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CUIABÁ−MT
2022
1. DEFINIÇÃO
Seja pelo fato de que as águas se situam em posição territorial transfronteiriça, pela
distribuição irregular deste recurso pela superfície da Terra – fora de sintonia com as
concentrações populacionais, ou mesmo em países e/ou regiões que possuem muita
disponibilidade hídrica, mas que há o consumo desigual, são diversos os conflitos pelo
uso da água. RIBEIRO (2008, P.52) afirma que:
(...)Países de renda mais elevada como os da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), utilizam 27% dos recursos hídricos
totais, embora correspondam a 15% da população. O que despendem na
indústria é mais do que é gasto no uso domiciliar em todo o mundo (...).
É notório então, o descontrole das estruturas do Estado em regiões como Minas Gerais,
na prevenção de conflitos pelo uso da água ou mesmo redução de impactos na paisagem
– sobretudo à água, sendo necessário analisar casos de localidades brasileiras com uso
benéfico dos instrumentos estatais para gestão de conflitos deste bem comum.
2. OBJETIVOS
A partir da análise dos instrumentos e figuras responsáveis pela gestão de conflitos pelo
uso da água, casos e conflitos de sua utilização em território nacional e estrangeiro,
busca-se a compreensão da governança como um todo, de forma a exercitar
aprendizados da disciplina de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos, assim como
aprofundar tais conhecimentos.
Há durante o desenvolvimento deste trabalho, um enfoque na alocação de água, aparato
com crescente utilização e de desdobramento de benefícios já comprovados, sobretudo
na região nordeste do Brasil.
3. BASES LEGAIS
Dentre os mecanismos previstos para a gestão de conflitos pelo uso da água, encontra-se
a outorga do uso da água, um dos seis instrumentos da Política Nacional de Recursos
Hídricos (PNRH), Lei Federal no 9.433, de 08 de janeiro de 1997; a alocação de água,
com decisões tomadas e registradas no Termo de Alocação de Água (Resolução
46/2020), sob Documento no 02500.051502/2020-45.
Com relação aos envolvidos nos conflitos pelo uso da água, a PNRH criou a figura dos
Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs), em que há representantes do poder público,
da sociedade civil e dos usuários; bem como o Sistema Nacional de Gerenciamento dos
Recursos Hídricos (SINGREH); integra-se ao SINGREH, a Agência Nacional de Águas
(ANA), a Agência de Água da Bacia ou entidade encarregada de função similar;
entretanto, há a necessidade, na prática brasileira da gestão dos recursos hídricos, que
sejam criados agrupamentos provisórios ou permanentes, adequados para o auxílio dos
conflitos. Atribui-se aos CBHs, a administração em primeira instância dos conflitos
identificados pelo uso da água, no território sob sua jurisdição.
Ainda, por meio da cobrança pelo uso da água, prevista também pela PNRH, objetiva-se
obter verba para a recuperação das bacias hidrográficas, estimular o investimento em
despoluição, importantes fatores no impedimento e/ou diminuição de conflitos pelo uso
da água.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.1 FASES DO PROCESSO DE CONFLITOS PELO USO DA ÁGUA
É possível distinguir 4 fases em um processo de conflito pelo uso da água.
Fonte: www.conflitospelousadaagua.com.br.
Pode-se estar em uma situação de acumulação que permite o atendimento pleno a todos
os usos associados a esse sistema hídrico, ou em uma situação em que a quantidade de
água acumulada nesse reservatório não será suficiente nem para os usos prioritários em
sua plenitude. Entre esses estados, temos uma situação de alerta, nessa faixa teremos
que compactuar regras de harmonização dos usos, que efetivamente é a alocação de
água.
Os estágios hidrológicos são definidos por curvas, e essas curvas são curvas de
planejamento de uso, que foram calculadas, ideais, que permitiram que os usos se
dessem de forma planejada durante duas estiagens e um período chuvoso com pouca
chuva. Elas são as curvas guia, referencial para alocação. Como exemplo, pode-se
ilustrar pelo gráfico uma situação em que havia determinado volume no reservatório,
indicado pela curva tracejada; e estava próximo da curva verde, mas entre a verde e
amarela. Então, foi feita uma reunião de alocação e houve então a decisão por um uso
que não fosse o uso pleno, mas que pudesse permitir durante 17 a 20 meses, o período
de planejamento, que aqueles usos acontecessem sem maiores conflitos entre eles.
