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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO

LORENA KARINE SOUSA DOS SANTOS

ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE NEGÓCIOS SOCIAIS A PARTIR DE


CASES BAIANOS

SALVADOR
2017
LORENA KARINE SOUSA DOS SANTOS

ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE NEGÓCIOS SOCIAIS A PARTIR DE


CASES BAIANOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de


Bacharelado em Administração do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, como requisito à
obtenção do grau de Bacharel em Administração.

Orientadora: Profª Mestra Michele Nunes Silva de Castro

Salvador
2017
Biblioteca Raul V. Seixas – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Bahia - IFBA - Salvador/BA.
Responsável pela catalogação na fonte: Samuel dos Santos Araújo - CRB 5/1426.

S237 Santos, Lorena Karine Sousa dos.


Estudo exploratório sobre negócios sociais a partir de cases
baianos / Lorena Karine Sousa dos Santos. Salvador, 2017.
50 f. ; 30 cm.

Monografia (Graduação em Administração) - Instituto Federal de


Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia.
Orientação: Prof.ª Me. Michele Nunes Silva de Castro.

1. Negócio social. 2. Empreendedorismo social. 3. Impacto


social. I. IFBA. II. Título.

CDU 2 ed. 658


RESUMO

Este estudo teve como objetivo caracterizar os negócios sociais, a partir de


cases, no estado da Bahia. Para isso, quatro organizações foram identificadas e
classificadas para caracterizar os impactos sociais, econômicos e ambientais gerados
pelos negócios sociais nos casos estudados. Desta forma, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica explicativa, de cunho qualitativo, para discutir diferentes abordagens do
empreendedorismo social, e foi utilizado o modelo de dimensão de impacto e inovação
social, elaborado por Comini (2016) para caracterizar e analisar o foco das
organizações estudadas (foco no social ou para o mercado). Deste modo, constatou-
se que essas organizações são mistas, ao possuir aspectos financeiros e sociais,
logo, configuram-se como negócios sociais e comportam-se como agentes de
transformação dos locais em que atua.

Palavras Chaves: Negócio Social, Empreendedorismo Social, Impacto Social.

ABSTRACT

This study aimed to characterize the business, from cases, in the state of Bahia.
For this, four organizations were identified and classified to characterize the social,
economic and environmental impacts generated by businesses in our cases. In this
way, a qualitative explanatory bibliographical research was conducted to discuss
different approaches to social entrepreneurship, and was used in the Impact and Social
Innovation Dimension model developed by Comini (2016) to characterize and analyze
the focus of the organizations studied (non-social focus or the market). In this way, it
was verified that these organizations are mixed, like accounting servers and logos,
therefore, they are configured as social businesses and behave as agents of
transformation of the places where it operates.

Keywords: Social Business, Social Entrepreneurship, Social Impact.


LISTA DE SIGLAS
PIB Produto Interno Bruto
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ONG Organização Não Governamental
RSC Responsabilidade Social Corporativa
APAEB Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da
Região Sisaleira
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – ONGs, Negócios Sociais e Empresas Tradicionais...........................12
Figura 2 – Tipos de Negócios Sociais.................................................................15
Figura 3 – Negócio social e Responsabilidade Social.........................................17
Figura 4 – Dimensões para análise de Impacto e Inovação Social.....................25
Figura 5 – Lógica de Atuação dos Negócios Sociais...........................................29
Figura 6 – Fatores para Classificação dos Negócios Sociais..............................30
Figura 7 – Posicionamento do Negócio Social: Euzaria......................................34
Figura 8 – Posicionamento do Negócio Social: Cipó..........................................37
Figura 9 - Posicionamento do Negócio Social – Fundação Terra Mirim............40
Figura 10 – Posicionamento do Negócio Social: APAEB....................................42
Figura 11 – Análise dos casos estudados...........................................................43
Figura 12– Resumo dos Impactos Identificados.................................................44
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................ 8

2. REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................................12

2.1 NEGÓCIO SOCIAL .....................................................................................................12


2.1.1 Negócio Social – conceito ....................................................................................12
2.1.2 Tipos de Negócio Social .......................................................................................14
2.1.3 Negócio Social e Responsabilidade Social ...........................................................17
2.1.4 Negócios Sociais e Economia Solidária ................................................................18
2.1.5 Negócio Social e Empreendedorismo Social ...................................................19
2.2 IMPACTO SOCIAL ......................................................................................................21
2.2.1 Impacto Social – Desenvolvimentista ....................................................................22
2.2.2 Impacto Social – Inovação Social .........................................................................23
2.2.3 Dimensões para análise de Impacto e Inovação Social .........................................24

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................................27

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................27


3.2 ETAPAS E PROCEDIMENTOS ..............................................................................28
3.3 UNIDADE DE ANÁLISE..........................................................................................31
3.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .................................................................................31

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................................32

4.1 APRESENTAÇÃO DOS CASOS.............................................................................32


4.1.1 Euzaria.................................................................................................................32
4.1.2 Cipó – Comunicação Interativa .............................................................................35
4.1.3 Fundação Terra Mirim ..........................................................................................38
4.1.4 APAEB – Produtos de Sisal ..................................................................................41
4.2 ANÁLISE DOS CASOS ..........................................................................................43

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................45

6. REFERÊNCIAS .........................................................................................................47
1. INTRODUÇÃO

O modelo de negócio nomeado “Negócio Social”, segundo o portal Yunus


Negócios Sociais Brasil, ganhou popularidade em Bangladesh com o economista
Muhammed Yunus, que inconformado com a situação na vila de Jobra que estava
abaixo da linha da pobreza, emprestou um total equivalente a US$ 27 para cerca de
42 mulheres. Este empréstimo concedido por Yunus foi realizado sem consulta de
crédito ou de garantias que este dinheiro seria devolvido. Com esta quantia, estas
mulheres foram capazes de pagar suas dívidas, inclusive o empréstimo com juros ao
Yunus, e iniciaram pequenos negócios na região. Estes pequenos negócios
aqueceram a economia local e essas mulheres passaram da linha abaixo da pobreza
para a condição de pequenas empreendedoras. Esta ação foi um sucesso, e a partir
desta ideia, Yunus criou o Grameen Bank, cuja finalidade é realizar empréstimos para
aqueles que não os conseguiriam em bancos tradicionais.
Atualmente, este banco desembolsa cerca de US$ 1,5 bi por ano com
empréstimos de microcréditos. Devido ao sucesso destes empreendimentos, Yunus e
o banco Grameen Bank receberam juntos em 2006 o prêmio de Nobel da Paz devido
às transformações sociais e a constante luta contra a pobreza, pioneiro na criação de
negócio social de sucesso. Assim, Yunus afirma que negócios sociais e negócios
tradicionais são similares, pois ambos buscam oportunidades de mercado, em
questão de produtos e serviços, mas a diferença é dada pois o foco de negócios
tradicionais são a geração de riquezas, enquanto negócios sociais possuem como
foco melhorar condições de vida (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-ORTEGA, 2010
apud TISCOSKI, G; ROSOLEN, T; COMINI, G. 2013 p. 5).
É importante salientar, porém, que segundo Kerlin (2006, apud TISCOSKI, G;
ROSOLEN, T; COMINI, G. 2013 p. 87) houve nos Estados Unidos da América um
movimento análogo aos negócios sociais no fim dos anos 1970, quando devido à falta
de recursos estatais, Organizações Não Governamentais (ONGs) estadunidenses
passaram a aplicar estratégias de mercado para auxiliar nos seus objetivos sociais,
movimento este chamado de empresa social, onde o lucro proveniente destas
estratégias era limitado. Mas, segundo Tiscoski, Rosolen e Comini (2013, p. 89), o
termo não teve aceitação em países da América Latina e Ásia, alterando-se para uma
nova nomenclatura e visão a partir de Yunus: negócio social, por se adaptar melhor a
realidade dos países em desenvolvimento, com destaque maior à resolução de
problemas sociais.
O termo negócios sociais surgiu na década de 1970 com o economista de
Bangladesh, Muhammed Yunus, que propôs uma nova forma de fazer negócio ao
emprestar dinheiro a pessoas carentes a baixos juros, criando um banco de
microcrédito.
Este empreendimento foi capaz de unir o ganho financeiro e de criar soluções
para problemas sociais, instigado pela verificação de dificuldades sociais e a
constatação de que o Estado e empresas privadas não são capazes de resolvê-los
por completo.
Desta forma, os negócios sociais surgem como empresas autossuficientes
financeiramente e com objetivo de tratar algum problema social para melhorar a sua
região.
Portanto, para este estudo, serão analisados os impactos sociais, ambientais e
econômicos gerados a partir do empreendedorismo social, no contexto dos negócios
sociais no estado da Bahia, demonstrando como empresas de diferentes ramos
podem ser negócios sociais e fazer a diferença nos seus locais de atuação.
De acordo com o exposto, é proposto o seguinte problema de pesquisa:
Como se caracterizam, os negócios sociais, a partir de cases no estado
da Bahia?
E para responder tal pergunta, tem-se como objetivo geral caracterizar os
negócios sociais, a partir de cases, no estado da Bahia. Assim, os objetivos
específicos são:
• Identificar e classificar negócios sociais no estado da Bahia;

• Caracterizar os impactos sociais, econômicos e ambientais gerados pelos


negócios sociais, a partir de cases no estado da Bahia.

