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84 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 1


 C
 O
 N




©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

Argumentação e lógica formal


Distinção validade – verdade

GRUPO I

1. Indique, para cada questão, a opção correta.


1.1. A verdade é um valor lógico:
A. das proposições;
B. dos termos;
C. dos argumentos;
D. das frases imperativas.
1.2. A definição de «proposição» é a seguinte:
A. frase imperativa;
B. conjunto de frases declarativas cuja relação entre si serve para sustentar uma delas;
C. representação mental relativa a um ser ou a um conjunto de seres;
D. pensamento ou conteúdo, verdadeiro ou falso, expresso por uma frase declarativa.
1.3. Os argumentos podem ser verdadeiros ou falsos. Esta afirmação é:
A. verdadeira, porque a verdade é o valor lógico dos argumentos;
B. falsa, porque uma das propriedades dos argumentos é a validade e não a verdade;
C. verdadeira, porque nenhum argumento pode ser simultaneamente verdadeiro e falso;
D. falsa, porque se houver argumentos falsos, de nada vale o estudo da lógica.
1.4. A seguinte opção expressa um indicador de premissa?
A. conclui-se que;
B. logo;
C. por conseguinte;
D. dado que.

GRUPO II

1. Refira qual a estrutura de um argumento.

2. Explique em que medida se pode afirmar que nem todas as frases expressam proposições.

3. Com base nos termos «João», «corredor» e «futebolista», apresente um exemplo de uma proposi-
ção:
a) Categórica.
b) Condicional.
c) Disjuntiva.

4. Relacione «termo» e «conceito».


86 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 1  C


 O
 N



GRUPO I elemento básico do pensamento. Trata-se
Trata-se da represen- P 
©

 o

1. tação intelectual de determinada realidade, podendo  t  
 o

 d 
dizer respeito a uma classe de objetos ou a uma reali- i  
 t  
 o
1.1. A. r 
 a 
dade singular, embora alguns autores defendem que
1.2. D só as noções ou ideias gerais é que podem ser conside-
1.3. B radas conceitos.
1.4. D O mesmo conceito pode ser expresso por termos dife-
rentes sob o ponto de vista linguístico e o mesmo
GRUPO II vocábulo pode exprimir diferentes conceitos. Além
1. Um argumento é constituído por proposições devida- disso, um termo pode ser constituído por mais do que
mente articuladas, ou seja, existe nexo lógico entre uma palavra, exprimindo um único conceito.
elas. Tais
Tais proposições são a(s) premissa(s) e a conclu-
5. O juízo é a operação mental que permite estabelecer
são, sendo que a(s) premissa(s) procura(m) defender,
uma relação entre conceitos e que está subjacente à for-
sustentar ou justificar a conclusão. A esta também se
mação de proposições.
chama tese, pois é aquilo que está a ser defendido
defendido..
6. O governo deve promover os espaços verdes.
2. As frases declarativas são as únicas que expressam pro-
posições. Trata-se
Trata-se de frases que afirmam, negam, atri- 7.
buem, declaram ou constatam alguma coisa, podendo 7.1. O primeiro é um argumento dedutivo, uma vez que a
portanto ser consideradas verdadeiras ou falsas. Frases sua validade depende apenas da forma lógica. O
associadas a atos de interrogar, ordenar, exclamar,
exclamar, segundo é um argumento não dedutivo, mais propria-
pedir, chamar,
chamar, prometer são exemplos que não se mente um argumento indutivo, porque a sua validade
enquadram na categoria das frases que expressam pro- depende de aspetos que vão para lá da forma lógica, isto
posições, justamente porque não podem ser classifica- é, a verdade da premissa apenas sugere a plausibilidade
das como verdadeiras ou falsas. da conclusão. Como se vê pelo exemplo, a conclusão não
3. deriva necessariamente da premissa.

a) João é corredor. 7.2. O argumento dedutivo apresentado é inválido, por-


que as suas premissas são verdadeiras e a conclusão é
b) Se João é futebolista, então é corredor. falsa. O argumento indutivo, por sua vez, é válido porque
c) João é futebolista ou corredor. é improvável que a premissa seja verdadeira e a conclu-
4. O termo é geralmente entendido como a expressão são seja falsa, ou seja, a verdade da premissa fornece uma
verbal do conceito. O conceito, por sua vez, constitui o forte razão para pensar que a conclusão é verdadeira.
88 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N
 C
GRUPO II  O
 N




©

1. Coloque na forma canónica as seguintes proposições:  o

 t  
 o

 d 
i  
a) Nem todos os arquitetos são criadores.  t  
 o

 a 

b) Quem se deita cedo e cedo se levanta é saudável.


c) Há indivíduos cuja única ocupação é simplesmente roubar.
d) Ser voluntário é dedicar-se aos outros.

2. Refira quais os termosque se encontram distribuídos e quais os que não se encontram distribuídos
nas seguintes proposições:
a) Alguns doces não são açucarados.
b) Alguma energia é renovável.
c) Todos os bombeiros são benfeitores.
d) Nenhum eletrodoméstico é máquina industrial.

3. Em cada um dos seguintes silogismos, identifique os termos, a figura e o modo.


a) Os maus criadores não são imaginadores consequentes.
Os arquitetos são imaginadores consequentes.
Logo, os arquitetos não são maus criadores.
b) Todos os felinos são vertebrados.
Todos os gatos são felinos.
Logo, alguns vertebrados são gatos.

4. Considerando as regras do silogismo, tire a conclusão de cada um dos seguintes pares de premissas:

a) Os simples argumentadores não são grandes oradores.


Os homens dedicados à causa pública são grandes oradores.
b) Alguns cafés são descafeinados.
Todos os cafés são bebidas.

5. O seguinte silogismo é inválido. Justifique a sua invalidade.


A bateria é um instrumento musical de percussão.
Alguns instrumentos musicais são baterias.
Logo, os instrumentos musicais são de percussão.

6. Avalie os silogismos que se seguem. Se algum deles for inválido, justifique a sua invalidade.
a) Os catalães são espanhóis.
Alguns espanhóis são independentistas.
Logo, os catalães são independentistas.
b) As ruas não são quarteirões.
As estradas não são ruas.
Logo, as estradas não são quarteirões.

