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Bernardino de Matos: É hora de partir

Marco Fontolan: A voz de um rio


Marco Fontolan: A poesia
Marco Fontolan: Haicais
Luis Filipe: Retalhos de uma aldeia
Luis Filipe: Mais uma esquina de rua
Luis Filipe: Teu jeito
Luis Filipe: Naturalidades
José Geraldo Martinez: Você é linda
José Geraldo Martinez: Ilusão
José Geraldo Martinez: Dê-me Senhor
Mercília Rodrigues: Amante
Mercília Rodrigues: Ainda o sonho
Márcia Possar - Arritmia
É HORA DE PARTIR!
Bernardino Matos

Uns partindo, outros chegando,


é a vida em movimento,
mas quando chega o momento,
de a mala ir arrumando.
a gente fica escutando,
a canção de um lamento,
que açoita o sentimento,
encabresta aquele afeto,
que aqueceu nosso teto,
e deixa a alma chorando.

A gente arruma as lembranças,


deixa o adeus num cantinho,
cuida pra que o carinho,
tão presente nas andanças,
eivadas de esperanças,
não se amasse com a tristeza,
não amarrote a leveza,
de um amor outrora infindo,,
que aos poucos foi sumindo,
no trotear das nuanças..

A gente deixa um espaço,


onde se guarda a ternura,
bem longe da amargura,
que deixa aquele mormaço,
que, o tempo, passo a passo,
com sua sabedoria,
com o dom de sua magia,,
o amor vai restaurar,
um amanhã vai raiar,
longe desse embaraço.

E depois de tudo pronto,


resta somente a partida,
uma triste despedida,
onde não vale o confronto,
dá-se à saudade um desconto,
que se supunha sem fim,
que não terminasse assim,
mas se não há mais carinho,
resta somente um caminho,
sair sem bater o ponto.

Se o amor é verdadeiro,
há uma nesga de ternura,
não há nódoa de amargura,
e a chama de um candeeiro,
qual a vela de um veleiro,
traz um clima de aconchego,
e a réstia de um apego,
mantém-se frágil e serena,
o que torna mais amena,
o acorde do violeiro.

Fortaleza, 19/05/11

Título
A voz de um rio
Marco Fontolan*

Eu nasci numa fonte


Escondida embaixo de árvores
Frondosas e sombrias
Ao pé de um morro
Dentro de uma mata densa
Escura e fria

Sou este rio que corre


Sou este rio que desce
Sou este rio que avança
Este rio que passa...
Este rio que canta.

Este rio que se alarga


como parte de um mundo
falo a voz do tempo
não penso, não ouço
Não tenho respostas a dar
ou perguntas a fazer

Sou um rio, apenas


um rio que corre
um rio que desce.;..
Um rio,
que some entre a espessa
Mata virgem
e depois reaparece!

*Marco Antonio Benassi Fontolan é formado em Direito na USP, pós-graduação em Literatura


Brasileira na PUC e Mackensie. Nasceu na cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, SP.
Tem participado de várias antologias, inclusive foi premiado numa antologia de contos, editada
pela Fundação Cassiano Ricardo, de São José Campos.

Obras publicadas: Viajante do Tempo (poemas) e Pedaços de verão e outras histórias (contos).

Título
A poesia

Marco Fontolan

A poesia está em tudo


Nos instantes do dia
Na chuva que cai
Na ventania.
Em jardins inacessíveis
Em brejos lamacentos
Em toda as coisas

A poesia está no ar
A poesia está no mar
E mesmo que um dia.,
Nem venha a ser mais escrita
Ainda assim, sempre existirá.

A poesia é invisível

Título
Haicais

Marco Fontolan

Luzes na neblina
da estrada que cruza a serra
num dia de maio

Colheita de frutos
de um cajueiro em flor...
- imagem tropical

Dezembro chegando
dias contagiantes, alegres
- festas e presentes

Dezembro chegando
chuvas de verão, intensas
- Natal se aproxima

Cesta com várias frutas


sobre a mesa da família
- no final do ano

Tempo de colheita
de certas frutas tropicais,
- caminho entre os pés

Mangas caem pelo chão


num dezembro radiante
- muitas festas virão
No final do ano
frutas, frutas... muitas frutas
trabalho, colheita

em uma esquina
grande ipê, deslumbrante
- embeleza tudo...

Na mata fechada
uma embaúba surge...
- folhas prateadas...

a lua caminha
sobre uma rodovia
- onde tudo corre

no jardim, um jasmim
perfuma a noite no verão
- intenso aroma...

