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Direito Constitucional aplicado à profissão

Direitos fundamentais como base da ordem normativa de condutas profissionais e


dos códigos de ética empresarial

Este texto versa sobr e a uti li zação do D ir eito C onstituci onal , pri nci pal mente no tocante aos
Dir ei tos Fundamentais, no contexto empr esari al e a r el ação da or dem j urídi ca com a
deontol ogi a pr ofi ssi onal.

S umário:
1 . Co n c e it o d e Co n s t it u iç ã o .
2 . I m p o r t â n c ia d a Co n s t it u iç ã o F e d e r a l d e 1 9 8 8 p a r a o p r o f is s io n a l. 3 . D ir e it o s Fu n d a m e n t a is o u Dir e it o s
Humanos?
4 . As q u a t r o g e r a ç õ e s d e D ir e it o s Hu m a n o s .
5 . Dir e it o s Fu n d a m e n t a is .
6 . Dir e it o s I n d iv id u a is .
7 . Dir e it o s Co le t iv o s .
8 . Dir e it o s So c ia is .
9 . Dir e it o s d a Na c io n a lid a d e .
1 0 . Dir e it o s Fu n d a m e n t a is a p lic a d o s à p r o f is s ã o .
1 1 . I n t r o d u ç ã o à d e o n t olo g ia p r o f is s io n a l.
1 2 . Co n c e it o e Fu n ç ã o d e Có d ig o d e Ét ic a .
1 3 . Ba s e s p a r a u m Có d ig o d e Ét ic a .

INTRODU ÇÃ O
E s te texto v ers a de maneira s uc inta s obre a utiliz aç ão do Direito Cons tituc ional, princ ipalmente no
toc ante aos Direitos Fundamentais , no c ontex t o empr es arial e a relaç ão da ordem jurídic a c om a
deontologia profis s ional. Não pretendemos v ersar pr ofundamente s obre um as s unto ex tremame nte
v as to e c omplex o, mas tão -s omente apres entar os pri nc ipais c onc eitos e tentar, de c erta forma,
as s oc iá -los ao c ot idiano profis sional empres arial. E m funç ão de tal intento, não temos ímpetos de
inov ar doutrinariamente c om relaç ão ao tema propos t o, apenas introduz ir os temas e, porv entura,
des pertar a c uriosidade para uma leitura e pes quis a mais profundas a res peito. P ara fins didátic os ,
es te tex to foi dividido em dois c apítulos.

E m " I ± Os Direitos Fundamentais e o Cotidiano P rofis sional", introduz iremos o c onc eito de ordem
jurídic a e de norma fundamental, que dev e s er s eguida em todas as ins tânc ias deontológic as ,
s ej am a partir de atos legais ou infra -legais , res guardando e implementando os Direitos
Fundamentais , também objeto deste c apítulo.

E m "II ± Deontologia P rofis s ional e Códigos de Étic a" , tentaremos c onec tar os princípios
c ons titucionais e os dis positiv os leg ais c omo diret riz es para a elaboraç ão de normas de c onduta
para as empres as , além de ex por um arc abouç o teóric o s obre o as s unto.

CA PÍTULO I ± OS DIRE ITOS FUNDA ME NTA IS E O COTIDIA NO P ROFISS IONA L

1.Conc eito de Cons tituiç ão

O Direito Cons tituc ional é um ramo do Direito Públic o. P orém, dis tingue -s e dos demais ramos do
Direito P úblic o, por s er um Direito P úblic o fundamental, s egundo J os é A fons o da Silv a, por " referir -
s e diretamente à organiz aç ão e funcionamento do E s t ado, à art ic ulaç ão dos elementos primários
do mes mo e ao es tabelec imento das bas es da es trutur a polític a." [01] Numa c onc eituaç ão mais
ac larada: "P odemos defini -lo c omo o ramo do D ireito P úblic o que ex põe, interpreta e s istematiza
os princípios e normas fundamentais do E s tado." [02] P ortanto, o objeto de es tudo do Direito
Cons tituc ional " é c ons tituído pelas normas fun damentais da organiz aç ão do E s tado, forma de
gov erno, modo de aquis iç ão e ex erc íc io do pode r, es tabelec imento dos s eus órgãos , limites de s ua
atuaç ão, d ireitos fundamentais do homem e res pec tiv as garantias e regras bás ic as da ordem
ec onômic a e s oc ial" . [03]

Obv iamente, c omo o próprio nome diz , a princ ipal norma do Direito Cons tituc ional é a Cons tituiç ão.
A Cons tituiç ão é a norma fundamental que funda e o r ganiz a o E stado. Ou s eja:

" A c onstituiç ão do E s tado, c onsiderada s ua Lei fundamental, s eria, então, a organiz aç ão


dos s eus elementos es s enc iais : um s istema de normas jurídic as, es c ritas ou c os tumeiras,
que regula a forma do E s tado, a forma de s eu gov erno , o modo de aquisiç ão e o ex erc ício
do poder, o es tabelecimento de s eus órgãos , os limi tes de s ua aç ão, os direitos
fundamentais do homem e as res pectiv as garantias . E m s íntes e, a c onstituiç ão é o c onjunto
de normas que organiz a os elementos c onstitutivos do E stado." (S ILVA , 2001, p. 38)

A Cons tituiç ão Federal de 1988 [04] é a norm a fundamental do Direito P os itiv o Bras ileiro. Por
normaliz ar a democ rac ia e res tabelec er o E s tado S oc ial e Democ rátic o de Direito, a CF/88 é
diferente das c ons tituiç ões antec edentes. A CF/88 é organiz ada em nov e títulos :

" (1) dos princ ípios fundamentais ; (2) dos direitos e garantias fundamentais , s egundo u m a
pers pec tiv a moderna e abrangente dos direitos indiv iduais e c oletiv os , dos direitos s oc iais
dos trabalhadores , da nac ionalidade, dos direitos polític os e dos partidos polític os; (3) da
organiz aç ão do E s tado, em que es trutura a federaç ão c om s eus c omponentes ; (4) da
organiz aç ão dos poderes : P oder Legislativ o, Poder E x ec utiv o e P oder J udiciário, c om a
manutenç ão do s is t ema pres idencialista, s eguindo -s e um c apítulo s obre as funç ões
es s enc iais à J us tiç a, c om Minis tério P úblic o, A dv oc ac ia P úblic a (da União e dos E s tados ),
adv oc ac ia priv ada e defens oria públic a; (5) da defes a do E stado e das ins tituiç ões
democ rátic as , c om me c anis mos dos E stado de Defes a, E s tado de S ítio e da s eguranç a
públic a; (6) da tributaç ão e do orç amento; (7) da ordem ec onômic a e financ eira; (8) da
ordem s oc ial; (9) das dis pos iç ões gerais . Finalment e, o A to das Dis pos iç ões Trans itórias."
(S ILVA , 2001, p. 89 -90)

2.Importânc ia da Cons tituiç ão Federal de 1988 para o P rofis s ional

No intuito de s eguir as ordens da c oordenaç ão e a ementa des te c urs o, enfoc aremos os as pec tos
da CF/88 relac ionados aos direitos e garantias fundamentais (Título II ± Dos Direitos e das
Garantias Fundamentais , CF/88). A lguns podem s e per guntar: " O que a Cons tituiç ão tem a v er c o m
o meu c otidiano profis sional?" Tem tudo a v er. A CF/88 é a norma fundamental e s uprema do
E s tado B rasileiro. P ortanto, todas as leis e atos infra -legais lh e dev em s ubordinaç ão. Muito s e diz
s obre c ons titucionalidade ou inc ons tituc ionalidade de determinadas medidas . P ois bem, algo é
c ons titucional s e es tiv er s egundo a Cons tituição. É inc ons tituc ional, s e apres entar dis pos itiv o
c ontrário à Cons tituiç ão. A s sim, o é c om as Leis , c om os atos infra -legais (dec retos , portarias e
demais atos adminis trativ os, entre outros ) e c om as n ormas de c onduta impos tas pelas e mpres as
aos s eus func ionários .

O empregador tem poderes para dis c iplinar e gerir a empres a e as relaç õe s des ta c om os
empregados . P orém, es s es poderes s ão limitados . E não podem, de maneira alguma, c ontrariar
dis pos itiv os c ontidos na Cons tituiç ão e na legis laç ão [05], s eja ela administrativ a, trabalhista,
financ eira, tributária, penal, internacional, civ il, c omerc ial, ambiental, entre outras . Quer dizer,
mes mo s endo uma pes s oa de direito priv ado, a empres a não pode faz er o que quis er no s eu âmbito
interno, dev endo, inclus iv e, res peitar e implementar os Direitos Fundamentais , naquilo que lhe
c ouber, s egundo a Cons tituiç ão e as Leis . A liberdade, in c as u, é para agir s egundo o que ordenam
e o que permitem as Leis e a Cons tituiç ão, es ta a norma funda mental que c onfere v alidade e
norteia toda uma ordem jurídic a nac ional.

A s eguir, ex plic aremos melhor os Direitos Fundament ais e a s ua fundamentaç ão c ons tituc ional.

3.Direitos Fundamentais ou Direitos Humanos ?