7. Partindo dos termos indicados, apresente um exemplo de silogismo categórico inválido em que
seja cometida a falácia da ilícita maior:
Termo maior: terráqueo.
Termo menor: inglês.
Termo médio: alemão.
90 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 2  C


 O
 N



GRUPO I b) Algumas bebidas são descafeinadas. P 
©

 o

1. 5. O termo menor, «instrumentos musicais», está distri-  t  
 o

 d 
i  
1.1. C buído na conclusão mas não o está na respetiva premissa,  t  
 o

 a 

violando-se assim a regra que determina que qualquer


1.2. D
termo distribuído na conclusão tem de o estar também
1.3. B na premissa de que é parte integrante. Por esse motivo, a
1.4. A conclusão acaba também por não seguir a parte mais
GRUPO II fraca (a premissa menor).
1. 6.
a) Alguns arquitetos não são criadores. a) Inválido. O termo médio não está distribuído pelo
menos uma vez. Além disso, a conclusão teria de ser par-
b) Todos os que se deitam cedo e cedo se levantam são ticular, seguindo a parte mais fraca.
saudáveis.
b) Inválido. Com duas premissas negativas, nada se
c) Alguns indivíduos são ladrões a tempo inteiro. poderá concluir.
d) Todos os voluntários são dedicados aos outros. 7.
2. Todos os alemães são terráqueos.
a) Encontra-se distribuído o termo «açucarados»; o termo Nenhum inglês é alemão.
«doces» não se encontra distribuído. Logo, nenhum inglês é terráqueo.
b) Nenhum dos termos – «energia» e «renovável» – se 8.
encontra distribuído. a) Válido. Modus ponens.
c) Encontra-se distribuído o termo «bombeiros»; o termo b) Inválido. Falácia da negação do antecedente.
«benfeitores» não se encontra distribuído.
9. Modus ponendo tollens: Ou ignoras os sintomas ou vais
d) Ambos os termos – «eletrodoméstico» e «máquina ao médico. Ignoras os sintomas. Logo, não vais ao
industrial» – se encontram distribuídos. médico.
3. Modus tollendo ponens: Ou ignoras os sintomas ou vais
a) Termo maior: «maus criadores»; termo menor: «arquite- ao médico. Não ignoras os sintomas. Logo, vais ao
tos»; termo médio: «imaginadores consequentes». médico.
Modo: EAE. 10.
Figura: 2.ª. 10.1. O silogismo é inválido porque, uma vez que esta-
b) Termo maior: «gatos»; termo menor: «vertebrados»; mos perante uma disjunção que não é completa (disjun-
termo médio: «felinos». ção inclusiva), a afirmação de uma das alternativas não
Modo: AAI. implica a negação da outra.
Figura: 4.ª. 10.2. És arquiteto ou poeta.
4. Não és arquiteto.
a) Os homens dedicados à causa pública não são simples Logo, és poeta.
argumentadores.
92 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

2. Formalize as proposições a seguir indicadas, apresentando a sua expressão canónica e a respetiva  C


 O
 N

interpretação: 1 


©

 o

a) Tanto as árvores como as grutas são protetoras.  t  
 o

 d 
i  
 t  
 o
b) Ou Deus existe ou o Universo é uma sombra errante. r 
 a 

c) Não ter talento artístico é condição suficiente para eu não ser pintor, se, e só se, os dicionários
fornecem definições corretas.

3. Verifique, usando as tabelas de verdade, se as seguintes fórmulas proposicionais são tautologias,


contradições ou contingências.
a) (ÿ P ⁄ ÿ Q) ´ ÿ (ÿ P ⁄ ÿ Q)
b) (ÿ P Ÿ ÿ Q) Æ ÿ P

4. Refira, usando uma tabela de verdade, se as seguintes proposições são ou não logicamente equiva-
lentes. Justifique.
– Se gosto de futebol, então tenho um clube.
– Não gosto de futebol ou tenho um clube.

5. Considere os seguintes argumentos:

a) Se vou à feira, então compro sapatos.


Vou à feira.
Logo, compro sapatos.
b) Acredito em ti ou sou inteligente.
Não acredito em ti.
Logo, sou inteligente.
c) Se a noite é tempestuosa, então fico confuso.
A noite não é tempestuosa.
Logo, não fico confuso.
5.1. Determine a sua validade recorrendo a inspetores de circunstâncias. Comece por apresentar a
interpretação (dicionário) e a formalização respetivas.
5.2. Identifique cada um dos argumentos anteriores.

6. Identifique o seguinte argumento e traduza-o com recurso às letras proposicionais e às variáveis de


fórmula:
Se eu viajo e tu lês, então sabemos o essencial. Se sabemos o essencial, então a nossa vida tem
sentido. Logo, se eu viajo e tu lês, então a nossa vida tem sentido.

COTAÇÕES
GRUPO I c) ............................................................. 10 pontos
1. 3.
1.1. .......................................................... 5 pontos a) ............................................................. 15 pontos
1.2. .......................................................... 5 pontos b) ............................................................. 15 pontos
1.3. .......................................................... 5 pontos 4. ............................................................. 20 pontos
1.4. .......................................................... 5 pontos 5.
GRUPO II 5.1. .......................................................... 30 pontos
1. ............................................................. 30 pontos 5.2. .......................................................... 15 pontos
2. 6. ............................................................. 25 pontos
a) ............................................................. 10 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos
b) ............................................................. 10 pontos
94 Testes de avaliação e sugestões de resposta

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TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 4


 C
 O
 N




©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

Argumentação e retórica
GRUPO I

1. Indique, para cada questão, a opção correta.


1.1. No âmbito da argumentação, é legítimo afirmar que:
A. a opinião do orador é sempre indubitável;
B. o auditório pode ser individual ou coletivo;
C. o orador apresenta uma tese a favor da qual o auditório irá argumentar;
D. o contexto de receção é irrelevante na adesão à tese e aos argumentos do orador.
1.2. O  pathos:
A. diz respeito ao auditório, a quem o orador quer convencer a aderir à(s) sua(s) ideia(s);
B. reporta-se ao discurso, aos argumentos apresentados em defesa de uma determinada tese;
C. refere-se ao orador, à sua credibilidade, honestidade e integridade;
D. está relacionado com a linguagem utilizada, com o seu conteúdo e os aspetos formais que
a caracterizam.
1.3. A credibilidade do orador, o seu carácter e a sua integridade moral dizem respeito:
A. ao ethos;
B. ao logos;
C. à validade dos argumentos que apresenta para defender as suas ideias;
D. ao  pathos.
1.4. A validade de um argumento por analogia depende:
A. da autoridade em que este se sustenta;
B. da indução que nele se efetua;
C. do facto de as semelhanças que existem entre as realidades comparadas serem mais rele-
vantes do que as diferenças que as separam;
D. da credibilidade do sujeito que o formula.
1.5. Todos os alunos do ensino profissional que até hoje tive são indisciplinados. Logo, todos os alunos
do ensino profissional são indisciplinados . Trata-se:
A. de um argumento de autoridade;
B. de um argumento por analogia;
C. de um argumento indutivo, por generalização;
D. de uma previsão indutiva.
96 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N
 C
GRUPO III  O
 N




©

1. Esclareça o significado de cada um dos seguintes argumentos informais:
 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
a) Argumento indutivo, por generalização.  o

 a 

b) Argumento indutivo, por previsão.


c) Argumento por analogia.
d) Argumento de autoridade.

