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DOCUMENTO DE APOIO PARA

Promoção e Protecção dos Direitos de Crianças e Jovens

Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Cartaxo


UMA PUBLICAÇÃO DE:
CPCJ - Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Cartaxo

EDIÇÃO:
Câmara Municipal do Cartaxo

PROJECTO GRÁFICO:
GIC - Gabinete de Imagem e Comunicação da C.M.C.

IMPRESSÃO:
Palma - Artes Gráficas, Lda.

TIRAGEM:
2000 exemplares

Setembro 2007
introdução
Com a divulgação deste documento é objectivo da Comissão de Protecção de Crianças
e Jovens do Cartaxo, Modalidade Alargada, como é da sua função, proporcionar
às várias Entidades com Competência em Matéria de Infância e Juventude do
Concelho (ECMIJ) – Escolas, Creches, ATL, Serviços de Saúde, Serviços de Segurança
Social, Forças de Segurança, IPSS, Associações Culturais e Recreativas, entre outras
- um guião de procedimentos facilitador de uma comunicação e actuação articuladas
entre os diversos intervenientes na Promoção e Protecção dos Direitos das Crianças.
(ver ANEXOS Direitos da Criança)
Estas Entidades constituem o Primeiro Patamar de Intervenção, cabendo-lhes, dessa
forma, um papel fundamental na defesa do superior interesse das crianças, de acordo
com o actual Sistema de Protecção de Crianças e Jovens que vem apelar para uma
responsabilidade partilhada por toda a sociedade.
1. O SISTEMA DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS
E JOVENS

De acordo com a Lei de Protecção das Crianças e Jovens em Perigo


(Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, art. 3º), “A intervenção para a
promoção da criança e do jovem em perigo tem lugar quando os pais,
o representante legal ou quem tenha a guarda de facto ponham em
perigo a sua segurança, saúde, formação, educação e desenvolvimento,
ou quando esse perigo resulte da acção ou omissão de terceiros ou da
própria criança ou do jovem a que aqueles não se oponham de modo
adequado a removê-lo”.
Esta intervenção, segundo a mesma Lei, incumbe responsabilidades,
sucessivamente, às Entidades com Competência em Matéria de
Infância e Juventude, numa lógica de prevenção e intervenção de
primeira linha, às Comissões e Protecção de Crianças e Jovens, num
patamar intermédio e aos Tribunais, numa última instância, constituindo-
‑se, desta forma, uma pirâmide de Protecção.

Na base desta pirâmide encontram-se as Entidades com Competência


em Matéria de Infância e Juventude definidas na já citada Lei como
“pessoas singulares ou colectivas, cooperativas sociais ou privadas que
por desenvolverem actividades nas áreas da infância e juventude têm
legitimidade para intervir na promoção dos direitos da criança e do
jovem em perigo” (artigos 5º, 6º e 7º da referida Lei).
Entende-se que a intervenção deva ser iniciada por estas Entidades


em virtude de ser uma rede de apoio mais informal, com uma menor
estigmatização para a criança e família, tendo no entanto de ser
efectuada igualmente de modo consensual com os pais e de acordo
com os princípios da mesma Lei.
Numa segunda instância intervêm as Comissões de Protecção
de Crianças e Jovens “Instituições oficiais não judiciárias com
autonomia funcional que visam promover os direitos da criança e do
jovem e prevenir ou pôr termo a situações susceptíveis de afectar a
sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento
integral” (artigo 12º), quando não é possível às Entidades de primeira
linha actuar de forma adequada e suficiente a remover o perigo em
que se encontram as crianças e jovens. Esta intervenção depende
do consentimento expresso dos seus pais, representante legal ou da
pessoa que tenha a guarda de facto e da não oposição da criança com
idade igual ou superior a 12 anos.

A intervenção judicial, dos Tribunais, último patamar na Pirâmide de


Protecção, segundo o art. 11º, tem lugar quando esse consentimento,
necessário à intervenção da Comissão de Protecção, não lhe seja
prestado ou lhe seja retirado ou quando o acordo de promoção e
protecção dos direitos, assinado entre os pais e a comissão, seja
reiteradamente não cumprido, entre outros casos.

