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Investigação em

Enfermagem de Reabilitação
um novo conhecimento para guiar a prática de cuidados

organizadores:

Bárbara Gomes; Maria do Carmo Rocha


Maria Manuela Martins; Maria Narcisa Gonçalves
Ficha técnica

título
Investigação em Enfermagem de Reabilitação:
um novo conhecimento para guiar a prática de cuidados

organizadores
Bárbara Gomes; Maria do Carmo Rocha; Maria Manuela Martins;
Maria Narcisa Gonçalves

edição
Escola Superior de Enfermagem do Porto
Rua Dr. António Bernardino de Almeida
4200-072 Porto

Design e paginação: GDIAP-ESEP


Ebook Design and Pagination by Francisco Vieira

isbn
978-989-98443-1-5

2014
investigação em enfermagem de reabilitação

Índice

> Apresentação  4


Bárbara Gomes

> Aprendizagem de capacidades na gestão do risco de infeção da


pessoa transplantada de progenitores hematopoiéticos  6
Maria Manuela Babo

> Qualidade e a enfermagem de reabilitação em


unidades de internamento  14
José Augusto Pereira Gomes; Maria Manuela Martins; Maria Narcisa da Costa Gonçalves

> Validação do questionário clínico para a doença pulmonar


obstrutiva crónica (CCQ) para a língua portuguesa  22
Liliana Silva

> Pesquisa em enfermagem de reabilitação:


apontamentos da realidade brasileira 36
Soraia Dornelles Schoeller, Maria Itayra Coelho de Souza Padilha,
Flávia Regina de Souza Ramos, Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva,
Maria Teresa Leopardi, Alacoque Lorenzini

> Doente submetido a amputação do membro inferior


– o enfermeiro de reabilitação no processo de transição  46
Virgínia Lucinda de Sousa Cruz Pereira

> Dados valorizados pelo Enfermeiro Especialista em


Enfermagem de Reabilitação para a prescrição de cinesiterapia
respiratória na pessoa com DPOC  54
Rui Pedro Marques da Silva; Olga Maria Freitas Simões de Oliveira Fernandes;
José Miguel dos Santos Castro Padilha

> Papel/ competências do Enfermeiro de Reabilitação em


Unidades de Cuidados Intensivos  64
José Alberto Teixeira Pires Pereira

> Contributo dos cuidados de enfermagem de reabilitação na


pessoa com dependência em contexto de
Cuidados de Saúde Primários  73
Fernando João Alves

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investigação em enfermagem de reabilitação

Apresentação
Bárbara Gomes
Escola Superior de Enfermagem do Porto (bgomes@esenf.pt)

O e-book que se apresenta é o resulta- específico e insubstituível para ganhos


do de uma trajetória académica de um em saúde na discussão da qualidade dos
conjunto de profissionais, que apos- cuidados de saúde, nomeadamente, de-
taram no desenvolvimento do conhe- terminar as diretivas e condições para
cimento ao frequentarem o curso de os serviços de enfermagem alcançarem
mestrado em enfermagem de reabili- os padrões da qualidade.
tação na Escola Superior de Enferma- Ao analisarmos os vários estudos apre-
gem do Porto. Nesta instituição onde sentados neste evento, deparamo-nos
se pretende aprender Enfermagem e a com a multiplicidade de áreas, de focos
construir Enfermagem, temos que in- de atenção no âmbito da enfermagem
dubitavelmente apostar na transferibi- de reabilitação: a família também como
lidade do conhecimento. Neste âmbito alvo de atenção, quando um dos seus
foi realizada a Conferência- “Investiga- elementos necessita de cuidados de en-
ção em Enfermagem de Reabilitação fermagem de reabilitação; a pessoa de-
- Um Novo Conhecimento para Guiar pendente quer no âmbito dos cuidados
a Prática de Cuidados”. Decorrente de saúde primários quer no meio hospi-
deste evento, e na prossecução da par- talar e a necessidade de promover a au-
tilha como meio essencial à difusão do tonomia/ independência possível nas
conhecimento, no sentido de promover atividades do autocuidado; a aprendiza-
melhores práticas, foram apresentados gem de capacidades na gestão do risco
vários trabalhos cujo enfoque é a enfer- de infeção da pessoa transplantada de
magem de reabilitação quer nos cuida- progenitores hematopoiéticos; a adap-
dos diferenciados quer nos cuidados de tação de instrumentos que permitam
saúde primários. monitorizar o estado de saúde (CCQ) e
A investigação é o motor impulsiona- bem-estar dos doentes com doença pul-
dor de qualquer profissão, pelo que é monar obstrutiva crónica; o enfermeiro
através desta via que os profissionais de reabilitação na transição do doente
de enfermagem na área de reabilitação submetido a amputação do membro; a
poderão demonstrar o seu contributo enfermagem de reabilitação no âmbito

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investigação em enfermagem de reabilitação

dos cuidados intensivos; dados valori- na prática clinica, pois tal estratégia
zados pelo Enfermeiro Especialista em contribui para uma prática baseada
Enfermagem de Reabilitação para a nas evidências científicas;
prescrição de cinesiterapia respiratória • Os resultados da investigação de-
na pessoa com DPOC. senvolvida, também enfocam a
No sentido de se alargar o olhar sobre intervenção dos enfermeiros de
esta área de enfermagem, do outro lado reabilitação na comunidade. Nes-
do oceano (Brasil) partilhou-se a expe- te contexto o cliente e família são
riência da investigação em enfermagem integrados no processo de decisão,
desenvolvida no âmbito da compreen- onde a negociação dos cuidados e
são/ respostas da pessoa portadora da a partilha de responsabilidades se
deficiência física. tornam realidades emergentes;
Podemos sublinhar em notas conclusi-
Resultados vas que os vários estudos identificam
vários aspetos alterados na condição de
Passando para uma leitura dos resulta- saúde da pessoa dependente no domi-
dos destas investigações aqui apresen- cílio, o que evidencia a necessidade de
tadas podemos retirar algumas conclu- profissionais especializados também na
sões, nomeadamente: comunidade.
• A prática dos enfermeiros de rea- Estamos conscientes que o caminho
bilitação é um contributo signifi- da construção científica da discipli-
cativo para potenciar a autonomia/ na de enfermagem é longo, pelo que
independência do utente; o caminho se faz caminhando…. Há
• É importante a diferenciação dos que criar/ consolidar sinergias entre a
seus conhecimentos e atributos téc- formação e o mundo do trabalho, para
nicos, que ajudam na definição de que se prossiga o caminho da melhoria
programas adequados à especifici- continua nas respostas às necessidades
dade de cada cliente. Equaciona-se das pessoas em cuidados de enferma-
a adequabilidade de estratégias, na gem. Há que prosseguir uma cultura
promoção do autocuidado e auto- investigativa que norteie uma prática
controlo, numa lógica de cuidados sustentada nas evidências científicas, e
centrados na pessoa e na família; também através da investigação conso-
• Emerge também dos resultados de lidar o contributo específico de enfer-
investigação, a necessidade de mo- magem nos ganhos em saúde!
nitorizar os cuidados na vertente Assim, na senda de um caminho já an-
estrutura, processo e resultados. teriormente iniciado a ESEP propõe-se
No âmbito dos resultados, a moni- partilhar o conhecimento através de
torização da situação clinica atra- mais um eBook. Na humildade dessa
vés de instrumentos fiáveis é uma partilha há o ensejo de construirmos
estratégia que deve ser incorporada mais e melhor enfermagem!

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investigação em enfermagem de reabilitação

Aprendizagem de capacidades na gestão do


risco de infeção da pessoa transplantada de
progenitores hematopoiéticos
Maria Manuela Babo
Serviço de Transplantação de Medula Óssea, Instituto Português de Oncologia do Porto
(babomanuela@gmail.com)

Resumo res que podem condicionar a aprendiza-


gem e devem ser tidos em conta aquan-
Este estudo, de natureza qualitativa, ex- do dos processos de informar e instruir.
ploratório e descritivo, visou entender Constatou-se a necessidade de mais
como decorreu a aprendizagem e desen- formação dos profissionais de modo a
volvimento de capacidades (AC), para a utilizarem todos a mesma linguagem e
gestão do risco de infeção pós transplan- a melhorarem os processos de instruir.
te, nos doentes transplantados de pro- Sugerem-se novas estratégias para par-
genitores hematopoiéticos (TPH). Da tilha de experiências, comunhão de res-
população transplantada nessa unidade, ponsabilidades de modo a aprimorar a
obteve-se uma amostra de 12 pessoas aprendizagem e sobretudo a capacitação
que aceitaram participar e reuniram os dos doentes e família. Foi nossa inten-
critérios de amostragem, colhendo-se os ção promover o conhecimento sobre a
dados por entrevista em dois momentos, AC para a gestão do risco de infeção en-
na unidade de transplante e posterior- quanto foco de atenção da prática de en-
mente no domicílio das pessoas, 15 dias fermagem, e por outro, contribuir para a
após a alta. Os resultados revelaram a melhoria da formação dos enfermeiros,
necessidade de acrescentar e desenvol- e, por consequência, melhorar a qualida-
ver alguns assuntos nos processos de in- de dos cuidados de enfermagem através
formar e de instruir nomeadamente so- da construção de um roteiro de aspetos
bre a alimentação, a toma da medicação a atender no desenvolvimento de capa-
e atividade social. Identificaram-se fato- cidades nestes doentes.

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investigação em enfermagem de reabilitação

Palavras-chave: enfermagem, trans- the knowledge about the learning of


plante de progenitores hematopoiéti- skills for the management of the risk
cos, aprendizagem de capacidades, ris- of infection, and on the other hand,
co de infeção. contribute to the improvement of the
training of nurses, and, consequently,
to improve the quality of nursing care
Abstract through a list of aspects to take into
account in the development of capabi-
This investigation, based on a study of lities in this kind of people.
a qualitative nature, aims to understand
how is the learning of skills, for the Keywords: nursing. transplant of he-
management of the risk of infection, matopoietic progenitors, learning of
in people with transplantation of he- skills, risk of infection
matopoietic progenitors. With an ex-
ploratory and descriptive feature, used
a sample of 12 people with THP, in the Introdução
service the transplant of hematopoie-
tic progenitors (STMO). The picking A TPH é um tipo de transplante de
of data was carried out by semi-struc- órgão indicado principalmente para o
tured interview from January to July tratamento de doenças que compro-
2011, STMO and domicile people, 15 metem o funcionamento da medula ós-
days after discharge. The analysis of sea (MO), como doenças hematológi-
content showed that the participants cas, onco-hematológicas, oncológicas,
had received information of care after imunodeficiências, doenças genéticas
discharge and had developed capabili- e hereditárias e em doenças autoimu-
ties for the management of the risk of nes. Pela sua indicação em várias pato-
infection. We realized however that the logias, modificou significativamente o
information about food, medication and prognóstico de algumas doenças que,
social activity, should be further deve- até alguns anos atrás, eram fatais, (Pas-
loped. There are factors that can affect quini, 2001).
the learning process and should be
taken into account during the proces- O transplante de PH inicia um con-
ses of inform and instruct. It was fou- junto de cuidados normalizados que
nd that should be given more training constituem suporte e complemento de
for professionals in order to use all the um longo processo terapêutico, desgas-
same language and improve the pro- tante para a pessoa do ponto de vista
cesses of instructing. There have been psicológico, debilitante do sistema
made suggestions of new dynamics for imunitário ocasionando a suscetibilida-
sharing of experiences, communion of de para a infeção. O conjunto de cui-
responsibilities to improve the lear- dados necessários para o sucesso des-
ning. It was our intention to promote te tratamento são muitos e devem ser
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investigação em enfermagem de reabilitação

cumpridos com a exigência necessária As complicações pós-transplante são


de modo a não colocar em risco todo o frequentes, ainda no internamento e
tratamento e a vida do doente (Brune, nos anos posteriores ao tratamento
EBMT, 2010). inicial. O acompanhamento rigoroso
permite que muitas dessas alterações
Esforços no sentido de diminuir o ris- sejam detetadas precocemente e trata-
co de infeção incluem normas rígidas das de forma adequada e eficaz (Tabak,
de controlo de infeção. As pessoas são 1991, Saboya, 1998 e Dulley, 2000).
hospitalizadas em unidades de isola-
mento em quarto com fluxo de ar la- A aprendizagem de capacidades ine-
minar, porque necessitam de um ar rentes à gestão do risco de infeção ca-
renovável e isento de microrganismos. racteriza-se pela aquisição de conheci-
As culturas de vigilância são essenciais mentos com significado para o próprio,
para detetar aquisição de germes resis- na aquisição do domínio de atividades
tentes e possibilitar ajustes na profi- práticas, associadas a treino, prática e
laxia com antibióticos. exercício.
O TPH pressupõe modificações de há-
Partimos para este estudo com o obje-
bitos alimentares, higiene, ambiente,
tivo de compreender os processos sub-
convívio social e medidas de isolamen-
jacentes ao desenvolvimento das suas
to, de forma a reduzir ao máximo as in-
capacidades para a gestão do risco da
feções (Lacerda et al, 2007). Pressupõe
infeção.
cuidados de uma equipe multidiscipli-
nar altamente treinada, com o objetivo Na defesa de princípios éticos inerentes
de reduzir o risco de infeções e de ou- ao processo de investigar garantimos
tras complicações. o respeito pelos princípios universais
Porém a recuperação das defesas do da ética, nomeadamente a confiden-
hospedeiro representa um dos fatores cialidade ao longo do nosso percurso
mais importantes para o sucesso do investigativo e durante todas as fases
tratamento das infeções. O investimen- do processo assim como informamos
to na informação e desenvolvimento os participantes da possibilidade de po-
de habilidades na pessoa também é derem suspender a sua colaboração no
fundamental para a gestão do risco da projeto a qualquer momento.
infeção, nomeadamente no período de
ambulatório, no regresso ao domicílio.
Metodologia
A alta hospitalar ocorre geralmente,
entre a quarta e sexta semana após A compreensão do objeto em estudo
a infusão do transplante, período de (aprendizagem de capacidades para
“pega” de medula, porém a recuperação gerir o risco de infeção pós TPH),
total é lenta e pode demorar de seis a orientou-nos para a utilização de um
doze meses.
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investigação em enfermagem de reabilitação

paradigma qualitativo, de caráter ex- Resultados


ploratório e descritivo e recurso a en-
trevista. O estudo foi realizado com Sobre os processos de informar (92%)
pessoas TPH, do STMO, o qual funcio- dos participantes receberam uma infor-
na no IPO Porto, no 11º piso do edifício mação geral sobre a necessidade de ter
A, de janeiro a julho de 2011, introdu- uma boa higiene pessoal, cuidados com
zindo-se dois momentos de colheita de a sua alimentação que deveria ser fres-
dados por entrevista, um antes da alta e ca e incidir sobre alimentos naturais. O
outro após a alta, na residência da pró- seu “ambiente” deveria estar cuidado
pria pessoa. Destes doentes obtivemos relativamente à limpeza, ter cuidado
12 participantes, com mais de 18 anos, com animais que deveriam estar des-
pós transplante, fase de planeamento parasitados e vacinados, e ainda com
de alta e que aceitassem participar no as plantas, cuja presença poderia cons-
estudo e responder a duas entrevistas. tituir um risco de infeção. Sabem que
devem lavar as mãos com frequência e
Para a análise de dados utilizamos a
que tem períodos, que não devem rece-
análise de conteúdo de acordo com a
ber muitas visitas. As crianças são um
técnica de análise teorizada por Lau-
foco de infeção, dado que desenvolvem
rence Bardin. Utilizamos a análise
viroses e portanto podem contaminar a
categorial, agrupando o discurso dos
pessoa transplantada.
participantes em categorias e unidades
de registo, segundo critérios e agrega- Da informação transmitida constam
dos de acordo com as semelhanças e di- as complicações decorrentes do trata-
ferenças encontradas, procedendo-se à mento. Todos os participantes (100%)
categorização em categorias temáticas sabem que pode surgir febre, tosse
emergentes. diarreia e hemorragia e infeções de
várias espécies. Foi interessante perce-
ber que as infeções do tipo, infeções da
boca, pulmões, CVC, ou até as diarreias
foram identificadas, não por todos, mas
Após a alta (...) 100% dos associadas aos participantes, que no de-
participantes tiveram correr do seu internamento tinha já ex-
de fazer alterações/ perienciado uma destas complicações.
mudanças no seu De forma geral existiram vários mo-
domicílio para diminuir os mentos de informação que decorreram
riscos de infeção (...) sob a forma de “folhetos informativos”
indicando as complicações possíveis,
sendo que na generalidade os parti-
cipantes disseram que a informação
sobre o risco de infeção foi efetuada

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investigação em enfermagem de reabilitação

imediatamente antes do transplante e No que concerne às capacidades desen-


antes da alta, sobretudo nestas duas fa- volvidas, (100%) consideraram terem
ses do internamento. sido capazes de dar resposta à situação.

Pelo discurso dos participantes e sobre Destes (83%) disseram que avaliaram a
os processos de instruir, (100%) refe- temperatura corporal à tarde e à noite,
rem-se às instruções em caso de infe- controlaram a temperatura e tomaram
ção, sobre como atuar, sendo que em os comprimidos de ben-u-ron®, (25%)
relação à higiene (50%) referiram terem referem ter usado a máscara para se
sido ensinados sobre os cuidados com protegerem no contato com outras
a higiene do ambiente, dos alimentos e pessoas, dado o medo de adquirir uma
pessoal, (42%) com a higiene pessoal e infeção. Ainda (100%) verbalizaram
(8%) com a lavagem das mãos. Em rela- terem sido informados sobre os cuida-
ção à alimentação (50%) referem-se aos dos após o transplante e sentiram ficar
cuidados com a alimentação, sua prepa- com alguma capacidade para cuidar de
ração, conservação e uso de alimentos si próprio e fazerem as suas próprias
frescos. Quanto ao ambiente (42%) refe- vigilâncias. No entanto (58%) verba-
riram-se ao risco de infeção decorrente lizaram sentir medo e insegurança e
do contato com os animais e plantas e nalgumas situações terem de contactar
(17%) do risco decorrente do contato com o serviço em busca de ajuda para
com crianças ou pessoas doentes. (25%) esclarecimento de dúvidas e redução da
referiram-se ao cuidado com a dose e ansiedade.
horário da toma da terapêutica medica-
mentosa. (83%) relataram as medidas Da análise das ocorrências verificadas
que implementaram na sua casa e nas após a alta, concluímos que (100%) dos
suas vidas de acordo com a interpre- participantes tiveram de fazer altera-
tação da informação e instrução trans- ções/mudanças no seu domicílio para
mitida pelos enfermeiros, ou seja (25%) diminuir os riscos de infeção inerentes
verbalizaram que tiveram outros cuida- ao tratamento efetuado, de acordo com
dos com a higiene pessoal, alimentação a instrução recebida.
e terapêutica, (17%) maior cuidado no
contato com os outros, (17%) mais cui- Em relação às complicações (58%) dos
dados com a boca, mãos e visitas, (17%) participantes apresentaram sintomas
cumpriram os cuidados, ficaram longe pós alta no domicílio, sendo a febre a
dos animais sem vida social, isolaram- mais prevalente (50%), pelo que 50%
se por completo. Consciencializaram-se decidiram recorrer a um profissional
que esses cuidados seriam essenciais de saúde médico e ou enfermeiro ten-
para evitar infeções e complicações, no do realizado meios complementares de
entanto consideraram que estes aspetos diagnóstico. Destes, (25%) ficaram in-
representaram mudanças significativas ternados durante uma semana.
nas suas vidas pessoais.

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investigação em enfermagem de reabilitação

Dados idênticos são corroborados por das suas necessidades e reorganização


outros estudos, designadamente as da sua vida familiar. A mudança de
alterações efetuadas no domicílio de “ambiente” foi sentido como uma di-
modo a manter um ambiente limpo, ficuldade na aplicação de “instruções”
higienizado, imunoprotetor. Nesta fase pensadas como saberes adquiridos Es-
pós-transplante imediato, os doentes tavam conscientes de que a presença
apresentam complicações, nomeada- do cuidador informal ou de referente
mente infeções, pelo que frequente- direto ajudaria nesta fase da sua vida,
mente têm de ser internados para rea- pelas limitações impostas pela recupe-
lizar terapêutica antimicrobiana por ração hematopoiética e que iria ajudar a
via endovenosa. Dados idênticos foram adaptar e a resolver as situações.
encontrados nos por Nucci e Maiolino,
(2000); Ortega et al, (2004); Brunstein Em relação à terapêutica, referem o
e Bittencourt, (2008); Chawia, (2009). medo de se enganar, pois a terapêuti-
As capacidades desenvolvidas são sem ca é muita. Referiram a importância e
dúvida um avanço para que possam de- o rigor no cumprimento das doses e do
cidir o que fazer. horário da terapêutica. A terapêutica
que as pessoas fazem nesta fase, além
A aprendizagem de capacidades está de ser variada, a dosagem é alterada
associada ao desenvolvimento de um com frequência, em virtude dos dosea-
conjunto de processos interativos: in- mentos dos fármacos que se fazem re-
formar, instruir, interpretar e treinar. gularmente, para não comprometer os
órgãos vitais.
Sobre os processos de instruir, os re-
sultados tornaram evidente que os Os resultados desta investigação favo-
participantes sentiram dificuldades na recem a ideia de que a aprendizagem
compreensão dos cuidados a ter para de capacidades decorre de um processo
a gestão do risco de infeção, nos cui- longo de interpretação da informação
dados com a preparação da alimenta- dada pelos profissionais aos doentes e
ção, com a medicação, com o ambiente do treino efetuado em colaboração com
e no cumprimento das regras. Apesar a família. Existem no entanto outros
de saberem da importância e rigor dos fatores que influenciam e condicionam
cuidados, a chegada a casa tornou a si- as aprendizagens e que precisam ser
tuação mais complicada. São referidas tomados em consideração neste pro-
dificuldades na adaptação aos cuidados cesso, nomeadamente a condição de
pelas suas particularidades e mudança saúde (força e potencial para apren-
de ambiente hospitalar para o ambiente der), a disposição para ouvir e treinar,
das suas casas onde os equipamentos e a idade da pessoa, o grau de instrução,
materiais são diferentes. O fato de não a motivação para ouvir e treinar, o pla-
terem o apoio da equipa e terem de no de informação, a linguagem usada
depender de outros para a satisfação pelos profissionais, a estrutura da in-

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investigação em enfermagem de reabilitação

formação. Os participantes atribuíram Bibliografia


especial significado à linguagem e à
disponibilidade dos enfermeiros neste Anders, C. et al. (2004). Crescer como
processo transplantado de medula óssea: reper-
cussões na QV de crianças e adolescen-
As pessoas submetidas a transplanta- tes. Revista Latino-Americana de Enfer-
ção de progenitores hematopoiéticos magem. Vol. 12 (2004), p. 866-874.
desenvolvem as suas capacidades, atra-
vés da informação e apoio que recebem APER (2010). Associação Portuguesa
dos profissionais, através da prática de dos Enfermeiros de Reabilitação – Con-
situações que simulem as capacidades tributos Para o Plano Nacional de Saúde
necessárias para a gestão do problema. 2011-2016. [Consult. 20 Abril 2011].
A família foi apontada como um recur-
so fundamental nestes processos como ASST (2010). Autoridade para os Serviços
uma forma de “lembrar” e certificar as de Sangue e da Transplantação – Relatório
informações recebidas. Estatístico. Lisboa: ASST.