2. Identifique as falácias que seguidamente se expõem. Justifique a sua resposta.

a) Se hoje ajudas este, amanhã terás que ajudar aquele. Se amanhã ajudares ambos, entretanto
ajudarás outros tantos. Aos indivíduos seguir-se-ão as associações, de tal modo que, quando
deres por ti, já para ti nada resta. Por conseguinte, o melhor é não ajudar ninguém.
b) O passado político do indivíduo X não lhe dá credibilidade alguma para propor qualquer solu-
ção para este país, por muito bem sustentada que ela possa estar. Logo, ignore-se, para a nação,
qualquer sugestão sua.
c) Ou o mundo surgiu por acaso ou resultou de um Criador inteligente. Como ele não surgiu por
acaso, então resultou de um Criador inteligente.
d) Os animais merecem ser respeitados. Logo, todos os a nimais são merecedores de respeito.

COTAÇÕES
GRUPO I GRUPO II
1. 1. ............................................................. 25 pontos
1.1. .......................................................... 5 pontos 2. ............................................................. 25 pontos
1.2. .......................................................... 5 pontos 3. ............................................................. 25 pontos
1.3. .......................................................... 5 pontos 4. ............................................................. 25 pontos
1.4. .......................................................... 5 pontos GRUPO III
1.5. .......................................................... 5 pontos 1. ............................................................. 20 pontos
1.6. .......................................................... 5 pontos 2. ............................................................. 40 pontos
1.7. .......................................................... 5 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos
1.8. .......................................................... 5 pontos
98 Testes de avaliação e sugestões de resposta

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TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 5


 C
 O
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©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

Argumentação e Filosofia
GRUPO I
1. Indique, para cada questão, a opção correta.
1.1. A retórica, ensinada pelos sofistas, visa:
A. dotar as mulheres de habilidades linguísticas;
B. formar os jovens cidadãos no sentido de estes participarem nas assembleias democráticas;
C. desenvolver competências argumentativas nos escravos;
D. treinar jovens atores para exibições de teatro.
1.2. Os sofistas mais destacados são:
A. Górgias, Platão e Sócrates;
B. Hípias, Górgias e Sócrates;
C. Platão, Górgias e Protágoras;
D. Protágoras, Górgias e Hípias.
1.3. Os sofistas eram professores itinerantes que:
A. ensinavam a arte de bem falar aos jovens cidadãos em troca de uma remuneração;
B. ensinavam aos jovens a arte elocutória a troco de posições políticas de destaque;
C. ofereciam uma vasta formação integral de modo desinteressado;
D. ofereciam uma formação integral sólida aos escravos por puro amor à sabedoria.
1.4. As críticas aos sofistas são dirigidas por:
A. Platão e Hípias;
B. Sócrates e Górgias;
C. Hípias e Górgias;
D. Sócrates e Platão.
1.5. Um dos aspetos que distingue o sofista do filósofo:
A. é a ênfase que o sofista coloca na forma do discurso, ao contrário do filósofo, que se centra
no conteúdo;
B. reside no facto de o sofista entender a verdade em si mesma, ao contrário do filósofo, que
entende a verdade à medida das diferentes circunstâncias;
C. baseia-se no facto de o sofista privilegiar a verdade e o filósofo a técnica;
D. é a retribuição: enquanto o sofista busca desinteressadamente a verdade, o filósofo faz-se
pagar pelos seus serviços.
1.6. A manipulação caracteriza-se pela:
A. prática do discurso que tem como finalidade a livre adesão do auditório à tese que o ora-
dor pretende que seja acolhida por aquele;
B. prática abusiva do discurso – abusiva na medida em que obriga o recetor a aderir a uma
dada mensagem (que um dado emissor deseja impor);
C. prática do discurso que tem como finalidade a adesão do auditório a uma tese oculta;
D. prática abusiva do discurso que visa retirar a liberdade ao orador de modo a que ele não
possa defender a tese em que realmente acredita.
100 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 5  C


