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Fluidos e Termodinâmica

Autores: Prof. Pedro José Gabriel Ferreira


Profa. Thais Cavalheri dos Santos
Profa. Iara Batista de Lima
Prof. Túlio Cearamicoli Vivaldini
Prof. Arduíno Francesco Lauricella
Prof. Francisco Xavier Sevegnani
Colaboradores: Profa. Thaís Cavalheri dos Santos
Prof. José Carlos Morilla
Professores conteudistas: Pedro José Gabriel Ferreira / Thais Cavalheri dos
Santos / Iara Batista de Lima / Túlio Cearamicoli Vivaldini / Arduíno Francesco
Lauricella / Francisco Xavier Sevegnani

Pedro José Gabriel Ferreira é bacharel em Engenharia de Controle e É professora do curso de Engenharia e líder da disciplina Mecânica da
Automação, especialista em Ensino Superior e mestre em Engenharia de Produção Partícula da UNIP, ministrando disciplinas ligadas à física e à mecânica dos fluidos.
pela Universidade Paulista (UNIP). Trabalhou como Engenheiro nas áreas de
manutenção, produção, normatização e de projetos de novos equipamentos na Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física para Engenharias
área de engarrafamento de gás liquefeito do petróleo (GLP). (GruPEFE), trabalha com temas que abrangem novas tecnologias e técnicas de
aprendizagem. Possui publicações em revistas e anais de congressos no Brasil e no
Coordena os laboratórios dos cursos do Instituto de Ciências Exatas exterior, premiados em 2015 nos Estados Unidos.
e Tecnologia (ICET) da UNIP, atuando na montagem e desenvolvimento de
tecnologias educacionais. Atualmente coordena e é professor do curso de Túlio Cearamicoli Vivaldini é bacharel em Física pela PUC–SP, mestre e doutor
Engenharia da Universidade Paulista no campus Marquês de São Vicente, em Ciências – Tecnologia Nuclear – Aplicações pela USP, pertencente ao programa de
ministrando disciplinas ligadas à física e à mecânica dos fluidos. tecnologia nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).

É pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física para Engenharias É professor do curso de Engenharia e líder da disciplina Tópicos de Física
(GruPEFE), trabalha com temas que abrangem novas tecnologias, sistemas de controle Geral e Experimental da UNIP, ministrando disciplinas ligadas à física e mecânica
e automação e técnicas de aprendizagem, possui publicações em revistas e anais de dos fluidos.
congressos no Brasil e no exterior, premiados em 2015 nos Estados Unidos.
Atua também como pesquisador no Grupo de Pesquisa em Ensino de Física
Thaís Cavalheri dos Santos é bacharel em Física Médica pela Universidade para Engenharias (GruPEFE), trabalha com temas que abrangem novas tecnologias
de São Paulo (USP) e possui MBA em Gerenciamento de Hospitais e Sistemas de e técnicas de aprendizagem, possui publicações em revistas e anais de congressos
Saúde pela Fundação Getúlio Vargas, mestrado em Ciências no Programa de Física no Brasil e no exterior, premiados em 2015 nos Estados Unidos.
Aplicada em Medicina e Biologia pela USP e doutorado em Ciências – Tecnologia
Nuclear – Aplicações também pela USP, pertencente ao programa de tecnologia Arduíno Francesco Lauricella é mestre em Engenharia Mecânica pela
nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e bacharel em Física pelo Instituto
de Física da Universidade de São Paulo. Professor adjunto da Universidade Paulista
Coordena os cursos de Licenciatura em Física e técnico em Edificações do e do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana.
Pronatec, é professora titular do curso de Engenharia e é líder das disciplinas de
Estática dos Fluidos e Fenômenos de Transporte da UNIP, ministrando disciplinas Francisco Xavier Sevegnani é físico e concluiu sua graduação, mestrado e
ligadas à física e à mecânica dos fluidos. Além disso, é professora adjunta do curso doutorado em Física pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo‑ PUCSP.
de Engenharia da Universidade São Judas Tadeu (USJT), ministrando disciplinas de Concluiu o mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Paulista‑UNIP
mecânica, oscilações e eletromagnetismo. (2003) e doutorado em Engenharia de Energia e Automação Elétrica pela Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo‑PEA/EPUSP (2009). Atualmente, é
Líder do Grupo de Pesquisa em Ensino de Física para Engenharias (GruPEFE), professor titular da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor
trabalha com temas que abrangem novas tecnologias e técnicas de aprendizagem adjunto I do Centro Universitário de Educação Inaciana, professor titular da
e possui publicações em revistas e anais de congressos no Brasil e no exterior, Universidade Paulista, coordenador auxiliar do curso de Engenharia diurno da
premiados em 2015 nos Estados Unidos. UNIP e líder de disciplinas de Física na UNIP.

Iara Batista de Lima é bacharel em Física pela Pontifícia Universidade


Católica (PUC–SP), mestre e doutora em Ciências – Tecnologia Nuclear –
Aplicações pela Universidade de São Paulo (USP), pertencente ao programa de
tecnologia nuclear do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

F383f Ferreira, Pedro José Gabriel.

Fluídos e Termodinâmica. / Pedro José Gabriel Ferreira, et al. –


São Paulo: Editora Sol, 2018.

316 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2-019/18, ISSN 1517-9230.

1. Fluídos. 2. Termodinâmica. 3. Calorimetria. I. Santos, Thaís


Cavalheri dos. II. Lima, Iara Batista de. III. Vivaldini, Túlio Cearamicoli. IV.
Lauricella, Arduíno Francesco. V. Sevegnani, Francisco Xavier. VI. Título.

CDU 536

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Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Carla Moro
Amanda Casale
Sumário
Fluidos e Termodinâmica

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9

Unidade I
1 PROPRIEDADE DOS FLUIDOS....................................................................................................................... 11
1.1 Sistemas de dimensões e unidades................................................................................................ 11
1.1.1 Sistema Internacional de Unidades (SI)...........................................................................................11
1.1.2 Sistema CGS de unidades..................................................................................................................... 15
1.1.3 Sistema Inglês de Unidades................................................................................................................. 15
1.1.4 Fatores de conversão.............................................................................................................................. 17
1.2 Propriedades dos fluidos.................................................................................................................... 25
1.2.1 Definições e conceitos fundamentais dos fluidos...................................................................... 25
1.2.2 Pressão e tensão de cisalhamento.................................................................................................... 27
1.2.3 Pressão hidrostática................................................................................................................................ 28
1.2.4 Massa específica....................................................................................................................................... 28
1.2.5 Peso específico.......................................................................................................................................... 29
1.2.6 Tipos de fluidos......................................................................................................................................... 30
1.2.7 Tensão superficial.................................................................................................................................... 31
1.2.8 Capilaridade............................................................................................................................................... 33
1.3 Viscosidade............................................................................................................................................... 43
1.3.1 Viscosidade dinâmica ou absoluta.................................................................................................... 43
1.3.2 Viscosidade cinemática......................................................................................................................... 45
1.3.3 Fluidos newtonianos e não newtonianos...................................................................................... 46
2 ESTÁTICA DOS FLUIDOS E MEDIDORES DE PRESSÃO........................................................................ 53
2.1 Estática dos fluidos............................................................................................................................... 53
2.1.1 Empuxo........................................................................................................................................................ 53
2.1.2 Pressão......................................................................................................................................................... 63
2.1.3 Lei de Stevin............................................................................................................................................... 66
2.1.4 Vasos comunicantes............................................................................................................................... 72
2.1.5 Princípio de Pascal ................................................................................................................................. 75
2.2 Medidores de pressão I....................................................................................................................... 84
2.2.1 Barômetro................................................................................................................................................... 86
2.2.2 Manômetros............................................................................................................................................... 88
2.3 Medidores de pressão II...................................................................................................................... 92
2.3.1 Manômetros de tubo em U................................................................................................................. 92
2.3.2 Escolha do manômetro ........................................................................................................................ 97
2.3.3 Equação manométrica........................................................................................................................... 98
3 MOVIMENTO, ESCOAMENTO E TIPOS DE VAZÕES DE UM FLUIDO............................................... 99
3.1 Movimento de um fluido................................................................................................................... 99
3.1.1 Fluido ideal e fluido real....................................................................................................................... 99
3.1.2 Fluido incompressível e fluido compressível..............................................................................100
3.1.3 Movimento permanente (estacionário)........................................................................................102
3.1.4 Movimento variado (não estacionário)........................................................................................103
3.2 Regimes de escoamento...................................................................................................................106
3.2.1 Experimento de Reynolds...................................................................................................................106
3.2.2 Escoamento laminar.............................................................................................................................107
3.2.3 Escoamento turbulento.......................................................................................................................108
3.2.4 Tensão de cisalhamento......................................................................................................................109
3.3 Número de Reynolds e descrição de escoamento.................................................................120
3.3.1 Número de Reynolds........................................................................................................................... 120
3.3.2 Trajetória e linha de corrente............................................................................................................121
3.3.3 Tubo de corrente................................................................................................................................... 122
3.3.4 Tipos de escoamento........................................................................................................................... 123
3.4 Vazões......................................................................................................................................................130
3.4.1 Vazão volumétrica (Q)......................................................................................................................... 130
3.4.2 Vazão em massa (QM).......................................................................................................................... 132
3.4.3 Vazão em peso (QG).............................................................................................................................. 133
3.4.4 Medição de vazão (Método volumétrico e rotâmetro)......................................................... 135
4 ENERGIA DE UM FLUIDO.............................................................................................................................147
4.1 Equação da continuidade e energias associadas a um fluido..........................................147
4.1.1 Equação da continuidade para regime permanente.............................................................. 147
4.1.2 Equação da continuidade para fluidos incompressíveis....................................................... 150
4.1.3 Entradas e saídas não únicas........................................................................................................... 150
4.1.4 Energia potencial (Ep).......................................................................................................................... 156
4.1.5 Energia cinética (Ec)............................................................................................................................. 157
4.1.6 Energia de pressão (Epr)....................................................................................................................... 157
4.1.7 Energia mecânica total (E)................................................................................................................ 158

Unidade II
5 FUNDAMENTOS DA TERMODINÂMICA..................................................................................................169
5.1 Temperatura..........................................................................................................................................169
5.1.1 A lei zero da termodinâmica.............................................................................................................170
5.1.2 Célula do ponto tríplice......................................................................................................................171
5.1.3 Termômetros........................................................................................................................................... 173
5.1.4 Termômetro a gás................................................................................................................................. 174
5.1.5 Escalas Celsius e Fahrenheit............................................................................................................. 176
5.1.6 Tipos de termômetros......................................................................................................................... 177
5.1.7 Exemplos resolvidos............................................................................................................................. 178
5.2 Calorimetria...........................................................................................................................................185
5.2.1 Equação fundamental da calorimetria........................................................................................ 186
5.2.2 Calor latente........................................................................................................................................... 187
5.2.3 Equação calorimétrica........................................................................................................................ 188
5.2.4 Exemplos resolvidos............................................................................................................................. 188
5.3 Gases Perfeitos.....................................................................................................................................194
5.3.1 Equação de energia interna.............................................................................................................. 195
5.3.2 Equação de calor................................................................................................................................... 196
5.3.3 Equação de trabalho............................................................................................................................ 196
5.3.4 Exemplos resolvidos............................................................................................................................. 198
6 PRIMEIRA E SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA.............................................................................205
6.1 Primeira lei da termodinâmica......................................................................................................205
6.1.1 Transformações termodinâmicas................................................................................................... 205
6.1.2 Transformações cíclicas.......................................................................................................................212
6.1.3 Exemplos resolvidos..............................................................................................................................213
6.2 Máquinas térmicas.............................................................................................................................235
6.2.1 Motor diesel............................................................................................................................................ 237
6.2.2 Exemplos resolvidos............................................................................................................................. 239
6.3 Ciclo de Carnot.....................................................................................................................................245
6.3.1 Exemplos resolvidos............................................................................................................................. 249
6.4 Segunda lei da termodinâmica......................................................................................................260
6.4.1 Teorema de Carnot................................................................................................................................261
6.4.2 Exemplos resolvidos..............................................................................................................................261

Unidade III
7 ROTEIROS EXPERIMENTAIS – FLUIDOS..................................................................................................271
7.1 Picnômetro líquido.............................................................................................................................271
7.1.1 Objetivos................................................................................................................................................... 272
7.1.2 Introdução teórica................................................................................................................................ 272
7.1.3 Material utilizado.................................................................................................................................. 275
7.1.4 Procedimento experimental............................................................................................................. 275
7.1.5 Relatório Experimental – Picnômetro líquido........................................................................... 276
7.2 Picnômetro sólido...............................................................................................................................278
7.2.1 Objetivos................................................................................................................................................... 279
7.2.2 Introdução teórica................................................................................................................................ 279
7.2.3 Material utilizado...................................................................................................................................281
7.2.4 Procedimento experimental............................................................................................................. 282
7.2.5 Roteiro Experimental – Picnômetro Sólido................................................................................ 283
7.3 Viscosímetro de stokes......................................................................................................................286
7.3.1 Objetivos................................................................................................................................................... 286
7.3.2 Introdução teórica................................................................................................................................ 286
7.3.3 Material uUtilizado.............................................................................................................................. 288
7.3.4 Procedimento experimental............................................................................................................. 289
8 ROTEIROS EXPERIMENTAIS – TERMODINÃMICA...............................................................................293
8.1 Calor específico dos sólidos............................................................................................................293
8.1.1 Objetivo..................................................................................................................................................... 293
8.1.2 Introdução teórica................................................................................................................................ 293
8.1.3 Material utilizado.................................................................................................................................. 295
8.1.4 Procedimento experimental............................................................................................................. 296
8.1.5 Roteiro Experimental – calor específico dos sólidos.............................................................. 296
8.2 Dilatação térmica dos sólidos........................................................................................................298
8.2.1 Objetivos................................................................................................................................................... 298
8.2.2 Introdução Teórica............................................................................................................................... 298
8.2.3 Material utilizado.................................................................................................................................. 299
8.2.4 Procedimento experimental............................................................................................................. 300
8.2.5 Roteiro Experimental – Dilatação térmica dos sólidos..........................................................301
APRESENTAÇÃO

Os tópicos abordados na disciplina Fluidos e Termodinâmica estão divididos em três unidades.

Primeiramente, abordaremos os princípios referentes à física dos fluidos; suas propriedades, as


características vinculadas à estática dos fluidos e funcionamento dos principais medidores de pressão.
Os fenômenos relacionados ao movimento, escoamento e tipos de vazões dos fluidos serão explicitados.
Ainda, de acordo com o movimento de um fluido, serão estudadas a equação da continuidade e as
energias associadas a um fluido.

Sequencialmente, priorizaremos o estudo dos fenômenos termodinâmicos. Começaremos com


princípios fundamentais de temperatura e calorimetria e, em continuidade, serão desenvolvidos os
conceitos das leis zero, primeira e segunda da termodinâmica. Para finalizar o estudo termodinâmico, os
conceitos de máquinas térmicas e ciclo de Carnot complementarão a teoria.

Por fim, apresentaremos a física envolvida em cada experimento proposto a fim de complementar
o estudo teórico dessa disciplina. Como proposta, os experimentos de Picnômetro Líquido e Sólido,
Viscosímetro de Stokes, Calor Específico e Dilatação Térmica dos Sólidos serão desenvolvidos e estudados
por meio de roteiros experimentais específicos e detalhados.

Para o bom entendimento do conteúdo, este livro-texto apresenta exemplos resolvidos, testes,
exemplos de aplicação e indicação de conteúdos complementares ao estudo do aluno.

9
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Unidade I
1 PROPRIEDADE DOS FLUIDOS

1.1 Sistemas de dimensões e unidades

Uma quantidade física inclui uma dimensão e uma unidade. Segundo as dimensões de grandezas
básicas como massa, comprimento, tempo e força, é possível classificar os sistemas de dimensões
primárias (ou fundamentais) em dois tipos:

MLT: possui como dimensões primárias a massa (M), o comprimento (L) e o tempo (T).

FLT: possui como dimensões primárias a força (F), o comprimento (L) e o tempo (T).

No sistema MLT, a força é uma dimensão secundária (ou derivada), ou seja, depende das
dimensões primárias e pode ser obtida pela Segunda Lei de Newton. Já no sistema FLT, a dimensão
secundária é a massa, que também pode ser obtida analisando a Segunda Lei de Newton. Os
sistemas MLT são chamados de sistemas inerciais ou físicos e os sistemas FLT são denominados
gravitacionais ou técnicos.

Em mecânica dos fluidos, é comum expressar as grandezas envolvidas em diferentes sistemas de


unidades. Além disso, existem diferenças de terminologias e unidades em determinados países, como
nos Estados Unidos, que ainda emprega o sistema inglês de unidades.

A seguir veremos as principais unidades segundo o Sistema Internacional (SI) e outros sistemas
largamente empregados pela comunidade científica.

1.1.1 Sistema Internacional de Unidades (SI)

O Sistema Internacional de Unidades (SI), também conhecido como Sistema Métrico, foi estabelecido
em 1960 na Conferência Geral de Pesos e Medidas (Conférence Générale des Poids et Mesures – CGPM),
que é responsável por definir os padrões de medidas e suas unidades.

Esse sistema é empregado em quase todo o mundo, exceto por três países, que não utilizam
oficialmente o sistema internacional de unidades: Mianmar, Libéria e Estados Unidos. O SI possui sete
unidades básicas independentes, que são definidas a seguir:

• metro (m): um metro é o comprimento percorrido pela luz no vácuo que corresponde a uma
fração de 1/299.792.458 do segundo;

11
Unidade I

• quilograma (kg): um quilograma equivale à massa de um cilindro composto por uma liga de
platina e irídio (figura 1);

• segundo (s): um segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos de uma transição entre dois níveis de
energia do átomo de césio-133. Para essa medição, empregam-se relógios atômicos de césio (figura 2);
• kelvin (K): um kelvin é 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água;
• mol (mol): um mol equivale à quantidade de substância de um sistema que contém tantas
entidades elementares quanto são os átomos contidos em uma amostra de 0,012 kg de carbono-12;
• ampere (A): um ampere é a corrente elétrica constante que, se mantida entre dois condutores
paralelos, retilíneos, de comprimento infinito e secção circular desprezível, colocados a 1 m de
distância no vácuo, produziria entre esses condutores uma força de 2x10-7 newtons por metro;
• candela (cd): uma candela é a intensidade luminosa de uma fonte que emite uma radiação
monocromática, em uma dada direção, de frequência 540.1012 hertz e que tem uma intensidade
radiante nessa direção de 1/683 watts por esterradiano.

No quadro a seguir são mostradas as grandezas físicas básicas do Sistema Internacional, com suas
respectivas unidades.

Quadro 1 – Grandezas físicas e unidades básicas do Sistema Internacional


Grandeza física Unidade no SI
Comprimento Metro (m)
Massa Quilograma (k)
Tempo Segundo (s)
Temperatura Kelvin (K)
Quantidade de matéria Mol (mol)
Corrente elétrica Ampere (A)
Intensidade luminosa Candela (cd)

Figura 1 – Cilindro padrão com um quilograma de massa do National Institute


of Standards and Technology (NIST) dos Estados Unidos

12
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Figura 2 – Relógio atômico de césio do National Institute of Standards and Technology (Nist)

A partir das unidades básicas do SI é possível definir as unidades secundárias (ou derivadas) das
demais grandezas físicas. No quadro a seguir são mostradas algumas das principais grandezas físicas,
com suas respectivas unidades secundárias e dimensões nos sistema MLT e FLT.

Quadro 2 – Grandezas físicas, com suas respectivas unidades secundárias no sistema


internacional e dimensões nos sistemas MLT e FLT

Grandeza física Unidade no SI Sistema MLT Sistema FLT


Velocidade m/s LT-1 LT-1
Aceleração m/s² LT-2 LT-2
Força kg m/s² = N MLT-2 F
Energia kg m²/s² = N m ML²T-2 FL
Pressão kg/m s² = N/m² ML-1T-2 FL-2
Massa específica kg/m³ = N s²/m4 ML-3 FL-4T 2
Peso específico kg/m² s² = N/m³ ML-2T-2 FL-3

Além disso, o SI possui um método geral para formação de múltiplos e submúltiplos por
meio da multiplicação por potencias de base dez, que correspondem a prefixos que modificam
as unidades básicas e secundárias. Na tabela a seguir são mostrados esses prefixos, com seus
símbolos e nomes.

13
Unidade I

Tabela 1 – Prefixos para as unidades do Sistema Internacional (SI)

Símbolo Nome Valor


Y yotta 1024
Z zetta 1021
E exa 1018
P peta 1015
T tera 1012
G giga 109
M mega 106
k quilo 103
h hecto 102
da deca 101
d deci 10−1
c centi 10−2
m mili 10−3
µ micro 10−6
n nano 10−9
p pico 10−12
f femto 10−15
a atto 10−18
z zepto 10−21
y yocto 10−24

Saiba mais

A primeira Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM) ocorreu em


1889. Para saber mais sobre as últimas recomendações aprovadas e a
participação da delegação brasileira na conferência, acesse:

INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, QUALIDADE E TECNOLOGIA


(INMETRO). Conferência Geral de Pesos e Medidas – CGPM. Inmetro, 2012.
Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/metcientifica/comites/cgpm.
asp>. Acesso em: 29 abr. 2015.

14
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

1.1.2 Sistema CGS de unidades

O Sistema CGS é do tipo MLT e suas unidades básicas são o centímetro (cm), o grama (g) e
o segundo (s). Esse sistema é usualmente utilizado em física atômica e nuclear. No quadro a
seguir são apresentadas algumas grandezas físicas com suas respectivas unidades secundárias no
sistema CGS:

Quadro 3 – Grandezas físicas com suas unidades secundárias no sistema CGS

Grandeza física Unidade CGS


Velocidade cm/s
Aceleração cm/s²
Força dina
Energia erg
Pressão dina/cm²
Massa específica g/cm³
Peso específico dina/cm³

1.1.3 Sistema Inglês de Unidades

Largamente utilizado nos Estados Unidos, o Sistema Inglês de Unidades (ou Britânico, ou Imperial)
é do tipo FLT, ou seja, a força é considerada uma dimensão primária. Nesse sistema, as unidades de
força, comprimento e tempo são, respectivamente, libra-força (lbf), pé (ft) e segundo (s). Os fatores de
conversão para as unidades no SI são:

1 lbf = 4,448 N
1 ft = 0,3048 m

Como a massa é uma dimensão secundária nesse sistema, sua unidade (slug) pode ser definida a
partir da Segunda Lei de Newton:

1 slug = 1 lbf. s²/ft

No quadro a seguir são mostradas algumas grandezas físicas com suas unidades secundárias
no Sistema Inglês. Por ser do tipo FLT, esse sistema de unidades também é conhecido como
Gravitacional Britânico. Contudo, esse sistema ainda possui uma variação FMLT, o chamado
Sistema de Unidades Inglês Técnico ou de Engenharia. Nele, a unidade de força é a libra-força
(lbf), a unidade de massa é a libra-massa (lbm), a unidade de comprimento é o pé (ft) e a unidade
de tempo é o segundo (s). A relação entre slug e lbm é:

1 slug = 32,2 lbm

15
Unidade I

Quadro 4 – Grandezas físicas, com suas respectivas unidades secundárias


no Sistema Inglês e dimensões no Sistema FLT

Grandeza física Unidade no Sistema Inglês Sistema FLT

Velocidade ft/s LT-1

Aceleração ft/s² LT-2

Força lbf F

Energia lbf ft FL

Pressão lbf/ft² FL-2

Massa específica slug/ft3 FL-4T 2

Peso específico lbf/ft³ FL-3

Fazem parte do Sistema Inglês ainda unidades maiores e menores, como a polegada e a milha.
Na próxima seção serão mostrados os fatores de conversão de unidades para as principais grandezas
empregadas em mecânica dos fluidos.

Os engenheiros devem saber trabalhar tanto com unidades no SI quanto com unidades no
Sistema Inglês. Esse conhecimento é importante principalmente em projetos que envolvem
pessoas de diversas nacionalidades, já que, dependendo do projeto, um equívoco de conversão
pode ocasionar uma grande catástrofe.

Uma falha de conversão de unidades foi a causa da destruição da sonda Mars Climate Orbiter,
lançada em 1999 pela Nasa para estudar o clima de Marte. Enquanto os engenheiros projetistas fizeram
alguns cálculos com unidades do Sistema Inglês, a equipe de controle esperava valores com unidades
do Sistema Internacional.

Saiba mais

Para saber mais sobre grandes desastres ocasionados por falhas de


conversão de unidades, acesse:

MARQUES JÚNIOR, M.; KAMIYA, R. R. Antipadrão de desenvolvimento:


desastre incomensurável. IME–USP, 2006. Disponível em: <https://www.
ime.usp.br/~kon/MAC5715/PLoP/2006/refact/DesastreIncomensuravel-ref.
pdf>. Acesso em: 29 abr. 2016.

16
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

1.1.4 Fatores de conversão

Nas tabelas a seguir são apresentados os principais fatores de conversão para as grandezas:
comprimento, tempo, massa, área, volume, velocidade, força, potência, massa específica, pressão
e energia.

