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Universidade Federal de Pelotas

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação


Centro de Desenvolvimento Tecnológico
Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais

LUCAS DA SILVA

ANÁLISE DO USO DE DIFERENTES ARGAMASSAS EM BLOCOS ESTRUTURAIS DE


GESSO

Anteprojeto de pesquisa apresentado ao


Programa de Pós-Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais
como requisito parcial do processo seletivo 2021/2, nível Mestrado.
Área de concentração: Ciência e Tecnologia dos Materiais
Linha de Pesquisa: Processamento e aplicações industriais de materiais compósitos
Professor Orientador: Hebert Luis Rossetto

Pelotas, Julho de 2021.


1 Caracterização do Problema

Apesar dos estragos na economia nacional provocados pela pandemia do novo


Corona vírus, os números do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE) não deixam dúvidas sobre a importância da construção
civil para a retomada do País. Enquanto a economia nacional caiu 9,7% no 2º trimestre, a
construção civil caiu 5,7%. Dessa forma, a construção civil é tida como uma das indústrias
mais economicamente relevantes para o Brasil. Todavia, as construções possuem
importantes características negativas, tais como: altos níveis de consumo de energia,
geração de resíduos sólidos e emissão de gases de efeito estufa. Segundo a Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE; 2020),
apenas no ano de 2019, a construção civil gerou cerca de 45 milhões de toneladas de
resíduos sólidos. Outros dados alarmantes foram reportados no Balanço Energético
Nacional (BEN) de 2020, tendo como base o ano de 2019. Tal relatório indicou que 58,2%
da energia consumida no país provem de combustíveis de fontes não renováveis, enquanto
somente 41,8% da matriz energética é de fonte renovável. Tais estão discriminadas na tabela
1, indicando uma grande dependência do petróleo. O que inclusive pode levar a problemas
de ordem econômica, uma vez que o preço do petróleo é ditado pelo mercado internacional
e apresenta grandes flutuações.
Tabela 1 – Produção de energia no Brasil.

FONTES NÃO RENOVÁVEIS


Petróleo 43,7%
Gás natural 13,2%
Carvão mineral 0,7%
Outras fontes não renováveis 1,0%
FONTES RENOVÁVEIS
Produtos da cana-de-açúcar 16,6%
Energia hidráulica 10,9%
Lenha e carvão vegetal 7,9%
Eólica 1,4%
Solar 0,1%
Outras fontes renováveis 5,0%
Fonte: BEN, 2020.
A fim de mitigar tais problemáticas de ordem econômica e ambiental, existem
novos processos construtivos em desenvolvimento, especialmente em se tratando de novos
materiais capazes de compor estruturas pré-fabricadas. Nesse sentido, cita-se a aplicação
do material gesso como blocos estruturais. O gesso é um material já difundido na construção
civil, utilizado em placas de revestimento, fabricação de cimento, divisórias de ambiente e,
atualmente, em blocos estruturais de alta resistência. A utilização do bloco estrutural de
gesso tem ganhado importância devido a diversos fatores econômicos, tais como: redução
de cargas na fundação; redução do aço nas estruturas autoportantes de concreto armado;
menor custo de aplicação; e resistência mecânica de até 200 Kgf/cm². Por esses motivos, o
bloco de gesso tem capacidade de substituir os tradicionais blocos cerâmicos e de concretos
utilizados no mercado atual.
De acordo com ROSSETTO (2011), de modo geral, a resistência mecânica do
gesso tem relação direta com a compactação e aderência entre os cristais desse material.
Esse último aumenta à medida que a distância cristal à cristal diminui. Também, outro
parâmetro que contribui para a resistência mecânica é a razão entre o comprimento e o
diâmetro de seus cristais. A combinação desses fatores dão origem a um gesso de alta
resistência mecânica. A figura 1 ilustra a microestrutura de um material à base de um gesso
obtido com a nova tecnologia que eleva seu desempenho estrutural.