 O
 N



GRUPO I necessário garantir a liberdade de um dado recetor. Tal exi- P 
©

 o

1. gência pode parecer, à primeira vista, despropositada por- r 


 t  
 o

que partimos sempre do princípio de que o recetor tem  d 
i  
 t  
 o
1.1. B. r 
 a 
liberdade de aceitar, ou não, a tese. Tal problema não se
1.2. D. colocaria se o orador, no decurso do processo argumenta-
1.3. A. tivo, apenas visasse a persuasão do auditório, ou seja, levar
1.4. D. o auditório a mudar de ideias, mas pressupondo a sua livre
adesão à tese que o orador pretende que seja acolhida por
1.5. A. aquele. Todavia, nem sempre o orador permite essa liber-
1.6. B. dade do auditório, sobretudo quando impõe, com recurso
1.7. C. à manipulação, a sua tese. O discurso é manipulador
1.8. A. quando abusivamente obriga o recetor a aderir a uma
dada mensagem (que um dado emissor deseja impor).
GRUPO II Essa manipulação pode assumir a forma de manipulação
1. Os sofistas eram professores itinerantes que se dedica- dos afetos, centrada no apelo à emoção e aos sentimentos
vam ao ensino dos jovens cidadãos mediante uma remu- do recetor, e de manipulação cognitiva, que opera por fal-
neração. Dominavam a arte de persuadir pela palavra e sificação do conteúdo do discurso.
eram dotados de habilidade linguística e de estilo elo- 2. A argumentação é fundamental para a atividade filosó-
quente, surpreendendo pela sua vasta erudição e pelos fica, que procura uma visão integrada do real, uma com-
seus discursos expressivos. preensão da realidade no seu todo, do ser, dedicando-se à
Enquanto professores, os sofistas centravam o seu ensino busca da verdade. As teorias filosóficas estão, frequente-
mais na forma do que no conteúdo, ensinando, por isso, a mente, dependentes das suas perguntas e respostas. A filo-
técnica do discurso, a arte de fazer triunfar um discurso em sofia socrático-platónica, por exemplo, exigia encontrar a
função da conveniência de cada um. Sócrates, Platão e Verdade – única, absoluta e universal, capaz de dizer uma
seus discípulos não podiam aceitar este relativismo da ver- realidade absoluta, perfeita e imutável – e, por isso, criticava
dade, esta valorização da retórica como arte do discurso fortemente a retórica sofística, por esta dar espaço ao subje-
persuasivo em detrimento da sabedoria. Este aspeto, tivismo e ao relativismo.
aliado ao facto de os sofistas se fazerem pagar pelos seus Reconhece-se, contudo, que a diversidade dos discursos,
serviços, originou uma visão depreciativa dos sofistas. quer estejamos a falar de sistemas filosóficos, quer nos este-
2. Enquanto Górgias considera a retórica uma arte, Sócra-  jamos a referir ao conhecimento científico, à religião ou à
tes caracteriza-a como uma atividade empírica, destinada política, reflete a riqueza de perspetivas e leituras que pode-
a produzir uma certa espécie de agrado no auditório. mos fazer da realidade. Nesse sentido, a razão não é mais
Com efeito, no diálogo «Górgias» de Platão, Sócrates, para entendida como a faculdade humana detentora de conheci-
além de tecer críticas aos sofistas, define a retórica como mentos definitivos e unívocos, mas como faculdade
uma atividade empírica, que visa apenas o agradável, o humana plural, portadora de conhecimentos plurívocos e o
prazer, uma prática que serve de simulacro à política, mais próximos possível da verdade. Portanto, emerge uma
confrontando o discurso como instrumento de poder, nova conceção da racionalidade – uma racionalidade argu-
próprio dos sofistas, com o discurso como instrumento mentativa.
de verdade, próprio dos filósofos. É neste diálogo que Muito embora a argumentação pressuponha a existência de
Sócrates alerta Polo para o contraste metodológico entre diferentes teses e, também, a possibilidade da contradição,
ele e os sofistas: enquanto os sofistas se refugiam na elo- não quer isto dizer, no entanto, que com o novo modelo de
quência de longos discursos, Sócrates prefere o diálogo, a racionalidade se caia num relativismo puro ou que se negue
metodologia de pergunta-resposta. o esforço de universalidade dos nossos conhecimentos
3. Enquanto os sofistas são professores itinerantes que se acerca do real. Pelo contrário, isso significa o reconheci-
fazem pagar pelos seus serviços, os filósofos, de acordo mento do pluralismo que a racionalidade encerra, isto é, o
com Sócrates e Platão, são amantes, desinteressados, do reconhecimento de que se pode dizer/conhecer o real de
saber. Por oposição a um discurso centrado na forma, na diferentes maneiras. Impõe-se, por isso, para o filósofo de
técnica e na eficácia, próprio dos sofistas, os filósofos pre- hoje, a afirmação de uma (ou várias) verdade(s) possível(eis),
ferem centrar o discurso no conteúdo, na sabedoria e na aliada(s) a uma atitude crítica, de abertura e questiona-
procura da verdade absoluta. Por último, ao contrário dos mento face ao real. Para a filosofia contemporânea, a busca
sofistas, que entendem a verdade à medida das circuns- da verdade não é mais incompatível com a retórica; pelo
tâncias individuais e baseiam o discurso em opiniões e contrário, há quem afirme poder encontrar nesta o método
aparências, os filósofos entendem a verdade como exis- da filosofia. Daí que a filosofia, «mais do que encontrar-se
tente em si, baseando o discurso na Verdade e no Bem. ligada à posse da verdade», se associe «à crença na verdade
GRUPO III e à aspiração de tornar a verdade, em que o filósofo crê,
admitida por outras pessoas, e, eventualmente, por todas as
1. Nas democracias atuais, a liberdade de expressão é con- pessoas». Tal admissão, como se refere no texto, «só pode
siderada um direito fundamental que não pode ser posto ser realizada através de meios argumentativos», isto é, os
em causa. Contudo, para além da liberdade de expressão meios argumentativos são o método da filosofia para fazer
de um dado orador, é igualmente necessário que o auditó- com que o auditório admita as suas teses.
rio a que ele se dirige seja também livre, ou seja, é também
102 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

C. contingentes e a priori ;
 C
 O
 N



D. universais e contingentes. P 
©

 o

 t  
 o
1.7. A seguinte frase expressa um juízo analítico: E 
 d 
i  
 t  
 o

 a 
A. A Joana é bela.

B. Os cães ladram.

C. Estou triste.

D. Os solteiros não são casados.

1.8. «As vacas poluem a atmosfera.» Estamos perante um juízo:

A. a priori ;

B. a posteriori ;

C. sintético a priori ;

D. analítico a posteriori .

GRUPO II

1. Relacione os seguintes conceitos: «experiência», «saber que», «saber-fazer» e «conhecimento por


contacto».

2. Mostre em que medida o conceito de «realidade» possui diversos significados.

3. «TEETETO – Sócrates, fiquei agora a pensar numa coisa que tinha esquecido e que ouvi alguém
dizer: que o saber é opinião verdadeira acompanhada de explicação e que a opinião carente de
explicação se encontra à margem do saber.»
Platão (2005), Teeteto ou Da Ciência , 2.ª ed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, p. 302.

Refira de que modo E. Gettier contestou a ideia de que o conhecimento equivale à «opinião verda-
deira acompanhada de explicação».

4. Mostre qual a diferença estabelecida por Kant entre juízos sintéticos e juízos analíticos, salientando
em que medida as verdades dos primeiros podem ser conhecidas a partir de duas fontes distintas.