2. ACÇÃO DAS ENTIDADES COM COMPETÊNCIA


EM MATÉRIA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE

As Entidades com Competência em Matéria de Infância e Juventude


podem ser pessoas singulares e serviços públicos e privados nas
áreas da Educação, Saúde, Acção e Segurança Social, Administração
Interna, Instituições Particulares de Solidariedade Social, Autarquias,
entre outras.

Assim estas Entidades recebem a comunicação de uma situação de


risco/perigo, feita por qualquer cidadão ou sinalizam-na elas próprias,
dando inicio á intervenção, que deve organizar-se, numa primeira
linha de actuação, envolvendo os profissionais destas entidades


que estão mais próximas das crianças e jovens e da comunidade
em geral, segundo o art. 7º da Lei de Protecção.

2.1. Conceitos de Risco/Perigo

• O conceito de risco implica um perigo apenas potencial,


eventual para a efectivação dos direitos da criança, podendo ter
vários graus e diversas expressões, apresentando um carácter
multifactorial, passível de persistir no tempo e que poderá
apresentar-se em forma de omissão dos pais ou responsáveis
pela sua guarda, comprometendo as necessidades básicas de
natureza material ou afectiva das crianças ou jovens. O risco
poderá tornar-se em perigo quando estes factores assumem
uma maior amplitude.

• O conceito legal de perigo para a segurança, saúde, formação,


educação ou desenvolvimento integra um risco com um grau de
perigo muito provável ou acentuadamente possível – embora
não traduzido já em efectivo dano.

Consideram-se em situação de PERIGO as crianças que se encontram


numa das seguintes situações (artigo 3º, nº 2):
(Ver ANEXOS Definição de maus-tratos e Tipologias situação de perigo)

• Se encontra abandonada ou entregue a si própria;


• Sofre de maus-tratos físicos ou psíquicos ou é vítima de abusos
sexuais;
• Não recebe os cuidados ou a afeição adequados à sua idade e
situação pessoal;
• É obrigada a actividade ou trabalhos excessivos ou inadequados
à sua idade, dignidade e situação pessoal, ou prejudiciais à sua
formação ou desenvolvimento;
• Está sujeita, de forma directa ou indirecta, a comportamentos
que afectam gravemente a sua segurança ou o seu equilíbrio
emocional;
• Assume comportamentos ou se entrega a actividades ou
consumos que afectam gravemente a sua saúde, segurança,


formação, educação ou desenvolvimento, sem que os pais, o
representante legal ou quem tenha guarda de facto, se lhes
oponham de modo adequado a remover essa situação;

A intervenção no risco é sempre da competência das Entidades


com Competência em Matéria de Infância e Juventude, não tendo
as CPCJ legitimidade para intervir nestas situações.

A intervenção no perigo deve ser iniciada pelas Entidades


referidas, transitando para a CPCJ apenas quando não seja
possível às mesmas actuar de forma suficiente para remover o
perigo.

2.2. Intervenção das entidades com competência em matéria


de infância e juventude

Estas Entidades devem actuar de modo articulado, seguindo os


seguintes procedimentos:

• Efectuar estudo sumário da situação, onde se pretende


esclarecer os factos que estão na origem da sinalização;
• Avaliar o grau de risco ou de perigo em que se encontra,
avaliando igualmente o bem-estar da criança ou jovem e a
salvaguarda dos seus direitos;
• Agir de modo consensual e com a adesão dos pais,
representante legal ou quem tenha a guarda de facto, que
devem ser informados da razão da intervenção, bem como da
legitimidade de intervenção dos profissionais e do seu direito a
aconselhamento legal;
• Certificar-se da não oposição da criança ou do jovem com
idade igual ou superior a 12 anos;
• Assegurar o apoio e protecção que considerem mais adequado
à criança ou jovem e sua família, compatível com as suas
atribuições, devendo para tal ser elaborado um plano individual
de acompanhamento/apoio à criança e família.