Considera-se esta pesquisa relevante devido a utilidade que negócios sociais


poderiam se tornar no Brasil, que é um país emergente e em crescimento econômico
em proporções globais. Em 2015, ocupara a 10ª posição em ranking de PIB - Produto
Interno Bruto, que refere-se à soma de todas as riquezas produzidas pelo país,
segundo o Trading Ecoomics (2015), com resultados próximo a países como Reino
Unido, França, Índia e Itália, respectivamente rankings 6º, 7º, 8º e 9º na classificação
em PIB do mesmo ano.
Em 2016, o Brasil manteve-se como um dos principais países do mundo ao
alcançar a posição 11º no PIB, a frente de países Rússia, Austrália e toda a América
do Sul.
O que demonstra que apesar da recessão iniciada em 2014, o Brasil apresenta
alto índice econômico-financeiro, ao ser uma economia emergente e potencial.
Porém, apesar de estar entre os 15 maiores países em questão de PIB, PIB
per capita e taxa de crescimento, o Brasil esteve na posição 71º no IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano - utilizado para demonstrar o desenvolvimento humano
através de índices de educação, qualidade de vida e compra dos cidadãos, em 2014,
o Brasil apresentava-se na posição 71º, atrás dos países com menores indicadores
econômico-financeiros, como Rússia (48º), Austrália (1º) e dos vizinhos Argentina
(39º), Chile (41º) (UNDP - United Nations Development Programme, 2014 apud
Actualitix, 2014).
Com isto, é possível demonstrar que apesar da riqueza do país, estes recursos
não são necessariamente transformados em benefícios sociais que desenvolvam a
qualidade de vida dos cidadãos, uma vez que o país possui alta riqueza, estes
números não são espelhados no desenvolvimento da população.
Por esta razão, na busca de um modelo de negócio que demonstre o fator
financeiro como um fator também de desenvolvimento social, este trabalho tem como
foco os negócios sociais, que pretendem trazer os fatores financeiros e de impactos
sociais equilibrados, ou seja, devem crescer na mesma proporção.
Assim, a presente pesquisa surgiu em meio à necessidade de encontrar
maneiras alternativas de desenvolvimento econômico e social devido ao contexto
atual no Brasil, no qual segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) em reportagem publicada pelo Portal G1 em Dezembro de 2016, enfrenta
número recorde de desempregados com aproximadamente 12% da população e
devido à resseção econômica iniciada no segundo semestre de 2014, conforme
reportagem publicada na Folha de São Paulo em Agosto de 2016, tornando-se a
segunda maior crise econômica da história do Brasil.
Cabe salientar que a recessão econômica e o aumento de desempregados no
país podem estar relacionadas ao aumento de criminalidade, trabalho infantil,
pobreza, abandono à escola, dentre outras mazelas sociais.
Desta forma, em meio às dificuldades sociais e econômicas oriundas deste
quadro, os negócios sociais vêm como uma alternativa ao crescimento econômico e
social ao unir o lucro com propósito maior – combate a algum gargalo social a partir
de ações que busquem mudar esta realidade - pois conforme Luís Costa et al (2011,
p.10) o empreendedorismo social busca, de forma justa, aproveitar oportunidades do
mercado e ao mesmo tempo, preencher e aprimorar necessidades dos cidadãos e/ou
do meio ambiente.
E completa ao afirmar que “o empreendedor social pode gerar lucro e tem
capacidade para dar resposta a um problema social” (MARTINS, 2011 apud COSTA,
2011 p; 22).
Além disso, acredita-se que este trabalho contribuir-se-á para outras pesquisas
acadêmicas através da difusão do conhecimento aqui executado e com incentivos a
mais pesquisas nesta temática.
Assim, este trabalho está organizado em cinco partes, abrangendo esta
introdução, a qual fora apresentado o tema, o problema, os objetivos e a justificativa
desta pesquisa. Durante a próxima parte do trabalho, é desenvolvido o referencial
teórico, onde são apresentadas diversas discussões sobre os negócios sociais e
temáticas relacionadas, de maneira tal que em segundo momento, é conduzido para
os impactos e inovações sociais que estas organizações causam. A terceira seção é
especificada à metodologia utilizada para a elaboração da pesquisa, bem como a
limitação da mesma. Durante o quarto capítulo, as organizações identificadas para
caracterizar os negócios sociais, a partir de cases, no estado da Bahia, são
apresentadas e discutidas. A última parte desta pesquisa refere-se às considerações
finais que este trabalho abordara.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo está organizado em dois segmentos. O primeiro fomenta as


discussões sobre os negócios sociais e demais abordagens no âmbito do
empreendedorismo social. O segundo reflete sobre os impactos e inovações que
podem ser estimuladas por organizações deste segmento.

2.1 NEGÓCIO SOCIAL

Apesar de o tema ser recente, as publicações sobre negócios sociais e


empreendedorismo social estão em crescimento, pois em 2002 haviam 02 artigos
publicados envolvendo negócios sociais na plataforma Web of Science, tendo
evoluído para 209 artigos no ano de 2015 na mesma plataforma (SOUZA, E.; OKANO,
M., OLIVEIRA, G., VEIGA, A., 2016 p.1-10), o que demonstra um maior e crescente
interesse pelo tema.
Este modelo surge do ensejo de criar oportunidade de vida digna e sustentável
para os cidadãos (NAIGEBORIN, V., 2010, p.1-10). Desta forma, os negócios sociais
apresentam uma função importante ao enfrentarem problemas sociais em prol da
sociedade, através do mecanismo do mercado.
No Brasil, este modelo possui diversas nomenclaturas, como negócios
inclusivos, for-benefit organizations (organizações para benefício), empresas sociais,
empresas 2,5 (dois e meio), empresas BOP (Base da Pirâmide), negócios de impacto
social, etc., porém todas com o mesmo sentido e definição muito próxima
(NAIGEBORIN, V., 2010, p.1-10), portanto, para esta pesquisa será utilizado apenas
o termo negócio social, a ter seu significado discutido a seguir.

2.1.1 Negócio Social – conceito

Um negócio social está entre uma empresa tradicional comum do segundo


setor – por ser autossustentável, comercializar mercadorias e/ou serviços e não
necessitar de doações de terceiros – e entre uma Organização Não Governamental
(ONG), que são entidades do terceiro setor, sem fins lucrativos, que lutam por alguma
causa de melhoria social ou ambiental, por esta razão também são chamados de
Empresas 2,5 (dois e meio), conforme figura abaixo:
Figura 1 – ONGs, Negócios Sociais e Empresas Tradicionais.

As discussões sobre a definição de um negócio social estão principalmente


vinculadas quanto à distribuição ou não dos lucros que uma empresa pode gerar.
Para o economista Muhammed Yunus, um negócio social é “dar ajuda a outros
sem qualquer ganho financeiro pessoal. (...) Uma parte do excedente econômico
criado pelo negócio social é investido em sua expansão, enquanto outra é mantida em
reserva para cobrir gastos inesperados” (YUNUS, M. 2010 p. 10, apud KUHN, D.,
2013 p. 28). Ele ainda informa que:
Os negócios sociais se aproximam de negócios tradicionais em aspectos
como produtos, serviços, clientes, mercados, custo e receitas, porém difere
no seu propósito principal, que é servir a sociedade e melhorar condições de
vida de populações de baixa renda. (YUNUS; MOINGEON; LEHMANN-
ORTEGA, 2010 apud TISCOSKI, G; ROSOLEN, T; COMINI, G. 2013 p. 5).

Desta forma, Yunus acredita que um negócio social deverá ser integralmente
dedicado às causas sociais, sem distribuir dividendos, para que toda a renda seja para
manter o negócio em funcionamento e reinvestido para que o alcance de suas ações
seja maior.
Conforme Viviane Naigeborin, consultora e especialista na área de negócios
sociais no Brasil, os professores e acadêmicos da área de negócios sociais
internacionais, Stuart Hart e Michael Chu, discordam de Muhammed Yunus quanto à
distribuição de lucros oriundos do negócio social. Para estes atores, a distribuição de
lucros incentivaria mais investidores e poderia maximizar e acelerar os benefícios
sociais causados (NAIGEBORIN, V. 2010 p. 8). Hart et al (2002 apud SOUZA, E.;
OKANO, M., OLIVEIRA, G., VEIGA, A., 2016 p.1-10) informa ainda que para realizar
negócios com as pessoas mais pobres do mundo requer inovações radicais em
tecnologias e modelos de negócios.
Naigeborin (2010, p. 1-5) defende que negócios sociais “são modelos que
buscam desenvolver soluções de mercado que possam contribuir para superar alguns
problemas sociais e ambientais (...) onde o lucro não é o fim em si mesmo, mas um
meio para gerar soluções” e defende ainda que este modelo possui diferentes atores,
como lideranças sociais, investidores, empreendedores, etc., que almejam retorno
financeiro e benefício social.
Para a Artemisia1, negócios sociais são “iniciativas economicamente rentáveis
que através da sua atividade principal brindam soluções para problemas sociais e/ou
ambientais, utilizando mecanismo de mercado” (Artemisia apud NAIGEBORIN, V.
2010 p. 2) e completa ao posicionar-se que podem ou não gerar dividendos (Artemisia,
2014).
O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) o
negócio social é “viável economicamente e existe para buscar solução a uma questão
social” (SEBRAE, 2016), onde busquem o impacto sócio ambiental positivo como uma
atividade principal da empresa.
Portanto, observa-se que independe da corrente de gerar ou não lucros, há um
consentimento entre os atores de que negócios sociais são empresas
autossustentáveis com missão de desenvolver a sociedade e/ou o meio ambiente,
desse modo, esta será a compreensão adotada para direcionar este estudo.