Tornou-se evidente que a aprendiza- Bardin, L. (2004). Análise de conteúdo.


gem de capacidades para gestão do 3.ªEd. Lisboa: Edições 70.
risco de infeção, nem sempre ocorre da
melhor forma, pelo que se impõe uma Brune, W. (2010). Transplante de medula
mudança na preparação para a alta. óssea autogénico em crianças e adolescen-
Primeiro compreender os diferentes tes: informações para pacientes e familiares.
processos e intervenções: informar, 2010. Trabalho de conclusão do Curso
instruir, interpretar e treinar. de Enfermagem. Rio Grande do Sul:
Escola de Enfermagem da Universidade
Traçar roteiro standard para cada uma Federal do Rio Grande do Sul.
em função dos resultados a obter, com-
templando fatores identificados e que Brunstein, C.; Bittencourt, H. (2008).
condicionam o desenvolvimento das Transplante de células do tronco-he-
capacidades e a sua aquisição. matopoiéticas. In: Guimarães, J.; Rosa,
D. – Rotinas em oncologia. Porto Alegre:
A aplicação dos resultados deste estudo Artmed. p. 91-101.
visa a construção de um plano standard
de capacitação dos doentes transplan- Chawia, R. (2009). As infecções após trans-
tados para a gestão do risco de infeção plante de medula óssea [Em linha]. Recu-
através de um plano de atuação (tipo parado em 6 de Dezembro de 2009.
roteiro), escrito, e plano formativo para
o desenvolvimento profissional dos en- CIPE (2006). Classificação Internacional
fermeiros neste serviço. para a Prática de Enfermagem: Versão
1.0. Lisboa: OE.

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investigação em enfermagem de reabilitação

Dulley, F. (2000). Bussulfano e ciclo- nhecimentos e capacidades para uma eficaz


fosfamida como condicionamento para o resposta humana aos desafios de saúde.
transplante de medula óssea da anemia Porto: ICBAS - UP. Tese de Mestrado.
aplástica grave. São Paulo: Faculdade de
Pasquino, R. (2001). Fundamentos e
Medicina – Universidade de São Paulo.
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13
investigação em enfermagem de reabilitação

Qualidade e a enfermagem de reabilitação em


unidades de internamento
José Augusto Pereira Gomes1; Maria Manuela Martins2; Maria Narcisa da
Costa Gonçalves2
1
Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde (japgomes@gmail.com )
2
Escola Superior de Enfermagem do Porto

Resumo de medicina de um contexto hospitalar,


através de entrevistas semi-estrutura-
A avaliação da qualidade tem vindo a das. Os resultados que emergem das
ser uma preocupação crescente dos narrativas dos participantes permiti-
serviços de saúde, que ao longo dos ram criar uma proposta de instrumen-
últimos anos vem transferindo alguns to para avaliação da qualidade dos cui-
instrumentos, métodos e modelos de dados de enfermagem de reabilitação.
avaliação da qualidade utilizados na
indústria para a área da saúde. A en- Palavras-chave: qualidade dos cuidados
fermagem de reabilitação também ne- de saúde, enfermagem de reabilitação.
cessita de instrumentos que avaliem a
qualidade dos cuidados prestados, no-
meadamente em unidades de interna- Abstract
mento. Com este estudo, pretendeu-se
efetuar um percurso para identificar Assessment the quality has been a
fatores que contribuam para a qualida- growing concern of health services,
de dos cuidados de enfermagem de rea- which over the past years has been
bilitação em unidades de internamento transferring some models and methods
concebendo um caminho para a criação for evaluating the quality of the health
de um instrumento de avaliação da prá- industry. Nursing rehabilitation needs
tica de cuidados. O estudo é de natu- to integrate to assess the quality of
reza qualitativa realizada em serviços nursing care rehabilitation in inpatient

14
investigação em enfermagem de reabilitação

units. With this study, we sought to é referido, entre outras unidades de


make a journey to identify factors that competência, a necessidade de avaliar a
contribute to the quality of nursing qualidade dos cuidados de enfermagem
care rehabilitation inpatient units in nas vertentes de estrutura, processo e
designing a path for creating an assess- resultado.
ment tool for the practice of nursing
rehabilitation. The study is qualitative Considerando que os enfermeiros de
medical services performed in a hos- reabilitação têm competências técnicas
pital setting, through semi-structured e académicas para prestar cuidados de
interviews. enfermagem especializados a doentes
com incapacidades decorrentes de le-
The results that emerge from the nar- sões medulares, acidentes vasculares
ratives of the participants have creat- cerebrais, traumatismos crânio-encefá-
ed a draft instrument for assessing the licos, amputações, pessoas com doenças
quality of nursing care rehabilitation. crónicas e degenerativas, síndromes
incapacitantes em crianças, deficiências
Keywords: quality of health care, reha- cardíacas e respiratórias, assim como
bilitation nursing. em lesões físicas e desportivas (Faro,
2006), ficamos com uma visão de que,
quando olhamos para a enfermagem de
reabilitação, por um lado, encontramos
Introdução
uma casuística de patologias específicas,
mas também uma prática, que embora
Uma ciência como a enfermagem, não organizada de forma comum necessita
se pode afirmar nem desenvolver-se de conhecimentos sustentados por uma
na sociedade atual sem um corpo de prática baseada na evidência.
conhecimentos próprio. O percurso da
profissão até hoje coloca os enfermeiros É neste cenário que sentimos a neces-
numa posição privilegiada para respon- sidade de conceber um caminho para a
der a alguns dos imensos desafios que criação de um instrumento de avaliação
as tendências do Sistema de Saúde per- do trabalho realizado pelos enfermeiros
mitem vislumbrar para amanhã (Vieira, de reabilitação em unidades de interna-
2007), de entre os quais, clarificar a na- mento de Medicina que garanta a quali-
tureza dos cuidados evidenciando atri- dade de assistência na área da enferma-
butos da qualidade dos mesmos. gem de reabilitação.

A imprescindibilidade deste tema é ain- A problemática da avaliação da qualida-


da justificada pelas competências do de na enfermagem de reabilitação pode-
enfermeiro especialista, nomeadamente rá obter dividendos para o desenvolvi-
do enfermeiro especialista em enferma- mento da prática através da evidência
gem de reabilitação, descritas no âmbi- científica e com isto melhorar a prática
to do Regulamento nº 122/2011, onde do cuidado.

15
investigação em enfermagem de reabilitação

Apesar da controvérsia existente no Resultados


meio científico acerca do melhor mo-
delo para a avaliação da qualidade, o Os resultados que emergem das nar-
quadro conceptual mais popular e utili- rativas dos participantes traduzem-se
zado para a avaliação da qualidade dos por um conjunto de atributos, a que
serviços de saúde continua a ser o mo- poderíamos denominar, tal como Do-
delo apresentado por Donabedian, este nabedian (2003), de componentes da
autor conceptualiza a qualidade como qualidade dos cuidados de enfermagem
“uma propriedade da atenção médica de reabilitação em serviços de medici-
que pode ser obtida em diversos graus na. Estes atributos aparecem agrega-
ou níveis” (Mezomo, 2001, p. 73). A dos tal como na literatura consultada,
qualidade não é um atributo abstracto, conjugando uma tríade de elementos
mas algo com atributos comuns que as- sendo eles a Estrutura, o Processo e o
senta em pilares de eficácia, efetividade, Resultado.
eficiência, optimização, aceitabilidade,
legitimidade e equidade (Maia, 2011). A estrutura poderia ser o principal de-
terminante da qualidade dos cuidados,
Face a esta análise ficamos sensíveis há mas conforme refere Cardoso (2002,
existência de vários modelos, mas, en- p.33) a “existência de boas condições
tendemos que o modelo de Donabedian estruturais, só por si, não garante um
(2003) é o caminho que melhor nos nível elevado de qualidade de cuidados
pode ajudar a analisar o problema. ou serviços, muito embora se possa
considerar como condição necessária”.
O trabalho de campo desenvolvido é de Logo, as variações nas características
natureza qualitativa, para o qual foram da estrutura do sistema, a menos que
realizadas entrevistas a 12 enfermeiros sejam grandes, podem não ser signifi-
especialistas em enfermagem de reabi- cativas sobre a qualidade. Indo ao en-
litação, selecionados de modo intencio- contro do que nos refere este entrevis-
nal e com idades compreendidas entre tado, “As instalações são importantes
os 27 e os 47 anos, sendo a média de mas não são o fundamental” E11 (Go-
idades de 33 anos. mes, 2011, p.130).

Quanto aos participantes, foi obtido o Contrariamente à estrutura, as carac-


consentimento informado e a sua par- terísticas detalhadas do processo de
ticipação foi voluntária, tendo-se res- cuidados de saúde podem fornecer in-
peitado os princípios éticos inerentes formações valiosas sobre a qualidade,
àinvestigação. À Direção da instituição no mesmo sentido do que refere Do-
onde o estudo foi efectuado foi obtida nabedian (2003), quando afirma que
a autorização prévia para a sua reali- a “Qualidade dos cuidados” pode ser
zação. vista no sentido da “Qualidade dos pro-
cessos de cuidados”. Mas, esses atribu-

16
investigação em enfermagem de reabilitação

tos derivam também de uma relação deste percurso ousamos construir um


previamente estabelecida, entre o pro- instrumento de Avaliação da Qualida-
cesso e o resultado. Ou seja, dizemos de da Enfermagem de Reabilitação em
que tais características do processo Unidades de Internamento (IAQERUI).
significam qualidade, porque sabemos
que elas contribuem para os resultados Este instrumento tem uma concepção
desejáveis. Os processos de cuidados quantitativa, exigindo para a sua va-
relacionam-se mais diretamente com lidação um elevado número de indiví-
os resultados, do que propriamente as duos. Dado que, existe uma grande di-
características da estrutura (Donabe- versidade de aspectos a incorporar no
dian, 2003). Alguns autores expressam instrumento, a sua concepção não seria
a existência de contradições entre in- possível sem uma prévia análise quali-
dicadores de processo e de resultados, tativa da problemática em estudo.
uma vez que para alguns, os indicado-
res de processo perdem sentido se a sua O IAQERUI é constituído por 133
qualidade não se refletir no resultado, questões, distribuídas da seguinte for-
enquanto outros argumentam que os ma: 56 para a Estrutura; 57 para o
resultados dependem de factores indi- Processo; e 20 para o resultado. Este
viduais dos pacientes e nada têm a ver
com a qualidade do processo (Paneque,
2004).
Apesar da controvérsia
Por fim, o resultado que apesar de ser
descrito como o último das componen-
associada à avaliação
tes da avaliação da qualidade consis- dos resultados, dado
te no primeiro passo de uma série de que, o que mais importa
atividades, ao longo do qual é possível é o efeito do tratamento
fazer correções, até ao processo que sobre a saúde do cliente,
conduziu aos resultados não desejados
(Silva et. al., 2004). Apesar da contro-
deve ser lembrado que os
vérsia associada à avaliação dos resul- resultados podem não ser
tados, dado que, o que mais importa é só definidos e atribuíveis
o efeito do tratamento sobre a saúde do aos cuidados, podem
cliente, deve ser lembrado que os re- intervir outras variáveis,
sultados podem não ser só definidos e
atribuíveis aos cuidados, podem inter-
daí a necessidade de
vir outras variáveis, daí a necessidade incluir todos os “inputs”
de incluir todos os “inputs” para o re- para o resultado final
sultado final (Donabedian, 2003). (Donabedian, 2003).
Cientes da pertinência da construção
deste caminho, e decorrente dos achados
17
investigação em enfermagem de reabilitação

instrumento tem subjacente o modelo • Enfermeiros: enfermeiros de reabi-


de Donabedian (2003) e os achados das litação; enfermeiros generalistas.
narrativas dos entrevistados desdobra- • Médicos: indiferenciação da especia-
dos em categorias e sub-categorias. lidade; fisiatras; neurologistas; médi-
co assistente/internista.
No âmbito dos contributos da estrutura
• Técnicos de saúde: fisioterapeutas;
para a melhoria dos cuidados de enfer-
terapeutas da fala; terapeutas ocupa-
magem de reabilitação, foram utilizados
cionais; assistentes sociais; nutricio-
para a construção do IAQERUI os atri-
nistas; dietistas.
butos visíveis nas narrativas dos parti-
cipantes, representadas por: • Assistentes Operacionais.

• Espaço físico: quarto do doente; • Tipos de formação: formação em


WC; espaços para cuidados de rea- serviço; formação continua.
bilitação. • Processos de formação: diagnosti-
• Ambiente de trabalho: ruídos; are- co; planeamento; integração; orien-
jamento. tação de alunos.
• Atualização de equipamentos: ca- • Investigação: ausência de processos
mas; cadeira; ajudas técnicas. de pesquisa; necessidades de investi-
• Equipamento imprescindível: talas gação; sensibilização para a investi-
de Margareth; almofadas; banhei- gação.
ras; elevadores de sanita; cadeiras;
cadeirões; material de estimulação • Protocolos de atuação: ausência de
cognitiva; pedaleiras; canadianas, protocolos; protocolos de deglutição;
andarilhos e tripés; barras paralelas, protocolos para cateteres centrais;
tapetes e escadas; espelhos; bolas e protocolos de levante; protocolos
molas; sacos de areia; tábuas e cintos para a continuação de cuidados; ela-
de transferência; ortóteses; camas boração de protocolos.
elétricas. A nível de processo da avaliação da qua-
• Necessidades de improviso de lidade, foi visível no discurso dos par-
meios técnicos: meios técnicos para ticipantes do estudo o aparecimento de
a marcha; meios técnicos de motrici- atributos relevantes sobre o processo de
dade; cinesioterapia; estimulação cog- desenvolvimento dos cuidados de enfer-
nitiva. magem de reabilitação:
• Dotação de enfermeiros de rea- • Colheita de dados: atividade motora;
bilitação: distribuição por camas; atividade respiratória; família e edifí-
distribuição por turno; distribuição cio residencial; exame neurológico.
por espaços; distribuição pelo tempo
necessário de cuidados; valores míni- • Documentação da avaliação ini-
mos; escassez de recursos; recursos cial: documentos experimentais;
adequados. princípios de avaliação.

18
investigação em enfermagem de reabilitação

• Estabelecimento de prioridades: • Resultados no doente: frequência;


grande dependência; sem critérios uso de instrumentos ou escalas; ava-
objectivos. liações subjetivas.
• Plano assistencial: sem plano de Quanto ao tema resultado sobressaíram
assistência; plano expresso. dos discursos dos participantes atribu-
• Alimentação: pesquisa de reflexo tos sobre como os enfermeiros de rea-
de deglutição; treino da alimentação. bilitação avaliam os resultados das suas
práticas:
• Eliminação: vesical; intestinal.
• Auditorias: externas; existência de
• Mobilidade: levante; posicionamen- auditorias; ausência de auditorias,
tos; mobilização; treino de equilíbrio.
• Escalas variadas: sensibilização
• Promoção da autonomia: autono- para a utilização de escalas; London
mia no autocuidado; motivar para a Chest Activity; escala de Barthel;
reabilitação. Mini Mental State; escala de Cou-
• Cinesioterapia respiratória: ensi- ncil; Escala de Ashworth; escala
no dos tempos respiratórios; limpe- ASIA; escala SF; Escala de Berg; ín-
za das vias aéreas; exercícios especí- dice de Katz; índice Lawton; Escala
ficos; ausência de cinesioterapia. de Glasgow; analógica da dor; MIF;
escala de Morse; escala de Bora mo-
• Prevenção de riscos: lesões da pele; dificada.
quedas; ergonomia do cuidar.
• Ganhos em saúde: ganhos em au-
• Interação com a família: capacitar tonomia no autocuidado; ganhos em
os cuidadores; reorganizar a família; eficácia funcional; ganhos em qua-
suporte á vivencia da crise; estraté- lidade de vida; ganhos em conheci-
gia de ensino junto das famílias. mento.
• Promoção da interação social: • Satisfação do doente e família:
avaliação das relações; estratégias percepção subjetiva; expressão ob-
de interação social. jectiva dos doentes; necessidade de
• Rede de suporte: edifício residen- medição da satisfação.
cial; rede de cuidados continuados; • Avaliação de desempenho: dificul-
centro de saúde. dade em avaliar o desempenho do
• Processos de gestão: planeamen- enfermeiro de reabilitação; auto-a-
to da formação em serviço; gestão valiação, avaliação para a melhoria
corrente; coordenação de equipe de do desempenho; supervisão do de-
cuidados. sempenho.

• Continuidade de cuidados: in A escala utilizada no instrumento IA-


loco; passagem de turno; registos; QERUI para avaliar as respostas do
ausência de continuidade. participante é uma escala do tipo Liket,

19
investigação em enfermagem de reabilitação

com cinco níveis de resposta consoan- Faro, A. C. M. (2006). Enfermagem em


te o nível de concordância com a afir- Reabilitação ampliando os horizontes,
mação, nomeadamente: totalmente em legitimando o saber. Rev Esc Enferm
desacordo; em desacordo; indeciso; de USP. 40:1. 128-133. [Consult. em 13-
acordo; e totalmente de acordo. 12-2010]. Disponível em http://www.
scielo.br/pdf/reeusp/v40n1/a18v40n1.pdf
Conclusões Gomes, J. A. P. (2011). Percurso para a
avaliação da qualidade em unidades de
Tendo em conta que não foi possível internamento: resposta para a reabilitação.
testar o IAQERUI, deixamos em aber- Porto: Escola Superior de Enfermagem
to a possibilidade de em investigações do Porto. Tese de Mestrado.
futuras o aprimorar e testar, assim
como, lançamos o desafio a outros in- Maia, C. S. [et. al.] (2011). Percepções
vestigadores para darem continuidade sobre qualidade de serviços que aten-
á validação deste instrumento. dem à saúde da mulher. Ciência & Saú-
de Coletiva. 16:5. 2567-2574. [Consult.
A enfermagem de reabilitação deve em 08-08-2011]. Disponível em http://
avaliar a qualidade dos cuidados de en- www.scielo.br/pdf/csc/v16n5/a27v16n5.
fermagem nas vertentes de Estrutura, pdf
Processo e Resultado (Regulamento Mezomo, J. C. (2001). Gestão da qualida-
nº122/2011). Ou seja, implementando de na saúde: princípios básicos. 1ª ed. São
programas de melhoria continua, pla- Paulo: Editora Manole.
neados em função da estrutura para a
prestação de cuidados de reabilitação, Paneque, R. E. J. (2004). Indicadores de
executados no sentido da melhoria calidad y eficiencia de los serviçios hos-
do processo de reabilitação, avaliados, pitalarios: una mirada actual. Rev Cuba-
olhando para os resultados, e atuar, re- na Salud Publica. 30:1.17-36. [Consult.
formulando os dados anteriores. em 05-04-2010]. Disponível em http://
www.santacruz.gov.ar/planes/concursos/
JIMENEZ%20PANEQUE%20%20Indica-
Bibliografia dores%20de%20calidad.pdf

Cardoso, F. M. (2002). Avaliação da qua- Regulamento nº 122/2011. D.R. II Sé-


lidade dos serviços de urgência: satisfação rie. 35 (2011-02-18) 8648-8653.
dos utentes. Porto: Instituto de ciências
Silva, A. Varanda, J. Nóbrega, S. D.
Biomédicas Abel Salazar. Tese de Mes-
(2004). Alquimia da qualidade na gestão
trado.
dos hospitais. 1ª ed. Cascais: Principia.
Donabedian, A. (2003). An introduction Vieira, M. (2007). Ser enfermeiro: da
to quality assurance in health care. New compaixão à proficiência. Lisboa: Univer-
York: Oxford University Press. sidade Católica Editora.

20
investigação em enfermagem de reabilitação

A enfermagem de reabilitação deve avaliar a


qualidade dos cuidados de enfermagem nas vertentes
de Estrutura, Processo e Resultado (Regulamento
nº122/2011). Ou seja, implementando programas de
melhoria continua, planeados em função da estrutura
para a prestação de cuidados de reabilitação,
executados no sentido da melhoria do processo de
reabilitação, avaliados, olhando para os resultados, e
atuar, reformulando os dados anteriores.

