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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS

Disciplina: FERTILIDADO DO SOLO E NUTRIÇÃO DE ÁRVORES

CAPACIDADE DE TROCA DE
ÍONS

Professor: Gualter Guenther Costa da Silva


Adsorção e troca de íons no solo

Ligação ou atração
entre a carga de um
colóide e um íon da
solução do solo é que
resulta na sua retenção
(adsorção).
Adsorção e troca de íons no solo

Adsorção = acúmulo de íons ou moléculas


na superfície de uma partícula
Superfície dos Colóides e Troca de Cátions
Adsorção e troca de íons no solo

Importância
• Nutrientes na forma disponível para as
plantas;
Exemplos: cálcio, magnésio, potássio
e sódio (cátions) e fósforo, enxofre (ânions)
Adsorção e troca de íons no solo

• Impede que os nutrientes sejam carregados em


profundidade.
Ao conjunto de
coloides do solo
(argila e húmus)
responsável pelas
trocas iônicas damos
o nome de
“complexo de
adsorção”

Figura esquemática da distribuição dos íons em torno dos colóides


Adsorção e troca de íons no solo

As argilas silicatadas: têm um balanço de carga negativo


– mais carga negativa que positiva. Os ânions são menos
atraídos que os cátions pelas argilas silicatadas e o
húmus.
As argilas oxídicas, ao contrário, atraem mais ânions que
cátions: têm um balanço de carga positivo na faixa mais
comum do pH dos solos (5,5 a 6,5).

◦ Horizonte B de solos muito intemperizados são pobres em


húmus e muito ricos em argilas oxídicas: balanço de carga
positivo, e portanto podem atrair mais ânions que cátions.
Como acontecem as trocas
de cátions do solo?

◦ A troca de cátions se dá quando um íon positivamente


carregado, dissolvido na solução do solo, aproxima-
se da superfície de um coloide, podendo com essa
proximidade (e se ocorrer em quantidade suficiente), ser
trocado por outro que está diretamente adsorvido
nas cargas negativas dessa superfície.
Como acontecem as trocas
de cátions do solo?

A adsorção de um novo cátion é então compensada pela liberação de um ou


mais cátions do coloide em direção à solução do solo.
Como acontecem as trocas de
cátions do solo?
Como acontecem as trocas de
cátions do solo?
Características desse processo de
troca de cátions do solo
As trocas de íons são quantitativamente balanceadas, isto é,
sempre se dão em quantidades quimicamente equivalente, e
essa equivalência decorre da quantidade de cargas.
Exemplo: se um coloide libera um íon com duas cargas
positivas (Mg2+), ele terá de readquirir outro íon ou íons,
equivalentes a duas novas cargas, para restabelecer seu
equilíbrio (ex: um íon de Ca2+ , ou dois íons de 2K+)

Mg²+ Mg²+

ou K+
K+
Coloide Ca2+ Coloide
Fatores que determinam maior ou menor
retenção dos cátions nos coloides

Existem três fatores que determinam quais cátions


são mais ou menos retidos nos pontos de troca do
coloides:

1. Concentração relativa do cátion na solução do


solo
2. A valência do cátion
3. Atividade iônica (tamanho do íon)
Fatores que determinam maior ou menor
retenção dos cátions nos coloides

1. Concentração na solução do solo


◦ Maior concentração: maior adsorção.

◦ “Lei da ação das massas” princípio usado nas análises


químicas do solo)
◦ Afeta a preferencialidade de troca → “Lei da ação das Massas”
→ é possível cátions de < valência deslocar cátions de >
valência → maior concentração
◦ Exemplo: Superfície de argila ou húmus
Fatores que determinam maior ou menor
retenção dos cátions nos coloides

2. Valência do íon

◦ Maior valência (maior carga) : maior adsorção


Al3+>Ca2+>Mg2+>K+≈NH4+> Na+

◦ Mesma valência, será mais fortemente retido o cátion


que tiver menor raio iônico hidratado, devido a maior
aproximação desse cátion à superfície do coloide.
Cs+>Rb+>K+>Na+> Li+> H+

◦ O hidrogênio (H+) é uma exceção, pois se comporta


como se fosse polivalente.
Fatores que determinam maior ou menor
retenção dos cátions nos coloides

3. Atividade iônica

◦ Depende do tamanho do íon: Menor (<) íon: Maior sua


atividade.
◦ O raio do íon hidratado influencia na atividade do íon.