COTAÇÕES
GRUPO I 1.7. .......................................................... 7,5 pontos
1. 1.8. .......................................................... 7,5 pontos
1.1. .......................................................... 7,5 pontos GRUPO II
1.2. .......................................................... 7,5 pontos 1. ............................................................. 35 pontos
1.3. .......................................................... 7,5 pontos 2. ............................................................. 35 pontos
1.4. .......................................................... 7,5 pontos 3. ............................................................. 35 pontos
1.5. .......................................................... 7,5 pontos 4. ............................................................. 35 pontos
1.6. .......................................................... 7,5 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos
104 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 7


 C
 O
 N




©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

Descrição e interpretação da atividade cognoscitiva


Análise comparativa de duas teorias explicativas do conhecimento

GRUPO I

1. Indique, para cada questão, a opção correta.


1.1. De acordo com os racionalistas, o modelo do conhecimento ou do saber é a:
A. experiência;
B. matemática;
C. indução;
D. dedução a posteriori .
1.2. O conceito de «dogmatismo» enquanto confiança de que a razão pode atingir a certeza e a
verdade opõe-se ao conceito de:
A. realismo;
B. ceticismo;
C. criticismo;
D. otimismo racionalista.
1.3. Uma das regras do método cartesiano é a regra da análise. Esta regra estabelece:
A. que nada deve ser aceite como sendo verdade sem que se apresente com clareza e distin-
ção;
B. a necessidade de se conduzir, com ordem, o pensamento, partindo sempre das ideias mais
simples para as mais complexas;
C. que se deve sempre rever cautelosamente o trabalho efetuado, de modo a nada omitir;
D. a obrigatoriedade de dividir as dificuldades por partes, para melhor as resolver.
1.4. Em relação às regras do método cartesiano, podemos dizer que elas:
A. permitem guiar a razão na procura da verdade;
B. apenas se aplicam aos conhecimentos matemáticos;
C. variam em função dos vários domínios do saber;
D. resultam da necessidade de confirmar os conhecimentos veiculados pela tradição.
1.5. A ideia de «carro» é, de acordo com a classificação de Descartes, uma ideia:
A. factícia;
B. inata;
C. imaginária;
D. adventícia.
1.6. O cogito de Descartes apresenta as seguintes características:
A. é uma certeza inabalável; obtém-se por dedução;
B. é um princípio evidente; obtém-se por intuição;
106 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

dizem eles, nos devemos assegurar mediante uma cadeia de raciocínio, deduzida de algum princí-  C
 O
 N

pio original que, possivelmente, não pode ser falaz ou enganador. Mas, não existe um tal princípio 1 


©

original, que tenha uma prerrogativa sobre os outros, que são autoevidentes e convincentes.»  o

 t  
 o

 d 
David Hume (1989), Investigação sobre o Entendimento Humano , Lisboa, Edições 70, pp. 143-144. i  
 t  
 o

 a 

Partindo do texto, compare as conclusões de Descartes e de Hume no que se refere à fundamenta-


ção do conhecimento.

COTAÇÕES
GRUPO I GRUPO II
1. 1. ............................................................. 25 pontos
1.1. .......................................................... 5 pontos 2. ............................................................. 25 pontos
1.2. .......................................................... 5 pontos 3. ............................................................. 25 pontos
1.3. .......................................................... 5 pontos GRUPO III
1.4. .......................................................... 5 pontos 1. ............................................................. 25 pontos
1.5. .......................................................... 5 pontos 2. ............................................................. 30 pontos
1.6. .......................................................... 5 pontos 3. ............................................................. 30 pontos
1.7. .......................................................... 5 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos
1.8. .......................................................... 5 pontos
108 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 8


 C
 O
 N




©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

O estatuto do conhecimento científico


Conhecimento vulgar e conhecimento científico
Ciência e construção – validade e verificabilidade das hipóteses

GRUPO I

1. Indique, para cada questão, a opção correta.


1.1. Qual das seguintes questões não constitui um problema da epistemologia (ou filosofia da
ciência)?
A. O que é a ciência?
B. Em que consiste a teoria científica da evolução por seleção natural?
C. Como progride a ciência?
D. Que significa o conceito de «objetividade científica»?
1.2. A atitude do cientista é essencialmente:
A. problematizadora, racional e dogmática;
B. problematizadora, racional e crítica;
C. problematizadora, racional e acrítica;
D. problematizadora, racional e superficial.
1.3. O conhecimento científico é:
A. subjetivo;
B. imetódico e assistemático;
C. explicativo;
D. superficial.
1.4. O conhecimento científico procura ser objetivo porque:
A. se encontra sujeito a correções e a alterações;
B. se mantém como aceitável até surgir outra teoria mais eficaz e mais próxima da verdade;
C. tem em atenção o facto, excluindo as apreciações subjetivas;
D. visa ordenar a diversidade empírica.
1.5. O problema da demarcação pode ser formulado na seguinte questão:
A. O que distingue a investigação nas ciências, como a biologia e a física, da investigação nou-
tras disciplinas, como a história e a sociologia?
B. Em que consiste a teoria científica do heliocentrismo?
C. A clonagem humana é eticamente legítima?
D. O que distingue as teorias científicas das que não são científicas?
110 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 8  C


