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Toda Ciência é Humana

Filosofia Natural. Esse era o nome da Física na Grécia Antiga. Aliás, a palavra “física” vem
de φύσις physis, do grego antigo, que significa “natureza”. A Física, a ciência natural base,
é proveniente da Filosofia, considerada da área de humanas.

Também existe uma grande controvérsia, origem de diversos debates, entre o


conhecimento humano ser uma descoberta ou uma criação. No primeiro caso, a ciência é
única e só resta aos seres humanos descobri-la. No segundo caso, ela é cultural, ou seja,
não existe sem os seres humanos. Provavelmente, igual às questões que dividem as coisas
entre ambientais e genéticas, a resposta seja mista: parte é descoberta e parte é criação.

Independente dessa discussão, a ciência que estudamos é a ciência humana, pois não
conhecemos nenhuma outra até o presente momento. Nesse momento de pandemia, não
são as ciências naturais – Física, Química e Biologia – que tem feito diferença. São as
ciências humanas. Sociologia, História, Geografia Humana, Economia, Política, Ética,
Filosofia e outras são as ciências que explicam fenômenos tais como o movimento
antivacina e propagação de fake news.

A humanização da ciência direcionou a construção desse material. Embora trate de


questões e conhecimentos mais técnicos, deve-se perceber, nas entrelinhas, todas as
nuances determinadas por motivações e atos tipicamente humanos.

Os capítulos desse material são: notação científica, estrutura da matéria, processos de


eletrização, interações gravitacional e elétrica, campos gravitacional e elétrico e
grandezas eletrostáticas.

Espero que esse material seja proveitoso para melhorar sua compreensão sobre os
fenômenos naturais, do mundo e da vida.

Vitória de Santo Antão, 19 de novembro de 2021.


Charles T. Turuda.

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1 Notação Científica

Potências de Base 10

A potência an de base a ∈ ℝ e expoente n ∈ ℤ é definida por:

a ∙ a ∙ ⋯ ∙ a , se n ≥ 2


⎪ 1
, se n ≤ −1
a = a
⎨ a = 1, se a ≠ 0

⎪ a =a
⎩ 0 é indeterminado

O sistema de numeração que utilizamos é o sistema decimal, ou seja, de base 10. Por isso,
essas potências são bastante interessantes.

105 = 10·10·10·10·10 = 100.000


104 = 10·10·10·10 = 10.000
103 = 10·10·10 = 1.000
102 = 10·10 = 100
101 = 10
100 = 1
1 1
10 = = = 0,1
10 10
1 1
10 = = = 0,01
10 100
1 1
10 = = = 0,001
10 1.000
1 1
10 = = = 0,0001
10 10.000
1 1
10 = = = 0,000 01
10 100.000

Deve-se notar que, se n ≥ 0, 10n = 1 00 … 0 e, se n < 0, 10n = 0,0 … 0 1.

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Como o sistema utilizado é decimal, multiplicar ou dividir por potências de base 10
implica apenas deslocar a posição da vírgula que separa a parte inteira da parte
fracionária. Observe os exemplos:

1.234,56 × 101 = 1.234,56 × 10 = 12.345,6


1.234,56 × 103 = 1.234,56 × 1.000 = 1.234.560
1.234,56 × 10–1 = 1.234,56 × 0,1 = 123,456
1.234,56 × 10–3 = 1.234,56 × 0,001 = 1,23456

Notação Científica

A unidade de carga elétrica no Sistema Internacional (SI) é o coulomb (C). A carga elétrica
de um próton vale:

0,000 000 000 000 000 000 16 C

Nota-se que, mesmo separando as classes por espaços, há certa dificuldade na leitura do
valor. Esse número, em notação científica, é:

1,6·10–19 C

que é muito mais simples de ler ou copiar.

Notação científica é uma forma de escrever números que facilita a escrita, a leitura e os
cálculos. Ela é formada pelo produto (multiplicação) de duas partes:

M·10n

As regras são:

1 ≤ | M | < 10

n ∈ ℤ = {...; – 3; – 2; – 1; 0; 1; 2; 3; ...}

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Exemplos

8 = 8,0·100 0,009 = 9,0·10–3 0,00314·103 = 3,14·100


57 = 5,7·101 0,0567 = 5,67·10–2 152,7·10–5 = 1,527·10–3
123 = 1,23·102 416·102 = 4,16·104 10 = 1,0·101

Multiplicação e Divisão em Notação Científica

Para multiplicar A·10m por B·10n, faz-se:

(A·10m) · (B·10n) = (A·B) ·10m + n

Exemplos:

1,2·103·3,4·107 = 4,08·1010 3,5·10–5·6,0·102 = 21·10–3 = 2,1·10–2

Para dividir C·10t por D·10u, faz-se:

(C·10t) ÷ (D·10u) = (C÷D)·10m – n

Exemplos:

(1,2·103) ÷ (4,0·107) = 3,0·10–5 3,5 · 10


= 0,58 · 10 = 5,8 · 10
6,0 · 10

Potenciação em Notação Científica

Deve-se lembrar de que uma potência é uma série de multiplicações. De modo geral,

(M·10x)y = My·10x·y

Por exemplo, (1,2·10–6)2 = 1,44·10–12.

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Radiciação em Notação Científica

De modo resumido, a radiciação é dada por:

/
√M ∙ 10 = √M ∙ 10

Exemplos:

4,0 ∙ 10 = 2,0 ∙ 10 1,6 ∙ 10 = 16 ∙ 10 = 4,0 ∙ 10

Exercícios

01. Escreva os números em notação científica:


a) 3. e) 0,003. i) 32,8·105.
b) 30. f) 304. j) 604·10–8.
c) 300. g) 56,2. k) 0,0008·106.
d) 0,3. h) 0,0069. l) 10.
02. Efetue:
a) (8,0·103)·(4,0·105). d) (1,2·105)÷(4,0·103).
b) (2,0·10–7)·(3,6·10–1). e) (1,0·104)÷(3,0·10–2).
c) (1,2·10–7)·(4,0·106). f) (9,0·10–11)÷(4,5·10–2).

03. Efetue:

9,0 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10


(1,0 ∙ 10 )

Gabarito
01. a) 3,0·100. 01. e) 3,0·10–3. 01. i) 3,28·104.
01. b) 3,0·101. 01. f) 3,04·102. 01. j) 6,04·10–6.
01. c) 3,0·102. 01. g) 5,62·101. 01. k) 8,0·102.
01. d) 3,0·10–1. 01. h) 6,9·10–3. 01. l) 1,0·101.
02. a) 32·108 = 3,2·109. 02. d) 0,3·102 = 3,0·101.
02. b) 7,2·10–8. 02. e) 0,33·106 = 3,3·105. 03. 2,304·10–8.
02. c) 4,8·10–1. 02. f) 2,0·10–9.

