

2.6.1 Saiba mais...

Pesquise mais sobre instrumentos de percussão nos seguintes sites:

<http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/didaticos_e_tematicos/
percussoes_do_brasil>
<http://www.percussionista.com.br/instrumentos.html>
<http://learningobjects.wesleyan.edu/vim>
<http://www.dancedrummer.com/museum.html>

40
Percussão

Unidade 3

Rudimentos e Samba no Pandeiro

41
Daniel Gohn

42
Percussão

3.1 Primeiras palavras

Na terceira unidade, vamos tornar os exercícios técnicos mais


complexos. Iremos aprender o que são os rudimentos e, com as
baquetas, começaremos a estudá-los. Com o pandeiro, vamos juntar
os dois exercícios da unidade anterior para tocar o ritmo de samba.
Nossos conteúdos serão sempre cumulativos, ou seja, embora
sua atenção deva estar mais voltada para as novidades, você deve
manter as práticas do que foi visto anteriormente. Por exemplo:
quando combinamos diferentes movimentos para executar um rit-
mo, é importante continuar a praticá-los separadamente, aperfei-
çoando as sonoridades obtidas em cada etapa.
Tenha paciência nesse início de atividades. A partir de agora,
estaremos preocupados também com a coordenação das mãos, e a
exigência de estudos vai aumentar. Sua musculatura irá se acostu-
mando aos poucos com os exercícios, principalmente naqueles com
o pandeiro, com o qual o objetivo deve ser sempre um avanço pro-
gressivo nos períodos de prática com o instrumento.

3.2 Problematizando o tema

Para tocar percussão, exploramos os diferentes sons que cada


instrumento produz e os usamos para criar ritmos. Em algumas situ-
ações, as sonoridades não dão origem a ritmos, mas a sensações ou
imitações de ruídos da natureza. Um exemplo desse caso é o pau-de-
chuva, que pode ser observado em um vídeo indicado no Moodle.
Mas, em grande parte do tempo, os instrumentos de percus-
são formam bases rítmicas sobre as quais outros instrumentos se
apoiam. Para que isso aconteça, temos de coordenar os diversos
sons disponíveis de maneira estruturada e musical. A palavra "coor-
denação" aparece com frequência nos estudos de percussão, pois é
preciso educar os movimentos de mãos e pés para obedecer a nos-
sos comandos.

43
Daniel Gohn

Como essa coordenação pode ser conquistada? Iremos lidar


com essa questão nesta unidade.

3.3 Texto básico para estudo

3.3.1 Rudimentos

Para tocar um ritmo em um instrumento musical, usualmente


precisamos de dois tipos de coordenação: a coordenação motora
para controlar a combinação entre os movimentos do lado esquerdo
e do lado direito do corpo; e uma coordenação "fina", que define as
sonoridades que são obtidas. Por exemplo: com o piano, muitas
vezes tocamos uma sequência harmônica com a mão esquerda,
enquanto a mão direita toca uma melodia. Os ritmos de cada mão
podem ser diferentes, e somente com a junção deles temos o resul-
tado que nos interessa. Além disso, para obter um bom som com as
teclas, é preciso articular bem cada nota que é tocada, exigindo
todo um processo que envolve movimentos bastante controlados
dos dedos do pianista.
Assim também acontece com a percussão. Quando usamos
baquetas para tocar qualquer instrumento, é preciso ter a coorde-
nação para usar as sequências apropriadas das mãos, e cada toque
deve ser controlado para que o som resultante seja exatamente
aquele desejado pelo percussionista. Vamos imaginar um bateris-
ta: suas mãos e seus pés tocam ritmos - como, por exemplo, col-
cheias com a mão direita, semínimas com a mão esquerda, semí-
nimas com o pé esquerdo, enquanto o pé direito toca algumas no-
tas, acompanhando uma frase da melodia da música -, e isso exige
uma forma de coordenação. Ao mesmo tempo, ele deverá ter a
coordenação "fina" para que cada toque nos pratos e nos tambores
soe bem, com a dinâmica correta e um ataque preciso.
Uma das estratégias para desenvolver esses dois tipos de co-
ordenação é o estudo dos rudimentos. Chamamos de "rudimentos"

44
Percussão

uma série de exercícios que foram criados para tocar com baquetas.
A Percussion Arts Society - Sociedade das Artes Percussivas, em
Português -, organização surgida nos Estados Unidos em 1961, for-
mulou um documento com 40 rudimentos que é amplamente utiliza-
do no mundo todo como referência para a aprendizagem da técnica
de baquetas. Visite a página web da PAS na Internet: <http://
www.pas.org/Resources/rudiments.cfm>. Esses exercícios estão
listados lá.
Você pode ver o documento on-line, mas não deixe de fazer o
download do arquivo em formato .pdf e imprimi-lo. Também é pos-
sível ouvir gravações de todos os exercícios. Lembre-se de que as
informações no website da PAS estão em inglês. Portanto, as letras
"R" e "L" - right e left, respectivamente - que estão embaixo das
figuras rítmicas referem-se, respectivamente, a "direita" e "es-
querda" em Português, indicando qual mão deve tocar o instrumen-
to para a realização do exercício.
Nesta unidade, iremos praticar o exercício 16, denominado
paraddidles:

Temos uma sequência para tocar com as mãos, começando


com a direita, depois esquerda, direita e direita; em seguida, in-
vertemos, começando com a esquerda, depois direita, esquerda e
esquerda. Perceba que a primeira nota de cada série de quatro
semicolcheias é acentuada, o que é indicado pelo sinal (>). Por isso,
essas notas devem ser tocadas bem mais fortes; já as outras são
tocadas bem mais fracas.
Nesse exercício, desenvolvemos os dois tipos de coordenação
que foram mencionados antes, pois temos de prestar atenção aos
seguintes elementos:

45
Daniel Gohn

 A sequência das mãos deve ser memorizada. No início, você


pode praticar com a partitura, mas deve tentar não olhar sempre
que for possível. Provavelmente não será difícil decorar o exercí-
cio, e, em pouco tempo, você não precisará manter sua concentra-
ção nisso, pois terá automatizado o processo;
 As notas marcadas com o acento - direita-esquerda-direita-di-
reita-esquerda-direita-esquerda-esquerda - devem ser tocadas
sempre com a mesma intensidade, forte. As notas não acentuadas
- sem negrito - devem ser tocadas piano, sem variações no anda-
mento.

O paraddidles, assim como outros rudimentos, pode ser prati-


cado de duas formas. Podemos começar lentamente e acelerar ou
podemos manter um andamento constante. Na gravação disponível
na página da PAS, está exemplificado o primeiro caso, alterando o
andamento, mas você deve praticar sempre com andamentos cons-
tantes para que o controle de cada toque seja o maior possível.
Assista ao vídeo do paraddidles no Moodle, com exemplos em
40 bpm e 60 bpm.
Repare que as baquetas são bastante levantadas para tocar as
notas acentuadas e ficam baixas para executar as notas fracas.
Esse controle será o seu maior desafio, pois a tendência da maioria
dos estudantes iniciantes é tocar o exercício inteiro forte, sem o
contraste necessário para destacar as figuras acentuadas. Procure
exagerar esse contraste ao máximo, praticando bem lento no iní-
cio, sem usar o metrônomo. Depois siga as orientações que estão
mais adiante, na seção 3.5.1.
Outra dificuldade comum é manter a sequência sem variações
de tempo entre as notas. Ao repetir as mãos, antes de cada nota
acentuada, enfrentamos uma questão técnica. Temos de soltar o
pulso, porque o mantendo travado não será possível tocar essas
notas de forma satisfatória. Tente não mover seus antebraços e
sempre articule bem os pulsos. Observe o vídeo que mostra o
paraddidles com atenção.

46
Percussão

No início, memorize o exercício e, logo em seguida, preocu-


pe-se em aperfeiçoar os detalhes de cada movimento. Esse contro-
le entre o forte e o fraco será muito útil para tocar qualquer instru-
mento de percussão. Mas saiba que a coordenação "fina" demora a
aparecer. Normalmente, desenvolver técnica para tocar o paraddidles
como está nas gravações exige muito tempo de prática. Não espere
que, em apenas uma semana, você seja capaz de fazer o mesmo.
Para os fins da nossa disciplina, não há uma expectativa de que
isso aconteça. Memorize o exercício e procure manter as notas acen-
tuadas e não acentuadas constantes, levantando as baquetas sem-
pre na mesma altura.

3.3.2 Samba no pandeiro

Os exercícios com o pandeiro que vimos na Unidade 2 apre-


sentam desafios que continuarão nos nossos próximos passos. A
mão que segura o instrumento novamente tem movimentos de tor-
ção do pulso, coordenados com a mão que o toca, exigindo adapta-
ções e ajustes constantes. Nesta unidade, iremos combinar os dois
exercícios vistos para tocar o ritmo de samba.
Primeiramente, vamos explorar mais possibilidades sonoras.
Assim como já tocamos a pele completamente solta, deixando-a
vibrar - o som "aberto" -, também podemos abafá-la, usando o
dedo médio da mão que segura o instrumento - o som "fechado".
Tente alternar toques abertos e fechados, extraindo a intensidade
máxima que conseguir. Assista no Moodle ao vídeo e preste atenção
ao movimento dos dedos da mão esquerda, abafando e soltando a
parte de baixo da pele.

47
Daniel Gohn

Em seguida, o espaço entre esses sons abertos e fechados


deve ser preenchido com o movimento de toques do punho alterna-
do com toques das pontas dos dedos. Dessa forma, teremos o ritmo
de samba. É comum encontrar a seguinte notação gráfica para esse

48
Percussão

exercício, em que o sinal (+) representa o som fechado, o sinal (o)


representa o som aberto, (P) significa polegar, (d) significa dedos e
(p) significa punho:

Há outras formas usadas para representar esse ritmo. Por


exemplo: em alguns livros da nossa bibliografia, temos a seguinte
formatação:

sendo que:

Som aberto com o polegar =

Som fechado com o polegar =

Ponta dos dedos =

Punho =

Comece praticando com andamentos bem lentos. Lembre-se


de que seus músculos irão se acostumar com os movimentos neces-
sários, mas até que isso aconteça é preciso ter paciência e respei-