2.1.2 Tipos de Negócio Social

Conforme estudado, os negócios sociais são empresas híbridas, pois geram


receita e impacto social. Contudo, há alguns modelos específicos defendidos por
atores de como negócios sociais se apresentam.
Para Yunus há dois tipos representativos desse modelo de negócio. O primeiro
deles refere-se a uma empresa com receitas e despesas equilibradas, sem prejuízo
ou lucro, pois toda a sua renda é para ser reinvestida para ampliar o negócio, e desta
forma, maximizar os benefícios sociais. Nestes casos, a empresa pode atuar com o

1
Organização sem fins lucrativos, fundada em 2004 pela Potencia Ventures, pioneira na
divulgação e no incentivo de negócios sociais no Brasil, através de cursos, aceleradoras, projetos, etc.
Disponível através do endereço eletrônico artemisia.org.br
objetivo de redução da pobreza, melhoria de saúde da população de baixa renda,
sustentabilidade, entre outros (YUNUS, M., 2010, apud KUHN, D., 2013 p. 25-50).
O segundo tipo defendido por Yunus refere-se a grupos de pessoas pobres que
unem-se para ganhar mais força no mercado, formando associações e/ou
cooperativas. Neste caso específico, eles visão o lucro, porém o negócio social é o
fato de a empresa existir ao permitir que seus associados melhorem
consideravelmente nas suas condições de vida, podendo crescer e adquirir mais
associados, proporcionando diminuição da pobreza do local de atuação através de
uma economia solidária (YUNUS, M., 2010, apud KUHN, D., 2013 p. 25-50).
Naigeborin defende que há principalmente três tipos de estratégias para um
negócio social, o primeiro seria incluir pessoas de baixa renda ou de populações
marginalizadas na cadeia produtiva do negócio, o que podemos relacionar com o
segundo modelo defendido por Yunus, através de associações e cooperativas por
meio de uma economia solidária; o segundo refere-se ao oferecimento de produtos e
serviços que melhoram a qualidade de vida de pessoas mais pobres, seja para
atender às necessidades básicas da população ou para viabilizar oportunidades de
melhoria de sua atuação socioeconômica, como em áreas de habitação, saúde,
energia, acesso à tecnologia, etc.; e o terceiro seria a oferta de bens e serviços que
contribuam, ainda que indiretamente, para o aumento de renda de pessoas mais
pobres, como o acesso a crédito produtivo, equipamentos de baixo custo, entre outros
(NAIGEBORIN, V. 2010 p. 1-10).
Apesar de que no Brasil, os tipos de negócios sociais defendidos por
Naigeborin sejam aceitos, internacionalmente essas definições referem-se ao termo
social enterprise, enquanto que os defendidos por Yunus refiram-se a social business
(GOMES, 2013) - respectivamente empresa social e negócio social, tradução literal.
A falta de uma definição específica para este(s) modelo(s) de negócios são
ocasionadas principalmente devido à falta de uma legislação no Brasil, que possa
caracterizá-lo(s) e o(s) tipificar (GOMES, 2013). Por não haver, até o momento da
pesquisa, nenhuma lei específica, serão aceitos todos os tipos demonstrados aqui.
Para permitir melhor visualização segue figura abaixo:

Figura 2 – Tipos de Negócios Sociais


Autor Tipo Lucro Impacto
Maximização dos
Yunus Empresa Equilibrada Não
benefícios sociais
Grupo de pessoas O fato de existir torna-se
Yunus Sim
pobres um benefício social
Inclusão de pessoas de
N. I. baixa renda ou
Naigeborin Negócio Inclusivo (não informado) marginalizadas na
sociedade
Oferecimento de
produtos/serviços que
Atendimento às
Naigeborin melhorem a qualidade N. I.
necessidades básicas
de vida a preço
acessível
Oferecimento de
produtos/serviços que Oportunidade para
Naigeborin contribuam para o N. I. melhoria de situação
aumento de renda de socioeconômica
pessoas mais pobres
Fonte: dados da autora, 2017

É possível visualizar estes modelos na prática ao observar alguns negócios


sociais brasileiros. Para exemplificar, abaixo há cinco exemplos:
a) Moradigna – é um negócio social fundado em um bairro pobre de São
Paulo - SP, o Jardim Pantanal. A Moradigna oferece serviços de
reforma para combater a insalubridade de casas de famílias
principalmente das classes D e E, à moradoras da região, com
facilidade de pagamento para não prejudicar a renda familiar;
b) CooperartPoty – uma cooperativa formada por mulheres em Teresina
- PI que criam e comercializam peças em cerâmica que retratam a
cultura e a identidade local. Esta cooperativa permite o aquecimento
da economia local, aumenta a força e a qualidade de vida das
mulheres desta região;
c) Gerasol – empresa fundada em Belo Horizonte - MG que ministra
cursos e aplicações do Aquecedor Solar de Baixo Custo – ASBC, um
equipamento para aquecer a água com materiais 100% recicláveis e
com utilização de energia solar, cuja patente é livre;
d) Descarte Correto – empresa de logística reversa fundada em
Manaus-AM onde reutiliza os materiais eletrônicos retirados de
empresas do complexo industrial de Manaus para ministrar cursos
tecnológicos aos jovens da região;
e) Banco Pérola – empresa fundada em Socoraba - SP que proporciona
créditos produtivos para jovens de 18 a 35 anos de baixa renda que
pretendem empreender, com taxas de juros menores e mais
facilidades do que às oferecidas pelo mercado.
Assim, é possível observar que embora os autores considerem diferentes
nomenclaturas e estratégias para os tipos de negócios sociais, eles apresentam-se
como meios acessíveis para melhorar a qualidade de vida da população.

2.1.3 Negócio Social e Responsabilidade Social

Diante do exposto, um termo popular na contemporaneidade brasileira e até


mesmo internacional é a questão da Responsabilidade Social, empresarial e
corporativa. Para tanto, é importante diferenciar essas práticas do modelo de negócio
social.
A iniciar pela sua origem, a qual de acordo com Tenório (2004 apud SOUSA,
2010 p. 11-46) surge em dois momentos: na transição da economia agrícola para
industrial e durante a era pós-industrial.
No primeiro momento, segundo o autor, a Responsabilidade Social limitava-se
à filantropia, com doações e/ou criação de fundações. Porém, com o advento da
industrialização e a precariedade ambiental e social trazida com ela, houve um
incentivo à sociedade para pressionar empresas e governos por melhores condições.
Isso impulsionou empresas a implementarem práticas de noção à responsabilidade
social, o que na época referia-se ao sujeitar-se às leis trabalhistas e ambientais
vigentes (TENÓRIO, 2004 apud SOUSA, 2010 p. 11-46).
O segundo momento, e mais atual para o contexto deste trabalho, dá-se
durante a sociedade pós-industrial, entre 1930 a 1970, quando “essa sociedade pós-
industrial passa a valorizar o ser humano, a qualidade de vida e o respeito à natureza”
(SOUSA, 2010 p. 12). Ainda, com o avanço da globalização, as empresas passaram
a lidar com consumidores mais conscientes sobre seus impactos negativos e com
poder de consumo para evitá-los, se necessário. Neste contexto, as empresas
abrangem causas sociais aos seus negócios, para responder à sociedade (TENÓRIO,
2004 apud SOUSA, p. 12-46).
Neste contexto, Caroll (1979, apud FORLEO, 2016, p. 33-44) defende que
responsabilidade social corporativa refere-se “à tomada de decisão da empresa
relativa aos valores éticos, à conformidade com requisitos legais e ao respeito pelas
pessoas, comunidades e pelo meio ambiente” (CAROLL, 1979 apud FORLEO, 2016
p. 33-44).
Para Sousa (2016, p. 14) “a responsabilidade social empresarial passa a fazer
parte do negócio da empresa e diz respeito ao compromisso da empresa com o
desenvolvimento sustentável e com a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”.
Desta forma, é perceptível a diferença entre os conceitos de Negócio Social e
empresas com Responsabilidade Social, pois enquanto uma surge com objetivo na
melhoria social, o outro vem para responder às questões sociais de possíveis danos
causados – ambientais, sociais, econômicos, etc. -, para sobretudo manter e/ou
ganhar consumidores. Para ilustrar as diferenças entre as definições apresentadas,
segue figura abaixo:

Figura 3 – Negócio social e Responsabilidade Social

Negócio Social Responsabilidade Social

Empresa tradicional com programas para


Fundada com foco na sociedade
o social

Rentabilidade a partir de ações de Rentabilidade a partir de um negócio


impacto positivo tradicional

Quanto maior crescimento financeiro, Quanto maior crescimento financeiro, não


mais ações para sociedade. necessariamente mais ações.

Fonte: Dados da autora, 2017.

2.1.4 Negócios Sociais e Economia Solidária

Sob uma conjuntura diferente do abordado, a Economia Solidária surgiu em


situações de crise econômica e/ou social ao redor do mundo e por depender das
características da crise e sociedade em que esteja inserida (LECHAT, 2002 p. 1-5)
refere-se a modelos de autogestão e/ou cooperativismo, como setores da economia
familiar, micronegócios, associações de trabalhadores, com pouco ou sem capital,
com solidariedade entre seus membros (LECHAT, 2002 p. 7).
Para Luis Razeto (1993, p. 40 apud LECHAT, 2002 p. 7) a economia solidária
refere-se a:
uma formulação teórica de nível científico, elaborada a partir e para dar conta
de conjuntos significativos de experiências econômicas -...-, que
compartilham alguns traços constitutivos e essenciais de solidariedade,
mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que definem uma
racionalidade especial, diferente de outras racionalidades econômicas
(RAZETO, 1993, p. 40 apud LECHAT, 2002 p. 7).

Para França Filho (2002, p.13), a economia solidária pode ser entendida como
um movimento de atualização histórica da economia social, ainda defende que a
economia solidária pode ser “outra possibilidade de sustentação das formas de vida
de indivíduos em sociedade, não centrada nas esferas do Estado e do mercado”
(FILHO, 2002, p. 13).
Assim, no âmbito dos negócios sociais, a economia solidária pode ser
comparada ao segundo modelo defendido por Yunus e Naigeborin, no qual o fato do
grupo, ou neste caso o cooperativismo existir, é um negócio social, pois permite a
inclusão dos seus membros em solidariedade e poucos recursos.

2.1.5 Negócio Social e Empreendedorismo Social

Os princípios do empreendedorismo têm origens nos clássicos econômicos


liberais desde o século XVII (SABINO, 2010, p.1) e podem representar uma saída para
a crise econômica financeira que o Brasil vive desde 2014, pois, segundo Sabino
(2010, p. 4):
O estímulo a pequena livre iniciativa, que se caracteriza pelo vendedor de
cachorro quente até uma pequena empresa de tecnologia da informação,
seria o motor de desenvolvimento de países como o Brasil, que segundo os
ideológicos e autores liberais, precisa urgentemente formar uma burguesia
industrial e financeira genuína, que não dependa do governo para investir em
inovação e não tenha medo de assumir riscos (SABINO, 2010, p. 4).