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2 Estrutura da Matéria

Matéria

Matéria é tudo aquilo que tem massa e volume (ocupa espaço). Em Química, estudamos
que a matéria é formada por moléculas, as moléculas são formadas por átomos e os
átomos são formados por partículas subatômicas (prótons, nêutrons e elétrons).

Figura 1 - Estrutura hierárquica da matéria.

Matéria

Moléculas

Átomos

Partículas
Subatômicas

Fonte: autor (2021).

Uma reação química é apenas um rearranjo dos átomos em moléculas. Por exemplo, a
reação química entre hidrogênio (H2) e oxigênio (O2) fornece água (H2O).

O2 + 2H2 → 2H2O

Há diferentes átomos. Todos os tipos de átomos são representados na tabela periódica e


são separados pelo número atômico, que é o número de prótons dentro do átomo.

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Figura 2 - Tabela periódica.

Fonte: Toda Matéria (2021).

O modelo de Bohr-Rutherford concebe os átomos formados por três partículas


elementares: prótons, nêutrons e elétrons. A estrutura atômica de Bohr-Rutherford
buscou similaridades com o Sistema Solar. Os prótons e os nêutrons ficam em uma região
central chamada de núcleo – à semelhança do Sol – e são circundados pelos elétrons em
uma região denominada de eletrosfera – similarmente aos planetas.

Figura 3 - Modelo atômico de Bohr-Rutherford.

Elétron (Eletrosfera)

Nêutron (Núcleo)

Próton (Núcleo)

Fonte: autor (2021).

Os prótons e os elétrons apresentam uma propriedade denominada de carga elétrica.


Há dois tipos diferentes de cargas elétricas: cargas positivas (+) e cargas negativas (–).
Os prótons têm carga elétrica positiva e os elétrons têm carga elétrica negativa.
Os nêutrons não apresentam carga elétrica (0).

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Interações Elétricas

Cargas elétricas de mesmo sinal se repelem e cargas elétricas de sinais opostos se atraem.
Partículas sem carga elétrica (neutras) não interagem nem com cargas elétricas positivas,
nem com cargas elétricas negativas.

Quadro 1 - Interações elétricas entre partículas e entre cargas elétricas.


Partícula Partícula Interação Elétrica Carga Carga Interação Elétrica
Próton Próton Repulsão Positiva Positiva Repulsão
Elétron Elétron Repulsão Negativa Negativa Repulsão
Próton Elétron Atração Positiva Negativa Atração
Próton Nêutron Não interagem Positiva Neutra Não interagem
Elétron Nêutron Não interagem Negativa Neutra Não interagem
Nêutron Nêutron Não interagem Neutra Neutra Não interagem
Fonte: autor (2021).

Interação Nuclear Forte

Nas seções anteriores, fez-se duas afirmações contraditórias:

⦁ Prótons se repelem eletricamente.


⦁ Prótons encontram-se no núcleo atômico.

A questão é: como prótons podem ficar juntos no núcleo se eles se repelem? A resposta a
essa pergunta é que há uma outra força que mantém os prótons juntos: a interação nuclear
forte. Apesar de dois prótons se repelirem eletricamente, eles se atraem mutuamente nas
interações nucleares. Além disso, os nêutrons também interagem entre si e com os
prótons através da força nuclear, ou seja, apesar de os nêutrons não apresentarem força
elétrica, apresentam força nuclear. A interação nuclear tem curto alcance enquanto a força
elétrica tem alcance infinito. Ou seja, se dois prótons estiverem relativamente distantes,
eles irão se repelir eletricamente. Se estiverem perto o suficiente, haverá uma força
nuclear de atração maior do que a força elétrica de repulsão e eles irão se conectar.
As reações nucleares de fusão ocorrem desse modo e, por isso, é necessário que haja
enormes temperaturas para que ocorram. As grandes agitações térmicas permitem a
energia cinética para que os prótons se aproximem o suficiente para a força nuclear atuar.

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Física de Partículas

No século XX, descobriram-se diversas partículas além dos prótons, nêutrons e elétrons.
Em certo momento, havia uma lista de partículas subatômicas tão grande quanto o
número de átomos na tabela periódica. Os físicos, então, começaram a desconfiar que
essas partículas não eram todas fundamentais e organizaram o que poderia ser um
conjunto de verdadeiras partículas elementares. Surgiu o Modelo Padrão da Física de
Partículas.

Figura 4 - Modelo padrão de partículas elementares.

Fonte: Wikipedia (2021).

Acabou-se descobrindo que os prótons e os nêutrons não são partículas elementares. Eles
são formados por quarks. Os prótons são formados por dois quarks up e um quark down
(uud) e os nêutrons são formados por um quark up e dois quarks down (udd). Por
enquanto, o elétron continua sendo uma partícula elementar, mais especificamente, um
lépton. Ao observar o Modelo Padrão da Figura 4, nota-se que há uma quantidade razoável
de partículas elementares. Os físicos desconfiam que elas são formadas por combinações
de partículas ainda mais básicas.

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Antimatéria

Há dois tipos básicos de físicos: os experimentais e os teóricos. Os físicos experimentais


realizam experimentos e medições. Os físicos teóricos são quase matemáticos. Trabalham
com as teorias realizando contas, explicando e prevendo teoricamente fenômenos e
resultados experimentais. Um físico teórico inglês chamado Paul Dirac, em 1928,
combinou a Mecânica Quântica e a Mecânica Relativística Especial para criar a sua
equação para o elétron. Ocorreu que, ao resolvê-la, ele chegou a duas respostas: uma com
carga elétrica negativa e outra com carga elétrica positiva. De modo ousado, propôs a
existência de uma partícula elementar idêntica ao elétron, mas com carga elétrica positiva.
Chamou-se essa partícula de antielétron ou pósitron. Em 1932, o físico experimental
estadunidense Carl David Anderson provou a existência do pósitron. Nos anos seguintes,
descobriram-se as antipartículas de cada uma das partículas, ou seja, a antimatéria.

Figura 5 – Matéria e antimatéria.

Elétron (Eletrosfera) Antielétron (Eletrosfera)


– +
Nêutron (Núcleo) Antinêutron (Núcleo)

Próton (Núcleo) Antipróton (Núcleo)


+ –
Fonte: autor (2021).

A antimatéria é descrita por um modelo padrão semelhante ao da Figura 4. Ou seja,


correspondente ao quark up (u), há o antiquark up (u) e, correspondente ao quark down,
há o antiquark down d . Desse modo, o antipróton é formado por dois antiquarks up e
um antiquark down uud e um antinêutron é formado por um antiquark up e dois
antiquarks down udd . Note que o nêutron e o antinêutron são ambos eletricamente
neutros, mas não são a mesma partícula. A palavra ‘matéria’ tem um sentido amplo e um
sentido restrito. No sentido amplo, engloba a antimatéria, pois essa também tem massa e
volume. No sentido restrito, matéria se opõe a antimatéria.

