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IBP2212_18

USOS DO GN POR DIFERENTES


EMPREENDIMENTOS COM
A EXPANSÃO DA MALHA
DE GASODUTO
Magno Bernardo do N. Silva1

Copyright 2018, Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis - IBP


Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na Rio Oil & Gas Expo and Conference 2018, realizada no período de 24 a 27
de setembro de 2018, na cidade do Rio de Janeiro. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pelo Comitê Técnico do
evento, seguindo as informações contidas no trabalho completo submetido pelo(s) autor(es). Os organizadores não irão traduzir ou
corrigir os textos recebidos. O material conforme, apresentado, não necessariamente reflete as opiniões do Instituto Brasileiro de
Petróleo, Gás e Biocombustíveis, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este Trabalho Técnico
seja publicado nos Anais da Rio Oil & Gas Expo and Conference 2018.

Resumo

O uso de gás natural é múltiplo e deve ser ainda mais desenvolvido com o avanço das
tecnologias em diversos segmentos, industrial, comercial, residencial, automotivo e demais. Com o
crescimento da malha de gasodutos no Brasil, mais especificamente no estado da Bahia, alternativas
à empreendimentos que já consomem outros energéticos, ou outros que desconhecem as
possibilidades de eficiência energética e uso do gás natural devem ser apresentadas e inclusive
surgir com um estudo prévio. Este artigo tem a pretensão de analisar algumas alternativas presentes
na cidade de Maracás-BA, um dos municípios atendidos pelo Gasoduto Sudoeste a ser construído
pela companhia de gás da Bahia - Bahiagás.

Palavras-chave: Gasoduto Sudoeste. Gás Natural. Uso do gás.

Abstract

The use of natural gas is multiple and should be further developed with the advancement of
technologies in several segments, industrial, commercial, residential, automotive and others. With
the growth of gas pipelines in Brazil, more specifically in the state of Bahia, alternatives to projects
that already consume other energy sources, or others that do not know the possibilities of energy
efficiency and natural gas use, should be presented and even come up with a previous study. This
paper intends to analyze some alternatives present in the city of Maracás-BA, one of the
municipalities served by the South-west Gas Pipeline a being created by the gas company of Bahia -
Bahiagás.

Keywords: Southwest Gas Pipeline. Natural gas. Use of gas.


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Engenheiro Civil, Téc. em Petróleo e Gás - BAHIAGÁS
Rio Oil & Gas Expo and Conference 2018

1. Introdução

Os usos mais comuns de gás combustível são para cocção e aquecimento, em residências
isto é perceptível em cozinhas e em banheiros. Mas na indústria são largamente utilizados,
principalmente nas químicas e petroquímicas, como na produção de metanol ou de fertilizantes. É
utilizado também em motores de combustão interna nos veículos automotores, e em turbinas a gás
em usinas termelétricas. O gás combustível em uma casa padrão pode ser usado para o aquecimento
de água dos chuveiros, da piscina e do ambiente, para a cocção no fogão, forno e churrasqueira, na
geração de energia elétrica e no abastecimento do veículo, para o design dos ambientes em
lâmpadas e postes, na secagem de roupas e muitos outros. Segundo a ABRACE (2015) o gás natural
pode ser utilizado como combustível industrial (correspondendo a 45,7% do consumo nacional em
janeiro de 2018), comercial, domiciliar e residencial; como matéria-prima nas indústrias
petroquímica (plásticos, tintas, fibras sintéticas e borracha) e de fertilizantes (ureia, amônia e seus
derivados); e na redução do minério de ferro na indústria siderúrgica. Outra importante forma de
utilização do gás natural é como combustível na geração de eletricidade, em usinas termoelétricas,
em unidades industriais, instalações comerciais e de serviços, e em regime de cogeração (produção
combinada de vapor e eletricidade) ou ainda trigeração (combinação de eletricidade, aquecimento e
resfriamento).