Os Direitos do s er humano, por mais fundamentais que s ejam, s ão Direitos His tóric os , s egundo o
c ientista polític o e juris ta italiano Norberto B obbio. [06] De v ido à ampliaç ão dos Direitos
Fundamentais , no dec orrer da his tória, não é tarefa s imples des env olv er um c onc eito. De ac ordo
c om J os é A fons o da Silv a, há v árias ex pres s ões que, muitas v ez es s ão utiliz adas c omo s inônimos
de Direitos Fundamentais , c omo: " dir eitos naturais , direitos humanos , direitos do homem, direitos
indiv iduais , direitos públic os s ubjetiv os, liberdades fundamentais , liberdades públic as e direitos
fundamentais do home m." [07] S ão es s es direitos , garantidos c ons tituc ionalmente (alguns deles
c om regulamentaç ão infra -c ons titucional ± v ia Leis , dec retos , portarias , regimentos , res oluç ões ,
entre outros atos normativ os , tratados internac ionais , entre outros ), os que mais dev em s er
lev ados em c onta no c otidiano empres arial. Atenç ão. O mero atendimen to a es s es direitos não
ex ime a empres a, c ons iderada c omo o c onjunto de empregadores e empregados , de c umprir as
outras obrigaç ões e dev eres dec orrentes da ordem jurídic a nac ional.

Numa interpretaç ão de J os é Afons o da S ilv a, podemos diz er que Direitos Hum anos é a ex pres s ão
utiliz ada, c om relaç ão aos Direitos Fundamentais , no plano internac ional (doc umentos
internac ionais , princ ipalmente). Mas que raios são os Direitos Humanos ? Não é redundante diz er
Direitos Humanos , v isto que todos os direitos são r elativ os aos homens e mulheres ? Afinal, s ó o
homem pode s er titular de direitos e dev eres . Mas , c onforme alguns autores , já s e delineia um
c erto tipo de direito es pecial de proteç ão aos animais . [08]

4. As quatro geraç ões de Direitos Humanos

A ntes de falarmos es pec ific amente de Direitos Fundamentais , falemos dos ditos Direitos Humanos ,
que s ão div ididos em quatro geraç ões :

4.1. Direitos Humanos de P rimeira Geraç ão

Os Direitos Humanos de Primeira Geraç ão s ão ligados , principalmente, à Rev oluç ão A meric ana e à
Rev oluç ão Franc es a. Referem -s e bas ic amente ao direito de liberdade (de ir e v ir, de religião, de
ideologia, entre outros ), direito de igualdade, direito à vida e direito à s eguranç a. Outros c onflitos
importantes , nes s a pers pec tiv a, foram os c onflitos de rel igião. B obbio ex plic a:

" A inv ers ão de pers pec tiv a, que a partir de então s e torna irrev ers ív el, é prov oc ada no
iníc io da era moderna, princ ipalmente pelas guerras de religião, atrav és das quais s e v ai
afirmando o direito de resis tênc ia à opres s ão, o qual pres s upõe um direito ainda mais
s ubs tanc ial e originário, o direito do indiv íduo a não s er oprimido, ou s eja, a goz ar de
algumas liberdades fundamentais : fundamentais porque naturais e naturais porque c abem
ao home m enquanto tal e não dependem do be neplác i to do s oberano (entre as quais , em
primeiro lugar, a liberdade religios a). (...) a liberdade religios a é um efeito das guerras de
religião; as liberdades c ivis , da luta dos parlamentos c ontra os s oberanos abs olutos "
(B OBBIO, 1992, p. 4 -5, grifos nos s os )

A luta c ontra a opres s ão do poder traz ex plicitamente a noç ão de que o indiv íduo é invioláv el em
s ua dignidade. Is s o foi s e c ons olidando e s e dis s eminando mundialmente, até que es s as idéias
foram s is tematiz adas na " Dec laraç ão Univ ers al dos Direitos Humanos " . Dis põe s obre a liberdade
num âmbito negativ o, ou s eja, de não interferênc ia da autoridade es tatal s obre o indiv íduo.
S egundo alguns juristas c omo o profes s or Fernando Fernandes da S ilv a, doutor em Direito
Internac ional pela Univ ersidade de S ão P aulo (US P ), há direitos que s ão deriv ados dos Direitos
Humanos de P rimeira Geraç ão, c omo: o direito de for mar grupos (ou as s oc iar -s e ou reunir -s e),
direito ao v oto, direito de partic ipaç ão política e direito de propriedade priv ada. Os Direitos
Humanos de P rimeira G eraç ão teriam equiv alênc ia aos Direitos Fundamentais ins ertos na CF/88
nos dis pos itiv os referentes aos Direitos e Garantias Indiv iduais e Coletiv os .

4.2. Direitos Humanos de S egunda Geraç ão

Os Direitos Humanos de S egunda Geraç ão, também c onhec idos c omo D ireitos S ociais , tiv eram
origem no final do S éc ulo XIX e c omeç o do S éculo X X. P odemos diz er que o principal motiv o foi a
Rev oluç ão Indus trial, lev ando o c apitalis mo a um ní v el de des env olvimento jamais v isto outrora.
Nes s a époc a, houv e igualmente grande cr es c imento da c las s e trabalhadora, pois, c omo era de s e
es perar, os proprietários dos meios de produç ão eram a minoria, a burgues ia, s e utiliz armos uma
ac epç ão marx is ta. Naquela époc a, não hav ia res triç ão de idade para a atividade laboral, nem um
limite leg al para a jornada diária de trabalho. A partir do S éc ulo X X, os Es tados Nac ionais
pas s aram a interferir nas relaç ões s oc iais , regulamentando as ques tões trabalhis tas . A ntes , os
empregadores e os empregados eram liv res para es tipularem os termos da atividad e laboral.
P orém, o trabalhador s empre s aía em des v antagem, pois o empregador pos s uía maior poder d e
" c onv enc imento" . A luta nov amente s e fez pres ente:

" (...) a liberdade polític a e as liberdades s oc iais, do nas cimento, cres c imento e
amadurec imento do mov imento dos trabalhadores as s al ariados, dos c ampones es c om pouc a
ou nenhuma terra, dos pobres que ex igem dos poderes públic os não s ó o rec onhec imento
da liberdade pes s oal e das liberdades negativ as , mas também proteç ão do trabalho c ontra o
des emprego, os pr imeiros rudimentos de ins truç ão c ontra o analfabetis mo, depois a
as s is tênc ia para a inv alidez e a v elhic e, todas elas c arec imentos que os ric os proprietários
podiam s atis faz er por s i mes mos ." (B OBB IO, 1992, p. 5 -6, grifo nos s o)
Daí, a idéia de E s tado S ocia l e Democ rátic o de Direito. P or s oc ial, entende -s e o E s tado que
interv êm de forma pos itiv a (ou liberdade num âmbito pos itiv o) em prol das pes s oas ,
princ ipalmente as de menor poder aquisitiv o. Nes te rol de direitos , além dos direitos
trabalhistas , podemos t ambém inc luir o direito à s aúde e o direito à educ aç ão, por ex emplo.
Os Direitos Humanos de S egunda Geraç ão não pos s uem um equiv alente à Dec laraç ão
Univ ers al dos Direitos do Homem (dos Direitos Humanos de P rimeira Geraç ão), no plano
internac ional. Há, poré m, organis mos c omo a Organiz aç ão Internac ional do Trabalho (OIT)
que tem a pretens ão de elaborar normas e uniformiz ar a legislaç ão trabalhista, em termos
globais . No CF/88, os Direitos Humanos de S egunda Geraç ão, es tão ins ertos em s ua
maioria na parte que diz res peito aos Direitos S oc iais .

4.3. Direitos Humanos de Terc eira Geraç ão

Dentre os Direitos Humanos de Terc eira Geraç ão, " o mais importante deles é o reiv indic ado pelos
mov imentos ec ológic os : o direito de v iv er num ambiente não poluído" [09]. Um ex em plo de norm a
internac ional c orres pondente é o P rotoc olo de Quiot o. Na CF/88, os Direitos Humanos de Terc eira
Geraç ão es tão pres entes nos dis pos itiv os referentes ao Meio A mbiente. J os é Afons o da S ilv a, por
s ua v ez , entende que o Meio A mbiente es tá inc luído no rol dos Direitos S oc iais , c om s erá v is to
pos teriormente.

4.4. Direitos Humanos de Quarta Geraç ão

Os av anç os no c ampo c ientífic o e tec nológic a e a s ua relaç ão c om a " v ida" s ão princ ipal objeto dos
Direitos Humanos de Quarta Geraç ão. Nas palav ras de B ob bio, " referentes aos efeitos c ada v ez
mais traumátic os da pes quis a biológic a, que permiti rá manipulaç ões do patrimônio genétic o de
c ada indiv íduo" . O juris ta ainda lanç a uma pergunta no ar: " Quais s ão os limites des s a pos s ív el (e
c ada v ez mais c erta no fut uro) manipulaç ão?" [10]

5. Direitos Fundamentais

Na doutrina de J os é A fons o da S ilv a, Direitos Fundamentais s ão " s ituaç ões jurídic as , objetiv as e
s ubjetiv as, definidas no direito pos itiv o, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pes s oa
humana" [11 ]. Ou melhor diz endo: "S ão direitos c ons titucionais na medida em que s e ins erem no
tex to de uma c ons tituiç ão ou mes mo c ons tem de s impl es dec laraç ão s olenemente es tabelec ida
pelo poder c ons tituinte. S ão direitos que nas c em e s e fundamentam, portanto, da s ob eran ia
popular." [12] E is algumas c arac terís tic as dos Direitos Fundamentais:

" (1) His toric idade. S ão históric os c omo qualquer direito. Nas c em, modific am -s e e des aparec em.
(...);

(2) Inalienabilidade. S ão direitos intrans feríveis , inegoc iáv eis , porque não s ão de c onteúdo
ec onômic o patrimonial. S e a ordem c ons tituc ional os c onfere a todos , deles não s e p ode des faz er,
porque s ão indis ponív eis;

(3) Impres c ritibilidade. (...) V ale diz er, nunc a deix am de s er ex igív eis . P ois pres criç ão é um
ins tituto jurídic o q ue s omente atinge, c oarctando, a ex igibilidade dos direitos de c aráter
patrimonial, não a exigibilidade dos direitos personalís s imos , ainda que não indiv idualistas , c omo é
o c as o. (...);