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Lei de Conservação da Carga Elétrica

Do mesmo modo que há reações químicas, há “reações” de partículas. Por exemplo, um


nêutron (n) não é estável. Isolado, ele tem uma vida média de alguns minutos e, depois,
decai em um próton (p+), um elétron (e–) e um antineutrino do elétron (ν ).

n → p+ + e– + ν

Estudando esses decaimentos, os físicos perceberam que a carga elétrica é uma grandeza
constante, ou seja, a soma algébrica das cargas elétricas antes de uma transformação
sempre é igual à soma algébrica das cargas elétricas depois dela. Em outras palavras,
carga elétrica não pode ser criada, nem destruída. Na reação de decaimento do nêutron, a
partir de uma partícula sem carga elétrica, houve a criação de uma partícula com carga
positiva (próton) e uma partícula com carga negativa (elétron), com resultado total nulo
igual ao que havia antes. O antineutrino do elétron não tem carga elétrica (Figura 4).

O Mistério da Ausência de Antimatéria

A equação da Física mais famosa do mundo é a relação entre energia (E) e matéria (m),
de Albert Einstein:

E = m · c2

na qual c = 3,0·108 m/s é a velocidade da luz no vácuo. Desse modo, pode-se criar matéria
a partir de energia e vice-versa. Por exemplo, radiação gama (γ) pode criar partículas.
De acordo com a Lei de Conservação de Carga Elétrica e outras leis de conservação,
partícula e antipartícula sempre deveriam ser criadas simultaneamente.

γ + γ → e– + e+

Ou seja, sempre que um elétron (e–) for criado, deve ser criado concomitantemente um
pósitron (e+). Isso é o que deve ter ocorrido no Big Bang, mas... quase só encontramos
matéria! Onde está toda a antimatéria que deveria ter sido criada junto? Mistério.

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Corpos Neutros e Corpos Eletrizados

A massa molar do ouro é 197 g. Isso significa que em 1,0 kg de ouro puro há 5,1 mols de
átomos de ouro, ou seja, 3,1·1024 átomos. Cada átomo de ouro tem 79 prótons e a mesma
quantidade de elétrons. Portanto, há muita carga elétrica positiva e muita carga elétrica
negativa nos corpos macroscópicos.

Um corpo é dito neutro quando o número de prótons (np) e o número de elétrons (ne)
nele são iguais, ou seja, quando a quantidade de cargas elétricas positivas é igual à
quantidade de cargas elétricas negativas. Quando há um desequilíbrio entre as
quantidades de cargas elétricas positivas e negativas, diz-se que o corpo está eletrizado.
Um corpo estará eletrizado positivamente se houver um excesso de cargas positivas em
relação às cargas negativas e estará eletrizado negativamente se houver mais cargas
elétricas negativas do que positivas no corpo.

n = n → corpo neutro
n > n → corpo eletrizado positivamente
n ≠ n → corpo eletrizado
n < n → corpo eletrizado negativamente

Um processo de eletrização é qualquer processo que transforme um ou mais corpos


neutros em corpos eletrizados.

Carga Elétrica Elementar

Na natureza, por causa da enorme intensidade das forças que os unem, os quarks não
existem isolados. Por isso, o próton ainda pode ser considerado uma partícula
fundamental da matéria. A carga elétrica dele é chamada de carga elementar e vale:

e = 1,6·10–19 C

Os elétrons apresentam uma carga elétrica exatamente do mesmo valor, porém negativa.

e– = – 1,6·10–19 C

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Até onde sabemos, não existe meio elétron ou um quinto de próton. É verdade que um
próton é formado por três quarks, mas os quarks não são necessariamente um terço de
um próton. Isso estabelece que as cargas elétricas de um corpo só podem assumir valores
discretos – ou seja, não contínuos – e que alguns valores são proibidos. Isso é o que
chamamos de Quantização da Carga Elétrica. Para corpos, vale:

Q=n·e

na qual Q é a quantidade de carga elétrica, n ∈ ℤ e ‘e’ é a carga elementar.

Explicando melhor, um corpo só pode ter cargas elétricas +1,6·10–19 C (um próton em
excesso); +3,2·10–19 C (dois prótons em excesso); +4,8·10–19 C (três prótons em excesso);
–1,6·10–19 C (um elétron em excesso); –3,2·10–19 C (dois elétrons em excesso);... Desse
modo, nenhum corpo pode apresentar carga elétrica Q = 4,0·10–19 C, pois isso implicaria
dois prótons e meio. E não existe meio próton!

Exercícios

01. Quando matéria e antimatéria se encontram, transformam-se completamente em


energia. Suponha que 0,5 kg de matéria seja colocada em contato com 0,5 kg de
antimatéria (Portanto, m = 1,0 kg no total) e que se converta completamente em
energia. Sabendo que o consumo de energia elétrica do município de Vitória de Santo
Antão durante o ano de 2020 foi de 276.190 MWh* = 9,9·1014 J, que c = 3,0·108 m/s e
usando E = m·c2, calcule durante quantos anos – iguais a 2020 – Vitória de Santo Antão
poderia ser mantida energeticamente com a energia proveniente de 1,0 kg de
matéria-antimatéria.
*Banco de Dados do Estado <http://www.bde.pe.gov.br>. Perceba que isso inclui o consumo
energético de todas as indústrias instaladas do município.
02. Prove que um corpo não pode apresentar carga elétrica Q = +2,4·10–19 C.
03. Justifique por que átomos com número atômico alto tendem a ser radioativos e/ou
instáveis, ou seja, tendem a se desintegrar com o tempo.
04. Explique por que átomos com núcleos muito grandes tendem a ter mais nêutrons do
que prótons.

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3 Processos de Eletrização

Condutividade Elétrica

É conhecido que alguns materiais conduzem melhor eletricidade do que outros. Os que
conduzem bem são chamados de condutores elétricos. Os que a conduzem mal são
denominados de isolantes elétricos. A maioria dos bons condutores elétricos conhecidos
são metálicos. Exemplos de bons isolantes – e, portanto, maus condutores – são o papel, a
madeira seca, a borracha, a maioria dos plásticos, a maioria dos vidros, a água pura, dentre
outros. Como o próprio nome já diz, os semicondutores apresentam condutividade
elétrica intermediária à dos bons condutores e à dos bons isolantes.

Grande parte da condução térmica ocorre devido aos elétrons livres do material. Por isso,
há coincidência entre condutividade térmica e condutividade elétrica. Em outras palavras:
bons condutores elétricos também costumam ser bons condutores térmicos e vice-versa.