Figura 1 – Microestrutura da gesso de alto desempenho, resistência à compressão = 10 Mpa.


Fonte: ROSSETTO, 2011.

Além disso, ROSSETTO (2011) afirma que a resistência à compressão é


diretamente relacionada com a massa específica de qualquer material. Dessa forma, o
processo de obtenção da resistência à compressão do gesso é relacionado com a massa
específica teórica de 2,32g/cm³. Isso é mostrado na Figura 2, que aborda o resultado da
relação pressão de compactação e massa específica dos novos materiais a base de gesso.

Figura 2 – Massa específica versus pressão de compactação dos novos materiais a base de gesso.
Fonte: ROSSETTO, 2011.

Nesse viés, o presente trabalho visa estudar o uso de diferentes argamassas de


assentamento nos blocos estruturais de gesso, avaliando o desempenho estrutural do
conjunto bloco de gesso e argamassa. Além disso, executar os ensaios de compressão,
flexão e cisalhamento conforme a norma brasileira de alvenaria estrutural, NBR 16868
(2020), e comparar os resultados com outras pesquisas na literatura envolvendo blocos
cerâmicos e de concreto.

2 Objetivos e Metas

O objetivo geral dessa pesquisa é avaliar o uso de argamassas com blocos


estruturais de gesso, no qual é preciso analisar os efeitos das variáveis em interesse, como
por exemplo a compressão, flexão e cisalhamento dessas peças, como também da
resistência ao fogo.
Para atingir o objetivo geral foram delimitados os seguintes objetivos específicos:
• Descrever os efeitos do uso de diferentes argamassas de assentamento entre os
blocos estruturais de gesso;
• Avaliar o desempenho estrutural do conjunto bloco gesso e argamassa;
• Simular os efeitos de compressão, flexão e cisalhamento em paredes testes (ensaios
em laboratório);
• Avaliar a resistência ao fogo conforme as normas técnicas vigentes (ensaios em
laboratório);
• Modelar numericamente um conjunto de blocos estruturais de gesso e argamassas
sob compressão, flexão e cisalhamento, utilizando o método dos elementos finitos e
comparar com os ensaios de laboratórios.

3 Metodologia

A metodologia foi elaborada e dividida em 6 etapas a serem realizadas ao longo


da pesquisa, em um formato que seja possível atingir os objetivos do projeto e obter os
resultados esperados.

3.1 Caracterização do bloco de gesso


Para a caracterização do bloco estrutural de gesso é indispensável realizar
ensaios relativos à resistência à compressão, assim é possível classificar cada bloco
conforme as suas especificações estruturais. Ainda, faz-se necessário verificar os dados
geométricos, funcionais e termoacústicos, como abordados na tabela 2 – ficha técnica do
bloco de gesso de elevado desempenho mecânico.
Tabela 2 – Ficha técnica do bloco de gesso de elevado desempenho mecânico (BEN, 2019).

Fonte: INOVAMAT, inovação em materiais.