49
Daniel Gohn

tar os limites do desgaste físico. Mantenha intervalos curtos entre


cada sessão de prática, marcando no relógio quanto tempo você
consegue tocar antes que seus pulsos comecem a "travar". Um an-
damento razoável no início é 50 bpm. Mais lento do que isso, os
toques podem ficar desconexos, e a sequência se torna mais difícil.
Quando sentir que seus pulsos estão mais soltos, tente aumentar a
marcação no metrônomo, chegando gradualmente, se possível, até
100 bpm.
Quando tocar com o punho e com a ponta dos dedos, tente
fazer soar mais as platinelas do que a pele. As notas tocadas com o
polegar devem tirar mais som da pele, imitando o papel de um
surdo de escola de samba. Diferentes acentuações e variações po-
dem ser colocadas no ritmo, como veremos nas unidades seguin-
tes. Todos esses movimentos devem ser usados buscando a sonori-
dade característica do samba sem que as semicolcheias soem como
se fossem programadas em uma bateria eletrônica.
Assista no Moodle ao vídeo que mostra o samba no pandeiro.

3.4 Considerações finais

Nesta unidade, trabalhamos com dois conceitos muito impor-


tantes: dinâmica e ritmo. Preste atenção aos detalhes quando pra-
ticar os exercícios, sempre buscando aperfeiçoar esses elementos.
Ao executar o paradiddles com as baquetas, algumas notas
devem ser acentuadas, enquanto as demais devem ser tocadas com
menos intensidade. Nesse momento, a decisão sobre o que é forte
e o que é piano deverá considerar a sua capacidade de extensão
dinâmica para tocar de forma controlada. Portanto, as notas não
acentuadas deverão ser tocadas com movimentos bem curtos das
baquetas, produzindo sons com pouca intensidade - mas é comum
que o controle para esses movimentos demore a surgir.
As notas acentuadas, por sua vez, devem provocar movimen-
tos longos, em que os pulsos levantam as baquetas ao máximo que
você puder. No início, usualmente as notas tocadas logo após a nota

50
Percussão

acentuada acabam sendo mais fortes também, porque é difícil iso-


lar apenas um movimento para que seja longo em meio a vários
outros movimentos mais curtos. Com o tempo, mantendo a regula-
ridade com os exercícios, será cada vez mais fácil evidenciar ape-
nas a nota acentuada.
Tocando samba no pandeiro, seu foco deverá estar voltado não
somente para a qualidade individual dos sons, mas também para a
relação entre eles na construção do ritmo. Para que as notas soem
como samba é preciso executá-las de forma articulada e com a gin-
ga-típica dos sambistas. Esse objetivo só poderá ser alcançado quando
você perceber as diferenças entre um ritmo "duro" e outro "swingado".
Escute muita música dentro do estilo, com artistas como Chico
Buarque, Paulinho da Viola e Beth Carvalho, assim como gravações
de baterias de escolas de samba. Todas as variações existentes po-
derão enriquecer a sua apreciação e percepção musical.

3.5 Atividades de aplicação, prática e


avaliação

3.5.1 Exercícios

Pratique os exercícios propostos nas seções 3.3.1 e 3.3.2. Di-


vida o tempo que tiver disponível entre o estudo com baquetas e
com o pandeiro, procurando equilibrar o avanço nos dois casos.
Tente manter um controle dos minutos dedicados para as ativida-
des e estabeleça metas de acordo com a sua disponibilidade de
tempo para cada dia da semana.
Preste bastante atenção à qualidade do som que está produ-
zindo. Com as baquetas, lembre-se do movimento chicote que men-
cionamos na Unidade 2. Seja na caixa clara ou no pad de estudo,
cada toque deve resultar em um único som, claro e articulado, sem
o efeito de buzz, que ocorrerá se as baquetas forem pressionadas
contra a superfície tocada.

51
Daniel Gohn

Com o pandeiro, procure deixar o som das platinelas bem de-


finido. Sempre que possível, pratique também acompanhando gra-
vações, pois essa será a melhor forma de aperfeiçoar o ritmo de
samba. No início, use músicas de bossa nova, pois o andamento
mais lento tornará a tarefa mais fácil.

3.5.2 Moodle

A partir desse ponto, no final de cada unidade, você deverá


produzir vídeos para demonstrar o seu progresso com os exercícios
programados. Para saber como gravar e postar esses vídeos, acesse
o Moodle.

3.6 Estudos complementares

A aplicação ideal para todos os exercícios práticos que temos


nesta disciplina é tocar com outros músicos. Essa é a melhor forma
para avançar com os instrumentos de percussão e consequentemente
para capacitar-se como educador musical. Se possível, pratique com
seus colegas, tentando moldar os conteúdos vistos às músicas que
eles tocam.
Um exemplo simples de estudo conjunto seria: a partir de uma
melodia de choro tocada na flauta ou no violão, dois alunos tocam
percussão. O primeiro faz a marcação de um surdo, com uma nota
abafada no primeiro tempo e outra aberta no segundo; o segundo
toca pandeiro com o ritmo que vimos nesta unidade. A combinação
desses ritmos é a seguinte:

52
Percussão

Pandeiro

Surdo

Assista no Moodle ao vídeo que mostra a parte do surdo com a


mão esquerda - para quem é destro - abafando a pele na primeira
nota e soltado-a para vibrar livremente na segunda. No final, algu-
mas variações são demonstradas.