Tabela 2

Comprimento
m pol ft mi
1 metro (m) 1 39,37 3,281 6,214x10-4
1 polegada (pol) 2,540.10-2 1 8,333x10-2 1,578x10-5
1 pé (ft) 0,3048 12 1 1,894x10-4
1 milha (mi) 1609,344 63360 5280 1

Tabela 3

Tempo
s min h d ano
1 segundo (s) 1 1,667x10-2 2,778x10-4 1,157x10-5 3,169x10-8
1 minuto (min) 60 1 1,667x10-2 6,994x10-4 1,901x10-6
1 hora (h) 3600 60 1 4,167x10-2 1,141x10-4
1 dia (d) 8,640x104 1440 24 1 2,738x10-3
1 ano 3,156x107 5,260x105 8,766x103 365,2 1

Tabela 4

Massa
kg utm slug
1 quilograma (kg) 1 1,0197x10-1 6,852x10-2
1 unidade técnica de massa (utm) 9,80665 1 0,67
1 slug 14,59 1,4925 1

Tabela 5

Área
m2 pol2 ft2
1 metro quadrado (m2) 1 1550 10,76
1 polegada quadrada (pol ) 2
6,452x10 -4
1 6,944x10-3
1 pé quadrado (ft2) 9,290x10-2 144 1

17
Unidade I

Tabela 6

Volume
m 3
cm3 l pol3 ft3
1 metro cúbico (m3) 1 106 103 6,102x104 35,31
1 centímetro cúbico (cm ) 3
10 -6
1 10 -3
6,102x10 -2
3,531x10-5
1 litro (l) 10-3 103 1 61,02 3,531x10-2
1 polegada cúbica (pol3) 1,639x10-5 16,39 1,639x10-2 1 5,787x10-4
1 pé cúbico (ft3) 2,382x10-2 2,831x104 28,32 1728 1

Tabela 7

Velocidade
m/s km/h ft/s mi/h
1 metro/segundo (m/s) 1 3,600 3,281 2,237
1 quilômetro/hora (km/h) 0,2778 1 0,9113 0,6214
1 pé/segundo (ft/s) 0,3048 1,097 1 0,6818
1 milha/hora (mi/h) 0,4470 1,609 1,467 1

Tabela 8

Força
N kgf pdl lbf dina
1 newton (N) 1 0,102 7,246 0,2248 105
1 quilograma-força (kgf) 9,8065 1 70,95 2,205 980665
1 poundal (pdl) 0,138 1,41x10-2 1 3,1x10-2 13823
1 libra-força (lbf) 4,448 0,453 32,17 1 4,448x105
1 dina 10-5 0,102x10-5 7,23x10-5 2,248x10-6 1

Tabela 9

Potência
W cal/s HP ft.lb/s btu/h
1 watt (W) 1 0,2390 1,341x10-3 0,7376 3,414
1 caloria/segundo (cal/s) 4,184 1 5,611x10 -3
3,086 14,29
1 Horse Power (HP) 745,7 178,2 1 550 2546
1 libra/pé por segundo (ft.lb/s) 1,356 0,3240 1,818x10-3 1 4,629
1 BTU/hora (btu/h) 0,2929 7,000x10 -2
3,928x10 -4
0,2160 1

18
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Tabela 10

Massa específica
kg/m3 g/cm3 lb/ft3
1 quilograma/metro cúbico (kg/m3) 1 10-3 6,243x10-2
1 grama/cm3 (kg/cm3) 103 1 62,43
1 libra/pé cúbico (lb/ft3) 16,02 1,602x10-2 1

Tabela 11

Pressão
mmHg polegada
Pa dina/cm2 atm (torr) lb/pol2 de água mca

1 pascal 1 10 9,869x10-6 7,501x10-3 1,450x10-4 4,015x10-3 1,02.10-4


(N/m2 = Pa)
1 dina/cm2 0,1 1 9,869x10-7 7,501x10-4 1,450x10-5 4,015x10-4 1,02.10-5
1 atmosfera (atm) 1,013x105 1,013x106 1 760 14,70 406,8 10,33
1 milímetro de Hg 133,3 1,333x103 1,316x10-3 1 1,934x10-2 0,5352 0,01
(mmHg = torr)
1 libra/polegada 6895 6,895x104 0,06805 51,71 1 27,68 0,7
quadrada (lb/pol2)

1 polegada 249,1 2491 2,458x10-3 1,868 3,613x10-2 1 0,03


de água

1 metro de coluna 9806,38 9,81.104 0,1 73,55 1,42 39,37 1


de água (mca)

Tabela 12

Energia
J erg cal kW. h pé.lb HP.h btu
1 joule (J) 1 107 0,2390 2,778x10-7 0,7376 3,725x10-7 9,484x10-4
1 erg (erg) 10-7 1 2,390x10-8 2,778x10-14 7,376x10-8 3,725x10-14 9,484x10-11
1 caloria (cal) 4,184 4,184x107 1 1,162x10-64 3,086 1,559x10-6 3,968x10-3
1 quilowatt- 3,6.106 3,6x1013 8,604x105 1 2,655x106 1,341 3414
hora (kW.h)
1 libra pé (pé.lb) 1,356 1,356x107 0,3240 3,776x10-7 1 5,051x10-7 1,286x10-3
1 Horse Power 2,685x106 2,685x1013 6,416x105 0,7457 1,980x106 1 2546
hora(HP.h)
1 BTU (btu) 1054 1,054x1010 252 2,929x10-4 7,777x102 3,928x10-4 1

A seguir examinaremos alguns exemplos resolvidos.

19
Unidade I

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Em uma tubulação, o regime de escoamento de um fluido (laminar ou turbulento) é determinado


pelo número de Reynolds (Re), que é um adimensional, ou seja, não possui unidade. Sabendo que o
número de Reynolds é calculado pela expressão a seguir, determine a dimensão da grandeza viscosidade
absoluta (μ) no sistema MLT e FLT.

  v D
Re 


onde r é a massa específica; v é a velocidade média, D é o diâmetro da tubulação e m é a viscosidade


absoluta.

Solução:

Para resolver esse problema é necessário efetuar a análise dimensional da expressão. A análise
dimensional consiste em analisar a consistência das dimensões das grandezas de uma determinada
equação, ou seja, somente quantidades de mesma dimensão podem ser igualadas. Para realizar uma
análise dimensional, é necessário:

• Inferir a dimensão de cada símbolo de uma equação, de acordo com a propriedade física que
ele descreve.

• Efetuar os cálculos algébricos necessários.

• Verificar a concordância dimensional da grandeza analisada.

Dessa forma, como as dimensões das grandezas envolvidas no cálculo do número de Reynolds são:

r → ML-3
v → LT-1
D→L

Isolando a viscosidade absoluta, a equação do número de Reynolds, em termos das unidades, fica:

µ = ML-3LT-1L

Ou seja, no sistema MLT, a viscosidade absoluta tem as seguintes dimensões:

µ = ML-1T-1

20
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Já no sistema FLT, a massa tem que ser expressa em termos da força e da aceleração por meio da
Segunda Lei de Newton:
M = FL-1T2

Portanto, no sistema FLT, a viscosidade absoluta tem as seguintes dimensões:


µ = FL-2T

Exemplo 2

No Sistema Internacional de Unidades a massa específica r (ou densidade) é expressa em quilograma


por metro cúbico (kg/m³). Determine suas unidades no sistema de dimensões FLT.

Solução:

Como a massa específica no sistema MLT tem as seguintes dimensões:


r = ML-3
e a massa no sistema FLT é:
M = FL-1T2

Portanto:
r = FL-1T-2L-3 ⇒ r = FL-4T-2

Ou seja, em termos das unidades, no Sistema Internacional, a massa específica pode ser expressa em
Newtons por metro elevado à quarta potência segundo ao quadrado (N/m4.s²).

Exemplo 3

O momento polar de uma força em relação ao ponto o ( Mo ) pode ser expresso pelo produto vetorial
entre o vetor posição ( r ) e a força aplicada ( F ):
  
Mo  r  F

Determine as unidades da grandeza momento polar no Sistema Internacional de Unidades, utilizando


a base FLT.

Solução:

Independentemente de as grandezas envolvidas em uma determinada equação serem representadas


na forma vetorial ou escalar, a análise dimensional segue a mesma metodologia. Assim,
Mo = FLT 0

21
Unidade I

Ou simplesmente:
Mo = FL

Exemplo 4

Num laboratório de mecânica dos fluidos, para a análise do perfil de velocidades em uma seção
transversal de um conduto, utilizou-se um tubo de Pitot e um manômetro diferencial de pressão. Nesse
experimento, a leitura de pressão foi de 800 Pa. Qual o valor dessa leitura em kgf/cm² e em bar?

Solução:

Sabendo que 1 Pa equivale a 1 N/m², e que:

1 N = 1,02.10-1 kgf
1 m² = 104 cm²

Então, tem-se:

N 1, 02 10 1 kgf
800 Pa  800  800 
m² 104 cm²
800 Pa = 816.10-5 kgf/cm²

Como 1 Pa = 10-5 bar:

800 Pa = 800.10-5 bar = 0,008 bar

Note que, segundo o Escritório Internacional de Pesos e Medidas (Bureau International des Poids et
Mesures – BIPM), apesar de o bar não ser uma unidade do SI, seu uso é aceitável em algumas aplicações,
por exemplo, em tabelas de dados empregados em termodinâmica, nas quais 1 bar é o valor padrão de
pressão.

Exemplo 5

Considere um corpo com volume de 10.000 dm³ (decímetro cúbico). Qual o seu volume em m³?

Solução:

Como o valor do prefixo deci (d) é 10-1, então:

10.000 dm³ = 10.000.10-3 m³


10.000 dm³ = 10 m³

22
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Exemplo 6

A aceleração da gravidade é 10 m/s², no SI. Qual o valor dessa aceleração em pés por segundo
ao quadrado?

Solução:

A conversão entre metro e pé é:

1 m = 3,281 ft

Dessa forma:

m ft
10  10  3, 281
s² s²
m ft
10 = 32, 81
s² s²

Exemplo 7

A velocidade de escoamento (v) de um fluido em uma tubulação equivale a 3 m/s. Converta esse
valor para milhas por segundo.

Solução:

A conversão entre metro e milha é:

1 m = 6,214x10-4 mi

Portanto,

m mi
v3  3  6, 214  10 4
s s
v  1864
,  10 3 mi / s

Exemplo 8

Determine o fator de conversão entre um valor de velocidade em quilômetros por hora (km/h) para
um valor em metros por segundo (m/s).

Solução:

Os fatores de conversão do comprimento e do tempo são:


23
Unidade I

1 km = 1000 m

1 hora = 3600 s

Assim,

km 1000 m
1 =
h 3600 s
km 1 m
1 =
h 3, 6 s

Exemplo 9

A unidade quilograma-força (kgf) é largamente utilizada na Europa. Supondo que um recipiente


contenha um fluido a uma pressão de 200 Pa, qual seu valor em kgf/cm²? Qual seu valor em psi?

Solução:

Como 1 Pa = 1 N/m², os fatores de conversão envolvidos são:

1 N  0,102 kgf
1 m²  104 cm²
1 Pa  1, 450x10 4 psi

Em kgf/cm², a pressão será:

0,102 kgf
200 Pa  200 
104 cm²
kgf
200 Pa  2, 04  10 3
cm²

Em psi, a pressão será:

200 Pa  200  1, 450  10 4 psi


200 Pa  0, 029 psi

24
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Observação
A unidade psi baseia-se no sistema inglês de unidades que corresponde
à abreviação do inglês pound-force per square inch (libra força por polegada
quadrada). Muitos manômetros apresentam escalas de pressão calibradas
tanto em kPa quanto em psi.

Exemplo de aplicação

Exemplo 10

Na teoria cinética dos gases, define-se o livre caminho médio (ou livre percurso médio) l de uma
molécula de gás. Esse parâmetro é definido como sendo a distância média percorrida entre duas colisões
sucessivas e pode ser obtido por meio da seguinte expressão:

m
C
D²

onde C é uma constante, m é a massa, r é a massa específica e D é o diâmetro da molécula.


Determine as dimensões da constante C.

Solução:

Reescrevendo a equação anterior em termos de suas dimensões, temos:

L   C M
ML 3 L 2
Assim, para que a equação seja dimensionalmente correta, a constante C dever ser adimensional.

1.2 Propriedades dos fluidos

1.2.1 Definições e conceitos fundamentais dos fluidos

A matéria possui três estados (ou fases) fundamentais: sólido, líquido e gasoso. No entanto, líquidos
e gases são classificados como fluidos, já que, diferentemente dos sólidos, não possuem a capacidade de
resistir a uma deformação. Por essa razão, sob a ação de uma força, os fluidos possuem a capacidade de
escoar e sua forma se altera continuamente enquanto a força é aplicada.

A deformação dos fluidos é causada por forças de cisalhamento, que atuam tangencialmente à
superfície. Na figura a seguir, verifica-se a atuação de uma força tangencial (Ft) em um elemento de

25
Unidade I

fluido ABCD (linhas contínuas). Essa força de cisalhamento produz uma deformação para um elemento
A’B’CD (linhas tracejadas). Assim, é possível definir um fluido como sendo uma substância que se deforma
continuamente, ou escoa, quando sujeita a uma força tangencial a sua superfície. Da mesma forma, é
possível concluir que se um fluido está em repouso, não existem forças tangenciais atuando, somente
forças perpendiculares ao plano.
A A’ B B’ F1

D C

Figura 3 – Elemento de volume de um fluido sob a ação de uma força de cisalhamento

Quando um fluido está em movimento, suas moléculas se movem em relação às outras. Se moléculas
adjacentes possuírem velocidades distintas, esse movimento causará tensões de cisalhamento. Por
exemplo: considerando um fluido em movimento em uma tubulação, a superfície sólida exerce uma
força de cisalhamento que retarda o movimento do fluido. Dessa forma, a velocidade do fluido nas
vizinhanças da tubulação é reduzida e na parede da tubulação a velocidade é nula. Esse estudo da
alteração da velocidade na direção do escoamento é conhecido como perfil de velocidade e é mostrado
na figura a seguir.

Figura 4 – Perfil de velocidade de um fluido em uma tubulação

Se a velocidade do fluido é a mesma em todos os pontos, então nenhuma força de


cisalhamento é produzida e as moléculas possuem velocidade relativa nula. Isso ocorre quando o
fluido escoa longe de qualquer fronteira. A figura seguinte ilustra o perfil de velocidade na
ocorrência dessa situação.

26
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Figura 5 – Perfil de velocidade de um fluido longe de qualquer fronteira

1.2.2 Pressão e tensão de cisalhamento

Considerando uma superfície de área A submetida à ação de uma força normal Fn (figura a seguir),
define-se a pressão média P (ou pressão hidrostática) como sendo a razão entre a força e a área. Vale
destacar que a pressão é uma grandeza escalar, ou seja, não possui direção nem sentido.

Fn
P=
A
A pressão atmosférica num ponto corresponde à força por unidade de área causada pelo peso
do ar acima do ponto de medição. Para uma dada superfície, regiões de baixos valores de pressão
possuem menos massa de ar acima do ponto considerado do que regiões com elevados valores de
pressão. Dessa forma, quando a altitude aumenta, a quantidade de massa de ar sobre a superfície
diminui, o que causa a diminuição da pressão atmosférica. Em média, uma coluna de ar com 1 cm²
de seção transversal no nível do mar possui 10,1 N de peso. Esse valor corresponde a 1 atmosfera
(1 atm) de tal forma que:

1 atm = 1,01x105 Pa

Vale ressaltar que, no Sistema Internacional, a unidade para pressão é N/m², que equivale à unidade
pascal (Pa).

Fn

Ft

Figura 6 – Superfície de área A submetida a uma força normal à superfície


Fn e a uma força tangencial à superfície Ft

27
Unidade I

Analogamente, define-se a tensão de cisalhamento (t) como sendo a razão entre a força (Ft) que
tangencia a superfície com área A (figura anterior). Sob a influência dessa tensão de cisalhamento, um
elemento de volume sofre uma deformação continuamente.

Ft

A

Portanto, assim como a pressão, a unidade no SI para tensão de cisalhamento é o pascal (Pa).

1.2.3 Pressão hidrostática

A pressão hidrostática é definida como a pressão exercida por qualquer fluido em repouso e em
espaços confinados. Se o fluido está em um recipiente, ele exercerá uma pressão sobre as paredes desse
recipiente. As principais características da pressão hidrostática são:

• ser exercida em todas as direções;

• ser perpendicular a qualquer superfície com a qual esteja em contato;

• ser independente do formato do recipiente;

• ter, para uma superfície horizontal, o valor da pressão constante;

• ser diretamente proporcional à profundidade.

A figura a seguir ilustra as forças exercidas nas paredes de um recipiente por um gás e por um
líquido, em estado de equilíbrio.

Gás Líquido

Figura 7 – Forças perpendiculares exercidas sobre as superfícies de um recipiente para um gás e um líquido

1.2.4 Massa específica

Considerando uma quantidade de fluido, a massa específica (r) é definida como sendo a razão entre
massa (m) e o volume (∀) dessa quantidade.

m


28
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

No SI, a unidade para massa específica é o kg/m³. Vale destacar que a massa específica é grandeza
escalar. Na tabela a seguir são mostrados os valores de massa específica para alguns fluidos.

Tabela 13 – Valores de massa específica de alguns fluidos

Fluido Massa específica (r) (kg/m3)


Água destilada 1000
Água do mar 1030
Álcool etílico 800
Glicerina 1260
Mercúrio 13600
Óleo diesel 890
Óleo lubrificante 910
Óleo de soja 950
Petróleo 880
Ar (15,6 C; P = 1 atm)
o
1,2
Metano (15,6 C; P = 1 atm)
o
0,6

Uma forma de expressar a massa específica de um fluido é compará-la com um valor de referência.
Normalmente essa comparação é efetuada com a massa específica da água (1000 kg/m³). Dessa forma,
a massa específica relativa (rr) pode ser escrita como:


r 
H2O

Observação
A grandeza densidade também é definida como sendo a razão entre a
massa e o volume de uma determinada quantidade de matéria. Contudo,
essa nomenclatura é mais apropriada para sólidos do que para fluidos.

1.2.5 Peso específico

Define-se peso específico (g) de um fluido como sendo a razão entre seu peso (G) e o seu volume
(∀). Assim:

G


No SI a unidade para peso específico é N/m³. O peso de um corpo pode ser determinado por meio
da Segunda Lei de Newton:

G = m.g
29
Unidade I

onde m é massa do corpo e g é aceleração da gravidade.

Portanto, o peso específico pode ser reescrito como sendo:

mg


Como a razão entre a massa (m) e o volume (∀) corresponde à massa específica (r), então:

γ=r.g

1.2.6 Tipos de fluidos

1.2.6.1 Fluido ideal e fluido real

Um fluido é considerado ideal quando se supõe que sua viscosidade seja nula. Essa é uma aproximação
teórica muito útil para certas aplicações, uma vez que se pode concluir que durante o escoamento de
um fluido ideal ele não opõe resistência ao deslizamento de suas camadas e, consequentemente, não
existem perdas de energia por atrito.

Já um fluido real apresenta viscosidade não nula e durante o escoamento suas camadas adjacentes
resistem ao deslizamento. Essa resistência depende da taxa de variação da velocidade relativa e será
abordada com maiores detalhes no próximo capítulo.

1.2.6.2 Fluido incompressível

Se a massa específica do fluido permanecer uniforme e constante durante o escoamento, o fluido


(ou o escoamento) é classificado como incompressível. Ou seja, ao longo do tempo, o volume do fluido
permanece constante se ele for um fluido incompressível. Assim, a massa específica em um ponto 1 é
igual à massa específica em um ponto 2:

ρ1 = ρ2 = constante

Os líquidos são basicamente fluidos incompressíveis, já que suas massas específicas se alteram
apenas para grandes variações de pressão. Mesmo assim, essa variação é baixa. Por exemplo: a massa
específica da água sofre uma alteração de aproximadamente 0,5% quando a pressão se eleva de 1 atm
para 100 atm, a uma temperatura constante.

1.2.6.3 Fluido compressível

Em contrapartida, se a massa específica do fluido se altera ao longo do escoamento, ele é


classificado como compressível. Gases, em geral, são fluidos compressíveis, já que pequenas
variações de pressão influenciam fortemente o seu volume e, consequentemente, alteram suas
massas específicas.
30
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Para gases ideais (ou perfeitos) é possível relacionar a massa específica (r) com a pressão (P) por
meio da equação de estado mostrada a seguir:

P=r.R.T

onde R é uma constante que depende do gás e T é a temperatura absoluta (ou termodinâmica). No
SI a unidade para temperatura absoluta é o kelvin (K).

A constante do gás (R) pode ser calculada por meio da expressão:

Ru
R=
M

sendo Ru a constante universal dos gases, cujo valor no SI é 8,314 kJ/kmol.K, e M a massa molar
do gás.

Observação

Gás ideal, ou perfeito, é uma idealização de um real no limite quando


a interação entre suas moléculas pode ser desprezada. Essa condição é
alcançada quando a pressão é baixa e a temperatura do gás encontra-se
distante do ponto de liquefação.

1.2.7 Tensão superficial

Em muitos casos, é possível observar que quando gotas de líquidos entram em contato com outros
líquidos ou gases, ou com superfícies sólidas, há a formação de gotículas quase esféricas (figura a
seguir). Isso ocorre, por exemplo, com gotas de chuva sobre as folhas de uma árvore ou bolhas de sabão
lançadas ao ar. Esses efeitos são devidos ao surgimento de uma interface entre o líquido e o meio, que
age como uma membrana esticada e causa o surgimento de uma tensão superficial (s).

A tensão superficial é responsável pelo fato de alguns objetos de baixa massa (por exemplo, clipes
de papel) não afundarem quando colocados em água. O fato de alguns insetos conseguirem se deslocar
sobre a água também é explicado pela tensão superficial, que equilibra o peso deles (figura 9). Sabendo
a força de tensão superficial (F) e o comprimento (d) ao longo do qual a força de tensão atua, a tensão
superficial pode ser determinada por meio da expressão:

F

d

No SI, a unidade para tensão superficial é newton por metro (N/m). Em geral, a tensão superficial de
líquidos decresce com a temperatura e é pouco influenciada pela pressão. Na tabela subsequente são
31
Unidade I

mostrados valores experimentais de tensão superficial para alguns fluidos em contato com o ar, com
respectivos valores de temperatura.

Gota de Água

Figura 8 – Efeito da tensão superficial sobre uma gota de água

Figura 9 – Um inseto pode pousar sobre a superfície da agua devido ao efeito da tensão superficial

Tabela 14 – Valores experimentais de tensão superficial


para alguns fluidos em contato com o ar

Fluido Temperatura (ºC) Tensão superficial (N/m)


Benzeno 20 0,0289
Tetracloreto de carbono 20 0,0268
Álcool etílico 20 0,0223
Glicerina 20 0,0631
Mercúrio 20 0,4650
Óleo de oliva 20 0,0320
Solução de sabão 20 0,0250
Água 0 0,0756
Água 20 0,0728
Água 60 0,0662
Água 100 0,0589
Oxigênio -193 0,0157
Neônio -247 0,0052
Hélio -269 0,0001

32
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

1.2.8 Capilaridade

Uma consequência da tensão superficial é o efeito de capilaridade, que corresponde a uma ascensão
ou depressão de um líquido em um tubo de pequeno diâmetro quando este está imerso em líquido. O
efeito de capilaridade ocorre pela interação do líquido com as paredes da coluna devido a forças de
adesão, que ocasionam uma curvatura na superfície livre do fluido. Essa superfície curva de um líquido
em tubo capilar é chamada de menisco.

A água é um exemplo de líquido que, quando em contato com uma superfície de um tubo circular de
vidro, com pequeno diâmetro, sofre uma ascensão capilar (figura a seguir). Já o mercúrio, nas mesmas
condições, sofre uma depressão capilar, como ilustrado da figura 11.

Menisco

h>0
Menisco h<0

Água Mercúrio

Figura 10 – Ascensão capilar na água em um tubo Figura 11 – Depressão capilar no mercúrio em um tubo
circular de vidro com pequeno diâmetro circular de vidro com pequeno diâmetro

A ascensão (ou depressão) capilar (h) pode ser determinada pela seguinte expressão:

2
h cos 
  g R

sendo que s corresponde à tensão superficial do fluido, r é a massa específica do fluido, g é


aceleração da gravidade, R é o raio do tubo e f é o ângulo de contato que o líquido faz com a superfície
sólida no ponto de contato (figura a seguir).

Água Mercúrio
(a) (b)

Figura 12 – Ângulo de contato entre o fluido e a superfície sólida de contato para fluidos
com (a) ascensão capilar e (b) depressão capilar

33
Unidade I

Quando o ângulo f é menor do que 90º, o cos f é positivo e, consequentemente, o valor de h é


positivo, resultando na ascensão capilar. Por outro lado, quando o ângulo f é maior do que 90º, o cos
f é negativo e, devido a isso, o valor de h é negativo, resultando na depressão capilar. Além disso, vale
destacar que quanto maior o raio do tubo, menor será o efeito capilar.

Saiba mais

Para obter mais informações e visualizar o efeito de capilaridade acesse


o site:

MASSACHUSETTS INSTITUTE OF TECHNOLOGY. Capillarity and gravity.


[s.d.]. Disponível em: <http://web.mit.edu/nnf/education/wettability/
gravity.html>. Acesso em: 2 maio 2016.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Uma determinada sala possui dimensões de 5 m x 5 m x 7 m e está preenchida por um gás de massa
específica 1,17 kg/m³. Sabe-se que a pressão no interior dessa sala é de 100 kPa e que ela encontra-se a
uma temperatura de 25 ºC. Determine o volume e a massa de ar presente na sala.

7m

5m
5m

Figura 13

Solução:

Determinação do volume (∀):

A sala possui geometria retangular, desta forma:

∀ = comprimento x profundidade x altura

∀ = 5.5.7 = 175 m³

34
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Massa de ar presente na sala (m):

Para a determinação da massa de ar presente na sala utiliza-se a equação da massa específica, uma
vez que a massa específica do ar e o volume da sala são conhecidos:

m
  m  .

m  117
, .175  204, 75 kg

Exemplo 2

Considere um reservatório de 947,4 litros preenchido com 900 kg óleo de soja. Determine a massa
específica do óleo, em kg/m³.

Óleo de soja

Figura 14

Solução:

Sabemos que a massa específica de um fluido é dada pela relação:

m


A unidade da massa específica, no Sistema Internacional de Unidades, é dada em quilogramas por


metro cúbico, kg/m³. Desta forma, precisamos converter a unidade de litros para metros cúbicos, sendo:

1 l = 10-3 m³

Desta forma, temos:

947,4 l = 0,9474 m³

35
Unidade I

Portanto:

m 900
 
 0, 9474
  949, 97 kg / m3

Exemplo 3

Sabendo que 6000 litros de óleo possuem 4791,03 kg, determine a massa específica, o peso específico
e a massa específica relativa para esse fluido. Adote a aceleração da gravidade g = 9,81 m/s².