◦ Exemplo: O K+ e o Na+ : no estado desidratado (sem água ao seu


redor), o Na+ é < que o K+ ( 0,99 Å para o Å versus 1,38 Å para o
K+), e por isso poderíamos prever que ele é mais ativo.
◦ Contudo, O Na+ por atrair mais moléculas de água (raio iônico
hidratado maior), torna-se maior e menos ativo que o K+ , isso
porque o Na+ é um dos íons mais facilmente destacáveis da
superfície dos coloides.
LIGAÇÃO IÔNICA LIGAÇÃO COVALENTE
•Relativamente fraca; •Reação mais íntima;

•Elétrons não são •Elétrons são compartilhados;


compartilhados;

•Sem água de hidratação


•Água de hidratação permanece (complexos de esfera-interna);
(Complexos de esfera-externa);
•Adsorção específica;
•Exemplos:
•Exemplos:
• Cátions trocáveis: cálcio,
magnésio, potássio; • Alguns metais pesados: Cu, Pb,
Cd
•Alguns ânions: nitrato,
carbonato, fluoreto •Ânions ex.: Fosfato
Energia de ligação entre coloides e íons

COMPLEXOS DE SUPERFÍCIE (Tipos de Ligação)


É a reação de um íon ou uma molécula presente na
solução do solo com um grupo funcional de superfície.

a) Complexos de esfera-externa
b) Complexos de esfera-interna
Energia de ligação entre coloides e íons

a) Complexos de esfera-externa
▪ Existem moléculas de água entre o grupo funcional de
superfície e o íon ou molécula da solução do solo

▪ A ligação é eletrostática ou iônica (atração física), suficiente


para impedir que os íons e as molécula sejam carregadas pela
água que infiltra no solo.
▪ Cátions: Na+, K+, NH4+, Ca2+, Mg2+ , Al3+
▪ Ânions: NO3-, Cl-, SO42-, Br-
▪ São denominados cátions e ânions trocáveis. Podem ser
substituídos.
Ilustração de Adsorção Específica e Não Específica
Energia de ligação entre coloides e íons

b) Complexos de esfera-interna
▪ Não existem moléculas de água entre o grupo
funcional de superfície e o íon ou molécula da
solução do solo
▪ O íon liga diretamente ao grupo funcional
▪ As ligações são covalentes e iônicas.
▪ Cátions: Cu2+ e Zn2+
▪ Ânions: H2PO4-3 e MoO42-
▪ E denominada: Adsorção Específica ou
Quimiossorção
b) Complexos de esfera-interna
COMPLEXOS DE ESFERA INTERNA

▪ É formado quando não há interposição de nenhuma uma molécula


de água entre o grupo de superfície e o íon ou molécula da solução
do solo

▪ A adsorção na forma de complexos de esfera-interna é


denominado como quimiossorção ou adsorção específica.
CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS - CTC

◦ É a capacidade do solo ADSORVER e TROCAR


CÁTIONS;

◦ Expressa a quantidade de cátions que o solo pode reter


na forma de COMPLEXO DE ESFERA-EXTERNA*;

◦ Mede indiretamente a quantidade de cargas


negativas do solo;

* Ligados às superfícies por ligações eletrostáticas ou iônica.


CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS - CTC

◦ CTC - expressa o número de milimols de cargas


negativas por unidade de massa ou de volume.

◦ É a quantidade de cátions que um solo é capaz de


reter por unidade de peso (massa)

Indica potencialidade agrícola dos solos


CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS - CTC

Unidades:
✓mmolc kg-1 ou cmolc kg-1(massa) – Classificação
do solo
✓mmolc dm-3 ou cmolc dm-3(volume) – Fertilidade
do Solo
Unidades antigas (até 1996):

✓(meq 100 g-1) = (1 meq 100 g-1 = 10 mmolc kg-1) - massa


✓(meq 100 cm-3) = (1 meq 100 cm-3 = 10 mmolc dm-3) - volume
Reações de troca de cátions são baseadas em carga
por carga (e não íon por íon).
Características da CTC
• A CTC é reversível : Deslocamento contínuo de
cátions adsorvidos; ocorre nos dois sentidos: superfície
da partícula para solução e vice-versa.

• A CTC é estequiométrica: “Lei os equivalentes


químicos” → 1 molc de cátion X é trocada (substituído)
por 1 molc de cátions Y

• A CTC é rápida: Tempo de agitação de 5 – 15 min


Características da CTC
A ordem em que os cátions são retidos na CTC é:

• Natureza dos cátions trocáveis


• “Lei de Coulomb” → cátions de maior valência são
mais retidos → “Série liotrópica”
Al3+ = H+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ > Na+
Fatores que afetam a CTC
a) pH da solução do solo
◦ Aumenta o pH aumenta a CTC
◦ Cargas variáveis (dependentes do pH)
◦ Altera o valor da CTC efetiva

b) Área superficial específica (ASE)