(4) Irrenunciabilidade. Não s e renunc iam direitos f undamentais . A lgu ns deles podem até não s er
ex erc idos , pode -s e deix ar de ex erc ê -los , mas não s e admite que s ejam renunc iados ." (SILVA ,
2000, p. 185, grifos nos s os)
A CF/88 clas s ific a dos Direitos Fundamentais [13] em c inc o grupos :

5.1. Direitos Individuais

Direitos Indiv iduais (art. 5.º, CF/88) ± " direitos fundamentais do ho mem -indiv íduo, que s ão aquel es
que rec onhec em autonomia aos partic ulares , garantindo iniciativ a e independênc ia aos indiv íduos
diante dos demais membros da s oc iedade política e do próprio E s tado" ; [14]

5.2. Direitos Coletiv os

Direitos Coletiv os (art. 5.º, CF/88) ± " direitos fundamentais do homem -me mbro de um a
c oletividade, que a Cons tituiç ão adotou c omo direit os -c oletiv os" ; [15]

5.3. Direitos S ociais

Direitos S ociais (art. 6.º e 193 e s s, CF/88) ± " direitos fundamentais do homem -s oc ial, que
c ons tituem os direitos as s egurados ao homem em s uas relaç ões s ociais e c ulturais" ; [16]

5.4. Direito à Nac ionalidade

Direitos à Nac ionalidade (art. 12, CF/88) ± " s ão direitos fundamentais do home m -nac ional, que s ão
os que têm por c onteúdo e objeto a definiç ão de nac ionalidade e s uas fac uldades " ; [17]
5.5. Direitos P olític os

Direitos P olític os (arts . 14 a 17, CF/88) ± " direitos fundamentais do homem -c idadão, que s ão os
direitos polític os , c hamados também direito s democ r átic os ou direitos de participaç ão política" ;
[18]

Todas es s as c ategorias de Direitos Fundamentais c ompõem um todo harmônic o e não c ontraditório


entre s i, que s e influenciam rec iproc amente. Afinal , es s es direitos , s egundo J os é A fons o da Silva,
es tão c ontaminados de dimens ão s oc ial:

" Com is s o, trans ita -s e de uma democ rac ia de c onteúdo bas ic amente polític o -formal para uma
democ rac ia de c onteúdo s oc ial, s e não de tendênc ia s oc ializ ante. Quanto mais precis os e efic azes
s e tornem os direitos ec onômi c os , s oc iais e c ulturais , mais s e inc lina do liberalis mo para o
s oc ialis mo. Transforma -s e a pauta de v alores : o liberalis mo ex alta a liberdade indiv idual,
formalmente rec onhec ida, mas , em v erdade auferida por um pequeno grupo dominante; o
s oc ialis mo realç a a igualdade material de todos c omo a únic a bas e s ólida em que o efetiv o e geral
goz o dos direitos individuais de liberdade enc ontra res paldo s eguro. A antítes e inic ial entre
direitos indiv iduais e direitos s ociais tende a resolv er -s e numa s íntes e de autên tic a garantia para a
democ rac ia, na medida em que os últimos forem enriquec endo -s e de c onteúdo e efic ác ia." (S ILVA ,
2001, p. 188, grifos nos s os)
P ara fins des te c urs o, não v ers aremos s obre todos os Direitos Fundamentais , por problemas
óbv ios de pouc o tempo para demas iado c onteúdo. E ntão, des c artamos de plano do c onteúdo
programátic o os " Direitos P olític os " da nos s a agenda ac adêmic a, para nos fix armos nos tópic os
mais importantes dos Direitos Fundamentais e sua c orrelaç ão c om a deontologia profis s ional e os
Códigos de Étic a E mpres arial.

6. Direitos Individuais

Rec apitulando. Os Direitos Individuais s ão os " Direitos Fundamentais do homem -indiv íduo, que s ão
aqueles que rec onhec em a autono mia aos partic ulares , garantindo a inic iativ a e independênc ia aos
indiv í duos diante dos demais membros da s oc iedade polític a e do próprio E s tado." [19] Quem s ão
s eus des tinatários ? O artigo 5.º, " c aput" , da CF/88, diz : " Todos s ão iguais perante a Lei, s em
dis tinç ão de qualquer naturez a, garantindo -s e aos bras ileiros e aos estr angeiros res identes no
B rasil a inviolabilidade do direito à vida, à liber dade, à igualdade, à s eguranç a, à propriedade (...) "

E s s es direitos arrolados no artigo 5.º s ão as s egurados tanto para pes s oas fís ic as quanto pes s oas
jurídic as . O mes mo s e dá para o s brasileiros , é c laro, e os es trangeiros res identes no Brasil.
Contudo, is s o não s ignific a que os es trangeiros não res identes não tenham s eus direitos
amparados . J os é Afons o da Silv a ex plic a: " Is s o não quer diz er que os es trangeiros não res identes ,
quando regularmente s e enc ontrem no território nac ional, pos s am s ofrer o arbítrio, e não
dis ponham de qualquer meio, inc luindo os jurisdic ionais, para tutelar s ituaç ões s ubjetiv as . P ara
protegê -los, há outras normas legais, traduz idas em legislaç ão es pecial, que definem os direitos e
a c ondiç ão jurídic a do es trangeiro não res idente, que tenha ingres s ado regularmente no território
bras ileiro." [20]

O fes tejado c ons tituc ionalis ta dis tingue três grupos de Direitos Indiv iduais: "(1) Direitos Indiv iduais
ex pres s os , a queles ex plic itamente enunc iados nos inc is os do art. 5.º; (2) Direitos Individuais
implíc itos , aqueles que es tão s ubtendidos nas regras de garantia, c omo o direito à identidade
pes s oal, c ertos des dobramentos do direito à v ida, o direito à atuaç ão geral (ar t. 5.º, II); (3)
Direitos individuais dec orrentes do regime e de tratados internacionais s ubs critos pelo B rasil,
aqueles que não s ão ne m ex plíc ita nem implic itament e numerados , mas prov êm ou pode m v ir e
prov ir do regime adotado, c omo o Direito de Res is tênc ia, entre outros de difíc il c arac teriz aç ão a
priori" [21]

Os Direitos Individuais podem s er des dobrados em c i nc o grandes grupos:

6.1. Direito à V ida

Direito à Vida ± "A v ida humana, que é o obje to de es tudo do direito as s egurando no art. 5.º,
c aput, int egra -s e de elementos materiais (fís ic os e ps íquic os ) e imateriais (es pirituais). A vida é
intimidade c onos c o mes mo, s aber -s e e dar-s e c onta de s i mes mo, um as s istir a si mes mo e um
tomar pos iç ão de s i mes mo. P or is s o é que ela c ons t itui a fonte primária de todos os outros bens
jurídic os ." [22] P or s ua v ez o Direito à Vida tem s uas v ariantes:

6.1.1. Direito à E x is tênc ia ± " Direito de es tar v iv o, de lutar pelo v iv er, de defender a própria
ex is tênc ia" . [23]

6.1.2. Direito à Integridade Fís ic a ± " A gredir o c orpo humano é um modo de agredir a v ida, po is
es ta s e realiz a nele. A integridade fís ic o -c orporal c ons titui, por is s o, um bem v ital e rev ela um
direito fundamental do indiv íduo." [24] Nes te c as o, a CF/88 ex plic itou algumas proibiç ões c omo a
v edaç ão à pena de morte (art. 5.º, X LV II, " a" , CF/88), à c omerc ializ aç ão de órgãos , tec idos e
s ubs tânc ias humanas (art. 199, § 4.º, CF/88), à tor tura ou tratamento des umano ou degradante
(art. 5.º, III).

6.1.3. Direito à Integridade Moral ± "A v ida humana não é apenas um c onjunto de elementos
materiais . Integram -na, outros s im, v alores imateriais, c omo os morais . A Cons tituiç ão empres ta
muita importância à moral c omo v alor étic o -s ocial da pes s oa e da família, que s e impõe ao res peito
dos meios de c omunic aç ã o s oc ial (art. 221, IV, CF/88). E la, mais que as outras, realç ou o v alor da
moral individual, tornando -a mes mo um bem indeniz áv el (art. 5.º V e X, CF/88). A moral individual
s intetiz a a honra da pes s oa, o bo m n ome, a bo a fama, a reputaç ão que integram a v i da hu ma na
c omo dimens ão material." [25]

6.2 Direito à Intimidade

Direito à Intimidade ± O artigo 5.º, X, da CF/88, dis põe que " s ão invioláv eis a intimidade, a v ida
priv ada, a honra e a imagem das pes s oas , as s egurado o direito à indeniz aç ão pelo dano mate rial
ou moral dec orrente de s ua v iolaç ão" . " E s s a v iolaç ão, em algumas hipótes es , já c ons titui ilícito
penal. Além dis s o, a Cons tituiç ão foi ex plíc ita em as s egurar, ao les ado, direito à indeniz aç ão por
dano material ou moral dec orrente da v iolaç ão da intimi dade, da v ida priv ada, da honra e da
imagem das pes s oas , em s uma do direito à priv ac idade." [26] Temos , então, dois elementos
dis tintos : a intimidade " esfera s ec reta da v ida do indiv íduo na qual es te tem o poder legal de ev itar
os demais " [27] e a vida pri v ada " a v ida interior, que s e debruç a s obre a mes ma pes s oa, s obre os
membros de s ua família, s obre s eus amigos ". [28]

6.2.1. Com relaç ão à intimidade , podemos diz er que es s e direito protege a inv iolabilidade do
domic ílio (art. 5.º, XI), o sigilo de c orres pondênc ia (art. 5.º XII, CF/88) e o s egredo profis sional.