Maracujá em flor
lá no meio do quintal
- aroma e sabor

Num canto do quintal


mangas despencam do pé
- sobre o gramado

canta o sabiá
entre as árvores do quintal
como antigamente.

Título
RETALHOS DE UMA ALDEIA
Luis da Mota Filipe*

Aqui…
Onde o bom dia baila de boca em boca numa dança natural, as manhãs brindam-nos com
a pureza das gotas de orvalho.
Há cheiro a campos viçosos e a perfumes que vivem nos estendais de roupa sempre que
se encontram povoados.
Os beirais acolhem sinfonias, anunciando a estação dos amores.
O toque do sino na torre é o orientador fiel para os que andam mimando as suas
fazendas.

Diariamente, em cada morada, fumegam iguarias saloias compondo buchas, merendas e


ceias.
Postigos gastos são enfeitados com a brancura da arte rendilhada.
O rossio, o mirante, a sociedade, o chafariz, o rio e o poço, são os padrinhos briosos de
algumas ruas e largos.
Enquanto os pátios namoram com as travessas e os becos cobiçam as ladeiras, bancos
improvisados, aquecidos pelo sol, servem de palco aos temas da vida alheia.
Agosto é mês de branquear casas e muros, para que possam combinar com a pureza dos
jardins de fé que se carregam aos ombros.
Neste canto saboreia-se a tranquilidade, respirando-se das marcas seculares.
Nesta terra que beija o céu, os dias morrem mais depressa e as noites nascem mais
cedo.
Na aldeia, todos são primos e primas. Os sorrisos e as lágrimas são comunitários,
partilham-se dores e alegrias.
Não se fantasiam sentimentos. Tudo é mais autêntico e a vida brota… ao sabor dos
versos apinhados de rimas de verdades.

* (Anços – Montelavar – Sintra - Portugal)

In:geoGRAFIA do Silêncio, Edium Editores, 2010.

Título
MAIS UMA ESQUINA DE RUA

Luis da Mota Filipe*

No palco turvado das madrugadas enganosas, o cenário é avesso à cor da esperança.


Naquela esquina de rua, passos de provocação abafam o medo.
As bonecas trajam vestes enaltecendo os seus contornos,

há movimentos ensaiados que adivinham a acção relâmpago.


Os pássaros surgem agrestes num cântico de devaneio,
pousando impacientes seus venenos poluidores.
Há vestígios que o líquido mais puro não branqueia nem apaga.
Quando as manhãs surgem sombrias nos corpos exaustos,
lacrimosos rios fluem pelo deserto.

A sede de amar é maior que a vergonha.

Só este desejo,
vai suavizando o seu divórcio da felicidade.

*(Anços – Montelavar – Sintra – Portugal)

In “geoGRAFIA do Silêncio”, Ed.Edium Editores, 2010.

Título
TEU JEITO

Teu falar cativante,

Teu cheiro agradável,

Teu olhar ternurento,

Teu toque delicado,

Teu abraço envolvente,

Teu beijo doce,

Teu amar encantador,

Teu ser maravilhoso,

Tua presença… desejada

ambicionada

amada

Luis da Mota Filipe

(Anços – Montelavar – Sintra – Portugal)

Título
NATURALIDADES

Meus versos são os gritos de esperança


Percorrendo um mundo de magia
Frases que se embalam numa dança
Lembrando o valor da ecologia

Rimas são natureza em alvorada


Cores da vida mais bela e sã
Gotas de um orvalho à chegada
Dum dia que começa na manhã

Tantas palavras que eu invento


São as inspirações do momento
Com as quais me apetece brincar

Histórias mil, feitas ao vento


Entre alegria e o lamento
Onde o ambiente eu vou amar

Luis da Mota Filipe

Título
VOCÊ É LINDA!

José Geraldo Martinez

Tu és tão linda senhora...


Não consegues enxergar?
A doçura que tens quando sorris,
a meiguice que transborda em teu olhar...

Tu és incrivelmente linda!
Ainda que sem te arrumares...
E nem te percebes, senhora,
quando no espelho a te contemplares?

Traços que mostram uma vida


marcada de lutas vencidas?
Os sonhos que eu te entrego no colo,
que me foram de eterna guarida...

Quando te vestes...
Arrancas-me ainda arrepio!
E teu cheiro de absinto...
Apura-me o instinto esta loba no cio!