Mas pode-se verificar que a curva tracejada veio acompanhando a curva verde e apesar
de ela subir um pouco por volta do período de alocação, ela foi verificada abaixo da
curva verde na alocação seguinte. Essa foi uma forma que se pensou para que a cada
alocação, a curva de planejamento ou guia volte ao volume inicial. Isso permitirá que
estando o reservatório em uma situação menos favorável que na situação da alocação
anterior, se aprofunde a restrição. É possível ver que em função da distância entre a
curva verde e a tracejada, maior na segunda do que na primeira, poderá haver a
necessidade de uma maior restrição aos usos para que continuem convivendo durante o
próximo período de planejamento.
A alocação propriamente dito se dá em uma reunião pública conduzida pelos atores
locais, juntamente com os técnicos. O que se procede atualmente é que após feitos os
estudos técnicos em escritório, após mobilizar os atores para reuniões, a equipe técnica
deve se locomover para a região para aferir se aqueles estudos refletem efetivamente a
situação dos usos e da disponibilidade de água. Isso normalmente se dá por uma visita
em campo, que pode ser acompanhada preferencialmente pelos atores locais, sejam o
operador de sistema hídrica e pelos usuários, onde se chequem os dados que foram
construídos no escritório. Isso é fundamental para aumentar o conhecimento e
credibilidade das propostas que vão ser colocadas em reunião. O segundo passo é
conversar com os atores locais, para que possam apresentar sugestões que já estejam
sendo colocadas na região e seus pontos de vista sobre esse planejamento que vai se dar
por intermédio da alocação.
Com esse conhecimento do ambiente hídrico e do ambiente pessoal, passa-se então a
reunião propriamente dita. A reunião não deveria ser prolongada, para que
objetivamente seja tomada aquela decisão. Para isso, utiliza-se o método de conduzir as
regiões planejando inicialmente uma reunião para que aconteça por 3 horas, em local
público, acessível a maior parte dos atores envolvidos com aqueles recursos hídricos. É
organizado para que haja acomodação para todos, 50 a 100 pessoas, é feito uma lista de
presença no início, inicialmente conduzida pelo representante do comitê da bacia ou da
comissão local que cuida da água, que pode ser uma comissão de usuários, gestora, de
açude, são vários os nomes que são utilizados nas práticas pelo país. Iniciada a reunião,
por intermédio desse apresentador, que informará os presentes qual o objeto da reunião,
que é específica para alocação das águas daquele sistema hídrico, as pessoas são
convidadas a se apresentarem. É muito interessante que previamente ao primeiro
momento da reunião, tanto os apresentadores quanto a plateia possam se conhecer
melhor e já interagirem.
No primeiro momento, é a ocasião de nivelamento de todos os dados que foram
verificados nos estudos e nas visitas em campo. Então são apresentados aos
participantes todas as informações relativas aos usos da água, já feitos no passado ou
usos que acontecem hoje ou que vão ser feitos no futuro, principalmente no futuro mais
imediato (próximos 12 meses); é apresentada a situação dos mananciais, em que
situação se encontra, se mais confortável ou crítica, e a partir dessa apresentação é
aberto o debate para encerrar o primeiro momento da reunião de alocação.
O debate normalmente pode agregar algumas informações, então haveria um ambiente
em que todos estariam com o mesmo tipo de conhecimentos e todos estariam
preparados para o segundo momento.
O segundo momento é quando as simulações, todos os estudos relativos a
compatibilizar a quantidade com os usos durante os próximos 12 meses, são
apresentados para os participantes. São apresentados dois ou três cenários/opções, que
estão compartimentadas entre os estados hidrológicos. Essas alternativas são debatidas
pelos atores locais, tiradas as dúvidas e pode haver uma necessidade de arbitragem,
necessidade de algum grupo que tenha sido previamente escolhido possa arbitrar
quando não houver um consenso muito forte na reunião. Arbitra-se normalmente
quando o consenso não existe, ou que existe um número de participantes menor do que
dois terços da proposta majoritária, sendo então chamado a comissão. Essa comissão, de
açude, monitoramento ou representantes do comitê de bacia, que vão se reunir a parte e
definir eles a escolha da alternativa para o uso dos próximos 12 meses. E caso haja um
consenso ou seja feito a arbitragem, encerra-se o segundo momento.
