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Fracasso da Vida Urbana?

O COVID-19 se revelou um emblema para a sociedade pós-moderna e urbanista. Já estávamos


cansados de ouvir na televisão que este século é o das cidades, da vida urbana, da metrópole, o
êxodo rural acabaria porque quase todos viveriam nas cidades em todo o mundo. Mas o que está
acontecendo hoje no mesmo mundo urbano dos analistas urbanistas, é o inverso, se por um lado a
sociedade abandonou a vida no campo como partícipe da civilização, por outro lado, a vida urbana
está se mostrando frágil de diversas maneiras: Não é capaz de dar empregos para todos, não é capaz
de sustentar a todos, não possui espaços para todos, é cara, é burguesa e elitista porque somente os
que já vivem nela possui preferência. O Covid-19, no entanto, está mostrando a força que é o campo
para as sociedades, em essência, um refúgio para a vida e para a saúde.
Na vida urbana todos vivem colados uns nos outros compartilhando o mesmo espaço, os mesmos
lugares, os mesmos ambientes, as mesmas vias, os mesmos mercados. As cidades são panelas de
pressão do ponto de vista das doenças e para as diversas convulsões sociais, sejam elas políticas,
culturais, ou covidais (pelo coronavírus Covid-19). Convulsões essas que levam milhões a disputar
com o seu semelhante o espaço e os produtos. Agora, veja, os produtos que ganharam importância
neste momento de crise profunda são em sua maioria os mesmos que vem do campo, campo este
desprezado pela vida urbana como sendo uma “segunda classe” de ambiente, mas é nesse mesmo
campo que se fornece o essencial para a vida do homem urbano, é no campo onde os homens são
mais resistentes às doenças, mesmo quando elas são novas, é no campo onde há espaço para a
QUARENTENA quase divina dos especialistas da TV. Então, onde está aquele arroto de arrogância
para a vida no campo?
Já há alguns sinais no mundo que indicam um retorno para a vida no campo, nos Estados Unidos
isto já está começando a ocorrer, porque eles sabem que as mudanças que vão ocorrer na sociedade
pós-moderna pós-coronavírus serão profundas a tal ponto de que a própria vida metropolitana será
questionada. No site https://www.cnbc.com/2020/04/17/redfin-ceo-rural-home-demand-shows-
profound-psychological-change-amid-coronavirus.html podemos acompanhar uma movimentação
nos Estados Unidos neste sentido, uma “mudança psicológica” no dizer de Glenn Kellman; CEO da
REDFIN; “Vimos que as pessoas estão mais interessadas naquela casa no sopé das montanhas à
beira do lago” e “Vamos ver como isso volta, mas parece haver uma mudança psicológica profunda
entre os consumidores que procuram casas”, disse ele. No Brasil isto já ocorre, conheço familiares e
pessoas que saíram das metrópoles (São Paulo principalmente) para voltarem para suas cidades
natais, pequenas cidades do interior de outros estados! Durante a quarentena em suas terras natais,
descobriram a possibilidade de viver uma vida tranquila e não tão tumultuada como nas grandes
metrópoles do Brasil que atualmente estão loucas. Já há um “ufanismo” por parte de trabalhadores
rurais convencendo-se de sua forte saúde física e psicológica (as pessoas do campo são as mais
resistentes ao alarmismo da mídia brasileira criminosa), este ufanismo se manifesta também sobre o
reconhecimento quase desesperador dos moradores de grandes cidades para estocar produtos e
alimentos básicos de subsistência como se fossem passar o resto do ano preso dentro de suas casas
(teve gente que realmente pensou nisso). No campo, além da liberdade de ir e vir, (o vírus não
sobreviveria caminhadas tão longas), há a produção da subsistência alimentar e há em tudo maior
equilíbrio: emocional, psicológico, imunidade estimulada, alimentação mais saudável, vida menos
sendentária e etc. A vida desconfortável do campo para aqueles acomodados nos luxos dos
apartamentos das grandes cidades se torna o inverso, liberdade e tranquilidade, ao passo que a vida
urbana se tornou um inferno criado pela conturbação política, midiática e social.