Eletrização por Atrito

Vimos no capítulo anterior que eletrização é qualquer processo que transforma um ou


mais corpos eletricamente neutros em corpos eletrizados. Ou seja, torna um corpo com
equilíbrio de cargas elétricas positivas e negativas (np = ne) em um corpo com
desequilíbrio de cargas elétricas (np ≠ ne).

O processo de eletrização mais simples é a eletrização por atrito. Para isso, basta atritar
um corpo neutro com outro corpo neutro. A única exigência é que sejam de materiais
distintos. O atrito coloca átomos diferentes em proximidade. Microscopicamente, como
átomos diferentes apresentam eletroafinidades distintas, elétrons preferem uns átomos
a outros. Macroscopicamente, essa preferência é determinada pelas séries triboelétricas.

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Uma série triboelétrica é uma lista de materiais disposta verticalmente. Tomando-se dois
materiais quaisquer dessa lista para que sejam atritados, o material que ficar na parte
superior na lista adquirirá carga elétrica positiva e o material que ficar na parte inferior
na série triboelétrica adquirirá carga negativa, quando os corpos feitos desses materiais
forem atritados. Por exemplo, atritando-se vidro e algodão, o vidro ficará eletrizado
positivamente e o algodão, eletrizado negativamente (Figura 6). Note que, atritando-se
algodão e isopor, o algodão ficará eletrizado positivamente. Portanto, o tipo de carga
elétrica adquirida por um corpo depende das posições relativas na série triboelétrica dos
dois materiais atritados.

Figura 6 - Uma série triboelétrica.

pele humana seca


vidro
cabelo humano

Seda
Papel
positivo

negativo

algodão
Madeira
Âmbar
Poliéster
Isopor
filme PVC
Poliuretano
Polietileno
Silicone
Fonte: autor (2021), consultando diferentes fontes.

O âmbar, que aparece na série triboelétrica da Figura 6, é uma resina fóssil. É o mesmo
material onde há um inseto contendo sangue de dinossauro no filme Jurassic Park (1993).
No século VI a.C., o filósofo grego Tales de Mileto (Tecmundo, 2017) esfregou âmbar na
pele de um animal e foi um dos primeiros a descrever o fenômeno da eletrização por
atrito. Em latim, a palavra âmbar é electrum e deu origem às palavras ‘eletricidade’ e
‘elétron’. Segundo Boss e Caluzi (2007), no século XVIII, Charles François De Cisternay Du
Fay enunciou a existência de dois tipos de eletricidade: a vítrea e a resinosa (âmbar).
Note-se que, de acordo com a série triboelétrica da Figura 6, a eletricidade vítrea
corresponde à carga positiva e a eletricidade resinosa corresponde à carga negativa.

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Na eletrização por atrito, dois corpos neutros tornam-se eletrizados (Figura 7). A Lei de
Conservação da Carga Elétrica nos diz que um dos corpos adquirirá carga elétrica +Q e, o
outro, carga elétrica –Q, pois antes do atrito a carga elétrica total era nula (+ Q – Q = 0).

Figura 7 - Eletrização por atrito.

A B
+
A
+ – B –
Atrito
+ –

QA = 0 QB = 0 QA = +Q QB = –Q
(Neutro) (Neutro) (Positivo) (Negativo)

Fonte: autor (2021).

O Que Pode Dar Errado na Eletrização por Atrito?

Quando se atritam dois corpos de materiais diferentes, os corpos podem não ficar
eletrizados. Eis alguns motivos. Pode ser que os materiais não sejam muito diferentes de
fato. Por exemplo, madeira e osso são mais similares a cabelos humanos do que plástico.
Exatamente por isso, pentes de madeira ou de osso eletrizam menos nossos cabelos ao
nos pentearmos do que pentes e escovas de plástico. Portanto, usar pentes de madeira ou
de osso diminui o frizz do cabelo em comparação com os pentes de plástico.

Outro motivo para a eletrização por atrito não ocorrer é a utilização de materiais
condutores de eletricidade. Por exemplo, ao esfregar um metal com um pano de algodão,
pode ser que a eletrização do metal não ocorra porque toda carga elétrica adquirida por
ele escoa para a mão de quem o segura.

A eletrização por atrito não é eficaz em ambientes muito úmidos. A água tem moléculas
muito polares e a sua presença, na forma de vapor, no ambiente, pode descarregar
facilmente os corpos eletrizados. Por outro lado, locais onde a umidade é baixa
apresentam facilidade de manifestar fenômenos resultantes de eletrizações por atrito.
É comum, por exemplo, haver relâmpagos em tempestades de areia nos desertos.
O movimento dos ventos eletriza a areia e a falta de umidade proporciona alto grau de
eletrização, causando descarga elétrica de grande intensidade quando ela é possível.

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Eletrização por Contato

Um corpo eletrizado pode dar ou retirar elétrons de um corpo neutro, eletrizando-o. Isso
só pode ocorrer se ambos os corpos forem feitos de material condutor. Para que não haja
perda de cargas, esses corpos apresentam suportes de isolantes elétricos.

Figura 8 - Eletrização por contato.

++ + +
++ + +
Contato

Fonte: autor (2021).

Após o contato, as cargas elétricas se distribuem proporcionalmente ao tamanho dos


condutores. Se forem esféricos, as cargas elétricas após o contato são proporcionais aos
raios. Deve-se recordar de que a quantidade de carga elétrica se conserva.

Polarização de um Condutor

Quando um corpo eletrizado (indutor) se aproxima de um corpo neutro (induzido) e


condutor de eletricidade, induz nesse a polarização de cargas elétricas. As cargas elétricas
opostas à carga do indutor são atraídas e as cargas elétricas iguais são repelidas. Isso faz
com que as cargas elétricas do induzido se separem, o que é chamado de polarização.

Figura 9 – Polarização de um condutor elétrico.


+
+
+ –
+ – +
Aproximação +

Fonte: autor (2021).

20
Eletrização por Indução

A eletrização por indução é a que apresenta mais etapas. Ela consiste em induzir a
polarização de um condutor, ligar um polo desse condutor à terra por um fio e desligar
posteriormente essa conexão. Também pode ser usada para eletrizar simultaneamente
dois condutores com cargas elétricas diferentes entre si. Vamos ver primeiro essa
segunda eletrização, que é mais simples.

1ª Etapa: pegue dois condutores com suportes isolantes e os encoste.

2ª Etapa: aproxime um indutor carregado de um dos dois condutores encostados,


induzindo neles a polarização de cargas elétricas de modo que um fique com carga de
mesmo tipo do indutor e o outro fique com carga do tipo oposto.

++ –
– +
+
+ – +
+

3ª Etapa: ainda com o indutor próximo, separe os dois condutores.

++ –
+
+

+ – +
+

4ª Etapa: afaste o indutor.