Solução:

∀ = 6000 l
m = 4791,03 kg
ρ=?
g=?
ρr = ?
g = 9,81 m/s²

Para resolver esse problema, inicialmente é necessário converter a unidade do volume de litros para m³:

1000 l = 1 m³

∴ 6000 l = 6 m³

Massa específica:

Pela equação da massa específica, tem-se:

m 4791, 03
 
 6
  798, 50 kg / m3

Peso específico:

O peso específico de um fluido é obtido por meio da relação:

mg
    .g  798, 50.9, 81

36
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Assim, o peso específico do óleo será:

γ = 7833,28N

ou

γ = 7,83 kN

Massa específica relativa:

A massa específica relativa (rr) é obtida pela razão entre a massa específica do fluido (r) e a massa
específica da água (rH2O =1000 kg/m³):

 798, 50
r  
H2O 1000
r  0, 800

Lembrete

A massa específica relativa é uma grandeza adimensional, já que se


trata de uma comparação com um valor de referência.

Exemplo 4

O peso específico da água destilada na temperatura e pressão usual é de 10 kN/m³. Sabe-se que a
massa específica relativa do mercúrio é 13,60. Determine a massa específica da água, o peso específico
do mercúrio e a massa específica do mercúrio. Considere a aceleração da gravidade g = 10 m/s².

Solução:

g = 10x10³ kg/m³

ρr = 13,60

ρH2O = ?

gHg = ?

ρHg = ?

g = 10 m/s²

37
Unidade I

Massa específica da água (ρH2O):

Sabe-se que o peso específico da água é determinado pela relação:

γH2O = ρH2O . g

Para determinar a massa específica da água (ρ), tem-se:

 H2O 10x103
H2O    1000 kg / m3
g 10

Massa específica do mercúrio (ρHg):

A massa específica do mercúrio será obtida por meio da equação massa específica relativa:
Hg
r   Hg  r .H2O
H2O

Como a massa específica do mercúrio (ρr) foi dada pelo enunciado do problema e a massa específica
da água (ρH20), calculada anteriormente, temos que:

ρHg = ρρr . ρH20 = 13,60 . 1000

ρHg = 13600 kg/m3

Peso específico do mercúrio (γHg ):

Empregando a equação do peso específico:

γHg = ρHg . g =13600 . 10

γHg = 136000 N/m3

ou

γHg = 136 kN/m3

Exemplo 5

Um determinado gás possui peso específico de 16 N/m³ a uma determinada temperatura


e pressão. Determine a massa específica do gás e a massa específica relativa do ar, cujo peso
específico é de 12 N/m³. Adote a aceleração da gravidade g = 10 m/s².

38
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

g = 16 N/m³

ρgás = ?

ρr = ?

ρar = 12 N/m³

g = 10 m/s²

Massa específica do gás (ρgás):

Como o problema forneceu o valor do peso específico do gás, a sua massa específica será obtida pela
relação:
 gas
 gas  gas .g  gas 
g
16
gas   1, 6 kg/m³
10
Massa específica relativa (ρr):

Empregando a equação da massa específica relativa, tem-se:


gas
r 
ar
16
r   1, 33
12
Exemplo 6

Para a aplicação de uma injeção, uma enfermeira emprega uma força, em média, de 40,2 N ao pistão
de uma seringa com diâmetro de 1,12 cm. Determine a pressão exercida pelo pistão no fluido.

Solução:

F = 40,2 N

d = 1,12 cm

P=?

39
Unidade I

Para a determinação da pressão, utiliza-se a equação:


F
P=
A
A área a ser utilizada é a área do pistão da seringa (uma circunferência de diâmetro 1,12 cm).
Lembrando que a área de uma circunferência é obtida por meio da relação:
2
 D
A  .R†    
 2
Como a força foi dada em newtons, é necessário realizar a conversão de centímetros (cm) para
metros (m):

1 cm = 0,01 m

∴1,12 cm = 0,0112 m

Desta forma, tem-se:

2
 0, 0112 
A     9, 85.10 5 m2
 2 

Por meio da definição da pressão:

F 40, 2
P 
A 9, 85.10 5

P = 408,12x103 N/m² ⇒ P = 408,12 kN/m²

Como 1 N/m² = 1 Pa, podemos expressar a resposta como:

P = 408,12 kPa

Exemplo 7

Em um submarino localizado a 55 metros de profundidade, a pressão interna é mantida em


condições atmosféricas (Pint = 1 atm). Sabendo que a pressão da água para essa profundidade vale
Pext = 5,48 atm, determine:

A) A força exercida em uma janela quadrada de dimensões 20 cm x 20 cm.

B) A força resultante exercida sobre essa mesma janela.

40
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

Pint = 1 atm
Pext = 5,48 atm
L = 20 cm
F=?
FR = ?

A) Para a determinação da força exercida na janela, é necessário converter as unidades para aquelas
definidas pelo Sistema Internacional de Unidades:

1 cm = 0,01 m
∴ 20 cm = 0,2 m

e a unidade de pressão de atm para Pa:

1 atm = 1,013.105 Pa
∴ 5,48 atm = 555,17 kPa

A força exercida pela pressão da água na janela do submarino é determinada a partir da definição
de pressão:
F
P  F  P.A
A
Como a janela do submarino é quadrada, a área é: A = lado²

F = 555,17 x 103.0,2.0,2
F= 22,21 kN

B) A força resultante exercida pela pressão da água na janela do submarino é determinada a partir
da definição de pressão:

FR  Pext  Pint  .A

Como a janela do submarino é quadrada, a área é: A = lado²

FR = (555,17 x 103 – 101,32 x 103).0,2.0,2

FR = 18,15 kN

41
Unidade I

Exemplo 8

Determine a intensidade e o sentido da força resultante sobre uma janela quadrada de 0,80 m de
lado de um dirigível quando este está pairando a uma altura de 3 km, cuja pressão do ar é de 70 kPa.
Sabe-se que a pressão interna do dirigível é mantida a 1 atm.

Solução:

F=?

L = 0,80 à A = L² à A = 0,64 m²

Pext = 70x103 Pa

Pint = 1 atm à Pint = 101,32x103 Pa

Sabe-se que a pressão é determinada pela razão entre a força exercida e a área:

F
P=
A

Desta forma, tem-se:

F = P.A

F = (Pext - Pint) . A

F = (70 x 103 – 101,32 x 103).0,64

F = -20,04 kN

O sentindo negativo da força indica que ela está sendo aplicada de dentro para fora da janela do
dirigível, uma vez que a pressão interna é maior do que a pressão externa. Por essa razão, tem-se:

F = 20,04 kN

e a força está orientada de dentro para fora da janela do dirigível.

42
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

1.3 Viscosidade

1.3.1 Viscosidade dinâmica ou absoluta

Considere um fluido confinado entre duas superfícies planas e paralelas, cada uma com área A,
separadas por uma distância y, como ilustrado na figura a seguir.
Área A

Ft

y
Perfil de velocidade

Figura 15 – Perfil de velocidade de um fluido escoando entre duas placas paralelas, com a placa
superior movendo-se com velocidade constante

A superfície superior desloca-se com velocidade constante v em virtude da força F aplicada sobre
ela. Já a superfície inferior é mantida fixa. Nessa situação, a velocidade nas vizinhanças da superfície
superior corresponde à velocidade v e a zero nas vizinhanças da superfície inferior. Como ilustrado na
figura anterior, a velocidade varia linearmente com a separação entre as duas superfícies.

Nessa condição, a taxa de deformação de um elemento de volume, que corresponde ao gradiente


de velocidade (dv/dy), é proporcional à tensão de cisalhamento (t). Para movimentos unidimensionais, a
tensão de cisalhamento pode ser expressa pela relação:

dv
  
dy

onde m é a constante de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento (t) e o gradiente de


velocidade (dv/dy). Essa constante é definida como viscosidade dinâmica (ou absoluta).

Por se tratarem de unidades largamente empregadas, no quadro a seguir são mostradas as unidades
para a viscosidade dinâmica no SI (sistema MLT e FLT de dimensões) e no sistema CGS (FLT) de unidades.

Quadro 5 – Unidades para a viscosidade dinâmica no SI e no sistema CGS de unidades

Sistema Viscosidade dinâmica (m)


SI (MLT) kg/m.s
SI (FLT) N.s/m² = Pa.s
CGS (FLT) dina.s/cm² = P (poise)

43
Unidade I

No sistema CGS de unidades, a viscosidade é dada em poise, símbolo P, em homenagem ao médico


fisiologista e físico francês Jean-Louis-Marie Poiseuille, que estudou o efeito da viscosidade no
escoamento de fluidos em um tubo, com o propósito de entender a circulação sanguínea.

A viscosidade dinâmica depende da temperatura e da pressão. No geral, a viscosidade dinâmica de


líquidos diminui com o aumento da temperatura, enquanto a viscosidade dos gases aumenta com a
temperatura (figura a seguir). Já o efeito da pressão sobre líquidos e gases depende da faixa de pressão
analisada. Vale ressaltar que óleos lubrificantes são classificados segundo sua viscosidade, de acordo
com normas internacionais. Na tabela a seguir são mostrados alguns valores de viscosidade em função
da temperatura para ar, água e óleo lubrificante SAE 30.

Tabela 15 – Valores de viscosidade dinâmica em função da temperatura para alguns fluidos

Fluido Temperatura (ºC) µ (Pa∙s)


Ar -40 1,6 x 10-5
Ar 0 1,7 x 10-5
Ar 20 1,8 x 10-5
Água 0 1,8 x 10-3
Água 20 1,0 x 10-3
Água 100 2,8 x 10-4
Óleo SAE 30 20 0,41
Óleo SAE 30 60 0,035
Óleo SAE 30 100 0,0012

Viscosidade

Líquidos

Gases

Temperatura

Figura 16 – Comportamento da viscosidade em função da temperatura para líquidos e gases

44
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Observação

A classificação SAE de óleos lubrificantes de motores e transmissões


refere-se a uma denominação da Society of Automotive Engineers
(Sociedade dos Engenheiros Automotivos dos Estados Unidos).

1.3.2 Viscosidade cinemática

A razão entre a viscosidade dinâmica (m) e a massa específica (r) é definida como sendo a viscosidade
cinemática (n) do fluido.



No quadro a seguir são mostradas as unidades para viscosidade cinemática no SI e no sistema CGS
de unidades.

Quadro 6 – Unidades para a viscosidade cinemática


no SI e no sistema CGS de unidades

Sistema Viscosidade cinemática (n)


SI m²/s
CGS cm²/s = St (stoke)

O termo viscosidade cinemática é devido ao fato de a unidade dessa grandeza envolver apenas
as unidades das grandezas fundamentais da cinemática: comprimento e tempo. Na tabela a seguir
são mostrados os valores de viscosidade dinâmica e cinemática para alguns fluidos, a 20 ºC e 1 atm
de pressão.

Tabela 16 – Viscosidade dinâmica, massa específica


e viscosidade cinemática para alguns fluidos

Fluido µ (Pa.s) ρ (kg/m³) n (m²/s)


Ar 1,8x10 -5
1,2 1,50x10-5
Hidrogênio 9,0x10-6 0,084 1,05x10-4
Água 1,0x10-3 1000 1,00x10-6
Gasolina 2,9x10-4 680 4,22x10-7
Álcool etílico 1,2x10-3 800 1,50x10-6
Mercúrio 1,5x10-3 13600 1,10x10-7
Óleo (SAE 30) 0,29 891 3,25x10-4
Glicerina 1,5 1260 1,18x10-3

45
Unidade I

1.3.3 Fluidos newtonianos e não newtonianos

Fluidos cuja tensão de cisalhamento é linearmente proporcional à taxa de deformação são


chamados de fluidos newtonianos, em homenagem a Isaac Newton, que estudou a resistência ao
movimento dos fluidos em 1687. A equação que relaciona a tensão de cisalhamento e a taxa de
deformação é:

dv
  
dy

Se a viscosidade dinâmica m for constante, o fluido é newtoniano. A equação anterior é válida para
a maioria dos fluidos analisados e é conhecida como Lei de Newton da Viscosidade. Já se a viscosidade
dinâmica não for constante, o fluido é classificado como não newtoniano. Sangue e pasta de dente são
exemplos de fluidos não newtonianos.

Para fluidos não newtonianos a Lei de Newton da Viscosidade pode ser reescrita na forma:

dv
  
dy

sendo que o fator h corresponde à viscosidade aparente do fluido, que, ao contrário da viscosidade
dinâmica, depende da tensão de cisalhamento.

Com base no comportamento da viscosidade aparente, os fluidos podem ser classificados em:

• Pseudoplásticos: são fluidos em que a viscosidade aparente diminui com o aumento da tensão
de cisalhamento. Exemplo: soluções de polímeros.

• Dilatantes: são fluidos em que a viscosidade aparente aumenta com o aumento da tensão de
cisalhamento sobre o fluido. Exemplo: areia muito úmida.

• Plásticos de Bingham: são fluidos que se comportam como sólidos até que um limiar de
tensão de cisalhamento seja alcançado. A partir desse valor limite, esses fluidos apresentam
um comportamento linear entre a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação. Exemplo:
pasta de dentes.

O comportamento da viscosidade aparente para os fluidos não newtonianos citados anteriormente


é apresentado na figura a seguir:

46
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Viscosidade aparente (η)


Plástico de Bingham

Pseudoplástico

Dilatante
Newtoniano

Taxa de deformação (dv/dy)

Figura 17 – Comportamento da viscosidade aparente para fluidos


newtonianos e alguns tipos de fluidos não newtonianos

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Um determinado óleo empregado para lubrificação em uma indústria mecânica possui viscosidade
cinemática de 0,030 m/s². Sabe-se que sua massa específica relativa é 0,8. Determine a viscosidade
dinâmica deste óleo.

Dados:

ρH20 = 1000 kg/m³

g = 9,8 m/s²

ρR = 0,8

υ = 2,8 x 10-4 m2/s

µ=?

Solução:

Para determinar a viscosidade dinâmica (m), é necessário conhecer a massa específica do fluido
em estudo.

oleo
r   oleo  r .H2O
H2O
oleo  0, 8.1000
oleo  800 kg / m³

47
Unidade I

Uma vez que o valor da viscosidade cinemática é conhecido, tem-se:


    .oleo
oleo
  2, 8 x 104 .800
   0, 224 Pa.s

Exemplo 2

Considere duas placas metálicas paralelas separadas a uma distância y. A placa inferior está fixa,
enquanto a placa superior move-se com uma velocidade v. Sabe-se que o espaço entre as duas placas
é preenchido com glicerina.

Dados:

  15
, Pa.s
  1260 kg/m³
, x 10 3 m²/s
  118
dv / dy  1000 s 1
Placa móvel
F A V

y
Placa fixa

Figura 18

Determine:

A) A tensão de cisalhamento na glicerina.

B) A força necessária para rebocar a placa superior que apresenta área de 0,7 m².

Solução:

A) Tensão de cisalhamento na glicerina:

dv
  15
, .1000
dy
  1500 Pa
48
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

B) A força necessária para rebocar a placa superior:

Ft
  Ft  .A
A
Ft  1500.0, 7
Ft  1050 N

Exemplo 3

Uma determinada placa quadrada de lado 0,5 m e massa 3,985 kg desliza por um plano inclinado
a um ângulo de 17º em relação à horizontal. Entre o plano e a placa há uma película de 1,13 mm de
espessura de óleo. Sabe-se que a velocidade da placa é de 0,64 m/s. Determine a viscosidade dinâmica
do óleo, em Pa.s.

17º

Figura 19

Solução:

m = 3,985 kg à P = m.g = 3,985.9,81 à P = 39,09 N

L = 0,5 m à A = 0,25 m²

y = 1,13 mm = 1,13x10-3 m

v = 0,64 m/s

µ=?

Sabe-se que a tensão de cisalhamento (t) é definida como sendo a razão entre a força (Ft) que
tangencia a superfície e a área A.

Ft

A

No caso do problema apresentado, tem-se que a força que tangencia a superfície é a componente
da força peso (Ft = P.sen 17º), conforme desenho:
49
Unidade I

P. sen17º

Figura 20

Como o exercício quer a viscosidade dinâmica do óleo (m), tem-se:


v F F v
   e  = t  t  .
y A A y
Isolando a viscosidade dinâmica:
Ft y P.sen17º y
 .  .
A v A v
Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

, x10 3
39, 09.sen17º 113
 .
0, 25 0, 64
  0, 08 Pa.s

Exemplo 4

Uma placa horizontal de lados 30 cm x 65 cm desloca-se sobre uma fina camada de óleo (µ = 0,8
Pa.s) em um plano horizontal. Determine a intensidade da força F necessária para arrastar a placa com
uma velocidade v = 2,5 m/s², sabendo que a espessura da camada de óleo é de 0,3 mm.
Placa
Óleo
F,v
y

Figura 21

Solução:

L1 = 30 cm à L1 = 0,30 m

L2 = 65 cm à L2 = 0,65 m

A = L1.L2 à A = 0,30. 0,65 à A = 0,195 m²

µ = 0,8 Pa.s

50
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

v = 2,5 m/s
y = 0,3 mm à y = 0,3x10-3 m
F=?

Neste problema, a força que tangencia a superfície é a força F. Desta forma:


F

A

Lembrando que a tensão de cisalhamento também pode ser determinada pela relação:
v
  
y

Igualando as equações anteriores, tem-se que:

F v
 .
A y

Isolando a intensidade de força F da equação:

v
F  A..
y
2, 5
F  0,195.0, 8.
0, 3x10 3
F  1300 N

Exemplo 5

Duas placas horizontais estão separadas a 4 cm. Essa região está preenchida por um óleo SAE 30
cuja viscosidade a 60 ºC é de 0,035 Pa.s. Nessa região, há uma fina placa de área 0,65 m² que precisa ser
arrastada com uma velocidade de 42000 cm/min e ficar distante a 1,68 cm da placa superior. Determine
a força resultante para que essa condição seja satisfeita.

Placa
1,68 cm τ1
F, v
τ2
2,32 cm
Óleo SAE 30

Figura 22

51
Unidade I

Solução:

µ = 0,035 Pa.s

A = 0,65 m²

v = 42000 cm/min à v = 7 m/s

y1 = 1,68 cm à d1 = 0,0168 m

y2 = 2,32 cm à d2 = 0,0232 m

A placa sofrerá a ação de duas tensões de cisalhamento (t1 e t2), representadas no desenho. Sabe-se
que t é obtido pela relação:

v
  
y

Desta forma:

v v
1    e 2   
y1 y2
v 7
1     0, 035.  1  14, 58 N/m²
y1 0, 0168
v 7
2     0, 035.  2  10, 56 N/m²
y2 0, 0232

Uma vez calculados os valores das tensões de cisalhamento, determinam-se as intensidades das
forças que tangenciam o movimento (F1 e F2):

F
  F   .A
A
F1  1.A  F1  14, 58.0, 65  F1  9, 48 N
F2  2 .A  F1  10, 56.0, 65  F1  6, 86 N

A força que deverá ser aplicada será a resultante das forças F1 e F2:

F = F1 + F2

F = 9,48 + 6,86

F = 16,34 N

52
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

2 ESTÁTICA DOS FLUIDOS E MEDIDORES DE PRESSÃO

Agora estudaremos conceitos relacionados à estática dos fluidos, como o empuxo, a pressão média,
a Lei de Stevin, os vasos comunicantes e a Lei de Pascal.

Na sequência, o princípio físico dos medidores de pressão barômetro e manômetro será discutido e
diferentes tipos de manômetros serão apresentados.

Finalmente, falaremos a respeito de força aplicada a uma superfície plana submersa.

2.1 Estática dos fluidos

Em geral, as regras da estática, como as aplicadas em mecânica dos sólidos, aplicam-se aos fluidos
em repouso.

A fim de definir o fluido estático, desconsidera-se qualquer tensão de cisalhamento atuando no fluido.
Desse modo, somente forças normais (que formam ângulo reto) à superfície serão consideradas atuantes.

Para uma superfície em ângulo arbitrário, tem-se:

R1

F1 Sólido
Fluido
Sólido F2 R2
F Fluido
R F3
R3

Figura 23 – Força de pressão normal à fronteira

É importante notar que a afirmação anterior é válida também para superfícies curvas. Nesse caso,
a força atuante em qualquer ponto é normal à superfície naquele ponto. De forma geral, a afirmação é
verdadeira para qualquer plano imaginário contendo um fluido estático. Esse fato é usado na análise,
considerando elementos do fluido delimitado por planos imaginários.

Sabe-se que para um elemento do fluido em repouso, o elemento estará em equilíbrio – a soma
das componentes das forças em qualquer direção será zero, e a soma dos momentos das forças sobre o
elemento do fluido em qualquer ponto também será zero.

2.1.1 Empuxo

O empuxo é um princípio físico de conhecimento de todos, uma vez que um corpo qualquer imerso
na água aparenta possuir um peso menor do que quando inserido no ar. Caso o corpo tenha densidade
menor do que a do fluido no qual está imerso, ele flutua.
53
Unidade I

Saiba mais
Acredita-se que o rei Hieron II desconfiou de que o ourives que havia
fabricado sua coroa havia utilizado em substituição ao ouro que lhe havia
sido confiado parte de prata. Arquimedes foi escolhido para comprovar
cientificamente que o rei havia sido roubado. Saiba como este grande
cientista desvendou este dilema acessando:
CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADA. Arquimedes. E-física, 2007a.
Disponível em: <http://efisica.if.usp.br/mecanica/ensinomedio/empuxo/
arquimedes/>. Acesso em: 3 maio 2016.

2.1.1.1 Princípio de Arquimedes

Quando o corpo sai de uma banheira com água quente, a sensação é de que os braços estão
estranhamente pesados. Isto se deve ao fato de não haver mais o apoio flutuante da água.

De onde essa força de empuxo vem? Por que é que alguns objetos podem flutuar e outros não?

O Princípio de Arquimedes diz que quando um corpo está parcial ou completamente imerso em um
fluido, o fluido exerce uma força sobre o corpo, a força de empuxo, sempre debaixo para cima, igual ao
peso do volume do fluido deslocado pelo corpo.

A massa do fluido deslocado pelo corpo é determinada por meio da massa específica do fluido:
m
fluido  fluido  mfluido  fluido   fluido
 fluido
Segundo o Princípio de Arquimedes, o empuxo é igual ao peso dessa massa de fluido deslocado:

E  mfluido  g  E  fluido   fluido  g

Por meio da equação anterior, constata-se que a força de empuxo é diretamente proporcional ao
volume de fluido deslocado.

Deixe cair um pedaço de massa de modelar na água. Ela irá afundar. Em seguida, molde a massa
na forma de um barco, e ela irá flutuar. Devido à sua forma, o barco desloca mais água do que o
pedaço de massa e experimenta uma maior força de empuxo. O mesmo raciocínio é verdade para
navios de aço.

A grandeza densidade desempenha um papel crucial no princípio de Arquimedes. A densidade


média de um objeto é o que, em última análise, determina se ele flutua.

54
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A figura a seguir representa três situações a respeito da densidade e massa específica relativas do
corpo e do fluido:

• Situação A: a densidade do corpo é igual à massa específica do fluido, o que torna o seu peso
total igual ao peso da água que ele desloca. Assim, a força resultante sobre o corpo é igual a zero,
permanecendo na posição de equilíbrio.

• Situação B: a densidade do corpo é superior à massa específica do fluido de forma que a força
resultante é vertical para baixo, levando o corpo para o fundo do reservatório.

• Situação C: corpo com densidade menor que a massa específica do fluido, podendo flutuar
parcialmente. Quanto maior a massa específica do fluido, menor será a parte submersa. Isto se
deve ao fato de o fluido, que tem uma massa específica mais elevada, conter mais massa e,
portanto, ter peso maior no volume.

A força de empuxo, que é igual ao peso do fluido deslocado, é, portanto, maior do que o peso do
objeto. O mesmo raciocínio é válido para o objeto com densidade maior que a massa específica do fluido.

É importante ressaltar que a força de empuxo está sempre presente se o objeto flutua, afunda ou se
está em suspensão num fluido.

A B C

Figura 24 – Forças peso e empuxo atuando sobre um corpo submerso em um fluido. A) Corpo em equilíbrio;
B) corpo afundando; C) corpo levado à superfície

O quão submerso um objeto flutuante está depende da densidade do objeto relacionada com a do
fluido. Por exemplo, um navio descarregado tem uma densidade inferior e está menos submerso do que
o mesmo navio carregado.

Define-se uma expressão quantitativa para a fração submersa, considerando densidade. A fração
submersa é a razão entre o volume submerso para o volume do objeto:

 sub  fl

obj obj

O volume submerso é igual ao volume de fluido deslocado (∀fl). Partindo da relação de densidade
ρ = m.∀ e substituindo, podemos obter a relação entre as densidades:

55
Unidade I

mfl
 fl fl

obj mobj
obj

sendo ρobj a densidade média do objeto e ρfl a massa específica do fluido. Desde que o objeto flutue,
sua massa e a do fluido deslocado são iguais.

obj
fração submersa 
fl

Essa última relação é útil para medir densidades. Esse procedimento é feito por meio da medição da
fração de um objeto flutuante que está submersa, por exemplo, com um hidrômetro. Esse instrumento
é útil para definir a relação entre a densidade de um objeto para um fluido (geralmente água).

Se um objeto flutua, a razão entre densidades é inferior a um. Se afunda, a razão é maior do que um.
Se a razão das densidades é exatamente um, então ele vai ficar suspenso no fluido, nem afundando nem
flutuando. Os mergulhadores tentam obter este estado para que possam pairar na água.

Exemplo de aplicação

Suponha que uma mulher de 60 kg flutue na água doce com 97% de seu volume submerso quando
seus pulmões estão cheios de ar. Determine sua densidade média.