Este apoio deve seguir os Princípios Orientadores da Intervenção,
segundo o art. 4º da mesma Lei, destacando:

• o interesse superior da criança;


• a privacidade, com “respeito pela intimidade, direito à imagem
e reserva da sua vida privada”;
• a intervenção mínima, que deve ser “exercida exclusivamente
pelas entidades e instituições cuja acção seja indispensável
à efectiva promoção dos direitos e à protecção da criança e
jovem em risco”;
• a responsabilidade parental, “de modo que os pais assumam
os seus deveres para com a criança e jovem”;
• a obrigatoriedade de informação, “a criança e o jovem e os
pais (…) têm o direito a serem informados dos seus direitos,
dos motivos que determinaram a intervenção e da forma como
esta se processa”;
• Subsidiariedade, “a intervenção deve ser efectuada
sucessivamente pelas entidades com competência em infância
e juventude, pelas Comissões de Protecção de Crianças e
Jovens e, em última instância, pelos Tribunais”.

Procedimentos urgentes na ausência do consentimento

Segundo o art. 91º da Lei da Protecção “quando exista perigo actual


ou iminente para a vida ou integridade física da criança ou do
jovem e haja oposição dos detentores do poder paternal ou de quem
tenha a guarda de facto, qualquer das entidades referidas no art. 7º
ou as Comissões de protecção tomam as medidas adequadas para a
sua protecção imediata e solicitam a intervenção do tribunal ou das
entidades policiais”(...) enquanto não for possível a intervenção do
tribunal, as autoridades policiais retiram a criança ou o jovem do perigo
em que se encontra e asseguram a sua protecção de emergência
em casa de acolhimento temporário, nas instalações das entidades
referidas no art. 7º ou em outro local adequado”.


Desta forma entende-se que por exemplo as Escolas, Creches, Centros
de Saúde, Hospitais, Centros de Actividades de Tempos Livres entre
outras Entidades podem, apenas em situação de perigo actual ou
iminente para a vida ou integridade física da criança e cumulativamente
se os pais não derem consentimento para qualquer intervenção,
aplicar o art. 91º da Lei, ou seja tomar medidas adequadas para a
protecção adequada da criança, ou seja por exemplo, reter a criança
nas suas instalações até que as autoridades policiais ou o Ministério
Público intervenha na sua protecção, colocando-as por exemplo
em Centro de Acolhimento Temporário ou em qualquer local que
considerem adequado.

Comunicações das Entidades com Competência em Matéria


de Infância e Juventude

• As ECMIJ comunicam sempre que existe suspeita de CRIME


– maus tratos físicos, psicológicos, abuso sexual - exercidos
contra as crianças ou jovens, ao Ministério Publico ou às
autoridades policiais, ou à CPCJ, que fará chegar a comunicação
ao Ministério Público (art. 70º);

• As Entidades comunicam às Comissões de Protecção as


situações de perigo de que tenham conhecimento no exercício
das suas funções sempre que não possam, no âmbito exclusivo
da sua competência, assegurar em tempo a protecção
suficiente que as circunstâncias do caso exigem.

3. ACÇÃO DAS COMISSÕES DE PROTECÇÃO


DE CRIANÇAS E JOVENS

3.1. Comissão Restrita

O funcionamento da Comissão de Protecção na Modalidade Restrita,


com composição interdisciplinar e interinstitucional, incluindo pessoas
com formação nas áreas de serviço social, psicologia, educação e


saúde, pauta-se pela intervenção directa nas situações em que a
criança ou jovem se encontra em perigo. Compete a esta Comissão,
entre outras funções:
• atender e informar as pessoas a que a ela se dirigem;
• apreciar as situações de que tenha conhecimento;
• proceder à instrução dos processos de promoção e protecção;
• solicitar parecer e colaboração de técnicos ou de outras pessoas
e entidades públicas e privadas;
• decidir a aplicação, acompanhamento e revisão de medidas de
promoção e protecção. (art. 21º)

“A intervenção das Comissões de Protecção tem lugar quando não


seja possível às Entidades referidas no artigo anterior actuar
de forma adequada e suficiente a remover o perigo em que se
encontram”. (art. 8º)

a) Sinalização
De acordo com o artigo 66º da Lei de Protecção, “qualquer pessoa que
tenha conhecimento das situações previstas no artigo 3º (situações de
perigo) pode comunicá-las às ECMIJ, às entidades policiais, às CPCJ
ou às autoridades judiciárias.