6.2.2. J á c om relaç ão à vida priv ada , a Cons tituiç ão v is a proteger o s egredo da v ida priv ada e a
liberdade da v ida priv ada. " O s egredo da v ida priv ada é c ondiç ão de ex pans ão da pers onalidade. "
[29] Nes s e s entido também s ão inv ioláv eis , por forç a do artigo 5.º, X, da CF/88, a honra (" c onjunto
de qualidades que c arac teriz am a dignidade da pes s oa, o res peito dos c onc idadãos , o bo m no m e,
a reputaç ão" [30]) e a imagem (" tutela do as pec to f ísic o, c o mo é perc eptív el v isiv elmente" [31])
das pes s oas .
6.3. Direito de Igualdade

Direito de Igualdade ± Todos s ão iguais perante a Lei (is onomia formal). Trata -s e de uma
igualdade de equiparaç ão de todos c o m relaç ão a atr ibuiç ão de direitos e dev eres . À s v eze s ,
c ontudo, é nec es s ário tratar des igualmente os des iguais , para não inc orrer em injus tiç a. Nes s e
as pec to, a igualdade é c hamada de is onomia material.

6.3.1. Igualdade entre homens e mulheres ± Diz o ar tigo 5.º, I, da CF/88, " homens e mulheres s ão
iguais em direitos e obrigaç ões , nos termos des ta Cons tituiç ão" . Qualquer ato, ou dis posiç ão, em
c ontrário ofende a Cons tituiç ão. Contudo, há de s e ponderar que, às v ez es, há tratamento
diferenc iado à mulher em virtude da s ua c ondiç ão fí sic a (apos entadoria cinc o anos antes do limite
impos to aos homens ) e progenitora (lic enç a -maternidade, etc ).

6.3.2. Igualdade da J us tiç a ± "(1) interdiç ão ao juiz de faz er dis tinç ão entre s ituaç ões iguais , ao
aplic ar a Lei; (2) c omo interdiç ão ao legis lador de editar leis que pos s ibilitem o tratamento
des igual a situaç ões iguais ou tratamento igual a s ituaç ões desiguais por parte da J ustiç a." [32]

6.3.3. Igualdade tributária ± " Relaciona -s e c om a jus tiç a distributiv a em matéria fis c al. Diz res peito
à repartiç ão do ônus fis c al do m odo mais jus to pos s ív el. Fora dis s o, a igualdade s erá puramente
formal. (...) A gradaç ão, s egundo a c apac idade ec onômic a e pers onaliz aç ão do impos to, permi te
agrupar os c ontribuintes em c las s es s oc iais , e, dentro de c ada u ma, que c ons tituem s ituaç ões
equiv alentes , atua o princípio da igualdade." [33]

6.3.4. Igualdade perante a Lei P enal ± "(...) A mes ma Lei P enal e s eus s is temas de s anç ões há de
s e aplic ar a todos quantos pratiquem o fato típico nela definido c omo crime." [34]

6.3.5. Igualdade s em dis tinç ão de qualquer naturez a ± A CF/88 es tá a " promov er o bem de todo s ,
s em prec onc eitos de origem, raç a, s ex o, c or, idade e quais quer outras formas de dis c riminação.
P roíbe -s e também diferenç a de s alários , de exerc íc io de funç ões e de critério de admis s ão por
motiv o de s ex o, idade, c or, es tado civ il ou pos s e de deficiênc ia (art. 7.º, XXX e XXX I, CF/88)" [35].

6.3.6. Igualdade s em distinç ão de s ex o e de orientaç ão s ex ual.

6.3.7. Igualdade s em dis tinç ão de origem, c or e raç a ± O tópic o por s i s ó é auto -ev idente .
E x plic itemos brev emente alguns c onc eitos. " O rac is mo indic a teorias e c omportamentos des tinados
a realiz ar e jus tific ar a s upremac ia de uma raç a. O prec onc eito e a dis c riminaç ão são
c ons eqüênc ias des s a teoria. A c or s ó não era elemento bas tante, porque d irigida à c or negra. Nem
raç a, nem c or abrangem c ertas formas de dis c riminaç ões de nordes tinos e de pes s oas de origem
s oc ial humilde." [36]

6.3.8. Igualdade s em distinç ão de idade.

6.3.9. Igualdade s em dis tinç ão de trabalho ± Liberdade de ex erc íc io de qu alquer trabalho, ofício ou
profis s ão (art. 5.º, X III, CF/88) e v edaç ão da dis tinç ão entre trabalho manual, téc nic o e intelec tual
ou entre os profis s ionais res pec tiv os (art. 7.º, XXX II, CF/88).

6.3.10. Igualdade s em distinç ão de c redo religioso (art. 5.º V I, CF/88).

6.3.11. Igualdade s em distinç ão de c onv ic ç ões filos ófic as ou polític as .


6.4. Direito de Liberdade

Direito de Liberdade ± " O Conc eito de liberdade humana dev e s er ex pres s o no s entido de um poder
de atuaç ão do homem em bus c a de s ua realiz aç ão pes s oal. (...) liberdade c ons iste na
pos s ibilidade de c oordenaç ão c ons c iente dos meios nec es s ários à realiz aç ão da felic idade
pes s oal." [37] De ac ordo c om a doutrina de J os é A fons o da Silv a, a CF/88 c ontempla c inc o grandes
grupos de liberdades , a s aber:

6 .4.1. Liberdade da P es s oa Fís ic a ± Trata -s e da primeira forma de liberdade, " é a pos s ibilidade
jurídic a que s e rec onhec e a todas as pes s oas de s er em s enhoras de s ua própria v ontade e de s e
loc omov erem des embaraç adamente dentro do território nacional" . [38] A qui, temos duas v ariantes ,
a liberdade de loc omoç ão e a liberdade de circ ulaç ão.

6.4.1.1 Liberdade de Loc omoç ão (art. 5.º, XV , CF/88) ± E x plic ita duas s ituaç ões, em c as os de
normalidade: " uma é a liberdade de loc omoç ão no ter ritório nac ional; a outra é a liberdade de a
pes s oa entrar no território nac ional, nele permanec er e dele s air c om s eus bens ." [39]

6.4.1.2. Liberdade de Circ ulaç ão ± " Direito à c irc ulaç ão é manifes taç ão c arac terístic a da liberdade
de loc omoç ão: direito de ir, v ir, fic ar, parar, es t ac ionar. O Direito de Circ ulaç ão (ou Liberdade de
Circ ulaç ão) c ons is te na fac uldade de des loc ar -se de um ponto a outro atrav és de uma v ia públic a
ou afetada ao us o públic o." [40]

6.4.2. Liberdade de P ens amento ± " Trata -s e da liber dade de c onteúdo intelec t ual e s upõe o
c ontato do indivíduo c om s eus s emelhantes, pela qual o homem tenda, por ex emplo, a partic ipar a
outros s uas c renç as, s eus c onhecimentos , s ua c onc epç ão do mundo, s uas opiniões polític as ou
religios as , s eus trabalhos c ientífic os . (...) Nes ses , termos , ela s e c aracteriz a c omo ex terioriz ação
do pens amento no s eu s entido mais abrangente." [41] P odem s er:

6.4.2.1. Liberdade de Opinião ± " Trata -s e da liberdade de o indiv íduo adotar a atitude intelec tual
de s ua es c olha: quer um pens ame nto íntimo, que r s ej a a tomada de pos iç ão públic a; liberdade de
pens ar e diz er o que s e crê v erdadeiro." [42] Um dos s eus as pec tos externos é a liberdade de
manifes taç ão do pens amento, as sim c omo o direito de não s e manifes tar.

6.4.2.2. Liberdade de Religios a ± A brange três formas de ex pres s ão: a -) liberdade de c renç a (ar t.
5.º, V I, CF/88), b -) liberdade de c ulto (art 5.º, VI, CF/88) e c -) liberdade de organiz aç ão religios a.

6.4.2.3. Liberdade de Informaç ão e Comunic ação ± "A liberdade de c omunic aç ão c onsis te num
c onjun to de direitos , formas , proc es s os e v eíc ulos , que pos s ibilitam a c oordenaç ão des embaraç ad a
da c riaç ão, ex pres s ão e difus ão do pens amento e da informaç ão (art. 5.º, IV , V , IX, X II e X IV , c/c
art. 220 a 224, CF/88)." [43] P or s ua v ez , a liberdade de informaç ão é a liberdade de informar e de
s er informado: " a liberdade de informaç ão c ompreende a proc ura, o ac es s o, o rec ebimento e a
difus ão de informaç ões ou idéias, por qualquer meio, e s em dependênc ia de c ens ura, res pondendo
c ada qual pelos abus os que c ometer. " [44] Nes s a c at egoria, s e enquadra a liberdade de
informaç ão jornalístic a, por ex emplo.

6.4.2.4. Liberdade de E x pres s ão Intelectual, A rtís tic a e Científic a ± E s s as liberdades es tão


prev is tas e as s eguradas pelo artigo 5.º, IX , da CF/88. Goz am de a mpla lib erdade, des de que não
c ontrariem a Lei, e não pas s em por c ima da ques tão pertinente aos Direitos A utorais e de
P ropriedade Intelec tual, por ex emplo.