O gás natural ou GN é um combustível fóssil, basicamente uma mistura de hidrocarbonetos


leves que pode ou não estar associado ao petróleo, (MONTEIRO, 2010, p. 49) encontrado no
subsolo em fase gasosa, inclusive em condições atmosféricas de temperatura e pressão também na
forma de gás. E sua forma de distribuição se dá através de dutos (tubulação) ou via sistemas de
transporte alternativos com certas especificidades como o GNC (gás natural comprimido) e o GNL
(gás natural liquefeito). O consumo deste energético no Brasil vem aumentando nos últimos anos,
principalmente após o apagão elétrico entre os anos de 2000 e 2001, isso levou à construção de
termelétricas movidas a gás natural. O país está ainda muito dependente da importação de outras
regiões vizinhas, como a Bolívia, mesmo após as descobertas recentes de novas bacias para
exploração. (CEMIG, 2012, p. 41)

A concessionária dos serviços de distribuição de gás natural no estado da Bahia, a Bahiagás,


com a premissa de investimentos na interiorização da sua malha de gasodutos visando o alcance e
fornecimento do combustível a outras cidades baianas, estima a execução do duto de distribuição de
gás natural do Sudoeste, que atravessará diversas cidades do interior do estado, da cidade de Ipiaú
até a cidade de Brumado. Considerado o segundo maior gasoduto do país e maior da região

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nordeste, atenderá nas regiões às indústrias de alimentos e bebidas, mineração, além de outros
setores industriais, comerciais e automotivos. Com o propósito de avaliar as demais possibilidades
de comercialização do gás natural nas regiões afetadas, foi realizado um trabalho de campo aos
principais pontos da cidade de Maracás – BA, um dos municípios atingidos pela obra.

2. Metodologia

A metodologia utilizada neste trabalho realizou-se por meio da documentação indireta, a


nível de pesquisa bibliográfica em livros, trabalhos técnicos, artigos publicados em revistas e por
consultas a sites, além de material bibliográfico de encontros e de congressos nacionais e
internacionais. Além da realização das próprias pesquisas de campo e vistorias em
empreendimentos comerciais e de pontos específicos da cidade em prol da verificação da
necessidade do consumo do combustível.

3. Usos gerais

Os muitos usos do gás natural aumentaram seu uso como fonte de combustível no mercado
interno e em todo o mundo. Como a sociedade continua a usar o gás natural em vez de outras fontes
de energia, podemos reduzir a poluição e nos beneficiar de benefícios econômicos, de saúde pública
e ambientais. Diferentes segmentos utilizam o gás natural como um produto base, outros necessitam
do combustível como fator secundário, porém a preocupação no consumo, econômica, de eficiência
energética, ambiental são intrínsecas ao negócio e à administração ativa empresarial.

Quando da massificação de gasodutos para uma melhor e ampla distribuição do gás natural,
a amplitude construtiva não é o fator preponderante em determinados trechos de implantação,
requer um estudo de comercialização e viabilidade. Atualmente grandes consumidores como
indústrias e termelétricas são os polos do desenvolvimento local, levando a determinadas regiões
interioranas redes e sistemas básicos, que no final do processo de implantação são largamente
utilizados por toda a sociedade. No segmento industrial o gás natural é geralmente utilizado para
geração de energia elétrica, a energia elétrica e o aquecimento podem ser utilizados
simultaneamente através do processo tecnológico de cogeração ou, em termos mais simples, do
calor e da potência combinados, aumentando a eficiência energética em 75 a 80%, a produção de
aço e papel usa o GN para gerar vapor de processo para aplicações industriais, nos sistemas de ar
condicionado, nas petroquímicas são incorporados em plásticos, fertilizantes, fibras sintéticas,
cosméticos e medicamentos, usado para fazer amônia e consequente ureia, também o metanol,
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assim como nos fornos para produzir calor muito alto para produzir metais importantes, como ferro
e aço, para produzir ferro, o minério de ferro que é extraído do solo é aquecido em um alto-forno
com carvão ou coque (uma substância feita de carvão) e calcário (temperaturas neste forno podem
atingir até 1.600 graus Celsius), o calcário e as impurezas do minério de ferro se combinam para
formar escória, enquanto o ferro fundido é extraído do forno.

Quanto à interiorização da malha baiana de gás natural, esta também é alavancada por
grandes indústrias, abrindo a oportunidade de consumo em postos de abastecimento veicular (GNV
– Gás Natural Veicular), em edificações residenciais (cocção e aquecimento), em restaurantes e
padarias (fornos, fritadeiras, fogões, chapas...), em hotéis (em centrais de aquecimento e cozinhas) e
diversos outros estabelecimentos congêneres.