Ainda, segundo Schumpeter (1961, p. 94-110 apud SABINO, 2010, p. 9-10), o


sistema capitalista e o liberalismo proporcionam o aumento do padrão de vida das
massas ao remunerar aos cidadãos financeiramente, visando apenas o lucro e não o
social, pois acreditava-se que “os interesses pessoais dos industriais e dos
comerciantes viabilizavam o máximo rendimento no interesse de toda a coletividade”,
desta forma, o empreendedor seria o estímulo que manteria em movimento o sistema
capitalista, criado pelas empresas. Para o autor, isto seria a “destruição criativa”, ou
seja, um processo “em constante renovação, o sistema capitalista revolucionaria a
estrutura econômica por dentro, destruindo o antigo e criando elementos novos”
(SABINO, 2010, p. 10).
Porém, para Schumpeter (1961, p. 97 apud SABINO, 2010, p. 9) a interferência
do Estado com medidas protecionistas, como os direitos sociais e trabalhistas, seria
um impasse ao modelo capitalista liberal e sem estas mediações, o próprio modelo
seria capaz de se regular para manter a ordem e diminuir as mazelas sociais, tais
como fome, desemprego, baixa qualidade de saúde e educação, entre outros.
Mas a ausência do Estado em um país como o Brasil, que enfrenta níveis
recordes de desemprego e desta forma um enorme exército de reserva, exclui a
segurança mínima ao trabalhador, ao acreditar que um sistema cujo interesse seja
simplesmente financeiro, possa ser capaz de equilibrar a qualidade social com os
interesses capitalistas, e conforme Sabino (2010, p. 15):
Este modelo [capitalista liberal] desigual, predatório e altamente concentrador
de riquezas precisa ser coletivamente repensado sob ponto de vista das
possibilidades reais de transformação social, que tenham como objetivo
último o bem estar e o desenvolvimento humano (SABINO, 2010, p. 15).

Desta forma, é preciso considerar um modelo no qual possa ser possível obter
crescimento financeiro, desenvolvimento e bem estar social coletivo, devido a
dificuldade do Estado e de empresas, cuja finalidade seja meramente o lucro,
proporcionar à população esses fatores (crescimento financeiro, desenvolvimento e
bem estar social coletivo). Assim, para Dolabela (1999) apud Carvalho e Santos
(2009), o empreendedorismo é a “modificação da realidade e a obtenção de auto-
realização e o oferecimento de valores positivos para a sociedade”. (DOLABELA,
1999 apud CARVALHO E SANTOS, 2009).
Aproximando-se assim, do conceito de Empreendedorismo Social, porém a
diferença fundamental entre empreendedorismo e empreendedorismo social seria o
objetivo central do empreendimento, enquanto o primeiro tem como foco a utilização
das oportunidades encontradas para obtenção de resultados financeiros, o segundo
objetiva os impactos sociais que suas ações podem causar, conforme Parente et al
(2011, p. 271):
A apropriação do conceito de empreendedorismo pelo empreendedorismo
social prende-se com a migração de características associadas àquele num
espaço cuja finalidade não é a da acumulação da riqueza ou lucro (...)
principal característica distintiva do empreendedorismo social a missão de
criar e maximizar o valor social, por intermédio de atividades inovadoras, ao
invés da geração de lucro inerente ao empreendedorismo (DAVIS, 2002;
AUSTIN et al, 2006; CERTO & MILLER, 2008; apud PARENTE et al, 2011 p.
271-271).
O empreendedorismo social, segundo Parente et al (2011, p. 269) surge a partir
de ação da sociedade para encontrar possíveis soluções aos impasses sociais que
não são resolvidos pelo Estado ou mercado e completa ao afirmar que o
empreendedorismo social “procura incorporar neste setor conceitos e ideias de
negócio como veículo de inovação a fim de superar os desafios sociais”. Embora seja
um conceito tido como novo nos dias atuais, as ações de empreendedorismo social
podem ser vistas ao longo da história, através de escolas e hospitais que utilizavam
meios sociais e econômicos para sua operacionalização (DEES, 2009; NICHOLLS,
2006 apud PARENTE et al 2011 p. 270).
Ainda, segundo Austin, Stevenson e Wei-Skillern, (2006 apud TISCOSKI, G;
ROSOLEN, T; COMINI, G. 2013 p. 3), o empreendedorismo social pode ser aplicado
em organizações nos setores privados, no terceiro setor ou em organizações híbridas
devido ao seu conceito amplo, desde que tenha uma ação inovadora com propósito
social. Assim, Tiscoski, Roselen e Comini (2013, p. 3) afirmam que “o conceito de
empreendedorismo social está pautado na criação de valor social e na introdução de
inovações de metodologia, serviços ou produtos, as quais gerariam uma
transformação social” e completam ao afirmar que ao unir os fatores sociais e
econômicos para as organizações trás novas possibilidades ao que antes era apenas
visto como duas: social OU econômico.
Desta forma, entende-se que todos os contextos estudados aqui, como negócio
social, responsabilidade social e economia solidária, estejam vinculados, dentro das
suas características, ao empreendedorismo social. Assim, neste contexto, o estudado
neste trabalho é o negócio social.

2.2 IMPACTO SOCIAL

Ao analisar a terminologia da expressão Impacto Social no âmbito do


empreendedorismo social separadamente, a palavra “impacto” pode ser entendida
como o efeito de uma ação, e a palavra “social” pode ser entendida como algo que diz
respeito à sociedade. Desta forma, o “impacto social” expressa o efeito de uma ação
na sociedade.
Assim, para fins desta pesquisa, serão analisadas as organizações
identificadas como negócios sociais a partir de seus impactos sociais causados, seja
de cunho desenvolvimentista e/ou inovador.
2.2.1 Impacto Social – Desenvolvimentista

O desenvolvimento no Brasil ao decorrer da década de 1960 a 1970 era tratado


como um indicador macroeconômico e/ou crescimento urbano-industrial, sem a
preocupação às necessidades socioambientais das inúmeras regiões do país, o que
trouxe consequências durante o período de recessão econômica na década de 1980,
agravando a desigualdade social existente no Brasil (COMINI, 2016, p. 10-166).
Após isto, o conceito de desenvolvimento passou a ser “uma proposta de
aperfeiçoamento contínuo dos múltiplos fatores que influenciam o bem-estar humano
e as condições de vida e de sociabilidade das pessoas” (COMINI, 2016, p. 28, apud
FISCHER, COMINI, 2012). O desenvolvimento estudado nesta pesquisa refere-se à
questão de qualidade de vida e difere-se de exclusivamente crescimento econômico.
Esses conceitos são tidos como sentidos semelhantes, assim como informa Scatolin
(1989 apud Oliveira, 2002) “conceitos como progresso, crescimento, industrialização,
transformação, modernização, tem sido usados frequentemente como sinônimo de
desenvolvimento”.
Por isto é preciso enxergar que o “desenvolvimento deve ser encarado como
um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política
e, principalmente, humana e social” (OLIVEIRA, 2002). E desta forma, o crescimento
econômico é um recurso para o desenvolvimento, por ser “um requisito para
superação da pobreza e construção de um padrão digno de vida” (OLIVEIRA, 2002).
De acordo com Madureira (2015, p. 8), crescimento econômico e
desenvolvimento econômico possuem sentidos diferentes. O primeiro estaria ligado
exclusivamente ao aumento de renda, enquanto o segundo refere-se a melhorias na
saúde, educação, renda e outros fatores. Cavalcante (2008 apud Madureira 2015, p.
8) informa que a industrialização, através da cadeia produtiva, são estimuladores para
atingir o desenvolvimento regional devido a sua capacidade de aquecer a economia e
a possibilidade de trazer externalidades, as quais positivas (geração de emprego,
renda, infraestruturas etc.) ou negativas (aglomerações industriais e urbanas,
poluição, etc.).
No que tange ao desenvolvimento regional, Oliveira e Lima (2003, p. 31 apud
MADUREIRA, 2015, p. 10) referem-se como à “participação da sociedade local no
planejamento contínuo da ocupação, do espaço e na distribuição dos frutos do
processo de crescimento”, para o compartilhamento dos benefícios sobre o
crescimento.
Assim, pode-se subentender que seria a administração para manutenção do
desenvolvimento econômico alcançado, pois para Vasconcellos e Garcia (2008, p. 35
apud MADUREIRA, 2015, p. 9) o desenvolvimento econômico inclui a “alocação de
recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores
de bem-estar econômico e social”.
Madureira (2015, p. 9-12) afirma também que quanto maior o crescimento
econômico sem o desenvolvimento econômico, maior será a desigualdade social.
Portanto, é importante desenvolver conforme o crescimento econômico para contribuir
com o desenvolvimento regional e impactos positivos na sociedade.
Desta forma, para analisar o desenvolvimento regional a partir de negócios com
impacto social positivo, a Artemisia (2016) considera principalmente cinco aspectos
que contribuem para esta transformação. São eles:
1. Diminuição dos custos de transação: diminuir o tempo e dinheiro
despendido em um mercado e/ou durante a locomoção;
2. Promoção de oportunidades e desenvolvimento: ampliar oportunidades
para crescimento humano e social;
3. Fortalecimento à cidadania e aos direitos individuais: garantir direitos
básicos de vida, liberdade e segurança;
4. Redução das condições de vulnerabilidade: proteger bens e prevenir riscos;
5. Ampliação das possibilidades do aumento de renda: promover aumento de
possibilidades para redução da vulnerabilidade social.

2.2.2 Impacto Social – Inovação Social

Neste sentido de desenvolvimento, com o objetivo de inovar para causar um


impacto na sociedade e progredi-la, surge a expressão de Inovação Social. O que
para Moulaert et al (2007, apud COMINI, 2016, p. 58) afirma que inovação social trata-
se de uma “ferramenta para uma visão alternativa de desenvolvimento urbano, focada
na satisfação das necessidades humanas e (empowerment) por meio da inovação nas
relações sociais e da governança comunitária”.
Para Murray et al (2010, apud COMINI, 2016, p. 58) a inovação social refere-
se a:
novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente satisfazem
necessidades sociais e criam novas relações ou colaborações sociais (...) são
boas para a sociedade e aumentam a capacidade de agir (Murray et al 2010
apud COMINI, 2016, p. 58).