6.4.2.5. Liberdade de E x pres s ão Cultural ± P res entes princ ipalmente nos artigos 215 e 216 da
CF/88. " Aí, s e manifes ta a mais aberta liberdade c ultural, s em c ens ura, s em limites : uma v iv ênc ia
plena dos v alores do es pírito humano em s ua p rojeç ão c riativ a, em s ua produç ão de objetos que
rev elem o s entido des s as projeç ões da vida do ser humano." [45]

6.4.2.6. Lib erdade de Trans mis s ão e R ec epç ão do Conhec imento ± V erific ar o artigo 206, II e III,
da CF/88. " Trata -s e do rec onhec imento de liberdade de uma c las s e de es pec ialistas na
c omunic aç ão do c onhec imento, que s ão os profes s ores . (...) s e dirige a qualquer ex erc e nte de
funç ão de magis tério, a profes s ores de qualquer grau, dando -s e liberdade de ens inar, e mais ainda
porque também abrange a outra fac e da trans mis s ão do c onhec imento, o outro lado da liberdade
de ens inar ou s eja, a liberdade de aprender, as s im, c omo a liberdade de pes quis ar (modo de
aquis iç ão do c onhecimento)." [46]

6.4.3. Liberdade de E x pres s ão Coletiv a ± De reunião e as s oc iaç ão. De c erta forma, es s es direitos
s ão auto -ev identes , o que nos permite c itá -los somente " an pas s and" , já que os v eremos no tópic o
s eguinte " 7. Direitos Coletiv os ".

6.4.4. Liberdade de A ç ão P rofis s ional ± " O dis pos it iv o c onfere liberdade de es c olha de trabalho, de
ofíc io e de profis s ão, de ac ordo c om as propensões de c ada pes s oa e na medida e m que a s orte e
o es forç o próprio p os s am romper as barreiras que s e antepõem à maioria do pov o. Confer e,
igualmente, a liberdade para de ex erc er o que fora es c olhido, no s entido apenas de que o P oder
P úblic o não pode c onstranger a es c olher e a ex erc er outro." [47]

6.5. Direito de P ropriedade

Direito de Propriedade ± O artigo 5.º, XX II, da CF/88, diz que " é garantido o direito de
propriedade" , e que a " propriedade atenderá a sua funç ão s oc ial" (art. 5.º, X III, CF/88). O Direito
de P ropriedade, portanto, não é abs oluto, pois , quando nec es s ário, há de s e c eder ao interess e
públic o. E x emplos típic os s ão a des apropriaç ão de propriedades que não c umprem s ua função
s oc ial (art. 182, § 4.º, e 184, CF/88). Há v ários tipos de propriedade:

6.5.1. P ropriedade P úblic a ± "É a que tem c omo titul ar entidades de Direito P úblic o: União,
E s tados , Dis trito Federal e Munic ípios ." [48]

6.5.2. P ropriedades E s pec iais ± A propriedade de rec urs os minerais (art. 176, CF/88), a
propriedade urbana e a propriedade rural (art. 182. § 2.º, e 184, CF/88) e a prop riedade de
empres a jornalís tic a e de radiodifus ão s onora e de s ons e imag ens (art. 222, CF/88) não es tão
dis pos tas no título referentes aos Direitos Fundamentais da Magna Carta, s endo inclus os ,
res pec tiv amente, nos tópic os c onc ernentes à ordem ec onômic a e à c omunic aç ão s oc ial.

6.5.3. P ropriedade A utoral ± " O art. 5.º, XXV II, que as s egura o Direito A utoral, c ontém duas
normas bem dis tintas . A primeira e princ ipal confer e aos autores o direito ex clus iv o de utilizar,
public ar e reproduzir s uas obras , s em es pe c ific ar ( ...), mas , c ompreendido em c onex ão c om o
dis pos to no inc is o IX do mes mo artigo, c onclui -se que s ão obras literárias, artístic as , c ientífic as e
de c omunic aç ão. E nfim, aí s e as s eguram os Direitos do A utor de obra intelectual e c ultural,
rec onhec endo -lhe, v italiciamente, o c hamado direito de propriedade intelec tual, que c ompreende
Direitos Morais e P atrimoniais . A s egunda norma dec lara que es s e direito é trans mis s ív el aos
herdeiros pelo tempo que a Lei fix ar. (...) S ão Dir eitos Morais do A utor: (a) o de reiv indic ar, a
qualquer tempo, a paternidade da obra; (b) o de ter s eu nome, ps eudônimo ou s inal c onv encional
indic ado ou anunc iado, c omo s endo o do autor, na ut iliz aç ão de s ua obra; (c ) o de c ons erv á -la
inédita; (d) o de as s egurar -lhe a integridade, op ondo -s e a quais quer modific aç ões , ou à prátic a de
atos que, de qualquer forma, pos s am prejudic á -la, ou atingi -lo, antes ou depois de utiliz ada; (f) o
de retirá -la de circ ulaç ão, ou de lhe s us pender qualquer forma de utiliz aç ão já autoriz ada, quando
a c irc ulaç ão ou utiliz aç ão implic arem afronta à s ua reputaç ão e imagem; (g) o de ter ac es s o a
ex emplar únic o e raro da obra, quando s e enc ontre legitimamente em pode de outrem, para o fim
de, por meio de proc es s o fotográfic o ou as s eme lhado, ou audiov is ual, pres er v ar s ua memória, de
forma que c aus e o menor inc onv eniente pos s ív el a s eu detentor, que em todo c as o, s erá
indeniz ado de qualquer dano ou prejuíz o que lhe s ej a c aus a. (...) Os Direitos P atrimoniais do A utor
c ompreendem as fac uldades de utiliz ar, fruir e dis por de s ua obra, bem c o mo de autoriz ar s ua
utiliz aç ão ou fruiç ão por terc eiros no todo ou em parte. E s s es direitos s ão alienáv eis por ele ou por
s eus s uc es s ores . O Direito Hereditário de Propriedade Intelectual c abe aos herdeiros ,
des c endentes , c ônjuges e c olaterais, de ac ordo c om ordem de v oc aç ão hereditária estabelecida na
lei civ il, mas também s e defere aos herdeiros testamentários ." [49]

6.5.4. P ropriedade de Inv entos , de Marc as e Indús tr ias e de Nome de E mpres as [50] ± O artigo 5.º,
XX IX , da CF/88, di s põe: " a Lei as s egurará aos autor es de inv entos indus triais priv ilégio temporário
para s ua utiliz aç ão, bem c omo proteç ão às c riaç ões indus triais , à propriedade das marc as , aos
nomes de empres as e a outros s ignos dis tintiv os , tendo em v is ta o interes s e s oc i al e o
des env olv imento tec nológic o e ec onômic o do P aís ."

6.5.5. P ropriedade B em de Família ± Prev ista no Código Civ il: "A rt. 1.711. P odem os c ônjuges , ou
a entidade familiar, mediante es c ritura públic a ou tes tamento, des tinar parte de s eu patrimônio
para ins tituir bem de família, des de que não ultrapas s e um terç o do patrimônio líquido ex is tente ao
tempo da ins tituiç ão, mantidas as regras s obre a impenhorabilidade do imóv el residenc ial
es tabelec ida em lei es pecial. Art. 1.715. O bem de família é is ento de e x ec uç ão por dív idas
pos teriores à s ua ins tituiç ão, s alv o as que prov ier em de tributos relativ os ao prédio, ou de
des pes as de c ondomínio"

7. Direitos Coletiv os

O c ons tituc ionalis ta J os é Afons o da S ilv a des tac a os Direitos Coletiv os c omo os que diz em
res pe ito às " liberdades de ex pres s ão c oletiv a, como as de reunião e de as s oc iaç ão" . [51] Muitos
des s es Direitos Coletiv os , ou de ex pres s ão coletiv a, foram ins eridos no c apítulo " Direitos e
dev eres individuais e c oletiv os" , da CF/88, outros , c omo os " direitos de organiz aç ão s indic al e de
grev e foram inc luídos no c apítulo dos direitos s oc i ais ". [52] A res peito do meio ambiente,
identidade his tóric a e c ultural, há dis pos itiv os pertinentes no título da Ordem S oc ial, da CF/88. E is
alguns tipos de Direitos Coletiv os :

7.1. Direito à Informaç ão

Direito à Informaç ão ± " No c apítulo da Comu nic aç ão (arts . 220 a 224, CF/88), preordena a
liberdade de informar c ompletada c om a liberdade de manifes taç ão do pens amento (art. 5.º, IV).
No mes mo art. 5.º, XIV e X XXIII, já temos a dimens ão c oletiv a do Direito à Informaç ão. O primeiro
dec lara as s egurado a todos o ac es s o à informaç ão. ( ...) Outro dis pos itiv o trata de direito à
informaç ão mais es pecífic o, quando estatui que todos têm direito a rec eber dos órgãos públicos
informaç ões de interes s e partic ular, c oletiv o ou geral, que s erão pres tadas no praz o da Lei, sob
pena de res pons abilidade, res s alv adas aquelas c ujo s igilo s eja impres c indív el à s eguranç a da
s oc iedade e do E s tado." [53]

7.2. Direito de Repres entaç ão Coletiv a

Direito de Repres entaç ão Coletiv a ± " (...) a Cons tituiç ão já previu c as os de repres entaç ão c oletiv a
de interes s es c oletiv os ou mes mo indiv iduais integr ados numa c oletiv idade. É as s im que s e
es tabelec e que as entidades as s oc iativ as , quando ex pres s amente autoriz adas ( c ertamente em
s eus es tatutos), têm legitimidade para repres entar s eus filiados em juíz o ou fora dele (art. 5.º, XX I,
CF/88), legitimidade es s a também rec onhec id a aos s i ndic atos em termos até mais amplos e
prec is os , in v erbis: ao sindic ato c abe a defes a dos direitos e interes s es c oletiv os ou individuais da
c ategoria, inclus iv e em questões judic iais ou adminis trativ as (art. 8.º, III)." [54]
7.3. Direito de P artic ipaç ão

Direito de P artic ipaç ão ± De um lado há a partic ipaç ão direta dos c idadãos no proc es s o polític o e
dec is ório (art. 14. I, e II, art, 29, X III, e 61, §2.º, CF/88), de outro do de participaç ão orgânica,
ex pres s a muitas v ez es c omo partic ipaç ão c orporativ a (art s . 10 e 11, CF/88) e não c orporativ a ±
direito de partic ipaç ão da c omunidade -, " es pec ialmente de trabalhadores , empres ários e
apos entados , na ges tão da s eguridade s ocial (art. 194, V II, CF/88), c omo a participaç ão da
c omunidade nas aç ões e s erviç os públic os de s aúde ( art. 198, III, CF/88)." [55]

7.4. Direito dos Cons umidores

Direito dos Cons umidores ± O artigo 5.º, XXX II, CF/88, dis põe: " o E stado prov erá, na forma da Lei,
a defes a do Cons umidor" . P or s ua v ez, o artigo 170, V, inclui a defes a do c ons umido r à c ondiç ão
de princ ípio da Ordem E c onômic a. [56] A s principais normas s obre es s e as s unto es tão na Lei n .º
8.078/90, o Código de Defes a do Cons umidor.