21
investigação em enfermagem de reabilitação

Validação do questionário clínico para a


doença pulmonar obstrutiva crónica (CCQ)
para a língua portuguesa
Liliana Silva
ULS Matosinhos – UCC Matosinhos (enf.lilianasilva@gmail.com)

se concentrarem exclusivamente no
Resumo estado das vias aéreas e a tornarem-se
mais conscientes das necessidades fun-
Para efeitos de investigação, a utiliza- cionais das pessoas.
ção de questionários extensos é útil no
sentido em que dá ao investigador mui- Objetivo: O objetivo do presente estu-
ta informação válida. Recentemente, do é a validação do CCQ (Molen, 1999)
diretrizes emanadas pela GOLD iden- para a língua portuguesa na doença
tificaram que os objetivos do tratamen- pulmonar obstrutiva crónica e o seu
to de pessoas com doença pulmonar cruzamento com um instrumento já
obstrutiva crónica são não só questões validado e frequentemente utilizado na
relacionadas com a qualidade de vida, prática dos profissionais de saúde nos
mas também melhoria da tolerância ao cuidados à pessoa com doença pulmo-
exercício e minimização de sintomas. O nar obstrutiva crónica em Portugal.
CCQ (Molen, 1999) é o primeiro ins-
trumento clínico prático para ser usado Método: O presente estudo é do tipo
para a avaliação de rotina do controle metodológico, com uma abordagem
clínico (estado funcional, sintoma e quantitativa. A amostra deste estudo
estado mental), relativa a pessoas com é constituída por 58 pessoas a quem
doença pulmonar obstrutiva crónica. foi diagnosticado doença pulmonar
Foi também construído com o objetivo obstrutiva crónica e que respeitaram
de ser um instrumento de incentivo aos os seguintes critérios de inclusão: 1)
profissionais de saúde, com vista a não Condição estável, sem exacerbações

22
investigação em enfermagem de reabilitação

ou infeções nos últimos 3 meses; 2) au- celente reprodutibilidade (ICC=0,90).


sência de cardiopatia grave ou instável;
3) ausência de outras condições pato- Conclusões: Os resultados deste estu-
lógicas que possam influenciar no de- do indicaram que a versão portuguesa
sempenho das atividades de vida diária do CCQ (Molen, 1999) fornece índices
(como doenças cerebrovasculares, or- metrológicos aceitáveis e pode ser uti-
topédicas ou reumáticas). Os critérios lizada na população portuguesa como a
de exclusão foram: 1) ocorrência de escala de origem.
exacerbação aguda durante o período
das avaliações; 2) não compreensão ou Palavras-chave: CCQ; DPOC; Enfer-
não colaboração com relação aos ques- magem de Reabilitação; LCADL.
tionários. A amostra deste estudo foi
não probabilística por escolha racional.
Foi utilizada neste estudo a escala Lon- Abstract
don Chest Activity of Daily Living
(LCADL (Garrod, 2000)) e o Ques- For research purposes, the use of ex-
tionário Clínico para a DPOC (CCQ tensive surveys is useful once they pro-
(Molen, 1999)). A um grupo aleatório vide very useful information to the re-
de 20 participantes voltou-se a entrar searcher. Recently, guidelines issued by
em contacto após 15 dias para efetuar GOLD found that the goals of treating
o reteste do instrumento. Neste estudo, people with COPD are not only rela-
foram respeitados os princípios do con- ted with the quality of life, but also the
sentimento livre e esclarecido. improvement of exercise tolerance and
minimization of symptoms.
Resultados: Existe uma correlação for-
te positiva bastante significativa entre The CCQ (Molen, 1999) is the first
o score total do CCQ (Molen, 1999) e o practical clinical instrument to be used
score total da LCADL (Garrod, 2000) for routine assessment of clinical con-
(r=0,602; N=58; p=0,0001). Tendo trol (functional status, symptoms and
em conta o número reduzido de itens, mental status) on people with COPD. It
considera-se o resultado como uma was also built with the goal of being a
consistência interna aceitável (α de tool to encourage health professionals
Cronbach=0,7). O resultado foi IVC=1, not to focus exclusively on the state of
considerando-se um índice de valida- the airways and become more aware of
de aceitável. Não existem diferenças the functional needs of people.
significativas entre os resultados da
aplicação do CCQ (Molen, 1999) num Purpose: The aim of this study is the
momento e uma segunda avaliação validation of the CCQ (Molen, 1999)
passados 15 dias aos mesmos pessoas into Portuguese in chronic obstructive
(Z=-1,000; p=0,317). O Coeficiente In- pulmonary disease and its intersection
tra Classe apresentado sugere uma ex- with an instrument already validated

23
investigação em enfermagem de reabilitação

and often used by health professionals an acceptable internal consistency (α


in health care of people with COPD in de Cronbach=0,7). The result of con-
Portugal. tent validity index was 1, considered
an acceptable validity rate. There are
Method: The current study if a me- no significant differences between the
thodological study with a quantitative results of CCQ (Molen, 1999) applica-
approach. The sample of this study tion at a time and a second evaluation
consists of 58 persons who have been after 15 days to the same people (Z=-
diagnosed with COPD and that have sa- 1,000; p=0,317). The presented Intra
tisfied the following inclusion criteria: Class Coefficient suggests an excellent
1) condition stable with no exacerba- reproducibility (ICC=0,90).
tions or infections in the last 3 months;
2) absence of severe or unstable heart Conclusions: The results of this study
disease; 3) absence of other patholo- indicated that the Portuguese version
gical conditions that can impact the of the CCQ (Molen, 1999) provides ac-
performance of daily activities (such ceptable metrological indexes and can
as cerebrovascular diseases, orthopedic be used in the Portuguese population
or rheumatic). Exclusion criteria were: as original scale.
1) the occurrence of acute exacerba-
tion during the evaluation period; 2) Keywords: CCQ; COPD; Rehabilitation
not understanding or not cooperating Nursing; LCADL.
with the questionnaires. The sample of
this study was non-probabilistic by ra-
tional choice. In this study it was used Introdução - DPOC como
the London Chest Activity of Daily doença crónica
Living (LCADL (Garrod, 2000)) scale
and the Clinic COPD Questionnaire As doenças crónicas constituem a
(Molen, 1999). In a random group of maior causa de morte e de invalidez
20 participants the contact was retur- a nível mundial. A sua incidência tem
ned after 15 days in order to retest the vindo a aumentar desde o início do sé-
instrument. This study adhered to the culo XX. A sua prevalência já ultrapas-
principles of informed and free con- sou, em muito, a doença aguda como
sent. principal causa de morbilidade e mor-
talidade nos países ocidentais.
Results: There is a strong positive
and significant correlation between A OMS (2000) indica que, nos países
the CCQ (Molen, 1999) total score desenvolvidos, cerca de metade da pro-
and the LCADL (Garrod, 2000) to- cura dos cuidados de saúde está rela-
tal score (r=0,602; N=58; p=0,0001). cionada com condições crónicas. Esta
Taking into account the small number organização perspetiva que, em 2020,
of items, the result is considered as essas condições contribuirão em mais

24
investigação em enfermagem de reabilitação

de 60% para a carga global das doen- DPOC é de 14,2%, chegando este valor
ças. (Louro, 2009). a 18,7% na população do sexo mascu-
lino e a 10,5 na de sexo feminino. Nos
A doença pulmonar obstrutiva crónica
fumadores ativos, a prevalência atinge
é uma das principais causas de morbi-
os 17,9%. Estes dados foram descritos
lidade crónica em todo o mundo, com
recentemente num estudo realizado na
consequente perda da qualidade de
população portuguesa, num universo
vida, sendo previsível que constitua
de 2.700.000 habitantes e vieram con-
uma das principais causas de morte
firmar que a DPOC se encontra em
nas próximas décadas. Esta doença é
crescimento e subdiagnosticada em
responsável pela elevada frequência
Portugal.
de consultas médicas e de episódios de
recurso ao serviço de urgência, assim É, portanto, uma doença em crescimen-
como, por elevado número de interna- to no nosso país e, segundo o relatório
mentos, por vezes prolongados. (Leite, de 2009 do Observatório Nacional das
2012). Doenças Respiratórias, a segunda cau-
sa de internamento por doença respi-
A GOLD define DPOC como uma ratória em Portugal. Os dados do Ins-
doença prevenível e tratável com uma tituto Nacional de Estatística colocam
componente extrapulmonar, que con- a DPOC como a 5ª causa de morte por
tribui para a gravidade da doença. É doença em Portugal depois das doen-
uma das principais causas de morbili- ças cardio-cerebro-vasculares, diabetes,
dade crónica e mortalidade em todo o pneumonias e cancro do pulmão. (Cor-
mundo (GOLD, 2011) deiro e Menoita, 2012).
É uma doença respiratória crónica com
grande impacto no mundo, que segun-
do a ODNR (2009) tem uma prevalên-
cia de 63,6 milhões de pessoas a nível
mundial, 11,3 milhões deles na Europa, Em Portugal, em adultos
responsável por 3 milhões de mortes com idade acima de
anuais no mundo, sendo a 4ª causa de
morte, responsável por 5,36% dos óbi-
40 anos, a prevalência
tos. A Organização Mundial de Saúde da DPOC é de 14,2%,
(OMS) reconhece a DPOC como a úni- chegando este valor a
ca doença crónica com tendência a au- 18,7% na população do
mentar, pelo menos até 2020. De acor- sexo masculino e a 10,5%
do com a GOLD, até essa data a doença
pulmonar obstrutiva crónica será a ter-
na de sexo feminino.
ceira maior causa de morte no mundo.
Em Portugal, em adultos com ida-
de acima de 40 anos, a prevalência da
25
investigação em enfermagem de reabilitação

A DPOC é uma doença respiratória e deve abranger medidas preventivas


que evolui por exacerbações, que se e terapêuticas. A pessoa deve ser en-
caracterizam pelo agravamento dos sinada e responsabilizada pela gestão
sintomas e podem resultar em declínio da sua doença. Deve ser incluído num
da função pulmonar e aumento da fra- programa de reabilitação respiratória
queza muscular, sendo que a frequên- uma componente de educação para a
cia destas exacerbações aumenta com a saúde onde seja explicado à pessoa com
gravidade da doença. Neste sentido, a DPOC o que é a doença, como evolui
ação de Enfermagem varia, de acordo e como a pessoa pode gerir a sintoma-
com Orem, entre o agir ou fazer para tologia. É fundamental falar acerca da
outra pessoa quando se dão as exacer- importância do exercício físico, uma
bações da DPOC, levando a pessoa a vez que a tendência da pessoa com
uma grande situação de dependência, DPOC é descuidar a atividade física
orientar e ensinar numa fase mais está- devido à dispneia associada. A evicção
vel da doença, em programas de reabi- tabágica e a nutrição são aspetos im-
litação, possibilitando à pessoa o saber portantes que o Enfermeiro Especia-
gerir os seus sintomas da melhor for- lista em Reabilitação não deve também
ma, evitando assim recursos desneces- descuidar num programa de Reabilita-
sários aos serviços de urgência. ção Respiratória.

Cuidados de Enfermagem de A reeducação funcional respiratória diri-


Reabilitação ao doente do foro gida às pessoas com DPOC tem como ob-
respiratório jetivo facilitar a eliminação das secreções,
contribuindo para a desobstrução brôn-
A pessoa com DPOC, dependendo da quica, diminuindo as suas repercussões
evolução da sua sintomatologia, po- funcionais, nomeadamente os defeitos ven-
derá estar perante um défice do auto- tilatórios, bem como a interrupção do ciclo
cuidado, o qual se pode definir como vicioso: retenção de secreções, infeção secun-
a relação entre as propriedades humanas dária, agudizações, deterioração progres-
de necessidade de autocuidado terapêutico siva que acaba por conduzir ao enfizema
e a atividade de autocuidado na qual as pulmonar, cor pulmonale e insuficiência
capacidades de autocuidado constituintes respiratória. (Heitor et al 1988 p.82 cit.
desenvolvidas dentro da atividade de au- por Cordeiro e Menoita, 2012).
tocuidado não são operáveis ou adequadas
ao conhecimento e preenchimento de alguns Os componentes clássicos da reeduca-
ou todos os componentes da necessidade de ção funcional respiratória da pessoa com
autocuidado terapêutico existente ou proje- DPOC são os exercícios respiratórios
tada (Taylor, 2004, p.216). de âmbito geral, o treino dos músculos
respiratórios, dos membros superiores e
A educação é fundamental para um inferiores e as técnicas de conservação
processo de reabilitação respiratória de energia. (Cordeiro e Menoita, 2012).
26
investigação em enfermagem de reabilitação

Os cuidados de Enfermagem ao doen- alterações funcionais que seriam o mais


te do foro respiratório variam desde importante para pessoas com DPOC.
a prevenção, o tratamento e a reabili- (Molen et al, 2003). Mais recentemen-
tação. O Enfermeiro Especialista em te, diretrizes emanadas pela GOLD
Reabilitação assume um papel funda- identificaram que os objetivos do trata-
mental neste tipo de cuidados. É im- mento de pessoas com DPOC são, não
portante que os cuidados de Enferma- só questões relacionadas com a quali-
gem sejam monitorizados e avaliados dade de vida, mas também melhoria da
quer para atualização do processo de tolerância ao exercício e minimização
Enfermagem como para fins de investi- de sintomas.
gação científica e consequente evolução
da ciência. Assim, torna-se pertinente o desen-
volvimento de um instrumento para
a prática clínica. O questionário clí-
Metodologia nico da DPOC (Molen, 1999) surgiu
a partir da prática clínica rotineira de
Para efeitos de investigação a utilização profissionais de saúde ligados à pessoa
de questionários extensos é útil no sen- com DPOC, onde foi reconhecido que
tido em que dá ao investigador muita os profissionais de saúde necessitam
informação válida. Muitos questioná- de uma ferramenta simples que os irá
rios deste tipo têm vindo a ser valida- ajudar não apenas a identificar o esta-
dos para diferentes línguas e culturas do clínico das vias aéreas, mas também
com o objetivo, entre outros, de serem limitação à atividade e disfunção emo-
utilizados em ensaios clínicos. Não cional na pessoa.
obstante, na prática clínica torna-se di-
fícil a gestão de tempo quando se visa O questionário clínico de DPOC (Mo-
a utilização de questionários extensos len, 1999) é o primeiro instrumento
para a monitorização da evolução clí- clínico prático para ser usado para a
nica da pessoa. Assim, são necessários avaliação de rotina do controle clíni-
questionários mais pequenos, fáceis de co (estado funcional, sintoma e estado
aplicar e que não requeiram profissio- mental), relativa a pessoas com DPOC.
nais experientes para o fazer, uma vez Foi também construído com o objeti-
que Enfermeiros e outros profissionais vo de ser um instrumento de incenti-
de saúde não têm frequentemente ex- vo aos profissionais de saúde de não se
periência em investigação. concentrarem exclusivamente no esta-
do das vias aéreas e tornarem-se mais
A maioria dos questionários existentes conscientes das necessidades funcio-
na área das doenças respiratórias, no- nais das pessoas. Na prática do Enfer-
meadamente na DPOC, tendem a inci- meiro Especialista em Reabilitação este
dir sobre a área da qualidade de vida, instrumento poderá ser uma mais-valia
com o objetivo de monitorizar e tratar no sentido em que permite ao Enfer-
27
investigação em enfermagem de reabilitação

meiro estabelecer prioridades no seu A amostra deste estudo foi não pro-
plano de cuidados de acordo com as babilística por escolha racional. Para
necessidades e dificuldades identifica- a obtenção da amostra foi solicitada a
das da pessoa com DPOC. Ou seja, se colaboração dos médicos de família e de
uma pessoa responde ao questionário pneumologistas de uma Unidade Local
e apresenta um score baixo no domí- de Saúde, após aprovação do estudo
nio dos sintomas mas alto no domínio pelo concelho de administração da ins-
do estado mental, o Enfermeiro Espe- tituição. É composta por 58 elementos
cialista em Reabilitação sabe que a sua que cumprem com os critérios previa-
atuação deverá incidir especialmente mente definidos.
nesse domínio, não negligenciando os
restantes. Foram utilizados neste estudo a escala
London Chest Activity of Daily Living
O objetivo do presente estudo é vali- (LCADL (Garrod, 2000)) e o Questio-
dar o CCQ (Molen, 1999) para a lín- nário Clínico para a DPOC (CCQ (Mo-
gua portuguesa na doença pulmonar len, 1999)).
obstrutiva crónica e o seu cruzamento
com um instrumento já validado e fre- A LCADL (Garrod, 2000) é uma escala
quentemente utilizado na prática dos validada para a língua portuguesa que
profissionais de saúde nos cuidados à avalia a limitação pela dispneia durante
pessoa com DPOC em Portugal. as atividades da vida diária em pessoas
com DPOC. É calculado um subscore
O presente estudo é do tipo metodoló- para cada domínio e o score total é for-
gico, com uma abordagem quantitativa. mado pela soma dos subscores dos 4
domínios. Valores mais altos na escala
A amostra deste estudo é constituída
indicam maior limitação nas atividades
por pessoas a quem foi diagnosticado
da vida diária. (Pitta et al, 2008)
DPOC e que respeitaram os seguintes
critérios de inclusão: 1) Condição está- O CCQ (Molen, 1999) está dividido em
vel, sem exacerbações ou infeções nos três domínios: sintomas (4 itens), esta-
últimos 3 meses; 2) ausência de car- do funcional (4) e estado mental (2). As
diopatia grave ou instável; 3) ausência pessoas devem responder às questões
de outras condições patológicas que do CCQ (Molen, 1999) baseando-se
possam influenciar no desempenho das na sua experiência nos últimos 7 dias
atividades de vida diária (como doenças numa escala do tipo Likert. O score
cerebrovasculares, ortopédicas ou reu- total é calculado somando os 10 itens
máticas). Os critérios de exclusão fo- e dividindo o total por 10. É também
ram: 1) ocorrência de exacerbação agu- possível calcular os scores de cada um
da durante o período das avaliações; 2) dos três domínios. O score do CCQ
não compreensão ou não colaboração (Molen, 1999) poderá assumir os valo-
com relação aos questionários. res 0 (muito bom estado de saúde); 1 e
2 (bom estado de saúde); 3 (Razoável
28
investigação em enfermagem de reabilitação

estado de saúde); 4 e 5 (Mau estado de ções ou alterações na terapêutica. No


saúde) e 6 (estado de saúde extrema- contato para reteste foi apenas aplicado
mente mau). o CCQ (Molen, 1999).

Uma vez facultadas as listas de pessoas As respostas aos questionários foram


para serem aplicados os questionários introduzidas numa base de dados criada
foram realizados contatos telefónicos para o efeito no Statistical Package for
aos participantes entre os meses de the Social Sciences (SPSS) versão 18.0.
Abril e Junho de 2012. Nos contatos
telefónicos foi explicado e pedida a co- A consistência interna de cada domínio
laboração no mesmo. Uma vez dado o e do total do CCQ (Molen, 1999) foi
consentimento informado para a par- avaliada determinando o coeficiente α
ticipação no estudo foram aplicados de Cronbach, que intercorrelaciona to-
ambos os questionários , CCQ (Molen, dos os itens do instrumento.
1999) e LCADL (Garrod, 2000). A to-
dos foi pedida a autorização para um Para avaliar a validade de critério é ne-
possível segundo contato telefónico cessário proceder a uma correlação en-
com o objetivo de voltar a aplicar um tre o CCQ (Molen, 1999) e um instru-
dos questionários. Não lhes foi dito mento que seja já utilizado na prática
quanto tempo seria de intervalo nem dos profissionais de saúde e que esteja
se deu a certeza de que seriam contac- devidamente validado, tendo sido sele-
tados para que não houvesse influência cionada a LCADL (Garrod, 2000) pe-
nas respostas da segunda vez relaciona- las suas características anteriormente
da com a memorização das questões. A abordadas.
um grupo aleatório de 20 participantes
voltou-se a entrar em contacto após 15 A validade de critério concomitante foi
dias para efetuar o reteste do instru- avaliada através da correlação de Spear-
mento. Para Ribeiro (2010) na situação man. Correlacionaram-se os scores to-
de teste-reteste o teste é passado aos tais e de cada domínio dos dois instru-
mesmos indivíduos, num momento e de mentos. O coeficiente de correlação de
novo passado algum tempo. O tempo de Spearman varia entre -1 e 1. Quanto
intervalo considerado é uma variável mais próximo estiver destes extremos,
importante por várias razões. No de- maior será a associação entre as variá-
senvolvimento do CCQ (Molen, 1999) o veis.
autor realizou o reteste do instrumento
com avaliações espaçadas em 15 dias a A validade de conteúdo foi avaliada so-
um subgrupo de 20 pessoas. Este inter- licitando o parecer de peritos na área
valo de tempo deve ser suficiente para da doença pulmonar obstrutiva cróni-
impedir a memorização do instrumento ca, através do envio do questionário a
mas que não torne provável a alteração 5 profissionais de saúde peritos na área
do estado de saúde devido a agudiza- da DPOC.

29
investigação em enfermagem de reabilitação

O teste de Wilcoxon foi utilizado para Conclusões


avaliar a reprodutibilidade do instru-
mento, correlacionando as médias dos A correlação do CCQ (Molen, 1999)
questionários aplicados em dois mo- com a LCADL (Garrod, 2000) mos-
mentos às mesmas pessoas. Tivemos o trou-se positiva forte, este resultado
cuidado de questionar as pessoas acer- mostra que ambos os questionários
ca da existência ou não de exacerba- medem conceitos semelhantes. Sabe-
ções da sua DPOC, ninguém referiu ter mos que a LCADL (Garrod, 2000) in-
tido alguma agudização do seu estado cide na análise da capacidade funcional
de saúde. da pessoa com DPOC, o que foi cons-
tatado com a correlação entre o domí-
Nas validações já efetuadas do CCQ nio estado funcional do CCQ (Molen,
(Molen, 1999) para outras línguas para 1999) e a maioria dos domínios da
testar a qualidade da reprodutibilidade LCADL (Garrod, 2000).
foi utilizado o Coeficiente de Correla-
ção Infraclasse (ICC do inglês Intra- O coeficiente de consistência interna do
class correlation coeficient) ou coefi- CCQ (Molen, 1999) é considerado acei-
ciente de reprodutibilidade (R). tável dado o número reduzido de itens.
Analisados os coeficientes no caso da
Neste estudo foram respeitados os eliminação de um item, opta-se por não
princípios do consentimento livre e eliminar nenhum deles uma vez que a
esclarecido através da leitura inicial de diferença entre o alfa de Cronbach após
uma carta de apresentação da investi- a eliminação de um item não é signifi-
gação e do investigador, após a qual a cativa.
pessoa aceita ou se abstém de partici-
par no estudo. Apenas 3 pessoas recu- O CCQ (Molen, 1999) possui uma ex-
saram a participação no estudo. celente reprodutibilidade, ou seja, é ca-
paz de medir o mesmo objeto em mo-
Foi pedida a autorização da utilização mentos diferentes de forma constante.
do CCQ (Molen, 1999) ao autor, que a
concedeu para este estudo. Da comparação deste estudo com ou-
tras validações já realizadas para ou-
O pedido para a realização do estudo ao tros países verifica-se que os resultados
conselho de administração da unidade obtidos neste estudo estão na ordem
local de saúde foi também alvo de um dos resultados de estudos anterior-
parecer favorável da comissão de ética mente realizados com o mesmo obje-
da mesma instituição. tivo, o de validar a utilização do CCQ
(Molen, 1999) nas diferentes línguas e
contextos.

30
investigação em enfermagem de reabilitação

Nos estudos que a avaliaram, o CCQ três domínios anteriormente expostos.