De acordo com Phills et al ( 2008, apud COMINI, 2016, p. 58), inovação social
trata-se de um “propósito de buscar uma nova solução mais efetiva, eficiente,
sustentável ou justa para um problema social do que as soluções existentes e para o
qual o valor criado atinge principalmente a sociedade como todo e não indivíduos em
particular”.
E ainda, conforme Comini (2016, p. 60), inovação social trata-se do resultado
na geração de valor socioambiental para uma comunidade a partir de novos
produtos/serviços/processos em determinado mercado ou contexto.
Há três tipos de inovação que são interessantes a este estudo, elas são
classificadas em incremental, institucional e disruptiva. A inovação incremental
refere-se a melhorias em algo preexistente, sem alterar características básicas ou
romper paradigmas (OLIVEIRA, M., 2015; COMINI, G., 2016, p. 60-80). Inovação
institucional vem a ser algo capaz de reajustar a estrutura de mercado (COMINI, G.,
2016, p. 60-80) e, por fim, com a inovação disruptiva, é possível romper paradigmas,
criar novos mercados e/ou criar novos sistemas sociais (OLIVEIRA, M., 2015;
COMINI, G., 2016, p. 60-80).
Assim, para fins deste estudo, com base no que foi exposto, considerar-se-á
inovação social os processos e/ou resultados de uma ação na sociedade que busque
solucionar ou amenizar determinado problema social.
Assim, durante a próxima seção serão apresentadas as dimensões para a
análise de impacto e inovação social que serviram como base para analisar os
impactos sociais, econômicos e ambientais gerados por organizações, a partir os
negócios sociais, no contexto do empreendedorismo social, e sua contribuição para o
desenvolvimento local.

2.2.3 Dimensões para análise de Impacto e Inovação Social

Em questão à análise dos impactos sociais, é utilizado o modelo de Bruin e


Stangl (2013) adaptado por Comini (2016, p. 61), pois permite a análise da
abrangência (local, regional, nacional, global), a profundidade da inovação social, o
tipo de solução utilizada e a finalidade do empreendimento, conforme a figura abaixo:
Figura 4 – Dimensões para análise de Impacto e Inovação Social
• Local
• Regional
• Nacional
• Global

ABRANGÊNCIA
• Produtos / Serviços: produtos/serviços
novos ou significativamente modificados em
• Incremental: preenche lacunas devido suas potencialidades
a falhas de mercado
• Processos: mudanças significativas nos
meios de produção e/ou logística
• Institucional: reconfigura a estrutura de
mercado • Mercadológica: novos métodos de
marketing, design de produtos,
• Disruptiva: provoca mudança social precificação, embalagem, promoção e
sistêmica distribuição
• Organizacional: mudanças nas práticas
de negócios e/ou relações externas

FINALIDADE

• Aumento do Capital Físico (ex. bens materiais, terra, moradia)


• Aumento do Capital Humano (ex. educação, saúde)
• Aumento do Capital Produtivo (ex. trabalho, inserção em cadeia de valor)
• Diminuição de Custos de Transação (ex. acesso a fontes de financiamento, eliminação de
intermediários)
• Aumento do Capital Natural (conservação da biodiversidade, aumento da oferta de serviços
ecossistêmicos)
• Contribuição a uma Economia de Baixo Carbono (ex. fontes de energia renováveis,
tecnologias limpas, compartilhamento de bens)
• Reuso de materiais (ex. reciclagem de materiais, gestão de resíduos sólidos, têxtil)
• Aumento do Capital Social (ex. inserção em redes de relacionamento)
• Promoção de Cidadania e Autoestima (ex. identidade profissional, reconhecimento de
direitos, consciência ambiental)
Fonte: Comini, 2016, p. 63

É possível observar que tanto Artemisia quanto Comini utilizam conceitos muito
próximos quanto aos indicadores da finalidade dos impactos da inovação
socioambiental. Assim, para fins deste estudo, utilizar-se-á o modelo de Comini, pois
entende-se que este compreende os informados pelo Artemisia e ainda incrementa,
tendo uma amplitude maior.
Essas dimensões serão utilizadas na pesquisa para analisar as organizações
estudadas, a partir das variáveis de abrangência, profundidade, tipo e finalidade, para
mensurar os impactos e inovações das organizações. Assim, o próximo capítulo
refere-se às metodologias utilizadas neste estudo, com as etapas e medidas
empregadas a fim de alcançar os objetivos de identificação e análises das
organizações estudadas.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo encontram-se as classificações metodológicas, as quais esta


pesquisa insere-se, assim como, sua unidade de análise e amostra e os
procedimentos de coleta de dados.

3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA


De acordo com Vegara (2006), a pesquisa exploratória é concretizada em
campo no qual o conhecimento acumulado e sistematizado é escasso, e por seu
caráter investigativo, não admite proposições. Já a investigação explicativa, conforme
Gil (2008), identifica os aspectos que originam ou que cooperam para o acontecimento
dos fenômenos. É o tipo de pesquisa que mais investiga o conhecimento da realidade,
explicando o motivo que leva ao fato.
Diante disto pode-se classificar esta pesquisa quanto aos fins como exploratória
e explicativa. Classifica-se como exploratória por ser avaliada mais apropriada à
realidade do estudo devido à insuficiência de informações referentes a impactos
gerados por organizações a partir dos negócios sociais, no estado da Bahia.
Caracteriza-se também como explicativa porque identifica e analisa os
impactos e inovações sociais gerados por tais organizações, a partir de um modelo
proposto por Comini (2016) através das dimensões: abrangência, profundidade, o tipo
de solução da inovação social utilizada e a finalidade do empreendimento. É o tipo
de pesquisa que mais investiga o conhecimento da realidade, explicando o motivo que
leva ao fato.
Já quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, pois de acordo com Vergara
(2006), esta é realizada com base em material já preparado, estabelecido, sobretudo,
de livros e artigos científicos e é relevante para o levantamento de dados principais a
respeito do tema. Para a fundamentação teórico-metodológica da mesma foi realizada
investigação sobre os seguintes assuntos: negócio social, tipos de negócio social,
também foi apresentado uma relação entre negócio social e temas afins como
responsabilidade social, economia solidária, empreendedorismo social, abordou-se
aspectos dos impactos e inovações sociais.
A fonte de dados utilizados para as análises desta pesquisa foi a de dados
secundários, por meio da internet, de pesquisas bibliográficas em artigos, teses e
livros sobre o assunto, além de seminários específicos sobre o tema como o I Encontro
de Negócios Sociais, ocorrido no IFBA, em 2015.
Quanto à abordagem a pesquisa caracteriza-se como qualitativa. Segundo
Denzin e Lincoln (2005), a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem interpretativa
do mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas em seus
cenários naturais, tentando entender os fenômenos em termos dos significados.

3.2 ETAPAS E PROCEDIMENTOS


Com o objetivo de identificar e classificar organizações negócios sociais no
estado da Bahia, inicialmente foi realizada uma pesquisa exploratória com intuito de
levantar as referências necessárias para a fundamentação teórica e conceitual da
pesquisa. No segundo momento foi feito um levantamento nos sites institucionais,
para identificar as organizacionais que adotam os negócios sociais no Estado da
Bahia, além disto a participação da autora no I Encontro de Negócios Sociais do IFBA,
ocorrido em 2015, proporcionou a autora conhecer atores importantes para a
discussão dos negócios sociais, no Estado da Bahia, além dos endereços eletrônicos
e discussões a cerca dessas organizações.
Para classificar tais organizações quanto às inovações sociais, dentro dos
negócios sociais foi utilizada uma metodologia apresentada na tese de livre docência
da doutora e pesquisadora Graziella Comini, intitulada “Negócios Sociais e Inovação
Social: Um Retrato de Experiências Brasileiras”, que objetivou analisar a relação entre
inovação social e negócios sociais, para isto a autora visitou e analisou ao menos um
negócio social em cada estado brasileiro e no distrito federal. A classificação dos
negócios sócias também se deu a partir do referencial teórico desenvolvido sobre o
tema, destacando o livro Negócios Sociais Sustentáveis: Estratégias Inovadoras para
o Desenvolvimento Social, da editora Peirópolis, 2006, em parceria com a Ashoka
Brasil2.

Para caracterizar os impactos sociais, econômicos e ambientais gerados pelos


negócios sociais, a partir de cases no estado da Bahia, foi utilizado o método criado
por Comini, em 2016, o qual consiste em uma régua que vai de -10 a 10, para
identificar a lógica de atuação desses empreendimentos, conforme abaixo, porém

2
Criada em 1980, a Ashoka Brasil é uma organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no
campo da inovação social, trabalho e apoio aos Empreendedores Sociais. Fonte:
https://brasil.ashoka.org/
durante a análise é atribuído um valor neutro (0) para pontuar informações inclusas
sobre a pesquisa. As notas desta análise foram dadas de acordo com informações
nos respectivos portais oficiais das organizações estudadas. Abaixo seguem as
figuras 5 e 6, que apresentam os critérios de análise.