Solução:

Para determinar a densidade da mulher, considera-se:

obj
fração submersa 
fl
obj  pessoa  fração submersa  fl
 kg  kg
pessoa  0, 97 103  3   970 3
m  m

De acordo com o resultado, a densidade da pessoa é menor do que a massa específica da água,
portanto ela flutua. A densidade corporal é um indicador do percentual de gordura corporal de uma
pessoa, importante em diagnósticos médicos e treinamento atlético.

56
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

2.1.1.2 Peso real e peso aparente

Toma-se uma moeda, a qual é pesada em ar. Em seguida, ela é pesada de novo, enquanto submersa
em um fluido. A densidade da moeda é uma indicação da sua autenticidade e pode ser calculada se a
massa específica do fluido for conhecida.

Essa mesma técnica pode ser utilizada para também determinar a massa específica do fluido se a
densidade da moeda for conhecida, tudo por meio do Princípio de Arquimedes.

O peso aparente indica que o empuxo sobre o objeto imerso em um fluido é igual ao peso do fluido
deslocado. Assim, o objeto parecerá mais leve quando submerso. Além disso, o objeto sofre uma perda
de peso igual ao peso do fluido deslocado.

De forma alternativa, em balanças medidoras de massa, o objeto sofre uma perda de massa aparente
igual à massa do fluido deslocada.

Observação
Perda de peso aparente = peso do fluido deslocado.
Perda de massa aparente = massa do fluido deslocado.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

A massa de uma moeda grega antiga no ar é igual a 8,630 g. Quando a moeda é submersa em água, a sua
massa passa a ser de 7,800 g. Calcule sua densidade, considerando a massa específica da água rágua = 1,000
g/cm3 e que os efeitos provocados pela suspensão em arame da moeda podem ser desprezados.

7,800 g 8,630 g
E T T

P P

Figura 25

57
Unidade I

Solução:

A fim de calcular a densidade da moeda, é preciso encontrar sua massa (dada) e seu volume. O
volume da moeda é igual ao volume da água deslocada. O volume de água deslocado utiliza o conceito
m
de massa específica: água  água .
água

Note que a massa da água deslocada é igual à massa perdida aparentemente pela moeda:

mágua = 8,630 – 7,800 è mágua = 0,830 g

0, 830(g)
água  3
 0, 830cm3
1(g / cm )

Este é o volume da moeda, uma vez que ela se encontra totalmente submersa. Por meio da definição
de densidade, encontra-se a da moeda:

mmoeda 8, 630(g)
moeda   3
 moeda  10, 4g / cm3
moeda 0, 830(cm )

Observação

A densidade encontrada para essa moeda grega antiga é muito próxima


da prata pura, apropriada para a época. As mais modernas falsificações de
moedas não são de prata pura.

Exemplo de aplicação

Exemplo 2

Uma esfera de massa me = 2 kg e raio re = 4 cm é totalmente mergulhada em um recipiente contendo


água. Sabendo-se que a massa específica da água é r = 1 kg/l e considerando aceleração da gravidade
g = 10 m/s2, determine:

A) O peso da esfera (PE).

B) A força de empuxo (E) que a água exerce sobre a esfera.

C) O peso aparente da esfera (PA).

D) A aceleração da esfera (a), desconsiderando o atrito.


58
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Esfera
Água

Figura 26

Solução:

A) PE = m.g è PE = 2.10 = 20 N
4 3
B) E = r.g.∀ è E =   g    r
3

 kg   m  4 3
E = 1000 3   10 2     (0, 04m) è E = 2,68 N
 m   s  3
C) PA = PE – E è PA = 17,32 N

D) FR = mE.a è 17,32 = 2.a è a = 8,66 m/s2

Exemplo 3

Um corpo de formato cúbico tem 3/4 do seu volume submersos em água, conforme indicado na
figura que segue. Sabendo que esse corpo possui uma massa m = 150 g, considerando a massa específica
(r) da água 1 g/cm3 e a aceleração da gravidade g = 10 m/s2, determine o volume desse corpo.

Figura 27

Solução:

De acordo com o diagrama do corpo livre:

P=E
3
mg =    g
4
4m = 3.r.∀
4m 4 ⋅ 0,15
∀= è è ∀ = 2.10-4 m3
3ρ 3 ⋅1000
59
Unidade I

Exemplo 4

O sistema a seguir encontra-se em equilíbrio estático com um bloco maciço preso à uma balança
indicando a leitura mostrada na figura (mL). Sabendo que esse bloco encontra-se submerso em 0,04 m
de sua altura e que possui lados iguais l = 0,2 m, determine a massa do bloco (mB) em quilogramas (kg).
Considere massa específica da água r = 1000 kg/m3 e aceleração da gravidade g = 10 m/s2.

E T

2,0 kg

Figura 28

Solução:

De acordo com o diagrama do corpo livre:

T=P–E
mL.g = mB.g - r.l2.h.g
mB = mL + r.l2.h
mB = 2 + 1000.0,22.0,04
mB = 3,6 kg

Exemplo 5

Uma lata de tinta quadrada possui volume de 18 l e encontra-se presa por um fio no fundo de um
reservatório com água. A massa da lata m = 2,0 kg e 3/4 do seu volume estão submersos. Determine a
tração (T) no cabo, sabendo que a massa específica da água é r = 1000 kg/m3 e g = 10 m/s2.
E

Cabo P T

Figura 29

60
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

De acordo com o diagrama do corpo livre:

P+T=EèT=E–P
3
T =    g – m.g
4
3
T = 1000 ⋅ ⋅ 0, 018 ⋅10 – 2.10
4
T = 115 N

Exemplo 6

A) Calcule a força de empuxo sobre 10.000 toneladas (1,00.107 kg) de aço sólido completamente
submerso em água e compare com o peso de aço.

Solução:

Para encontrar o empuxo, primeiramente tem-se que encontrar o peso da água deslocada
usando a massa específica da água (rágua) e a densidade do aço (raço). Uma vez que o aço é
completamente submerso, o seu volume e o da água são os mesmos, determinando, assim, sua
massa e peso.

A fim de encontrar o volume do aço:

maço maço
aço   aço 
aço aço
maço 1, 00.107 (kg)
aço   , .103 m3
 aço  128
aço kg
7, 8.103 3
m

Para encontrar a massa de água deslocada a partir da sua massa específica e sabendo que
∀água = ∀aço:

 kg 
mágua  águaágua  1.103  3  1, 28.103 (m3 )
m 
, .106 kg
mágua  128

61
Unidade I

Pelo Princípio de Arquimedes, calcula-se a força de empuxo sobre o aço sólido:

 m
Págua  máguag  1, 28.106 kg 10  2 
s 
Págua  E  1, 3.107 N
Paço  maçog  1.108 N

Como mostrado pelos resultados, o peso do aço é muito maior do que a força de empuxo (igual ao
peso da água deslocada), de modo que o aço permanecerá submerso.

B) Qual é a força de empuxo máxima que a água poderia exercer sobre essa mesma massa de aço
agora moldada no formato de um barco que deslocaria 1.105 m3 de água?

Solução:

A massa de água deslocada é encontrada a partir da sua relação com a massa específica e volume:

 kg 
mágua  águaágua  1.103  3  1.105 (m3 )
m 
mágua  1.108 kg

Pelo Princípio de Arquimedes, calcula-se a força de empuxo sobre o aço sólido:

 m
Págua  máguag  1.108 kg 10  2 
s 
Págua  E  1.109 N e Paço  1.108 N

A força máxima de empuxo é dez vezes o peso do aço, ou seja, o navio pode transportar uma carga
de nove vezes o seu próprio peso sem se afundar.

Fazendo conexões: investigação caseira

O papel alumínio usado na sua casa tem aproximadamente 0,016 mm de espessura. Use um pedaço
desse papel alumínio com medidas de 10 cm por 15 cm.

A) Qual é a massa desse pedaço de papel alumínio?

B) Se a folha é dobrada resultando em quatro lados, e clipes de papel e arruelas são adicionados a
esse “barco”, que forma do barco lhe permitiria segurar mais carga quando colocado na água?
Teste a sua previsão.

62
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

2.1.2 Pressão

Como mencionado anteriormente, um fluido exercerá uma força normal em qualquer fronteira que
esteja em contato com ele. Uma vez que esses limites podem ser grandes e a força pode diferir de lugar
para lugar, é conveniente trabalhar em termos de pressão P, que é a força por unidade de área.

Se a força exercida em cada unidade de área da fronteira for a mesma, a pressão é dita uniforme.

Pressão = Força / Área sobre a qual a força é aplicada

F
P=
A

Uma dada força pode ter uma diferença significativa, dependendo da área sobre a qual é exercida.

A pressão é uma grandeza escalar, ou seja, suas propriedades não dependem de direção e sentido
(orientação). Contudo, a força que age sobre a área é uma grandeza vetorial, mas para o cálculo da
pressão utiliza-se somente o módulo da grandeza força.

A pressão é uma grandeza física definida para todos os estados da matéria, mas é particularmente
muito importante quando estudam-se fluidos.

Dimensão:

• Sistema MLT è M L-1 T-2

• Sistema FLT è F L-2

Lembrete

Unidade de pressão no SI: P è N/m2; kg/m.s2.

A mesma unidade também é conhecida como pascal, isto é:


1 Pa = 1 N/m2. Ela também é usada frequentemente, como alternativa
ao SI:

A unidade bar, sendo 1 bar = 105 Pa (N/m2).

Atmosfera (atm) é uma unidade que representa a pressão média da


atmosfera ao nível do mar. A unidade atm, sendo 1 atm = 1,01.105
Pa (N/m2). Ainda, as unidades libra-força/polegada quadrada (lbf/pol2 ou
psi) e milímetros de mercúrio (mmHg) às vezes são utilizadas em medidas
de pressão.
63
Unidade I

A tabela que segue apresenta alguns exemplos de pressões:

Tabela 17 – Alguns exemplos de pressões em pascal (N/m2)

Exemplos Pressão (Pa)


Atmosfera ao nível do mar 1,0.105
Pneu do carro* 2.105
Pressão sanguínea* 1,6.104
Centro do Sol 2.1016
Centro da Terra 4.1011
* acima da pressão atmosférica

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Um astronauta está trabalhando fora da Estação Espacial Internacional, onde a pressão atmosférica
é essencialmente zero. O medidor de pressão em seu tanque de ar lê 6,90.106 Pa. Qual é a força exercida
pelo ar dentro do tanque sobre a extremidade plana do tanque cilíndrico, um disco de 0,150 m de
diâmetro?
F
A força exercida será determinada a partir da definição P = .
A
Solução:

Rearranjando a definição de pressão para encontrar a força:

F = P.A

Aqui, a pressão P é dada, assim como a área da extremidade do cilindro A, indicada por A = p.r2. Portanto:

2
 N  0,150 
F   6, 90.106 2      m
 m   2 
, 105
F  122

Não admira que o tanque deva ser forte. Por meio de F = P.A, nota-se que a força exercida por uma
pressão é diretamente proporcional à área.

A força exercida sobre a extremidade do tanque é perpendicular à sua superfície interna. Essa
direção se dá porque a força é exercida por um fluido estático ou estacionário e não apresenta força de
cisalhamento (forças tangenciais).

64
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

As forças que exercem pressão sobre uma área têm suas direções bem definidas: são sempre
exercidas perpendicularmente a qualquer superfície. É importante ressaltar que a pressão é exercida
em todas as superfícies.

Exemplo 2

Qual é a intensidade da força que a atmosfera exerce sobre a cabeça de uma pessoa com área em
torno de 0,042 m2?

Solução:

Considerando que a pressão P exercida pela atmosfera sobre a cabeça da pessoa é uniforme, a força
que o fluido (ar) exerce sobre a superfície pode ser calculada por P = F/A. Mesmo sabendo que a pressão
atmosférica sofre variações de acordo com o local e a hora do dia, será considerada a pressão de 1,0 atm.

Portanto:

F = P.A

 5 N 
1, 01.10 2 
(1, 0atm)   
m  0, 042m2 è F = 4,2.103 N
1, 0atm
Essa força de 4200 N (uma força considerável) é igual à força peso da coluna de ar acima da cabeça
da pessoa.

Exemplo 3

Um cubo de 20 cm de lado (L), feito de aço e massa m = 5 kg, é apoiado sobre uma superfície. Qual é
a pressão (P) que esse corpo exerce sobre a superfície? Considere a aceleração da gravidade g = 10 m/s2.

Solução:

Sabendo que:

A = L.L e F = P.A
m.g = P.L.L
mg
P
L2
5 10
P è P = 1250 N/m2 = 1,25 kPa
0, 22

65
Unidade I

Exemplo 4

A área de contato entre a sapatilha de uma bailarina e o tablado da academia de dança é de 6


cm . Quando ela realiza a ponta em um pé só, qual é a pressão exercida pela bailarina no tablado,
2

considerando sua massa de 51 kg? Admita g = 10 m/s2.

Solução:
F
F = P.A è P =
A
5110
P  850000 N/m2  850 kPa
0, 0006

2.1.3 Lei de Stevin

Em uma viagem de avião ou durante um mergulho profundo em uma piscina, experimenta-se o


efeito da pressão com a profundidade em um fluido. Na superfície da Terra, a pressão atmosférica
exercida sobre os corpos é o resultado da força peso do ar aplicada de cima para baixo. Essa pressão é
reduzida com o aumento da altitude, diminuindo a força peso do ar sobre os corpos.

Sob a água, a pressão exercida em um ponto aumenta com a profundidade. Nesse caso, a pressão
exercida sobre um ponto a uma determinada profundidade é resultado do peso da água sobre o ponto
mais o peso da atmosfera.

É fácil notar que a mudança de pressão atmosférica percebida em um elevador depende de uma
viagem de vários metros, mas no mergulho em uma piscina, essa mudança é rapidamente percebida a
poucos metros de profundidade. Semelhante fato se deve à grande diferença entre as massas específicas
da água e do ar – uma vez que a água é 775 vezes mais densa que o ar.

Considere um reservatório, conforme a figura a seguir.


Volume = A.h

h P= m.g

Figura 30 – Reservatório contendo um fluido de altura h

66
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

O fundo do reservatório suporta o peso do fluido. Sabendo que a pressão exercida no fundo é o peso
do fluido dividido pela área do fundo do reservatório:
mg
P
A

Encontra-se a massa do fluido por meio do seu volume e massa específica:

m   

O volume do fluido é determinado por meio das dimensões do reservatório:

  A h

Sendo A a área da base do reservatório e h a altura do fluido:

m   A h

Substituindo na equação anterior, que define a pressão exercida em um ponto a uma determinada
profundidade:

 A h g è P   h g
P
A

Observação

É importante salientar que a pressão a uma profundidade no fluido em


equilíbrio estático depende somente da profundidade do ponto e não da
dimensão horizontal do reservatório que o contém.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Conforme descrição anterior, calculou-se a massa do fluido em um grande reservatório. Tomando


como base a figura a seguir, considere a pressão e a força que agem sobre a retenção de água da
barragem. A barragem tem 500 m de largura, e a água tem 80 m de profundidade na barragem.

A) Qual é a pressão média na barragem devido à água?

B) Calcule a força exercida contra a barragem e compare com o peso da água na barragem
(previamente encontrado: 1,96.1013 N).

67
Unidade I

h
F

Barragem

Figura 31

Solução:

A) A pressão média P, devido ao peso da água, é a pressão exercida na profundidade medida de 40


m, sabendo que a pressão aumenta linearmente com a profundidade.

A pressão média, devido ao peso de um fluido, é:

P = r.g.h

Considerando a massa específica da água r = 103 kg/m3, e tomando h como a profundidade


média 40 m:

 kg   m
P  103  3  10  2   40(m)
m  s 

P = 3,92.105 N/m2 = 392 kPa

B) A área A da barragem = 80.500 = 4.104 m2, portanto:

 N
 
F  3, 92.105  2   4.104 m2
m 
, .1010 N
F  157

Discussão:

Apesar de essa força ser grande, ela é pequena se comparada com o peso da água no reservatório
1,96.1013 N. Assim, a força encontrada representa somente 0,08% da força peso. Note que a pressão
encontrada no item A) é completamente independente da largura e do comprimento, ou seja, depende
somente da profundidade média da barragem.

Então a força depende somente da profundidade média e das dimensões da barragem, não
dependendo da extensão horizontal do reservatório. Na figura, a espessura da barragem aumenta com
a profundidade para equilibrar o aumento da força devido ao aumento da pressão.
68
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Exemplo 2

Calcule a massa específica média da atmosfera, dado que ela se estende até a altitude de 120 km.

Solução:

Considerando:

P=ρ.g.h

Tem-se:
P

gh

Admitindo P ser a pressão atmosférica, h = 120 km e g conhecido, calcula-se r:

1, 01.105 N / m2
 2 3
è 8,59.10-2 kg/m3
10(m / s ) 120.10 (m)

Discussão:

Esse resultado representa a massa específica média do ar entre a superfície terrestre e a altura
máxima da atmosfera em relação à Terra (120 km); r, ao nível do mar, é considerada 1,29 kg/m3 –
aproximadamente 15 vezes o valor médio encontrado.

Isso se dá devido ao fato de o ar ser um fluido muito compressível. Assim, sua massa específica é
maior próximo à superfície terrestre e diminui rapidamente com o aumento da altitude.

Exemplo 3

Calcule a profundidade abaixo da superfície da água, na qual a pressão, devido ao peso da água, é
igual a 1 atm.

Solução:

Considerando:

P=ρ.g.h

Tem-se:
P
h
g 
69
Unidade I

Então, sendo P = 1 atm e r a massa específica da água:

1, 01.105 (N / m2 )
h  10, 3m
10(m / s2 )  (103kg / m3 )

Observação
Apenas 10,3 m de água criam a mesma pressão que 120 km de ar. Como
a água é praticamente incompressível, negligencia-se qualquer alteração
em sua massa específica nessa profundidade.

A Lei de Stevin pode ser entendida como a diferença de pressão (DP) entre dois pontos de um fluido
em equilíbrio estático e é definida pelo produto da massa específica do fluido (r), pela aceleração da
gravidade (g) e pela diferença de cotas dos dois pontos (h).

O termo pressão hidrostática se deve a fluidos estáticos em situação de repouso.

y1 = 0

y2

Figura 32 – Um tanque contendo fluido com indicação de diferentes pontos de profundidade

De acordo com a figura anterior:

Pressão na superfície do fluido y1:

P1 = pressão atmosférica

Pressão na profundidade y2:

P2    y2  g

Sendo P  P2  P1 , a pressão no ponto y2 representa a pressão total (ou pressão absoluta) em um


determinado ponto em uma determinada profundidade dentro do fluido:

P  P2  P1    y2  g  P2  P1
P2  Patm    y2  g

70
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A diferença DP entre a pressão absoluta e a pressão atmosférica é chamada de pressão manométrica.


O nome pressão manométrica é devido à utilização de um manômetro como medidor de diferença de
pressão. Mais adiante nessa unidade, serão discutidos e mostrados diferentes tipos de manômetros e
seu princípio físico.

Saiba mais

É possível demonstrar, por um ensaio simples, que a pressão de um


fluido aumenta conforme aumenta-se a coluna de líquido. Saiba mais em:

CENTRO DE ENSINO E PESQUISA APLICADA. E-física, 2007b. Disponível em:


<http://efisica.if.usp.br/mecanica/basico/pressao/experimento/>. Acesso em: 3
maio 2016.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Um reservatório é utilizado para armazenar óleo de soja com massa específica r = 0,916 g/cm3.
Calcule a pressão em Pa e a pressão absoluta em atm no fundo do reservatório, sabendo que ele possui
5 m de profundidade e está completamente cheio.

Solução:

 g  1  kg   cm3   m
P    h  g  P  0, 916  3   3   106  3   5(m) 10  2 
 cm  10  g  m  s 

P = 45800 Pa

Pressão P em atm:

1  atm 
45800 Pa     0, 45atm
1, 01.10  Pa 
5

Pressão absoluta (Pab):

Pab = Pressão atmosférica + Pressão da coluna de óleo de soja

Pab = 1 atm + 0,45 atm è Pab = 1,45 atm

71
Unidade I

Exemplo 2

Em colunas de líquidos, a pressão manométrica também pode ser chamada de pressão hidrostática.
Sendo assim, determine a pressão hidrostática exercida por uma coluna vertical de óleo de soja de 3 m
até a base, sabendo que essa coluna é aberta no topo. Determine, além disso, a pressão absoluta em atm
nesse mesmo ponto. Considere a massa específica do fluido r = 0,916 g/cm3.

Solução:
 g  1  kg   cm3   m
P    h  g  P  0, 916  3   3   106  3   3(m) 10  2 
 cm  10  g  m  s 
P = 27480 Pa

Pressão P em atm:

1  atm 
27480 Pa     0, 27atm
1, 01.105  Pa 

Pressão absoluta (Pab):

Pab = Pressão atmosférica + Pressão da coluna de óleo de soja

Pab = 1 atm + 0,27 atm è Pab = 1,27 atm

2.1.4 Vasos comunicantes

O tubo em forma de U, conforme a figura a seguir, é preenchido com dois fluidos não miscíveis que
se encontram em equilíbrio hidrostático. No lado direito, tem-se o fluido A, de massa específica rA e,
no lado esquerdo, o fluido B, de massa específica rB. Os valores das alturas das colunas de fluido estão
indicados na figura.

B A
L

Interface

Figura 33 – O fluido B, do lado esquerdo, e o fluido A, do lado direito


do tubo em forma de U. Sistema em equilíbrio hidrostático

72
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A pressão no ponto de interface (Pint.) entre os fluidos (lado esquerdo) depende da massa específica
(rB) e da altura do fluido B acima da interface.

O fluido A do lado direito, à mesma altura (posição da interface), está submetido à mesma
pressão (Pint.). Tal fato se deve ao equilíbrio estático, no qual as pressões em pontos no fluido A
no mesmo nível são iguais, mesmo que eles estejam separados horizontalmente, como é a caso
mostrado na figura anterior.

Ainda observando a figura, nota-se que o fluido B do lado esquerdo fica mais alto do que
quando comparado à altura do fluido A à direita do tubo U. Isso se deve ao fato de a massa
específica do fluido B ser menor que a do fluido A. As duas colunas produzem a mesma pressão
(Pint) na interface.

Analisando a Pint do lado direito do tubo em U:

Pint  P0  A  g  l

sendo P0 a pressão atmosférica local.

Analisando a Pint do lado esquerdo do tubo em U:

Pint  P0  B  g  (l  d)

Sabendo que: Pint (lado direito) = Pint (lado esquerdo)

Igualando as equações descritas:

P0  A  g  l  P0  B  g  (l  d)
A  l  B  (l  d)

Conforme mostrado na equação anterior, a relação final entre as massas específicas e as alturas das
colunas mostra que as alturas medidas a partir do nível de separação entre dois fluidos são inversamente
proporcionais às suas massas específicas.

Como observação adicional, ainda na equação anterior, nota-se a não dependência da pressão
atmosférica e da aceleração da gravidade.

É importante constatar que os vasos comunicantes são amplamente utilizados para estabelecer
relações entre as massas específicas de, no mínimo, dois ou mais tipos de fluidos.

73
Unidade I

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

O sistema de vasos comunicantes apresentado a seguir é utilizado para testar a massa específica de
líquidos. Incialmente o sistema é preenchido com água (rágua = 1 g/cm3) e quando é despejado outro
líquido, o sistema entra em equilíbrio hidrostático. Determine a massa específica desse líquido.

Líquido

h1 = 22 cm Água
h2 = 18 cm

Figura 34

Solução:

L  g  h1  água  g  h2
água  h2 1000  0,18
L  
h1 0, 22
L  818,18kg / m3

Exemplo 2

A figura que segue representa vasos comunicantes, com dois fluidos não miscíveis e homogêneos.
Sabendo que o sistema encontra-se em equilíbrio hidrostático, determine a razão entre as massas
específicas do fluido B e do fluido A.

B h3 = 12 cm

h1 = 22 cm

h2 = 12 cm
A

Figura 35

74
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

A  g  (h1  h2 )  B  g  h3
B (h1  h2 )

A h3
B (22  12) 
  B  0, 83
A 12 A

2.1.5 Princípio de Pascal

Como já é de conhecimento, a pressão é definida como a força por unidade de área. Agora, a questão
é: a pressão pode ser aumentada em um fluido simplesmente empurrando o fluido? A resposta é: sim,
mas é muito mais fácil se o fluido estiver em um compartimento fechado.

Por exemplo, o coração aumenta a pressão arterial, empurrando o sangue num sistema fechado
(válvulas fechadas numa câmara). Caso se tente empurrar um fluido num sistema aberto, tal como um
rio, o fluido flui para longe. Já o fluido, em um sistema fechado, não pode fluir para fora, e por isso a
pressão é mais facilmente aumentada por uma força aplicada.

Entenda o que acontece com a pressão em um fluido fechado – os átomos do fluido estão livres
para se movimentar, transmitindo a pressão para todas as partes do fluido e também às paredes do
recipiente. Assim, pode-se afirmar que a pressão transmitida não se altera.

O fenômeno descrito é chamado de Princípio de Pascal (também conhecido como Lei de Pascal):
uma mudança na pressão aplicada a um fluido fechado é transmitida, sem diminuir, a todas as porções
do fluido e também para as paredes do seu recipiente.

Além disso, a Lei de Pascal implica que a pressão total num fluido se dá pela soma das pressões
exercidas por diferentes fontes.

Saiba mais

As habilidades de Blaise Pascal provocaram admiração geral em seu


tempo. Saiba mais a respeito desse importante cientista em:

MELLO, P. P. Pascal, Blaise. Faculdade de Engenharia Mecânica da


Unicamp, [s.d.]. Disponível em: <http://www.fem.unicamp.br/~em313/
paginas/person/pascal.htm>. Acesso em: 5 maio 2016.

75
Unidade I

2.1.5.1 Aplicações do Princípio de Pascal

Uma das mais importantes aplicações tecnológicas da Lei de Pascal é encontrada num sistema
hidráulico, constituído por um sistema de fluido fechado utilizado para exercer forças.

Os sistemas hidráulicos mais comuns são os freios de carro e prensas hidráulicas.