(Molen, 1999) demonstrou ter uma É já utilizado em programas de cessa-
boa capacidade de medir o que é supos- ção tabágica em países como Holanda,
to medir. Suécia e Grécia. (Molen, T. et al, 2003;
Stallberg, B. et al, 2009; Papadopoulos,
O objetivo por detrás da realização des- G. et al, 2011).
te estudo de validação de um questio-
nário está relacionado com a necessida- Os cuidados de Enfermagem assumem
de de obter instrumentos que melhor hoje um papel crucial na prevenção e no
possam monitorizar a evolução clínica tratamento da DPOC. Sendo esta uma
da pessoa com DPOC, alvo de um pro- doença prevenível e tratável, e tendo
grama de reabilitação respiratória do- em conta o défice no autocuidado que
miciliária. a evolução da doença acarreta. Assim,
impõe-se a necessidade da provisão do
O instrumento que utilizamos neste es- autocuidado de forma contínua e do
tudo avalia aspetos referidos na biblio- ensino, reabilitando a pessoa para que
grafia como benefícios da Reabilitação seja capaz de suprir as suas próprias
Respiratória, tais como “melhoria da necessidades.
qualidade de vida, a redução da ansie-
dade e depressão, a redução da dispneia Com a criação de Unidades de Cuida-
e fadiga associada ao exercício, com dos na Comunidade, é a oportunidade
melhoria da capacidade de tolerância dos Enfermeiros Especialistas em Rea-
ao exercício, melhoria da capacidade bilitação utilizarem os seus conheci-
funcional na realização das atividades mentos e técnicas em prol das pessoas
de vida”. que devido à evolução da doença estão
restritos às suas casas, com uma no-
Os resultados deste estudo indicaram tória diminuição da sua qualidade de
que a versão portuguesa do CCQ (Mo- vida. São necessários mais projetos de
len, 1999) fornece índices metrológicos Reabilitação Respiratória Domiciliária.
aceitáveis e pode ser utilizada na po-
pulação portuguesa como a escala de Os profissionais de saúde peritos na
origem. área da DPOC consideram o CCQ
(Molen, 1999) como um questionário
Faz sentido utilizar este teste em mo- com itens pertinentes e bastante per-
mentos diferentes do tratamento da tinentes, o que poderá viabilizar uma
pessoa com DPOC de modo a avaliar boa aceitação do mesmo, podendo, de
a sua evolução clínica. A sua utilização acordo com os resultados deste estudo,
num programa de reabilitação respira- ser utilizado em Portugal.
tória é também pertinente, no sentido
em que é um instrumento que possi- Este trabalho teve como objetivo a va-
bilita avaliar a evolução da pessoa nos lidação do Questionário Clínico para a

31
investigação em enfermagem de reabilitação

DPOC para a língua portuguesa. Ana- Life study. Tuberk Toraks vol. 60, n. º1,
lisando os resultados, podemos aferir p.1-12.
que o CCQ (Molen, 1999) está bem
adaptado à língua portuguesa, devendo Casey et al (2011). Developing a struc-
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35
investigação em enfermagem de reabilitação

Pesquisa em enfermagem de reabilitação:


apontamentos da realidade brasileira
Soraia Dornelles Schoeller, Maria Itayra Coelho de Souza Padilha, Flávia
Regina de Souza Ramos, Denise Maria Guerreiro Vieira da Silva, Maria
Teresa Leopardi, Alacoque Lorenzini
Universidade Federal de Santa Catarina (soraia.dornelles@ufsc.br)

Resumo Palavras-chave: deficiência, enferma-


gem de reabilitação, pesquisa.

O presente estudo objetivou refletir so-


bre aspectos da pesquisa em enferma- Abstract
gem de reabilitação no Brasil. Parte do
pressuposto de que esta especialidade This study aimed to reflect on aspects
deve buscar, em todos os momentos, of the nursing rehabilitation research
a autonomia do sujeito cuidado. Para in Brazil. It presupposes that this spe-
investigação da existência do campo cialty should look, at all times, the au-
de pesquisa no Brasil investiga quatro tonomy of the subject carefully. To in-
eixos: as publicações (teses e artigos) vestigate the presence of field research
de periódicos indexados entre os anos in Brazil investigated four areas: publi-
de 1980 a maio de 2013; os grupos de cations indexed (theses and articles)
pesquisa voltados à enfermagem de journals between 1980 and May 2013;
reabilitação cadastrados; a legislação research groups focused on rehabili-
profissional sobre especializações de tation nursing registered; legislation
enfermagem e as políticas públicas bra- on professional expertise nursing and
sileiras; e a demanda epidemiológica. Brazilian public policies; epidemiolo-
As conclusões são que no Brasil a es- gical demand. The conclusions were
pecialidade enfermagem de reabilitação that in Brazil the specialty rehabilita-
inexiste ou é incipiente, com esparsas tion nursing is absent or nascent, with
tentativas de organização desta área. sparse attempts to organize this area.
36
investigação em enfermagem de reabilitação

Keywords: disability, rehabilitation queremos rehabilitar, no sentido de


nursing, research. olhar suas possibilidades e potenciali-
dades muito mais do que sua patologia
ou suas perdas. Enfermagem de reabi-
Introdução litação implica em sempre acreditar e
não fechar qualquer prognóstico an-
Analisar a pesquisa em enfermagem de tecipadamente, por pior que o mesmo
reabilitação no Brasil requer que teça- possa parecer.
mos algumas considerações prévias ao
próprio tema: as interfaces do campo Nenhum destes dois desafios é de fácil
reabilitação e do campo cuidado de en- superação, na medida em que tendemos
fermagem. a trabalhar isoladamente enquanto pro-
fissão (é bem mais fácil o diálogo com
Re habilitar indica literalmente ‘habili- quem utiliza a mesma linguagem nos-
tar novamente’ para o desempenho de sa) ou não estabelecer relações iguali-
tarefas antes realizadas e para as quais tárias e dialógicas com outras profis-
as habilidades foram, independente- sões (temos dificuldade em estabelecer
mente do motivo, perdidas. Só necessi- relações horizontais e de compartilhar
ta de reabilitação quem já possuiu algo conhecimento). Por outro lado, somos
e o perdeu. Ao considerarmos esta defi- formados com o olhar muito funda-
nição na sua radicalidade, constatamos mentado na fisiopatologia, e, na maio-
que o trabalho de re habilitar requer os ria das vezes, a patologia precede o su-
esforços das mais diversas profissões, jeito que queremos cuidar (o diabético,
além do esforço essencial da própria o hipertenso, o pós AVE, entre outros).
pessoa que está se reabilitando. Se, por
um lado, não é suficiente que um ou A enfermagem é uma das profissões
mais profissionais empenhem-se neste que deve ser ativamente participante
processo de reabilitação (processo que no processo de reabilitação. Tem como
extrapola as profissões específicas da uma de suas finalidades o cuidado tera-
área da saúde), por outro, este trabalho pêutico, entendido como o cuidado do
coletivo não evolui se a própria pessoa ser, a partir do entendimento do outro
com as habilidades perdidas não empo- enquanto sujeito autônomo e integral,
derar-se de si mesma, de suas limita- dono dos caminhos de sua própria vida.
ções e desafios. Aqui, a liberdade do outro é fundamen-
to do cuidado (Schoeller, Leopardi, Ra-
Aqui residem dois desafios da enfer- mos, 2011). Enfermeiro é o que torna
magem em reabilitação: 1) trabalhar firme o infirmus, o não firme (Leopardi,
multidisciplinarmente e dialogar com 2006, p.10).
outras profissões que não somente as
da saúde e, 2) olhar sempre de forma O termo latino enfermeiro tem ori-
positiva e otimista para o sujeito que gem no termo “enfermo” de infirmus,

37
investigação em enfermagem de reabilitação

que, por sua vez, resultou da fusão do vicção de que a mudança é possível e
prefixo in (negação) + firmus, firme, a disponibilidade para o diálogo. Para
robusto, saudável. Enfermo, portanto, ele “ensinar é uma especificidade hu-
denota, debilidade, fraqueza, perda de mana” (Freire, 1996, p. 36) e a autono-
forças. Enfermeiro é aquele que restau- mia é uma construção humana a partir
ra tais forças, como dizia Nightingale e da educação. Construir a autonomia do
Enfermagem é o trabalho daqueles que sujeito cuidado implica em conhecê-lo,
tratam dos enfermos, para que se tor- respeitá-lo e dialogar com ele em pri-
nem novamente sadios e “firmes”. meira instância. Implica, acima de tudo,
acreditar no outro e na sua capacidade
Para que se possa realizar o cuidado de superação.
de enfermagem é necessário então que
conheçamos profundamente o outro Já, a independência evoca a possibilida-
(sujeito enfermo) na sua forma de enca- de de realização de atividades sem o au-
minhar a vida, entendido o outro como xílio de outros. Ela pode ser mensurada
alguém diferente de mim e com ideias, a partir de várias escalas, a depender de
desejos, vontades e anseios próprios, quais aspectos pretende-se medir, sen-
que necessita de auxílio para poder re- do as mais utilizadas aquelas voltadas
tomar sua vida na plenitude possível do às atividades cotidianas e relacionadas
que está colocado para ele. Precisamos à cognição. Considera-se uma pessoa
conhecer o outro como sujeito autôno- independente quando ela que consegue
mo que é ou que pode vir a ser. realizar atividades comuns e mais com-
plexas, necessárias ao encaminhamen-
Não podemos confundir ou igualar a to da própria vida: mover-se, comuni-
autonomia à independência. São duas car-se, alimentar-se, higienizar-se, são
coisas aparentemente articuladas, po- as mais comuns na maioria das escalas.
rém com significados muito diferentes. Afinal, a vida é mais simples do que
Todo o sujeito deve ser autônomo, no pensamos, e é uma sucessão de peque-
sentido de governar a própria vida. nas ações relacionadas a estas áreas.
Independente nenhum ser humano
o é completamente, pois necessita de Independência e dependência parecem
diferentes formas e em diferentes mo- ser extremos contrários e antagônicos
mentos de outros seres humanos ou de uma mesma escala, na qual a exis-
de equipamentos. Freire (1996) defi- tência de um inviabilizaria a do outro.
ne a autonomia como a capacidade de Esta é outra ilusão, pois, a (in)depen-
auto gerir-se e responsabilizar-se pelos dência não ocorre de forma global, mas
próprios atos. Isso só é possível com em aspectos relacionados à possibilida-
a educação, e sua construção depende de de realização de tarefas e de relacio-
de uma série de questões, entre elas namento com o mundo que nos cerca.
reflexão crítica sobre a prática, a hu- Alguém pode ser independente em um
mildade, a alegria e esperança, a con- aspecto e dependente em outro.

38
investigação em enfermagem de reabilitação

Também há associação direta entre de- cançadas conjuntamente na construção


pendência e deficiência, como se uma, da autonomia do sujeito. Cada um com
automaticamente levasse à outra. Uma papéis diferentes, mas ambos essenciais
pessoa pode ser deficiente e indepen- no processo. São dois sujeitos ativos,
dente e vice versa: alguém com déficit pessoa a ser reabilitada e enfermeiro.
visual pode ser mais independente do Isso muda radicalmente o lugar e a for-
que alguém com perfeita acuidade vi- ma de agir do enfermeiro, que precisa,
sual. Isso se relaciona mais com os me- mais do que nunca, acreditar no outro
canismos de compensação que a socie- e nas suas capacidades. Esta interação é
dade coloca e com a própria autonomia necessariamente de longo prazo, para a
do sujeito. A Organização Mundial da qual precisamos construir tecnologias
Saúde (OMS, 2011) afirma que todos, emancipatórias, a partir de pesquisas
durante a vida, se tornarão dependen- tanto qualitativas como quantitativas,
tes em algum momento, por um tempo cujos conteúdos e práticas aproximem-
maior ou menor, e que a dependência se do que consideramos abertura para
ocorre em situações concretas, histó- possibilidades de estar melhor em sua
rica e socialmente determinadas. Por- condição.
tanto, não basta ser deficiente para ser
dependente. A resposta social e a indi- O mundo da pesquisa deve refletir o
vidual são tão, ou mais importantes do mundo do trabalho, reafirmando-o,
que a própria deficiência. questionando-o, ou negando-o em
processos concretos de cuidado. Se, na
A reabilitação tem como pressuposto a concretude do trabalho não existe um
autonomia do sujeito. Só o sujeito que campo do mesmo, é de se esperar que a
vive a perda das habilidades (que são pesquisa reflita isto.
dele) sabe de seus limites e possibili-
dades para tornar-se novamente hábil. Nossa premissa, neste artigo, é de que
Diferentemente de outras especialida- não há cultura de pesquisa em enferma-
des de enfermagem, na reabilitação, de- gem em reabilitação no Brasil, porque
pendemos da força de vontade, rebeldia não há enfermagem de reabilitação no
e persistência do nosso “paciente”. Brasil. Não há a concretude do traba-
lho de enfermagem de reabilitação, tal
A enfermagem de reabilitação une du- como ocorre com outras especialidades
plamente a questão da autonomia do de enfermagem.
sujeito cuidado, no momento em que
esta é essência da própria finalidade do Discutiremos esta premissa a partir de
trabalho de enfermagem e na interface quatro eixos articulados: as publicações
da reabilitação, na qual, nada se conse- relacionadas ao tema, os grupos de pes-
gue sem que o sujeito enfermo queira, quisa em enfermagem de reabilitação,
de fato, alcançar. O enfermeiro, ao cui- as políticas públicas e o mercado de
dar em reabilitação é um companheiro trabalho dessa área. Frente a estes qua-
de jornada do sujeito com limitações, e, tro eixos, teceremos breves considera-
juntos estabelecem metas a serem al- ções sobre a magnitude da dependência
39
investigação em enfermagem de reabilitação

e os dependentes no Brasil – campo ge- A lesão medular figurou entre as prin-


rador da necessidade de enfermeiros de cipais preocupações. Nos anos mais re-
reabilitação e do mercado de trabalho. centes as publicações diversificaram-se
em localização e temática, ampliando
Para analisar as publicações foram co- para estudo com pessoas amputadas,
letados dados no PORTAL CAPES. O mastectomizadas, cardíacas e idosas,
portal CAPES é uma biblioteca virtual além da lesão medular. Há o aumento
sob responsabilidade do Ministério da crescente nas pesquisas com pessoas
Educação, com um acervo de 34 mil idosas.
periódicos com textos completos e 130
bases de dados (Brasil, 2013). A busca Somente cinco (05) artigos refletem
aos grupos de pesquisa cadastrados sobre o espaço, a formação e a pesqui-
foi feita no site do Centro Nacional de sa em enfermagem de reabilitação no
Desenvolvimento Científico e Tecnoló- Brasil. Destes, três foram escritos pelo
gico – que mantém as informações de mesmo pesquisador, a partir da mesma
todos os grupos de pesquisa cadastra- instituição e antes do ano de 2006, evi-
dos no Brasil. As informações sobre o denciando uma tentativa inicial de se
mercado de trabalho foram coletadas estabelecer alguns limites da especifi-
no Ministério da Saúde e no Conselho cidade enfermagem de reabilitação no
Federal de Enfermagem, que regula- Brasil. Ainda, quatro são de revisão de
menta a profissão do enfermeiro. Em literatura sobre a produção na área. O
relação aos dados epidemiológicos, os mais recente se propôs a realizar uma
mesmos foram coletados nos sites go- revisão sistemática, respondendo sobre
vernamentais de morbimortalidade e o papel da enfermagem na reabilitação
em estudos epidemiológicos reconhe- físico motora, que aponta contradi-
cidos. ções, nas quais, por um lado a maioria
das prescrições de reabilitação são de
Foram selecionados artigos resultan- outros profissionais que não os de en-
tes do cruzamento das palavras enfer- fermagem, por outro, o enfermeiro ob-
magem e reabilitação, independente jetiva a
da língua, desde que a pesquisa fosse
realizada por enfermeiros brasileiros e “independência funcional dos pa-
no Brasil. Resultaram 265 artigos, que, cientes através do autocuidado, o
após a análise mais detalhada, restaram treinamento dos pacientes para a
40 artigos, conforme Quadro 1. execução das atividades da vida diá-
ria, o estabelecimento do relaciona-
No referido quadro evidencia-se que, mento terapêutico com os pacien-
inicialmente, as publicações relacio- tes, além da promoção e educação
nadas foram resultantes de trabalhos para saúde.”(Andrade et al, 2010, p.
realizados no Estado de São Paulo, das 1058)
Escolas de Enfermagem das Universi-
dades Federais.

40
investigação em enfermagem de reabilitação

Quadro 1: Publicações brasileiras relacionadas à enfermagem de reabilitação, período de 1996


a maio de 2013

Temas
Período Universidade Revista Temática
relacionados

Expectativa dos alunos sobre Ensino Enfermagem de Reabilitação

Enfermagem (02)
Rev Esc Enferm
Rev. Latino-Am.
USP - RP Reabilitação

USP (02)
< 1999

Qualidade de Vida Pessoas com Lesão Lesão medular


Medular

Reabilitação em Laringectomizados (02) Distúrbios da Fala


Alimentação de criança com fissura lábio Mal formação craneo facial
gem, Rev Esc Enferm USP,
USP - RP (03), Univ. Est.

Revista Enfermería Global


Rev. Latino-Am. Enferma-

palatal
Campinas (01)

Técnica limpa do Auto cateterismo Lesão medular


2000 - 2003

Auto estima pessoas com e sem fenda Mal formação craneo facial
Avaliação funcional de pessoa idosa com Amputação
amputação
Reabilitação da pessoa com lesão medular Lesão medular
no brasil: tendências de investigação
Atividade física em mastectomizadas Mastectomizadas
USP - RB (04), USP (01), UFC (01), UNB (01)

Revista da Escola Paulista de Enfermagem (03),


Rev. Latino-Am. Enfermagem (02), Revista da
Escola Anna Nery (02), Revista Brasileira de

Significados do cuidar para o cuidador de Lesão medular


pessoa com lesão medular traumática

Cuidar de tetraplégicos no domicílio Lesão medular


Enfermagem (01)
2004 a 2006

Dor neuropática pós lesão medular Lesão medular

Enfermagem em reabilitação Enfermagem de Reabilitação

Enfermeiro especialista reabilitação Enfermagem de Reabilitação


Sistematização da Assistência
SAE e Vanda Horta
em Reabilitação
Significado do Trabalho em equipe de reabi- Mal formação craneo facial
litação em mal formação cranio facial
Enfermagem (03), Rev. Latino-Am. Enfermagem (02), Revista Brasileira de

adaptação após lesão medular Lesão medular


Revista da Escola Paulista de Enfermagem (02), Acta Paul. Enferm. (02),
USP - RB(02), USP (02), UNIFESP (01), UFMG (01), SARAH (01),

Revista Enfermagem da Escola Anna Nery (01), Revista Eletrônica de

adesao mastect a reabilitação Mastectomizadas


Enfermagem (01), Revista Brasileira de Fonoaudiologia (01)
UFG (02), UFC, (01), UFRG (01), UECARIRI (01)

Assistência à criança com paralisia cerebral Pediatria


Independencia funcional de pessoas com Lesão medular
lesão medular
Conhecimentos e necessidades de hiperten- Cardíaca
sos revascularizados em reabilitação
2007 a 2009

Conhecimentos enfermagem pacientes com Distúrbios da deglutição


disfunção de deglutição

Crença religiosa e pacientes oncológicos Oncologia


Diagnóstico de enfermagem em pessoas Lesão medular
com lesão medular
Inclusão social da pessoa com dependência Dependencia

O papel da enfermagem na reabilitação física Enfermagem de Reabilitação


Rede apoio a pessoas com Acidente Vascular Acidente Vascular Encefálico
Encefálico
Qualidade de vida de queimados em Queimados
reabilitação

41
investigação em enfermagem de reabilitação

Ciencia e Saúde Coletiva (02), Revista Paulista de Enfermagem (02), Revista Eletrônica de Enfermagem
Atendimento de reabilitação à pessoa idosa Idoso

UFSC (02), ENSP (01), UFPARAÍBA (01) UFPARÁ (01), UFC (01), UFG (01), UEMARINGÁ

(02), Rev. Latino-Am. Enfermagem (01), Revista Brasileira de Enfermagem (01), Revista Cuidado é
Avaliação funcional do idoso Idoso

Capacidade funcional do idoso Idoso

Características das pessoas com lesão medu- Lesão medular


(01), UNB (01), USP - RB (01), USP (01) lar atendidas em um Centro de Reabilitação

O descuidar da pessoa com lesão medular na Lesão medular


Atenção Básica
Fundamental (01)

Diagnóstico de enfermagem à pessoa com Acidente Vascular Encefálico


2010 a 2013

mobilidade física prejudicada pós AVE

O tetraplégico e seu cuidador Lesão medular

Qualidade de vida de mães com criança com Pediatria


paralisia cerebral

Motivações na reabilitação cardíaca Cardíaca

Produção nacional sobre reabilitação em Mastectomizadas


mastectomizados

SAE em uma unidade reabilitação Sistematização da Assistência


em Reabilitação

Porém, a preocupação do enfermeiro Devido à própria essência do trabalho


transcende a simples independência de enfermagem, o único profissional
funcional para a realização das ativida- em contato permanente com a pessoa
des da vida diária, ao considerar o su- que se reabilita é o enfermeiro, e isso,
jeito que está se reabilitando como uma associado à percepção da integralidade
pessoa na sua integralidade, reforçando do sujeito inerente à profissão, é mo-
o seu bem estar bio psico social e espiri- tivo pelo qual esse profissional tem
tual. O artigo destaca que o enfermeiro mais condições de coordenar a equipe
raramente é visto como colaborador no de reabilitação. Da mesma maneira, a
processo interdisciplinar de reabilita- aproximação do enfermeiro com o su-
ção, sendo, muitas vezes desvalorizado; jeito cuidado cria as condições ideais
isso, devido ao próprio desconhecimen- para que a reabilitação seja direcionada
to do enfermeiro sobre sua importân- às atividades da vida diária do sujeito,
cia, sem considerar o julgamento dos num treinamento persistente e sucessi-
“profissionais que detém maior domí- vo, tal qual o processo de re – habilita-
nio no processo de reabilitação, que são ção necessita.
o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacio-
nal.” (Andrade et al, 2010, 1058)