A comunicação de sinalização pode ser efectuada por escrito, telefónica


ou presencialmente, podendo ser solicitado anonimato.

A comunicação é obrigatória, para qualquer pessoa que tenha


conhecimento de situações que ponham em risco a vida, a
integridade física ou psíquica ou a liberdade da criança ou do
jovem. (art. 66º, 2)

As ECMIJ sinalizam a situação de perigo à Comissão de Protecção de


Crianças e Jovens sempre que entendam que a sua intervenção não
é adequada ou suficiente.
Na sinalização da situação de risco ou perigo, devem constar, entre
outros que se considerem pertinentes, os seguintes elementos:

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• Identificação da criança ou jovem;
• Identificação do agregado familiar e residência;
• Identificação da estrutura educativa que frequenta;
• Descrição da suspeita de perigo que origina a sinalização
detalhadamente, com evidências (local e data da ocorrência,
testemunhas, descrição de alguma lesão observada,
identificação do alegado agressor, etc.)
• Intervenções já realizadas e os resultados obtidos, de forma a
evitar-se a repetição das intervenções efectuadas.

b) Informação e audição dos interessados


Todas as situações sinalizadas, após recepção das comunicações, dão
origem a um processo de promoção e protecção.
Todos os processos sobre os quais a Comissão intervém são
confidenciais de forma a salvaguardar a privacidade da criança e
família.

Após receber a comunicação de situação de perigo, a CPCJ contacta


com a criança ou jovem, pais ou a pessoa com quem a criança resida,
informando-os de imediato sobre a situação, ouvindo-os, informando-
os sobre o modo como se processa a intervenção, as medidas que a
Comissão pode tomar, o direito de não autorizarem a intervenção e as
suas possíveis consequências e do direito a fazer-se acompanhar por
advogado.

A intervenção das Comissões de Protecção depende sempre do


consentimento expresso dos seus pais, representante legal ou da
pessoa que tenha a guarda de facto e da não oposição da criança
e do jovem com idade igual ou superior a 12 anos, caso contrário o
processo transitará para o Tribunal.

Apenas as situações de perigo actual ou iminente para a vida ou


integridade física da criança ou do jovem e se cumulativamente existir
oposição dos detentores do poder paternal ou de quem tenha a guarda
de facto, legitimam o recurso aos procedimentos de urgência com vista
à sua protecção imediata (artigo 91º).

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c) Fase diagnóstica
A fase diagnóstica é constituída pelas diligências e exames pertinentes
e necessários ao conhecimento da situação fáctica à fundamentação
das decisões e aplicação de medidas.
A avaliação da situação é facultada pelas informações obtidas nas
entrevistas e contactos efectuadas com a criança ou jovem, pais ou
responsáveis, outros familiares, educadores e professores, médico
de família e enfermeiros, equipas de projectos e serviços no âmbito
social entre outros.

d) Fase decisória
Após o diagnóstico, a Comissão Restrita pode deliberar em dois
sentidos: no sentido do arquivamento do processo, quando a situação
de perigo não se confirma ou já não subsiste ou no sentido da aplicação
de alguma medida de promoção e protecção.

e) Medidas de promoção dos direitos e de protecção


A competência para aplicação das medidas de protecção é das
Comissões e dos Tribunais.

As medidas têm como objectivo “afastar o perigo em que se encontram


as crianças e jovens, garantir a recuperação física e psicológica
das crianças e jovens vítimas de qualquer forma de exploração ou
abuso, proporcionando-lhes as condições que permitam proteger e
promover a sua segurança, saúde, formação, educação, bem estar e
desenvolvimento” (artigo 34º).