F2
F1

A1 A2

P1 = P2

Figura 36 – Sistema hidráulico com dois pistões

A figura anterior representa um sistema hidráulico típico com dois cilindros cheios de certo fluido,
fechados com pistões e ligados por um tubo chamado de linha hidráulica.

No pistão esquerdo de área A1 é aplicada uma força F1 descendente, criando uma pressão que é
transmitida, sem diminuir, a todas as partes do fluido (que se encontra fechado). Assim, sobre o pistão
direito de área A2 resultará uma força F2 para cima maior do que F1, pois o pistão direito tem uma
área maior.

Aplicando a Lei de Pascal ao sistema hidráulico anterior, é possível desenvolver uma relação simples
entre as forças e as áreas. Primeiramente, note que os dois pistões do sistema possuem a mesma altura,
portanto não haverá nenhuma diferença de pressão devido a uma diferença de profundidade.

A pressão exercida no pistão de área A1, devido à ação da força, é:

F1
F1 : P1 =
A1

De acordo com o Princípio de Pascal, a pressão é transmitida, sem se alterar, através do fluido e para
as paredes do sistema. Então, a pressão P2 sentida no outro pistão é igual à pressão P1. Sendo:

F2
=P2 = e P1 P2 è F1 = F2
A2 A1 A2

76
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Essa equação refere-se às razões entre força e área em qualquer sistema hidráulico, desde que os
pistões tenham a mesma altura vertical e o atrito no sistema seja desprezível.

Os sistemas hidráulicos podem aumentar ou diminuir a força aplicada sobre eles. Para tornar uma
fora maior, a pressão deve ser aplicada em uma área maior, por exemplo: se uma força de 100 N é
aplicada ao cilindro da esquerda (figura anterior) e o cilindro da direita tem uma área cinco vezes maior.
Sendo assim, a força aplicada no cilindro da direita será de 500 N.

Sistemas hidráulicos são análogos às alavancas simples, mas ainda com a vantagem de que a pressão
pode ser transferida através de linhas curvas para vários lugares e ao mesmo tempo.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Na figura que segue é apresentada uma prensa hidráulica com êmbolos de massa desprezíveis e
diâmetros de 80 cm e 20 cm. Determine a força necessária a ser aplicada no êmbolo D para que a massa
indicada possa ser equilibrada no êmbolo C.
F

C D

Figura 37

Solução:

Sabendo que:

A C    RC2   1600cm2
AD    RD2   100cm2

Aplicando o Princípio de Pascal na prensa hidráulica:

FC F F
 D  FD  AD  C
A C AD AC
FC 1
FD   100(cm2 )   FD   FC
 1600(cm2 ) 16
77
Unidade I

Analisando o Diagrama do Corpo Livre para o corpo C, e lembrando que o sistema atinge equilíbrio:
FC = 1200 N.

1200 N
C

FC

Figura 38

1 1
FD   FC  1200
16 16
FD  75N

Exemplo 2

O sistema ilustrado encontra-se em equilíbrio estático, e uma pressão P1 = 300 kPa foi aplicada
conforme indicado. Sabe-se que a mola está comprimida de x = 6 cm e que sua constante elástica é de
k = 200 N/cm. As áreas dos cilindros 1, 2 e da haste são de 40 cm2, 20 cm2 e 2 cm2, respectivamente.
Determine a pressão no cilindro 2 (P2).

Fmola

A1
P1 F1
P1

A2 F2
P2

Figura 39

78
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

Sabendo que o sistema encontra-se em equilíbrio estático:

Fmola  F1  F2  0

F
Sendo P   F  P  A e Fmola  k  x
A
k  x  P1  ( A1  AH )  P2  A2  0
k  x  P1  ( A1  AH )
P2 
A2
200(N / cm)  6(cm)  3.105 (Pa)  (40  2) 10 4 (m2 )
P2 
20 10 4 (m2 )
P2  30000N / m2  30kPa

Exemplo 3

Qual deverá ser a força aplicada na alavanca, mostrada na figura, para que o sistema suporte uma
massa de 800 kg e permaneça em equilíbrio estático? Considere os raios dos cilindros: R1 = 30 cm e
R2 = 6 cm.

R1

R2

A 40 cm B 20 cm

C
F

Figura 40

79
Unidade I

Solução:

Observe o diagrama de forças que segue:

F1

F2

F3

F F3

Figura 41

Sabendo que o sistema encontra-se em equilíbrio estático:

F
P  F  P  A e P  mg
A

Cilindro 1: P  F1  0 e P  F1  mg  P1  A1
mg
m  g  P1    (R1)2  P1 
  (R1)2
800(kg) 10(m / s2 )
P1  2 2
 P1  28571, 43N / m2
  0, 3 (m )

Cilindro 2 : F2  F3  0 F2  F3  F3  P1  A2
F3  P1    (R2 )2
F3  28571, 43(N / m2 )    0, 062 (m2 )  F3  323,13N

Alavanca: M  0 MF  MF3  F  AB  F3  BC
F3  BC 323,13(N)  0, 2(m)
F 
AB 0, 4(m)
F  161, 56N

80
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Exemplo 4

O macaco hidráulico, representado a seguir, deverá suportar um corpo de massa 600 kg.
Desconsiderando as massas dos pistões A e B com diâmetros de 100 mm e 25 mm, respectivamente,
qual deve ser o valor da força F?

C 600 kg
450 mm 60 mm

D A

Óleo

Figura 42

Solução:

Sabendo que o sistema encontra-se em equilíbrio estático:

F
P  F  P  A e P  mg
A
Pistão A : P  FA  0 P  FA  mg  Póleo  A A
mg
m  g  Póleo    (RA )2  Póleo 
  (RA )2
600(kg) 10(m / s2 )
Póleo   Póleo  769, 23KPa
  0, 052 (m2 )
Pistão B : FC  FB  0 FC  FB  FC  Póleo  AB
FC  Póleo    (RB )2
FC  769, 23.103 (N / m2 )    0, 01252 (m2 )  FC  377, 59N

Haste : M  0 MF  MFC  F  450  FC  60


FC  60 377, 59(N)  60(mm)
F 
450 450((mm)
F  50, 34N
81
Unidade I

Exemplo 5

A figura a seguir representa um sistema de freio. Sabendo que o pé do operador aplica uma força de
F = 15 kgf no pedal, determine as forças resultantes nos cilindros 1 e 2.

Dados:

Área do cilindro mestre (ACM) = 0,02 m2

Área do cilindro 1 (A1) = 0,04 m2

Área do cilindro 2 (A2) = 0,06 m2


Cilindro Cilindro 1
mestre

Cilindro 2
Pedal

Figura 43

Solução:

Alavanca do pedal

M A  0
F  0, 25  F1  0,1
F1  2, 5F

10 cm
F1

15 cm

Figura 44

82
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Cilindro mestre

F1  F2
F  0, 25  P1  A CM
15  0, 25  P1  0, 02
P1  1875kgf / m2

A1

F1 P1
F2

Figura 45

Cilindro 1

F3  P1  A C1
F3  1875  0, 04
F3  75kgf

P1
F3

Figura 46

Cilindro 2

F4  P1  A C2
F4  1875  0, 06
F4  112, 5kgf

P1
F4

Figura 47

83
Unidade I

Um sistema hidráulico simples, assim como uma máquina simples, pode aumentar a força, mas não
pode realizar mais trabalho do que o realizado por ela.

Lembrando que o trabalho é a força vezes a distância percorrida, para um sistema hidráulico,
o cilindro secundário se move por uma distância menor do que o cilindro mestre. Além disso,
quanto mais cilindros secundários forem adicionados, menor será a distância em que cada um
se moverá.

Observação

Uma curiosidade é que o movimento das pernas de uma aranha é


conseguido, em parte, por um sistema hidráulico. Usando os conceitos de
hidráulica, uma aranha saltadora pode criar uma força que a torna capaz
de saltar 25 vezes o seu comprimento!

2.2 Medidores de pressão I

Em um fluido com uma superfície livre de pressão, numa profundidade qualquer (y2) medida a partir
da superfície livre (y1 = 0), a pressão é dada por:

P = r.g.(y1 – y2) = r.g.h

Sendo:

(y1 – y2) = h

y1 = 0

y2

Figura 48 – Um tanque contendo fluido com


indicação de diferentes pontos de profundidade

Contudo, na superfície dos fluidos, normalmente tem-se a atuação da pressão atmosférica


(Patm). Assim:

P = r.g.h + Patm

84
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Constantemente vive-se sob a pressão da atmosfera, e tudo mais que existe está sob essa
pressão. É conveniente, e feito com frequência, tirar a pressão atmosférica adotando-a como
referência. Assim, as pressões são citadas como acima ou abaixo da pressão atmosférica (Patm).

Uma pressão relativa à pressão atmosférica é chamada de pressão manométrica (PMAN ou PM) e pode
ser definida como:

PM = r.g.h

Considerando aceleração da gravidade (g) aproximadamente constante, a pressão manométrica


pode ser dada pela medida da altura vertical de qualquer fluido de massa específica (r).

O limite inferior de qualquer valor de pressão é zero – pressão no vácuo perfeito. Qualquer pressão
medida acima do limite inferior é conhecida como pressão absoluta (Pabsoluta):

Pressão absoluta = pressão manométrica + pressão atmosférica:

Pabsoluta = r.g.h + Patm

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Admitindo uma pressão de P = 500 kN/m2, massa específica da água rH2O = 1000 kg/m3 e considerando
aceleração da gravidade g = 10 m/s2, determine:

A) A pressão P em metros de coluna d’água:

P   gh
P 500.103
h 
  g 1000  9, 8
h  50, 95 metros de água

B) A pressão P em metros de mercúrio (rHg = 13,6.103 kg/m3):

P   gh
P 500.103
h 
  g 13, 6 103  9, 8
h  3, 75 metros de Mercúrio

85
Unidade I

Saiba mais

Os medidores de pressão são muito utilizados na indústria. Estes


equipamentos são calibrados frequentemente para garantir a segurança
do processo e qualidade dos produtos. Saiba mais a respeito do processo de
calibração destes medidores em:

UNIÃO DAS TECNOLOGIAS DA UNICAMP. Calibração. [s.d.]. Disponível


em: <http://www.fem.unicamp.br/~instrumentacao/pressao/calibracao01.
html>. Acesso em: 6 maio 2016.

2.2.1 Barômetro

O barômetro é um dispositivo responsável por medir a pressão atmosférica num determinado local
de interesse.

O princípio de funcionamento de um barômetro se dá devido à força que a pressão atmosférica


exerce sobre a superfície livre do fluido exposto, tendo como consequência que o fluido em questão
suba pelo tubo.

Um barômetro de mercúrio é mostrado na figura seguir. A altura do mercúrio é tal que: Patm = rHg.g.h.
A pressão barométrica é uma pressão absoluta, pois tem-se vácuo acima da coluna de mercúrio dentro
do tubo.

Patm
H

Hg

Figura 49 – Desenho esquemático de um barômetro de mercúrio

Quando a pressão atmosférica varia, a coluna de mercúrio sofre alguma alteração (sobe ou desce).
Portanto, o barômetro também pode ser usado como altímetro, uma vez que a pressão atmosférica
média do local varia com a altitude.

86
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Saiba mais

Em 1643, foi conduzido um experimento que culminou no


desenvolvimento do barômetro, instrumento em que o ar atmosférico
exerce uma força sobre a superfície livre do mercúrio. Para mais informações
sobre o assunto, acesse:

E-CÁLCULO. Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de


São Paulo. Evangelista Torricelli (1608-1647). [s.d.]. Disponível em: <http://
ecalculo.if.usp.br/historia/torricelli.htm>. Acesso em: 6 maio 2016.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Um barômetro é utilizado para medir a pressão atmosférica ao nível do mar, conforme ilustrado
a seguir. Considerando a aceleração da gravidade local g = 9,8 m/s2 e a massa específica do mercúrio
rHg = 1,36.104 kg/m3, determine a pressão no ponto 0.

PO
76 cm

C 0

Mercúrio
(Hg)

Figura 50

P0 = Vácuo de Torricelli

Solução

P0 = PC

Patm = P0 + rHg.g.h

Patm = 0 + 1,36.104.9,8.0,76

Patm = 101293 N/m2 = 101,29 kPa = 1,01.105 Pa


87
Unidade I

Exemplo 2

Um tubo com aproximadamente 1 m de comprimento é totalmente preenchido com mercúrio


(rHg = 1,36.104 kg/m3) e entornado em um recipiente aberto, sem que ar entre no tubo. Após o
procedimento descrito, o sistema entra em equilíbrio conforme a figura que segue. Determine a
pressão atmosférica local.

Patm

68cm
C B
Mercúrio
(Hg)

Figura 51

Solução:

PC = PB

Patm = PA + rHg.g.h

Patm = 0 + 1,36.104.9,8.0,68

Patm = 90630 N/m2 = = 90,63 kPa = 9,06.104 Pa

2.2.2 Manômetros

A pressão manométrica, descrita anteriormente e definida como PM = r.g.h, pode ser dada pela
medida da altura vertical de qualquer fluido de massa específica (r).

A pressão manométrica representa a diferença entre a pressão medida pelo instrumento e a pressão
atmosférica no local, ou seja, pressão relativa à atmosférica.

A fim de obter o valor da pressão absoluta basta somar a pressão manométrica obtida pelo manômetro
com o valor da pressão atmosférica local.

De acordo com a definição, a pressão manométrica medida ao ar livre será sempre zero.

Pressão absoluta = pressão manométrica + pressão atmosférica:

Pabsoluta = r.g.h + Patm

88
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

2.2.2.1 trico

O manômetro de tubo piezométrico é um medidor muito simples, constituído de um tubo aberto na


parte superior, o qual está ligado ao topo de um recipiente contendo fluido a uma pressão maior que a
atmosférica. Observe a figura que segue:

h1
h2

Figura 52 – Desenho esquemático de um


manômetro de tubo piezométrico

Sendo o tubo aberto à atmosfera, a pressão medida será relativa à pressão atmosférica.

Pressão no ponto A è pressão devida à coluna do fluido acima de A.

PA = r.g.h1

Pressão no ponto B è pressão devida à coluna do fluido acima de B.

PB = r.g.h2

O manômetro de tubo piezométrico é usado somente para líquidos (isto é, não é utilizado para
gases) e apenas quando é conveniente medir a altura do líquido. O medidor não deve ser muito pequeno
ou muito grande e as alterações na pressão devem ser acusadas.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

A figura a seguir representa um piezômetro o qual possui uma inclinação de 30o em relação à
horizontal. Sabendo que o fluido A é água (rH2O = 1,00.103 kg/m3) e o B mercúrio (rHg = 1,36.104 kg/m3),
determine a pressão P1:

89
Unidade I

B
cm
= 10
C 2
h2
5 cm
=1
C1 h1
30º
P1

A
Figura 53

Solução:

h1 = C1.sen30o

h2 = C2.sen30o

P1 = rH2O.g.h1 + rHg.g.h2

P1 = rH2O.g. C1.sen30o + rHg.g. C2.sen30o

P1 = 1,00.103.10.(0,15.sen30o) + 1,36.104.10.(0,15.sen30o)

P1 = 7550 P1 = 7,5 kPa

2.2.2.2 Manômetro metálico ou de Bourdon

O manômetro metálico é amplamente utilizado na indústria. O seu princípio de funcionamento consiste


em um tubo flexível com formato tipo “C”. Quando aplicada a pressão sobre o tubo (que é preenchido
com o fluido), ele se flexiona, transmitindo esse movimento por meio de articulações e engrenagens e,
consequentemente, deflete o ponteiro indicativo sobre uma escala, conforme figura a seguir.

Tubo flexível
Ponteiro

Articulação

Engrenagem

Entrada de pressão

Figura 54 – Esquema estrutural de um manômetro de Bourdon

90
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

As regiões interna e externa do tubo metálico estão sujeitas às pressões P1 e P2, respectivamente.
Assim, o manômetro indicará a diferença das pressões (P1 – P2).

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

As câmaras representadas a seguir estão pressurizadas com ar comprimido. Determine a leitura do


manômetro 1, sabendo que a massa específica da água é rH2O = 1000 kg/m3.

Ar_Câmara 1

20 cm
1

200 kPa Ar_Câmara 2 H2O


2
Figura 55

Solução:

Câmara 1

PAR1 = Patm + rH2O.g.h


PAR1 = Patm + 1000.10.0,2
PAR1 = Patm + 2000 N/m2 Equação (1)

Manômetro 1

PM1 = PAR2 - PAR1 Equação (2)

Manômetro 2

PM2 = PAR2 – Patm

200000 = PAR2 – Patm

PAR2 = 200000 + Patm Equação (3)

Substituindo as equações (1) e (3) na equação (2):

PM1 = (200000 + Patm) – (Patm + 2000)


PM1 = 198000 N/m2 = 198 kPa
91
Unidade I

Exemplo 2

Determine a leitura do manômetro metálico representado a seguir, sabendo que as massas específicas
do fluido manométrico e da água são rM = 600 kg/m3 e rH2O = 1000 kg/m3, respectivamente.

Ar
Ar
Fluido
h1 = 10 cm manométrico

h3 = 30 cm
Água
h2 = 20 cm

Figura 56

Solução:

PAR + rM.g.h = Patm + rH2O.g.(h3 – h2)

PAR = Patm + rH2O.g.(h3 – h2) - rM.g.h

Sabendo que: PM = PTOMADA(PAR) - PEXTERNA(Patm)

PM = Patm + rH2O.g.(h3 – h2) - rM.g.h - Patm

PM = rH2O.g.(h3 – h2) - rM.g.h

PM = 1000.10.(0,3 – 0,2) - 600.10.0,1

PM = 400 N/m2

2.3 Medidores de pressão II

2.3.1 Manômetros de tubo em U

O manômetro de tubo em U permite que as pressões de ambos os fluidos, líquidos e gases, sejam
medidas com o mesmo instrumento. O tubo em U está conectado ao reservatório, conforme figura a
seguir, e preenchido com um fluido denominado fluido manométrico.

92
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

O fluido cuja pressão está sendo aferida deve apresentar uma massa específica menor que a do
fluido manométrico, e os dois fluidos devem ser imiscíveis.

A h2

h1
B C

Figura 57 – Desenho esquemático de um manômetro de tubo em U

A pressão num fluido estático é a mesma em qualquer nível horizontal.

Pressão no ponto B = Pressão no ponto C

PB = PC

No lado esquerdo do tubo:

PB = PA + r . g . h1

No lado direito do tubo:

PC = Patmosférica + ρman.g.h2

Como foi medida a pressão manométrica, pode-se subtrair a Patmosférica:

PB = PC

PA = ρman . g . h2 - r . g . h1

Se o fluido a ser medido for um gás, sua massa específica será, provavelmente, muito menor que a
massa específica do fluido manométrico. Nesse caso, os termos r.g.h1 podem ser omitidos, e a pressão
atmosférica será dada por:

PA = ρman . g . h2

93
Unidade I

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

A figura que segue ilustra um tubo em U e, no seu interior, estão três imiscíveis. Sabendo que as
massas específicas dos fluidos 1, 2 e 3 são: r1, r2 e r3 respectivamente, determine o valor da cota L.

1 L1
3 L

Figura 58

Solução:

r1.g.L1 + r2.g.(L – L1) = r3.g.L


r1.L1 + r2.L – r2.L1 = r3.L
r2.L – r3.L = r2.L1 - r1.L1
L.(r2 – r3) = L1(r2 - r1)

L  L1
2  1
2 – 3 
Exemplo 2

Determinar a pressão PA, sabendo que o fluido 2 é mercúrio (rHg = 1,36.104 kg/m3) e o fluido 1, água
(rH2O = 1,00.103 kg/m3).
h3 = 30 cm

PA
h2 = 5 cm

C D
h1 = 10 cm
1
2

Figura 59

94
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Solução:

PC = PD

PA + rH2O.g.h2 = rHg.g.(h3 – h1)

PA = rHg.g.(h3 – h1) - rH2O.g.h2

PA = 1,36.104.10.(0,3 - 0,1) – 1,00.103.10.(0,05)

PA = 26700 PA = 26,7 kPa

Exemplo 3

Logo a seguir, é representado um sistema de alavancas, sendo que uma força F = 80 N é aplicada
com o objetivo de levantar a carga P. Sabendo que a área do cilindro A é AA = 20 cm2 e a área do cilindro
B é AB = 100 cm2, determine o valor da massa P e a altura h do mercúrio.

AB P
F

AA
60 cm
Água
C
30 cm
h

Mercúrio

Figura 60

Solução:

Alavanca:

MC  0
F  0, 6  F1  0, 3
F1  2F

95
Unidade I

60 cm

C
30 cm
F1

Figura 61

No cilindro A:

F1  F2
2F
2F  Págua  A A  Págua 
AA
2  80
Págua   8, 0 104 N / m2  80kPa
0, 002
AA

F1 F2

Figura 62

No tubo em U:

Págua  água  g  h  Hg  g  h


Págua  (  Hg   água )  h
Págua 8, 0 104
h 
(  Hg   água ) (13, 6 104  1, 0 104 )
h  0, 63m

Água Mercúrio

Figura 63

96
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

No cilindro B:

F3  P
Págua  AB  m  g
Págua  AB 8, 0 104  0, 01
m 
g 10
m  80kg

AB P

F3

Água

Figura 64

2.3.2 Escolha do manômetro

A seguir são apresentadas as principais vantagens e desvantagens quando o manômetro é escolhido


para medidas de pressão frente a outros medidores.

Vantagens dos manômetros:

• Eles são muito simples.


• Não é necessário calibração: a pressão pode ser calculada a partir dos princípios físicos discutidos
anteriormente.

Desvantagens dos manômetros:

• Resposta lenta: só são realmente úteis para pressões que variam muito lentamente, não sendo
indicados para medições de pressões flutuantes.
• No caso do manômetro de tubo em U, duas medições devem ser tomadas simultaneamente para
se determinar o valor h.
• Na maioria das situações utilizando manômetros, é difícil medir pequenas variações de pressão.
• Os manômetros não podem ser usados para medidas de grandes pressões, a menos que sejam
ligados vários manômetros em série.
• Para um trabalho com temperatura controlada, a relação de dependência da massa específica com
a temperatura deve ser conhecida.
97
Unidade I

2.3.3 Equação manométrica

Considere o manômetro ilustrado no exemplo seguir. Por meio da equação manométrica é possível
determinar a pressão de um dos reservatórios ou a diferença de pressão entre os dois reservatórios.
Utilizando a Lei de Stevin e também a Lei de Pascal, analisa-se o sistema para determinar o que se pede.

Exemplo de aplicação

Exemplo 1

Quando o ar está aquecido, o sistema encontra-se conforme figura que segue. Posteriormente, a
temperatura do ar é diminuída e o nível da água sobe 1 cm. Nessas condições, determine a leitura inicial
e final do manômetro.

Dados:

gHg = 13,6.104 N/m3

gH2O = 1,0.104 N/m3

AA = 20 cm2

Ar

h = 30 cm H2O AB = 2 cm2

Hg

Figura 65 - Situação ar aquecido

Solução:

Considerando que o sistema esteja em equilíbrio, a pressão no mesmo nível será a mesma. Sendo
assim, calcula-se a pressão do sistema do lado esquerdo e também do lado direito, finalmente igualando
essas pressões:

PAR + rH2O.g.h = Patm + rHg.g.h

PAR = Patm + h.(rHg.g – rH2O.g)

PAR = Patm + h.(gHg – gH2O)

98
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Sabendo que: PM = PTOMADA(PAR) - PEXTERNA(Patm)

PM = Patm + h.(gHg – gH2O) - Patm

PM = 0,3.(13,6.104 – 1,0.104)

PM = 37800 N/m2 = 37,8 kPa

Volume deslocado:

 X   A   y  B
0, 01 0, 002   y  0, 0002   y  0,1m
hH2O  (h   y )   x  (0,33  0,1)  0, 01
hH2O  0, 21m
hHg  h  2 y  0, 3  0, 2  hHg  0,1m

PAR = PM
Par   Hg  hHg   H2O  hH2O
Par  13, 6 104  0,1  1, 0 104  0, 21
Par  13, 6 103  2,1103  Par  11, 5Pa

3 MOVIMENTO, ESCOAMENTO E TIPOS DE VAZÕES DE UM FLUIDO

3.1 Movimento de um fluido

A análise cinética dos fluidos baseia‑se na classificação das propriedades e do regime de escoamento
do fluido em questão. A seguir será apresentada uma descrição dessas classificações.

3.1.1 Fluido ideal e fluido real

Um fluido é considerado ideal (ou perfeito) quando se supõe que sua viscosidade seja nula. Essa é
uma aproximação teórica muito útil para certas aplicações, uma vez que se pode concluir que, durante
o escoamento de um fluido ideal, este não opõe resistência ao deslizamento de suas camadas, e,
consequentemente, não existirão perdas de energia por atrito.

Já um fluido real apresenta viscosidade não nula e, durante o escoamento, suas camadas adjacentes
resistem ao deslizamento. Essa resistência depende da taxa de variação da velocidade relativa de
deslizamento e, a partir dela, será possível determinar a viscosidade do fluido.

99
Unidade I

3.1.2 Fluido incompressível e fluido compressível

Uma distinção que deve ser realizada está relacionada às propriedades elásticas do fluido. Se a
massa específica do fluido permanecer uniforme e constante durante o escoamento, o fluido (ou o
escoamento) será classificado como incompressível, ou seja, ao longo do tempo, o volume do fluido
permanece constante se for um fluido incompressível. Assim, a massa específica em um ponto 1 é igual
à massa específica em um ponto 2:

ρ1 = ρ2 = constante

Os líquidos são basicamente fluidos incompressíveis, já que suas massas específicas se alteram
apenas para grandes variações de pressão. Mesmo assim, essa variação é baixa. Por exemplo: a massa
específica da água sofre uma alteração de aproximadamente 0,5% quando a pressão se eleva de 1 atm
para 100 atm a uma temperatura constante.