53
Daniel Gohn

3.6.1 Saiba mais...

Você já visitou a página de rudimentos da Percussion Arts


Society na Internet. Agora, explore o resto do website <http://
www.pas.org>. Lá você encontrará vídeos, artigos com exemplos
sonoros, entre vários outros conteúdos que podem ser acessados
gratuitamente. Parte da página é restrita a membros da sociedade.
Assista também aos vídeos disponíveis em <http://
www.pandeiro.com/videos.php>. São vídeos curtos, mas que de-
monstram o estilo de alguns excelentes pandeiristas brasileiros.

3.6.2 Outras referências

Nos livros indicados na nossa bibliografia, você encontrará uma


série de exercícios para aprofundar tudo que estamos vendo na dis-
ciplina. Lembre-se de que a bibliografia da disciplina está sempre
disponível no Moodle. Procure folhear esses livros, mesmo que não
tenha tempo para experimentar suas propostas no momento atual. É
importante que futuramente você saiba quais serão os próximos pas-
sos para continuar a se desenvolver no mundo da percussão.

3.7 Referências bibliográficas

Consulte a bibliografia da disciplina disponível no Moodle.

54
Percussão

Unidade 4

A percussão como
ferramenta educacional

55
Daniel Gohn

56
Percussão

4.1 Primeiras palavras

Na quarta unidade, vamos dar continuidade aos exercícios com


baquetas e com o pandeiro, assim como também iremos situar es-
sas práticas quanto à sua aplicabilidade na Educação Musical.

4.2 Problematizando o tema

Para o professor de música, qual é a utilidade de ter conheci-


mentos na área de percussão, além de poder ensinar a tocar os
instrumentos? Quais são os conceitos da música que podem ser
demonstrados a partir da percussão? Para que serve a habilidade de
tocar com baquetas? Ou de tocar o pandeiro? Quais são as ativida-
des que o professor poderá realizar com tais habilidades?
Ao estudar essa unidade, vamos procurar respostas para es-
sas perguntas.

4.3 Texto básico para estudo

4.3.1 Aplicações da percussão na Educação Musical

É essencial realizar reflexões sobre todas as etapas na forma-


ção de um educador musical, ponderando sobre a aplicação futura
de cada uma das atividades. Alguns elementos são antecipações
claras das situações que provavelmente serão encontradas em sua
trajetória profissional; já outros servem como exercícios na for-
mação do ser humano, o que certamente irá contribuir para uma
melhora na sua vida como professor.

57
Daniel Gohn

Muitas propostas que estamos estudando na percussão estão


relacionadas às demais disciplinas do curso, pois servem como com-
plemento para o trabalho com conceitos da música e possibilitam
que o professor esteja envolvido em performances com seus alu-
nos. Por exemplo: se o repertório de músicas estudadas incluir rit-
mos de samba ou baião, o pandeiro poderá ser usado como acom-
panhamento, servindo como referência para indicações de anda-
mento e dinâmica.
A demonstração de conceitos relacionados a andamento e di-
nâmica também acontece com a caixa clara. Para trabalhar com o
assunto "andamento", o professor que sabe utilizar baquetas pode
tocar figuras rítmicas, primeiro "correndo", ou seja, sempre adian-
tando a colocação das notas; e depois "atrasando", deixando o rit-
mo um pouco atrás de cada tempo. Por último, o professor pode
tocar exatamente com a marcação, procurando soar como uma
máquina. São diferenças sutis, que geralmente são percebidas so-
mente com uma referência, por exemplo, com a marcação de um
metrônomo.
Assista no Moodle ao vídeo que mostra essas variações na
colocação das notas em relação ao metrônomo.
Quando essas formas de tocar são usadas sem exageros, man-
tendo um padrão em relação ao metrônomo, poderão ser válidas e
úteis para determinados momentos. Por exemplo: o frevo usual-
mente é tocado com a sensação de que pode "correr", pois deve
soar "para frente". É um tipo de música que exibe muita energia e
não pode ficar desanimado. No entanto, uma balada bem lenta pode
soar tão "relaxada" que temos a impressão de que irá "atrasar" em
relação à marcação do metrônomo.
Embora o objetivo de todo instrumentista seja tocar sem va-
riações nos andamentos durante a performance, a menos que isso
seja exigido pela música, é importante saber que a colocação rít-
mica das notas musicais não obedece a matemáticas perfeitas.
Conforme foi comentado na Unidade 1, o samba é um caso em que
usualmente as variações rítmicas são essenciais, diferenciando a
musicalidade humana das programações que podem ser feitas em
baterias eletrônicas.