Tuas mãos quando me tocam...


Meus pecados invocam, amada minha!
E, ao teu gozo, entrego-te ao céu, mulher que amo...
Com minha alma inteirinha!
Não percebes a tua sensualidade?
O poder que ainda tens nas mãos?
Quando me vês, ainda submisso a teus encantos,
resignado e tal qual um cão?

Não confias em ti?


Na leveza que carregas no coração.
Teu corpo, nem me lembro, esqueci...
Vejo além da carne que me entregas com paixão!

Mulher, tu és linda!
Tanto, tanto, tanto...
A mim seja sempre bem-vinda, que o tempo
ainda
não conseguiu roubar teu encanto!

09/05/2011

Título
ILUSÃO....

José Geraldo Martinez

Espera-me que não demoro!


Sou uma ilusão qualquer...
Destas que não buscam um rosto ou colo,
de quem na verdade as quiser!

Desde que não me percam, um dia chego...


Com vestes de sua imaginação!
Por favor, não me cobrem realidade,
sou apenas ilusão!

Deixarei meu rosto vocês esculpirem...


E até meus lábios beijarem!
Terei a cor dos olhos como quiserem,
os cabelos como gostarem...

Serei alto, baixo, mediano, não importa!


Gordo, magro, careca...
Um tipo que as agradam com certeza
e suas fantasias emprestam!

Serei poeta, bombeiro, policial,


um super herói...
Um personagem casual
que, no virtual, seu libido constrói!
Levarei-as nos braços gentilmente...
E dançaremos o quanto desejarem!
Cantaremos noite a dentro alegremente,
melodias com lindos luares...

Faremos amor a bel prazer,


onde nossas mentes nos levarem!
No carro, no mar, no rio, no banheiro...
Em todos os lugares!

Sou a fantasia amiga do(as) sonhadores...


Não me cobrem a realidade!
Sou pueril, efêmera...
Tenho o corpo da irrealidade!

Sou de alguns as lágrimas e


de outros a saudade...
Vento nas mãos que me apertam,
daqueles que buscam a verdade!

12/5/2011

Sou nada, sou tudo ao mesmo tempo...


Sem mim? Morreriam os sonhos!
( Martinez)

martinez.ata@terra.com.br

Título
DÊ-ME, SENHOR...

José Geraldo Martinez

Dê-me, Senhor, uma mulher


cuja fé consiga transformar-me inteiramente!
E que me faça levantar dos tombos e, com meus próprios pés, no aprendizado seguir em
frente.
Uma mulher de Deus...
Com resignação e sentimentos puros!
Que eu farei com ela levantarem os ateus,
incrédulos, ao Pai, tão obscuros...
Dê-me, Senhor, uma mulher bendita!
Eu gritarei ao mundo teus ensinamentos e de
minha fé, também contrita...
Levantarei os pecadores num só momento!
Dê-me, Senhor, uma mulher de verdade,
que as bainhas não terão mais espadas!
Os conflitos estarão terminados,
na força viva desta mulher amada...
Dê-me, Senhor, uma mulher à Tua imagem e
deste espelho serei cópia fiel!
Quando nesta terra em pueril passagem
possa nos receber ao teu lado, com glória ao céu...
Dê-me, Senhor, uma mulher companheira,
uma profeta poderosa!
Serei capaz de enfrentar os canhões,
tombar os soldados com buquês de rosas...
Hei de edificar os teus santuários destruídos,
o nosso mundo perdido!
Dê-me, Senhor, uma mulher que eu ame o suficiente,
para me deixar mais perto de Ti.

19/5/2011

"Inspirado no belíssimo texto de Oswald Chambers. "

Leia o texto a seguir que o Poeta citou e se inspirou...


é belo demais....

(colaboração da poeta Vera Mussi)

"Dê-me um homem de Deus - um homem,


Cuja fé seja mestre de sua mente,
E eu removerei todas as transgressões
E abençoarei toda a humanidade.
Dê-me um homem de Deus - um homem,
Cuja língua seja tocada com fogo do céu,
E eu incendiarei os corações mais impuros,
Com grande determinação e desejos puros.
Dê-me um homem de Deus - um homem,
Um profeta poderoso do Senhor,
E eu lhe darei paz na Terra,
Conquistada com oração e não com espada.
Dê-me um homem de Deus - um homem,
fiel à visão recebida,
E eu edificarei seus santuários quebrados,
E conduzirei as nações aos seus joelhos."
(Oswald Chambers)

Título
AMANTE

Mercília Rodrigues

Cubro meu pudor com teu abraço,


em noite de sensatez tão pouca!
Encontro ainda calor no teu abraço...
Sinto teus beijos atrevidos em minha boca.