Figura 5 – Lógica de Atuação dos Negócios Sociais

Fonte: COMINI, 2016, p. 72


Figura 6 – Fatores para Classificação dos Negócios Sociais
Fatores Lógica de Mercado Lógica Social
Objetivo Aproveitar uma oportunidade de
Principal mercado Score (-1) Resolver um problema
socioambiental. Score (1)
Bens e serviços voltados para
necessidades básicas da
Bens e serviços voltados para o
Oferta consumo da população Score (-1)
população ou que conservem
Finalidade

a biodiversidade.
Score (1)

Geração de valor
Geração de valor social é um
socioambiental é o
Intencionalidade componente importante, porém core business do negócio.
não central. Score (-1)
Score (1)

Replicabilidade é mais
Escala Fator relevante. Score (-1) relevante que
a escalabilidade. Score (1)

Predominantemente
segmentos da população que
Os clientes pertencem a diversas
Clientes estão em situação de maior
classes sociais Score (-1)
vulnerabilidade social. Score
(1)
Cadeia de valor

Procura-se contratar
segmentos da população que
Os critérios para escolha são estão em situação de
Fornecedores preço e qualidade Score (-1) maior vulnerabilidade social.
Score
(1)
Prioridade para segmentos da
população que estão em
Não há nenhuma prioridade na
Colaboradores situação de maior
contratação. Score (-1)
vulnerabilidade social. Score
(1)
Governança

Há mecanismos institucionais
Não há mecanismos institucionais para participação coletiva das
Processo
para participação coletiva. Score comunidades com as quais o
Decisório (-1) empreendimento atua. Score
(1)

Lucro é totalmente investido


Distribuição de Distribuição de dividendos. Score
Sustentabilidade

no empreendimento. Score
lucros (-1)
Financeira

(1)
Depende de doações e/ou
Todos os recursos são contribuições institucionais
Valor provenientes de vendas de para
Econômico produtos e serviços. desenvolver sua atividade
Score (-1) principal.
Score (1)
Total -10 10
Fonte: Comini, 2016, p. 73
Assim, foram analisadas também as dimensões apresentadas no marco teórico
4.2.4 para verificar a abrangência, finalidade, profundidade e tipo do empreendimento
estudado, quando comparadas aos dados secundários obtidos nesta pesquisa, pode-
se verificar estes impactos.
No terceiro momento, realizou-se a análise dos dados coletados, a estruturação
e organização dos mesmos, através do aparato conceitual e empírico levantados,
contribuindo, assim, para alcançar os objetivos específicos traçados na pesquisa
visando à construção do relatório com os resultados.
Na última etapa finalizou-se as análises com as considerações finais e
recomendações de pesquisas futuras.

3.3 UNIDADE DE ANÁLISE


As organizações escolhidas foram pré-classificadas como empreendimentos
sociais, através de seminários ou livros abordados anteriormente. A partir disso, foram
realizados filtros para identificar as organizações: do estado da Bahia; mistas em
questões socioambientais e financeira econômica; organizações ativas e com portais
eletrônicos oficiais. Assim, as organizações utilizadas para este estudo foram a
Euzaria, APAEB (Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região
Sisaleira), Cipó – Comunicação Interativa e Fundação Terra Mirim.
Os negócios sociais que não foram incluídos neste estudo foram Terra Viva -
Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Extremo Sul da Bahia, da cidade de
Itamaraju; Associação Pracatum Ação Social, Incores, Velho Chico e Pastar, de
Salvador. Estes não foram estudados porque, ainda que classificados como
empreendimentos sociais através de livros e/ou seminários, não há em seus
endereços eletrônicos informações suficientes para classifica-los e caracterizá-los
como negócios sociais para este estudo, uma vez que nestes casos apresentam
apenas uma visão: social ou econômica.

3.4 LIMITAÇÕES DA PESQUISA


Em que pese esta pesquisa tenha sido tratada de forma íntegra e engajada
durante todo o seu processo, sofreu de algumas limitações.
A primeira limitação percebida deu-se sobre a busca de materiais para
identificar e conceituar os negócios sociais. Como informado ao longo do trabalho,
trata-se de um tema que passou a ser explorado recentemente (principalmente a partir
de 2006, quando Muhammed Yunus ganhou o prêmio Nobel da paz através do
Grameen Bank) e acredita-se por isso tenha encontrado tantas dificuldades para a
elaboração, além disso, há pluralidade conceitual sobre o tema.
A segunda limitação ocorre, pois esta pesquisa foi realizada integralmente a
partir de dados secundários, inclusive os dados para análise de impactos locais das
empresas estudadas. Por esta razão, os dados analisados podem não ser refletidos
na prática do local e/ou empresa estudada, já que muitas informações foram retiradas
nos próprios endereços eletrônicos destas organizações.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Será utilizado, nesta seção, o modelo de Comini (2016) que consistiu em


analisar os impactos e inovações sociais promovidos pelas organizações estudadas
por ela em campo. Neste estudo, as notas serão atribuídas a partir de análise de
pesquisa on-line nos portais oficiais destas organizações. Quando o impacto social é
relatado por essas organizações em objetivo principal, é lhe atribuído +1; quando
trata-se de oportunidade de mercado, -1. Se os bens e serviços ofertados são dirigidos
para necessidade básica da população ou conservação da biodiversidade, +1; quando
os bens/serviços forem apenas (ou com o foco) para o consumo da população, -1, e
assim consecutivamente.

4.1 APRESENTAÇÃO DOS CASOS


4.1.1 Euzaria

O interesse em analisar esta organização foi a partir da sua apresentação no I


Encontro de Negócios Sociais do IFBA. A Euzaria foi fundada em Salvador – BA, em
maio de 2015. Conforme o fundador Kiko Kislansk (2016), a Euzaria é uma
organização que “nasceu com o propósito de resgatar valores humanos na sociedade”
e informa que o objetivo da Euzaria é “viver em um mundo onde todos se sentem parte
de uma única unidade, se pertencem e, acima de tudo, valorizam mais o que são do
que o que tem“. Para conseguir tal objetivo, a empresa atua com base em capitalismo
consciente3, vende principalmente produtos de vestuários e quadros, com frases
positivas.
No início da sua operação, para cada produto de vestuário vendido, um era
doado a alguém em vulnerabilidade social e para cada quadro, uma criança era
matriculada em uma oficina de arte.
Além disso, a Euzaria realiza periodicamente parcerias com outras empresas,
como restaurantes e ONGs, como a Teto. Assim como na Euzaria, nos cardápios dos
restaurantes parceiros, para cada prato vendido, um é doado para alguém carente.
Com a Teto, os lucros provenientes dos produtos específicos da parceria, são doados
para a construção de casas populares. Desta forma, Kislansk (2016) acredita que o
consumo pode ser convertido em um ato de solidariedade.
Em 2017 a Euzaria mudou o seu modelo de negócio e priorizou o foco em
educação através de uma parceria com o Instituto Aliança. Hoje qualquer peça
vendida, é convertido em mais um dia de aula para jovens em situação de
vulnerabilidade social. Desta forma, os fundadores acreditam que será possível
analisar e aplicar melhor os impactos que esta empresa traz para a população, pois
foca suas atividades em uma determinada atividade: educação de jovens em situação
de vulnerabilidade social.
Diante do exposto na Figura 10, a Euzaria foi classificada com o foco para o
mercado e obteve nota -5:

3
Capitalismo Consciente trata-se de um novo paradigma socioeconômico para organizações público,
privado e social. Conta com quatro princípios fundamentais, os quais são propósito superior (visa além
do contexto econômico financeiro), importância dos stakeholders, engajamento ao propósito e cultura
e gestão conscientes. Este paradigma vem para responsabilizar e conscientizar a organização de toda
a cadeia produtiva dos seus bens e serviços. Fonte: Forleo, 2016, p. 30-36
Figura 7 – Posicionamento do Negócio Social: Euzaria
Fatores Lógica de Mercado Euzaria Lógica Social
Objetivo Aproveitar uma oportunidade de Resolver um problema
-1
Principal mercado. socioambiental.
Bens e serviços voltados para
Bens e serviços voltados para o
Oferta -1 necessidades básicas da população
consumo da população.
ou que conservem a biodiversidade.
Geração de valor social é um
Geração de valor socioambiental é o
Intencionalidade componente importante, porém 1
core business do negócio.
não central.
Replicabilidade é mais relevante que
Escala Fator relevante. -1
a escalabilidade.
Predominantemente segmentos da
Os clientes pertencem a diversas
Clientes -1 população que estão em situação de
classes sociais.
maior vulnerabilidade social.
Procura-se contratar segmentos da
Os critérios para escolha são
Fornecedores -1 população que estão em situação de
preço e qualidade.
maior vulnerabilidade social.
Prioridade para segmentos da
Não há nenhuma prioridade na
Colaboradores 0 população que estão em situação de
contratação.
maior vulnerabilidade social.
Há mecanismos institucionais para
Processo Não há mecanismos institucionais participação coletiva das
0
Decisório para participação coletiva. comunidades com as quais o
empreendimento atua.
Distribuição de Distribuição de dividendos. Lucro é totalmente investido no
0
lucros empreendimento.

Todos os recursos são Depende de doações e/ou


Valor
provenientes de vendas de -1 contribuições institucionais para
Econômico
produtos e serviços. desenvolver sua atividade principal.

Total -5
Fonte: Comini, 2016, adaptado pela autora, 2017.

Assim, conforme apresentado, fora possível classificar a abrangência da


Euzaria como local, pois suas ações possuem Salvador como centro. O tipo de
solução utilizada pela empresa demonstra ser organizacional em uma forma de
negócio one-to-one, na qual cada compra resulta em outra (seja quando era doado o
objetivo físico ou no novo sistema iniciado em 2017, quando passou a ser doado os
rendimentos financeiros). A profundidade deste impacto é tida como incremental,
pois auxilia a população com serviços, principalmente , de educação. Com suas
ações, acredita-se que a Euzaria teve a finalidade de contribuir com o aumento do
capital humano, social e promoção de cidadania e autoestima, ao promover, junto ao
Instituto Aliança, educação e reconhecimento para crianças e jovens em
vulnerabilidade social.
4.1.2 Cipó – Comunicação Interativa