58
Percussão

Tais exemplos, depois de compreendidos pelo professor, ser-


virão como auxílio para o ensino da percepção musical, assim como
para o trabalho com diferentes ritmos. A caixa clara - ou uma mar-
cação simples tocada na bateria - torna evidente a colocação de
notas, mostrando a associação entre cada movimento e o som pro-
duzido. Da mesma forma, a caixa clara pode demonstrar extremos
de dinâmica, passando rapidamente do piano para o fortíssimo.
A percussão também serve como ferramenta para atividades
de improvisação e composição em outras disciplinas. Nas aulas em
que a criação musical é estimulada, a técnica para tocar com baquetas
e com as mãos poderá ser útil no uso de objetos sonoros diversos,
ajudando a explorar as suas possibilidades e a improvisar com as
diferentes sonoridades obtidas. Examine os instrumentos que você
e seus colegas produziram na disciplina Construção de instrumen-
tos e observe se as técnicas que está estudando agora irão contri-
buir para tocar algum deles. Analise também as atividades da disci-
plina Vivências em Educação Musical e procure identificar usos da
percussão.
Além disso, com os recursos tecnológicos disponíveis para o
educador musical na atualidade, é possível elaborar materiais didá-
ticos incluindo gravações, e a habilidade para adicionar acompa-
nhamentos de percussão abre um vasto leque de alternativas para
esse trabalho. Os conhecimentos sobre instrumentos de percussão
possibilitam tocar e gravar partes simples ou produzir arranjos em
programas que dispõem de sons sintetizados ou pregravados.
Nas atividades desta unidade, você será convidado a pensar
em situações educacionais em que a percussão é utilizada, contri-
buindo para processos de formação musical.

4.3.2 Rudimentos

Na Unidade 2, estudamos o primeiro rudimento, o toque sim-


ples, que, em Inglês, é chamado de single stroke roll, conforme
você pode conferir no website da PAS. Em Português, esse rudimen-

59
Daniel Gohn

to também é chamado de "1 e 1", pois há apenas um toque de cada


mão. Nesta unidade, vamos praticar um exercício com o "2 e 2",
que, como o nome indica, sempre tem uma repetição nas mãos que
tocam, formando um fluxo contínuo entre direita-direita-esquerda-
esquerda.
Quando aceleramos o "2 e 2", com cada movimento do pulso
acontecem dois toques de cada baqueta, produzindo o toque duplo
ou "papa mama", que, na língua inglesa, é conhecido como double
stroke open roll. Veja na lista de rudimentos da PAS como pode ser
a sua representação gráfica - é o número 6. Não vamos chegar
nesse ponto, pois nossos andamentos serão lentos, e cada nota
será articulada separadamente. Mais tarde, você poderá tentar ace-
lerar o exercício. Assista no Moodle ao vídeo que mostra o toque
duplo, demonstrando como dois sons são obtidos com um único
movimento de cada mão.
Por enquanto, vamos usar o "2 e 2" para tocar o seguinte exemplo:

Para deixar o exercício mais interessante, vamos trabalhar


com a dinâmica, sempre intercalando entre quatro tempos piano e
quatro tempos forte. Dessa forma, teremos semínimas (piano),
depois colcheias (forte), depois semicolcheias (piano), e, na repe-
tição, tudo se inverte: semínimas (forte), depois colcheias (piano),
depois semicolcheias (forte).
A mudança constante das dinâmicas exigirá sua concentra-
ção, mas não deixe de prestar atenção aos movimentos dos pulsos.
Com a repetição das mãos, em andamentos mais rápidos, cuidado
para não "travar" os braços e começar a movimentar os cotovelos.
Lembre-se de que seus pulsos devem fazer a maior parte do servi-
ço. Comece com uma marcação do metrônomo em 70 bpm, depois
tente chegar até 100 bpm.

60
Percussão

Assista no Moodle ao vídeo desse exercício, com as variações


de dinâmica, nos dois andamentos indicados.

4.3.3 Samba no pandeiro

A partir do mesmo ritmo praticado na unidade anterior, vamos


usar mais uma possibilidade sonora do pandeiro para tocar samba.
Agora vamos adicionar um tapa, tocando com a mão aberta no cen-
tro da pele, produzindo um som curto e seco. Esse recurso pode ser
colocado em vários momentos do ritmo, mas, no exercício abaixo,
ele surge sempre antes do som aberto, que é tocado com o polegar.
O sinal (+) representa o som fechado, o sinal (o) representa o som
aberto, (d) significa dedos, (p) significa punho, e (t) significa tapa:

O tapa surge como um ponto de exclamação para acentuar


alguns momentos do ritmo. Ele não precisa ser usado sempre no
mesmo ponto, como está acima - esse é apenas um exercício para
que você possa se familiarizar com o movimento.
Assista no Moodle ao vídeo que demonstra o exercício.

4.4 Considerações finais

Nesta unidade, continuamos nossa jornada para aperfeiçoar


habilidades com instrumentos de percussão. Além disso, também
estamos estabelecendo relações entre nossas atividades e as tare-
fas que futuramente poderão fazer parte do seu trabalho como edu-
cador musical. Tivemos um exemplo, em um exercício de baquetas