7.5. Liberdade de Reunião

Liberdade de Reunião ± B as ta ler o artigo 5.º, XV I, CF/88: " todos podem reun ir-s e pac ific amente,
s em armas , em loc ais abertos ao públic o, independentemente de autoriz aç ão, ex igív el prévio av iso
à autoridade e des de que não frus trem outra reunião anteriormente c onv oc ada para o mes m o
loc al." Além dos agrupamentos mo mentâneos v i s ando um objetiv o c omum, o c onc eito de reunião
inc luem também as pas s eatas e as manifestaç ões nos logradouros públic os .

7.6. Liberdade de A s s oc iaç ão

Liberdade de A s s oc iaç ão ± Tem fundamento no artigo 5.º, inc is o XV II a XX I, que s egundo J os é


A fons o da Silv a, " s e estatui que é plena a liberdade de as s oc iaç ão para fins pac ífic os, v edada a de
c aráter paramilitar, que a c riaç ão de as s oc iaç ões e, na forma da lei, a de c ooperativ as independe
de autoriz aç ão, v edada a interferênc ia es tatal em s eu func ionamento, que as as s oc iaç ões s ó
poderão s er c ompuls oriamente dis s olv idas ou ter s uas ativ idades s us pens as por dec is ão judic ial,
ex igindo -s e no primeiro c as o, o trâns ito em julgado, que ninguém poderá s er c ompelido a as s oc ia r -
s e ou a p ermanec er as s oc iado, e que as entidades as s oc iativ as , quando ex pres s amente
autoriz adas , têm a legitimidade para repres entar s eus filiados em juíz o e fora dele (...)" [57]

8. Direitos S ociais

E nquanto os Direitos Individuais, e de c erta forma os Direitos Coletiv os , ambos da CF/88,


c orres pondem aos Direitos Humanos de P rimeira Geraç ão, pode mos as s oc iar os Direitos S ociais
da CF/88 c om os Direitos Humanos de S egunda Geraç ão. A queles eram primordialmente ligados à
um s entido de pres taç ão negativ a do E stado, ou s eja de não interferênc ia da autorida de c om
relaç ão ao indiv íduo. J á os Direitos S ociais " s ão pres taç ões pos itiv as proporcionadas pelo E s tado
direta ou indiretamente, enunc iadas em normas c ons t ituc ionais , que pos s ibilitam melhores
c ondiç ões de v ida aos mais frac os , direitos que tendem a reali z ar a igualiz aç ão de s ituaç ões
s oc iais desiguais" . [58]

Ora, pois . S e os Direitos Individuais e Coletiv os s ão vis tos s ob o pris ma da liberdade,


princ ipalmente, os Direitos S oc iais s ão dec larados e c onc ebidos s ob o pris ma da igualdade. De
ac ordo c om J os é A fons o da S ilv a, a CF/88, do artigo 6.º ao 11, enumerou os Direitos S oc iais em
s eis c las s es : a -) Direitos S ociais Relativ os ao Trabalhador; b -) Direitos S oc iais Relativ os à
S eguridade (englobando Direitos à S aúde, à Prev idênc ia e A s sis tência S ocial); c -) Direitos S oc iais
Relativ os à E duc aç ão e à Cultura; d -) Direitos S oc iais Relativ os à Moradia; e -) Direitos S oc iais
Relativ os à Família, Crianç a, A doles c ente e Idoso; f -) Direitos S oc iais Relativ os ao Meio A mbiente.
[59]

J os é A fons o da Silv a diz que os Direit os S oc iais também pode m s er c las s ific ados em dois grandes
grupos : a -) Direitos S ociais do Homem P rodutor; b -) Direitos S ociais do Homem Cons umidor:

" E ntram na c ategoria de Direitos S oc iais do Homem P rodutor os s eguintes: a liberdade de


ins tituiç ão sindic a l (ins trumento de aç ão c oletiva) , o direito de grev e, o direito de o trabalhador
determinar as c ondiç ões de s eu trabalho (c ontrato c oletiv o de trabalho), o direito de c ooperar na
ges tão da empres a (c o -ges tão ou autoges tão) e o dir eito de obter um emprego. S ão os prev is tos
nos arts . 7.º e 11.

Na c ategoria dos Direitos S oc iais do Homem Co ns umidor entram: os direitos à s aúde, à s eguranç a
s oc ial (s eguranç a material), ao des env olv imento int electual, o igual ac es s o das c rianç as e adultos
à ins truç ão, à formaç ão profis sional e à c ultura e garantia ao des env olvimento da família, que são,
c omo s e nota, os indic ados no art. 6.º e des env olv i dos no título da Ordem S oc ial." (S ILVA , 2001, p.
290)

8.1 Direitos S ociais do Homem P rodutor

E nc araremos os Direitos S ociais Re lativ os aos Trabalhadores [60] c omo Direitos S oc iais do
Homem P rodutor. Nes te ponto, J os é Afons o da S ilv a, div ide es s es direitos em duas ordens . Uma
es tá enumerada no artigo 7.º, da CF/88, e v ers a s obre os direitos dos trabalhadores em s uas
relaç ões indiv i duais de trabalho. A s egunda tem fundamento c ons titucional dos artigos 9º a 11, que
c ontemplam os direitos c oletiv os dos trabalhadores .

8.1.1 Direitos dos Trabalhadores

Como es te tex to não é um tratado de Direito do Trabalho, nem te m tal pretens ão, res olv emos
s imples mente ex por os dis pos itiv os c onstitucionais , para fins de c onhecimento, pois s uas
finalidades , em muitos c as os , s ão auto -ev identes . A brangem direitos s obre as c ondiç ões de
trabalho, direitos relativ os aos s alários (s alário mínimo, art. 7. º, IV , CF/88; adicional noturno, art.
7.º, IX , CF/88; 13.º s alário, entre outros ) direitos relativ os ao repous o e à inativ idade do
trabalhador (art. 7.º, X V, X VII, XIX e XX IV , CF/88), proteç ão dos trabalhadores (vide Fundo de
Garantia por Tempo de S erv iç o ± FGTS, por ex emplo, art. 10, I, do Ato das Dis pos iç ões
Cons tituc ionais Trans itórias, da CF/88; s eguro des emprego, art. 239, CF/88), direitos relativ os aos
dependentes do trabalhador e participaç ão nos luc ros e c o -gestão. A maioria dos Direitos dos
Trabalh adores , urbanos e rurais , es tá elenc ada nos inc is os do artigo 7.º da CF/88:

" I - relaç ão de emprego protegida c ontra des pedida arbitrária ou s em justa c aus a, nos termos de
lei c omplementar, que prev erá indeniz aç ão c ompens at ória, dentre outros direitos ;

II - s eguro -des emprego, em c as o de des emprego inv oluntário;

III - fundo de garantia do tempo de s erviç o;

IV - s alário mínimo, fix ado em lei, nac ionalmente unific ado, c apaz de atender a s uas nec es s idades
v itais bás ic as e às de s ua família c om moradia, ali m entaç ão, educ aç ão, s aúde, laz er, v es tuário,
higiene, trans porte e prev idênc ia s oc ial, c om reajus tes periódic os que lhe pres erv em o poder
aquis itiv o, s endo v edada s ua vinc ulaç ão para qualquer fim;
V - pis o s alarial proporcional à ex tens ão e à c ompl ex idade do trabalho;

V I - irredutibilidade do s alário, s alv o o dis posto em c onv enç ão ou ac ordo c oletiv o;

V II - garantia de s alário, nunc a inferior ao mínimo, para os que perc ebem remuneraç ão v ariáv el;

V III - déc imo terc eiro s alário c om bas e na remuneraç ão integ ral ou no v alor da apos entadoria;

IX ± remuneraç ão do trabalho noturno s uperior à do diurno;

X - proteç ão do s alário na forma da lei, c ons tituindo c rime s ua retenç ão dolos a;

X I ± partic ipaç ão nos lucros , ou res ultados , des v inc ulada da remuneraç ão, e, ex c epc ionalmente,
participaç ão na ges tão da empres a, c onforme definido em lei;

X II - s alário -família pago em raz ão do dependente do trabalhador de baix a renda nos termos da lei;

X III - duraç ão do trabalho normal não s uperior a oito horas diárias e quarenta e quatro s em anais ,
fac ultada a c ompens aç ão de horários e a reduç ão da jornada, mediante ac ordo ou c onv enç ão
c oletiv a de trabalho;

X IV - jornada de s eis horas para o trabalho realiz ado em turnos ininterruptos de rev ez amento,
s alv o negoc iaç ão c oletiv a;

XV - repous o s emanal remunerado, preferenc ialmente aos domingos ;

XV I - remuneraç ão do s erv iç o ex traordinário s uperior, no mínimo, em c inqüenta por c ento à do


normal;

XV II - goz o de férias anuais remuneradas c om, pelo menos , um terç o a mais do que o s alário
normal;

XV III - lic enç a à ges tante, s em prejuíz o do emp rego e do s alário, c om a duraç ão de c ento e v inte
dias ;