4. Resultado e discussão

Após visitação a diversas associações locais, cooperativas, pequenos produtores,


empresários e fazendas, em um dos municípios onde ocorrerá a construção do gasoduto sudoeste,
exemplos diversos do possível consumo de gás natural puderam ser estudados, como o forno a
lenha ininterrupto da Assoleite - Associação dos produtores de leite de Maracás, com uma produção
média de 3000L de leite por dia, a associação atende não só ao município local, mas também a
outros consumidores, como as prefeituras vizinhas também (ex.: Lajedo do Tabocal) e inclusive um
excedente a empresas privadas, trabalhando também com derivados como o danone e pasteurizando
e ensacando o leite, consumindo energia elétrica e mão de obra.

Figura 1. Uso de lenha na Assoleite (próprio autor, 2018)


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Assim ocorre não só o aquecimento do leite, mas a necessidade de produção de vapor para a
importante pasteurização (Figura 1), com o uso de lenha atualmente. O gás natural pode surgir
como uma alternativa mais ambientalmente responsável ao exemplo. Outras associações como a de
mel, a de flores, casas de farinha, empresários locais, hotéis e restaurantes foram também visitados.
Muitas pessoas consideram apenas o benefício do gás natural quando se trata de cozinha e
aquecimento de água, concentrando-se nas despesas de energia elétrica, mas na realidade, a
commodity é usada para várias funções nos diferentes segmentos, oferecendo oportunidades de
redução dos custos de energia e/ou outros combustíveis mais onerosos, já que geralmente o GN é
mais barato que a eletricidade, torna-se uma opção econômica para atender às necessidades
energéticas. Com o estudo sobre uma das principais gerações de renda do município, o cultivo de
flores, em Maracás pode-se encontrar Palmas de Santa Rita, Orquídeas, Gérberas, além de rosas
lindíssimas, que são exportadas para todas as regiões do país, visitou-se o Horto Florestal que
possuem algumas plantações pequenas e com estufas de pequeno porte para mudas, uma área de
preservação e conservação ambiental, ao lado da famosa nascente do rio Jiquiriçá, e também a
AMAFLOR – Associação Maracaense de Agentes Floricultores (Figura 2) com 08 (oito) associados
que plantam o ano todo, com os períodos de “Dia das Mães”, “Dia dos namorados” e “fim de ano”
possuindo uma demanda mais alta e consequente produção intensa, até ao ponto de comprarem de
outros pequenos produtores (como por exemplo o assentamento Ribeira Alta com sua Associação
de trabalhadores rurais do Boqueirão, também visitado, assim como o Régis Flores) e ou até mesmo
de grandes produtores da região (como o Flores Botelho) para atender os pedidos, do Sul da Bahia,
de Itabuna, Jequié, Salvador, e outras cidades.

Figura 2. Entrada e estufa da Amaflor (próprio autor, 2018)

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Alternativas de usos do gás natural existem e são largamente utilizadas para este segmento,
como é o caso do controle de temperatura de estufas de flores e plantas. Alguns tipos de cultivos
necessitam de um controle rigoroso de temperatura, pois sem esse há grande perda na quantidade de
plantas geminadas e também da formação. Outra alternativa serve para secagem e desidratação de
flores, que retira a água das flores e plantas, conservando sua beleza, cor e formato. Secas, elas
podem ser reservadas e utilizadas na decoração, principalmente de grandes eventos.

Ainda no mesmo dia após a associação, visitou-se um produtor particular de flores, a Flores
Botelho (figura 3). Os irmãos / sócios da empresa que produz 18 mil dúzias por mês de diferentes
espécies, a partir de 150 mil pés em sua plantação. Na fazenda não só se planta, mas também ocorre
o tratamento antes do envio ao consumidor final, e um futuro uso de GN se dá através mantimento
dessas flores, com o uso de uma câmara fria ligada ininterruptamente e muito útil em épocas de
grandes movimentações, inclusive todos os veículos de pequenos à maiores podem ser movidos
com uso do combustível. Outro uso possível é com o uso de controle de pragas térmico ou
máquinas de esterilização de áreas específicas de armazenamento da colheita.