61
Daniel Gohn

com o objetivo de desenvolver o "2 e 2", de como a dinâmica pode


ser incluída como elemento adicional: basta uma sequência na qual
compassos para tocar piano e forte sejam alternados.
Pensar em situações que envolvem elementos musicais e não
meramente mecânicos é muito importante para dar sentido ao apren-
dizado. Mesmo quando estamos praticando em um pad de estudos,
que não oferece muitas possibilidades sonoras, ainda temos como
fazer música, trabalhando com motivos rítmicos e variações de di-
nâmica.
Durante a aprendizagem de um instrumento musical, em al-
guns momentos, é preciso repetir determinados exercícios várias
vezes, para que o corpo se acostume com certos movimentos e
técnicas específicas sejam desenvolvidas. Dito isso, é essencial
que o objetivo do estudo seja sempre a música e que exista como
resultado algum tipo de produção musical.
Portanto, quando tiver oportunidades, não deixe de aplicar o
que você está aprendendo. Se participar de práticas de grupo, leve
o pandeiro e as baquetas e tente interagir com os outros músicos,
ainda que com figuras rítmicas bem simples. Ao estudar os ritmos
da Percepção e notação musical, após bater palmas e cantar, como
foi proposto naquela disciplina, experimente tocar com as baquetas
em superfícies variadas, buscando combinações diferentes. Quan-
do um colega praticar melodias na flauta doce, se ofereça para
tocar algum tipo de marcação com o pandeiro. Use todas as chances
que tiver para fazer música com os instrumentos de percussão,
pensando em contrastes de sonoridades, dinâmicas, tempos, melo-
dias e harmonias.

62
Percussão

4.5 Atividades de aplicação, prática e


avaliação

4.5.1 Exercícios

Pratique os exercícios propostos nas seções 4.3.2 e 4.3.3.


Com as baquetas, exagere nas dinâmicas: faça com que as
notas tocadas piano sejam bem diferentes daquelas tocadas forte.
Perceba que, ao acelerar o andamento, provavelmente essa dife-
rença tenderá a diminuir. Não deixe isso acontecer e mantenha a
sua concentração na precisão do exercício, buscando consistência
em todos os toques.
Com o pandeiro, procure ir soltando os pulsos, sempre aju-
dando com a mão que segura o instrumento. É com a coordenação
dos movimentos de ambas as mãos que o som das platinelas ficará
mais forte.

4.5.2 Moodle

Na quarta unidade, teremos duas atividades no Moodle. Pri-


meiramente, participe do fórum, discutindo com seus colegas a
questão proposta.
Na sequência, você deverá produzir e postar seu vídeo com os
exercícios desta unidade. Essa é a melhor forma de demonstrar seu
progresso. Caso algum problema seja constatado, poderemos prestar
um auxílio mais efetivo.
Lembre-se de que o fórum de dúvidas está sempre aberto para
qualquer questão.

63
Daniel Gohn

4.6 Estudos complementares

Na disciplina Introdução aos métodos, técnicas e fundamen-


tos em Educação Musical, você estudou a proposta educativa de
Carl Orff. Esse educador é de grande interesse para nossa discipli-
na, pois, com o instrumental Orff, instrumentos de percussão são
usados como ferramentas importantes na Educação Musical. Para
aprender mais, leia o trecho do livro De tramas e fios, que trata
sobre esse assunto (cf. p. 145-51). Para visualizar o livro, acesse o
site <http://books.google.com> e digite "Tramas e fios" ou utilize
o seguinte endereço eletrônico:

<http://books.google.com/books?id=OvaAWfeAbCYC&printsec=
frontcover&dq=tramas+e+fios&lr=&hl=pt-BR>

4.6.1 Saiba mais...

Assista aos vídeos do YouTube indicados no Moodle. Eles ser-


virão como exemplos de percussionistas improvisando de forma
muito musical.

64
Percussão

Unidade 5

Peça para caixa clara e baião no pandeiro

65
Daniel Gohn

66
Percussão

5.1 Primeiras palavras

Chegamos à Unidade 5 e vamos concluir a disciplina sobre


percussão. Esse é o início de uma trajetória que não termina aqui,
pois você pode continuar a estudar percussão, aprofundando seus
conhecimentos e aprimorando as técnicas que já desenvolveu. Es-
pero que todas as palavras de incentivo colocadas durante o curso
venham apenas reforçar a sua decisão de seguir com o investimen-
to neste sentido.
Afinal, conforme o que afirmamos desde o princípio, no de-
correr da disciplina, não há tempo suficiente para dominar um ins-
trumento musical, seja o pandeiro ou a técnica para tocar com
baquetas. Estamos tendo uma introdução no assunto, discutindo
como podemos usar a percussão em processos de Educação Musi-
cal, mas esforços posteriores serão necessários para ampliar os
resultados obtidos.
Nesta unidade, vamos dar um fechamento ao que vimos ao
mesmo tempo deixando em aberto o caminho para novos passos.
Com as baquetas, teremos nossa primeira peça para caixa clara,
curta e simples, mas que coloca sentido musical nos exercícios que
já praticamos. Com o pandeiro, embora seja cedo para tentar rit-
mos complexos, você deve estar ciente de algumas das possibilida-
des que existem, observando músicos experientes e buscando ne-
les a inspiração para o nosso objetivo principal: a música.

5.2 Problematizando o tema

Nas considerações finais da Unidade 4 (item 4.4), foi declara-


do que é possível fazer música com o seu pad de estudo, trabalhan-
do com motivos rítmicos e variações de dinâmica. Como podemos
realizar esse objetivo com o que estudamos até esse momento?

67
Daniel Gohn

E com o pandeiro, como são tocados outros ritmos, além do


samba?
Iremos lidar com essas questões a seguir.