21
Deve-se notar que a eletrização descrita faz com que as cargas nos dois condutores
eletrizados sejam opostas e de mesmo módulo. A eletrização através do uso de um
fio-terra é semelhante ao processo anterior, mas eletriza apenas um condutor.

1ª Etapa: aproxime um indutor de um condutor neutro com suporte de material isolante.



– +
– + –

2ª Etapa: conecte um dos polos do condutor induzido à terra através de um fio. Elétrons
poderão descer para o solo ou subir dele para o condutor.


+
+ –


3ª Etapa: ainda com o indutor próximo, desconecte o fio-terra.



+
+ –

4ª Etapa: afaste o indutor.

+
+

Dependendo do polo que for conectado à terra, pode-se eletrizar o induzido com carga
elétrica positiva ou negativa, independentemente do tipo de carga do indutor.

22
Fotoeletrização

A luz é formada por partículas chamadas de fótons que podem ser capazes de arrancar
elétrons de materiais através do Efeito Fotoelétrico. Esse tipo de eletrização é usado em
máquinas de fotocópias (Xerox) e scanners. O Efeito Fotoelétrico será estudado com mais
detalhes em momentos posteriores. Câmeras digitais também fazem uso desse tipo de
efeito para registrar imagens.

Eletroscópios

Eletroscópios são aparelhos capazes de detectar a presença de cargas elétricas em corpos.


Há alguns tipos bem simples – o de pêndulo e o de folhas, por exemplos – e alguns bem
sofisticados – o eletrônico, por exemplo.

O eletroscópio de pêndulo (Figura 10) pode ser facilmente produzido com uma pequena
bolinha de isopor – ou outro material, mas a bolinha precisa ser leve – coberta com papel
alumínio e presa a um barbante em um suporte. O eletroscópio será atraído por corpos
eletrizados positiva ou negativamente.

Figura 10 - Eletroscópio de pêndulo.

+ –
+ –
+ –
+ –

Fonte: autor (2021).

O eletroscópio de folhas (Figura 11) é um pouco mais complexo. Para construí-lo, é


necessário um frasco de vidro ou plástico com tampa de material isolante – isopor ou
cortiça –, um pedaço de arame de metal – pode ser um clipe de papel de escritório – uma
bolinha feita de papel alumínio e algumas tiras de papel alumínio. Coloca-se a bolinha na

23
extremidade superior do pedaço de arame, prende-se o arame na tampa furada do frasco
e, na outra extremidade, penduram-se as tiras de papel alumínio de modo que possam se
afastar livremente. Quando um corpo eletrizado positiva ou negativamente é aproximado
da bolinha condutora na parte superior, as tiras de alumínio se afastam.

Figura 11 - Eletroscópio de folhas.

+ –
+ –
+ –
+ –

Fonte: autor (2021).

Referências

BOSS, Sérgio Luiz Bragatto; CALUZI, João José. Os conceitos de eletricidade vítrea e
eletricidade resinosa segundo Du Fay. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 29, n. 4, p.
635-644. Sociedade Brasileira de Física: São Paulo, 2007.

TECMUNDO. A história da eletricidade e de cientistas que mudaram o mundo. Disponível


em: https://www.tecmundo.com.br/ciencia/122576-historia-eletricidade-cientistas-
mudaram-mundo-video.htm. Acesso em: 19 set. 2021. Publicado em: 17 out. 2017.

Exercícios

01. Descreva cada um dos processos de eletrização com suas próprias palavras.
02. Faça esquemas explicativos de como os eletroscópios de pêndulo e de folha
funcionam. Como é possível fazer um eletroscópio determinar qual é o tipo de carga
elétrica de um corpo (positiva ou negativa)?

24
4 Interações Gravitacional e
Elétrica

Interações Fundamentais

A Física atual admite a existência de quatro interações ou forças fundamentais: a


eletromagnética, a gravitacional, a nuclear forte e a nuclear fraca. Em capítulos anteriores,
justificou-se o fato de os prótons estarem todos juntos dentro do núcleo, apesar da
repulsão elétrica entre eles, graças à força nuclear forte. A força nuclear fraca está
envolvida no decaimento beta estudado em Radioatividade. Nesse capítulo, iremos
estudar a interação gravitacional e a parte elétrica da interação eletromagnética.

Gravidade e Eletricidade

Há muita semelhança e algumas diferenças entre as interações gravitacional e elétrica.


A causa da força gravitacional é a massa e a da força elétrica (ou coulombiana) é a carga
elétrica. Essa é a primeira diferença entre essas interações: há apenas um tipo de massa e
dois tipos de carga elétrica. A força gravitacional, até onde sabemos, é apenas atrativa.
Como vimos em capítulos anteriores, a força elétrica pode ser atrativa ou repulsiva.

As interações gravitacional e elétrica apresentam fórmulas matemáticas muito parecidas.


Ambas são proporcionais aos valores das propriedades importantes – massa (m; M) ou
carga elétrica (q; Q) – e inversamente proporcionais à distância (d) entre objetos
puntiformes ou esféricos – nesse caso, usa-se o centro – com distribuição uniforme.

G∙m∙M K ∙ |q| ∙ |Q|


F= F=
d d
G = Constante da Gravitação Universal K = Constante eletrostática do meio

Nota-se que, para as cargas elétricas – q e Q – tomam-se os módulos, pois elas podem ser
negativas, além de positivas.

25
A segunda diferença entre as duas interações é que há apenas um valor para a constante
de proporcionalidade para a gravitação (G = Constante da Gravitação Universal),
enquanto o valor da constante eletrostática (K) depende do meio. É Ko para o vácuo.

G = 6,67·10–11 N·m2/kg2 Ko = 9,0·109 N·m2/C2

As forças gravitacional e elétrica atuam na linha que une os pontos materiais ou os centros
das esferas com distribuição uniforme.

d d

Cargas Puntiformes Esferas com Distribuição Uniforme

Exemplos

01. Calcule a força gravitacional que o Sol (M = 2,0·1030 kg) exerce sobre a Terra
(m = 6,0·1024 kg). Suponha que os dois astros tenham distribuição uniforme.
A distância entre o Sol e a Terra é d = 150 milhões de km (1,5·1011 m).