Estas medidas podem ser executadas no meio natural de vida :


• medida de apoio junto dos pais;
• medida de apoio junto de outro familiar;
• medida de confiança a pessoa idónea;
• apoio para a autonomia de vida;

ou em regime de colocação:
• acolhimento familiar;
• acolhimento em instituição (artigo 35º);

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Na intervenção junto de crianças e jovens em risco ou em perigo são
privilegiadas as medidas que não os retirem do seu ambiente familiar.
No entanto há situações que obrigam a um afastamento temporário da
criança ou jovem da família, por forma a criar as condições necessárias
para a sua futura reintegração e bem-estar.

A medida de protecção, com as propostas de intervenção, é dada


a conhecer aos pais, que podem aceitá-la, sendo então reduzida a
escrito, através de um Acordo de Promoção e Protecção, assinado
por ambas as partes.

Se os pais não concordarem com a medida e acordo propostos pela


Comissão, o processo será enviado para o Tribunal, a fim de ser aberto
um Processo Judicial de Promoção e Protecção

f) Coordenação e acompanhamento e execução das


medidas
Aplicada a medida torna-se necessário, para a sua execução, que
um técnico da Comissão coordene e acompanhe as acções com
todos os intervenientes; para além da família e da CPCJ, deverão ser
envolvidas as Entidades que mais próximo se encontram da criança
e do jovem, mantendo canais de comunicação entre os profissionais
que intervêm, aos diferentes níveis, na situação em questão, podendo
ser os educadores, professores, técnicos da Intervenção Precoce, do
Rendimento Social de Inserção ou outros que se encontrem próximos
da criança ou da família, segundo os princípios da intervenção
mínima.

3.2. Modalidade Alargada

A Comissão alargada, composta por representantes do município, da


segurança social, do Ministério da Educação, dos serviços de saúde,
das IPSS, das Associações de Pais, das associações desportivas,
culturais ou recreativas, dos serviços de juventude, das forças de
segurança, PSP e GNR, quatro pessoas designadas pela assembleia
municipal entre cidadãos eleitores com especiais conhecimentos ou

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capacidades para intervir na área das crianças e jovens em perigo
e técnicos cooptados pela Comissão, com formação na área social,
saúde ou psicologia com especial interesse pelos problemas da
infância e juventude.

A esta modalidade alargada compete o papel de desenvolver acções


de promoção dos direitos e de prevenção das situações de perigo
para a criança ou jovem. (art. 18º)
Assim, são competências da comissão alargada:

• informar a comunidade sobre os direitos da criança e do


jovem e sensibilizá-la para os apoiar sempre que estes
conheçam especiais dificuldades;
• promover acções e colaborar com as entidades competentes
tendo em vista a detecção dos factos e situações que (…)
afectem os direitos e interesses da criança e do jovem;
• informar e colaborar com as entidades competentes no
levantamento das carências e na identificação e mobilização
dos recursos necessários à promoção dos direitos, do bem-
estar e do desenvolvimento integral da criança e jovem;
• colaborar com as entidades competentes no estudo e
elaboração de projectos inovadores no domínio da
prevenção primária dos factores de risco e no apoio às
crianças e jovens em perigo;
• colaborar com as entidades competentes na constituição e
funcionamento de uma rede de acolhimento de crianças e
jovens, bem como na formulação de outras respostas sociais
adequadas;
• dinamizar e dar parecer sobre programas destinados às
crianças e aos jovens em perigo;

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Anexos
DIREITOS DA CRIANÇA

Principal documento - Convenção dos Direitos da Criança, aprovada


pela ONU em 1989 e ratificada por Portugal em 12 de Setembro 1990.