Meu corpo responde a teu carinho,


no aconchego sedutor de teus cabelos.
Deixo fluir a chama de mansinho,
evoluindo no ardor de teus apelos!

Loucos! Loucos de paixão em desatino!


Param as horas... Silencia o mundo .
Dois corpos enlaçados no carinho
inebriados de prazer profundo.

Somos um no vivido desvario.


Abandono, então todo pudor.
Entrego-me completa, corpo em cio
meu ser que responde ao teu calor!

Arranca de mim esta entrega!


Nada sei, pois a paixão me cega.
Toma-me o corpo que te quer...
Neste momento sou amante, sou mulher!
Owner: Eme Paiva
Moderadoras: Anna Peralva, Marilda Ternura, Eliana (Shir)

Midi: Aranjuez Mon Amour


Tube: Nikita e Site Laumidia

Arte e formatação Marilda Ternura

Mercília Rodrigues nasceu no mês de junho em Monte Alto (São Paulo).

Sendo a pequenina de uma família de cinco filhos cresceu na vila, no campo. Rodeada
pela simplicidade das pessoas e o carinho dos seus. Sonhadora, conheceu José casou e
com ele teve um casal de filhos.

A menina ficou nas lembranças do passado... Nascia uma nova mulher, ave mãe
protegendo e educando as crias num ninho de amor e ternura.
Atualmente reside em Araçatuba. Licenciada em Português exerceu o magistério por
aproximadamente trinta anos. Hoje se dedica à poesia almejando a ampliação cultural e
troca de conhecimento entre amigos.

Seus poetas preferidos: Drummond, Fernando Pessoa, Cecília Meirelles e Ferreira Gullar.
Mercília é a essência pura da poesia, tem o dom de fazer com a gente embarque em seus
versos e voe ao encontro dos seus sonhos...

Tal encontro só é possível pelo lirismo poético, pela sensibilidade exposta em seu estilo
singular de poetar.

Ela conhece profundamente as variações e movimentos de cada palavra, pois escreve


com a alma!

Anna Peralva

Título
AINDA O SONHO

Mercília Rodrigues

Fujo de conflito e inutilidades.


Teimosa sou com a vida e acredito
no hoje pleno de possibilidades,
num amanhã abrindo portas, bendito!

Abraço o tempo sem qualquer tristeza


e arrumo em sonhos a mala de viagem.
Olho pra o futuro com a certeza
de levar esperança na bagagem.

Se me veem como maluca? Beleza!


Quero olhar até o universo com coragem
e ter gratidão pela sua grandeza!

Sei que, no final de sonhos em viagem,


haveremos de ver, com sutileza,
os que puseram sonhos na bagagem!

mercilia.rodrigues@terra.com.br

Título
Arritmia

Márcia Possar*

E foi assim, com um pé na estrela.


Foi querendo sê-la
que entreguei-me à sua parecença.

Deixei-me cintilar de seu brilho trepidante,


para, quem sabe, ou até que pudesse,
me ver volível desse acaso,
que foi dos meus acasos
o maior e mais excedível.

Quis-me pauta
para conter-te em dó maior.
Quis-me versos e odes.
Quis-me leve, solta,
para que, ainda que em prelúdio,
pudesses ouvir-me dos teus acordes.

Fiz-me brilho e calor,


fiz-me música e fiz-me musa
para ouvir-te em declaração de amor!
E ouvi teu canto... Meu encanto...
Recanto de insensatez em noite de lua,
onde me quiseste nua e eu... Quis-me tua!
Rua escura cheia de madrugadas,
cheia de loucura,
para sempre e inteira das tuas baladas.

Chamadas...
Foram as marcas da falta de ritmo
daquela minha estrela louca.
Centelha falta de mim,
que me fazia cismar.
Que me fazia pouca,
para tanto desvairar,
como se o que de anuência em mim,
não me fosse bastar.

E foi assim que eu parti.


Foi nessa trama,
que o meu drama virou poesia.
Foi nessa arritmia
que chamei e ainda chamo por ti...

*****************************

*Nasceu em Santo André (Grande ABC Paulista) - SP no dia 30 de


setembro de 1957, atualmente mora na Cidade de Uberaba - MG.

Título

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