 O
 N



GRUPO I depreende a falta de necessidade do conhecimento vul- P 
©

 o

1. gar. r 
 t  
 o

 d 

1.1. B 3. Duas das críticas de que foi objeto a conceção induti- i  
 t  
 o

 a 

vista do método são: a) a observação não é necessaria-


1.2. B
mente o primeiro momento do método científico e,
1.3. C mesmo que o cientista a ela recorra, ela não é inteira-
1.4. C mente neutra e isenta; b) o raciocínio indutivo não ofe-
1.5. D rece a consistência lógica que as teorias científicas recla-
mam.
1.6. B Relativamente à primeira alínea, podemos dizer que a
1.7. A observação pura não existe. No mínimo, os conhecimen-
1.8. A tos anteriores do cientista, as teorias com que contactou,
GRUPO II determinam a observação que efetuará, pelo que, par-
tindo daí, já não é da observação que parte. A sua obser-
1. Seria Karl Popper, uma vez que este defende a tese vação é, portanto, mediada, isto é, não neutra nem isenta.
continuísta na passagem do conhecimento vulgar ao A segunda crítica é de índole lógica. De facto, o raciocínio
conhecimento científico – e no texto os termos são “aper- indutivo amplificante – não o enumerativo, de Aristóteles
feiçoamento” e “crescimento”. Na sua perspetiva, a ciência – constitui um salto lógico, que leva do particular ao
é “senso comum esclarecido” ou, por outras palavras, criti- geral. A sua validade está, portanto, comprometida.
cado, corrigido, contestado. Para Popper, a criação da David Hume afirmou, a este propósito, que a generaliza-
ciência e o seu desenvolvimento representam, funda- ção indutiva é uma mera crença ou expectativa, funda-
mentalmente, um processo de constante eliminação de mentada pelo hábito e suportada pela convicção, e não
erros. pela impressão, de que as mudanças na natureza são
Gaston Bachelard, pelo contrário, não poderia subscrever regulares. A veracidade das leis científicas, por definição
esta afirmação porque, no seu entendimento, o senso universais, está, enfim, comprometida pelo problema da
comum é um obstáculo epistemológico com o qual indução.
importa romper para que se possa criar conhecimento
científico. A sua tese – de rutura entre os tipos de conhe- 4. A primeira etapa do método hipotético-dedutivo (ou
cimento em causa – não admite a existência de um conjetural) consiste na formulação de uma hipótese ou
“conhecimento vulgar provisório”, porque o conheci- conjetura a partir de um facto-problema. Constatando-se
mento vulgar não se limita a ser provisório: o senso que existe um problema que não encontra explicação
comum, através daqueles que nele sustentam os seus satisfatória no contexto de uma dada teoria, formula-se
pontos de vista, opõe-se ativamente à construção do uma hipótese ou explicação provisória para o mesmo, a
conhecimento científico. qual carece ainda de comprovação empírica. Trata-se de
um momento criativo da atividade científica, baseado
2. Do facto de o senso comum não ser explicativo não se fundamentalmente na intuição e na imaginação.
infere que esteja, por definição, errado. Só neste último A segunda fase do método em análise é a da dedução
caso é que se poderia afirmar que ele seria desnecessário. das consequências. Formulada a hipótese, são deduzidas
A experiência quotidiana também dá a conhecer a rela- as suas principais consequências, isto é, depreende-se o
ção com o mundo, e é com base nela que se fazem múlti- que poderá acontecer se a hipótese ou conjetura for ver-
plas opções no dia a dia que não exigem, à partida, um dadeira.
conhecimento muito elaborado – ou científico. Tal não O terceiro momento corresponde à experimentação.
significa, de modo algum, que se possa dispensar este Testa-se a hipótese, confronta-se a conjetura com a expe-
último, porque só ele dá a conhecer, com prova, essas e riência para aferir a sua veracidade. Sendo validada pela
muitas outras opções, bem mais exigentes. Do facto de o experiência, a teoria é corroborada; não o sendo, a teoria
conhecimento científico ser explicativo infere-se a sua é refutada, isto é, terá de ser reformulada ou, no limite,
necessidade; mas do facto de não ser explicativo não se abandonada.
112 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

Deve afirmar-se que o(s) enunciado(s):  C


 O
 N



A. 1, 2 e 3 são corretos; 4 é incorreto; P 
©

 o

 t  
 o
B. 1 e 4 são corretos; 2 e 3 são incorretos; E 
 d 
i  
 t  
 o

 a 
C. 1, 2 e 4 são incorretos; 3 é correto;

D. 3 é incorreto; 1, 2 e 4 são corretos.

1.5. Para Popper as teorias científicas são:

A. refutáveis e conjeturais;

B. refutáveis e confirmáveis;

C. confirmáveis e corroboráveis;

D. refutáveis e verificáveis.

1.6. Kuhn entende por ciência normal :

A. a fase de mudança e aceitação de um novo paradigma pela comunidade científica;

B. a fase de questionamento dos pressupostos e fundamentos do paradigma vigente, de


debate sobre a manutenção do paradigma (velho) ou a escolha de um novo paradigma;
C. a fase de tomada de consciência da insuficiência do paradigma vigente para explicar todos
os factos ou anomalias;
D. a fase da atividade científica que ocorre no âmbito de um dado paradigma aceite pela
comunidade científica, em que se procede à resolução de enigmas (quebra-cabeças) de
acordo com a aplicação dos princípios, regras e conceitos do paradigma vigente.
1.7. Para Kuhn, a ciência entra em crise quando:

A. surge uma anomalia;

B. ocorre uma revolução;

C. a ciência normal se desenvolve e cria novos problemas;

D. não se consegue resolver as anomalias persistentes.

1.8. Kuhn contribui para a definição de uma nova racionalidade científica ao afirmar que o desen-
volvimento da ciência:
A. depende de fatores históricos, sociológicos e psicológicos;

B. é independente de fatores históricos, sociológicos e psicológicos;

C. depende exclusivamente de fatores subjetivos;

D. depende exclusivamente de fatores objetivos.

GRUPO II

1. «Se dizemos que hoje em dia sabemos mais que Xenófanes ou Aristóteles, provavelmente isso está
errado, se acaso interpretarmos “saber” em sentido subjetivo. Provavelmente cada um de nós não
sabe mais, mas sabe antes outras coisas. Trocámos certas teorias, certas hipóteses, certas conjeturas
por outras, muitas vezes melhores: melhores no sentido de estarem mais próximas da verdade.»
Karl Popper (1987), Sociedade Aberta, Universo Aberto , Lisboa, Publicações Dom Quixote, p. 105.

Explique em que medida a epistemologia de Popper contribuiu para uma redefinição da rac ionali-
dade científica.
114 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 9  C