Figura 3. Flores Botelho à esquerda e controle de pragas térmico à direita (próprio autor, 2018)

A pecuária de corte é tradicionalmente a principal atividade agropecuária, o município cria


também comercialmente caprinos, galinha e produz pescados (camarões e peixes), café, melancia,
mamona, tomate, milho e maracujá. O Sítio Belo Horizonte é um exemplo do município com uma
dinâmica múltipla e com várias alternativas para o uso de GN, como o aquecimento de ambientes
na avicultura, onde aquecedores chamados comumente de campânulas a gás possuem um
queimador de gás convencional, onde o calor é transmitido às aves por condução e convecção,
também o uso de lança-chamas para limpeza e esterilização de aviários, aquecedores a gás de
passagem ou acumulação para geração de água quente com intuito de higienização e esterilização
das áreas de retirada de leite (criação de vacas leiteiras), armazenamento e preparação da

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alimentação e outras áreas do sítio, também pode ser utilizado o gás natural na secagem de grãos
(como o café).

É comum também a presença de ‘Casas de Farinha’ (Figura 4) tanto no município quanto


em toda região, além de ser cultural, possui uma produção que alimenta muitas feiras de todo o
território. D. Zefa, uma simpática pequena produtora de farinha, utiliza-se de seus equipamentos,
que podem ser convertidos para GN ou substituídos por outros mais eficientes, como duas grandes
chapas de torragem e um forno, todos a lenha.

Figura 4. Casa de Farinha à esquerda e Forno da Casa à direita (próprio autor, 2018)

Além das cidades interioranas serem abastecidas por mais um elemento da matriz energética
local, que pode mudar dinâmicas cotidianas, como o simples fato de abastecer o carro, já que o
GNV tende a ser uma alternativa econômica à todos, ou ainda tomar banho com água quente no frio
da noite que faz na região, pois a economia com energia elétrica quanto do uso de GN em
aquecedores e mais, nas cozinhas, principalmente nos empreendimentos comerciais como hotéis da
cidade ou pet-shops, outros estabelecimentos tendem a se modernizar, como lavanderias de roupa
(no uso de secadoras) ou outros como em pintura automotiva (com uso de cabines de pintura).

Uma característica local são os produtores de mel, com a visita a AMA-ME – Associação
maracaense de apicultores meliponicultores ambientalistas (Figura 5), que através de apiários fazem
de sua produção um bom exemplo de trabalho em conjunto para a vivência de uma associação
saudável, podem utilizar do GN nos equipamentos de separação do mel, da cera e de própolis.

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Figura 5. Casa de Farinha à esquerda e Forno da Casa à direita (próprio autor, 2018)

5. Conclusões

É necessário considerar o gás natural como um forte elemento de desenvolvimento


econômico. Este energético deverá ser um grande impulsionador do desenvolvimento regional,
gerando renda, ampliando a capacidade de produção das indústrias e estimulando novas tecnologias,
principalmente, para contribuir com o crescimento sustentável do estado da Bahia. Para estimular o
consumo de gás natural são necessárias políticas públicas que fomentem o uso deste recurso,
garantindo a eficiência econômica em toda amplitude da cadeia do gás, do produtor ao consumidor,
assim outros segmentos no futuro (como o residencial e o comercial) poderão ser os grandes polos
que puxarão as massificações das malhas de gasoduto no país.

6. Referências

AMORIM, Luiz. Instalações prediais de gás. Rio de Janeiro: FIRJAN , 2012.


CEMIG. Alternativas energéticas: uma visão Cemig. Belo Horizonte: CEMIG 2012.
ABRACE. Conceitos e definições do setor de gás natural. Brasília: ABRACE 2015.
MONTEIRO, Jorge. Gás natural aplicado à indústria e ao grande comércio. São Paulo:
COMGÁS / BLUCHER, 2010.
SEI, Publicações. Superintendência de estudos econômicos e sociais da Bahia. Perfil dos
territórios de identidade da Bahia. Vol.1 e Vol.2. Bahia: Seplan - BA, 2015.

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