Em contrapartida, se a massa específica do fluido alterar‑se ao longo do escoamento, ele será


classificado como compressível. Gases, em geral, são fluidos compressíveis, já que pequenas variações de
pressão influenciam fortemente o volume deles e, consequentemente, alteram suas massas específicas.

Para gases ideais (ou perfeitos), será possível relacionar a massa específica (r) com a pressão (P)
por meio da equação de estado mostrada a seguir:

P=ρ.R.T
sendo R uma constante que depende do gás e T a temperatura absoluta (ou termodinâmica).

No SI, a unidade para temperatura absoluta é o kelvin (K).

A constante do gás (R) pode ser calculada por meio da expressão:

Ru
R=
M

sendo Ru a constante universal dos gases, cujo valor no SI é 8,314 kJ/kmol.K, e M a massa molar
do gás.

Ao analisar sistemas com gases em altas velocidades, é comum expressar a velocidade do gás em
termos do número de Mach (Ma), definido como:

velocidade do escoamento v
=Ma =
velocidade do som c

sendo a velocidade do som no ar, à temperatura ambiente e ao nível do mar, igual a 346 m/s.

100
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

O número de Mach é um adimensional, e a classificação do escoamento, segundo o número de


Mach, é mostrada a seguir.

Quadro 7 – Classificação do escoamento


segundo o número de Mach

Número de Mach Escoamento


Ma = 1 sônico
Ma < 1 subsônico
Ma > 1 supersônico
Ma >> 1 hipersônico

Quando Ma < 0,3, o escoamento de gases com transferência de calor desprezível pode ser
considerado incompressível. Assim, para o ar, os efeitos de compressibilidade podem ser desprezados
para velocidades inferiores a 100 m/s.

É importante destacar que a velocidade do som depende do meio e da temperatura. No quadro 8, é


mostrada a dependência da velocidade de propagação do som no ar com a temperatura. No quadro 9,
é mostrada a dependência da velocidade do som com o meio, para alguns fluidos.

Quadro 8 – Dependência da velocidade


do som com a temperatura

Temperatura (ºC) Velocidade do som (m/s)


‑40 306,2
‑20 319,1
0 331,4
5 334,4
10 337,4
15 340,4
20 343,4
25 346,3
30 349,1
40 354,7

Fonte: Munson, Young e Okiishi (2004, p. 561).

101
Unidade I

Quadro 9 – Velocidade do som em


alguns fluidos a 15,5 ºC e 1 atm

Meio Velocidade do som (m/s)


Hidrogênio 1294
Hélio 1000
Argônio 317
CO2 266
CH4 185
Glicerina 1860
Água (20 ºC) 1490
Mercúrio 1450
Álcool etílico 1200

Fonte: White (2010, p. 620).

Considerando que o fluido se comporte como um gás perfeito, a velocidade do som (c) pode ser
calculada por:

c  k R  T
em que:

k é a razão entre o calor específico a pressão constante (cp) e o calor específico a volume
constante (cv);

R é a constante do gás;

T é a temperatura absoluta do gás.

3.1.3 Movimento permanente (estacionário)

Se as propriedades do fluido em cada ponto do espaço permanecerem constantes com o


tempo, o movimento (ou regime) será chamado de permanente (ou estacionário). É importante
destacar que, nesse movimento, as propriedades do fluido, como pressão, velocidade ou massa
específica, podem variar ponto a ponto, porém, para cada ponto do espaço essas propriedades
permanecem constantes.

Por exemplo, um reservatório cujo fluxo de saída de fluido seja igual ao fluxo de entrada está em
movimento permanente. O mesmo ocorre em reservatórios de grandes dimensões (figura a seguir)
em que há descarga de fluido, porém esta não é suficiente para alterar o nível do reservatório, que
permanece aproximadamente constante com o tempo.

102
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Nível constante do fluido

Reservatório de
grandes dimensões

Figura 66 – Reservatório de grandes dimensões com descarga de fluido em movimento permanente

3.1.4 Movimento variado (não estacionário)

Se as propriedades do fluido em um determinado ponto variarem com o tempo, esse movimento


será denominado não permanente (ou não estacionário). Por exemplo, em um reservatório em
que houver descarga de fluido, à medida que o nível diminuir, a pressão em um dado ponto
diminuirá, assim como a velocidade do fluido na saída do reservatório, como ilustrado na figura
a seguir.

Entre os possíveis movimentos variados, podem-se identificar os escoamentos:

• Periódicos – ocorrem em intervalos de tempo fixos. Por exemplo: a injeção da mistura ar‑combustível
nos cilindros de um motor automobilístico é um movimento variado e periódico.

• Não periódicos – não ocorrem em intervalos de tempo fixos. Por exemplo: fechamento
ou abertura súbita de uma válvula. Nesse movimento variado, os efeitos podem ser
significativos. O golpe de aríete em sistemas hidráulicos é causado pelo fechamento
abrupto de válvulas e pode ocasionar danos à tubulação e às bombas do sistema.

• Aleatórios – não apresentam comportamento regular. Por exemplo: as rajadas de vento são
movimentos variados e aleatórios.

103
Unidade I

t1

t2 Nível variável

t3

t3 t2 t1

Figura 67 – Reservatório com descarga de fluido em movimento variado

Exemplo 1

A velocidade de uma aeronave é de 1300 km/h. Se a velocidade do som for 315 m/s, o voo da
aeronave será considerado sônico, subsônico, supersônico ou hipersônico?

Resolução

Primeiramente, é necessário deixar os valores de velocidade com a mesma unidade. Convertendo a


velocidade da aeronave de km/h para m/s, tem‑se:

km 103m m
= = 1300
v 1300 = 3611
,
h 3600 s s

O número de Mach é definido como:

velocidade do escoamento
Ma =
velocidade do som

104
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Portanto:

3611
,
Ma =
315

Ma = 1,15

Assim, o voo da aeronave é supersônico.

Exemplo 2

Qual é a velocidade mínima v (em km/h) que um veículo tem de atingir para que os efeitos da
compressibilidade do ar ao seu redor sejam relevantes? Considere que a temperatura local do ar
atmosférico seja de 15 ºC.

Resolução

Para valores de número de Mach superiores a Ma = 0,3 no ar, em condições padrão, o escoamento
pode ser considerado compressível, e a velocidade do som no ar atmosférico nessas condições é de 346
m/s, então:

v
Ma =
c

v
0, 3   v  103, 8m / s
346

Em km/h, essa velocidade corresponde a:

v = 103,8 × 3,6

v = 373,7 km/h

Exemplo 3

Um avião voa com velocidade de 800 km/h a uma altitude de 10,7 km. Sabendo que nessa
altitude a temperatura é de -55 ºC, determine o número de Mach para essa altitude e se o voo
da aeronave é sônico, subsônico, supersônico ou hipersônico. Considere que, para o ar, k = 1,40
e R = 286,9 J/kg.K.

105
Unidade I

Resolução

Dados:

v = 800 km/h = 222,2 m/s

h = 10,7 km

T = ‑55 ºC=218,15 K

k = 1,40

R = 286,9 J/kg.K

A velocidade do som (c) no ar pode ser obtida por:

c  k R  T  c  1, 40  286, 9  218,15  c  296, 0 m/s

Assim, o número de Mach (Ma) será:

v 222, 2
Ma= =
c 296

Ma = 0,75

O voo da aeronave é subsônico.

3.2 Regimes de escoamento

3.2.1 Experimento de Reynolds

Em artigo publicado em 1883, o engenheiro britânico Osborne Reynolds apresentou uma


demonstração visual da transição de regimes de escoamento. Nesse experimento, Reynolds empregou
um reservatório de água com um tubo de vidro, contendo, em uma de suas extremidades, uma
adaptação convergente.

Esse tubo era ligado a um sistema externo com uma válvula que permitia regular a vazão. No
eixo do tubo de vidro, era injetado um corante para a visualização do regime de escoamento (figura
68 e figura 69). Por meio desse experimento, Reynolds observou dois regimes de escoamento do
fluido denominados laminar e turbulento.

106
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Figura 68 – Ilustração artística do experimento de Reynolds

Figura 69 – Foto do aparato empregado por Reynolds em exposição na Universidade de Manchester, na Inglaterra

3.2.2 Escoamento laminar

No experimento de Reynolds, para pequenas vazões, o corante formava um filete contínuo paralelo ao eixo
do tubo (figura a seguir). Nesse regime, o escoamento é chamado de laminar e é caracterizado pelo fato de a
velocidade do fluido em um ponto fixo qualquer não variar com o tempo, nem em módulo nem em orientação.

Figura 70 – Ilustração de regime de escoamento laminar no experimento de Reynolds

107
Unidade I

Assim, as partículas do fluido deslocam‑se sem agitações transversais, mantendo‑se em lâminas (ou
camadas), sendo que cada lâmina de fluido exerce uma força sobre a camada mais próxima. Contudo,
como a vazão não é elevada, as lâminas não se misturam. Um regime laminar pode ser observado
durante o escoamento suave de água na parte central de um rio de águas calmas.

3.2.3 Escoamento turbulento

Ainda considerando o experimento de Reynolds, com o aumento da vazão até valores intermediários,
a velocidade das partículas do corante aumenta, e o traço de corante flutua no tempo e no espaço,
apresentando quebras intermediárias (figura a seguir). Esse escoamento é característico de um regime
de transição.

Figura 71 – Ilustração de regime de escoamento de transição no experimento de Reynolds

Com o aumento da vazão, a velocidade das partículas do corante aumenta, resultando no


desaparecimento do filete colorido, já que as partículas do fluido rapidamente se misturam enquanto se
movimentam (figura a seguir). Esse regime de escoamento é denominado turbulento e é caracterizado
pelo fato de o campo de velocidades das partículas do fluido mudar com o tempo de forma aparentemente
aleatória (figura 73).

Figura 72 – Ilustração de regime de escoamento turbulento no experimento de Reynolds

velocidade

turbulento

transição

laminar

tempo

Figura 73 – Comportamento da velocidade do fluido em função do tempo

108
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A turbulência ocorrerá quando as forças viscosas do fluido não forem capazes de conter flutuações aleatórias
e o escoamento tornar‑se‑á caótico. Por exemplo, um fluido de alta viscosidade é capaz de conter as flutuações
mais efetivamente do que um fluido de baixa viscosidade e, por isso, permanece laminar mesmo em vazões altas.

Saiba mais

Para saber mais sobre o experimento de Reynolds e como a velocidade


do fluido interfere no regime de escoamento, acesse o site:

AERODYNAMICS FOR STUDENTS. Classification of flows, laminar and


turbulent flows. 2005. Disponível em: <http://www‑mdp.eng.cam.ac.uk/
web/library/enginfo/aerothermal_dvd_only/aero/fprops/pipeflow/
node8.html>. Acesso em: 7 dez. 2016.

3.2.4 Tensão de cisalhamento

Considerando um fluido, inicialmente em repouso, entre placas, ao submeter a placa superior a uma
força Ft, ela será arrastada ao longo do fluido com velocidade v (figura a seguir).
Ft

y y

Figura 74 – Deformação de um fluido submetido a uma força tangencial

Nessa configuração, a tensão de cisalhamento será definida como sendo a razão entre o módulo da
força tangente à superfície (Ft) e a área (A) submetida à ação da força. Sob a influência dessa tensão de
cisalhamento, um elemento de volume sofre uma deformação continuamente:

Ft

A
Para fluidos newtonianos em regime de escoamento laminar, a constante de proporcionalidade entre
a tensão de cisalhamento e a taxa de deformação (dv/dy) é a viscosidade dinâmica (ou absoluta), µ.

dv

dy
sendo v a velocidade impressa pela força Ft e y a altura da camada de fluido.
109
Unidade I

Observação

Fluidos newtonianos são fluidos cuja tensão de cisalhamento é linearmente


proporcional à taxa de deformação. São chamados assim em homenagem a
Isaac Newton, que estudou a resistência ao movimento dos fluidos em 1687. Se a
viscosidade dinâmica for constante, o fluido será newtoniano. Já, se a viscosidade
dinâmica não for constante, o fluido será classificado como não newtoniano.

A equação anterior é conhecida como lei de Newton da viscosidade e é aplicada para escoamentos
laminares. Embora muitos escoamentos turbulentos de interesse sejam permanentes na média, a
presença de flutuações aleatórias da velocidade torna a análise do escoamento turbulento difícil.

Em 1877, o matemático francês Joseph Boussinesq sugeriu a utilização de uma expressão análoga à
do regime laminar para modelos de turbulência mais simples. Essa expressão é mostrada a seguir:

dv
 turb   t
dy
sendo:

µt → viscosidade turbulenta ou viscosidade de vórtice.

Portanto, a tensão de cisalhamento total (τTotal) é:

dv
 Total      t 
dy

A razão entre a viscosidade dinâmica (m) e a massa específica (r) é definida como a viscosidade
cinemática (υ) do fluido.




Assim, a tensão de cisalhamento total pode ser reescrita como:

dv
 Total  p    t 
dy

sendo:

υt → viscosidade cinemática turbulenta ou viscosidade cinemática de vórtice.


110
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Observação

A viscosidade turbulenta não é um parâmetro fácil de ser utilizado em


aplicações práticas, pois diferentemente da viscosidade dinâmica, que possui
um valor fixo para um dado fluido a uma dada temperatura, a viscosidade
turbulenta é função tanto do fluido quanto do escoamento. Por essa razão,
para escoamentos turbulentos, devem‑se considerar teorias semiempíricas
e dados experimentais para descrever a tensão de cisalhamento.

No quadro a seguir, são mostradas as unidades para a viscosidade dinâmica no SI (sistema MLT e
FLT de dimensões) e no sistema CGS (FLT) de unidades. A viscosidade dinâmica depende do fluido, da
temperatura e da pressão.

No geral, a viscosidade dinâmica de líquidos diminui com o aumento da temperatura, enquanto


a viscosidade dos gases aumenta com a temperatura. Já o efeito da pressão sobre líquidos e gases
depende da faixa de pressão analisada. No quadro a seguir, são mostrados alguns valores de viscosidade
em função da temperatura para ar, água e óleo lubrificante SAE 30.

Quadro 10 – Unidades para a viscosidade dinâmica


no SI e no sistema CGS de unidades

Sistema Viscosidade dinâmica (µ)


SI (MLT) kg/m.s
SI (FLT) N.s/m² = Pa.s (Pa é pascal)
CGS (FLT) dina.s/cm² = P (poise)

Quadro 11 – Valores de viscosidade dinâmica em


função da temperatura para alguns fluidos

Fluido Temperatura (ºC) µ (Pa.s)


ar ‑40 1,6 × 10‑5
ar 0 1,7 × 10‑5
ar 20 1,8 × 10‑5
água 0 1,8 × 10‑3
água 20 1,0 × 10‑3
água 100 2,8 × 10‑4
óleo SAE 30 20 0,41
óleo SAE 30 60 0,035
óleo SAE 30 100 0,0012

No quadro a seguir, são mostradas as unidades para viscosidade cinemática no SI e no sistema CGS
de unidades, e, no quadro 13, são mostrados os valores de viscosidade dinâmica e cinemática para
alguns fluidos, a 20 ºC e 1 atm de pressão.
111
Unidade I

Quadro 12 – Unidades para a viscosidade cinemática


no SI e no sistema CGS de unidades

Sistema Viscosidade cinemática (υ)


SI m²/s
CGS cm²/s = St (stoke)

Quadro 13 – Viscosidade dinâmica, massa específica


e viscosidade cinemática para alguns fluidos

Fluido µ (Pa.s) ρ (kg/m³) υ (m²/s)


Ar 1,8 x 10 ‑5
1,2 1,50 x 10‑5
Hidrogênio 9,0 x 10‑6 0,084 1,05 x 10‑4
Água 1,0 x 10‑3 1000 1,00 x 10‑6
Gasolina 2,9 x 10 ‑4
680 4,22 x 10‑7
Álcool etílico 1,2 x 10‑3 800 1,50 x 10‑6
Mercúrio 1,5 x 10‑3 13600 1,10 x 10‑7
Óleo (SAE 30) 0,29 891 3,25 x 10‑4
Glicerina 1,5 1260 1,18 x 10‑3

Saiba mais

Para saber mais sobre algumas considerações históricas relacionadas


com o movimento de fluidos e a grandeza viscosidade, acesse:

TEIXEIRA, O. P. B. Mecânica dos fluidos: algumas considerações sobre


a viscosidade. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE ENSINO DE FÍSICA, 16., 2005,
Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Cefet, 2005. p. 1‑5. Disponível em:
<http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xvi/cd/resumos/T0625‑2.
pdf>. Acesso em: 7 dez. 2016.

Exemplo 1

Uma placa se desloca sobre uma segunda placa. Sabe‑se que entre elas existe um fluido com
viscosidade de 6,5 mg/cm.s. Para uma determinada altura y da camada de fluido, observa‑se uma
distribuição linear de velocidade no fluido. Nessas condições, determine:

a) A viscosidade dinâmica do fluido em Pa.s;

b) A tensão de cisalhamento na placa superior, em N/m².

112
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

v = 0,4 m/s

y = 0,4 mm

y=0m

Figura 75

Resolução

Dados:

y = 0,4 mm

μ = 6,5 mg/cm.s

v = 0,4 m/s

τ=?

a) Para determinar a viscosidade dinâmica (µ) do fluido na unidade Pa.s, é necessário realizar a
conversão das unidades para o SI:

10-3 g 10-3 10-3 kg


 = 6,5 mg/cm  s   = 6,5   = 6,5
10-2 m s 10-2 m  s

 = 6,5  10-4 kg/m  s

Lembrando que 1 kg/m.s = 1 N.s/m² = 1 Pa.s, tem‑se:

µ = 6,5 x 10–4 Pa.s

b) Para determinar a tensão de cisalhamento na placa superior, deve‑se considerar a distribuição linear
de velocidade. Como a velocidade v varia linearmente com a distância y, a taxa de deformação é:

dv v v  v 0 v  0 v
   
dy y y  y 0 y  0 y

113
Unidade I

Dessa forma, a tensão de cisalhamento pode ser calculada como:

dv v 0,4 m/s 0,4 m/s


 = =  = 6,5  10-4 Pa  s  6,5  10-4 Pa  s
dy y 0,4 mm 0,4  10 3 m

0,4 m1
 = 6,5  10-4 -3
Pa  s
0,4  10 sm

τ = 0,65 Pa = 0,65 N/m2

Exemplo 2

Em um dado arranjo, colocam‑se duas placas planas, horizontais e paralelas, separadas por 2 mm.
Na região entre essas placas, existe um fluido cuja viscosidade dinâmica é igual a 0,29 Pa.s. Em um dado
momento, a placa superior inicia o deslocamento enquanto a placa inferior é mantida fixa. Na situação
em que a placa superior se desloca com uma velocidade de 5 m/s, determine a tensão de cisalhamento
que atuará no fluido.

Placa móvel v = 5 m/s

2 mm

Placa fixa

Figura 76

Resolução

Dados:

y = 2 mm

μ = 0,29 Pa.s

v = 5 m/s

τ=?

114
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Para determinar a tensão de cisalhamento τ emprega‑se a equação:

dv

dy

Para esse caso, tem‑se uma distribuição linear de velocidades. Assim, a taxa de deformação é:

dv ∆v v - v0 v-0 v
= = = =
dy ∆y y - y0 y-0 y

Portanto:

dv v 5 m/s 5 m1
 = =  = 0,29 Pa  s -3
 0, 29 3
Pa  s
dy y 2x10 m 2 x 10 sm

τ = 725 Pa

Exemplo 3

Considere a ilustração a seguir:

Placa

Figura 77

Sabe‑se que a relação entre a velocidade v e a altura y é descrita por uma equação de segundo grau:

v(y) = ay – by2

Sendo a e b constantes, determine uma equação para a tensão de cisalhamento na placa em termos
de a e μ (viscosidade dinâmica), sabendo que o fluido se desloca sobre uma placa fixa.

Resolução

A equação a ser empregada para determinação da relação da tensão de cisalhamento com as


constantes a, b e μ é:
115
Unidade I

dv

dy

Nesse problema, tem‑se que a velocidade é distribuída por meio de uma equação de segundo grau.
Dessa forma, a taxa de deformação é:


dv d ay  by

2


d ay  d by ²
  a  2by
dy dy dy dy

Substituindo este resultado na equação da tensão de cisalhamento:

dv
= =   a - 2by 
dy

Na placa y = 0, assim:

τ=µ.a

Exemplo 4

Para revestir uma placa metálica com um verniz protetor, uma indústria utiliza um método
que consiste em deslocar a placa metálica entre duas placas paralelas, horizontais e estacionárias.
Essas placas estacionárias estão separadas por uma distância de 4 cm, e o espaço entre elas é
preenchido com o verniz que apresenta viscosidade dinâmica de 0,9 N.s/m². A placa metálica
possui comprimento de 2 m e uma espessura de 0,5 cm. Sabe‑se que ela se desloca com velocidade
constante de 5 m/s e está completamente envolta por fluido. Na situação em que a placa metálica
se move no plano médio em relação às duas placas estacionárias (h1 = h2 = 2 cm), determine a
força resultante necessária para manter o movimento.
Superfície estacionária

h1
v = 5 m/s
F

y
h2
x

Superfície estacionária

Figura 78

116
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Resolução

Dados:

y = 4 cm

μ = 0,9 N.s/m²

L = 2 m (comprimento da placa metálica)

H = 0,5 cm (espessura da placa metálica)

v = 5 m/s

h1 = h2 = 2 cm

Ft = ?

Para determinar a força necessária para manter o movimento da placa fina com uma velocidade de
5 m/s, tem‑se:

Ft  =  dv
t= e
A dy
Igualando as equações:

Ft dv
=m
A dy

dv dv
Ft = A   = L H 
dy dy

Como, para esse caso, a distribuição de velocidades é linear, tem‑se que a taxa de deformação é:

dv ∆v v - v0 v-0 v
= = = =
dy ∆y h1 - h0 h1 - 0 h1

Como a placa fina está localizada no centro em relação às superfícies estacionárias, a distribuição
de velocidades é simétrica e, assim, pode‑se calcular para uma metade e no final multiplicar por 2 para
encontrar o valor total da força:

117
Unidade I

v N  s 5 m/s
Ft = L  H   = 2 m  0,5 cm  0,9 2
h1 m 2 cm

5 kg  m s m 1
Ft = 2  0,5  10-2  0,9 m2
2  10-2 s2 m2 s m

kg  m
Ft = 2,25  Ft = 2,25 N
s2

Portanto, a força total (F) necessária para manter a placa em deslocamento vale:

F = 2  Ft  F = 2  2,25 N

F = 4,5 N

Exemplo 5

Duas placas de vidro planas e verticais estão separadas a 0,0050 mm. Uma das placas é mantida
fixa e entre elas uma fina camada de glicerina, cuja viscosidade dinâmica vale 1,5 Pa.s. Determine a
velocidade com que a placa de vidro irá deslizar, sabendo que a força atuante é a força peso, e esta
possui massa igual a 0,80 kg e A = 1,0 x 10‑3 m². Considere g = 10 m/s².
x = 0,0050 mm

Figura 79

118
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Resolução

Dados:

x = 0,0050 mm

µ = 1,5 Pa.s

v=?

A = 1,0 x 10‑3 m²

F = m.g

Sabe‑se que:

Ft dv F dv
τ= e  =   =
A dx A dx
Pelo perfil de velocidades:

dv ∆v v - v0 v-0 v
= = = =
dx ∆x x - x0 x-0 x

Então:

F v Fx m  g  x 0,8 kg 10 m/s2  0,005  10-3 m


=  v=  v= 
A x A A 1  10 3 m2 1,5 Pa.s

0, 8 10  0, 005  103 1 m2


v Nm 2 
1 103 15
, m N s

v = 27  10 3 m/s

v = 27 mm/s

119
Unidade I

3.3 Número de Reynolds e descrição de escoamento

3.3.1 Número de Reynolds

Durante seus estudos sobre a transição entre os regimes de escoamento laminar e turbulento, já
discutidos anteriormente, Osborne Reynolds descobriu o parâmetro que permite determinar o regime
de escoamento. Esse parâmetro é conhecido como número de Reynolds (Re):

  v L v L
Re  
 

sendo:

ρ a massa específica do fluido;

v a velocidade média de escoamento do fluido;

L um comprimento característico da geometria de escoamento. Por exemplo, para tubulações


circulares, esse comprimento corresponde ao diâmetro da tubulação;

µ a viscosidade dinâmica do fluido; e

υ a viscosidade cinemática do fluido.

Pode‑se estimar se as forças viscosas são ou não desprezíveis em relação aos efeitos inerciais por
meio do cálculo do número de Reynolds. Se o número de Reynolds for alto, os efeitos viscosos serão
pequenos em relação aos efeitos inerciais. Já se o número de Reynolds for pequeno, os efeitos viscosos
serão dominantes e é possível desprezar os efeitos da inércia. Ou seja:

força de inércia
Re =
força de atrito viscoso

Para escoamentos em tubos, em condições normais, o número de Reynolds indica se o escoamento


será laminar ou turbulento:

• Re < 2000 → escoamento laminar;

• 2000 < Re <2400 → escoamento de transição;

• Re > 2400 → escoamento turbulento.

120
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

3.3.2 Trajetória e linha de corrente

Para visualizar o escoamento de fluidos, é comum a análise da trajetória de uma partícula do fluido
e das linhas de corrente.

Considerando uma partícula do fluido em movimento, denomina‑se de trajetória o conjunto de


posições ocupadas por essa partícula ao longo do tempo, como mostrado na figura a seguir.

t1

t0
t2
t6

t3
t5

t4

Figura 80 – Trajetória de uma partícula do fluido em movimento

Uma linha de corrente é contínua e tangente ao vetor velocidade instantânea para cada ponto do
campo de escoamento (figura a seguir). Portanto, pode‑se concluir que duas linhas de corrente não se
interceptam e que não há fluxo de matéria por meio delas.
Linha de
corrente

t2
t1 t3
t0 t4

Figura 81 – Linha de corrente tangente aos vetores velocidade

As linhas de corrente não podem ser visualizadas experimentalmente, exceto quando o regime de
escoamento for permanente (estacionário) e as linhas de corrente coincidirem geometricamente com as
trajetórias. Em regimes transitórios, os formatos das linhas de corrente variam com o tempo.