X IX - lic enç a -paternidade, nos termos fix ados em lei;

XX - proteç ão do merc ado de trabalho da mulher, mediante inc entiv os es pec ífic os , nos te rmos da
lei;

XX I - av is o prévio proporcional ao tempo de s erviç o, s endo no mínimo de trinta dias , nos termos da
lei;

XX II - reduç ão dos ris c os inerentes ao trabalho, por meio de normas de s aúde, higiene e
s eguranç a;

XX III - adicional de remuneraç ão para as ativ idades penos as , ins alubres ou perigos as , na forma da
lei;
XX IV - apos entadoria;

XX V - as s istênc ia gratuita aos filhos e dependen tes des de o nas c imento até s eis anos de idade e m
c rec hes e pré -es c olas ;

XX VI - rec onhec imento das c onv enç ões e ac ordo s c oletiv os de trabalho;

XX VII - proteç ão em fac e da automaç ão, na forma da lei;

XX VIII - s eguro c ontra ac identes de trabalho, a c ar go do empregador, s em ex c luir a indeniz aç ão a


que es te es tá obrigado, quando inc orrer em dolo ou c ulpa;

XX IX - aç ão, quanto aos c réditos res ultantes das relaç ões de trabalho, c om praz o pres c ricional de
c inc o anos para os trabalhadores urbanos e rur ais , até o limite de dois anos após a ex tinç ão do
c ontrato de trabalho;

XX X - proibiç ão de diferenç a de s alários , de exerc íc io de funç ões e de c ritério de admis s ão por


motiv o de s ex o, idade, c or ou es tado civ il;

XX XI - proibiç ão de qualquer dis criminaç ão no toc ante a s alário e c ritérios de admis s ão do


trabalhador portador de defic iênc ia;

XX XII - proibiç ão de dis tinç ão entre t rabalho manual, téc nic o e intelec tual ou entre os profis s ionais
res pec tiv os ;

XX XIII - proibiç ão de trabalho noturno, perigos o ou ins alubre a menores de dez oito e de qualquer
trabalho a menores de dez es s eis anos , s alv o na c ondiç ão de aprendiz, a partir de quatorz e anos;

XX XIV - igualdade de direitos entre o trabalhador c om v ínc ulo empregatíc io permanente e o


trabalhador av uls o." [61]
Obs erv emos que també m s e es tende m aos trabalhadores domés tic os (art. 7.º, parágrafo únic o, os
s eguintes direitos : "IV ± s alá rio mínimo; VI - irredutibilidade de s alário; XV ± déc imo -terc eiro
s alário; X V ± repous o s emanal remunerado; XV II ± férias anuais remuneradas ; XV III ± lic enç a-
ges tante; X IX ± lic enç a -paternidade; XX I ± av iso pr év io; e X XIV ± apos entadoria e integraç ão à
pr ev idênc ia s ocial." [62]

8.1.2. Direitos Coletiv os dos Trabalhadores

Os Direitos Coletiv os dos Trabalhadores s ão "liberdade de as s ociaç ão profis s ional ou s indical,


direito de grev e, direito de s ubs tituiç ão proc ess ual, direito de partic ipaç ão laboral e dir eito de
repres entaç ão na empres a". [63] A CF/88 prev ê dois tipos de as s oc iaç ão, a profis sional e a
s indic al. A as s oc iaç ão profis s ional, em regra, tem atuaç ão na defes a dos interes s es profis s ionais
dos s eus membros , além de es tudos relac ionados à c ategoria. J á o s indic ato é, em tes e, o
defens or dos direitos c oletiv os ou individuais da c ategoria, s eja em instânc ias administrativ as ou
judic iais . E s te tem papel fundamental nas negoc iaç ões c oletiv as de trabalho [64] e rec ebe
c ontribuiç ões . S eus repres entantes s ã o eleitos .

Com relaç ão à liberdade s indic al, is s o s ignific a que o s indic ato tem: liberdade de fundaç ão,
liberdade de ades ão, liberdade de atuaç ão e liberdade de filiaç ão. Notemos que os apos entados
tem direito ao v oto nos s indic atos , as sim c omo d e s erem v otados também. O s indic ato não prec is a
de autoriz aç ão do E stado para s er fundado, porém, dev e, c omo pes s oa jurídic a, s eguir todos os
proc es s os pertinentes para o regis tro dos s eus es tatutos na repartiç ão c ompetente. O artigo 149
da CF/88 dis põe s obre uma C ontribuiç ão S ocial (ou Contribuiç ão Sindic al), que é c ompuls ória e
tem fins tributários . J á a Contribuiç ão Confederativ a [65] (art. 8.º, CF/88) não tem c arac terís ticas
tributárias, e s eu v alor é dec idido pela c ategoria, em A s s embléia Geral.

No B ras il, pod e -s e diz er que ex is te unicidade s indi c al (s ó s e permite um s indic ato por c ategoria,
numa bas e territorial ± um Munic ípio) e pluralidade de bas es s indic ais (v árias s edes ).

Outro Direito Coletiv o dos Trabalhadores é o Direito de Grev e, que pode s er de orde m
reiv indic ativ a, de s olidariedade, polític a, ou de protes to. Tem fundamento c ons titucional no artigo
9.º da CF/88. V erific amos , igualmente, que o Direito de Grev e não é total, pois dev e também
c ontemplar os interes s es e nec es s idades prementes da s oc iedade, c omo v ers am os §§. 1.º e 2.º da
CF/88.

S e, numa ponta, o Direito de Grev e é garantido aos trabalhadores , os empregadores não podem
faz er algo s emelhantes , pois o "loc k out" é proibido pela CF/88 e pela Legislaç ão Trabalhista.

8.2. Direitos S ociais do Hom em Cons umidor

O c ons tituc ionalista J os é A fons o da Silv a div ide os Direitos S oc iais do Homem c omo Cons umid or
nas s eguintes c ategorias : a -) Direitos S ociais Relativ os à S eguridade (Direito à S aúde, Direito à
P revidênc ia S oc ial, Direito À A s s istênc ia S ocial); b -) Direitos S oc iais Relativ os à E duc aç ão e
Cultura; c -) Direitos S ociais Relativ os à Moradia; d -) Direito A mbiental (Direito ao Laz er e Direito
ao Meio A mbiente); e -) Direitos S ociais da Crianç a e dos Idos os (inc luindo proteç ão à maternidade,
à infância e aos idos os ).

8.2.1 Direitos S ociais Relativ os à S eguridade

" A Cons tituiç ão ac olheu uma c onc epç ão de s eguridade s oc ial, c ujos objetiv o s e princípios s e
aprox imam bas tante daqueles fundamentos , ao defini -la c omo um c onjunto integrado de aç ões de
inic iativ a dos P oderes P úblic os e da s oc iedade, des tinadas a as s egurar os direitos relativ os à
s aúde, à prev idênc ia, e à as s is tênc ia s oc ial (art. 194, CF/88), ao es tabelec er s eus objetiv os (art.
194, parágrafo únic o, CF/88) e o s istema de s eu financ iamento (art. 195, CF/88) (...)." [66]

8.2.1.1. Direito à S aúde

A CF/88 " dec lara s er a s aúde direito de todos e dev er do E s tado, garantido mediante po líticas
s oc iais e ec onômic as que v is em à reduç ão do ris c o de doenç a e de outros agrav os e ao ac es so
univ ers al e igualitário às aç ões e s erviç os para s ua promoç ão, proteç ão e rec uperaç ão, s erv iç os e
aç ões que s ão de relev ânc ia públic a (arts . 196 e 197, CF/8 8)". [67]

8.2.1.2. Direito à Prev idência S oc ial

" Prev idênc ia S oc ial é um c onjunto de direitos relat iv os à s eguridade s oc ial. (...) funda -s e no
princ ípio do s eguro s oc ial, de s orte que os benefíc ios e s erv iç os s e des tinam a c obrir ev entos de
doenç a, inv al idez , morte, v elhic e e reclus ão, apenas do s egurado e dos s eus dependentes ." [68]
P ara J os é A fons o da Silv a, o regime de P rev idênc ia S oc ial da CF/88 oferec e dois tipos de
pres taç ões : " (1) os benefíc ios , que s ão pres taç ões pec uniárias , c ons is tentes : (a) na
apos entadoria, por inv alidez (não inc luída no § 7.º do art. 201, mas s ugerida no inc is o I do mes mo
artigo), por v elhic e, por tempo de s erv iç o, es pec ial e proporc ional (art. 221, §§ 7.º e 8.º, CF/88);
(b) nos aux ílios por doenç a, maternidade, rec lus ão e fun eral (art. 201, I a III); (c ) no s eguro -
des emprego (art. 7., II, art. 201, IV , e art. 239, CF/88); na pens ão por morte do s egurado (art. 201,
V , CF/88); (2) os s erv iç os , que s ão pres taç ões as s is tenc iais : médic a, farmac êutic a, odontológica,
hos pitalar, s oci al e de reeduc aç ão ou readaptaç ão f unc ional." [69]

8.2.1.3. Direito à A s sis tência S oc ial

S e o Direito à Prev idênc ia S oc ial ex igia pres taç ões , fundadas no princ ípio do s eguro s ocial, o
Direito à A s sis tência S oc ial tem c aráter univ ers aliz ante. E x plic a J os é A fons o da Silv a: " s erá
pres tada a quem dela nec es s itar, independentemente de c ontribuiç ão (art. 203, CF/88)" . [70] Ela é
des tinada aos " des v alidos em geral" .