No terceiro momento, vão ser debatidas as ações para que essas condições de uso sejam
efetivadas. Pode-se combinar algo na reunião e isso não ser praticado, então é preciso
monitorar. Esse monitoramento é fundamental para que mês a mês se possa verificar
que os acordos feitos entre os usuários estejam sendo cumpridos, e é fundamental
também que possa-se verificar se os operadores dos sistemas hídricos estão fazendo sua
parte, uma vez que boa parte das ações que vão ser colocadas vão depender da abertura
de uma válvula/comporta/liberação da água de um canal. Ou seja, há várias ações
relativas a alteração que vão ajudar a verificar se esse procedimento está sendo
cumprido/a alocação está sendo cumprida, então tem que ser monitorado, operado e em
muitas situações, ser feitas operações de manutenção para que alguns problemas
verificados no sistema possam ser corrigidos para que se efetivem os usos. Por exemplo,
pode-se precisar limpar alguns canais, concertar alguns equipamentos do reservatório e
esses compromissos precisam ficar claros e bem definidos para que os responsáveis
atuem no sentido de poder efetivá-los. Construindo todo esse processo, passa-se ao
quarto e último momento.
Todas as regras que foram estabelecidas, todas as ações relativas à efetivação,
monitoramento, operação do sistema, devem ser colocadas em um termo. A este termo,
dá-se o nome de ‘termo de alocação de água’, que pode ser pré-preenchido em
escritório, mas os acordos vão ter que ser terminados na reunião de alocação. E faz parte
desse termo, a constituição de uma comissão de acompanhamento de alocação de água.
Sabe-se que somente aquelas pessoas cujos interesses estão sendo afetados pela
alocação são as mais indicadas a acompanhar a efetivação da alocação, então nesse
momento um ator local, seja o presidente do comitê da bacia, da comissão de açude, do
conselho de usuário, ou seja, da comissão local de água que esteja apoiando a realização
dessa oficina/reunião, passará então a proceder a escolha, juntamente com os
participantes, dos membros da reunião que vão compor a comissão de
acompanhamento. Essa comissão será então instituída no final da reunião e fará parte do
termo de alocação.
A metodologia apresentada tem uma grande contribuição da experiência do estado do
Ceará, notável e praticada desde os anos 90. Tem sido mostrados bons resultados,
notadamente com relação ao planejamento dos usos, mitigação de conflitos,
participação social de forma descentralizada, transparência da tomada de decisão, as
ações que são colocadas para que os governos possam desenvolver melhorias nos
sistemas hídricos e principalmente, com relação ao reconhecimento da efetividade de
uma melhor gestão do uso das águas.
Formalizado o termo de alocação, o próximo passo é acompanhar a execução dessa
alocação. Esse acompanhamento é feito por um boletim de acompanhamento de
alocação de água. Mensalmente reúne-se as informações relativas à disponibilidade de
água no sistema hídrico, aos usos da água feitos durante o mês de acordo com o que foi
pactuado na alocação e também aquelas ações que foram incorporadas ao termo de
alocação que foram defendidos como necessários para a efetivação da alocação -
relativo a monitoramento, manutenção, operação de reservatórios, tudo atualizado
mensalmente nos boletins. É então distribuído para a comissão de acompanhamento
composta na própria reunião, ficando eles encarregados de distribuir para os demais
atores interessados locais.
Há também o incentivo para que a comissão de acompanhamento vá além de receber o
boletim e repassar, mas que se reúna periodicamente para analisar o boletim e propor
junto a Agência Nacional de Águas (ANA) alguma alteração naquilo que foi pactuado.
Além do boletim e das reuniões da comissão de acompanhamento, outra forma de
acompanhar isso é por meio de monitoramento, por meio de fiscalização em campo ou
mesmo fiscalização remota, buscando evoluir para que seja feito por imagens de satélite
ou acompanhamento indireto por meio do consumo de energia elétrica.
Depois de tudo o que já foi exemplificado, retoma-se a análise aos estágios
hidrológicos: como já foi abordado, existe a situação entre o verde e o vermelho em que
se prevê alocação. Quando a situação está confortável, acima da curva verde, pensa-se
que não haverá necessidade dessa mobilização, porque existem instrumentos, a exemplo
da outorga de direito de uso, que pode regular muito bem essa situação. Existem outras
situações em que essa alocação de água poderia ser mais complicada, como quando não
há água suficiente sequer para atendimento aos usos prioritários. Utilizando as curvas
novamente, verifica-se que pode haver uma situação abaixo da curva vermelha, em que
pode requerer a necessidade de racionamentos na cidade, paralização de atividades
prioritárias, e nesse ponto, o que se prevê na metodologia é que se haja uma reunião de
informação, nos moldes da reunião de alocação, mas com uma decisão tomada pelo
poder público para que haja uma restrição somente aos usos prioritários.