42
investigação em enfermagem de reabilitação

Apesar de haverem poucas pesquisas Em relação à saúde aponta para:


direcionadas objetivamente à enferma-
gem de reabilitação fundada na depen- qualificação das equipes de atenção bá-
dência, esta realidade muda substan- sica; criação de Centros Especializados
cialmente quando se trata de pesquisas em Reabilitação (CER) e qualificação
brasileiras diretas sobre deficiência, dos serviços já existentes; criação de ofi-
suas causas e cuidados de enfermagem cinas ortopédicas e ampliação da oferta
(não sob a ótica de re-habilitar, mas so- de órteses, próteses e meios auxiliares de
mente do cuidado terapêutico). Assim é locomoção, vinculados aos serviços de
que, pesquisa rápida em banco de dados reabilitação física do Sistema Único de
da CAPES com os descritores enfer- Saúde (SUS); qualificação da atenção
magem e: amputação - 115 periódicos; odontológica, tanto na atenção básica
deficiência física - 15 periódicos; de- quanto na especializada e cirúrgica.
pendente – 27 periódicos; idoso – 227 (Ministério da Saúde, 2011, p 37).
periódicos, entre outros. Isso evidencia
a riqueza da pesquisa voltada à pessoas Com base nisto deveríamos esperar
com deficiência física, porém, sem a cul- uma ampliação do mercado de traba-
tura da reabilitação. lho em reabilitação, especialmente em
enfermagem. Mas o desdobramento
Quanto aos grupos de pesquisa no das políticas voltadas à pessoa com de-
Brasil, os responsáveis pelo incremen- ficiência, ao ampliar a rede de serviços
to da pesquisa científica em enferma- prestada a esta parcela populacional,
gem, o total de grupos cadastrados em centra a assistência em dois profissio-
2013 no CNPQ é de 513, sendo, que 10 nais: o médico e o fisioterapeuta. Santa
(0,19%) abordam, em algum momento Catarina, com uma população estimada
do seu escopo ou das linhas de pesquisa, em 2012 de 6.383.286: possui um plano
a enfermagem de reabilitação. Destes 4 estadual de reabilitação, de 2008, que
pertencem ao Estado de São Paulo, 03 prevê três níveis de atendimento: um
ao Nordeste brasileiro, 02 ao Rio Gran- primeiro nível intermunicipal, um nível
de do Sul e 01 é da Rede de Referência intermediário, e um centro de referencia
em Reabilitação do Brasil – Rede Sarah em medicina física e reabilitação (Santa
de Hospitais de Reabilitação. Catarina, 2008). Segundo o Plano, o
primeiro nível deve contar com : um
A atual política nacional do deficiente médico (não necessariamente fisiatra),
vigente no Brasil é denominada Viver um fisioterapeuta, um assistente social
sem Limite, e foi sancionada por meio e profissionais de nível médio. O nível
do Decreto 7.612, de 17 de novembro intermediário deve conter: médico, fi-
de 2011. Segundo o IBGE, 45 milhões sioterapeuta, assistente social e/ou psi-
de brasileiros alegam possuir alguma cólogo, fonoaudiólogo e/ou terapeuta
deficiência. A política prevê a inclusão ocupacional, enfermeiro, profissionais
social através do acesso à educação e de nível médio e/ou técnico necessários
ao trabalho através da convergência de ao desenvolvimento das ações de reabi-
ações voltadas à pessoa com deficiência. litação. Já, em alta complexidade deve-
43
investigação em enfermagem de reabilitação

rão constar da equipe: Médico Fisiatra, Cabe-nos refletir agora sobre a legisla-
Enfermeiro, Fisioterapeuta, Terapeuta ção profissional acerca desta especiali-
Ocupacional, Fonoaudiólogo, Psicó- dade. No Brasil a profissão do enfermei-
logo, Assistente Social, Nutricionista, ro é legislada pelo Conselho Federal de
Profissionais de nível médio e/ou técni- Enfermagem (COFEN), que determina
co necessários para o desenvolvimento o espaço de atuação profissional e as
das ações de reabilitação. O enfermeiro requisições legais para esta atuação.
não faz parte da primeira equipe, sendo A Resolução 389/2011 (Cofen, 2011)
substituído pelo outros profissionais. do estabelece, como especialidades de
enfermagem no Brasil, um total de 44
São previstos dois estabelecimentos de especialidades e 37 sub especialidades.
alta complexidade em Santa Catarina: Porem, não há a especialidade de en-
um na capital e outro no Extremo Oes- fermagem de reabilitação. Com o reco-
te do Estado, distante 551 quilômetros. nhecimento e o estatuto de, aproxima-
Isso implica na obstaculização do aces- damente 90 especificidades no campo
so aos serviços de reabilitação, processo profissional de enfermagem brasileiro,
que ocorre na prática, cotidianamente, a enfermagem de reabilitação inexiste.
apesar dos discursos governamentais O desdobramento desta resolução im-
de acesso universal aos serviços. plica que as especializações deste cam-
po não são reconhecidas como tal, po-
O Brasil conta com um serviço próprio dendo, quando muito, ser encaixilhadas
de reabilitação, referência internacio- em outras das 90 reconhecidas.
nal: a rede de hospitais de reabilitação
Sarah. Esta rede possui hospitais de Temos no Brasil em enfermagem de
reabilitação em oito pontos brasileiros, reabilitação: pouca pesquisa, espaço
distribuídas nas especialidades de rea- demandado pela política pública de for-
bilitação em ortopedia, neurologia, pe- talecimento da fisioterapia, instituições
diatria, oncologia, entre outras. É uma fechadas de reabilitação e lacuna de le-
rede própria sem articulação prévia gislação. A questão agora é contrapor
com as Secretarias Estaduais e Muni- este cenário com a necessidade epide-
cipais de Saúde. Atende por demanda miológica: qual a incidência de pessoas
oriunda de todos os municípios brasi- que demandam reabilitação?
leiros, por contato direto com a Rede.
Isso implica em obstáculos ao referen- Segundo a OMS, 10 % da população
ciamento para a reabilitação. Ainda, no possui alguma ou múltiplas deficiên-
serviço público, o Brasil possui a Rede cias. Neste estudo, foram considerados
Luci Montouro, somente do estado de deficientes físicos aqueles que, indepen-
São Paulo. Esta rede é recente (aproxi- dentemente da causa, possuem altera-
madamente 3 anos) e não há, ainda, es- ções de suas formas ou funções físicas,
tudos socializados sobre o trabalho por com diferenças visíveis e perceptíveis
ela desenvolvido. em relação àquelas pessoas considera-
das normais e que resultem em limita-
ções cotidianas.
44
investigação em enfermagem de reabilitação

Pesquisas e/ou estimativas e do Ins- Bibliografia


tituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística (IBGE) relativos ao censo de Andrade LT de, Araújo EG de, Rocha
2010 apontam preliminarmente para K da, Soares DM, Clanca TCM (2010).
Papel da Enfermagem na Rreabilitação
um quadro de que cerca de 45.623.910
Física. Rev Bras Enferm, nov-dez; 63;6;
brasileiros (23,9% da população) referiu
1056-60.
algum tipo de deficiência.
Conselho Federal de Enfermagem
A deficiência é problema contempo- (2011). Resolução 389 – atualiza, no siste-
râneo de saúde pública, dado pela mu- ma COFEN e CORENs, os procedimentos
dança de perfil epidemiológico e demo- para registro de título de pós-graduação lato
gráfico. Na medida em que as pessoas e stricto sensu concedido a Enfermeiros e lis-
vivem mais passam a ter dependência ta as Especialidades. DF, 18 de outubro
nos últimos anos de vida. Também a de 2011.
violência urbana acrescenta sempre
Brasil (2013). Capes - institucional. Dis-
novos deficientes, que, com atenção pú-
ponível em: http://www.periodicos.capes.
blica de qualidade têm sua autonomia e gov.br/index.php?option=com_pinstitucio-
qualidade de vida assegurados.
nal&mn=69, acessado em 23/05/2013,
Nesse sentido, é crescente a demanda 10:31 hs.
por enfermeiros de reabilitação. Há o
Ministério da Saúde (2011). Viver Sem
descompasso entre a demanda epide-
Limite – Plano Nacional dos Direitos da
miológica e as condições de trabalho Pessoa com Deficiência. DF.
no Brasil. Mesmo sabendo-se da impor-
tância do mesmo. Freire, P (1996). Pedagogia da autono-
mia: saberes necessários à prática educativa
No Brasil, apesar da necessidade epide- / Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra.
miológica crescente de enfermeiros de
reabilitação, dada pelo aumento da vio- Leopardi MT (2006). Teoria e método em
lência urbana que produz uma magni- assistência de enfermagem. Florianopolis:
tude de pessoas jovens com deficiência SOLDASOFT.
e pelo aumento da expectativa de vida, OMS (2011). Relatório Mundial sobre de-
responsável por outra magnitude de de- ficiência. São Paulo: OMS.
ficientes idosos, esta especialidade ine-
Secretaria de Estado da Saúde - Santa
xiste ou é incipiente. Não há o reconhe-
Catarina (2008). Plano Operativo para a
cimento legal do Conselho Profissional
organização da rede de assistências à pessoa
sobre esta especialidade e as políticas com deficiência física de Santa Catarina.
públicas reforçam a associação entre Florianópolis.
reabilitação e outras profissões que não
a enfermagem. Schoeller SD, Leopardi MT, Ramos
FRS (2011). Cuidado, eixo da vida, de-
A pesquisa reflete a lacuna no merca- safio para a enfermagem. R. Enferm.
do de trabalho. Este é um campo a ser UFSM; Jan/Abr;1;1;88-96.
construído.

45
investigação em enfermagem de reabilitação

Doente submetido a amputação do membro


inferior – o enfermeiro de reabilitação no
processo de transição
Virgínia Lucinda de Sousa Cruz Pereira
Centro Hospitalar de São João, E.P.E. (vpereiraenf@gmail.com)

Através da análise dos discursos dos


doentes tentou-se perceber os seus
Resumo significados, a partir da experiência de
quem os vivência possibilitando des-
A enfermagem enquanto essência de vendar algumas facetas do fenómeno
cuidar tem por base a relação e a inte- amputação, sob um referencial fenome-
ração com o outro, permitindo o cres- nológico, e compreender como se faz
cimento mútuo, sendo para isso indis- uma transição deste tipo. Aprofundou-
pensável cuidar o doente no âmbito da se também o reconhecimento dado ao
sua família e do meio envolvente. enfermeiro especialista em reabilitação
neste processo de transição, no qual se
Perante a inquietação com a questão preconiza a reintegração da pessoa na
da amputação, suas implicações e sen- sociedade da forma mais adaptada pos-
timentos despoletados na pessoa que sível, motivando-a para novos conheci-
experiencia uma transição para a de- mentos, estratégias e recursos que se
ficiência no contexto de uma doença pretendem facilitadores da transição
crónica, realizou-se este estudo com o saúde/ doença.
objetivo de melhor compreender esse
fenómeno. A revisão bibliográfica per- Para melhor perceção dos dados reco-
mitiu aprofundar conhecimentos sobre lhidos e mais fácil interpretação, segui-
a patologia e a repercussão desta no mos a lógica do Modelo de Transições
doente e na família. Foram realizadas em Enfermagem de Meleis.
dez entrevistas com doentes subme-
tidos a amputação, para tentar com- Palavras-chave: Doença crónica, Am-
preender como percecionam e lidam putação, Transição, Enfermagem, Rea-
com esta situação de crise. bilitação.
46
investigação em enfermagem de reabilitação

Abstract logic of the Meleis Model of Transi-


tions in Nursing was used.
Nursing, as far as the essence of caring,
is based on the relationship and the in- Keywords: Chronic illness, Amputa-
teraction with the other, allowing mu- tion, Transition, Nursing, Rehabilita-
tual growth, for which caring for the tion
patient in the context of his family and
environment is a requisite.
Introdução
Given the unrest brought about by am-
putation, its implications and the feelin- As doenças do aparelho circulatório
gs of the individual that experiences a são das doenças crónicas as principais
transition to impairment in the context causas de morte em Portugal, atingin-
of a chronic illness, a study to better do 31,9 % em 2009, segundo Carrilho e
understand the phenomenon was de- Patrício (INE, 2010, p. 121). Por outro
veloped. Bibliographic review allowed lado, as doenças crónicas são respon-
deepening knowledge on the illness and sáveis pelo aumento significativo do
its repercussion on the patient and re- número de internamentos hospitalares.
latives. Ten interviews with amputated De salientar que a doença arterial tem
patients were performed to try to un- como fatores de risco a hipertensão, a
derstand how they perceive and handle diabetes, a obesidade, o tabaco, o seden-
this crisis situation. tarismo e a idade, sendo que alguns de-
les também são por si só doenças cróni-
Based on interview analysis the mea- cas. Cada vez mais é necessário adotar
ning of the situation was sought, taking medidas integradas, complementares
into account the experience of those e interdisciplinares que potenciem na
that live it enabling to uncover some of população adesão ao regime terapêuti-
the aspects of the amputation pheno- co e gestão da sua doença.
menon, upon a phenomenological refe-
rential and understand how the ampu- Em Portugal, o estilo de vida associa-
tated patient makes this transition. We do a uma dieta desadequada, o taba-
also analyzed the recognition given to gismo não controlado na idade adulta
the rehabilitation specialist nurse in this e o aumento em jovens, o aumento do
transition process, in which the objecti- consumo de bebidas alcoólicas e o se-
ve is to bring the patient back to socie- dentarismo favorecem o aparecimento
ty in the most adapted way motivating de doenças crónicas como a diabetes, a
them to new knowledge, strategies and obesidade e a hipertensão.
resources aimed at improving the tran-
sition health/ disease. Considerando que, uma grande parte
das doenças crónicas são silenciosas,
For better understanding and easier in- não permitem que haja uma efeti-
terpretation of the collected data, the va prevenção. Quando se manifestam

47
investigação em enfermagem de reabilitação

acarretam elevados custos de saúde e e reveste-se de grande sobrecarga psi-


sociais implicando uma reestruturação cológica para além das limitações físi-
familiar com necessidades de apren- cas inerentes, requerendo um grande
dizagem para viver e gerir a situação apoio no processo de reabilitação físico
de doença. No entanto, nem sempre há e psicossocial, no qual os enfermeiros
desconhecimento da doença mas sim especialistas têm um papel preponde-
negligência no tratamento levantan- rante.
do a necessidade de perceber quais os
motivos que levam ao incumprimento
da gestão da doença crónica. Contudo, Objetivos
corroborando com Phipps et al. (2003,
p. 159), “o enfermeiro precisa de avaliar Este estudo teve como objetivos apro-
a situação, para verificar quais as razões fundar conhecimentos sobre: a proble-
por que o doente não está a cumprir as re- mática da doença crónica, a experiência
comendações terapêuticas”. Claro está que do doente crónico perante a necessida-
há um longo trabalho no sentido de de de amputação e como é que o doen-
consciencializar as pessoas a viver com te faz essa transição enquadrando-a
mais saúde, bem-estar e melhor quali- na Teoria das Transições de Meleis.
dade de vida. Numa análise aprofundada pretende-se
saber até que ponto a atuação dos en-
Na maior parte das vezes, o doente fermeiros, em especial do enfermeiro
que tem necessidade de ser amputado de reabilitação responde às necessida-
por isquemia crónica já tem um longo des sentidas pelos doentes.
percurso de doença e de internamentos
implicando o afastamento da família e
consequentemente o aparecimento de Metodologia
sentimentos, necessidades, dificulda-
des, … que se traduzem em vivências A abordagem qualitativa, do tipo fe-
únicas. Este aspeto ganha mais força nomenológico, através de um estudo
perante a necessidade do doente ser su- exploratório-descritivo foi a opção me-
jeito a amputação do membro fazer a todológica adotada. Como instrumento
transição para a deficiência mais tran- de recolha de dados utilizamos a en-
quila e suave sem produzir efeitos ne- trevista semi-estruturada aos doentes
gativos. Daí pensarmos que para pres- internados no serviço de Angiologia e
tar cuidados de enfermagem holísticos Cirurgia Vascular de um hospital cen-
ao doente e à sua família será impor- tral. Os resultados foram obtidos de
tante conhecermos como se processa acordo com os procedimentos de aná-
essa transição na pessoa que a vivencia. lise de conteúdo definidos por Bardin
(2009).
Como se compreende, esta vivência
constitui um acontecimento marcante

48
investigação em enfermagem de reabilitação

Resultados de enfermagem no desenvolvimento de


potencialidades para a autonomia do
O facto destes doentes vivenciarem doente no autocuidado.
uma doença crónica acompanhada de
sofrimento intenso faz com que per- Conclusão
cebam e aceitem melhor o desfecho do
tratamento numa amputação. A evidên- Há décadas que se faz investigação em
cia demonstra que uma vez instalada a enfermagem em Portugal, no entanto,
doença arterial, o prognóstico é mau a parece ainda difícil aos enfermeiros as-
curto/ médio prazo e que a prevenção/ sumir a sua responsabilidade no desen-
controlo dos fatores de risco será, sem volvimento desta vertente profissional.
dúvida, a aposta a considerar. No en- Na escalada da enfermagem, na busca
tanto, podemos verificar que a adesão da afirmação como ciência, é impor-
dos doentes a este facto é muito baixa. tante cimentar uma prática baseada na
O doente experiencia sentimentos con- evidência, regendo-se por princípios
traditórios ao longo da transição que científicos e na procura de novos co-
só se percebem no enquadramento de nhecimentos, que só a investigação po-
quem vivência uma amputação. A fa- derá justificar. Este crescimento terá,
mília funciona como porto de abrigo certamente, como consequência uma
ao longo da transição, necessitando maior eficiência e eficácia dos serviços
também ela de atenção dos cuidados de de saúde e, especialmente, da qualidade
enfermagem. dos cuidados de enfermagem prestados
aos doentes e às famílias.
Ficou clara a importância da nature-
za das transições para se perceber as A doença crónica e a diferença físi-
vertentes em que se torna evidente a ca que dela pode advir poderão forçar
necessidade de intervir enquanto pro- uma mudança no estilo de vida. Desta
fissionais de saúde, com a perspetiva de forma, o doente submetido a uma am-
um cuidar holístico. Os enfermeiros e putação deve ser visto como um todo,
em especial o enfermeiro com especia- sendo objetivo da equipa interdiscipli-
lidade em reabilitação têm capacidades nar que este seja capaz de se tornar
e competências para intervir tanto ao independente aproveitando ao máximo
nível da família como sociocomunitá- as suas potencialidades. Para que isto
rio. O facto de estarem sempre presen- aconteça este tem de se sentir bem,
tes, a nível institucional, favorece não sem dor e sem complicações para estar
só o contacto com o doente e família disponível e colaborar no processo de
como o detetar de problemas sendo transição no qual a reabilitação tem um
possível articular com eles e os demais papel fulcral.
profissionais da equipa interdisciplinar
possíveis estratégias de resolução. É Não podemos esquecer que o doente
visível a preocupação dos profissionais é parte integrante de uma família que

49
investigação em enfermagem de reabilitação

por sua vez, também tem vivenciado Prestar cuidados de enfermagem ade-
a evolução da doença crónica e, por quados e instruir o doente e a família
isso, implicada no processo de transi- a prestar alguns cuidados, esclarecer
ção saúde/ doença, já para não falar da sobre os recursos disponíveis na co-
transição que a família enquanto insti- munidade, tipo de apoio económico que
tuição tem que fazer. podem usufruir assim como produtos
de apoio e centros de reabilitação, no
É necessário ter sempre presente que sentido de os auxiliar na satisfação das
cada doente/ família é única, com a suas necessidades, são atividades im-
sua cultura, valores, crenças, atitudes, portantes do enfermeiro.
objetivos e prioridades. A forma como
a deficiência os afeta depende de Nas funções desenvolvidas pela enfer-
vários fatores e varia de pessoa para magem de reabilitação, para além da
pessoa. Perante os problemas que vão relação enfermeiro/ doente/ família
surgindo, o agregado familiar inicia está também incluída a comunidade no
todo um conjunto de ajustes nas suas processo de tratamento e recuperação,
relações intra-familiares, no sentido de devendo, sem dúvida, haver uma ar-
se adaptarem à situação. Com o tempo ticulação estreita entre os diferentes
acaba por haver essa adaptação, mas recursos que são oferecidos pela comu-
são frequentes as fases de desânimo e nidade e as instituições onde o doente
angústia, principalmente em situação está internado. O assegurar a conti-
de doença relativamente à sua recupe- nuidade de cuidados, não descorando a
ração e ao futuro. importância dos prestadores de cuida-
dos informais orientando-os e acompa-
Cabe aos profissionais de saúde, em nhando-os reforça e dá visibilidade ao
particular aos enfermeiros de reabilita- trabalho desenvolvido pelos enfermei-
ção a aproximação ao doente e aos seus ros de reabilitação.
familiares para de alguma forma inter-
vir neste momento de crise, tentando Com os resultados obtidos com esta in-
saber mais sobre o doente e sua família, vestigação conseguimos compreender
mobilizando os seus conhecimentos a as necessidades que os doentes mais
nível cognitivo, sócio-afectivo e funcio- referem e até que ponto a intervenção
nal. do enfermeiro e em particular do enfer-
meiro de reabilitação pode ser ajustada
Sendo a família o pilar central quando para um maior contributo no processo
pensamos no apoio social que o doen- transacional para que o doente inte-
te necessita, torna-se premente gerir grado no seu meio consiga atingir um
o seu envolvimento no autocuidado do nível de qualidade de vida satisfatório.
doente exigindo a quem o faz expe-
riência e sensatez para conseguir uma Para finalizar e corroborando com Me-
abordagem holística. noita (2012, p. 35) que refere Hesbeen
(2000) afirmando que “mesmo quando
50
investigação em enfermagem de reabilitação

não é possível promover a autonomia e a causes of death for persons aged 65


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A evidência demonstra que uma vez instalada a


doença arterial, o prognóstico é mau a curto/ médio
prazo e que a prevenção/ controlo dos fatores de risco
será, sem dúvida, a aposta a considerar. No entanto,
podemos verificar que a adesão dos doentes a este
facto é muito baixa. O doente experiencia sentimentos
contraditórios ao longo da transição que só se
percebem no enquadramento de quem vivencia uma
amputação. A família funciona como porto de abrigo
ao longo da transição, necessitando também ela de
atenção dos cuidados de enfermagem.