G∙m∙M 6,67 ∙ 10 ∙ 2 ∙ 10 ∙ 6 ∙ 10 6,67 ∙ 2 ∙ 6 ∙ 10 ∙ 10 ∙ 10


F= →F= →F=
d (1,5 ∙ 10 ) 2,25 ∙ 10

80,04 ∙ 10
F= → F = 35,6 ∙ 10 newtons
2,25 ∙ 10

02. Determine a força elétrica entre um cátion de sódio (Na+) e um ânion de cloro (Cl–) no
cloreto de sódio. Suponha que a distância entre os centros dos dois íons valha
d = 2,76 Å (2,76·10–10 m). O cátion de sódio tem um elétron a menos em relação ao
átomo neutro e o ânion de cloro tem um elétron a mais, ou seja, as cargas elétricas
deles têm módulo igual à carga elementar (|q| = |Q| = e = 1,6·10–19 C).
K ∙ |q| ∙ |Q| 9 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10 9 ∙ 1,6 ∙ 1,6 ∙ 10 ∙ 10 ∙ 10
F= →F= →F=
d (2,76 ∙ 10 ) 7,62 ∙ 10

23,04 ∙ 10
F= → F = 3,0 ∙ 10 newtons
7,62 ∙ 10

26
Força Centrípeta e a Massa de Astros

A força centrípeta é responsável por mudar a direção da velocidade de um objeto. Seu


módulo depende da massa m do objeto em movimento, do módulo de sua velocidade v e
do raio de curvatura R do movimento e é dado por:

m∙v
F =
R

Em movimentos uniformes circulares, por exemplo, sempre haverá uma força centrípeta
apontando para o centro da circunferência. No caso de um astro de massa m em órbita
circular de raio R em torno de outro astro de massa M, a força centrípeta é a força
gravitacional entre os dois.

m∙v G∙m∙M m∙v G∙m∙M G∙M


F =F → = → = →v =
R d R R R

Δs G∙M 2πR G ∙ M 4π R G∙M 4π R


= → = → = →M=
Δt R T R T R G∙T

ou seja, é possível saber a massa do astro central através de outro em movimento circular
em torno dele. Basta saber o raio da órbita R e o período do movimento T.
O período T é o tempo necessário para completar uma volta.

“Pesando” o Sol

A distância entre a Terra e o Sol é de 150 milhões de quilômetros e a Terra gasta 1 ano
(325,25 dias) para dar uma volta em torno dele. Calcule a massa do Sol.

R = d = 150 milhões de km = 150·106 km = 150·106·103 m = 150·109 m = 1,5·1011 m


T = 325,25·24·60·60 = 31.557.600 s = 3,15566·107 s ≅ 3,2·107 s
G = 6,67·10–11 N·m2/kg2

27
4π R 4π (1,5 ∙ 10 ) 4π (3,375 ∙ 10 )
M= →M= →M=
G∙T 6,67 ∙ 10 ∙ (3,2 ∙ 10 ) 6,67 ∙ 10 ∙ (10,24 ∙ 10 )

4π (3,375 ∙ 10 ) 133,1046 ∙ 10
M= →M= → M = 1,9 ∙ 10 kg
6,67 ∙ 10 ∙ (10,24 ∙ 10 ) 68,3008 ∙ 10

Comparando Forças

O átomo mais simples é o isótopo H, chamado de prótio. Ele possui apenas um próton
central e um elétron ao redor. No modelo de Bohr-Rutherford, o elétron apresenta um
movimento circular uniforme cuja força centrípeta é, basicamente, a força elétrica (FE),
pois, em comparação, a força gravitacional (FG) entre o elétron e o próton é desprezível
(Dados: m = massa do elétron = 9,1·10–31 kg; M = massa do próton = 1,7·10–27 kg):

K ∙ |q| ∙ |Q| 9 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10 ∙ 1,6 ∙ 10 23,04 ∙ 10


F = →F = →F =
d d d

G∙m∙M 6,67 ∙ 10 ∙ 9,1 ∙ 10 ∙ 1,7 ∙ 10 103,2 ∙ 10


F = →F = →F =
d d d

23,04 ∙ 10
F d
= = 0,22 ∙ 10 → F = 2,2 ∙ 10 ∙F
F 103,2 ∙ 10
d

FE = 2.200.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000·FG

Referências

REVISTA GALILEU. Exoplaneta com dobro do tamanho da Terra tem água e pode ser
habitável. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/
2020/02/exoplaneta-com-dobro-do-tamanho-da-terra-tem-agua-e-pode-ser-
habitavel.html. Acesso em: 30 set. 2021. Publicado em: 27 fev. 2020.

28
5 Campos Gravitacional
e Elétrico

Forças de Campo

Se lhe pedirem para que puxe ou empurre um objeto – ou seja, para que exerça uma força
sobre ele –, certamente você irá encostar nele. No mundo macroscópio e rotineiro, quase
todas as forças que podemos exercer nos objetos são forças de contato: normal, tração,
atrito, elástica, empuxo e viscosidade. Objetos pesados que flutuam ou se movem sem
ninguém tocar neles é mote de filmes de terror, magia, paranormalidade ou tudo isso
misturado. Algo como wingardium leviosa da série Harry Potter ou de pessoas possuídas
no filme Constantine (2005). Entretanto, mesmo nesse mundo onde aparentemente
predominam as forças de contato, há algumas manifestações à distância das forças de
campo: gravitacional, elétrica e magnética.

O próprio peso dos objetos, que precisa ser


vencido por forças de contato para levantá-los, é
uma força exercida à distância. Também já nos
acostumamos com a força magnética e à distância
dos ímãs (Figura 13). Ocorre que todas as
interações fundamentais – gravitacional,
eletromagnética, nuclear forte e nuclear fraca – são
forças de campo e atuam à distância.

Um campo é uma modificação do espaço ao redor


de um objeto, causado, em geral, por alguma
propriedade dele (Quadro 2). Por exemplo, imagine
+
uma pessoa muito perfumada em determinado
ambiente. O perfume exalado pela pessoa irá tomar
o espaço de modo que, outra pessoa nesse
ambiente, poderá sentir a presença da primeira
através do olfato.

29
Figura 12 - Forças de contato costumam ser nossa expectativa no mundo.

Fontes: Roman Odintsov (2021) e Frederik Sørensen (2021), respectivamente.

Figura 13 - Globo e caneta (Harry Potter) com levitação magnética.

Fontes: Mercado Livre (2021) e Shopee (2021), respectivamente.

Figura 14 - O perfume de uma flor modifica o espaço ao seu redor. O olfato permite perceber
essa modificação. Esse espaço modificado é um campo odorífico.

Fontes: Educaplay (2021, original e modificado).

Quadro 2 – As propriedades e os respectivos campos que elas “criam”.


Propriedade Campo
Carga elétrica Elétrico
Massa Gravitacional
Polo magnético Magnético
Cheiro Odorífico
Fonte: autor (2021).

30
Relembrando Vetores

Algumas coisas na Natureza podem ser modeladas como números naturais. Contamos:
uma ovelha, duas ovelhas, três ovelhas,... Números fracionários não fazem sentido nesse
processo de contagem. E temos certa dificuldade para usar números negativos.

Quadro 3 - Contando ovelhas (números naturais).

Fonte: Pixabay (2021), montagem.

Em capítulos anteriores, percebemos que números positivos e números negativos servem


bem ao conceito de carga elétrica. Os efeitos de cargas elétricas opostas se “anulam” em
muitos casos. Poderiam ser modeladas por números inteiros de carga elementar (e).