5. EXEMPLOS DE APLICAÇÃO NO BRASIL
Onde e de que natureza são os conflitos pelo uso da água no Brasil:
Há conflitos pela água em muitas partes do Brasil. Há também muitos acordos, que tem
sido o caminho mais comum para resolver os problemas. No território brasileiro é
possível identificar, três tipos de conflitos na agenda dos recursos hídricos. O primeiro
tipo de conflito caracteriza-se quando a água está indisponível, em certo intervalo de
tempo, em quantidade ou qualidade, para atender os usos requeridos, incluindo as
funções ambientais contidas nos ecossistemas associados à fonte hídrica. Um exemplo é
o caso de perímetros de irrigação, indústrias e cidades que, disputando ‘águas escassas”,
precisam reduzir o consumo hídrico.
O segundo tipo de conflito decorre de planejamentos setoriais discordantes. Um
exemplo é o caso onde o interesse de construir uma usina hidroelétrica -fruto do
planejamento do setor de saneamento enfrenta resistência dos agricultores da bacia a
jusante. Este é o caso do reservatório Zabumbão, localizado Bahia, cujo processo de
conflito pelo uso da água foi tratado no âmbito do Comitê de bacias hidrográficas dos
rios Paramirim e Santo Onofre (cbh-paso) e do órgão estadual inema-ba.
O terceiro tipo de conflito decorre de legislações correlatas em desarmonia. Um
exemplo complexo e importante trata do debate a respeito do potencial impacto socio-
econômico e ambiental da implantação de empreendimentos hidrelétricos na bacia do
Alto Paraguai sob o Pantanal, a maior área alagável do mundo, um dos biomas
singulares do Brasil.
As rivalidades e conflitos pelo uso da água podem ser diversos, como o açude Epitácio
Pessoa, na Paraíba, em que temos competindo: sistemas públicos de abastecimento de
água das grandes adutoras, que abastecem um elevado número de cidades da região,
sistema integrado de abastecimento de Campina Grande, inclusive competindo com os
usos de irrigação que estão localizadas no entorno do próprio açude Epitácio Pessoa.
Podemos ter ainda conflitos entre usuários de mesma finalidade em um mesmo
manancial. Tem casos, por exemplo, dos açudes do Estreito e Copa da Mandioca, onde
o conflito pelo uso da água são os irrigantes localizados no entorno dos açudes com
irrigantes que estão localizados em perímetros irrigados, perímetros públicos ou
irrigação de fundo a jusante. Ou seja, temos a mesma finalidade, mas disputando água
dos açudes localizados em pontos diferentes do sistema hídrico.
Há também casos de usos múltiplos localizados em diferentes pontos do sistema
hídrico, a montante do açude, ao longo de trechos perenizados e ao longo de
infraestruturas associadas a sistemas hídricos, como adutoras e canais. O açude Bico da
Pedra, por exemplo, em MG, com usos diversos e difusos a montante, como consumo
humano, dessedentação de animais, a jusante como irrigação, abastecimento de núcleos
urbanos, assim como usos difusos como irrigação, indústria, ou seja, usos diversos em
diferentes pontos do sistema hídrico. Há também os conflitos entre os usos consuntivos
e não consuntivos, como o caso do Rio Mucuri, onde temos uma UHE Santa Clara, de
uso não consuntivo, mas que sua operação impõe alguns limites de vazão ao longo do
trecho perenizado a jusante, e lá na frente temos uma indústria que precisa dessa água
do rio para diluir afluentes, então esses usos são competitivos. Se a geração de energia
diminui a montante, temos menos água ao longo do trecho perenizado e menos água
para diluir o efluente da indústria. É importante ressaltar também, que há conflitos por
conta da qualidade da água.
O rio Salitre, que banha nove municípios da Bahia e tem seu exutório localizado na
comunidade de Campos dos Cavalos, Juazeiro, era permanente e possuía um vale fértil
para a produção de legumes, frutas e hortaliças para várias cidades. Um conflito nesta
região se instaurou devido a cerca de 35 barramentos construídos durante seu curso de
água. Os mesmos foram engendrados majoritariamente na década de 70, em que não
havia a necessidade de outorga para este tipo de obra, sem a determinação de uma vazão
mínima ecológica. Como tentativa de solucionar este caso, a Companhia de
Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) instaurou nove
barragens galgáveis para perenizar o baixo Salitre com águas do rio São Francisco; e na
década de 70, permitiu-se que cada família irrigasse no máximo 3 hectares. No entanto,
desde então o conflito não apenas deixou de ser completamente solucionado, como
ocasionou confrontos armados em 1984 e 2011, entre atores com usos conflitantes.