5.3 Texto básico para estudo

5.3.1 Peça para caixa clara

Na Unidade 5, vamos combinar os exercícios das unidades


anteriores para tocar uma peça para caixa clara. Você pode praticar
no pad de estudo, mas experimente também tocar na caixa para
que as dinâmicas possam soar bem destacadas. Assim como nas
atividades das outras unidades, a repetição é muito importante.
Não pense que, após conseguir chegar até o final da peça, o traba-
lho estará concluído. É preciso que a execução seja refinada, lapi-
dada, buscando aprimorar cada toque e tornar sua performance
mais expressiva.
Você deverá prestar atenção aos seguintes aspectos:

 A indicação de mãos para cada toque deve ser respeitada. Sem


isso, o exercício não tem sentido. Portanto, sempre que uma nota
for marcada com a letra (d), deverá ser tocada com a direita; quan-
do a marcação for (e), a esquerda entra em ação;
 As dinâmicas indicadas valem até que outra marcação apareça.
Ou seja, como a peça começa com (f), todas as notas deve ser
tocadas forte até que a indicação (p) apareça. A partir daquele pon-
to, todas as notas devem ser tocadas piano com exceção daquelas
marcadas com acento (>). As notas acentuadas deverão ser tocadas
forte e bem destacadas das outras, que continuam piano. Isso irá
mudar somente quando outra indicação (f) surgir, no terceiro com-
passo;

68
Percussão

 No final, temos uma indicação de crescendo ( ). E sse


trecho será um desafio, pois cada toque deverá ser gradualmente
mais forte do que o anterior. Perceba que o início da frase deve ser
tocado piano e o final é forte. Tente fazer a transição entre esses
dois pontos da maneira mais uniforme que for possível;
 É importante que o tempo seja mantido constante na totalidade
da peça. Não toque mais rápido quando tiver de tocar forte e nem
mais lento nos trechos marcados piano. Se possível, pratique sem-
pre com o auxílio de um metrônomo.
No Moodle, assista ao vídeo que mostra a peça para caixa
clara e faça o download dessa partitura.
Peça para caixa clara:

69
Daniel Gohn

5.3.2 Baião no pandeiro

Nas unidades anteriores, tivemos nossos primeiros contatos


com o pandeiro, realizando exercícios com o objetivo de tocar o
ritmo de samba. Vários outros ritmos também podem ser tocados,
incluindo funk, maracatu, afoxé e baião, usando diferentes acentu-
ações e combinações dos movimentos que já estudamos. Nos livros
da nossa bibliografia indicada no Moodle, você encontrará exercíci-
os para desenvolver esses ritmos e, nos vídeos indicados nesta
unidade, é possível constatar a complexidade da linguagem moder-
na do pandeiro, abrindo um vasto campo de possibilidades a ser
explorado.
Como passo seguinte no estudo do instrumento, iremos prati-
car uma das possíveis variações do ritmo baião. Para isso, vamos
retornar ao exercício inicial da Unidade 2, mantendo a mão que
toca o pandeiro semicurvada e alternando toques do punho com
toques de ponta dos dedos, enquanto a mão que segura o instru-
mento acompanha esses movimentos com leves torções do pulso.
Como novidade, iremos adicionar uma acentuação na quarta nota
do exercício com a ponta dos dedos, seguido de quatro notas sem
nenhuma acentuação:

A mão que segura o instrumento também contribui para a


acentuação, empurrando o pandeiro mais velozmente ao encontro
dos dedos. No entanto, isso não pode gerar variações no tempo,
que deve ser mantido constante. Comece a praticar com uma mar-
cação de 60 bpm no metrônomo e depois tente acelerar caso esse
andamento fique confortável.

70
Percussão

Quando conseguir a acentuação da quarta nota, adicione um


toque aberto com o polegar na primeira nota do exercício. Dessa
forma, fica caracterizada uma célula rítmica que é típica do baião:

Assista no Moodle ao vídeo que mostra a sequência do exercí-


cio proposto, primeiramente só com a acentuação da quarta nota e
depois completo com o toque do polegar.
Quando conseguir tocar o baião, experimente cantar Asa branca
enquanto pratica, buscando firmeza na relação entre voz e mãos. A
concentração na melodia, simultânea aos deslocamentos de acen-
tuação no pandeiro, será mais um desafio.

5.4 Considerações finais

Na Unidade 5, juntamos exercícios que praticamos anterior-


mente para construir uma peça para caixa clara, usando rudimen-
tos. Rudimentos são como palavras, pois quando são combinados
formam frases, expondo ideias de forma suave ou agressiva, fa-
zendo perguntas e dando respostas, buscando um discurso musical.
Durante as oito semanas desta disciplina, estudamos algumas pala-
vras e podemos construir frases simples, como aquelas da peça que
foi proposta. Esse vocabulário ainda é pequeno se comparado ao
número de rudimentos que existem, conforme pode ser observado
no website da Percussion Arts Society. É importante compreender a
dimensão do que fizemos dentro de uma vasta realidade de estilos,
instrumentos e técnicas da percussão.