Outro sinal da mudança que estar por vir, é a chance magnânima do Brasil ascender como player
global. E essa chance provém justamente do campo, o Brasil “Celeiro do Mundo” tem a chance de
ditar alguns rumos para a humanidade se reconhecer o seu poder de impacto neste momento: “O
Brasil produz as carnes de qualidade mais baratas do planeta e é este, entre outros motivos, que faz
com que tanta gente fique de olho na produção agrícola do Brasil”, é o que a maior agência Mundo
Rural Business diz numa importante análise sobre a crescente demanda por alimentos no mundo
todo, em especial Egito, sobre Segurança Alimentar, acesse: https://www.youtube.com/watch?
v=glLbWmpmvIA&t=351s . O Brasil é, talvez, o único neste momento capaz de sustentar uma
grande demanda mundial, e todos os países irão começar uma corrida por ter esta produção pela
maneira mais vantajosa possível, isto inclui egípcios, chineses, africanos, árabes, e até americanos.
Com a queda na produção agrícola mundial e concomitante aumento da demanda interna e externa
dos países, os produtores rurais vão ser postos em evidência primordial; “A Ásia vai ter que reforçar
a compra de comida nos próximos meses para compensar a queda na produção, e isto vai colocar os
grandes produtores de commodities agrícolas em evidência, em especial o Brasil”, continua a
mesma Agência, https://www.youtube.com/watch?v=Vwpb3JHw7yo , “Pois assim que essa
tempestade passar, teremos uma década histórica!”
Tendo o Brasil a oportunidade de se sobressair diante do caos instalado em todo o mundo, os
desafios não são poucos e nem fáceis, já que a segurança alimentar do Brasil está sendo comprada a
preços de banana pela China por causa dos políticos míopes que só enxergam a altura das próximas
eleições no Brasil como João Dória de São Paulo.
Voltando a reflexão inicial, vemos que a vida no campo pode sofrer uma guinada preferêncial
enorme, já que o que se sobressaiu até hoje foi o êxodo rural. Será que nos próximos dias, meses e
anos veremos um êxodo urbano? Em suma, já ocorre um êxodo urbano, sobretudo das grandes
cidades para o interior do país, cidades como São Paulo não possuem explosão demográfica como
antes, nem Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte estão estagnadas em crescimento, Brasília
cresce organicamente, mas não numa explosão populacional como antes. As pequenas e médias
cidades estão levando a preferência no gosto do povo, mas cada vez mais há um desaceleramento
no êxodo rural, o que pode indicar um sinal de fim deste fenômeno, as causas para isso em nada tem
haver com o Coronavírus Covid-19, na verdade as raízes remontam ao governo Dilma (2011-2016)
que desmantelou a indústria brasileira, desacelerou o comércio e produção de serviços, e fez com
que milhões de pessoas ficassem desempregadas. A falta de oportunidades profissionais que se
aprofundou ao longo desta ‘década perdida’ no país, tornou a vida para milhões de pessoas,
sobretudo aquelas sem muita formação profissional e acadêmica, penosa, muitas destas voltaram-se
para suas origens no campo, trabalhando no sítio da família, investindo em uma lavoura ou
produção artesanal de produtos para serem vendidos localmente, o que deu uma guinada no
comércio e dinamismo local de muitas pequenas cidades do país.
O COVID-19 está revelando ou apontando o fracasso da vida urbana, vida esta montada sobre bases
frágeis de uma via tumultuada e orientada unicamente a economia, sobretudo a vida urbana
metropolitana atual. O campo está se mostrando mais uma vez na historia como uma possível saída
para o povo em geral, lá ainda se preserva a liberdade e a dignidade da vida humana ensejada na
realidade e não na ilusão de uma vida eminentemente econômica e caótica sobre o espírito da
imediatez.
Brasil 520 anos: O que comemorar?