121
Unidade I

3.3.3 Tubo de corrente

Um tubo de corrente é uma superfície formada por todas as linhas de corrente que passam pelos
pontos de uma dada linha geométrica fechada. Como, por definição, um fluido não pode cruzar uma
linha de corrente, consequentemente o fluido dentro de um tubo de corrente não pode cruzar a fronteira
dessa superfície.
y

Linha geométrica
Linhas de corrente fechada
x0 y0 z0
x

Figura 82 – Tubo de corrente formado por linhas de corrente apoiadas em uma linha geométrica fechada

Além disso, as linhas e os tubos de corrente variam com o tempo, de acordo com o campo de
velocidade em um dado instante. Se o movimento do fluido for:

• Permanente (estacionário) → os tubos de corrente são fixos.

• Variado (não estacionário) → o padrão das linhas de corrente pode variar com o tempo. Para
um escoamento incompressível, um tubo de corrente diminui de diâmetro com o aumento
da velocidade do fluido. Da mesma maneira, o diâmetro do tubo de corrente aumenta com a
diminuição da velocidade.

Lembrete

Se a massa específica do fluido permanecer uniforme e constante


durante o escoamento, o fluido (ou o escoamento) será classificado
como incompressível, ou seja, ao longo do tempo, o volume do fluido
permanece constante.

122
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

3.3.4 Tipos de escoamento

Os escoamentos podem ser classificados como uni, bi ou tridimensionais, de acordo com


o número de coordenadas necessárias para especificar seu campo de velocidade. Em geral, os
escoamentos de fluidos são fenômenos tridimensionais complexos e que dependem do tempo.
O escoamento de ar por uma asa de avião (figura a seguir) é um exemplo de escoamento
tridimensional complexo.

Figura 83 – Escoamento de ar em torno da asa de um avião


em túnel de vento. É possível visualizar turbulências

Na figura a seguir, é apresentado um esquema de escoamento tridimensional. Porém, em


alguns casos, é conveniente simplificarmos esses escoamentos, considerando que o escoamento é
unidimensional ou bidimensional.

z
y

Figura 84 – Escoamento tridimensional. A velocidade é função das coordenadas x, y e z

Quando um dos componentes da velocidade em uma dada direção for muito pequeno em comparação
com os demais, o escoamento pode ser considerado bidimensional. Na figura a seguir, é mostrado um
escoamento bidimensional com a velocidade sendo função das variáveis x e y.

123
Unidade I

Ainda, quando dois componentes da velocidade forem muito pequenos, será possível
simplificar a análise considerando o escoamento unidimensional. Ou seja, nesse escoamento, se
as propriedades do fluido forem constantes em cada seção, uma única coordenada é suficiente
para descrever seu escoamento. Na figura seguir, é mostrado um escoamento unidimensional e
uniforme em cada seção.
y

v1 v2

x
x1 x2

Figura 85 – Escoamento bidimensional com a velocidade sendo função das coordenadas x e y

v1 v2

x
x1 x2

Figura 86 – Escoamento unidimensional e uniforme em cada seção.


Neste escoamento a velocidade é função da variável x

124
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Saiba mais
Apesar do estudo quantitativo do padrão de escoamento de fluidos exigir
matemática avançada, um recurso largamente empregado é o de análise
visual do escoamento, seja experimentalmente e/ou computacionalmente.
Para saber mais sobre as técnicas de visualização experimental de
escoamento, acesse:
MANSUR, S. S.; VIEIRA, E. D. R. Visualização experimental de
escoamentos. Porto Alegre, 2004. Disponível em: <http://www.abcm.
org.br/app/webroot/anais/eptt/2004/portuguese/docs/cap2‑cd.pdf>.
Acesso em: 14 dez. 2016.

Exemplo 1

Determine o número de Reynolds e identifique se o regime de escoamento do fluido é laminar ou


turbulento. Sabe‑se que a tubulação possui 4 cm de diâmetro e escoa água a 20 ºC a uma velocidade de
6 cm/s. A viscosidade dinâmica da água é µ = 1 x 10‑3 Pa.s.

Resolução

Dados:

D = 4 cm
T = 20 ºC
v = 6 cm/s

O número de Reynolds é obtido empregando a equação:

  v L v L
Re  
 

A massa específica da água é ρ = 1000 kg/m³, e a viscosidade dinâmica da água a 20 ºC vale


µ = 1 x 10‑3 Pa.s.

  v  L 1000 kg/m3  6  10-2 m/s  4  10-2 m 1000  6  10-2  4  10-2 kg m 1


Re   -3
 -3 3
m
 1  10 Pa  s 1  10 m s Pa  s

kg m m² kg  m 1
Re  2400 3 s
m  Re = 2400 2
m N s s N

125
Unidade I

Como 1 N = 1 kg.m/s², tem‑se:

Re = 2400

Como Re = 2400, temos um escoamento turbulento.

Exemplo 2

Um determinado fluido escoa por uma tubulação em regime de escoamento laminar. Sabendo que
nessa condição o número de Reynolds equivale a 1950, determine a máxima velocidade do escoamento,
considerando um tubo com 3 cm de diâmetro. Dados: ρ = 750 kg/m³ e μ = 0,326 mPa.s

Resolução

Dados:

Re = 1950 (escoamento laminar)

v=?

L = 3 cm

ρ = 750 kg/m³

μ = 0,326 mPa.s

Para determinação do número de Reynolds, emprega‑se a equação:

  v L
Re 

Assim, tem‑se:

Re .
v=
.L

Re . 1950  0,326  10-3 Pa.s 1950  0,326  10-3 N  s m3


v=  
.L 750 kg/m3  3  10-2 m 750  3  10-2 m2m kg

N s kg  m  s 1
v = 28,25  10 3  28,25  10 3
kg s2 kg

126
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

v = 28,25 × 10–3 m/s

v = 28,25 mm/s

Exemplo 3

O sangue flui pelas artérias com escoamento laminar. Considerando uma artéria de 3,6 mm de diâmetro,
determine a velocidade máxima com a qual o sangue pode fluir por essa artéria de modo que o escoamento
permaneça laminar. Sabe‑se que a viscosidade dinâmica do sangue a 37 ºC vale µ = 4 x 10‑3 Pa.s e sua massa
específica é ρ = 1,060 x 103 kg/m³. Considere que o sangue seja um fluido newtoniano.

Resolução

Dados:

L = 3,6 mm

µ = 4 x 10‑3 Pa.s

ρ = 1,060 x 103 kg/m³

Re = 2000 (limite para o escoamento laminar)

v=?

Empregando a equação do número de Reynolds e isolando a velocidade v, tem‑se:

  v L R 
Re   v= e
  L

Substituindo os valores fornecidos pelo enunciado do problema:

Re   2000  4  10-3 Pa  s 2000  4  10-3 N  s m3 1


v=  
  L 1,060  103 kg/m3  3,6  10-3 m 1,060  103  3,6  10-3 m2 kg m

N.s kg.m.s
v = 2,1 = 2,1
kg kg.s2

Assim, a velocidade máxima é:

v = 2,1 m/s

127
Unidade I

Lembrete

kg.m
1 Newton = 1 N = 1
s2

Exemplo 4

Um fluido com massa específica de ρ = 790 kg/m³ e viscosidade dinâmica µ = 0,326 mPa.s deve
escoar por uma tubulação em regime laminar. Sabendo que a velocidade de escoamento deste fluido
é de 3 cm/s, determine o diâmetro máximo da tubulação de forma que o escoamento permaneça no
regime laminar.

Resolução

Dados:

ρ = 790 kg/m³

µ = 0,326 mPa.s

v = 3 cm/s

Re = 2000 (limite para o escoamento laminar).

Utilizando a equação para determinação do número de Reynolds e isolando a variável L (diâmetro


do tubo), tem‑se:

  v L R 
Re   L= e
  v

Re   2000  0,326  10-3 Pa  s 2000  0,326  10-3 N  s m3 s


L=  
  v 790 kg/m3  3  10-2 m/s 790  3  10-2 m2 kg m
kg.m.s s
L = 27,51  10-3 2 kg
= 27,51  10-3m = 2,75  10 2 m
s

L = 2,75 cm

128
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Exemplo 5

Uma mangueira com 2 cm de diâmetro é empregada para irrigação da grama de um jardim. Determine
a velocidade máxima da água para que o escoamento seja laminar. Dados: ρ = 1000 kg/m³ e µ = 1 mPa.s.

Resolução

Dados:

L = 2 cm

v=?

Re = 2000 (limite para o escoamento laminar)

ρ = 1000 kg/m³

µ = 1 mPa.s

Utilizando a equação para determinação do número de Reynolds:

  v L R 
Re   v= e
  L

Substituindo os dados fornecidos pelo problema:

2000.1  10-3 Pa.s 2000.1  10-3 Pa.s m3


v= 
1000kg/m3 .2  10-2 m 1000.2  10-2 kg m

N  s m3 kg  m  s
v = 0,1  0,1  0,1 m/s
m2  kg m s2  kg

v = 10 cm/s

Observação

O valor de 10 cm/s é muito baixo, o que sugere que o escoamento da


água seja turbulento no interior dos encanamentos domiciliares. Para uma
torneira típica empregada em residência, a velocidade de escoamento da
água é de aproximadamente 1 m/s.

129
Unidade I

3.4 Vazões

3.4.1 Vazão volumétrica (Q)

A vazão volumétrica (ou simplesmente vazão) corresponde à taxa de escoamento e pode ser
calculada por meio da razão entre o volume (∀) que passa por uma seção reta e o intervalo de tempo
de escoamento (t) do fluido:

volume 
Q 
tempo t

A seguir, são mostradas algumas unidades para vazão volumétrica:

• m³/s (metro cúbico por segundo);

• l/s (litro por segundo);

• m³/h (metro cúbico por hora);

• l/min (litro por minuto).

Observação

As relações entre litro e metro cúbico são:

• 1 m³ = 10³ l

• 1 l = 10‑3 m

Contudo, existe uma relação entre a vazão volumétrica e a velocidade do fluido. Considerando o
escoamento de um fluido em uma região do espaço com seção de área A e distância s (figura a seguir),
a vazão volumétrica pode ser escrita como:

sA
Q
t

130
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A A

Figura 87 – Fluido escoando com velocidade média constante por


uma região do espaço com seção reta de área A e comprimento s

A razão entre a distância e o tempo define a velocidade (v) do fluido. Portanto, a equação anterior fica:

Q=v.A

A equação anterior é válida somente se a velocidade for constante ao longo da seção considerada.
Como isso não é válido para a maioria dos casos práticos, para determinar a vazão volumétrica deve‑se
analisar o perfil da velocidade e determinar a velocidade média ao longo da seção. Na figura a seguir, é
mostrado um perfil de velocidade que varia ao longo da seção de área A.
A

dA

Figura 88 – Perfil da velocidade de um fluido passando


por uma seção de área A e elemento de área dA

De maneira geral, pode‑se calcular a vazão por meio de:

dQ  v  dA  Q   v  dA
A

Define‑se a velocidade média (vm) como a velocidade uniforme que produziria a mesma vazão na
seção transversal estudada. Dessa forma:

Q   v  dA  Q  vm  A
A

131
Unidade I

Igualando as duas expressões, tem‑se:

1
A A
vm  v  dA

Ou seja, a velocidade média corresponde ao valor médio da velocidade v ao longo da seção transversal
do tubo (figura a seguir).
A

vm
Figura 89 – Ilustração da velocidade média sobre a seção transversal de um tubo

3.4.2 Vazão em massa (QM)

Define‑se a vazão em massa (ou vazão mássica) como a razão entre a massa (m) e o tempo de
escoamento (t) do fluido:

massa m
=
QM =
tempo t
A seguir, são mostradas algumas unidades para vazão em massa:

• kg/s, kg/min, kg/h

• utm/s, utm/min, utm/h

Observação

A unidade utm corresponde à unidade técnica de massa e representa a


massa de um corpo que, quando submetido à ação de uma força de 1 kgf,
adquire a aceleração de 1 m/s². As relações entre utm e kg são:

1 utm = 9,80665 kg

1 kg = 1,0197 x 10‑1 utm


132
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Como a massa específica (r) de um fluido pode ser determinada por meio da razão entre sua massa
(m) e seu volume (∀):

m


então:

m = ρ .∀

Substituindo a equação anterior na definição de vazão em massa, tem‑se:

 
Qm 
t

3.4.2.1 Relação entre a vazão em massa e a vazão volumétrica

A relação entre vazão em massa (Qm) e vazão volumétrica (Q) pode ser obtida já que volume
(∀) por unidade de tempo (t) define a vazão volumétrica. Portanto, a equação anterior pode ser
reescrita como:

Qm = ρ . Q

Ou ainda:

Qm = ρ . v . A

sendo:

v → a velocidade ao longo da seção; e

A → a área da seção transversal.

3.4.3 Vazão em peso (QG)

A vazão em peso pode ser calculada por meio da razão entre a força peso (G) que passa por uma
seção reta e o intervalo de tempo de escoamento (t) do fluido:

peso G
=
QG =
tempo t

133
Unidade I

A seguir, são mostradas algumas unidades para vazão em peso:

• N/s, N/min, N/h

• kgf/s, kgf/min, kgf/h

• dina/s, dina/min, dina/h

3.4.3.1 Relação entre a vazão em peso e a vazão mássica

Por meio da segunda Lei de Newton do movimento, tem‑se que a força peso corresponde
ao produto entre massa (m) e a aceleração da gravidade (g). Assim, a equação anterior pode ser
escrita como:

mg
QG 
t

A razão entre a massa (m) e o intervalo de tempo (t) define a vazão mássica (QM). Então a relação
entre a vazão em peso e a vazão mássica fica:

QG = QM . g

3.4.3.2 Relação entre a vazão em peso e a vazão volumétrica

Como a vazão em massa relaciona‑se com a vazão volumétrica, a relação entre vazão em peso e
vazão volumétrica é dada por:

QG = ρ . Q . g

O produto entre a massa específica do fluido e a aceleração da gravidade determina a grandeza peso
específico (γ). Portanto:

QG = γ . Q

No quadro a seguir, são resumidas as definições de cada tipo vazão, assim como as relações entre
elas e suas unidades no SI.

134
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Quadro 14 – Definição de vazão volumétrica,


em massa e em peso, e as relações entre elas

Vazão Expressão Unidade no SI


volume 
Q 
Volumétrica (Q) tempo t m³/s
Q=v.A
massa m
=
QM =
Em massa (Qm) tempo t kg/s
QM = ρ . Q
peso G
=
QG =
tempo t
Em peso (QG) N/s
QG = QM . g
QG = γ . Q

3.4.4 Medição de vazão (Método volumétrico e rotâmetro)

Conhecer a vazão de um sistema é de suma importância, uma vez que essa grandeza relaciona‑se
com a velocidade média do fluido, o que influencia o regime de escoamento e as características do
movimento do fluido. Porém, dependendo do sistema, quantificar a vazão não é uma tarefa fácil. Um
método simples para medição da vazão consiste na medição direta do fluxo, ou seja, medir o volume de
fluido que se acumula em um recipiente por intervalo de tempo.

Esse método também é conhecido por método volumétrico e parte da definição de vazão. Para
determinação da vazão por esse método é necessária a utilização de um recipiente graduado e de
um cronômetro. Na figura a seguir, é mostrado um recipiente adequadamente graduado e aferido,
empregado nas medições de vazão de água. Desde que o intervalo de tempo não seja muito pequeno, a
vazão pode ser determinada por esse método com boa precisão. Para gases, o efeito da compressibilidade
deve ser considerado durante as medições de volume.

Figura 90 – Recipiente graduado para medição do


volume utilizado para determinação da vazão

135
Unidade I

Lembrete

Ao utilizar simplesmente o termo vazão, lembre‑se de que este se refere


à vazão volumétrica (ou em volume).

Outra maneira de medir diretamente a vazão de sistemas é empregando medidores de área


variável, chamados de rotâmetros no comércio ou medidores de flutuação. Esses dispositivos podem
ser utilizados para medição da vazão tanto de líquidos quanto de gases e consistem em um tubo
transparente cônico, vertical, de vidro ou plástico, com um flutuador que se desloca livremente com a
passagem do fluido. Esse flutuador move‑se até uma posição de equilíbrio, em que a força de arrasto
e o peso do flutuador se anulam.

Na figura a seguir, é mostrado um medidor de área variável baseado na gravidade. Vale destacar
que esse medidor deve ser posicionado verticalmente, com o fluido entrando na parte inferior e saindo
na superior. Além disso, como esses dispositivos dependem da visualização do flutuador em relação à
escala, não podem ser utilizados para medir a vazão de fluidos opacos ou sujos.

Figura 91 – Rotâmetro empregado para medições de vazão de fluidos

Exemplo 1

Para encher um balde de 60 litros utilizando uma mangueira é necessário 1,36 minuto.
Determine a vazão volumétrica (Q) e a vazão mássica (QM) da água através da mangueira. Sabe‑se
que a massa específica da água é ρ = 1000 kg/m³.

136
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Resolução

Dados:

∀ = 60 l

Δt = 1,36 minuto

ρ = 1000 kg/m³

Q=?

QM = ?

A vazão volumétrica é definida pela razão entre o volume que passa por uma seção reta e o intervalo
de tempo do escoamento do fluido:

 60 l
Q= = = 0,74 l/s
t 1,36  60 s
Apresentando o resultado no Sistema Internacional:

Q = 0,74 × 10–3 m3/s

A vazão mássica é a razão entre a massa e o tempo de escoamento do fluido:

m
QM =
t

Lembrando que a massa específica é calculada a partir da equação:

m
=  m = 

Dessa forma, tem‑se:

m   
QM = = =  = Q
t t t

kg -3 m3
QM =  Q = 1000 .0,74  10
m3 s

137
Unidade I

kg
QM = 0,74
s

Exemplo 2

Considerando que a velocidade da água em uma tubulação com 37 mm de diâmetro seja de 7,60
m/s, determine:

a) Vazão volumétrica.

b) Vazão mássica.

c) Vazão em peso.

Dados: g = 10 m/s² e ρ = 1000 kg/m³

Resolução

Dados:

D = 37 mm

v = 7,60 m/s

g = 10 m/s²

ρ = 1000 kg/m³

Lembrando que a vazão volumétrica (Q) é dada pela equação:

Q=v.A

2 2
 37  10-3m   37  10-3  m
Q = 7,60 m/s      7,60      s m²
 2   2 

Q = 8,17 × 10–3 m3/s

138
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Já a vazão em massa (QM­) é obtida pela relação:

QM = ρ . Q

Então:

kg m3
QM =  Q =1000 kg/m3  8,17  10 3 m3 /s = 1000  8,17  10 3
m3 s

QM = 8,17 kg/s

Para a determinação da vazão em peso (QG) efetua‑se a multiplicação da aceleração gravitacional


(g) pela vazão em massa (QM):

QG = g . QM

m kg
Q G = g ⋅ QM = 10 m/s2 ⋅ 8,17 kg/s = 10 ⋅ 8,17
s2 s

kg.m 1
Q G = 81,7
s2 s

QG = 8,17 N/s

Exemplo 3

Próximo ao fundo de um tanque com água, foi instalada uma torneira de diâmetro interno de
15  mm. O nível da água está 3,25 metros acima do nível da torneira. Determine a vazão volumétrica da
torneira quando estiver totalmente aberta. Dados: ρ = 1000 kg/m³ e g = 10 m/s².

139
Unidade I

v
Torneira – D = 15 mm

Figura 92

Resolução

Dados:

D = 15 mm

H = 3,25 m

ρ = 1000 kg/m³

g = 10 m/s²

Q=?

Como o movimento da água pode ser considerado retilíneo e uniformemente variado, para determinar
a velocidade da água emprega‑se a equação de Torricelli:

v2 = v20 + 2gH

No instante inicial, v0 = 0, então:

v2 = 2gH ⇒ v = 2gH

Substituindo os valores fornecidos pelo enunciado:

140
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

2 m2
v = 2gH = 2 10 m/s  3,25 m  2 10  3,25
s2

m2
v = 65 = 8,06 m/s
s2

A vazão volumétrica da torneira será obtida por meio da relação:

Q=v.A

Lembre‑se que a área de uma circunferência é calculada por:

2
 D
A   
 2

Assim, tem‑se:

2 2
 15  10 3 m   15  10 3  m 2
QM  8, 06 m / s       8, 06      m
 2   2  s

3 m3
Q  1, 42  10
s

Exemplo 4

Determine o diâmetro de uma tubulação sabendo que por ela escoa água a uma velocidade média
de 3 m/s. A tubulação está conectada diretamente a um tanque com capacidade para 14000 litros e leva
aproximadamente 1 hora e 22 minutos para enchê‑lo totalmente.

Resolução

Dados:

D=?

v = 3 m/s

∀ = 14000 litros

t = 1 hora e 22 minutos

141
Unidade I

Antes de substituir os valores nas equações de vazão volumétrica, é necessário converter as unidades
para o Sistema Internacional:

  14000 l = 14000  10 3 m3 = 14 m3

t = 1 hora e 22 minutos = 1⋅ 60 ⋅ 60 s + 22 ⋅ 60 s = 4920 s

Igualando as duas equações da vazão volumétrica:

∀ eQ=v.A
Q=
t
 
= v.A  A =
t t.v
2
 D  D2  
.   =    D2  4
 2 tv 4 tv tv

 
D 4 2
tv tv

Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

 14 m3 14 m3 s
D2 2 2
tv 4920 s  3 m/s. 4920  3   s m

D  2 3, 019  10 4 m2  D  0, 035 m  D = 35  10 3 m

D = 35 mm
Exemplo 5

Na figura a seguir, são mostrados os reservatórios I e II. Sabendo que esses reservatórios
são cúbicos e que eles são preenchidos pelas tubulações, respectivamente, em 3,5 minutos e
10 minutos, determine a velocidade da água na seção A, indicada na figura, sabendo‑se que o
diâmetro da tubulação é 1 m.

142
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

10 m

5m

Figura 93

Resolução

Dados:

∀I = (5m)3 = 125 m3

∀I = (10m)3 = 1000 m3

tI = 3,5 min = 3,5 . 60 s = 210 s

tII = 10 min = 10 . 60 s = 600 s

v=?

DA = 1 m

No reservatório I, tem‑se:

∀I 125 m3 125 m3
QI = = =
tI 210 s 210 s

QI = 0,595 m3/s

143
Unidade I

Já no reservatório II:

∀II 1000 m3 1000 m3


QII = = =
tII 600 s 600 s

QII = 1,67 m3/s

A vazão total sobre a área A (QA) é dada pela soma das vazões nos reservatórios I e II:

QA = QI + QII

QA = 0,595 m3/s + 1,67 m3/s = (0,595 + 1,67)m3/s

QA = 2,265 m3/s

Para determinação da velocidade da água que atravessa a seção A, tem‑se:

QA = v . A

QA QA
QA  v  A  v =  2
A D 
 A 
 2

Substituindo os valores fornecidos pelo problema:

2,265 m3 /s 2, 265 m3 1
v = 2
=
 1 m   0, 52 s m2

 2 

v = 2,88 m/s

Exemplo 6

Calcule o tempo necessário para encher um copo de 200 ml a partir do perfil de escoamento de água
que sai da torneira (ilustrada a seguir):

144
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A1

v1

A2

v2

Figura 94

Sabe‑se que o diâmetro da seção transversal A1 vale 12 mm e o diâmetro da seção transversal A2 é


igual a 6 mm. Os dois níveis estão separados por uma distância h (h = 50 mm). Dado: g = 10 m/s².

Resolução

Dados:

∀ = 200 ml = 200 x 10‑6 m³

t=?

D1 = 12 mm = 0,012 m

D2 = 6 mm = 0,006 m

A1 = ?

A2 = ?

h = 50 mm = 0,050 m

g = 10 m/s²
145
Unidade I

A vazão nos pontos A1 e A2 são iguais. Dessa forma, tem‑se:

Q1 = v1 . A1 e Q2 = v2 . A2

Q1 = Q2

v1 . A1 = v2 . A2

Empregando a equação de Torricelli, relacionam‑se as velocidades v1, v2 e a altura h:

v22 = v12 + 2gh

Resolvendo o problema para velocidade v1, tem‑se:

v1  A1
v1  A 1 = v2  A2  v2 =
A2

2
 v1  A1  2 v12  A12
 A  = v1 + 2gh  2
= v12 + 2gh
2 A2

 
v12  A12 = A22  v12 + 2gh  v12  A12 = A22  v12 + 2ghA22

 
v12  A12 - v12  A22 = 2ghA22  A12 - A22  v12 = 2ghA22

2ghA22 2ghA22
v12 = ⇒ v1 =
A12 - A22 A12 - A22

2
 D 2
2gh    2  
  2   D24
v1 = 2 2
= 2gh
 D 2  D 2 D14 -D24
  1   -   2  
  2     2  

v1 = 2 10 m/s 2
 0,05 m
 0,006 m
4

0,012 m4 - 0,006 m4


146
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

0, 0064 m m4
v1 = 2 10  0, 05 m
0, 0124  0, 0064 s2 m4

1296
,  10 9 m2
v1  1
1, 944  10 8 s2

v1 = 0,258 m/s

Determinada a velocidade v1, tem‑se:

2
 0, 012 m 
Q1  v1  A1  0, 258 m/s    
 2 

Q1 = 2,918 × 10–5 m3/s

Então:

 
Q=  t=
t Q

200  10 6 m3 200  10 6 s
t= 5 3
 5
m3
2,918  10 m /s 2,918  10 m3

t = 6,85 s

Portanto, para encher um copo de 200 ml, levará aproximadamente 7 s.