 O
 N



GRUPO I não se pode aferir qual dos paradigmas em discussão P 
©

 o

1. contém mais verdade, porque esta é, em parte, inerente r 


 t  
 o

aos paradigmas em discussão. Kuhn foi criticado por ter  d 
i  
 t  
 o
1.1. A r 
 a 
instaurado uma visão relativista da ciência e uma perce-
1.2. C ção que acaba por ser subjetivista da verdade.
1.3. C 4. Para Popper, o critério utilizado na escolha de teorias
1.4. C (ou, para usarmos a terminologia de Kuhn, de paradig-
1.5. A mas) científicas é o critério da falsificabilidade. São os
contraexemplos que, depois de sujeitos à experimenta-
1.6. D ção e de atestada a sua verdade, determinam a escolha
1.7. D de teorias rivais. Para Kuhn, o critério em causa é, em
1.8. A parte, interior aos paradigmas. Além de critérios objetivos
GRUPO II como a exatidão, a consistência, o alcance, a simplicidade
e a fecundidade, há aspetos de ordem psicológica que
1. Tradicionalmente, a racionalidade científica encon- interferem na referida escolha.
trava-se associada às noções de «objetividade», «neutrali- Para Popper, a ciência claramente progride. As teorias
dade», «verdade certa, necessária e universal» e substitutas têm maior grau de correspondência à reali-
«demonstração». As correntes positivista e neopositivista dade, enquanto as teorias substituídas se encontram
contribuíram para essa visão da ciência como o modelo mais distantes dela. Para Kuhn, o progresso da ciência
único do conhecimento verdadeiro e objetivo. não pode ser entendido da mesma maneira. Sendo os
Atualmente, assistimos a uma redefinição da racionali- paradigmas incomensuráveis, não se pode afirmar que a
dade científica. Graças ao contributo de novas perspeti- ciência progride no sentido de uma maior aproximação à
vas epistemológicas, como o falsificacionismo de Popper, verdade. A mudança de paradigma não significa necessa-
as teorias científicas não são tidas como definitivas, mas riamente progresso cumulativo e contínuo em direção a
como modelos explicativos e provisórios da realidade um fim (a verdade). No entanto, também não podemos
(conjeturas). A crítica é o pilar central do trabalho cientí- dizer que a ciência não se desenvolve. Kuhn destaca dois
fico e a garantia do escape à posição dogmática. Ao pro- momentos fundamentais para explicar como ela evolui:
curar detetar o erro (ou ao tentar falsificar as suas teorias), na fase da produção científica normal (ciência normal) e
o cientista garante o aperfeiçoamento do conhecimento na das revoluções científicas (que permitem a mudança
científico, no sentido de uma tentativa de aproximação à de paradigmas).
verdade. Por último, no que se refere à objetividade do conheci-
A nova racionalidade científica não se baseia na ideia de mento científico, Popper é dela um absoluto partidário. A
uma verdade absolutamente certa, universal e necessária; ideia de “conhecimento sem conhecedor” advogada por
apenas admite a possibilidade de haver teorias mais ou Popper é exemplificativa de que, na sua perspetiva, o
menos verosímeis e mais ou menos plausíveis que procu- conhecimento científico não se confunde com o su jeito
ram explicar corretamente os factos. que o produz; é independente do sujeito e do contexto –
2. Para Kuhn, o desenvolvimento da ciência está depen- e daí a relevância, como o texto sugere, da «análise lógica
dente de um paradigma ou modelo científico, isto é, de do conhecimento científico». A validação das teorias obe-
um conjunto de teorias, factos, crenças e conhecimentos, dece ao critério da falsificabilidade, e este garante a sua
regras, técnicas e valores, compartilhados e aceites pela cientificidade. Alicerçada na lógica, a ciência pode aspirar
maioria dos cientistas. Dizer-se que os paradigmas são ao rigor e à objetividade. Para Kuhn, pelo contrário, o
incomensuráveis equivale a afirmar que são incompará- conhecimento depende, em parte, do sujeito – de um
veis e incompatíveis. Não se pode comparar objetiva- sujeito integrado numa comunidade científica. Além de
mente aquilo que cada paradigma defende, dado que fatores objetivos, há também aspetos subjetivos que
eles correspondem a formas totalmente diferentes de interferem na avaliação e na decorrente escolha de teo-
explicar e prever os fenómenos. Como o texto mostra, há rias rivais, o que compromete a objetividade da ciência.
termos que, quando integrados em diferentes paradig- Como Kuhn afirma, «cada grupo utiliza o seu próprio
mas, remetem para significados distintos. paradigma para argumentar em defesa do próprio».
Dado que cada paradigma corresponde a um modo qua- Dependente de critérios subjetivos, a ciência vê hipote-
litativamente diferente de olhar o real, a verdade q ue cada a sua objetividade.
cada um contém está circunscrita ao que nele se deter- Apesar do exposto, para nenhum dos autores a ciência é
mina. Cada paradigma é uma representação do real. um conhecimento certo e indubitável. Para Popper,
3. Uma vez que os paradigmas são incomensuráveis, cada sendo a tentativa de falsificação o procedimento-base,
paradigma representa um modo totalmente diferente de nenhuma teoria pode ser tomada como definitiva e abso-
encarar os problemas e propor as soluções. Dois paradig- lutamente certa. Para Kuhn, sendo a mudança na ciência
mas rivais são mundos diferentes em que as mesmas coi- pautada por critérios, em parte, subjetivos, a certeza, ou
sas são entendidas de modos distintos. Neste sentido, indubitabilidade, não a pode caracterizar.
116 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

4. «Fala-se hoje muito da importância de uma “visão de conjunto” e de um “esforço de síntese”. Atitu-
 C
 O
 N

des consideradas necessárias para superar os grandes problemas do mundo moderno. Infeliz- 1 


©

mente, não nos parece que a educação que recebemos nos tivesse preparado para tanto. Basta pas-  o

 t  
 o

 d 
sar os olhos pela lista das disciplinas universitárias: fragmentam a natureza em outros tantos i  
 t  
 o

 a 

compartimentos estanques.»
Joël de Rosnay (s/d), Macroscópio – para uma visão global , V. N. de Gaia, Estratégias Criativas, p. 13.

Justifique, a partir do texto, a necessidade de uma racionalidade pluridisciplinar e transdisciplinar.

GRUPO III

1. «Os avanços científico-técnicos verificados desde há uns decénios – muito especialmente no domí-
nio da genética e da fetologia – têm ampliado notavelmente o campo da bioética.»
R. Cabral (1997), “Bioética”, in AAVV, Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia,
vol. 1, Lisboa, Editorial Verbo, p. 686.

Desenvolva, com base na afirmação, e de forma argumentada, o seguinte tema: A bioética e a racio-
nalidade pluridisciplinar e transdisciplinar .
No desenvolvimento do tema, deve apresentar o seu ponto de vista pessoal sobre a possibilidade
de a racionalidade pluridisciplinar e transdisciplinar servir o propósito prático de resolução das
grandes questões do nosso tempo, nomeadamente das questões da bioética.