Hoje (dia 22 de Abril), o Brasil completa 520 anos, mas o que temos para comemorar? Não muita
coisa certamente, porém queria trazer uma reflexão sobre um resumo da história do país
basicamente ao longo de todos estes 520 anos de luta, sim de luta, porque a história do Brasil se
resume a uma história de conflitos desde épicos aos mais espúrios. Hoje o Brasil atravessa mais
uma batalha, a batalha do povo contra o estamento burocrático.
A história do Brasil pode ser resumida como a luta do povo contra a classe dominante, não me
refiro aqui a luta de classe que Karl Marx dizia, mas a luta entre um grupo de pessoas que se
achavam donos do país e outros que se viam injustiçados por estes. O primeiro grupo dominante
foram os senhores de engenho, senhores feudais do Brasil colonial, e haviam como os “resistentes”
os bandeirantes que avançavam para o interior e os índios que encontravam nos jesuítas seu refúgio.
Aliás, os jesuítas foram os que mais sofreram ao londo do período colonial, na busca de construir
uma civilização de grandeza superior a européia encontraram como “sabotadores” os Senhores de
Engenho que não queriam de maneira alguma promover o desenvolvimento de uma civilização feita
por índios e “brasis”.
O segundo capítulo deste romance nacional foi quando os holandeses vieram para conquistar o
nordeste, se instalaram na região mais rica, Pernambuco, para dominar e obter lucros com o ouro de
então; o açúcar. Vendo o povo que os holandeses protestantes só vinham para obter riquezas e não
para construir a civilização, os povos da região: Brasis, Senhores de Engenho, colonos, índios,
negros e portugueses residentes se uniram para expulsar os protestantes holandeses no que ficou
conhecido como Batalha de Guararapes, talvez o maior evento épico do Brasil colonial, uma
cruzada ao mesmo tempo religiosa, patriótica, e idealista.
Depois de tudo isso, houve muitos capítulos interessantes, temos o conflito entre o Brasil que
cresceu tanto que já não podia ser mais um simples estado, ou seria a nova sede do império lusitano
ou se separaria, um longo processo que culmina na independência definitiva em 7 de Setembro de
1822, na minha opinião se tratou de uma separação umbilical mais do que guerra de espada. Houve
intensa resistência dos portugueses liberais que queriam um rebaixamento do Brasil a um nível pior
do que tinha antes de 1808 quando já era uma região muito desenvolvida e que exigia um grande
passo adiante. Este conflito levou a separação em dois estados, naquele momento os interesses da
nação se convergiram em torno da independência, mas logo houve a sabotagem, a elite liberal
temendo a ascensão de novas classes sociais como as dos negros e pobres em geral trabalhou para
manter o velho sistema impedindo que a nova nação florescesse para todos, o Brasil independente
só foi livre para alguns… um novo capítulo se inicia.
Então ao longo de todo o Império do Brasil o desenvolvimento da nação é coroado pela princesa
Isabel com a independência, mas teve que pagar o preço, os seus antagonistas, dessa vez não eram
mais os Senhores de Engenho, mas os cafeicultores paulistas que estavam ficando muito ricos com
a mão de obra escrava apesar desta estratégia já ter sido comprovada já naquela época como
ineficiente, mas os donos do conforto sobre o sofrimento alheio não queriam aceitar mudanças…
então a coroa foi tirada da princesa para sempre, tornando-a quase mártir neste sentido. Com a
vingança dos cafeicultores paulistas houve o financiamento do movimento republicano que não
conseguia apoio popular, mais uma vez a elite do momento vai contra o apelo popular e declara o
golpe contra a monarquia em 15 de novembro de 1889. O golpe republicano foi essencialmente uma
espadada elitista contra a monarquia por ela ter defendido os apelos populares discutidos desde o
início daquele século!