Forças são mais bem modeladas por vetores. Vetores são entidades matemáticas dotadas
de três características: módulo (valor), direção e sentido. Sua soma é diferente da soma
de números (escalares) e leva em consideração a direção e o sentido dos vetores, além de
seu módulo.

+ =

Campos Escalares e Campos Vetoriais

Campos podem ser considerados como modificações do espaço. Em uma abordagem


matemática, pode-se interpretá-los como grandezas físicas que são funções da posição.

31
Grandezas físicas podem ser escalares (número e unidade de medida) ou vetoriais
(número ou módulo, direção, sentido e unidade de medida) e os campos também podem
ser classificados desse modo: escalares ou vetoriais.

Lembremo-nos de que o espaço tridimensional é representado como um conjunto infinito


de pontos determinados por trios ordenados (x; y; z) de números reais. Muitas vezes,
reduzimos os problemas e as explicações para o plano, com apenas pares ordenados, mas
o raciocínio para o espaço tridimensional é similar ao do espaço bidimensional.

Figura 15 - Espaço e plano cartesianos.

z y
(x; y)

(x; y; z)
y x

Fonte: autor (2021).

Uma grandeza escalar é a temperatura. Vamos definir, por exemplo e para explicação, o
campo escalar de temperaturas, em kelvins, no espaço cartesiano:

T(x; y; z) = 2·x – 2· y + z [5.1]

Essa fórmula nos diz qual é a temperatura em qualquer ponto (x; y; z) do espaço. Por
exemplos, a temperatura no ponto (0; 0; 0) é 0 K e a temperatura no ponto (1; 2; 3) é 1 K.

Uma grandeza vetorial é a velocidade. De certo modo, o vetor velocidade pode ser
considerado como um trio ordenado de números reais (vx; vy; vz). Desse modo, podemos
ter três componentes da velocidades – vx, vy e vz – cada uma dependendo das três
coordenadas do espaço. Agora, podemos entender por que se reduz para duas dimensões.

Para dar um exemplo de um campo vetorial de velocidade, na Agropecuária, há a irrigação


através de canais, dutos ou valas. Por conta do atrito, a velocidade da água próxima das

32
paredes é menor – representadas por vetores com menor módulo – do que a velocidade
no meio do canal – representada por vetores com maior módulo.

Figura 16 - Exemplo de aplicação de campo vetorial de velocidade.

Fonte: montagem do autor (2021), usando foto de canal de irrigação em Salitre-BA (Flickr).

Um exemplo de um campo vetorial de velocidade desse tipo, no plano, é:

L
⎧ L − |y|, para |y| ≤
⎪v = 2
v⃗ = v ; v L [5.2]
⎨ 0, para |y| >
⎪ 2
⎩ v = 0

Figura 17 - Modelo do exemplo de um campo de velocidades.

y
Parede do canal

L x

Parede do canal

Fonte: autor (2021)

A função [5.2] é bastante complicada porque leva em consideração que só há água dentro
dos limites da largura do canal (L) e, quanto mais perto da parede, menor é a velocidade.

33
Campo Gravitacional e Campo Elétrico

Uma propriedade é a causa de um campo. A massa (gravitacional) é o que causa um campo


gravitacional e as cargas elétricas são as causas um campo elétrico. Em princípio,
portanto, deveria haver um tipo de campo gravitacional e dois tipos de campo elétrico.
Para os campos elétricos, deu-se um jeito de haver – mais ou menos – um único tipo de
campo elétrico.

Os campos gravitacional e elétrico são vetoriais. Em cada ponto do espaço, eles são
caracterizados, portanto, por um vetor. No caso da gravidade, é o vetor de aceleração
gravitacional g⃗ e, no caso, da eletricidade, o vetor campo elétrico E⃗. Como já sabemos, na
Física, os vetores têm módulo (valor), direção, sentido e unidade de medida, portanto,
para determiná-los, necessitamos fornecer essas quatro informações.

A palavra puntiforme refere-se a algo modelado como um ponto geométrico, ou seja, uma
entidade sem dimensões. É impossível desenhar um ponto geométrico real, pois, por
menor que seja o desenho, ele terá um tamanho. Então, os corpos puntiformes são uma
abstração que existe apenas no mundo ideal, no mundo das ideias – uma referência à
filosofia de Platão.

Campos Gravitacional e Elétrico de Corpos Puntiformes

Os campos gravitacional e elétrico de corpos puntiformes são radiais (direção). O campo


gravitacional é convergente (sentido). O campo elétrico é divergente (sentido) para
cargas elétricas positivas e é convergente (sentido) para cargas elétricas negativas.
As unidades de medida dos campos gravitacional e elétrico são, respectivamente, N/kg ou
m/s2 e N/C. Os módulos dos campos gravitacional de uma massa M e elétrico de uma carga
Q a uma distância d são:

Módulo do Campo Gravitacional Módulo do Campo Elétrico


G∙M K ∙ |Q|
g= E=
d d

34
Representação Gráfica dos Campos Gravitacional e Elétrico

Os campos gravitacional e elétrico podem ser representados através de linhas de campo,


como mostrado na Figura 18.

Figura 18 - Campos (a) gravitacional; (b) elétrico convergente e (c) elétrico divergente.

– +

Fonte: autor (2021)

Relação entre Campos e Forças

Entende-se a ação à distância das forças gravitacional e elétrica através dos campos, como
mostra o esquema a seguir:

Corpo A “gera” o campo → O corpo B “sente” o campo de A → A faz força em B

Qual é a força exercida por um corpo, de massa m e carga elétrica q, colocado em um


campo gravitacional e em um campo elétrico? As relações entre campos e forças
gravitacionais e elétricos são parecidos:

Força e Campo Gravitacionais Força e Campo Elétricos


F =m·g F=q·E

Deve-se notar que a relação entre força gravitacional e campo gravitacional nada mais é
do que... a fórmula da força peso (P = m · g)! Claro. O peso é a força gravitacional. Nota-se,
entretanto, que, agora, o módulo da aceleração gravitacional não precisa ser constante e
pode ser calculado para diferentes distâncias.

35
Cálculo da Gravidade na Superfície de Planetas e
Exoplanetas

Vamos calcular o campo gravitacional na superfície do planeta Terra. Para isso, só


precisamos de duas informações: sua massa M e seu raio R, que será a distância d.

M = massa da Terra = 6,0·1024 kg


R = d = 6.371 km = 6,371·103 km = 6,371·103·103 m = 6,371·106 m
G = 6,67·10–11 N·m2/kg2

G ∙ M 6,67 · 10 ∙ 6 · 10 40 · 10
g= = = = 0,99 · 10 = 9,9 m/s
d (6,371 · 10 ) 40,6 · 10

que é o valor para o módulo da aceleração gravitacional da Terra: g ≅ 10 m/s2.