53
investigação em enfermagem de reabilitação

Dados valorizados pelo Enfermeiro Especialista


em Enfermagem de Reabilitação para a
prescrição de cinesiterapia respiratória na
pessoa com DPOC
Rui Pedro Marques da Silva1; Olga Maria Freitas Simões de Oliveira
Fernandes2; José Miguel dos Santos Castro Padilha3
Unidade de Cuidados na Comunidade de Ermesinde – ACES Maia- Valongo
Escola Superior de Enfermagem do Porto

Introdução que contempla uma série de exercícios


ventilatórios e sistémicos e que visam
A Doença Pulmonar Obstrutiva Cróni- a melhoria da compliance ventilatória e
ca (DPOC) é, atualmente, a quarta cau- da capacidade funcional da pessoa com
sa de morte na Europa e a quinta causa DPOC (DGS, 2009; GOLD, 2013).
de morte em Portugal (ONDR, 2011).
Para além disso, é uma das doenças A RFR inclui a cinesiterapia respira-
crónicas onde se prevê um aumento tória (CR), que pode ser definida como
de incidência e prevalência nos próxi- ”uma terapêutica baseada no movimento e,
mos anos (GOLD, 2013). Em Portugal, como tal, vai atuar principalmente sobre os
estima-se uma prevalência de DPOC fenómenos mecânicos da respiração, ou seja,
de 14,2% nos indivíduos acima dos 40 sobre a ventilação externa e, através des-
anos (ONDR, 2011), com principal ex- ta, tenta melhorar a ventilação alveolar”
pressão no grupo etário acima dos 65 (Heitor, 1988, p. 2).
anos (ONDR, 2011).
Porém, a CR só se traduz em benefícios
Enquanto entidade patológica, consiste concretos se for prescrita de forma in-
numa alteração estrutural permanente dividualizada, o que leva o Enfermeiro
das vias aéreas / parênquima pulmo- Especialista em Enfermagem de Rea-
nar (GOLD, 2013), embora possa ser bilitação (EEER) a identificar os da-
estabilizada através de estratégias tera- dos relevantes para o seu processo de
pêuticas adequadas, tal como a Reabi- tomada de decisão. Neste processo, o
litação Funcional Respiratória (RFR), enfermeiro utiliza a informação dispo-
54
investigação em enfermagem de reabilitação

Esquema 1 – Resumo do enquadramento teórico do estudo

nível e processa essa informação para dos são valorizados pelo enfermeiro
decidir (Serra, 2007). O processo de to- especialista em enfermagem de reabi-
mada de decisão em enfermagem é ba- litação quando prescreve cinesiterapia
seado em informação colhida ou detida respiratória numa pessoa com DPOC?
pelo enfermeiro, informação essa que
resulta da análise que o enfermeiro faz
Objetivo
da multiplicidade de dados que lhe es-
tão disponíveis. Thompson e Thomp- O objetivo deste estudo é identificar os
son (2001), Takemura e Kanda (2003), dados valorizados pelo EEER para a
Dowding e Thompson (2003), Thomp- prescrição de cinesiterapia respiratória
son (2003) e Estabrooks (2003), citados numa pessoa com DPOC.
em Jesus (2004) salientam, igualmente,
a importância do conhecimento e de
uma decisão baseada na evidência, em- O Método de Investigação
bora incluindo a experiência e as prefe-
rências do utente naquele processo. Atendendo ao objeto de estudo, e dado
que se pretende produzir novos conhe-
Esquematicamente, podemos repre-
cimentos sobre uma temática específica
sentar os parágrafos anteriores pelo
(dados que suportam a tomada de deci-
esquema 1.
são dos enfermeiros especialistas para
Assim sendo este estudo pretendeu a prescrição de cinesiterapia), utilizá-
responder á seguinte questão: Que da- mos uma metodologia de investigação
55
investigação em enfermagem de reabilitação

qualitativa, de cariz exploratório, em ceira sessão, validando a organização


acordo com Fortin (1999) e Quivy e dos dados, a correção das repetições e
Campenhoudt (2005). omissões, e as categorias integrantes
(Grudens-Schuck et al., 2004). Os au-
O método de colheita de dados foi o tores referem a vantagem das sessões
grupo focal, técnica de investigação múltiplas por concederem maior fia-
que se enquadra na metodologia quali- bilidade aos dados colhidos, já que se
tativa (Bruggen, 2009). Tecnicamente podem validar e apurar numa determi-
consistiu na seleção de um grupo de nada sessão os dados que foram produ-
participantes, submetidos a entrevis- zidos na sessão anterior.
ta de grupo, gravada em gravador de
som. Krueger e Casey (2009) definem Na 1ª sessão estiveram presentes 9 dos
grupo focal como uma série de debates 15 convidados a participar no grupo
cuidadosamente planeados, com o in- focal. Os participantes foram incenti-
tuito de obter impressões numa deter- vados a discutir entre si opiniões, co-
minada área de interesse, que ocorram nhecimento e experiência profissional
em ambiente facilitador. A amostra do sobre o assunto. Esta forma de abor-
tipo intencional reuniu EEER, acres- dagem acarretou benefícios para o pro-
centando-se a este critério, os seguin- cesso de investigação já que, conforme
tes: Shaha (2011), é um método menos in-
timidante e moroso que a entrevista
• proximidade geográfica (residentes individual, promoveu uma abordagem
no distrito do Porto); mais profunda da temática do que com
• ser detentor do título de especialis- questionários, permitiu explorar os co-
ta em Enfermagem de Reabilitação; nhecimentos dos participantes, e a in-
teração entre eles, permitiu uma maior
• ter o mínimo de 1 ano de experiên- perceção sobre o grau de concordância
cia profissional efetiva como enfer- nas questões divergentes, possibilitan-
meiro especialista; do a identificação, descrição, análise e
resolução de pontos de conflito. Em
• ter experiência de execução e/ou cada sessão foi projetada uma apresen-
prescrição de cinesiterapia respi- tação de slides com a duração de cinco
ratória em pessoas portadoras de minutos, onde se fez o enquadramento
DPOC; da temática ou o resumo da sessão an-
terior.
• domínio da linguagem CIPE® 2.0.
A elaboração prévia de um guião da
As sessões foram em número de três,
entrevista é outro aspeto significativo,
procurando-se obter a concordância
que promoveu a fluidez da entrevista,
dos participantes sobre a análise de
aumentou a produção de dados úteis
conteúdo efetuada (que seguiu a teoria
e promoveu o cumprimento da dura-
de Bardin (1994)) na segunda e ter-

56
investigação em enfermagem de reabilitação

ção prevista para a sessão (duas horas) • competição entre pares sobre quali-
(Barbour, 2007, citado em Rio-Rober- dade da prestação de cuidados;
ts, 2011). O guião orientador ao grupo
focal, incluiu a apresentação do projeto • competição entre as unidades de
de investigação, objetivos do grupo fo- saúde onde os participantes exer-
cal, apresentação dos participantes, al- cem funções.
gumas questões pré-determinadas mas A planificação do grupo focal contou
não mandatórias, e uma lista de situa- com os seguintes aspetos técnicos:
ções que necessitavam de re-focalização
durante a sessão (Simon, 1999, citado • local das sessões: Escola Superior
em Rio-Roberts, 2011). Procurou-se de Enfermagem do Porto, no seu
elucidar a forma de funcionamento da pólo de S. João;
técnica – grupo focal e obter o consen-
timento informado para a gravação e • registo dos dados: gravação áudio
utilização dos dados, informando todos das sessões, através da utilização de
os participantes dos seus direitos e dos um gravador digital;
seus deveres.
• análise dos dados: transferência
Após a execução da sessão (ou sessões) dos ficheiros áudio para um com-
do grupo focal, seguiu-se a análise da putador e proceder à sua transcri-
informação que foi produzida e que, ção para documentos de texto, com
como referimos, após a transcrição para posterior estruturação em folha de
suporte informático (texto em formato cálculo.
Word®) e leitura flutuante do corpus
de análise, foi submetido a codificação. Execução e análise das sessões

Atendendo a que se pretende que um A execução das três sessões do grupo


grupo focal não tenha balizamentos focal, bem como a respetiva análise,
rígidos para não constranger a pro- pode ser esquematizada da forma indi-
dução de dados, mas que necessita de cada no esquema 2.
alguns limites para evitar a dispersão
desses mesmos dados, definimos que o
investigador refocalizaria a sessão nas
seguintes situações:

• abordagem da prescrição de cinesi-


terapia respiratória por outros pro-
fissionais;
Esquema 2 – Execução das três sessões do
grupo focal
• abordagem de exercícios respirató-
rios não diretamente relacionados
com a cinesiterapia respiratória;

57
investigação em enfermagem de reabilitação

Tabela 1 – Dados produzidos na primeira ses- Condições habitacionais: contacto com poeiras 0,93%
são, com as respetivas frequências relativas Condições habitacionais: divisões arejadas 0,93%
de menção pelos participantes Condições habitacionais: humidade 0,93%
Contacto direto com o médico 0,93%
Deambular 0,93%
Morfologia torácica 6,48%
Dependência nas AIVD 0,93%
Secreções brônquicas 5,56%
Dependência nas AIVD: comprar medicação 0,93%
Auscultação pulmonar 4,63%
Dependência nas AIVD: fazer compras 0,93%
Padrão ventilatório 4,63%
Dependência no autocuidado: higiene 0,93%
Capacidade para reter nova informação 3,70%
Dependência no deambular 0,93%
Antecedentes patológicos 2,78%
Dispneia 0,93%
Aquisição de competências: exercícios respiratórios 2,78%
Doença cardíaca 0,93%
Assimetria torácica 2,78%
Eficácia do reflexo de tosse 0,93%
Capacidade funcional: expetorar 2,78%
Ensino, instrução e treino: exercícios respiratórios 0,93%
Cognição 2,78%
Escala de AVD 0,93%
Permeabilidade da via aérea 2,78%
Escala de conservação da energia 0,93%
SatO2 2,78%
Estadio da DPOC 0,93%
Capacidade funcional: Expiração sustentada 1,85%
Fadiga 0,93%
Cor das extremidades e mucosas 1,85%
Fadiga após atividade: exercício físico 0,93%
Deformidade torácica 1,85%
Fadiga após atividade: tempo até ficar com fadiga 0,93%
Diagnóstico médico 1,85%
Força de vontade 0,93%
Dificuldade no autocuidado: higiene 1,85%
Gasimetria 0,93%
Dispneia após atividade: higiene 1,85%
Gestão do regime terapêutico 0,93%
Dor 1,85%
Hábitos saudáveis: higiene brônquica matinal 0,93%
Fadiga após atividade: falar 1,85%
Morfologia torácica: tórax em quilha 0,93%
Força muscular: músculos respiratórios 1,85%
Morfologia torácica: tórax em túnel 0,93%
Hábitos tabágicos 1,85%
Morfologia torácica: tórax escavado 0,93%
Morfologia da coluna: escoliose 1,85%
Motivação do prestador de cuidados 0,93%
Patologias associadas 1,85%
Orientação T/E 0,93%
Postura corporal 1,85%
Oxigenoterapia 0,93%
Radiografia pulmonar 1,85%
Padrão respiratório 0,93%
Regime farmacológico 1,85%
Padrão respiratório: posição dos lábios ao expirar 0,93%
Sinais vitais 1,85%
Padrão respiratório: tempo inspiratório e tempo
Valor de espirometria 1,85% 0,93%
expiratório
Acompanhamento por outros profissionais:
0,93% Padrão respiratório: tipo de ventilação torácica ou
Pneumologia 0,93%
abdominal
Alteração do estado de consciência 0,93%
Padrão respiratório: ventilação rápida e superficial 0,93%
Alterações pulmonares: bronquiectasias 0,93%
Palpação do tórax 0,93%
Alterações pulmonares: enfisema 0,93%
Palpação do tórax: assimetria torácica 0,93%
Amplitude torácica 0,93%
Palpação do tórax: atelectasias 0,93%
Aquisição de conhecimento: Importância da
0,93% Palpação do tórax: atrito pleural 0,93%
Reabilitação respiratória
Palpação do tórax: roncos 0,93%
Aquisição de conhecimento: Reabilitação
0,93% Palpação do tórax: secreções brônquicas 0,93%
respiratória
Palpação do tórax: sibilância 0,93%
Aquisição de conhecimentos: exercícios
0,93% Posição para dormir 0,93%
respiratórios
Presença de alteração pulmonar: atelectasia 0,93%
Aquisição de conhecimentos: inaladores 0,93%
Presença de prestador de cuidados 0,93%
Auscultação pulmonar médica 0,93%
Reflexo de tosse 0,93%
Auscultação pulmonar: crepitações 0,93%
SatO2 a dormir 0,93%
Auscultação pulmonar: intensidade do som
0,93% Secreções brônquicas profundas 0,93%
inspiratório e expiratório
TA 0,93%
Auscultação pulmonar: padrão ventilatório 0,93%
Técnica de Huff 0,93%
Auscultação pulmonar: simetria ventilatória 0,93%
Tempo de recuperação após atividade: exercício
Capacidade do prestador de cuidados 0,93% 0,93%
físico
Capacidade funcional: Dissociação dos tempos
0,93% Tempo de recuperação após atividade: inspiração
respiratórios 0,93%
profunda
Capacidade funcional: Expansão torácica global 0,93%
Timing: pós-cirúrgico 0,93%
Cognição: Avaliação Breve do Estado Mental 0,93%
Timing: agudização da DPOC 0,93%
Cognição: compreensão de discurso 0,93%
Timing: primeiro levante pós-cirúrgico precoce 0,93%
Condições habitacionais 0,93%
Tipologia de alteração pulmonar: restritiva ou
Condições habitacionais: contacto com fumadores 0,93% 0,93%
obstrutiva
Condições habitacionais: contacto com fumo de
0,93% VNI 0,93%
lareira

58
investigação em enfermagem de reabilitação

A primeira sessão iniciou-se com a segunda sessão, foi solicitado aos par-
apresentação de slides onde se efetuou ticipantes que se manifestassem sobre:
o enquadramento da temática, os quais
culminaram com a projeção da ques- • para cada dado, a concordância
tão: Que dados resultantes da avaliação sobre se era um dado usado pelos
da pessoa com DPOC são usados pelos en- EEER na prescrição de cinesite-
fermeiros de reabilitação na prescrição de rapia respiratória na pessoa com
cinesiterapia respiratória? DPOC;

A partir desse momento, foi dada a • para cada dado, a concordância do


oportunidade sequencial a cada um dos ajuste terminológico proposto;
participantes para responder à questão. • outros dados usados pelos EEER
A partir daí, o investigador foi condu- na prescrição de cinesiterapia respi-
zindo a discussão, a qual produziu os ratória na pessoa com DPOC e que
seguintes dados, para os quais se iden- não figuravam na lista apresentada.
tificam as frequências relativas de men-
ção pelos participantes (tabela 1). No final da segunda sessão obteve-se
uma nova tabela que resultou do(a):
Foi averiguada a existência de:
• 1. remoção dos dados que figura-
• dados repetidos ao longo da sessão; vam na tabela e que os participan-
• dados similares, mas terminologi- tes decidiram que não eram dados
camente diferentes; usados pelos enfermeiros de reabili-
tação na prescrição de cinesiterapia
• dados de significado pouco claro. respiratória na pessoa com DPOC;

De seguida, foi executado o agrupa- • 2. ajuste da terminologia proposta,


mento dos dados repetidos, após o qual de acordo com o solicitado pelos
se procedeu ao agrupamento dos dados participantes;
com o mesmo significado mas com sig-
nificantes diferentes. De forma a pre- • 3. adição de dados que não figura-
parar os dados para a segunda sessão, vam na tabela e que os participantes
foi efetuado um ajuste terminológico decidiram que eram dados usados
dos dados, com base na produção cien- pelos enfermeiros de reabilitação na
tífica atual e, sempre que existentes, prescrição de cinesiterapia respira-
nos termos da Classificação Interna- tória na pessoa com DPOC.
cional para a Prática da Enfermagem Os dados obtidos na segunda sessão fo-
(CIPE®), na sua versão 2.0. ram também alvo de análise de conteú-
Dos processos anteriores resultou uma do, desta feita sob a forma de um pro-
tabela, a qual serviu de base para a cesso de categorização dos dados que
segunda sessão do grupo focal. Nesta se baseou no fluxograma (esquema 3).

59
investigação em enfermagem de reabilitação

Definir e
acrescentar

Não

Sim Existem?

Sim

Hierarquizar

Despistar dados
repetidos

Sim

Esquema 3 – Fluxograma

Do processo de categorização resulta- vos, ou seja, os dados propriamente di-


ram vários níveis hierárquicos, desde tos que são utilizados pelos enfermei-
o dado (unidade de registo básica, que ros no processo de tomada de decisão.
expressa um valor único, objetivo e in- O grupo focal produziu 287 valores
decomponível), até ao domínio (consti- diferentes, o que expressa a grande
tuído por focos abrangentes da CIPE® quantidade e variedade de dados que os
2.0), passando pela sub-sub-categoria, participantes do grupo focal valorizam
sub-categoria, categoria, grupo e sub- no que concerne à prescrição de cine-
domínio. A tabela representativa da siterapia respiratória na pessoa com
categorização foi a base da terceira ses- DPOC.
são, onde os participantes validaram a
árvore hierárquica produzida. No outro extremo da árvore hierárqui-
ca temos os domínios, compostos por
focos abrangentes da CIPE® 2.0; com
Resultados
isto presente, a ilação que se pode fazer
é que todos os valores únicos e objeti-
Os resultados do presente estudo con-
vos são integráveis no âmbito de ação
sistem na seguinte tabela, a qual cons-
autónomo dos enfermeiros, pois todos
titui o resultado final do grupo focal
eles foram agrupados num domínio, ou
(tabela 2).
seja, num foco da CIPE®.
O primeiro nível da árvore hierárquica
representa os valores únicos e objeti-

60
investigação em enfermagem de reabilitação

Tabela 2 - Resultados finais do grupo focal

Consulte o Suplemento 1

Após o processo de categorização, fo- fase significativo ao que a pessoa com


ram identificados cinco domínios: DPOC faz, assume, adere e integra no
seu quotidiano; com isto podemos infe-
• Processo corporal: dados inerentes rir que os participantes do grupo focal
ao domínio anatomo-fisiológico e incluem a pessoa com DPOC nas de-
das funções corporais; cisões clínicas, já que demonstram ter
• Processo intencional: dados ineren- particular atenção à forma como a pes-
tes à atividade intencional da pes- soa com DPOC integra na sua vida o
soa, quer sejam ações ou comporta- que de terapêutico lhe é proposto.
mentos;
Na terceira posição surgem os proces-
• Processo patológico: dados ineren-
sos patológicos, ou seja, os dados ine-
tes à doença da pessoa;
rentes à doença da pessoa, ou seja, os
• Evento: dados inerentes a um acon- dados ligados diretamente ao diagnós-
tecimento limitado no tempo (pas- tico da DPOC. O facto de este domínio
sado, presente ou futuro); conter apenas 16 dados, enquanto que
• Recursos: dispositivos ou sistemas a soma dos dois domínios anteriores
utilizados pela pessoa. totaliza 256 dados, é uma clara evidên-
cia que os participantes do grupo focal
Ao analisar os dados agregados em valorizam muito mais os dados que co-
cada domínio, verificamos que 56% são lhem da própria pessoa do que os da-
relativos a processos corporais, 33% a dos que lhes são fornecidos por via do
processos intencionais, 6% a processos diagnóstico médico de DPOC. Pode-
patológicos, 3% a recursos e 2% a even- mos com isto afirmar que, embora não
tos. Significa isto que a maior parte dos menosprezem o diagnóstico médico, os
dados valorizados pelos participantes participantes do grupo focal não uti-
do grupo focal na prescrição de cine- lizam de forma significativa os dados
siterapia respiratória na pessoa com que lhe estão inerentes no seu processo
DPOC referem-se aos processos cor- de tomada de decisão; em oposição, co-
porais, ou seja, às variáveis anatomo- lhem os seus próprios dados e colhem-
fisiológicas e funções corporais. nos na individualidade da pessoa (in-
voluntária e intencional), dados esses
Mais pertinente ainda, verifica-se que que usam para prescrever cinesiterapia
em segundo lugar surgem os processos respiratória à pessoa com DPOC.
intencionais, ou seja, os dados inerentes
às ações ou comportamentos da pessoa.
Este facto permite afirmar que os par-
ticipantes do grupo focal atribuem ên-

61
investigação em enfermagem de reabilitação

Conclusões Atendendo a que os resultados deste


estudo traduzem conhecimento novo e
Como resposta à questão “numa pessoa de relevo para a prática clínica, suge-
com DPOC, quais os dados que são valori- re-se que se dê continuidade ao traba-
zados pelo EEER para a prescrição de cine- lho efetuado através da aplicação em
siterapia respiratória”, os participantes do contexto clínico dos dados obtidos,
grupo focal produziram 287 dados, 33% tal como previsto na investigação de
dos quais estão inerentes aos processos translação. Isto permitirá validar e
intencionais e apenas 6% reportam-se refinar os dados obtidos, para que se
aos processos patológicos, embora a tornem um instrumento útil para os
maior fatia corresponda aos processos enfermeiros de reabilitação e para a sua
corporais (56%). atividade autónoma de prescrição de
cinesiterapia respiratória para a pessoa
Isto indica-nos que o foco de atenção com DPOC.
destes EEER está direcionado para a
adaptação à doença e para as implica-
ções individuais que a doença acarreta, Bibliografia
em vez de se centrar na doença em si, o
que coincide com a atual conceção nu- Bardin, I. (1994). Análise de conteúdo.
clear da disciplina de enfermagem, bem Lisboa: Edições 70.
como o atual paradigma da enfermagem Brüggen, E; Willems, P (2009). A criti-
de reabilitação, e demarca-se da visão cal comparison of offline focus groups,
biomédica da DPOC. online focus groups and e-Delphi - In-
ternational Journal of Market Research.
A informação obtida permite perceber Vol. 51, Nº 3, p. 363-381.
que os EEER que participaram no gru- Direção-Geral da Saúde (2009). Orien-
po focal observam, conhecem, decidem tações Técnicas sobre Reabilitação
e executam diferentes intervenções que Respiratória na Doença Pulmonar
delimitam a sua competência para a Obstrutiva Crónica (DPOC). Circular
ação. Daí resultam cuidados de saúde di- Informativa Nº40A/DSPCD. Lisboa:
ferenciados, como a gestão dos proces- DGS.
sos de adaptação da pessoa portadora de Fortin, M. F. (1999). O processo de inves-
doença crónica, logo incurável e gera- tigação: Da conceção à realização. Loures:
dora de alterações permanentes do seu Lusociência.
estado de saúde. Estes EEER, enquanto Gold (2013). Global Strategy for the
detentores de competências específicas Diagnosis, Managment nas Prevention of
na gestão da doença crónica (como a Chronic Obstructive Pulmonary Disease
DPOC), focam a sua ação na adaptação (Revised 2013) [Em linha]. [Consult.
da pessoa a essas alterações, promoven- 23 Abr. 2013]. Disponível em http://
do o autocuidado e a incorporação de www.goldcopd.org/uploads/users/files/
comportamentos promotores da saúde. GOLD_Report_2013_Feb20.pdf

62
investigação em enfermagem de reabilitação

Grudens-Schuck, N. [et al] (2004). Fo- ONDR (2011). Relatório do Observató-


cus Group Fundamentals. [Em linha]: rio Nacional das Doenças Respiratórias
Iowa State University, 2004, [Con- 2011 - Desafios e oportunidades em tem-
sult. 10 Mai. 2012]. Disponível em pos de crise [Em linha]. [Consult. 23
http://www.extension.iastate.edu/publications/ Abr. 2012]. Disponível em http://www.
pm1969b.pdf ondr.org/Relatorio_ONDR_2011.pdf
Heitor, C. [et al] (1988). Reeducação Quivy, R. & Campenhoudt (2005). Ma-
Funcional Respiratória, 2º ed. Lisboa: nual de investigação em Ciências Sociais
Boehringer Ingelheim. (4.ª edição). Lisboa: Gradiva.
Jesus, É.H. (2004). Padrões de habilida- Rio-Roberts, M. D. (2011). How I
de cognitiva no processo da decisão clínica Learned to Conduct Focus Groups.
de enfermagem. Dissertação de Douto- The Qualitative Report, Vol. 16, Nº 1
ramento em Ciências de Enfermagem, (Janeiro 2011) p. 312-315 .
Porto: UP-ICBAS. Serra, J. P. (2007). Manual de Teoria da
Krueger, R., & Casey, M. (2009). Fo- Comunicação. Covilhã: Livros Labcom.
cus groups: A practical guide for applied Shaha, Maya (2011). Planning and
research (4th ed.). Thousand Oaks, CA: conducting focus group research with
Sage. nurses. Nurse Researcher, Vol. 18, Nº 2
(2011) p. 77-87.

A informação obtida permite perceber que os EEER


que participaram no grupo focal observam, conhecem,
decidem e executam diferentes intervenções que
delimitam a sua competência para a ação. Daí resultam
cuidados de saúde diferenciados, como a gestão
dos processos de adaptação da pessoa portadora
de doença crónica, logo incurável e geradora de
alterações permanentes do seu estado de saúde.