◦ Teor de argila
◦ Composição mineralógica da fração
argila
◦ Teor de matéria orgânica
Fatores que afetam a CTC
Fatores que afetam a CTC

Tropicais e subtropicais: 1:1 (caulinita) e óxidos de Fe e Al → CTC BAIXA


Temperada: 2:1 (vermiculita, esmectita) → CTC ALTA
CTC das argilas, óxidos e da matéria orgânica
PARTÍCULA CTC
cmolc/kg
Matéria orgânica 200 – 300
Montmorilonita 80 – 150
Vermiculita 100 – 150
Micas 10 – 40
Óxidos de Fe e Al 2–4
Caulinita 3- 15
Fatores que afetam a CTC
• ASE depende do tamanho da partícula.

• ASE menor, CTC menor.

• Nos argilominerais expansíveis (minerais tipo 2:1)


a ASE é maior em relação aos minerais não
expansíveis (minerais tipo 1:1), e também aos
óxidos de Fe e Al.
Partícula ASE (m2/g) CTC (cmolc/kg)

Caulinita 7-30 0-1

Óxidos - 2-4

Micas 40 -150 10 - 40

Vermiculita 600 - 800 100 - 150

Montmorilonita 600 - 800 80 - 150

Matéria Orgânica 800 - 900 200 - 300

ASE e CTC de argilominerais e matéria orgânica


Fatores que afetam a CTC
pH da solução do solo
◦  pH do solo   CTC
Teor de argila
◦  teor de argila   CTC
Composição mineralógica
◦ Minerais do tipo 2:1
◦ Minerais do tipo 1:1
◦ óxidos de ferro e de alumínio.
Teor de matéria orgânica
◦  teor de matéria orgânica   CTC
Componentes da CTC

▪ Como a quantidade de cargas negativas do solo


depende do pH, existem dois tipos de CTC:

▪ CTC efetiva (t): determinada no pH atual do solo:


Quantidade de cargas negativas encontradas no pH
original do solo.
▪ CTC do solo ou CTC a pH 7,0 (T): determinada a
pH 7,0: Quantidade de cargas negativas
encontradas no solo quando eleva-se o pH a 7,0.
✓ REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DOS
COMPONENTES DA CTC DE UM SOLO
pH do solo pH 7,0

CTC permanente CTC dependente de pH

K+ Ca2+ H+ H+ H+
Al3+ H+ H+
Al3+ NH4+ H+ H+ H+
Ca2+ H+ H+
Mg2+ Na+ H+ H+ H+
K+ H+ H+ H+
Ca2+ K+ Na+ H+ H+ H+
Mg2+
Al3+ Mg2+ H+ H+ H+

CTC efetiva (t) CTC “bloqueada”


CTC a pH 7,0 (T)
✓ SOLOS COMO RESERVATÓRIO DE CÁTIONS

(Adaptado de Raij, 1981)


CAPACIDADE DE TROCA DE CÁTIONS - CTC

Quantificação da CTC
CTC Efetiva ou t = SB + Al3+
◦ SB (soma de bases) = Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+
◦ Al3+ = acidez trocável
CTC potencial ou T = SB + (H + Al)
◦ (H + Al) = acidez potencial

Em solos ácidos a CTC efetiva é inferior a CTC


potencial
Solos de regiões tropicais o pH e normalmente ácido
Capacidade de troca de cátions
Questões: Adsorção e Troca Iônica
1) Qual a definição de CTC? Quais as unidades utilizadas até
1996? Quais as unidades recomendadas atualmente?

2) Calcule a estimativa de CTC de um solo A com 20% de argila e


4 % de matéria orgânica, sendo a argila do tipo 2:1 com CTC
média de 700 mmolc kg-1 e matéria orgânica com CTC de 900
mmolc kg-1. Faça o mesmo para um solo B com 50% de argila
e 2 % de matéria orgânica, sendo a argila do tipo 1:1 e alto teor
de óxidos de Fe e de Al com CTC média de 60 mmolc kg-1 e
matéria orgânica com CTC de 800 mmolc kg-1. Qual deles tem
maior CTC? Qual deles deve ser da região tropical úmida?
Explique sua resposta.
3) Cite a faixa de valores de CTC dos argilominerais 2:1, 1:1 e
óxidos de Fe e de Al.
Questões: Adsorção e Troca Iônica
4) Um solo A tem 80% da CTC representada por cargas
permanentes e 20 % de cargas variáveis. Por outro lado, um
solo B tem 25% da CTC representada por cargas
permanentes e 75 % de cargas variáveis. Qual dos solos
deve ser da região tropical úmida? Explique sua resposta.

4) Defina o fenômeno de adsorção.

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