COTAÇÕES
GRUPO I 1. ............................................................. 30 pontos
1. 2. ............................................................. 30 pontos
1.1. .......................................................... 7 pontos 3. ............................................................. 30 pontos
1.2. .......................................................... 7 pontos 4. ............................................................. 30 pontos
1.3. .......................................................... 7 pontos GRUPO III
1.4. .......................................................... 7 pontos 1. ............................................................. 45 pontos
1.5. .......................................................... 7 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos
GRUPO II
118 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 11


 C
 O
 N




©

 o

 t  
 o

 d 
i  
 t  
 o

 a 

A Filosofia na cidade

GRUPO I

1. Indique, para cada questão, a opção correta.


1.1. No contexto da democracia ateniense antiga, os cidadãos eram:

A. os homens livres e os escravos;


B. todos os homens e mulheres, livres ou não;

C. todos aqueles que se dedicavam à filosofia;

D. os homens livres, participantes nas decisões públicas da cidade;

1.2. Para os gregos:

A. o espaço público sobrepõe-se ao espaço privado;

B. o espaço público não se distingue do espaço privado;

C. o espaço privado permite ao ser humano a realização plena da sua natureza;

D. o espaço privado é mais importante que o público, porque se encontra ligado ao sustento
individual.
1.3. A tarefa da reflexão política é a de tentar conciliar as exigências pessoais e individuais com as
exigências:
A. coletivas;

B. familiares;

C. da classe social a que se pertence;

D. do partido político a que se pertence.

1.4. A obra A República foi escrita por:

A. Aristóteles;

B. Hannah Arendt;

C. Platão;

D. John Locke.
1.5. Equivale à condição daquele que tem liberdades públicas, gozando de certos direitos, e que, por
outro lado, cumpre os deveres sociais definidos na lei.  Estamos perante a definição de:
A. tolerância;

B. cidadania;

C. igualdade;

D. obediência.

1.6. Alguém que tem uma convicção é alguém que:

A. é necessariamente intolerante;
B. segue uma ideia sabendo por que razões o faz;

C. é necessariamente tolerante;

D. segue uma ideia sem saber por que razões o faz.


120 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

CORREÇÃO DO TESTE DE AVALIAÇÃO N.º 11  C


 O
 N



GRUPO I intolerância exprime-se numa atitude que manifesta P 
©

 o

1. posições ou convicções dogmáticas e fechadas, que ten- r 


 t  
 o

dem a não aceitar as diferenças e a recusar o diálogo e o  d 
i  
 t  
 o
1.1. D r 
 a 
consenso.
1.2. A À negociação e à necessidade de estabelecer consensos
1.3. A (próprias da tolerância), de modo a garantir a igualdade
1.4. C de direitos civis e humanos, opõe-se, assim, a imposição
(própria da intolerância) de uma estratégia unilateral de
1.5. B negociação, de forma a garantir a autoridade de uma
1.6. B posição.
GRUPO II GRUPO III
1. Para os antigos gregos, o cidadão é aquele que parti- 1. No desenvolvimento deste tema, deverá o aluno:
cipa nas questões de interesse comum, nas decisões – apresentar o seu ponto de vista pessoal, devida-
públicas da polis. Para além de cumprir as suas obriga- mente argumentado, acerca do papel do diálogo na
ções naturais, ligadas à sua subsistência e à da sua família construção da cidadania, integrando a afirmação
(espaço privado), o cidadão é o homem livre, capaz de se citada;
autogovernar e de se realizar politicamente. É no espaço – reconhecer que na «ética do discurso», de Apel e
público que o ser humano realiza plenamente a sua natu- Habermas, se parte da ideia de uma situação ideal
reza, enquanto ser livre, social e político. de comunicação cujos intervenientes partilham de
2. É o problema da natureza humana. Trata-se de saber se iguais condições de diálogo;
o ser humano é naturalmente bom e justo ou, pelo con- – relacionar a importância do diálogo com a possibili-
trário, se a sua natureza tende para o mal. O apareci- dade de estabelecer a validade de normas morais
mento de diferentes regimes – ditatoriais ou democráti- (comuns);
cos – ao longo da história esteve associado à resposta a – salientar a defesa, por parte de Apel e Habermas, da
tal questão. participação dos indivíduos no espaço público, sem
3. Tais princípios são os seguintes: a democracia como o descurar o papel do Estado;
regime preferível; a liberdade e a igualdade como direitos – reconhecer a importância da democracia como
fundamentais; o diálogo como a via razoável de resolu- regime preferível, para Rawls;
ção dos problemas comuns dos cidadãos. – compreender que, de acordo com Rawls, na base da
estabilidade de uma sociedade justa se encontram
4. Enquanto a tolerância se traduz numa atitude que doutrinas razoáveis, orientadas para um consenso
manifesta posições abertas e razoáveis, no quadro da duradouro.
aceitação das diferenças e da promoção do diálogo, a
122 Testes de avaliação e sugestões de resposta

 N

1.6. O facto de as pessoas que procuram a felicidade pela felicidade quase nunca a conseguirem
 C
 O
 N


encontrar, enquanto outras a encontram numa busca de objetivos totalmente diferentes  designa- L 

©

 o
-se por: r 
 t  
 o

 d 
i  
 t  
A. paradoxo do individualismo;
 o

 a 

B. falácia da felicidade;

C. paradoxo do hedonismo;

D. falácia do indivíduo insatisfeito.

GRUPO II

1. «O existencialismo pode considerar-se [uma] reação às construções filosóficas sistemáticas que dis-
solviam o homem numa série de abstrações.»
Alexandre Fradique Morujão (1999), “Existencialismo”, in AAVV,
Logos – Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, vol. 2, Lisboa, Editorial Verbo, p. 396.

Explique o sentido desta afirmação.

2. Refira as dificuldades com que nos deparamos quando procuramos descrever intelectualmente o
tempo.

3. Exponha as principais características da morte.

4. «A memória é tempo e, portanto, observa o passado, mas também o presente e o futuro.»


Joan-Carles Mèlich (2002), Filosofía de la Finitud , Barcelona, Herder, p. 99.

Refira, com base na afirmação, a importância da memória no que se refere à nossa responsabili-
dade perante o presente e o futuro.

GRUPO III

1. Desenvolva, de forma argumentada, o seguinte tema: O sentido da vida.


Deve, para o efeito, apresentar o seu ponto de vista pessoal e os argumentos que o suportam relati-
vamente à existência ou não de sentido na vida, e confrontar também as perspetivas de Albert
Camus e de Susan Wolf acerca desta temática.

COTAÇÕES
GRUPO I GRUPO II
1. 1. ............................................................. 30 pontos
1.1. .......................................................... 5 pontos 2. ............................................................. 30 pontos
1.2. .......................................................... 5 pontos 3. ............................................................. 30 pontos
1.3. .......................................................... 5 pontos 4. ............................................................. 30 pontos
1.4. .......................................................... 5 pontos GRUPO III
1.5. .......................................................... 5 pontos 1. ............................................................. 50 pontos
1.6. .......................................................... 5 pontos TOTAL ..................................................... 200 pontos

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