Alguns dos direitos da criança reconhecidos a partir de um conjunto


dos princípios e normas aplicáveis:

• o direito à dignidade e a um harmonioso desenvolvimento físico,


psicológico, afectivo, moral, cultural e social, em ordem a duas
aquisições essenciais – uma progressiva e salutar autonomia,
fonte de segurança, responsabilidade e solidariedade, com
autêntico sentido do Outro, essencial à sua realização pessoal
e também social mediante a participação positiva na vida
da comunidade e, por outro lado, o sentimento de pertença
familiar e comunitária, o direito às raízes;
• o direito a uma paternidade e a uma maternidade responsáveis
para acompanhar e promover esse desenvolvimento – o direito a
crescer numa família em que seja amado, respeitado e ajudado
como filho biológico ou adoptivo;
• o direito à palavra, à liberdade de pensamento, de religião;
• o direito ao respeito pela sua intimidade, honra e reputação;
• o direito à protecção, ao nível legislativo e da acção, nos
domínios da prevenção primária, secundária e terciária, contra
todas as formas de violência física ou psicológica, dano,
abandono ou tratamento negligente;
• os direitos à educação e à protecção nos domínios da saúde e
da segurança social;
• o direito à interiorização de valores e ao consequente sentido
dos deveres e dos limites e portanto à sua responsabilização
pedagógica, em função do grau da sua maturação física,
psicológica, intelectual e afectiva;
• o direito de ser ouvida sobre as questões que lhe respeitem e
de serem tomadas em consideração as suas opiniões de acordo
com a sua maturidade e idade;

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• o direito de as decisões relativas à criança serem tomadas
tendo primacialmente em conta o seu superior interesse,
imediato e mediato;
• o direito de ser criança no tempo de ser criança, o que
implica o acompanhamento afectivo e estruturante, o lúdico, a
aprendizagem, o direito à experimentação e à descoberta que
ajude a crescer;
• o direito à educação para a tolerância e a paz: “o direito de se
preparar, pela educação, para assumir as responsabilidades
da vida numa sociedade livre, num espírito de compreensão,
paz, tolerância, igualdade entre os sexos e de amizade entre
todos os povos, grupos étnicos, nacionais e religiosos e com
pessoas de origem indígena”
(Art.21º, nº1 d) Convenção dos Direitos da Criança

DEFINIÇÃO DE MAUS – TRATOS

“Qualquer forma de tratamento físico e ou emocional, não acidental


e inadequado, resultante de disfunções e (ou) carências nas relações
entre crianças ou jovens e pessoas mais velhas, num contexto de uma
relação de responsabilidade, confiança e (ou) poder.
Podem manifestar-se por comportamentos activos (físicos,
emocionais ou sexuais) ou passivos (omissão ou negligência nos
cuidados e (ou) afectos).
Pela maneira reiterada como geralmente acontecem, privam o menor
dos seus direitos e liberdades afectando, de forma concreta ou
potencial, a sua saúde, desenvolvimento (físico, psicológico e social)
e (ou) dignidade”

Teresa Magalhães, 2004

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Tipologia das Situações de Perigo para a Criança/Jovem

Maus-tratos Indicadores/sinais Nota


1. Abandono Fome; falta de protecção das condições O abandono pressupõe atitude voluntária e
Criança/jovem abandonada, totalmente ambientais; necessidade de cuidados de consciente por parte do abandonante e tem
desamparada, não revelando os pais ou higiene e de saúde. de ser manifesto.
representante legal qualquer interesse pelo
seu destino;
Criança/jovem entregue a si própria, em
situação de total desprotecção, dependente
dela própria, sem qualquer apoio familiar ou
outro, que pode ser deixada sozinha em casa
por largos períodos de tempo.

2. Negligência Necessidades médicas não atendidas (falta Necessidade que alguns dos indicadores
Não proporcionar a satisfação dos cuidados a consultas, vacinas, feridas e doenças não se verifiquem de forma reiterada; pode ser
básicos e necessidades da criança/jovem nas tratadas); pediculose e sujidade; repetidos com intenção ou consciência ou resultante
áreas da higiene, alimentação, segurança, acidentes domésticos por negligência, da incapacidade/desconhecimento dos pais
educação, saúde, afecto, estimulação. sem supervisão de adultos; fome, roubo quanto aos cuidados básicos e necessidades
de alimentos, tendência a enfartar-se com da criança/jovem.
comida e falta de protecção do frio, ausência
nas reuniões de pais.