3.2 Caracterização da argamassa
Na alvenaria estrutural, a argamassa tem função de ligação entre os blocos,
uniformizando os apoios entre eles. O conjunto bloco mais argamassa forma um elemento
misto chamado de alvenaria, que é capaz de resistir diferentes carregamentos e condições
ambientais. Tradicionalmente, a argamassa para assentamento é composta de cimento, cal
e areia.
Para a caracterização da argamassa são necessários os seguintes ensaios:
A) Trabalhabilidade: ensaio feito em laboratório, através do ensaio de consistência
descrito na NBR 13276 (2005).
B) Retenção de água: ensaio necessário para medir a quantidade de cal de uma
argamassa especifica. A cal é um excelente retentor de água, cede água aos
poucos. Logo, ao assentar a argamassa no bloco, dependendo do seu teor de
retenção, irá perder água para o bloco a qual foi assentada.
C) Aderência: a resistência de aderência é diretamente proporcional à quantidade de
cimento na argamassa. Além disso, as duas propriedades importantes para esse
fenômeno são a capacidade de retenção e a trabalhabilidade. Assim, a água
cedida penetra nos poros do bloco e, após a cristalização da argamassa, forma
pequenas cunhas que resultam na aderência. Logo, o ensaio de tração na flexão
na alvenaria pode medir indiretamente a aderência bloco-argamassa, conforme
mostra a figura 5.
D) Resistência à compressão: existem dois tipos de ensaios, o primeiro é com o uso
de corpo-de-prova com a argamassa isolada, livre para se deformar lateralmente,
e o segundo é o ensaio de compressão em prismas de alvenaria – nesse caso
todos os elementos se deformam lateralmente causando o efeito de Poisson. De
acordo com a NBR 13279 (2005), O ensaio de compressão deve ser feito em
cubos de argamassas de 4cm (argamassa isolada), ou colocada entre dois blocos
afim de medir a resistência à compressão, de acordo com a figura 3.

3.3 Avaliação da compressão do conjunto bloco de gesso e argamassa


Para avaliação da compressão existem dois ensaios: o de prisma e o de parede
reduzida. Os ensaios envolvendo prismas são importantes pois o método já é difundido em
todo o país, principalmente nos canteiros de obra. O prisma sempre é moldado dispondo a
argamassa de assentamento sobre toda a face entre os dois blocos (PARSEKIAN, 2011).
Considerando o bloco de gesso, a metologia será igual: dois blocos de gesso e entre eles
uma espessura de aproximadamente 1 cm de argamassa, como demonstrado na figura 3.
Já o ensaio de pequena parede (figura 4) tem como fundamento reduzir as dimensões de
uma parede de tamanho real e avaliar os efeitos da compressão, sendo o método
normatizado pela NBR 16868-3 (2020). Assim, calcula-se a resistência característica dos
blocos de gesso baseado nesses dois ensaios e nas formulações da literatura.
Figura 3 – Ensaio de compressão em prisma de alvenaria.
Fonte: AUTOR, 2021.

Figura 4 – Ensaio de compressão em parede reduzida de alvenaria.


Fonte: Núcleo de Ensino e Pesquisa da Alvenaria Estrutural - NEPAE da Universidade Estadual Paulista -
UNESP Ilha Solteira-SP (2005).

3.4 Avaliação da flexão do conjunto bloco de gesso e argamassa


Como a alvenaria é um material com baixa resistência à tração em comparação
com a compressão, a resistência à flexão é governada pela resistência à tração da peça
(PARSEKIAN, 2011). Obviamente, essa tração é diretamente interligada com o tipo de
argamassa a ser utilizada no conjunto dos materiais. Nesse sentido, é necessário realizar
diversos ensaios de tração na flexão de alvenarias de gesso (figura 5) com diferentes tipos
de argamassas, para que seja possível avaliar a eficiência desse procedimento.
Figura 5 – Ensaio de tração na flexão de alvenaria.
Fonte: PARSEKIAN, 2011.
3.5 Avaliação a resistência ao fogo
Nessa etapa da pesquisa é necessário avaliar a resistência ao fogo das paredes
construídas com blocos de gesso. Dessa forma, faz-se necessário utilizar um forno do tipo
vertical para a realização do ensaio, com o aquecimento realizado através de queimadores
alimentados a gás com controle dos diferenciais de pressão conforme a área examinada. O
objetivo do ensaio é verificar as características de estabilidade estrutural, estanqueidade e
isolamento térmico de cada parede, analisando sua potencialidade de emprego como
elemento de compartimentação vertical de edificações.