Ainda, tentou-se por meio do Projeto Salitre, em março de 2010, que 34 mil hectares
fossem irrigados, com 20% da área reservada para o pequeno agricultor, cada um com 6
hectares, mas as exigências para conseguir esses lotes acirrou ainda mais o conflito. Em
outubro de 2010, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Salitre requereu o
cadastramento de usuários da bacia, que até então não havia sido realizado. Até o
momento, porém, “ainda não há solução para o problema apresentado” (BAHIA, 2014).
Figura 3: Localização do rio Salitre
No caso da cidade do Lapão, desde 2009 a elevada quantidade de água extraída por
poços sem atender às exigências legais tem sido levada como possível causa da abertura
de grandes fendas e rachaduras no solo. Devido a isso, o Ministério Público do Estado
da Bahia recomendou que o Instituto de Gestão das Águas e Clima (INGÁ) que
suspendesse os usos da água captada em mananciais subterrâneos desde a nascente do
riacho do Juá até a localidade de Tanquinho, exceto para consumo humano.
6. EXPERIÊNCIA EM OUTROS PAÍSES
Um dos mais notórios conflitos acerca do uso de água diz respeito aos Estados Unidos e
México, com relação às águas superficiais e subterrâneas. Isto deve-se ao fato da
posição territorial transfronteiriça em que as águas se situam. Em ordem de solucionar
tais conflitos, recorrem-se a tratados e acordos internacionais, que demandam muito
tempo de negociação e são de grande dificuldade de serem pactuados. A história
demonstra que em muitos casos, um conflito desta escala é resolvido unilateralmente,
favorecendo o país mais poderoso e redundando em confrontos bélicos.
Ainda, acerca de conflitos do Oriente Médio entre Israel, Líbano, Síria e Jordânia, Shiva
(2011, p.1) dispõe o seguinte:
[a] guerra entre israelenses e palestinos é, em certa medida, uma guerra pela
água. O motivo é o Rio Jordão, usado por Israel, Jordânia, Síria, Líbano e
Cisjordânia. A agricultura em escala industrial de Israel requer água desse Rio,
bem como das águas subterrâneas da Cisjordânia. Embora somente 3% da
bacia do Jordão esteja em território israelense, esta área proporciona 60% das
necessidades de água de Israel. A guerra de 1967 foi, de fato, uma guerra pela
água das Colinas de Golan, do Mar da Galiléia, do Rio Jordão e da Cisjordânia.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conflitos pelo uso dos recursos hídricos nunca dependerão de ação única e pontual.
Sempre exigiram a participação de todos os envolvidos e a criação de um pacto para sua
a efetividade, a médio e longo prazo, com ações de infraestrutura, capacitação,
organização e mobilização social, parcerias e consórcios entre vários órgãos públicos e
privados, a participação ativa e decisiva dos comitês de bacia hidrográfica, controle,
fiscalização e monitoramento do uso dos recursos hídricos, a aplicação efetiva dos seis
instrumentos da Lei no 9.433/1997, com todos os seus fundamentos e diretrizes em
pleno funcionamento.
Assim, a solução do conflito precisa ser entendida como um processo que se desenvolve
no tempo. Que sempre precisará de acompanhamento, fiscalização, correção de rumos
e, sobretudo, uma cooperação respeitosa e confiante entre as partes envolvidas.
8. REFERÊNCIAS CONSULTADAS
1. BAHIA. Ministério Público. Velho Chico: a experiência da fiscalização preventiva
integrada na Bahia. Salvador, 2014.
2. IGAM. Outorga de direito de uso dos recursos hídricos. Disponível em:
www.igam.mg.gov.br. Acesso em: 23 maio 2010.
3. ROCHA, A. C. da. Bacias em Conflito pelo Uso da Água no Estado de Minas Gerais.
In: Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos: exemplos em Minas Gerais. Cláudio
Antonio Di Mauro et al. (Coordenadores). Uberlândia: CBH-Araguari/Assis Editora,
2012. 454 p.
4. RIBEIRO, W.C. Geografia Política da Água. São Paulo: Annablume, 2008, p.162.
5. PEDROSA, Valmir de Albuquerque. Solução de conflitos pelo uso da água. [S.
l.: s. n.], 2017.