3. Abandono Escolar Inexistência de matrícula no ensino básico


Abandono do ensino básico obrigatório por obrigatório da criança/jovem em idade
crianças e/ou jovens em idade escolar (entre escolar;
os 6 e os 15 anos). Cessação da frequência das actividades
escolares de crianças/jovens em idade
escolar e que não tenham concluído o ensino
básico obrigatório (9º ano de escolaridade).
Maus-tratos Indicadores/sinais Nota
4. Maus-Tratos Físicos Lesões/equimoses em diversos estados de Ocorrência repetida ou isolada, podendo
Acção não acidental por parte de algum evolução; L. em locais pouco comuns aos neste caso ser considerado Maus-Tratos
adulto que provoque ou possa provocar traumatismos tendo em conta a idade da pela gravidade; inadequação da explicação
danos físicos na criança/jovem. criança - à volta dos olhos, orelhas, pescoço, dada pelos pais; atraso na ida ao médico;
costas, nádegas; L. desenhando marcas de faltas à escola para dar tempo a que as
objectos; queimaduras com bordos nítidos lesões sarem.
– queimaduras de cigarros – na palma das
mãos ou pés; mordeduras com dentição
humana.

5. Maus-Tratos Psicológicos/Abuso Emocional Auto-mutilação: arranhar-se, beliscar- Requer que algum(s) do(s) indicadores
Incapacidade de dar à criança/jovem se, balancear; problemas no controle de ocorram de forma reiterada. Presente em
um ambiente de tranquilidade, bem- esfíncteres; dores sem causa orgânica todas as outras tipologias de maus-tratos.
estar e segurança emocional e afectiva, aparente; baixa auto- estima; choro/
indispensável a um saudável crescimento e riso incontrolado; défice na capacidade
desenvolvimento emocional. Manifestações: para brincar; falta de curiosidade e de
Insultos verbais; ausência de afecto; comportamento exploratório; ansiedade
ridicularização, desvalorização, hostilização, extrema; passividade a comportamentos
ameaças; indiferença; discriminação; violentos; excessiva ansiedade ou dificuldade
rejeição; culpabilização; críticas humilhação; nas relações afectivas interpessoais.
envolvimento em situações de violência
doméstica.

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Maus-tratos Indicadores/sinais Nota
6. Abuso sexual Podem verificar-se dificuldades para andar Requer unicamente um episódio de utilização
Envolvimento da criança/jovem em práticas ou sentar-se, dor na região vaginal ou anal, sexual da criança/jovem.
que tem como objectivo a gratificação e a manchas de sangue na zona genital que não São práticas que a criança/jovem, dado o
satisfação sexual de um adulto ou jovem corresponde ao seu nível de desenvolvimento; seu estádio de desenvolvimento: não tem
mais velho. tristeza acentuada, dificuldade em lidar com capacidade para compreender que é vítima,
Manifestações: o próprio corpo (por exemplo em actividades não está preparada e é incapaz de dar o seu
Obrigação do menor presenciar conversas desportivas); isolamento/medo da relação consciente consentimento.
obscenas, espectáculos e actos de carácter com os pares ou com os adultos; expressão
exibicionista,; utilização da criança/jovem em de conhecimentos ou vivências sobre
fotografias, filmes; beijos na boca; carícias nos sexualidade/ actos sexuais desadequados
órgãos genitais e nas mamas; manipulação para a idade; comportamentos auto ou
dos órgãos genitais do abusador; contacto hetero destrutivos (mutilações, ideias
entre os órgãos genitais de ambos; realização suicidas, episódios de grande agressividade/
de coito com penetração oral, anal e/ou violência); condutas aparentemente bizarras
vaginal. em jovens: dormir vestidos com roupas
que usam de dia, urinar propositadamente
na cama – evitar o toque do abusador –,
destruir/ocultar sinais de feminilidade.