3.6 Simulação numérica com elementos finitos


Serão construídos modelos de elementos finitos das paredes de blocos de gesso
com assentamento argamassado utilizando o software comercial AbaqusTM / Standard v.
6.14. Será utilizado um modelo não linear para reproduzir efeitos de compressão, flexão e
cisalhamento nessa parede estrutural avaliando o uso de diferentes tipos de argamassas. O
mesmo ocorrerá na simulação do teste de compressão simples dos prismas com dois blocos
e dos ensaios de parede reduzida. Primeiramente, será preciso obter as propriedades
experimentais dos elementos que compõem o conjunto bloco gesso e argamassa para que
possam ser usados como entrada nos modelos a serem simulados. Estas propriedades são:
Carga máxima sob tração (N), Resistência à tração (MPa), Tensão na carga máxima de
tração (%), Módulo de tração (MPa), Resistência à compressão (MPa), Tensão de
compressão na ruptura (%), Esforço de rendimento a 0,2% de deformação (MPa), Módulo
de compressão (MPa).
4 Resultados e impactos esperados

Espera-se que os resultados obtidos confirmem a eficiência da nova tecnologia


do gesso em união com a argamassa, com resultados satisfatórios na capacidade de
compressão, flexão e cisalhamento do conjunto, além da resistência necessária ao fogo.
Dessa forma, será possível utilizar o bloco estrutural de gesso, juntamente com a argamassa,
como uma nova técnica de engenharia, respeitando os padrões estabelecidos pela NBR
16868 (2020). Além disso, acredita-se em elucidar todos os resultados mecânicos de
transferência de tensões e deformações do material em estudo, durante os ensaios
mecânicos e modelos numéricos com programas de elementos finitos. Com isso, espera-se
ainda que os resultados obtidos sejam publicados ao final do curso de mestrado em uma
revista qualis A1, assim como os trabalhos semelhantes recentes. Antes disso, espera-se
publicar artigos em congressos ao final do primeiro ano e ao meio do segundo ano de curso.

5 Cronograma do Projeto

Como organização para o desenvolvimento do projeto, foi desenvolvida a tabela


1 que apresenta o plano para o desenvolvimento da pesquisa, tive como base as disciplinas
obrigatórias e as optativas que o programa oferece. Portanto, pretendo cursar todos os
créditos no decorrer do primeiro ano e ir pesquisando ainda mais sobre o tema escolhido,
delimitando de forma mais clara o assunto.
Tabela 1 – Cronograma de execução do projeto.

ANO 2021 2022


1º tri 2º tri 3º tri 4º tri 1º tri 2º tri 3º tri 4º tri
Pesquisa bibliográfica × × × ×
Disciplinas do PPGCEM × ×
Caracterização dos materiais × ×
Elaboração dos traços × ×
Ensaios laboratoriais de caracterização × × ×
Exame de qualificação ×
Análise prévia dos resultados × × × ×
Publicação de artigos × × ×
Considerações finais do estudo
× × ×
Elaboração da dissertação
Defesa da dissertação ×
6 Referências Bibliográficas

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<http://abrelpe.org.br/pdfs/panorama/panorama_abrelpe_2020.pdf>. Acesso em: 10 julho.
2021.

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EPE, Empresa de Pesquisa Energética. Balanço Energético Nacional 2020. Resultados


Preliminares. Brasília, Ministério das Minas e Energia, 2020.

HENDRY, A.W. Engineered design of masonry buildings: fifty years development in


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MOHAMAD, Gihad. Alvenaria Estrutural: Construindo o conhecimento. 1. ed. São Paulo:


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NBR 16868. Alvenaria estrutural. Rio de Janeiro, 2020.

NBR 16868-1. Alvenaria estrutural - Parte 1: Projetos. Rio de Janeiro, 2020.

NBR 16868-2. Alvenaria estrutural - Parte 2: Execução e controle de obras. Rio de


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NBR 15270-1. Componentes cerâmicos - Blocos e tijolos para alvenaria Parte 1:
Requisitos. Rio de Janeiro, 2017.

NBR 13279-1. Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -


Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.

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