Observemos, como exercício, o seguinte trecho de uma reportagem: “A 124 anos-luz de


distância, o exoplaneta K2-18b tem 2,6 vezes o raio e 8,6 vezes a massa da Terra”
(REVISTA GALILEU, 2020). Vamos utilizar essas informações para calcular o módulo da
aceleração da gravidade na superfície de K2-18b, em comparação com a gravidade na
superfície da Terra.

MT = massa da Terra
RT = raio da Terra
MK = massa de K2-18b = 8,6·MT
RK = massa de K2-18b = 2,6·RT

G∙M G ∙ 8,6 ∙ M 8,6 ∙ G ∙ M G∙M


g = = = = 1,3 ∙ = 1,3 ∙ g
R (2,6 ∙ R ) 6,76 ∙ R R

Nota-se que, apesar de K2-18b ter mais do que o dobro do raio da Terra e de ser quase
nove vezes mais massivo, a gravidade em sua superfície é apenas 30% maior do que aqui
na Terra.

Esse cálculo pode ser feito para qualquer astro esférico, bastando saber dele a massa M e
o seu raio R. No capítulo anterior, vimos como um astro pode ser “pesado” através de um
objeto que o orbita.

36
6 Grandezas Eletrostáticas

Energia Potencial Elétrica e Potencial Elétrico

O fato mais importante sobre energia é: ela não pode ser criada, nem destruída. Ela se
apresenta em diferentes formas: cinética, potencial gravitacional, potencial elétrica,
eólica, solar, sonora, térmica, química etc.

Para calcular o trabalho de uma força conservativa, tais como gravitacional e elétrica,
basta calcular o negativo da variação da respectiva energia potencial.

τ = −ΔЄ

Por exemplo, para encontrar o trabalho realizado para ir de um lugar com energia
potencial Єinicial = 30 joules a outro com energia potencial Єfinal = 10 joules, realiza-se um
trabalho de 20 joules, pois:

τ = −(Є −Є ) = −(10 − 30) = −(−20) = 20 joules

Para calcular a energia potencial elétrica (Є) em uma configuração de cargas elétricas q e
Q separadas por uma distância d, em um meio com constante eletrostática K, usa-se a
seguinte expressão:

K∙Q∙q
Є=
d

Apenas para reforçar, a unidade de medida de energia no Sistema Internacional (SI) é o


joule (J). Muitas vezes, a energia potencial não é importante, mas, sim, a energia potencial
por carga elétrica, o chamado potencial elétrico V:

K∙Q∙q
Є d K∙Q
V= ↔V= ↔V=
q q d

37
A unidade de medida de potencial elétrico no SI é o volt (V). Note-se que:

joule (J)
volt (V) =
coulomb (C)

Em termos comparativos (analógicos), a energia potencial gravitacional no sistema


formado por duas massas m e M, separadas uma da outra por uma distância d, é dada por:

G∙M∙m
Є=
d

na qual, G é a Constante da Gravitação Universal (G = 6,67·10–11 N·m2/kg2). O equivalente


ao potencial elétrico é o potencial gravitacional dado por:

Є G∙M
V= ↔V=
m d

Próximo à superfície de um astro, a energia potencial gravitacional é aproximadamente


dada por:

Є= m·g·h

na qual h é a altura em relação à superfície e g é o módulo do campo gravitacional no local.

Grandezas Eletrostáticas

Há, portanto, quatro grandezas eletrostáticas importantes: força F⃗ , campo E⃗ , energia


potencial (Є) e potencial (V). Suas expressões matemáticas podem ser agrupadas:

Q, q Q Tipo de Grandeza
K ∙ |Q| ∙ |q| K ∙ |Q|
d2 F = E= Vetorial
d d
K∙Q∙q K∙Q
d Є= V= Escalar
d d

38
Fluxo Elétrico e a Lei de Gauss

Imagine-se que se envolva uma carga elétrica positiva através de uma superfície fechada.
Sabe-se que as linhas de campo elétrico geradas por uma carga elétrica positiva são
divergentes. Disse-se que existe um fluxo elétrico positivo atravessando a superfície.
O fluxo elétrico é definido como:

ϕ = E⃗ ∙ A⃗ = E ∙ A ∙ cosθ

na qual E é o módulo do campo elétrico, A é a área da superfície e θ é ângulo formado


entre o vetor campo elétrico E⃗ e o vetor normal (perpendicular) à superfície n⃗, com
sentido para fora dela.

Figura 19 - Fluxo elétrico.

n⃗

+ –

Vetor normal à superfície. Fluxo elétrico positivo. Fluxo elétrico negativo.

Fonte: autor (2021)

Deve-se notar que o fluxo é proporcional à carga elétrica envolvida pela superfície. Se a
carga elétrica dentro da superfície é positiva, o fluxo é positivo. Se a carga elétrica dentro
da superfície for negativa, o fluxo é negativo. Se dentro de uma superfície fechada não
houver carga elétrica, o fluxo elétrico é nulo. O fluxo elétrico, portanto, pode ser escrito
como:

q
ϕ=
ε

q
E⃗ ∙ A⃗ = (Lei de Gauss)
ε

39
na qual ε é uma constante associada a cada meio chamada de permissividade elétrica do
meio. Para o vácuo, o valor é εo = 8,85·10–12 C2/(N·m2).Essa constante está associada à
constante eletrostática do meio através de:

1
K=
4πε

Como, nos cálculos, muitas vezes se usa como superfície uma esfera, o uso dessa constante
no lugar de K pode facilitar imensamente as contas, pois a área da superfície de uma esfera
de raio R é dada por A = 4πR2.

Figura 20 - Um pouco mais sobre fluxo elétrico.

A superfície envolve uma carga


+ ‒ elétrica positiva. O fluxo é positivo.
Na figura, há 8 linhas saindo da
superfície.

A superfície não envolve nenhuma


+ ‒ carga elétrica. O fluxo é nulo.
Na figura, há 3 linhas entrando na
superfície e 3 linhas saindo dela

A superfície envolve uma carga


elétrica total negativa. O fluxo
+ ‒ elétrico é negativo.
Na figura, há 5 linhas saindo da
superfície e 11 linhas entrando nela.

Fonte: autor (2021)

A Lei de Gauss é uma das quatro Equações de Maxwell. Elas são as equações que
descrevem tudo o que se sabe sobre Eletricidade, Magnetismo e Óptica, sendo algumas
das mais importantes leis da Física atual. Sua forma mais sofisticada é escrita na forma
integral ou diferencial, em uma matemática de Ensino Superior.

q
E⃗ ∙ da⃗ =
ε

1
∇⃗ ∙ E⃗ = ρ
ε

40

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