Com o regime republicano, o Romance chamado “Brasil” ganha um novo volume de tramas e
enredos quase inimagináveis, a coisa piora e muito, agora a batalha era entre elites e não mais entre
o povo e a elite. A guerra das elites oligárquicas divididas entre produzir café com leite ou indústria
culmina no golpe do Estado Novo em que Getúlio Vargas cria o seu governo elitista, mas populista,
de cunho fascista, agradando gregos e troianos, se mantém por mais de uma década, governa várias
vezes. Sofrendo pressão abre mão do Estado e da própria vida, como muitos homens apegados ao
poder fizeram.
Por fim, vem o período chamado “democracia” pós getuliana ou varguista, mas esta democracia
também defendia os apelos das elites historicamente insatisfeitas, surge Juscelino Kubitschek,
aquele que irá construir a capital ditatorial do Brasil, (ainda se mantém o sonho de construir uma
civilização, mas dessa vez era o coroamento das elites que iriam possuir o poder total em suas
mãos). Brasília foi construída e projetada pelos últimos artífices a fim de não ter os ruídos populares
incomodando uma vez mais, já chega do povo querer alguma coisa para si, nós sabemos o que é
melhor para eles…oras!
Veja se não foi com este mesmo pensamento, elitista, que o positivismo resguardado pelos
amabilíssimos militares fizeram em 1964? Ridicularmente tomaram para si os rumos da nação,
durante duas décadas e meia o povo e a esquerda lutaram contra os malvadões militares. Advinhe
quem conquistou o poder após a liberdade democrática reimposta a duras penas? Sim, a elite
esquerdista, mais uma vez era um grupo engajado desde o início do século insatisfeito com os
rumos do país que tomaram a dianteira e assumiram o controle da sociedade pós-regime militar por
meio dos partidos políticos (todos os partidos eram de esquerda), das instituições (eles tomaram
conta de todo o aparelho estatal e educacional, artístico, cultural, estrutural e etc.) ao longo de 5
décadas como sintetizado pelo professor Olavo de Carvalho, ex-esquerdista, “Você não vê um
jornal conservador, uma rádio conservadora, uma televisão conservadora, uma universidade
conservadora. Tudo foi dominado pela esquerda brasileira”, ou seja, todas as vozes dissonantes que
outrora houvera, embora quase sempre contra os interesses do povo brasileiro, desaparecera e tudo
se tornou num uníssono vocábulo que domina toda a opinião pública nacional nos mínimos
detalhes.
A coroa final veio com a eleição do PT e do presidente Lula, figura histórica para o bem ou para o
mal no país. Lula é a síntese histórica do Brasil que ora se une às elites, ora se une ao povo. Foi e é
um homem dividido: capitalista e comunista, católico e ateu, criança pobre do nordeste e líder
máximo da maior organização política da América Latina, o Foro de São Paulo, o homem mais
honesto e injustiçado que alimentara o maior esquema de corrupção política já vista talvez na
história da humanidade.
Será que esse é o último capítulo da história do Brasil? O país se tornou o exemplo do que não ser
para as demais nações.
Mas houve um capítulo inesperado, pela primeira vez desde 1500 um outro agente assume o poder,
o povo brasileiro, dessa vez o povo acorda com forças totais e levanta-se em protesto. É 2013 e o
mundo assiste estupefato ao que acontecia no Brasil, não conseguiam entender o que de fato
incomodava o Brasil.
O que de fato incomodava o Brasil? Eram os 20 centavos de aumento da conta de ônibus? Eram a
incapacidade da Dilma de governar o país em meio a crise? Era a luta do proletariado para com os
abusos dos patrões opressores? Eram os alunos que queriam educação? Eram os burgueses que
queriam uma economia livre e pujante? Não, o que houve era que o povo brasileiro deu um grito de
socorro querendo dizer alguma coisa. Até hoje a elite não entendeu isso, como nunca entendeu e
nem vai entender!
Então o que devemos esperar para os próximos capítulos? Se o povo brasileiro não assumir a
responsabilidade na condução do país, será novamente calado pela elite reinante.
Agora temos um novo capítulo de luta chamado “Coronavírus”, ainda está em andamento...

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