Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Após uma leitura hegeliana própria de Marx, e principalmente do capital, Lukács entre
em uma “segunda fase”, identificando a “nova cultura” com o socialismo. Era necessário,
pois, uma superação do teor conservador do conceito de cultura. Porém, a falta de uma teoria
da cultura fez com que Lukács formulasse sua “teoria da mudança da época cultural” por uma
tensão intelectual entre o marxismo economicista e a especulação filosófica idealista. Lukács
se apropria da crítica da economia política para formular sua solução socialista à crise do
capitalismo. Nessa medida. A passagem do capitalismo para o socialismo é tomada como uma
superação dos paradigmas capitalistas de ordem racional para uma forma superior de
racionalidade socialista. Os Manuscritos foram tomados como uma prenuncia de um conceito
de cultura que deveriam ser relacionados com a materialidade da ordem burguesa exposta n’O
Capital. Problema solucionado por Lukács pela teoria da Reificação.
Reificação significa tratar relações humanas como relações entre coisas, estas não
como uma entidade geral, mas como um objeto passível de compreensão formal-racional, de
predição e controle técnico – “elementos abstratos em um sistema conceitual”. Por um lado, o
conceito que pode ser tomado como categoria cultural no sentido contemporâneo: como um
padrão e estrutura comum de vida, explícito ou implícito, seja em seu sentido material, ritual,
simbólico ou normativo. Uma máscara simbólico-cognitiva compartilhada entre aqueles
praticantes de uma mesma sociedade, que identifica a racionalidade como um padrão cultural.
Por outro, para Lukács pensamento e ser social não podem ser pensados separadamente e
articulados posteriormente: são, na verdade dois momentos de uma mesma unidade.
O que, para mim, é importante reter é que a reificação surge para Lukács no que
pode ser considerado uma espécie marxista do debate da teoria social entre agência
e estrutura. A reificação, considerada uma categoria cultural, uma teoria cultural,
segundo o autor, deve ser pensada como um nexo entre a crítica à racionalidade e a
crítica da economia política. Pensada como um momento da realidade total, a
reificação tem sua origem na forma mercadoria, ordem paradigmática na qual a
racionalidade emerge das práticas sociais para se tornarem forma cultural da
sociedade burguesa. Em um contexto de crise da sociedade burguesa, o objetivo, e
desafio de Lukács, é dar forma à sua fé renovada na razão, criticando e
transcendendo a racionalidade burguesa sem recair no irracionalismo. Assim, a
reificação faz parte de sua teoria da revolução, que ocorre por uma transformação
cultural, e, portanto, racional – a superação de uma racionalidade formal-burguesa
por uma racionalidade dialética-socialista.
No último ponto, “Reification and Reason”, o autor analisa o impacto de Hegel na formação
do conceito de Reificação, mais especificamente, o conceito hegeliano de aparência. O
essencial, segundo o autor, é a compreensão da aparência de autonomia da vida social como
uma abstração real, como um momento da unidade social real. Para isso, o autor recorre a dois
textos de Hegel – “Quem pensa abstratamente?” e “Ciência da Lógica” – e a sua apreensão
por Marx para enquadrar o conceito de Reificação de Lukács como uma crítica marxista da
razão.
No seu ensaio “Quem pensa abstratamente?” Hegel argumenta que este não é o
filósofo, mas o ser humano comum, que, no seu dia a dia, resume uma complexa rede de
relações a um trato, propriedade ou elemento unilateral. Neste sentido, abstrair é retirar um
elemento da totalidade do processo do qual faz parte. Entramos em uma loja, pegamos um
produto e pagamos para o caixa. Nos relacionamos com o produto apenas como produto e
com o caixa apenas como caixa. Não nos questionamos ou levamos em consideração o
processo de produção do produto e nem sobre a pessoa quando não está na função de caixa.
As coisas e pessoas são abstraídas do processo social, como um todo, do mundo social do
qual fazem parte.
Segundo Hegel, o todo é constituído não apenas por suas aparências – seus momentos
– mas também pelas relações internas entre elas, relações que fazem o todo como todo, isto é,
por suas mediações. Uma das relações entre os momentos analisada por Hegel e apropriada
por Lukács é a chamada “Lei da Aparência”. “Lei” é tomada no sentido da ciência natural,
mas, para Hegel, esta não apreende a essência dos fenômenos, apenas estabelece uma relação
também imediata e abstrata entre as aparências. A lei também é unilateral, retirada do todo, de
maneira que ambas as aparências relacionadas mantêm sua independência. Para Hegel, é
necessário uma “totalidade” concreta que efetivamente unifique os momentos em um todo
mutualmente dependente.