71
Daniel Gohn

Nosso objetivo é aprender os princípios da técnica de baquetas,


aproveitando ao máximo o tempo disponível. O estudo completo e
aprofundado de todos os rudimentos é um dever particular dos
percussionistas, mas nada impede que todos os outros interessa-
dos sigam estudando para expandir seus vocabulários.
No entanto, antes de partir para mais exercícios, você deve
dar consistência ao que praticou nas últimas semanas, já que não
houve tempo suficiente para maturação. Tivemos um programa in-
tenso com diversos conteúdos, e os resultados obtidos até o pre-
sente momento podem ser aprimorados no futuro.
Com o pandeiro ocorre o mesmo, já que se trata de um instru-
mento difícil. Para dominá-lo, é preciso muito mais do que poucas
semanas. Mas, assim como andar de bicicleta, depois de aprender
a tocar o samba, você terá uma habilidade para o resto da vida. É
necessário sempre praticar, mas o período inicial é o que requer um
esforço maior. Também estamos estudando o baião, que é o segun-
do passo a firmar. A técnica para tocar esse dois ritmos vai ajudá-
lo a lidar com outros, baseados em recombinações e variações dos
toques que vimos.
Quando esse módulo terminar, você terá muitos conteúdos para
estudar nas disciplinas que darão continuidade ao curso. Ainda as-
sim, procure manter contato com o pandeiro e com as baquetas.
Várias situações para utilizar o que aprendemos certamente irão
surgir ao longo das suas atividades. Aproveite cada oportunidade
para solidificar seus conhecimentos e habilidades com a percussão,
pois tal ação será um investimento importante na sua formação
como educador musical.

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Percussão

5.5 Atividades de aplicação, prática e


avaliação

5.5.1 Exercícios

Pratique os exercícios propostos nas seções 5.3.1 e 5.3.2.

5.5.2 Moodle

Teremos duas atividades no Moodle. Primeiramente, envie o


seu vídeo, tocando a peça para caixa clara e o ritmo de baião no
pandeiro. Preste atenção a tudo que foi colocado ao longo desta
unidade.
Em seguida, leia a introdução do livro Auto-aprendizagem
musical: alternativas tecnológicas (cf. p. 13-22), que apresenta uma
pesquisa sobre o uso de mediações tecnológicas para a aprendiza-
gem de percussão. Procure identificar trechos que estejam relacio-
nados à sua participação na nossa disciplina, expondo sua opinião
no fórum. A tarefa será debater com seus colegas sobre o estudo de
instrumentos musicais por meio de um ambiente virtual, indicando
pontos positivos e negativos na sua experiência.
Para visualizar o livro, acesse o site http://books.google.com
e digite "Gohn" ou use o seguinte endereço eletrônico:
<http://books.google.com/books?id=mMeNpOojrYC&printsec=
frontcover&dq=gohn&lr=&hl=pt-BR>

5.5.3 Avaliação presencial

Ao final desta unidade, teremos uma avaliação presencial.


Obtenha mais informações com seu tutor.

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Daniel Gohn

5.6 Estudos complementares

Assim como na Unidade 3, quando foi proposta uma prática de


grupo de pandeiro com o surdo, também nesta unidade outro ins-
trumento poderá nos ser útil: o triângulo. Esse instrumento pode
ser usado para acompanhar o ritmo de baião que estudamos, tor-
nando-se mais uma ferramenta leve e compacta para atividades
educacionais.
Portanto, como estudo complementar, procure o triângulo nos
equipamentos do seu pólo e pratique o padrão rítmico abaixo. Lem-
bre-se de que o sinal (+) indica som fechado e o sinal (o) indica som
aberto:

Triângulo

Para obter os sons fechados, use os dedos da mão que segura


o triângulo para abafar o instrumento, abrindo-os pouco antes de
tocar a nota que deve soar aberta. Os movimentos da baqueta são
verticais, tendo a nota aberta na parte de baixo do triângulo. Assis-
ta no Moodle ao vídeo que demonstra esse padrão rítmico.

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Percussão

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Daniel Gohn

5.6.1 Saiba mais...

Assista aos vídeos de Marcos Suzano tocando pandeiro que


estão indicados no Moodle. Você terá exemplos da linguagem mo-
derna do instrumento com um músico de excelente técnica e que
mistura vários ritmos. Tais vídeos são demonstrações das comple-
xas possibilidades sonoras do pandeiro e não devem ser encarados
como objetivos de curto prazo.

5.6.2 Outras referências

O seguinte livro serve como referência importante:

FRUNGILLO, M. D. Dicionário de percussão. São Paulo: Editora da Unesp/


Imprensa Oficial do Estado, 2003.

Procure esse título na biblioteca do seu pólo ou em livrarias de


sua cidade. Folheando suas páginas, provavelmente você aprende-
rá sobre muitas questões relacionadas à percussão. Sempre que
possível, busque experiências práticas com instrumentos, especi-
almente aqueles disponíveis no seu pólo, como os xilofones Orff.
Mantenha seu interesse vivo e continue seu caminho no universo
da percussão!

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Percussão

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Daniel Gohn

Departamento de Produção Gráfica - UFSCar


Universidade Federal de São Carlos
Rodovia Washington Luís, km 235
13.565-905 - São Carlos - São Paulo - Brasil
Tel.: (16) 3351 8136

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