Ganhadora do Prêmio de Empreendedorismo Social em 2002 pela Ashoka


através do livro Negócios sociais sustentáveis: estratégias inovadoras para o
desenvolvimento sustentável, a Cipó – Comunicação Interativa é uma organização
criada em Salvador - BA em 1999. O nome “cipó” faz uma referência aos três macacos
que não falam, ouvem ou veem. Assim, a intenção da organização é ser um cipó, em
uma associação aos macacos, para jovens e crianças menos favorecidas, os macacos
utilizam os cipós e galhos de árvore para subir e conquistar melhores frutos, aos
jovens menos favorecidos a Cipó vem para desenvolvê-los e auxiliá-los em ascensão
cultural e profissional para que desta forma possam expressar suas opiniões e ouvir
as demais.
Em sua estratégia de 2017 até 2019, a organização tem como missão de “criar
oportunidades para o pleno desenvolvimento e a participação social e política de
crianças, adolescentes e jovens, por meio da comunicação, cultura e educação” e
para atingir esta missão, a Cipó conta com vários projetos em curso, tais como:
Agência de Comunicação do Subúrbio; Bairro Escala Rio Vermelho; Formação em
Produção Cultural e Cultura Digital; Juventude Negra e Participação Política; Núcleo
de Produção; NUFAC – Núcleo de Formação de Agentes de Cultura da Juventude
Negra; Escola de Arte e Tecnologia de Salvador; Ponto de Cultura Cineclube;
Comunicação para Defesa dos Direitos de Crianças e Adolescentes; Formação em
Participação Política, entre outros.
Os projetos desenvolvidos pela Cipó trabalham com o desenvolvimento de
comunicação, arte, cultura, lazer, educação e identidade para jovens e crianças,
através de centros de multimídia, discussões educativas sobre os direitos das crianças
e adolescentes, incentiva a liderança de jovens com participação política com o
incentivo de reforçar políticas públicas de saúde, como o combate à violência e uso
de drogas, cursos presenciais e à distância para inserção ao mundo de trabalho,
cultura, direito da criança e adolescente, etc.
Para garantir a viabilidade desses projetos, a Cipó realiza serviços como
consultorias, campanhas colaborativas para a defesa da criança e do adolescente,
planos de comunicação de maneira estratégica para ONGs, movimentos e fundações,
cursos para Educação e Comunicação, entre outros, além de utilizar jovens egressos
de programas desenvolvidos pela Cipó para a prestação desses serviços. Além disso,
a organização conta com parcerias de órgãos públicos, internacionais e empresas no
geral para garantir a funcionalidade.
A organização também participa de diversos fóruns e eventos para compartilhar
e acompanhar, junto ao poder público, implementações de políticas públicas de
qualidade, através do FETIPA – Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente da Bahia, Fórum Baiano de
Juventude Negra, Fórum DCA – Direito da Criança e do Adolescente, Rede
Latinoamericana de Arte para a Transformação Social, entre outros, que tenham
objetivos similares aos da Cipó, como a proteção e disseminação de conhecimentos
às crianças e adolescentes.
Diante do que foi exposto, foi possível classificar a Cipó como uma
organização, se destaca no âmbito social, tendo obtido nota 4, conforme figura
número 11 abaixo:
Figura 8 – Posicionamento do Negócio Social: Cipó
Fatores Lógica de Mercado Cipó Lógica Social
Objetivo Aproveitar uma oportunidade de Resolver um problema
1
Principal mercado. socioambiental.

Bens e serviços voltados para


Bens e serviços voltados para o
Oferta 1 necessidades básicas da população
consumo da população.
ou que conservem a biodiversidade.

Geração de valor social é um


Geração de valor socioambiental é o
Intencionalidade componente importante, porém 1
core business do negócio.
não central.
Replicabilidade é mais relevante que a
Escala Fator relevante. -1 escalabilidade.

Predominantemente segmentos da
Os clientes pertencem a diversas
Clientes -1 população que estão em situação de
classes sociais.
maior vulnerabilidade social.

Procura-se contratar segmentos da


Os critérios para escolha são
Fornecedores 0 população que estão em situação de
preço e qualidade.
maior vulnerabilidade social.

Prioridade para segmentos da


Não há nenhuma prioridade na
Colaboradores 1 população que estão em situação de
contratação.
maior vulnerabilidade social.

Há mecanismos institucionais para


Processo Não há mecanismos institucionais participação coletiva das
1
Decisório para participação coletiva. comunidades com as quais o
empreendimento atua.

Distribuição de Distribuição de dividendos. Lucro é totalmente investido no


0
lucros empreendimento.

Todos os recursos são Depende de doações e/ou


Valor
provenientes de vendas de 1 contribuições institucionais para
Econômico
produtos e serviços. desenvolver sua atividade principal.

Total 4
Fonte: Comini, 2016, adaptado pela autora, 2017.

Quando analisada sobre as dimensões dos impactos ocasionados pela Cipó


quanto a sua finalidade, é possível observar principalmente a promoção de
oportunidades e desenvolvimento e ampliação das possibilidades de aumento de
renda, através de seus programas e cursos educativos e inserção dos jovens no
mercado de trabalho; o fortalecimento à cidadania e direitos individuais e redução das
condições de vulnerabilidade, o aumento do capital humano ao educar as crianças e
adolescentes sobre seus direitos e incentivar a efetivação dos mesmos. A
abrangência dos impactos da organização é majoritariamente local, ao atender
principalmente a cidade de Salvador. O tipo de solução pode ser classificado como
mercadológica, uma vez que a organização utiliza, sobretudo, de comunicação para
atingir seus objetivos e seu nível de profundidade é classificado aqui como
incremental, pois auxilia o Estado ao promover conhecimentos e oportunidades que
poderiam ser adquiridos durante a vida escolar.

4.1.3 Fundação Terra Mirim

A Fundação Terra Mirim – Centro de Luz foi fundada em maio de 1992 em


Simões Filho – BA, no Vale do rio Itamboatá. Durante a primeira década de sua
história, a fundação serviu de lar para aqueles que buscavam o autoconhecimento por
meio de tradições sagradas, principalmente o Xamanismo, com culto à natureza (a
terra, ao fogo, a água e ao ar) e aos seres espirituais. Após este período, a fundação
passou a cooperar para o desenvolvimento social, ambiental e cultural da região do
Vale do Rio Itamboatá, local em que atua, através de diversos projetos que incentivam
à educação, resgate a identidade histórica do local, à cultura e preservação da
natureza.
A Mirim, como também é chamada, é uma fundação sem fins lucrativos que é
mantida com um grupo de voluntários, residentes e não residentes da fundação. Na
fundação, a natureza é o centro de tudo – ela é cultivada, preservada, há horta
orgânica; jardim de ervas medicinais; viveiro de mudas; espaços sagrados; já foram
plantadas mais de 50.000 árvores no Vale e promovidos cursos sobre o meio ambiente
para a população.
Para manter-se autônoma, isto é, sem necessitar de doações de terceiros para
manter-se em atividade, a Fundação Terra Mirim presta serviços de hospedagens,
onde os hóspedes podem participar dos eventos diários de cultivo à terra da
organização e toda alimentação servida é baseada em ovolactovegetariana; aluguel
de espaços; venda de mudas de diversas plantas; aula de yoga; massagem
xamantica; trilhas, entre outros.
Dentre os projetos que a Terra Mirim trabalha para o desenvolvimento social,
está o Escola Ecológica, voltado para crianças e adolescentes com idade de 9 até 17
anos, onde é incentivado e ensinado sobre os ritos com os elementos sagrados da
natureza, yoga, pensamento autônomo e criativo, respeito à diversidade, combate às
desigualdades, injustiças, preconceitos, etc.
Devido às suas atividades, a Fundação Terra Mirim foi ganhadora de diversos
prêmios, tais como destaques estão Prêmio Escola Viva, Prêmio Asas e Prêmio Areté,
todos do Ministério da Cultura; fora finalista do Prêmio Empreendedor Social, através
da Ashoka em 2005; possui título de utilidade pública municipal, estadual e federal e
participa de conselhos como o Conselho da Criança e Adolescente, Conselho de
Segurança Alimentar e Conselho da Assistência Social, todas do município de Simões
Filho – BA.
Assim, conforme fora exposto, a Fundação Terra Mirim foi classificada com a
lógica para o social, tendo obtido nota 5, conforme figura abaixo:
Figura 9 - Posicionamento do Negócio Social – Fundação Terra Mirim
Fatores Lógica de Mercado MIRIM Lógica Social
Objetivo Aproveitar uma oportunidade de Resolver um problema
1
Principal mercado. socioambiental.

Bens e serviços voltados para


Bens e serviços voltados para o
Oferta 1 necessidades básicas da população
consumo da população.
ou que conservem a biodiversidade.

Geração de valor social é um


Geração de valor socioambiental é o
Intencionalidade componente importante, porém 1
core business do negócio.
não central.
Replicabilidade é mais relevante que a
Escala Fator relevante. 1 escalabilidade.

Predominantemente segmentos da
Os clientes pertencem a diversas
Clientes -1 população que estão em situação de
classes sociais.
maior vulnerabilidade social.

Procura-se contratar segmentos da


Os critérios para escolha são
Fornecedores 1 população que estão em situação de
preço e qualidade.
maior vulnerabilidade social.

Prioridade para segmentos da


Não há nenhuma prioridade na
Colaboradores 0 população que estão em situação de
contratação.
maior vulnerabilidade social.

Há mecanismos institucionais para


Processo Não há mecanismos institucionais participação coletiva das
1
Decisório para participação coletiva. comunidades com as quais o
empreendimento atua.

Distribuição de Distribuição de dividendos. Lucro é totalmente investido no


1
lucros empreendimento.

Todos os recursos são Depende de doações e/ou


Valor
provenientes de vendas de -1 contribuições institucionais para
Econômico
produtos e serviços. desenvolver sua atividade principal.

Total 5
Fonte: Comini, 2016, adaptado pela autora, 2017.

Quanto aos níveis de impacto social produzidos pela Fundação Terra Mirim, é
possível classificar seu nível de profundidade em incremental, ao auxiliar, sobretudo
na preservação do meio ambiente, mas sem trazer mudanças profundas na estrutura
de mercado de Simões Filho ou região. A abrangência da fundação é local, ao
atender principalmente a região do Vale do Rio Itamboatá, na cidade de Simões Filho.
O tipo de solução utilizado pela empresa é classificado como produtos e serviços,
pela maneira inovadora que trata os serviços de hospedagens, alimentação, educação
e espirituais, voltados para a preservação ambiental. Com isto, a finalidade alcançada
pela organização é o aumento do capital humano, social, natural e promoção de
cidadania e autoestima, ao promover educação ambiental, autoconhecimento e
conservação da natureza e biodiversidade.