4 ENERGIA DE UM FLUIDO

4.1 Equação da continuidade e energias associadas a um fluido

4.1.1 Equação da continuidade para regime permanente

Na natureza, a massa e a energia são propriedades que se conservam, portanto, não podem ser
criadas nem destruídas durante um processo. Em sistemas fechados, a relação da conservação da massa
é empregada implicitamente, já que a massa do sistema permanece constante. Para um fluido escoando
por um volume arbitrário no espaço (volume de controle), ou para sistemas abertos, a massa pode
atravessar a fronteira do sistema, e deve‑se considerar a relação entre a quantidade de massa que entra
e sai desse volume. Essa relação é chamada de equação da continuidade.
147
Unidade I

Em mecânica dos fluidos é comum a utilização do conceito de sistema e de volume de controle (VC).
Sistema é definido como uma quantidade de massa fixa separada do ambiente por suas fronteiras, que
podem ser fixas ou móveis. Já um volume de controle é um volume arbitrário no espaço por meio do
qual o fluido escoa.

No estudo do movimento de um fluido, empregam‑se os conceitos de linha e de tubo de corrente para


descrever como as partículas do fluido se movem. Considerando um fluido em movimento permanente
pelo tubo de corrente da figura a seguir, por definição, o fluido dentro do tubo de corrente não pode
cruzar a fronteira dessa superfície.

Lembrete

• Linha de corrente – linha contínua e tangente ao vetor velocidade


instantânea para cada ponto do campo de escoamento.

• Tubo de corrente – superfície formada por todas as linhas de corrente


que passam pelos pontos de uma dada linha geométrica fechada.
Linhas de corrente

A2

v2

A1

v1

Tubo de corrente

Figura 95 – Tubo de corrente em um fluido que escoa em regime não turbulento

A partir desse movimento, pode‑se estabelecer uma expressão para a conservação da massa do fluido.
Para o tubo de corrente anterior, as velocidades das seções retas de área A1 e A2 são, respectivamente, v1
e v2. Considerando um elemento de fluido que penetre na parte inferior do tubo de corrente da figura
anterior, o volume desse elemento (ΔV1) corresponde à área A1 vezes o comprimento ΔL1.

ΔV1 = A1 . ΔL1

148
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

O elemento de comprimento pode ser escrito em função da velocidade e do intervalo de tempo que
o fluido leva para percorrer o elemento de volume naquela extremidade do tubo:

ΔL1 = v1 . Δt

Portanto, o elemento de volume fica:

ΔV1 = A1 . v1 . Δt

A massa de fluido que entra na extremidade inferior do tubo durante o intervalo Δt corresponde à
massa específica ρ1 vezes o volume ΔV1. Assim:

m1 = ρ1 . A1 . v1 . Δt

Analogamente, a massa (m2) do fluido que sai pela extremidade superior durante o mesmo intervalo
de tempo é:

m2 = ρ2 . A2 . v2 . Δt
Como nenhum fluido se acumula no tubo de corrente, em regime permanente de escoamento as
duas massas, m1 e m2, são iguais. Logo:

m1 = m2

1  A1  v1  t  2  A2  v2  t

1  A1  v1  2  A2  v2

Essa equação é conhecida como equação da continuidade e representa a conservação de massa em


fluxo constante. Assim, em regime permanente, a vazão mássica será conservada:

QM1 = QM2

Observação

Na literatura, alguns autores aplicam a consideração anterior de


conservação de massa a um tubo de corrente. Porém, também é comum
que a lei de conservação de massa seja aplicada a um sistema e, em seguida,
estendida a um volume de controle.

149
Unidade I

4.1.2 Equação da continuidade para fluidos incompressíveis

Se o fluido em movimento for incompressível, como a massa específica é constante, então ρ1 = ρ2 e


a equação da continuidade ficará:

A1 . v1 = A2 . v2

Ou seja, a vazão volumétrica se conserva:

Q1 = Q2

Verifica‑se que, para fluidos incompressíveis, as velocidades médias e as áreas são grandezas
inversamente proporcionais. Assim, uma diminuição da velocidade corresponde a um aumento da área.

4.1.3 Entradas e saídas não únicas

Para sistemas com diversas entradas e saídas, a equação da continuidade pode ser generalizada para:

 QM   QM
Entrada Saída

Ou seja, a soma das vazões em massa na entrada é igual à soma das vazões em massa na saída.

A mesma análise pode ser aplicada para um fluido incompressível:

 Q Q
Entrada Saída

Exemplo 1

Para encher um balde de 36 litros, utiliza‑se uma mangueira cujo diâmetro interno é de 2 cm e
se reduz a 0,9 cm na saída em virtude de um bocal. Sabe‑se que são necessários 55 segundos para
encher completamente o balde. Nessas condições, determine a vazão volumétrica da água através da
mangueira e a velocidade média da água na saída do bocal.

Resolução

Dados:

∀ = 36 l = 0,036 m³

Di = 2 cm = 0,02 m

150
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

DB = 0,9 cm = 0,009 m

t = 55 s

Q=?

v=?

Sabem‑se o volume do balde e o intervalo de tempo necessário para enchê‑lo. Dessa forma, tem‑se
a vazão volumétrica:


Q=
t

36 × 10-3 m3
Q= = 0,654 × 10-3 m3 /s
55 s

A velocidade média da água na saída do bocal é obtida por meio da relação:

Q
Q = vA  v =
A

Q 0,654  10-3 m3 /s 0,654  10 3 m3 1


v= 2
= 2
=
D   0,009 m  6,362  10-5 s m2
 B  
 2  2 

v = 10,28 m/s

Exemplo 2

Em um determinado circuito hidráulico, um reservatório admite água com uma vazão de 25 l/s.
Nesse mesmo reservatório, é trazido óleo por outra tubulação com uma vazão de 14 l/s. A mistura
homogênea formada é então descarregada por outro tubo cuja seção transversal tem uma área de 37
cm². Determine a velocidade da mistura.

151
Unidade I

água óleo

Reservatório

mistura

Figura 96

Resolução

Dados:

Q água = 25 l/s = 25 × 10-3 m3 /s

Q óleo = 14 l/s = 14 × 10-3 m3 /s


A = 37 cm2 = 37 × 10-4 m2

A vazão total é a soma da vazão da água e vazão do óleo:

Q = Qágua + Qóleo

Q = 25 × 10-3 m3 /s + 14 × 10-3 m3 /s

Q = 39 × 10-3 m3 /s

Para determinar a velocidade da mistura, tem‑se:

Q
Q = vA  v =
A

39 × 10-3 m3 /s 39 × 10-3 m3 1
v= =
37 × 10-4 m2 37 × 10-4 s m2

v = 10,54 m/s

152
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Exemplo 3

Em um determinado sistema com escoamento de água, no ponto A, o diâmetro do tubo é de 50 mm


e a velocidade da água é de 2,3 m/s. O conduto se bifurca em dois condutos menores, cada um com
diâmetro de 25 mm. Nessas condições, determine:

a) As vazões nos pontos A e B.

b) A velocidade no ponto B.

Figura 97

Resolução

Dados:

DA = 50 mm

vA = 2,3 m/s

DB = 25 mm

QA = ?

QB = ?

vB = ?

Para determinar a vazão no ponto A, utilizar a equação:

QA = vA ⋅ AA

153
Unidade I

2 2
D   50  10-3 m  m
Q A = v A    A  = 2,3 m/s     = 2,3    625  10-6 m2
 2  2  s

QA = 4,52 × 10–3 m3/s

Apesar de a área da seção transversal no ponto B ser menor do que no ponto A, a vazão total precisa
ser a mesma. Desta forma:

2QB = QA

QA 4,52 × 10-3 m3 /s
QB = =
2 2

QB = 2,26 × 10–3 m3/s

A velocidade da água no ponto B é obtida por meio da relação:

QB = vB . AB = 2,26 × 10–3 m3/s

2,26  10-3 m3 /s 2,26  10-3 m3 /s 2,26  10-3 m3 /s


vB =  2
 2
AB  
D  25  10 3 m 
 B  
 2 2 
 

2,26  10-3 m3 1
vB =
  0,156  10-3 s m2

VB = 4,61 m/s

Exemplo 4

Em uma determinada indústria, o sistema hidráulico ilustrado a seguir opera com um fluido
específico (ρ = 600 kg/m³). Durante a inspeção do sistema, foi constatado um vazamento.
Determine a despesa diária com o fluido vazado, sabendo que seu custo é de R$ 0,05 por
quilograma e que o sistema hidráulico opera por 8 horas diárias. Dados: vA = 2,0  m/s, AA =
25  cm², vB = 1,9  m/s e AB = 30  cm².

154
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

VA

A
vazamento

V = 6 m/s
VB
A = 20 cm2 B

Figura 98

Resolução

Dados:

ρ = 600 kg/m³

C = 0,05 reais/kg

vA = 2,0 m/s

AA = 25 cm²

vB = 1,9 m/s

AB = 30 cm²

Para determinar a quantidade de fluido perdido em virtude do vazamento, é necessário calcular


todas as vazões envolvidas:

Q = QA + QB + Qv

  v  A =   v A  A A +   v B  AB + Q V

Q V =   v  A - v A  A A - v B  AB 

    
Q V = 600 kg/m3  6 m/s  20  10 4 m2  2 m/s  25  10-4 m2  1, 9 m/s  30  10-4 m2 
  
155
Unidade I

kg m3

Q V = 600 1,3  10-3  m3 s

Qv = 0,78 kg/s

Sabe‑se que o fluido tem um custo de 0,05 reais por quilograma. Assim, para as 8 horas (t = 28800
segundos) de operação do sistema hidráulico, tem‑se:

V = t ⋅ Q V ⋅ C = 28800 s ⋅ 0,78 kg/s ⋅ 0,05 reais/kg

kg reais
V = 1123,2 s
s kg

V = 1123,20 reais

Portanto, a despesa diária em virtude do vazamento do fluido é de R$ 1.123,20.

4.1.4 Energia potencial (Ep)

Anteriormente, foram discutidos conceitos relacionados com a conservação da massa de um fluido.


Em regime permanente, o fluxo de massa por unidade de tempo em uma seção transversal se mantém
constante, o que pode ser expresso por meio da equação da continuidade.

Da mesma forma, é possível estabelecer uma equação para conservação da energia de um fluido, já
que a energia de um sistema não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Para isso, serão
discutidos os tipos de energia associados a um fluido em movimento permanente.

Considerando um sistema de massa m, abandonado do repouso a uma distância z do plano horizontal


de referência (figura a seguir), o trabalho (W) realizado pela força peso é dado pelo produto entre a força
e o deslocamento:

W=G.z=m.g.z

A variação da energia potencial de um sistema equivale ao negativo do trabalho realizado pela força, assim:

Ep  W

Como no plano horizontal de referência (PHR), a energia potencial é nula, então, a energia potencial
gravitacional no ponto z é dada por:

Ep = m . g . z
156
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Ou seja, essa é a energia armazenada no sistema e que está associada à posição em relação ao plano
horizontal de referência. No SI a unidade para energia é:

kg  m2
J  joule 
s2

z
G = m.g

Plano horizontal de referência

Figura 99 – Sistema de massa m a uma distância z do plano horizontal de referência (PHR)

4.1.5 Energia cinética (Ec)

A energia cinética (Ec) é a energia associada ao movimento do fluido. Supondo um sistema com
massa m movendo‑se com velocidade v, a energia cinética é dada por:

m  v²
EC 
2

4.1.6 Energia de pressão (Epr)

Analogamente, a energia de pressão (ou energia potencial de pressão) pode ser obtida por meio do
trabalho realizado pela força que causa a pressão p em um tubo de corrente (figura a seguir). Supondo
que a pressão seja uniforme, a força é dada por:

F=p.A

Se a força causar um deslocamento ds durante um intervalo de tempo dt, o trabalho dW exercido


pela força será:

dW = F . ds = p . A . ds

157
Unidade I

Ou seja:

dW = p . dV

sendo dV o elemento de volume.


ds

A dV

Figura 100 – Força exercida sobre tubo de corrente causando uma pressão sobre o fluido

Portanto, a energia de pressão (Epr) será:

dEpr  dW  dEpr  p  dV

Epr   p  dV
V

4.1.7 Energia mecânica total (E)

Para um fluido incompressível em movimento permanente, a energia mecânica total é dada


pela soma da energia cinética com a energia potencial (de posição e de pressão). A energia térmica
não é energia mecânica, já que, como previsto pela Segunda Lei da Termodinâmica, a energia
térmica não pode ser convertida em trabalho direta e completamente.

Dessa forma, a energia mecânica total do sistema é:

E  Ep  Ec  Epr

m  v2
E  m g z    p  dV
2 V

158
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

Resumo

As grandezas físicas possuem magnitude, dimensão e unidade. Segundo


as dimensões de grandezas básicas como massa, comprimento, tempo e força,
é possível classificar os sistemas de dimensões primárias (ou fundamentais)
em MLT ou FLT. O sistema MLT possui como dimensões primárias a massa (M),
o comprimento (L) e o tempo (T). Já o sistema FLT possui como dimensões
primárias a força (F), o comprimento (L) e o tempo (T).

Além da dimensão, as grandezas físicas devem ser representadas com


suas respectivas unidades, de acordo com o sistema de unidades adotado.
Estabelecido em 1960, o Sistema Internacional (SI) consiste em três
unidades básicas, o metro (m), o quilograma (kg) e o segundo (s). O SI possui
um método geral para formação de múltiplos e submúltiplos por meio da
multiplicação por potencias de base 10, que correspondem a prefixos que
modificam as unidades básicas e secundárias.

Os engenheiros também devem estar familiarizados com o Sistema


Inglês de Unidades, que ainda é largamente utilizado nos Estados Unidos.
Na resolução dos exercícios, os estudantes devem se certificar de que tanto
as dimensões quanto as unidades das grandezas físicas estão consistentes.
As principais grandezas que descrevem um fluido são:

• Pressão (P): considerando uma superfície de área A submetida à ação


de uma força normal Fn, define-se a pressão média P como sendo a
razão entre a força e a área.

Fn
P=
A

• Tensão de cisalhamento (t): define-se a tensão de cisalhamento como


sendo a razão entre a força (Ft) que tangencia a superfície e a área A.

Ft

A

• Massa específica (r): considerando uma quantidade de fluido, a


massa específica é definida como sendo a razão entre massa (m) e o
volume (∀) dessa quantidade.

m



159
Unidade I

• Peso específico (g): define-se peso específico de um fluido como


sendo a razão entre seu peso (G) e o seu volume (∀).

G



• Tensão superficial (s): define-se tensão superficial como a força de


tensão superficial (F) pelo comprimento (d) ao longo do qual a força
de tensão atua.

F

d

• Viscosidade dinâmica ou absoluta (m): corresponde à constante de


proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento (t) e o gradiente
de velocidade (dv/dy).

dv
 
dy

• Viscosidade cinemática (n): a razão entre a viscosidade dinâmica


(m) e a massa específica (r) é definida como sendo a viscosidade
cinemática do fluido.





Estudamos conceitos relacionados à estática dos fluidos, como o empuxo,


a pressão média, a Lei de Stevin, os vasos comunicantes e a Lei de Pascal.

O empuxo é um princípio físico muito conhecido, uma vez que um


corpo qualquer imerso na água aparenta possuir um peso menor do que
quando inserido no ar. Caso o corpo tenha densidade menor do que a do
fluido no qual está imerso, ele flutua.

Segundo o Princípio de Arquimedes, quando um corpo está parcial ou


completamente imerso em um fluido, o fluido exerce uma força sobre o
corpo, a força de empuxo, sempre debaixo para cima, igual ao peso do
volume do fluido deslocado pelo corpo.

A pressão é uma grandeza física definida para todos os estados da


matéria, mas é particularmente muito importante quando estudam‑se
160
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

fluidos. Ela é uma grandeza escalar, ou seja, suas propriedades não


dependem de direção e sentido. Se a força exercida em cada unidade de
área da fronteira for a mesma, a pressão é dita uniforme.

Sob a água, a pressão exercida em um ponto aumenta com a


profundidade. Nesse caso, a pressão exercida sobre um ponto a uma
determinada profundidade é resultado do peso da água sobre o ponto mais
o peso da atmosfera. Assim, a Lei de Stevin define a pressão exercida em um
ponto a uma determinada profundidade como sendo o produto da massa
específica do fluido pela aceleração da gravidade pela profundidade.

Um tubo em forma de U preenchido com dois fluidos não miscíveis que


se encontram em equilíbrio hidrostático, a relação final entre as massas
específicas e as alturas das colunas mostram que as alturas medidas a partir
do nível de separação entre dois fluidos são inversamente proporcionais às
suas massas específicas. É importante constatar que os vasos comunicantes
são amplamente utilizados para estabelecer relações entre as massas
específicas de, no mínimo, dois ou mais tipos de fluidos.

O Princípio de Pascal afirma que uma mudança na pressão aplicada a um


fluido fechado é transmitida, sem diminuir, a todas as porções do fluido e
também às paredes do seu recipiente. Uma das mais importantes aplicações
tecnológicas da Lei de Pascal é encontrada num sistema hidráulico, constituído
por um sistema de fluido fechado utilizado para exercer forças. Os sistemas
hidráulicos mais comuns são os freios de carro e as prensas hidráulicas.

Abordamos também o barômetro, que é um dispositivo responsável


por medir a pressão atmosférica num determinado local de interesse. O
princípio de funcionamento de um barômetro se dá devido à força que a
pressão atmosférica exerce sobre a superfície livre do fluido exposto, tendo
como consequência que o fluido em questão suba pelo tubo.

A pressão manométrica representa a diferença entre a pressão medida pelo


instrumento e a pressão atmosférica no local, ou seja, pressão relativa à atmosférica.
Para a medida dessa pressão relativa, existem vários tipos de medidores: manômetro
piezométrico, manômetro metálico, manômetro de tubo em U.

A análise cinética dos fluidos baseia‑se na classificação das propriedades


e do regime de escoamento do fluido em questão. Entre essas, destacam-se
as seguintes classificações:

O fluido ideal (ou perfeito) apresenta viscosidade nula. Durante o


escoamento de um fluido ideal, este não opõe resistência ao deslizamento de
suas camadas e, consequentemente, não existem perdas de energia por atrito.
161
Unidade I

O fluido real apresenta viscosidade não nula e, durante o escoamento,


suas camadas adjacentes resistem ao deslizamento.

No fluido incompressível, se a massa específica do fluido permanecer


uniforme e constante durante o escoamento, o fluido (ou o escoamento)
será classificado como incompressível.

No fluido compressível, se a massa específica do fluido se alterar ao


longo do escoamento, será classificado como compressível.

No movimento permanente (estacionário), se as propriedades do


fluido em cada ponto do espaço permanecerem constantes com o tempo,
o movimento (ou regime) será dito permanente (ou estacionário).

No movimento variado (não estacionário), se as propriedades do


fluido em um determinado ponto variam com o tempo, esse movimento é
denominado não permanente (ou não estacionário).

O escoamento laminar é caracterizado pelo fato de a velocidade do


fluido em um ponto fixo qualquer não variar com o tempo, nem em módulo
nem em orientação.

O escoamento turbulento é caracterizado pelo fato de o campo


de velocidades das partículas do fluido mudar com o tempo de forma
aparentemente aleatória.

As principais grandezas que descrevem um fluido estão a seguir.

A tensão de cisalhamento (τ) é a razão entre a força (Ft) que tangencia


a superfície e a área A.

Ft

A

Para fluidos newtonianos em regime de escoamento laminar, a


constante de proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e a taxa de
deformação (dv/dy) é a viscosidade dinâmica (ou absoluta), µ.

dv

dy

em que v é a velocidade impressa pela força Ft e y é a altura da camada


de fluido.
162
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

O número de Reynolds (Re) é o parâmetro que permite determinar o


regime de escoamento.

  v L v L
Re  
 

em que

ρ é massa específica do fluido;

v é a velocidade média de escoamento do fluido;

L é um comprimento característico da geometria de escoamento;

µ é a viscosidade dinâmica do fluido; e

υ é a viscosidade cinemática do fluido.

A vazão volumétrica (Q) é razão entre o volume (∀) que passa por
uma seção reta e o intervalo de tempo de escoamento (t) do fluido:

volume 
Q 
tempo t

A vazão em massa (QM) é a razão entre a massa (m) e o tempo de


escoamento (t) do fluido:

massa m
=
QM =
tempo t

A vazão em peso (QG) é a vazão em peso que pode ser calculada por
meio da razão entre a força peso (G) que passa por uma seção reta e o
intervalo de tempo de escoamento (t) do fluido:

peso G
=
QG =
tempo t

Na equação da continuidade, em regime permanente, a vazão mássica


(QM) é conservada:

QM1 = QM2 ⇒ ρ1 . A1 . v1 = ρ2 . A2 . v2

163
Unidade I

em que:

ρ1 e r2 são as massas específicas do fluido nos pontos 1 e 2;

A1 e A2 são as áreas das seções transversais 1 e 2; e

v1 e v2 são as velocidades nos pontos 1 e 2.

Se o fluido em movimento for incompressível, a vazão volumétrica se


conservará:

A1 . v1 = A2 . v2 ⇒ Q1 = Q2

Para sistemas com diversas entradas e saídas, a soma das vazões em


massa na entrada é igual à soma das vazões em massa na saída:

 QM   QM
Entrada Saída

A mesma análise pode ser aplicada para um fluido incompressível:

 Q Q
Entrada Saída

A energia potencial (Ep) é a armazenada no sistema e está associada à


posição (z) em relação ao plano horizontal de referência.

Ep = m . g . z

em que m é a massa do fluido e g é a aceleração da gravidade local.


A energia cinética (Ec) é a associada ao movimento do fluido. Supondo
um sistema com massa m movendo‑se com velocidade v, a energia cinética
é dada por:

m  v2
EC 
2

A energia de pressão (Epr):

Epr   p  dV
V

em que p é a pressão e dV é o elemento de volume.


164
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A energia mecânica total (E):

m  v2
E  Ep  Ec  Epr  E  mg z    p  dV
2 V

Exercícios

Questão 1. Em um viscosímetro de Stokes, uma esfera de alumínio de 10mm de diâmetro é inserida em um


tubo que contém um fluido que se deseja conhecer a viscosidade. Quando em regime permanente, essa esfera
kg
percorre uma distância de 200mm em 2 segundos. Sabe‑se que a densidade do alumínio é 2, 7 ⋅103 e que
3
m
kg  3 kg 
a densidade do fluido dentro do tubo é 0, 9 ⋅103 3 . Outra esfera, feita de PTFE  d  2, 4 10 3  , de mesma
m  m 
dimensão que a de alumínio, é mergulhada no mesmo tubo. O tempo que essa esfera demora para
percorrer a distância de 200mm é:
2 2 t
Obs.: considere   r .g.  d  D  .
9 h
Sendo:

d = densidade da esfera

D = densidade do fluido (líquido)

r = raio da esfera

h = distância percorrida pela esfera dentro do tubo contendo o fluido

t = tempo necessário para percorrer h

η = coeficiente de viscosidade do fluido


m
g = aceleração da gravidade local = 10
s2
A) 2s.

B) 1,1s.

C) 3,1s.

165
Unidade I

D) 220s.

E) 0,4s.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

Para a esfera de alumínio, temos:

2 t
  r2 .g.  d  D  .
9 h

kg
d = 2, 7 ⋅103
m3

kg
D = 0, 9 ⋅103
m3

r = 5mm  5 103 m

h = 200mm = 0, 2m

t = 2s

η=?

m
g = 10
s2
2
 m
   kg 2s
2
   5 103 m 10 2  2, 7 103  0, 9 103 3 
9 s m 0, 2m

kg
 1
ms

Para a esfera de aço, temos:

kg 2
 m
   kg t
2
1   5 103 m 10 2  2, 4 103  0, 9 103 3 
ms 9 s m 0, 2m
t ≈11
,s

166
FLUIDOS E TERMODINÂMICA

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa apresenta o tempo que a esfera de alumínio leva para percorrer a distância.

B) Alternativa correta.

Justificativa: veja a solução.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: a alternativa a soma entre o tempo para a esfera de alumínio e para a esfera de PTFE.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: esse resultado é passível de ser encontrado caso o raio da esfera não seja elevado ao quadrado.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: não existe razão lógica para esse resultado.

Questão 2.

O coeficiente de arrasto de um disco com um escoamento normal a uma de suas faces é Cd = 1,17,
para valores do número de Reynolds maiores do que 1000.

Fonte: FOX, R. W., MCDONALD, A. T., PRITCHARD, P. Introduction to Fluid Mechanics. 6. ed.
New York: Willey International, 2004 (com adaptações).

Em um experimento, tem‑se água escoando normal à face de um disco. A força de arraste da água no
disco é de alguma forma determinada. Repete‑se o experimento com duas modificações, utiliza‑se ar como
fluido e altera‑se a velocidade do escoamento para garantir que nos dois experimentos o número de Reynolds
seja o mesmo e superior a 1.000. A força de arraste de ar no disco é, também, de alguma forma determinada.
Considere a água com ρ = 1000kg/m3 e µ = 0,001Pa.s e considere o ar com ρ = 1kg/m3 e µ = 0,00001Pa.s.

Com relação às forças que atuam nesse experimento, é correto afirmar que:

A) a força de arrasto será a mesma nos dois experimentos, pois o número de Reynolds e o coeficiente
de arrasto são os mesmos; e a força de empuxo será maior no experimento com água.

B) a força de arrasto será maior no experimento com água, no qual a velocidade do fluido é menor;
e a força de empuxo é maior no experimento com água.

C) a força de arrasto será maior no experimento com água, no qual a velocidade do fluido é menor;
e a força de empuxo será menor no experimento com água.

167
Unidade I

D) a força de arrasto será maior no experimento com água, no qual a velocidade do fluido é maior;
e a força de empuxo será maior no experimento com água.

E) a força de arrasto será menor no experimento com água, no qual a velocidade do fluido é maior;
e a força de empuxo será menor no experimento com água.

Obs.: use para determinara força de arrasto Fa e de sustentação Fs:

Cd    A  v2 C s    A  v2
Fa  Fs 
2 2

em que Cd é o coeficiente de arrasto, Cs o coeficiente de sustentação, ρ a massa específica, A a área


e v a velocidade.

Resolução desta questão na plataforma.

168

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