7. Prostituição Infantil Oferta, obtenção, procura ou entrega de uma Requer unicamente um episódio de utilização
Designa a utilização de uma criança em criança para fins de prostituição infantil. sexual da criança/jovem.
actividades sexuais contra remuneração ou
qualquer outra retribuição.
Maus-tratos Indicadores/sinais Nota
8. Pornografia Infantil A oferta, distribuição, difusão, importação, Requer unicamente um episódio de utilização
Designa qualquer representação, por qualquer exportação, venda ou posse para fins de sexual da criança/jovem.
meio, de uma criança no desempenho pornografia infantil, segundo a definição
de actividades sexuais explícitas reais ou apresentada.
simuladas ou qualquer representação dos
órgãos sexuais de uma criança para fins
predominantemente sexuais.

9. Exploração do Trabalho Infantil Participação da criança em actividades Pelo menos por um período de tempo
Para obter benefícios económicos, a criança/ laborais de forma continuada ou por períodos concreto, a criança não pode participar nas
jovem é obrigada à realização de trabalhos de tempo, impedindo a criança de participar actividades da sua idade por se encontrar a
(sejam estes domésticos ou não) capazes de nas actividades sociais e académicas trabalhar.
comprometer a sua educação, prejudicar a próprias da sua idade.
sua saúde ou o seu desenvolvimento físico,
mental ou social.

10. Exercício Abusivo da Autoridade Paternal Privar a criança/jovem das actividades sociais Requer que algum(s) do(s) indicadores
Uso abusivo do poder paternal que se traduz e académicas próprias da sua idade e nível ocorram de forma reiterada e desadequada.
na prevalência dos interesses dos detentores de desenvolvimento; invasão da privacidade
do poder paternal em detrimento dos direitos da criança/jovem; privar a criança/jovem de
e protecção da criança/jovem. expressar as suas ideias e/ou opiniões.

11. Mendicidade A criança/jovem pede esmola só ou em


A criança/Jovem é utilizada habitualmente companhia de outras pessoas.
ou esporadicamente para mendigar, ou é a
criança que exerce a mendicidade por sua
iniciativa.

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Maus-tratos Indicadores/sinais Nota
12. Exposição a Modelos de Comportamento Dificuldades de socialização; agitação; Para que se possa falar desta situação requer
Desviante apatia; tristeza acentuada; discurso/ que algum(s) do(s) indicadores ocorram de
Condutas do adulto que potenciem na criança/ comportamentos desadequados à idade; forma reiterada.
jovem padrões de condutas antisociais ou grande ansiedade; agressividade para o
desviantes bem como perturbações no próprio ou para os outros.
desenvolvimento (desorganização afectiva
e/ou cognitiva), embora não de uma forma
manifestamente intencional.
O perigo pode resultar, entre outros,
de comportamentos adoptados devido
a alcoolismo, toxicodependência ou a
comportamentos de delinquência.

Bibliografia

Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, Manual do Formador, 2006

Lei nº 147/99, de 1 de Setembro, Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo com as alterações introduzidas pela Lei
nº 31/2003, de 22 de Agosto

Magalhães, Teresa, Maus-Tratos em Crianças e Jovens, Quarteto Editora,2004

Promoção e Protecção de Crianças e Jovens: Uma responsabilidade partilhada, CPCJ Oeiras, 2006

Ramião, Tomé d’ Almeida, Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, Quid Juris?, Sociedade Editora, Lisboa, 2004
Promoção e Protecção dos Direitos de Crianças e Jovens:

TODOS SOMOS RESPONSÁVEIS

É necessário que todos os cidadãos estejam atentos, informados e sensibilizados


para o dever de reconhecerem os sinais de risco ou perigo e de os sinalizarem
junto das entidades com capacidade para agir.

Ninguém pode olhar nos olhos uma criança continuando a consentir alguma
forma de violência contra ela.
Adaptado de Relatório para o Estudo da Violência Contra as Crianças, Nações Unidas, Agosto de 2006

Comissão de Protecção de Crianças e Jovens

Rua Mouzinho de Albuquerque nº7 - 1º


2070-104 Cartaxo
Tlf: 243 701 260 Tlm.: 961 719 359
cpcjcartaxo@iol.pt

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