63
investigação em enfermagem de reabilitação

Papel/ competências do Enfermeiro de


Reabilitação em Unidades de Cuidados
Intensivos
José Alberto Teixeira Pires Pereira
Centro Hospitalar de São João, E.P.E (jalbertopereira@gmail.com)

tratamento dos dados efetuamos a aná-


Resumo
lise de conteúdo.
O presente estudo teve como objetivo A finalidade deste estudo consistiu em
conhecer as competências do enfer- compreender as competências do en-
meiro de reabilitação em unidades de fermeiro de reabilitação em contexto
cuidados intensivos de um hospital de trabalho e perceber a influência do
central da região norte de Portugal, a contexto da prática, da trajetória pes-
partir do relato das experiências dos soal e profissional na construção dos
enfermeiros. Optou-se por um estudo saberes de forma a contribuir para uma
exploratório descritivo com uma abor- melhor prática de cuidados de enferma-
dagem qualitativa. A amostra foi não gem de reabilitação.
probabilística intencional, constituída
por nove enfermeiros especialistas em No decurso do trabalho emergiram
enfermagem de reabilitação, sendo sete cinco unidades de análise: atitudes no
do género feminino e dois do masculi- desenvolvimento profissional; meca-
no, com uma média de idade de 37 anos. nismo de reação às situações stressan-
Relativamente à experiência profissio- tes ou emotivas; processo formativo;
nal apresentavam uma média de 14 fatores de desenvolvimento de compe-
anos e uma média de 3 anos em relação tências e fundamentação dos saberes.
à especialidade de reabilitação.
Palavras-chave: Enfermeiro; Reabili-
Para a recolha de dados optou-se pela tação; Unidades de Cuidados Intensi-
entrevista semiestruturada e para o vos; Competências.
64
investigação em enfermagem de reabilitação

Abstract Introdução

The goal of the present study was to A investigação científica é reconhecida


understand the competences of the pela profissão de enfermagem como
rehabilitation nurse in intensive care in uma estratégia que permite alargar co-
a central hospital in northern Portugal, nhecimentos essenciais à sua prática,
based on nurses experience reports. A sendo através desta que os enfermeiros
descriptive exploratory study with a adquirem competências que lhes per-
qualitative approach was chosen. The mitem tomar decisões adequadas e fun-
sample was non probabilistic intentio- damentadas cientificamente para obter
nal and consisted of nine rehabilitation uma melhoria dos cuidados prestados.
specialist nurses, of which 7 female
and 2 male, with an average age of O presente estudo teve como objetivo
37. In terms of professional experien- conhecer as competências do enfermei-
ce these nurses had an average of 14 ro de reabilitação em cuidados inten-
years nursing experience and 3 years sivos de um hospital central da região
rehabilitation nursing experience. norte de Portugal, a partir do relato
das experiências dos enfermeiros.
For data collection a semi-structured
interview was chosen and for data in-
Objetivos
vestigation, content analysis was per-
formed. O objetivo deste estudo consistiu em
compreender as competências do en-
The purpose of this study was to un-
fermeiro de reabilitação em contexto
derstand the competences of rehabili-
de trabalho e perceber a influência do
tation nurses in the workplace and un-
contexto da prática, da trajetória pes-
derstand the influence that the context
soal e profissional na construção dos
of practice, personal and professional
saberes.
trajectory has on the construction of
knowledge to contribute to a better
practice of rehabilitation nursing care.
Metodologia
During the work, five analysis units
arose: behaviours regarding professio- Optou-se por um estudo exploratório
nal development; stressful or emotio- descritivo com uma abordagem qua-
nal situation process; training process; litativa. A amostra foi não probabilís-
competencies development factors and tica intencional, constituída por nove
knowledge settlement. enfermeiros especialistas em enferma-
gem de reabilitação, sendo sete do gé-
Key words: Nurse; Rehabilitation; In- nero feminino e dois do masculino, com
tensive Care Unit; Competencies. uma média de idade de 37 anos. Rela-
tivamente à experiência profissional
65
investigação em enfermagem de reabilitação

apresentavam uma média de 14 anos e A enfermagem engloba um conjun-


uma média de 3 anos em relação à espe- to diversificado de saberes situados
cialidade de reabilitação. Para a recolha na sua prática profissional, podendo e
de dados optou-se pela entrevista se- devendo ser aplicados para construir,
miestruturada e para o tratamento dos melhorar ou desenvolver as conceções
dados efetuamos a análise de conteúdo. já existentes. Gostaríamos de referir a
importância que teve questionarmos a
prática dos enfermeiros especialistas
Resultados em enfermagem de reabilitação pelos
contributos que nos deram para com-
No decurso do trabalho emergiram preendermos a problemática em estu-
cinco unidades de análise: atitudes no do.
desenvolvimento profissional; meca-
nismo de reação às situações stressan- Podemos concluir que quando há al-
tes ou emotivas; processo formativo; gum tipo de resistência à mudança,
fatores de desenvolvimento de compe- os enfermeiros de reabilitação tentam
tências e fundamentação dos saberes. persuadir e motivar os colegas para a
mudança, embora reconheçam que esta
é efetuada de forma lenta, mas pro-
gressiva. Quanto à chefia é considerada
Conclusão
como desmotivadora, sem valorizar o
Os enfermeiros ao mobilizarem dife- trabalho dos enfermeiros e criando di-
rentes saberes na resolução de ques- ficuldades quando se pretende introdu-
tões com que se deparam no dia-a-dia, zir projetos que promovam a mudança.
podem levar a que muitas das respostas É dada grande importância aos regis-
obtidas para essas questões os condu- tos de enfermagem e à utilização de
zam a uma ação direcionada à especi- escalas e instrumentos de medida de
ficidade da pessoa e às suas preocupa- forma a promover a continuidade de
ções, enquadradas no seu projeto de cuidados.
vida.
As relações profissionais, nomeada-
Ao contextualizar a temática em estudo mente o trabalho em equipa são va-
salientamos o cuidado em enfermagem lorizadas e é revelada, por parte dos
como um ato que requer aprendizagem enfermeiros de reabilitação, segurança
prática e que progride à medida que o dentro da equipa, embora com algumas
enfermeiro iniciado passa a perito e se dificuldades de integração. O traba-
enriquece como pessoa, atendendo a lho em equipa é considerado como a
que a importância da prática na cons- melhor forma de dar visibilidade aos
trução dos saberes é algo que não deve cuidados prestados. O facto de se senti-
ser descurado. rem responsáveis pela visibilidade das
competências dentro da equipa de saú-
66
investigação em enfermagem de reabilitação

de faz com que os enfermeiros consi- avaliação é possível através da pesquisa,


gam desenvolver o trabalho de equipa, da indagação e da investigação,
demonstrando autonomia crescente, fornecendo contributos que permitam
enriquecendo e desafiando o futuro reconhecer e valorizar os cuidados
pessoal e profissional. Segundo Gomes prestados.
(1999) ser competente em enfermagem
“(…) implica necessariamente estar aberto Os enfermeiros entrevistados demons-
às inovações, aceitar e promover mudanças tram estar abertos a mudanças e a
na prática quotidiana”. propostas inovadoras e consideraram
necessário introduzir novos materiais
A partilha de experiências com os co- nos serviços, criar grupos de trabalho,
legas, como objetivo privilegiado para controlar os custos e a realização de en-
melhorar a prática profissional esteve sinos como as propostas mais benéficas
presente no discurso dos enfermeiros, a introduzir nos serviços.
pela consciencialização de que as prá-
ticas de cuidados se constituem como A ampliação de capacidades criativas,
percursos que podem conduzir à for- reflexivas e críticas é demonstrada atra-
mação. vés da realização de formação contínua
e dos registos das atividades realizadas,
Ao refletirem sobre as perceções, re- o que determina a aquisição e aperfei-
presentações, conhecimentos, modelos çoamento de saberes, conhecimentos e
de ação e julgamentos, os enfermeiros competências que motivam a prestação
de reabilitação são levados a encontrar pessoal e profissional.
novos significados que conduzem a
mudanças na prática. No que concerne aos mecanismos de
reação a situações stressantes ou emo-
A continuidade de cuidados é referen- tivas verificamos que os enfermeiros
ciada como relevante ao favorecer gan- recorrem frequentemente a estratégias
hos em saúde e é demonstrado interes- de coping centradas na resolução de pro-
se em envolver o doente e a família. blemas que compreendem a aceitação da
responsabilidade, a resolução planeada
A metodologia de organização do tra- de problemas e estratégias de gestão das
balho do enfermeiro especialista em respostas emotivas. São descritas como
enfermagem de reabilitação é efetua- principais dificuldades na prestação de
da de acordo com o preconizado pela cuidados as relacionadas com recursos
Ordem dos Enfermeiros, dando ênfase materiais e humanos, nomeadamente a
à avaliação inicial/ apreciação; planea- falta de enfermeiros de reabilitação nos
mento; execução e avaliação. turnos da tarde e noite e é referida a ne-
É incontestável que a avaliação dos cessidade de estratégias adaptativas e
cuidados de enfermagem é uma forma o recurso ao improviso como forma de
de garantir a sua qualidade, permitindo solucionar essas dificuldades e permitir
corrigir problemas encontrados. Esta a prestação de cuidados.

67
investigação em enfermagem de reabilitação

No processo formativo dos enfermei- de reabilitação realiza o autocuidado


ros de reabilitação são consideradas pelo doente. Na fase em que o doente
como áreas de interesse a investigação começa a despertar da sedação a que
relacionada com cuidados intensivos, esteve submetido o enfermeiro com-
com geriatria, com o papel do pensa a incapacidade do doente através
prestador de cuidados e com a do sistema parcialmente compensató-
forma de demonstrar os ganhos em rio. É dada grande importância ao sis-
saúde associados às intervenções do tema de apoio-educação e considerado
enfermeiro de reabilitação. o papel formativo do enfermeiro de rea-
bilitação como imprescindível havendo,
Todos os entrevistados consideram no entanto, necessidade de desenvolver
importante realizar formação contínua competências na área da educação para
através de leituras, frequentar congres- a saúde.
sos e reuniões científicas, bem como a
pesquisa em bases de dados. São elei- De forma a adequar o tipo de assistên-
tas como áreas prioritárias a ventilação cia às necessidades do doente é consi-
não invasiva e a prevenção de úlceras derada como etapa fundamental a ava-
por pressão. Cada vez mais se nota a liação e verificação dos resultados das
preocupação de fundamentar a prática intervenções de enfermagem através
com evidência científica. da observação, resposta do doente e fa-
miliares e dos registos efetuados.
A aquisição de competências técnico-
científicas, relacionais e de responsa- Verificam-se diferenças significativas
bilidade, na perspetiva do enfermeiro entre os enfermeiros especialistas re-
especialista em enfermagem de reabili- cém-formados e os enfermeiros com
tação, consolida-se na obtenção de um alguns anos de experiência. Nos dis-
conjunto de conhecimentos baseados cursos dos enfermeiros é referida falta
na evidência científica e na concretiza- de segurança na prestação de cuidados
ção de cuidados especializados adequa- relacionada com dificuldades em aliar
dos às necessidades do doente e tam- a vertente teórica com a prática e são
bém da sua família. considerados insuficientes os conheci-
mentos adquiridos ao longo da espe-
Nos fatores de desenvolvimento de cialidade, nomeadamente relacionados
competências é dada ênfase à incorpo- com a área de cuidados intensivos.
ração do modelo de Dorothea Orem Apesar das dificuldades é demonstrado
(1991), nomeadamente à teoria dos sis- orgulho em começar a praticar cuida-
temas de enfermagem. A ação do en- dos especializados e é dada ênfase ao
fermeiro de reabilitação numa unidade reconhecimento obtido. Constatou-
de cuidados intensivos é enquadrada se ainda, que no desenvolvimento de
no sistema de enfermagem totalmente competências, os colegas valorizam a
compensatório, no qual o enfermeiro formação prática do curso em relação

68
investigação em enfermagem de reabilitação

à teórica, emergindo do discurso, a im- Na fundamentação dos saberes, as com-


portância atribuída às experiências e à petências do enfermeiro de reabilitação
reflexão sobre as mesmas e à mobiliza- numa unidade de cuidados intensivos
ção de saberes, assim como, à relação es- são consideradas fundamentais na rea-
tabelecida com os colegas. lização de reabilitação funcional moto-
ra, nomeadamente no levante precoce
A prática e o tempo de experiência pro- e na reeducação funcional respiratória.
fissional são referidos como indispensá- Estas intervenções permitem ao enfer-
veis ao desenvolvimento do domínio da meiro de reabilitação corrigir as pos-
função. A conjugação de conhecimentos, turas incorretas, manter ou recuperar
de saber-científico, saber-ser, saber-prá- a independência nas atividades de vida
tico e saber-informação, no contexto diária e minimizar as incapacidades
dos cuidados intensivos, permite a aqui- instaladas.
sição e aperfeiçoamento de competên-
cias na área da reabilitação visando uma Como estratégias de transformação de
atuação precisa ao doente crítico, atra- competências de forma a permitir uma
vés da compreensão da globalidade dos correta adaptação ao contexto de tra-
cuidados prestados. Desta forma, e num balho é reforçada a importância do sa-
sentido progressivo, os enfermeiros re- ber-transformar conseguido com base
ferem a importância da informação pro- numa transformação individual através
veniente da formação inicial, da expe- dos conhecimentos, capacidades, atitu-
riência profissional e de vida, bem como des e comportamentos.
de outros tipos de formação realizada.
Estes resultados são indicadores da im-
A diferenciação académica é conside- portância atribuída pelos enfermeiros
rada como tendo alguma influência na às estratégias ativas de aprendizagem e
realização das funções do enfermeiro de à necessidade de formação prática, com
reabilitação nomeadamente na necessi- aplicação a casos concretos de modo
dade de adequar a informação ao nível dinâmico, para o exercício destas com-
de conhecimentos do doente. Os en- petências e para a excelência do exer-
fermeiros acreditam poder ser veículos cício profissional. É ainda reforçado o
de mudança ao nível da recuperação do conceito de aprendizagem ao longo da
doente crítico ao abordar as alterações vida em constante formação e aprendi-
psicossociais e de comunicação em con- zagem contínua, o que é corroborado
texto de cuidados intensivos procurando por Le Boterf (2003) ao referir que a
soluções para estes problemas de saúde competência como um processo dinâ-
complexos, através do desenvolvimento mico implica a capacidade de integrar
do conhecimento em enfermagem e de os vários saberes, ou seja, estamos pe-
uma prática baseada na evidência, ao ní- rante um processo dinâmico, intrínseco
vel da equipa de enfermagem e da equi- ao indivíduo em todos os momentos do
pa multidisciplinar. seu agir.

69
investigação em enfermagem de reabilitação

As competências do enfermeiro de rea- uso nas unidades de cuidados inten-


bilitação permitem-lhe colaborar na sivos, assim como para a identificação
definição, implementação, monitoriza- de alguns problemas reais que podem
ção e avaliação de estratégias com vista ser alvo de futuras pesquisas em outros
a maximizar a funcionalidade desen- trabalhos.
volvendo as capacidades do doente.
Podemos finalizar com um pensamen-
Em termos conclusivos os discursos to de Morrie Schwartz que refere que
dos enfermeiros de reabilitação lavam- “Qualquer perda, quando chega, vem sem-
nos a identificar um conjunto de com- pre cedo demais” e acrescentar que im-
petências emergentes, indispensáveis porta intervir precocemente para mini-
ao desenvolvimento da prática profis- mizar essa perda.
sional.

Refletindo sobre os dados obtidos iden-


Bibliografia
tificamos diferentes evidências de uma
autonomia progressiva por parte dos Alarcão, I. (2001). Formação reflexiva.
enfermeiros de reabilitação na tomada Referência: revista de educação e formação
de decisões, na resolução de situações em enfermagem, 6, 55-59.
imprevistas, na flexibilidade para tra-
balhar em equipa e na adoção de práti- Alarcão, I., Rua, M. (2005). Interdisci-
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vimento de competências. [Versão ele-
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das com a flexibilidade, a perceção e Florianopolis: Universidade Federal de San-
interperceção, a criatividade, o sentido ta Catarina, 14(3): 373-382. Acedido em
de organização e a iniciativa foram as 8 de Outubro de 2011, em: http://redalyc.
mais referenciadas. Por outro lado a au- uaemex.mx/pdf/714/71414308.pdf
toconfiança, a abertura a novas ideias,
a persuasão e a autonomia foram as Alarcão, I. (2005). Formação reflexiva de
menos descritas, o que vai de encontro professores. Porto: Porto Editora.
às conclusões obtidas no estudo de Go-
mes (1999) e que serviu de base a este Benner, P. (2005). De iniciado a perito: ex-
estudo. celência e poder na prática clínica em enfer-
magem. 2ª edição, Coimbra: Quarteto.
Por fim, analisando a metodologia uti-
lizada, face às perguntas de partida que Boterf, G. L. (2005).Construir competências
nos conduziram à elaboração deste es- individuais e colectivas: respostas a 80 ques-
tudo, constatamos que esta nos permi- tões. Porto: Asa Editores.
tiu esclarecer conceitos e ideias e ainda Boterf, G. L. (2003). Desenvolvendo a com-
fornecer-nos alguns dados importantes petência dos profissionais. Porto Alegre:
para refletirmos sobre às práticas em Artmed.
70
investigação em enfermagem de reabilitação

Cosme, A. F., Martins, L. M. B. (2006). Jordão, A. (1995). O balanço de competên-


Cuidar do doente com DPOC: que inca- cias: conhecer-se e reconhecer-se para gerir os
pacidades do doente? Que competências seus adquiridos pessoais e profissionais. Lis-
exigidas aos enfermeiros? Sinais Vi- boa: Comissão para a Igualdade e para os
tais, 66, 47-49. Direitos das Mulheres.
Dias, J. M. (2004). Formadores: que desem- Levy-Leboyer, C. (2009). La gestion des
penho? Loures: Lusociência. compétences. Paris: Organisation.
Dias, M. F. P. B. (2006). Construção e va- Lopes, M. J. (2006). A relação enfermeiro-
lidação de um inventário de competências: doente como intervenção terapêutica: proposta
contributos para a definição de um perfil de de uma teoria de médio alcance. Coimbra:
competências do enfermeiro com o grau de li- Formasau.
cenciado. Loures: Lusociência.
Lopes, M. J. (1999). Concepções de enfer-
Gomes, B. P. (2006). Contributos da for- magem e desenvolvimento sócio-moral: al-
mação para o desenvolvimento de competên- guns dados e implicações. Porto: Associação
cias na área de enfermagem de reabilitação. Portuguesa de Enfermeiros.
[Versão eletrónica] Texto & Contexto
Lopes, M. J. (2000). A natureza dos cui-
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dados de enfermagem: alguns contribu-
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204. Acedido em 18 de Abril de 2011 em:
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http://redalyc.uaemex.mx/pdf/714/71415202.
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gem: um quadro de análise. Revista Pen-
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de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Nunes, L. (2002). Competências morais
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Hoeman, S. P. (2000). Enfermagem de
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ca. Barcelona: Masson.
Loures: Lusociência.

71
investigação em enfermagem de reabilitação

Pires, A. L. O. (1994). As novas compe- Serrano, M. T. P. (2008). Desenvolvi-


tências profissionais. Formar, 10, 4-19. mento de competências dos enfermeiros
em contexto de trabalho. Dissertação de
Pires, A. L. O. (2002). Educação e for-
Doutoramento. Aveiro: Universidade
mação ao longo da vida: análise crítica dos
de Aveiro.
sistemas e dispositivos de reconhecimento e
validação de aprendizagens e de compe- Simões, R. M. P. (2008). Competências
tências. Dissertação de Doutoramento. de relação de ajuda no desempenho dos
Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, cuidados de enfermagem. Dissertação de
Faculdade de Ciências e Tecnologia. Mestrado. Porto: Universidade do Por-
to – Instituto de Ciências Biomédicas
Pires, A. L. O. (1996). Os balanços de
Abel Salazar.
competências. Formar, 21, 28-31.

Refletindo sobre os dados obtidos identificamos


diferentes evidências de uma autonomia progressiva
por parte dos enfermeiros de reabilitação na tomada
de decisões, na resolução de situações imprevistas, na
flexibilidade para trabalhar em equipa e na adoção de
práticas inovadoras.
As competências pessoais relacionadas com
a flexibilidade, a perceção e interperceção, a
criatividade, o sentido de organização e a iniciativa
foram as mais referenciadas. Por outro lado a
autoconfiança, a abertura a novas ideias, a persuasão
e a autonomia foram as menos descritas, o que vai de
encontro às conclusões obtidas no estudo de Gomes
(1999) e que serviu de base a este estudo.

72
investigação em enfermagem de reabilitação

Contributo dos cuidados de enfermagem de


reabilitação na pessoa com dependência em
contexto de Cuidados de Saúde Primários
Fernando João Alves
UCC de Ermesinde (joao.rm.alves@gmail.com)

Resumo de Enfermeiros de Reabilitação para os


Cuidados de Saúde Primários impli-
A implementação de projetos poten- cou novas intervenções nas diferentes
ciadores da qualidade de serviços é áreas de atuação que fazem parte das
complexa, assim como a sua monito- suas áreas de abrangência. Perante es-
rização objectiva e precisa. No entanto tas novas áreas que o Enfermeiro de
na nossa perspectiva a qualidade tem Reabilitação desenvolve nos Cuidados
que ser vista de uma forma dinâmica, de Saúde Primários, é viável avaliar-se
em que há várias entradas e saídas no a qualidade dos Cuidados de Enferma-
sistema organizacional. Uma das con- gem prestados. A satisfação é um dos
dições potenciadoras da qualidade do indicadores da avaliação da qualidade
produto e dos serviços, passa por entre e perante esta problemática surgiu o
outros factores, pela formação que os tema:
seus profissionais têm. Passa também • O contributo dos Cuidados de En-
pela actividade dos enfermeiros junto fermagem de Reabilitação na pes-
das pessoas alvo de cuidados. Nesta soa com dependência em contexto
perspectiva a avaliação incidiu sobre de Cuidados de Saúde Primários.
o comportamento do Enfermeiro no
desempenho das atividades inerentes O objetivo deste estudo, foi de avaliar o
aos cuidados prestados à pessoa, tendo grau de satisfação das pessoas depen-
em conta o desenvolvimento científico dentes e das pessoas prestadoras de
e técnico da profissão. O recrutamento cuidados relativamente aos cuidados de

73
investigação em enfermagem de reabilitação

Enfermagem de Reabilitação no domi- The implementation of projects that


cílio em contexto de Cuidados de Saú- can increase the potencial of services
de Primários. quality is complexe, as well as their ob-
jective and accurate monitoring. How-
Para tal realizamos um estudo de caso, ever, from our perspective the quality
transversal, quantitativo num ACES has to be seen in an dynamic way, in
numa população de 74 pessoas que ti- which there are several inputs and out-
veram este tipo de assistência. puts in the organizational system. One
De uma forma global a maioria das of the conditions who potenciate the
pessoas estão satisfeitas (85,77%) com quality of the product, and in the con-
os cuidados de Enfermagem de Reabi- text of health institutions, of services
litação. goes by, among others factors, their
professionals training. Also involves the
Verificamos também que as dimensões activity of nurses among those target-
com maior satisfação são o Envolvi- ed care. In this perspective the assess-
mento do utente, a Individualização da ment focused on the behavior of Nurses
informação e a Qualidade na assistên- in carrying out activities related to the
cia. A dimensão que manifesta um grau care of the person, taking into account
de satisfação baixo é a Formalização the scientific and technical development
da informação. De salientar que a mé- of the profession. Rehabilitation Nurs-
dia de idade dos inquiridos estudo é de es recruitment for primary care health
68,8 anos e o grupo etário com maior services meant new interventions in the
representação na população para as different areas that are part of their ar-
pessoas dependentes e para as pessoas eas of coverage. Faced with these new
que prestam cuidados situa-se entre os areas that the rehabilitation Nurse de-
71 e os 80 anos. Nesta realidade, estu- velops in primary health care, it is fea-
dada, temos pessoas idosas a cuidar de sible to evaluate the quality of Nursing
outras pessoas idosas. Care provided. The satisfaction is one
of the indicators of quality evaluation
Palavras-chave: Satisfação, Enferma- and by this problem came up the theme:
gem de Reabilitação, Cuidados de Saú-
de Primários, SUCECS26. • The contribution of rehabilitation
nursing care in the dependent per-
son in the context of primary health
Care.
Abstract
The objective of this study was to assess
The contribution of nursing care reha- the degree of satisfaction of dependent
bilitation on the person with depend- persons and caregivers in nursing home
ence in the context of primary health rehabilitation in the context of primary
care. health Care services.