4.1.4 APAEB – Produtos de Sisal

A APAEB – Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente foi


por duas vezes finalista do Prêmio Empreendedorismo Social pela Ashoka nos anos
de 1999 e 2004/2005, quando aparecera com o nome atualizado para APAEB –
Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira.
A APAEB foi criada no ano de 1980, devido à união de agricultores familiares
para lutar e protestar contra impostos, considerados abusivos por eles, durante a
ditadura militar.
O sisal é mais suscetível ao clima semiárido, ideal para a região de Valente.
Durante o inicio da APAEB, o preço internacional do produto era considerado baixo,
então, os produtores se uniram para vender em maior quantidade, obter mais lucro e
poder comprar máquinas que melhorassem a qualidade do material.
Em 1996, com empréstimo bancário e recursos de ONGs internacionais, a
APAEB inaugurou em Valente sua fábrica de tapetes e carpetes. A fábrica hoje
emprega diretamente mais de 250 pessoas e beneficia mais de 600 famílias. Toda
matéria prima utilizada é comprada dos pequenos agricultores da região sisaleira.
Os produtos são para consumo nacional e exportações frequentes. Hoje, seus
produtos são competitivos no mercado pois é natural e quando descartado, seus
impactos ambientais são menores em comparação aos produtos sintéticos.
Além disso, tendo como missão “promover o desenvolvimento social e
econômico sustentável e solidário, visando a melhoria da qualidade de vida da
população da região sisaleira”, a APAEB reinveste todo o seu lucro em projetos
socioambientais, tendo realizado diversos projetos na área de educação, assessoria
técnica para o campo e para animais, inclusão digital, extensão rural, cultura,
recuperação da lavoura do sisal, entre outros.
A APAEB conta com diversos parceiros, incluindo órgãos públicos, ONGs
nacionais, internacionais, universidades, entre outros.
Assim, diante do que fora demonstrado, foi possível classificar a organização
como bem equilibrada, tendo obtido nota 2 conforme figura 13 abaixo:

Figura 10 – Posicionamento do Negócio Social: APAEB


Fatores Lógica de Mercado APAEB Lógica Social
Objetivo Aproveitar uma oportunidade de Resolver um problema
-1
Principal mercado. socioambiental.

Bens e serviços voltados para


Bens e serviços voltados para o
Oferta -1 necessidades básicas da população
consumo da população.
ou que conservem a biodiversidade.

Geração de valor social é um


Geração de valor socioambiental é o
Intencionalidade componente importante, porém 1
core business do negócio.
não central.
Replicabilidade é mais relevante que a
Escala Fator relevante. 1 escalabilidade.

Predominantemente segmentos da
Os clientes pertencem a diversas
Clientes -1 população que estão em situação de
classes sociais.
maior vulnerabilidade social.

Procura-se contratar segmentos da


Os critérios para escolha são
Fornecedores 1 população que estão em situação de
preço e qualidade.
maior vulnerabilidade social.

Prioridade para segmentos da


Não há nenhuma prioridade na
Colaboradores 1 população que estão em situação de
contratação.
maior vulnerabilidade social.

Há mecanismos institucionais para


Processo Não há mecanismos institucionais participação coletiva das
0
Decisório para participação coletiva. comunidades com as quais o
empreendimento atua.

Distribuição de Distribuição de dividendos. Lucro é totalmente investido no


1
lucros empreendimento.

Todos os recursos são Depende de doações e/ou


Valor
provenientes de vendas de 0 contribuições institucionais para
Econômico
produtos e serviços. desenvolver sua atividade principal.

Total 2
Fonte: Comini, 2016, adaptado pela autora, 2017.
A profundidade da inovação social provocada pela APAEB pode ser
considerada como institucional, pois transformou a estrutura do mercado de sisal da
época da ditadura militar, quando começaram os movimentos da APAEB, até os dias
atuais. O tipo de solução usada pode ser considerado como organizacional, devido
às mudanças práticas de como os negócios de sisal desta região fora transformado,
a partir da união dos agricultores. Quanto à finalidade, a APAEB é capaz de
proporcionar aumento do capital humano, produtivo e social, através dos seus
programas socioambientais e inserção dos trabalhadores da região na sua cadeia de
produção e sua abrangência fora considerada como local, visto que suas ações
possuem como foco a região sisaleira da Bahia.

4.2 ANÁLISE DOS CASOS


Conforme fora apresentado no capítulo 2, percebe-se que há diversos modelos
capazes de seguir a lógica de negócio social. Isto se dá devido às diversas discussões
sobre como deve ser um negócio social – com ou sem lucros, inclusivos, base da
pirâmide, entre outros diversos sinônimos que enriquecem a discussão, porém não
especifica, já que não há um consenso entre os pesquisadores até o momento. Como
já fora destacado, para este estudo foram aceitos todos os tipos discutidos de negócio
social, desde que fossem mistos, ou seja, com união do aspecto financeiro e social.
Assim, de fato, todas as quatro empresas estudadas possuíram esta fusão, embora
em diferentes níveis entre si.
Os diferentes níveis destas organizações podem ser observados com o auxílio
da régua apresentada no capítulo 3 e o resumo das características dos impactos
estudados, conforme segue abaixo:
Figura 11 – Análise dos casos estudados

Figura 12 – Resumo dos Impactos identificados


Euzaria Cipó Mirim APAEB

Nota -5 4 5 2
Abrangência Local Local Local Local
Produtos e
Tipo
Organizacional Mercadológica serviços Organizacional
Profundidade Incremental Incremental Incremental Institucional
Aumento do capital Aumento do capital Aumento do capital Aumento do capital
humano humano humano humano
Aumento do capital Aumento do capital Aumento do capital Aumento do capital
social social social produtivo
Finalidade Promoção de Promoção de
cidadania e cidadania e Aumento do capital Aumento do capital
autoestima autoestima natural social
Promoção de
cidadania e
autoestima
Fonte: dados da autora, 2017.

Com isto, é possível afirmar que a maioria dos casos estudados estão mais
concentrados para a lógica do aspecto social, embora a parcela estudada possa não
ser refletida para o restante do estado da Bahia.
Ainda assim, é possível observar que essas organizações buscam, dentro de
suas capacidades, o desenvolvimento local de onde estão situadas, sobretudo através
da educação.
A grande diferença de atuação dessas organizações é que enquanto a APAEB,
Cipó e Terra Mirim atuam diretamente para contribuir com o desenvolvimento local,
seja com educação, inserção na cadeia de valor e promoção da cidadania e/ou
autoestima, a Euzaria demonstra ter foco para o mercado, desde 2017 passa a
“terceirizar” essas ações, uma vez que o atual responsável para a educação de
crianças e jovens em condições de vulnerabilidade social informada pela organização
seja o Instituto Aliança, embora a Euzaria participe com apoio financeiro significativo,
uma vez que 50% de suas vendas são utilizadas para garantir mais aulas a estas
crianças e adolescentes.
Embora o nível predominante de profundidade quanto à inovação analisado
tenha sido incremental, essas organizações são reconhecidas e consideradas
importantes em seus locais de atuação, agindo como agentes de transformação.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo caracterizar os negócios sociais, a partir de


cases, no estado da Bahia e para isso foi executada uma pesquisa bibliográfica
analítica e explicativa de multicases para caracterizar seus impactos.
Nesta pesquisa, objetivou-se identificar e classificar as organizações que
adotam os negócios sociais, no contexto do empreendedorismo social, no estado da
Bahia e analisar seus impactos sociais, econômicos e ambientais gerados por essas
organizações, com suas contribuições para o desenvolvimento local.
Assim, as organizações identificadas foram a Euzaria, Cipó – Comunicação
interativa, Fundação Terra Mirim e APAEB e classificadas de acordo com as suas
respectivas atividades.
Essas organizações são exemplos de que é possível unir o fator financeiro e
social, o que contribui para o desenvolvimento local, e ao mesmo tempo crescer
financeiramente. Os impactos demonstraram uma profundidade principalmente
incremental, o que a nível Bahia não farão diferença em análise de indicadores
estadual, mas fazem diferença nos seus bairros.
Neste estudo, foram estudados quatro exemplos. Ainda que o número possa
ser considerado pequeno para representar um estado tão grande e complexo como a
Bahia, acredita-se que quanto mais negócios sociais existissem, cada um trabalhando
a questão social de cada local, essas ações, juntas, poderiam causar um progresso
no estado.
Esta pesquisa foi importante, pois permitiu trazer esta discussão sobre
negócios sociais, tema em crescimento principalmente após 2006, para a realidade
baiana, ao analisar a teoria com a parte empírica dessas organizações mistas.
Assim, foi constatado que essas organizações geram impactos positivos ao
contribuir com o desenvolvimento local, incentivando especialmente a educação para
aumento do capital humano e social dos seus locais de abrangência.
Porém, esta pesquisa é limitada ao ponto de que as informações coletadas
foram exclusivamente via dados secundários. Com isto, sugere-se para novas
pesquisas estudos de dados primários e mais abrangentes, que possa estudar
organizações de negócios sociais, ainda que estas organizações por falta de difusão
de conhecimento do tema, não saibam que sejam negócios sociais.
Espera-se que este trabalho tenha contribuído ao mundo acadêmico no que
tange aos negócios sociais, e que incentive futuras abordagens sobre o tema.
6. REFERÊNCIAS

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https://pt.actualitix.com/pais/wld/indice-de-desenvolvimento-humano-por-pais.php.
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Acesso em 09/10/2017.

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http://artemisia.org.br. Acesso em 30/04/17

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Disponível em
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19/04/17.

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Experiências Brasileiras. São Paulo, 2016. Universidade de São Paulo, Faculdade
de Economia, Administração e Contabilidade. II. Título.

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abordagem sistémica. AIRO. Portugal, 2012.

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empreendedor. Monele, 4ª edição. Barueri – SP, 2012. Cap 1.

DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. (orgs). O Planejamento da pesquisa


qualitativa: teorias e abordagens; tradução Sandra Regina Netz. Porto Alegre:
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G1 – Portal Rede Globo. Desemprego no Brasil atinge mais de 12 milhões,


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