74
investigação em enfermagem de reabilitação

To do this we conducted a cross-sec- mos dissociar de forma alguma o eleva-


tional quantitative case study, in a do contributo ao nível de sentimentos
ACES on a population of 74 peo- gerados na sua atuação junto da pessoa
ple who had that kind of assistance. dependente e da pessoa prestadora de
Overall most people are satisfied with cuidados.
(85.77%) the rehabilitation nursing
care. Santos (2009) no seu estudo demons-
trou que os seus participantes atri-
We also note that the dimensions with buíram sentimentos de confiança,
greatest satisfaction are the involve- tranquilidade, gratidão, satisfação e va-
ment of the beneficiary, the Individual- lorização à intervenção do Enfermeiro
ization of information and the quality de Reabilitação que estão relacionados
in assistance. The dimension that ex- com as suas competências profissio-
presses a lower degree of satisfaction nais, na informação transmitida, na
is the formalization of information. It ajuda disponibilizada e na eficácia do
should be noted that the average age programa terapêutico estabelecido. A
of our study is 68.8 years, step of age satisfação surge assim como um dos
with increased representation in our contributos na qualidade de cuidados
population to dependants and caregiv- de Enfermagem de Reabilitação pres-
ers is between 71 and 80 years. In this tados.
reality, studied, we have the elderly
taking care of other elderly people.. Segundo Lacerda (2005, p.20) “quali-
dade é a filosofia de gestão que procura
Keywords: Satisfaction, Rehabilitation alcançar o pleno atendimento das ne-
Nursing, Primary Healthcare, SUCE- cessidades e a máxima satisfação das
CS26. expectativas dos clientes”.

Sendo, a satisfação, uma das compo-


nentes da avaliação da qualidade dos
cuidados prestados e a Enfermagem
O contributo que a Enfermagem de de Reabilitação uma Especialidade que
Reabilitação pode dar no contexto dos tem como objetivo a recuperação e a
Cuidados de Saúde Primários e segun- adaptação funcional da pessoa e dos
do a OE (2010) permitem à pessoa o seus familiares, quisemos saber até
desenvolvimento de habilidades e ca- que ponto estes dois intervenientes,
pacidades funcionais, a recuperação e o no processo de autocuidado, estariam
desenvolvimento da autonomia, a rein- satisfeitos com a atuação deste profis-
tegração familiar e social, sem nunca sional, em contexto CSP, com atendi-
excluir do seu contexto sociofamiliar. mento domiciliário.

Enfermagem de Reabilitação é sinoni- A mudança ocorrida no SNS, levou a


mo de competência técnica. Não pode- alterações nos CSP que originaram,
75
investigação em enfermagem de reabilitação

por sua vez, o aparecimento de novas A satisfação, como contributo do traba-


unidades de atendimento às pessoas e a lho de Enfermagem de Reabilitação, foi
integração de novos profissionais sen- o nosso guia de orientação e objetivo
do um deles o Enfermeiro de Especia- principal deste estudo.
lista de Reabilitação.
Propusemo-nos conhecer o grau de sa-
Inicialmente este profissional começou tisfação das pessoas dependentes e da
a desenvolver as suas competências em pessoa prestadora de cuidados face aos
atendimento domiciliário, sendo depois cuidados de Enfermagem de Reabilita-
colocado nas ECCI que fazem parte da ção prestados no domicílio.
RNCCI. De acordo com a Ordem dos
Enfermeiros (2009) estes profissio- Para avaliar a satisfação precisávamos
nais devem assegurar o apoio e supor- de um instrumento validado para a po-
te emocional às famílias ou às pessoas pulação portuguesa e apto para avaliar
prestadoras de cuidados, capacitando a satisfação nos CSP. Ribeiro (2003)
-os para a integração da pessoa depen- validou um formulário para a avaliação
dente no seio da família. da satisfação com os cuidados de Enfer-
magem nos Centros de Saúde: SUCE-
O que distingue os cuidados de Enfer-
CS26 e optamos pela utilização deste
magem de Reabilitação é o tipo de co-
formulário.
nhecimento que o Enfermeiro Especia-
lista possui e o tipo de intervenção que O formulário SUCECS 26 avalia as
faz quando presta cuidados à pessoa dimensões “Qualidade na assistência”,
dependente e sua família. “Individualização da Informação”, “En-
volvimento do utente”, “Informação de
Por isso, torna-se necessário avaliar a
recursos”, “Formalização da informa-
qualidade dos cuidados prestados a es-
ção” e “Promoção do elo de ligação”.
tes dois intervenientes, no processo de
cuidar, com vista ao autocuidado e que Dimensões que estão patentes na pres-
são realizados pelo Enfermeiro Espe- tação dos cuidados de Enfermagem de
cialista de Reabilitação. Reabilitação às pessoas dependentes e
pessoas prestadoras de cuidados e fa-
O desafio estava assim lançado, no en-
miliares no domicílio e em contexto de
tanto, o aparecimento do Enfermeiro
Cuidados de Saúde Primários.
de Reabilitação nos CSP ainda é recen-
te e muitos destes profissionais só há Outra das nossas limitações foi o tama-
pouco tempo é que começaram a exer- nho da nossa população, que como já
cer em pleno esta Especialidade, com foi referido sendo uma atividade recen-
o aparecimento das ECCI em finais do te obtivemos um número de setenta e
ano de 2009. Por este motivo, pouca quatro pessoas e incluímos na aplicação
bibliografia existe acerca deste tipo de do formulário as pessoas dependentes
atuação tendo sido uma das limitações e as pessoas prestadoras de cuidados
do nosso estudo.
76
investigação em enfermagem de reabilitação

que usufruíram da intervenção da En- apresentados pela Eurpoean Stroke


fermagem de Reabilitação no domicílio. Iniciative que consideram o AVC como
primeira causa de morbilidade e inca-
A utilização dos mesmos testes esta- pacidade prolongada na Europa (UCC-
tísticos utilizados no estudo de Ribeiro MI, 2007).
(2003) teve como propósito permitir a
comparação de resultados. Esta compa- As pessoas prestadoras de cuidados já
ração representa uma fragilidade deste cuidam da pessoa dependente há mais
estudo dado que a população passível de 5 anos, com um valor percentual de
de ser trabalhada foi reduzida. 35%.

A população foi constituída por trinta e O tempo que a pessoa dependente es-
quatro pessoas dependentes e quarenta teve inserida em PRD, foi de 64,9% e o
pessoas prestadoras de cuidados num valor com a maior percentagem situa-
total de setenta e quatro pessoas. Têm se no período de tempo de um mês a
uma idade compreendida entre os 19 e seis meses, sendo o processo de Rea-
os 90 anos, sendo a idade média de 68 bilitação, com o objetivo de retomar o
anos sobressaindo uma percentagem autocuidado, um processo moroso.
elevada de idosos.
Na análise das repostas dadas ao for-
De salientar que a maior percentagem mulário SUCECS26 pela população é
de pessoas dependentes situa-se en- de salientar que em 10 questões obtive-
tre os 71 e 80 anos e também a maior mos uma percentagem de 100% no ín-
percentagem das pessoas prestadoras dice mais alto de satisfação. Numa das
de cuidados situarem-se nesse mes- questões, a opção de escolha “Nunca”
mo grupo etário sugerindo que temos teve uma percentagem de 55%. Essa
idosos a cuidar de outros idosos, o que questão foi: “Os enfermeiros preocu-
logo implica limitações no ato de cui- pavam-se em dar informação escrita
dar com vista ao autocuidado. sobre os assuntos que informam ou
explicam (panfletos, livros, ou mesmo
O nível de escolaridade também é bai- escrever em papel coisas que são im-
xo, com cerca de 58% da população com portantes para si).
o ensino básico. Em relação à sua situa-
ção profissional a maior percentagem é De mencionar que nas questões que
de reformados com 71,6% que também se referiam ao Centro de Saúde, gran-
em termos comparativos está de acor- de parte das escolhas recaiu na opção
do com a idade avançada da população. de “não se aplica/sem opinião” porque
muitas pessoas da população nunca ti-
A patologia que maioritariamente foi nham ido ao Centro de Saúde devido à
o motivo para as pessoas ficarem de- sua situação de dependência ou recor-
pendentes, foi o AVC. Este valor vai reram, a este, há muitos anos.
de encontro aos dados internacionais,

77
investigação em enfermagem de reabilitação

Respondendo à pergunta de partida seu autocuidado ou na falta dessa pos-


que orientou este estudo: “Será que as sibilidade, intervindo junto de algum
pessoas se sentem satisfeitas com os familiar para que o faça, promovendo
cuidados de Enfermagem de Reabili- com isto a interação com a pessoa pres-
tação prestados no domicílio”, pode- tadora de cuidados.
mos afirmar que de uma forma global
a grande maioria das pessoas inquiri- O Enfermeiro de Reabilitação tem su-
das está satisfeita com os cuidados de cesso na sua atuação se envolver as
Enfermagem de Reabilitação com um pessoas no seu programa terapêutico
valor de 85,7%, em que as duas dimen- e é este envolvimento/participação no
sões apresentam um grau de satisfação processo de reabilitação, com vista à
muito elevado rondando os 99% sendo autonomia, que conduz a uma maior
estas, o “Envolvimento do utente”, a satisfação das pessoas atendidas.
“Individualização da informação”.
Santos (2009), no seu estudo, refere
Quadro 1 - Estatística descritiva relativamente que um dos sentimentos perceciona-
às dimensões da satisfação das pessoas com
os cuidados de Enfermagem de Reabilitação
dos, pelo prestador de cuidados em
em contexto domiciliário (N=74) relação ao Enfermeiro de Reabilita-
ção, era o sentimento de satisfação que
Média está associado à eficácia do programa
3 - Envolvimento do utente 99,84 terapêutico estabelecido. Na mesma
2 - Individualização da informação 99,02 circunstância Costa (2011) realça que
1 - Qualidade na assistência 89,88 a pessoa valoriza a importância que o
4 - Informação de recursos 75,67 enfermeiro atribui à sua opinião, rela-
6 - Promoção de elo de ligação 69,97 tivamente ao seu estado de saúde, pelo
5 - Formalização da informação 45,27 que os profissionais de enfermagem
Satisfação global SUCECS26 85,77 devem reconhecê-lo como parceiro de
cuidados.

A dimensão, “Individualização da in-


A dimensão “Envolvimento do utente” formação”, reflete o modo como as
reflete a ideia que a pessoa se encontra pessoas percecionam o processo de co-
satisfeita pelo facto de o enfermeiro de- municação que o enfermeiro estabelece
senvolver todo o seu trabalho centra- com elas, como meio para que o indivi-
do nela, considerando a sua opinião na duo aprenda a lidar com a situação de
conceção dos cuidados e mostrando à saúde/doença, Ribeiro (2003).
pessoa que conhece bem a sua situação
e portanto os cuidados que são propos- O facto de esta dimensão ter uma satis-
tos são justificados por esse conheci- fação de 99%, em relação ao trabalho
mento, Ribeiro (2003). Um dos objeti- do Enfermeiro de Reabilitação, mais
vos da Enfermagem de Reabilitação é uma vez realça que este, através da co-
capacitar a pessoa para a realização do municação que estabelece com a pessoa
78
investigação em enfermagem de reabilitação

dependente e a pessoa prestadora de Outro dos objetivos deste estudo foi


cuidados, é essencial para que o primei- identificar os fatores que influenciam
ro consiga atingir a sua autonomia e o a satisfação com os cuidados de Enfer-
segundo veja diminuída a sobrecarga magem de Reabilitação. Os fatores que
do seu trabalho, ao lidar com a doença influenciam a satisfação das pessoas
do seu familiar. atendidas com cuidados de enferma-
gem são a o género, em que o género
Costa (2011) refere que, para as pes- masculino se encontra mais satisfeito
soas, a sua satisfação relaciona-se com que o género feminino.
o atendimento, com a informação, com
a confiança e compreensão dos profis- Outro dos fatores que também influen-
sionais que facilitam o envolvimento ciaram a satisfação das pessoas foram o
destas no cuidar. estado civil, a escolaridade e a situação
profissional.
Perante esta justificação também, de
certa forma, se encontra explicado que Também, o facto de as pessoas per-
a dimensão que obteve um grau de sa- tencerem a diferentes Unidades que
tisfação mais baixo foi a “Formalização compõe o ACES Grande Porto III –
da informação” com um valor de 45% Valongo/Ermesinde foi um fator que
levando a que a atividade do enfermeiro determinou a perceção diferente na
se direcione para aspetos mais formais satisfação das pessoas que foram aten-
da sua atividade, no que se relaciona didas por este tipo de cuidados especia-
com proporcionar informação escri- lizados, no seu domicílio.
ta. Neste estudo, como já foi descrito,
pouca informação escrita é fornecida São, assim, vários os fatores que in-
habitualmente, mas esta informação é fluenciam a satisfação das pessoas. No
complementada pelo envolvimento da entanto, o fato do tempo que permane-
pessoa, com demonstração pela práti- cem em programa de Reabilitação, no
ca e pela individualização de um plano domicílio, não é um fator que influencia
terapêutico estabelecido com a pessoa a sua satisfação.
dependente e a pessoa prestadora de Outro objetivo que nos propusemos,
cuidados. neste estudo foi de saber se as pessoas
Por este motivo, sugere-se que os En- dependentes teriam uma satisfação di-
fermeiros de Reabilitação pensem em ferente da pessoa prestadora de cuida-
arranjar estratégias, com informação dos.
escrita, para obterem um grau de sa-
Os resultados obtidos mostram que as
tisfação ainda maior, tendo em especial
pessoas dependentes têm uma maior
atenção que está perante uma popula-
satisfação na dimensão Individualiza-
ção envelhecida e com graus académi-
ção da informação e as pessoas pres-
cos baixos.
tadoras de cuidados têm uma maior

79
investigação em enfermagem de reabilitação

satisfação na dimensão “Informação de e educativa para o autocuidado, numa


recursos”. perspectiva personalizada que carac-
teriza os cuidados de Enfermagem de
Portanto, estas duas pessoas, que são Reabilitação, com vista à recuperação
abrangidas pelos cuidados de Enferma- e adaptação funcional da pessoa e seus
gem de Reabilitação, têm uma satisfa- familiares.
ção diferente uma da outra.
Denotamos, assim, vários contributos
No cômputo geral as pessoas que tive- nesta forma de atuação e atendimen-
ram atendimento de cuidados de Enfer- to pelos Enfermeiros de Reabilitação
magem especializados de Reabilitação como a autonomia, o autocuidado e o
no seu domicílio estão muito satisfeitas. que ressalta, neste estudo, é a satisfação
das pessoas atendidas.
Os cuidados que as pessoas que inte-
graram este estudo receberam, diferem Sem esta satisfação não se poderiam
dos que tinham anteriormente, cuida- obter os ganhos que são estabelecidos
dos com uma vertente mais inclusiva e entre o Enfermeiro de Reabilitação e as
participativa, com dois objetivos que se pessoas atendidas. Esta satisfação não
interrelacionam um com o outro, auto- difere muito dos outros estudos que
nomia e diminuição da sobrecarga de usaram este instrumento estando em
quem cuida e de quem é cuidado. consonância na escolha das três dimen-
sões, independentemente da sua colo-
O autocuidado é um complemento de
cação, por ordem de escolha.
trabalho destes dois agentes (pessoa
dependente e pessoa prestadora de cui- Três dimensões que caracterizam os
dados) para melhorarem a sua quali- cuidados de Enfermagem de Reabili-
dade de vida, contribuindo assim para tação e os cuidados de Enfermagem
uma melhor satisfação no atendimento nos CSP: a “Qualidade na assistência”,
que usufruem por parte dos enfermei- a “Individualização da Informação” e o
ros Especialistas de Reabilitação. Es- “Envolvimento do utente”, que são es-
tes Enfermeiros utilizam o contexto senciais para uma a satisfação da pessoa
domiciliário como um fator facilitador atendida, pessoa dependente e pessoa
na recuperação destas pessoas, como prestadora de cuidados e consequen-
forma de um atendimento mais perso- temente melhor qualidade de cuidados.
nalizado.
Costa (2011) refere que para as pes-
Como refere Ordem dos Enfermeiros soas a sua satisfação relaciona-se com o
(2009), comum a todas as Unidades é atendimento e com a informação, com a
a necessidade de cuidados especializa- confiança expressa pelos profissionais,
dos que incluam o ensino e treino dos facilitando o envolvimento destes, no
familiares para a prestação de cuida- processo de cuidar.
dos e apoio de natureza informativa

80
investigação em enfermagem de reabilitação

Perante o descrito e perante uma nova promover a autonomia e máxima satis-


forma de atendimento nos CSP que fação da pessoa e deste modo preservar
contribui para uma satisfação das pes- a autoestima (Brummel-Smith, 1990,
soas atendidas pela Enfermagem de citado por Hoeman, 2000). Um dos
Reabilitação, sendo esta mais do que contributos/objetivos da Enfermagem
uma especialidade de Enfermagem. Ci- de Reabilitação já está atingido, a satis-
tando a Ordem dos Enfermeiros (2010, fação das pessoas atendidas.
p.26) “…pode ser uma estratégia de
assistência na configuração deste novo
paradigma de prestação de cuidados de Bibliografia
saúde.”
Costa M. L. (2011). Mais Saber, Melhor
Considerando que este modelo de orga- Enfermagem: A repercussão da formação
nização de atendimento, com as UCC e na qualidade de cuidados. Lisboa: Uni-
as ECCI está ainda no princípio da sua versidade Lusófona de Humanidades e
atividade, sugere-se a utilização deste Tecnologia.
instrumento, em populações maiores
e em outras áreas geográficas, para se Hoeman P. (2000). Enfermagem de Rea-
poder comparar resultados e saber até bilitação: Aplicação e Processo. 2.ª Ed.
que ponto as pessoas estão satisfeitas Loures: Lusociência.
com os cuidados de Enfermagem de Lacerda, M. R.; Giacomozzi, C. M.;
Reabilitação. Oliniski, S. R.; Truppel, T. C. (2006).
Como obra inacabada que é toda a in- Atenção à saúde no domicílio: modali-
dade que fundamentam a sua prática.
vestigação, lançamos o desafio da cria-
Saúde e Sociedade v.15, n.2, p.88-95.
ção de um instrumento mais vocacio-
nado para a avaliação do atendimento Ordem dos Enfermeiros (2009). Rede
domiciliário, no entanto, parte do tra- Nacional de Cuidados Continuados Inte-
balho do Enfermeiro de Reabilitação grados – Referencial do Enfermeiro. Lis-
é efetuado nas UCC que estão incor- boa: Conselho de Enfermagem da OE
poradas nas Unidades que compõe os
Cuidados de Saúde Primários. A ava- Ordem dos Enfermeiros (2010). En-
liação periódica da satisfação com este fermagem de Reabilitação e Cuidados
instrumento ou outro, deve fazer parte Continuados: consolidação de premis-
sas antigas ou um novo desafio?. Revis-
da rotina habitual das Unidades que
ta da Ordem dos Enfermeiros. nº. 33, p.
prestam cuidados, para se determinar
22-27.
de que forma os cuidados de Enferma-
gem de Reabilitação estão a contribuir Ordem dos Enfermeiros (2010). Re-
para a satisfação das pessoas atendidas. gulamento das competências do Enfer-
meiro Especialista em Enfermagem de
Os objetivos gerais da Enfermagem Reabilitação – Regulamento aprovado na
de Reabilitação são melhorar a função,
81
investigação em enfermagem de reabilitação

Assembleia Geral Extraordinária. [Con- magem: Construção e Validação de um


sult.2011-06-08] Disponível na http:// Instrumento de medida. Dissertação
www.ordemenfermeiros.pt/legislacao/Docu- para Provas Públicas. Porto: ESEnfSJ.
ments/LegislacaoOE/RegulamentoCompeten-
ciasReabilitacao_aprovadoAG20Nov2010.pdf Santos, M. F.; Pedro, M. C.; Lopes, N.
M. S.; Azevedo, T. S. (2009). Sentimen-
Ribeiro, A. L. (2005). O percurso da tos do familiar Cuidador face à inter-
construção e validação de um instru- venção do Enfermeiro de Reabilitação,
mento para a avaliação da satisfação Revista Investigação em Enfermagem. nº
dos utentes com os cuidados de enfer- 19.
magem. Revista Ordem dos Enfermeiros.
nº 16, p. 53-60. UMCCI (2007). Enquadramento das
Unidades de Reabilitação de Acidentes
Ribeiro, A. L. (2003). Satisfação dos Vasculares Cerebrais. Lisboa: Unidade de
Utentes com os Cuidados de Enfer- Missão para os Cuidados Continuados.

O autocuidado é um complemento de trabalho destes


dois agentes (pessoa dependente e pessoa prestadora
de cuidados) para melhorarem a sua qualidade de vida,
contribuindo assim para uma melhor satisfação no
atendimento que usufruem por parte dos enfermeiros
Especialistas de Reabilitação. Estes Enfermeiros
utilizam o contexto domiciliário como um fator
facilitador na recuperação destas pessoas, como forma
de um atendimento mais personalizado.

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Porto // 2014

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