8.2.2. Direitos S oc iais Relativ os à E duc aç ão e à Cultura

Como não poderia deix ar de s er, a CF/8 8 dotou a c ultura, no s entido amplo, de es pec ial
importânc ia (alguns dos dis pos itiv os a res peito s ão o art. 5.º, IX; art. 23, III a V ; art. 24, V II a IX ,
art. 30, IX , e art. 205 a 217). E mbora a educ aç ã o e a c ultura s ejam c ons ideradas Direitos S ociais ,
o c ons tituinte incluiu -a na CF/88 no c apítulo da " Ordem S oc ial" . P ara J os é Afons o da Silv a, o
artigo 205, da CF/88, c ontém três objetiv os da educ aç ão: " a) pleno des env olv imento da pes s oa; b)
preparo da pes s oa para o ex ercíc io da c idadania; c ) qualific aç ão da pes s oa para o trabalho" . [71]

Contudo, para que o Direito de E ns ino s e realize, a CF/88 c onta c om c ertos princ ípios c ontidos no
artigo 206: " univ ers alidade (ens ino para todos ), igualdade, liberdade, pluralis mo, gratuidade do
ens ino públic o, v aloriz aç ão do s res pec tiv os profis s ionais, ges tão democ rátic a da es c ola e padrão
de qualidade (...)." [72] O artigo 6.º, da CF/88. alç ou a educ aç ão ao status de Direito S oc ial.
Combinado c o m o artigo 205, ex plic ado ac ima, tem a s eguinte mens a gem: " todos têm o direito à
educ aç ão e o Es tado tem o dev er de pres tá -la, as s im c omo a família." [73]

Com relaç ão aos Direitos à Cultura, os mes mos não f oram ins eridos no artigo 6.º, da CF/88. E s tão
arrolados no artigo 215, da CF/88: " O E s tado garantirá a todos o pleno ex erc íc io dos direitos
c ulturais e ac es s o às fontes da c ultura nacional, e apoiará e inc entiv ará a v aloriz aç ão e a difus ão
das manifes taç ões c ulturais ." De nov o, o princ ípio da univ ers alidade entra em c ena. Ou s eja,
Direitos Culturais para todos . P ara J os é Afons o da Si lv a, os Direitos Culturais s ão:

" (a) direito de c riaç ão c ultural, c ompreendidas as c riaç ões c ientífic as , artístic as e tec nológic as ; (b)
direito de ac es s o às fontes da c ultura nac ional; (c ) direito de difus ão da c ultura; (d) liberdade de
formas de ex pres s ã o c ultural; (e) liberdade de manifes taç ões c ulturais ; (f) direito -dev er es tatal de
formaç ão do patrimônio c ultural bras ileiro e de proteç ão dos bens de c ultura, que, as s im, ficam
s ujeitos a um regime jurídic o es pec ial, c omo forma de propriedade de interes s e públic o." (SILVA ,
2001, p. 216)

8.2.3. Direitos S oc iais Relativ os à Moradia

Na CF/88, o Direito à Moradia es tá c ons ignado no ar tigo 6.º e artigo 23, IX. P os s ui duas fac es .
Uma negativ a; outra, pos itiv a. " A primeira s ignific a que o c idadão não pode s er priv ado de uma
moradia nem impedido de c ons eguir uma, no que impor ta à abs tenç ão do Es tado e de terc eiros . A
s egunda, que é a nota princ ipal do Direito à Moradia, c omo dos demais Direitos S oc iais , c ons iste
no direito de obter uma moradia digna e adequada, r ev elando -s e c omo um direito pos itiv o de
c aráter pres tac ional, porque legitima a pretens ão do s eu titular à realiz aç ão do direito por v ia de
aç ão pos itiv a do E s tado." [74]

8.2.4. Direito A mbiental


O doutrinador J os é A fons o da S ilv a amalgama o Direito ao Meio A mbiente propriamente dito, o
Direito ao Laz er (previs tos no artigo 6.º, da CF/88) e o Direito à Rec reaç ão, s ob a alc unha de
Direito A mbiental. Dis c orramos brev emente s obre c ada c as o. " Laz er é a entrega à oc ios idade
repous ante. Rec reaç ão é a entrega ao div ertimento, ao es porte, ao brinquedo. A mbos s e des tinam
a refaz er as forç as depois da labuta diária e s emanal." [75]

Com relaç ão ao Direito ao Meio A mbiente, o artigo 225 é ex plícito: "todos têm direito ao meio
ambiente ec ologic amente equilibrado, bem de uso c omum do pov o e es s enc ial à s adia qualidade de
v ida, impondo -s e ao P oder P úblic o e à c oletividade o dev er de defendê -lo e pres erv á -lo para as
pres entes e futuras geraç ões ."

8.2.5. Direitos S oc iais da Crianç a e do Idos o

E mbora a proteç ão à maternidade e à infância es tejam prev is tos no artigo 6.º, da CF/88, c omo
Direitos S ocia is , s ua es pecific aç ão de c onteúdo aparec e em outros dis pos itiv os da Cons tituição
c omo c apítulo da Ordem S ocial: " onde aparec e c omo as pec tos do Direito de P revidênc ia S ocial
(art. 201, III: " proteç ão à maternidade, es pec ialmente à ges tante" ), do Direito de A s s istênc ia S ocial
(art. 203, I: " proteç ão à família, à maternidade, à infância, à adoles c ênc ia e à v elhic e" ; II: " amparo
às c rianç as e adoles c entes c arentes" ) e no c apítulo da Família, da Crianç a, do A doles c ente e do
Idos o (art. 227, CF/88), s endo de ter c uidado para não c onfundir direito individual da c rianç a
(Direito à V ida, à Dignidade, à Liberdade) c om o s eu Direito S ocial que, aliás , s alv o o princ ípio da
prioridade, c oincide, em boa parte, c om o de todas as pes s oas (Direito à S aúde, à Alimentaç ão, à
E duc aç ão, ao Laz er), c om o direito c ivil (c ondiç ões jurídic as dos filhos em relaç ão aos pais ) e c om
o direito tutelar do menor (art. 227, § 3.º, IV a V II, e § 4.º, CF/88)" [76] Além das norma s
c ons titucionais e as c ons tantes nas legislaç ões c iv is e penais, outro aliado na proteç ão des ses
direitos é a Lei n.º 8.069/93, o E statuto da Crianç a e do A doles c ente.

E mbora não es teja pres ente no artigo 6.º, o Direito dos Idos os s ão tidos c omo Direitos S oc iais .
Uma parte integra o Direito P revidenc iário (art. 201, I, CF/88), vide apos entadoria, princ ipalmente,
e a outra, o Direito A s sis tenciário (art. 203, I, CF/88), " c omo forma protetiv a da v elhic e, inc luindo a
garantia de pagamento de um s alário mínimo mens al, quando ele não pos s uir meios de prov er à
própria s ubs ist ênc ia, c onforme dis pus er a Lei." [77] O artigo 230, da CF/88, dis põe também que a
família, a s oc iedade e o E s tado têm o dev er de " amparar as pes s oas idos as , as s egurando a s u a
participaç ão na c omunidade, defendendo s ua d ignidade e bem -es tar e garantindo -lhe s direito à
v ida, bem c omo a gratuidade dos trans portes c oletiv os urbanos e, tanto quanto pos s ív el, a
c onv iv ênc ia em s eu lar." [78] P ara dar maior alento a es s es prec eitos c ons tituc ionais, foi elaborada
e aprov ada a Lei n.º 10.741/2003, o E s tatuto do Idos o .

9. Direitos da Nac ionalidade

De ac ordo c om o artigo 12, I, da CF/88, s ão bras ileiros natos : a -) os nas c idos no B rasil; b -) os
nas c idos no es trangeiro, filhos de pais ou mãe bras ileiros, des de que a s erviç o da Repúblic a
Federativ a do B ras il; c -) nas cido s no es trangeiro, filho de pai ou mãe bras ileiros, des de que opte
por res idir no B ras il. E mbora, em regra, s e tenha adotado o c ritério "jus s olis" para atribuiç ão de
nac ionalidade (art. 12, I, " a" , CF/88), há res quíc ios de " jus s angüinis" (art. 12, I, " b" e "c " ). A lguns
autores diz em que s e trata de um c ritério misto, ou um " jus s olis " mitigado. Trata -s e de " jus s olis "
quando o c ritério preponderante para atribuiç ão de nac ionalidade é o loc al onde o s ujeito nas ce.
Com relaç ão ao "jus s angüinis ", o critério guia é a des c endênc ia do s ujeito.

A nac ionalidade é o v ínc ulo jurídic o que o s ujeito tem c om o E s tado, que c onfere aos nacionais
priv ilégios c om relaç ão aos es trangeiros . A nacionalidade pode s er originária, quer diz er, a pes soa
nas c e c om ela, devido a cr itérios de s angue, territ oriais ou mistos . Ou a nac ionalidade pode ser
deriv ada, ou s eja, a pes s oa a adquire, v oluntária e pos teriormente ao nas c imento. Cidadania
dec orre da nac ionalidade. Os Direitos da Cidadania s ão os Direitos P olític os . P ortanto, o que s e
diz , v ulgarmente, " dupla c idadania" , é, na v erdade, dupla nacionalidade.

S ão polipátridas, aqueles que pos s uem mais de uma nac ionalidade, e apátridas [79], os que não
têm nac ionalidade. Um ex emplo de apátrida é o bras ileiro naturaliz ado que perdeu a s ua c ondição
nac ional em v irtude de c anc elamento judic ial. (art. 5.º, LI, c /c art. 5.º, § 1.º, c /c art. 12, § 4.º,
CF/88)

O que determina a diferenç a entre bras ileiros natos e bras ileiros naturaliz ados é o nas c imento
dentro do território nac ional ou a fili aç ão, tal c omo já c itamos o artigo 12, I, e alíneas , da CF/88.
P ara naturaliz ar -s e o es trangeiro dev e iniciar um proc edimento adminis trativ o e judic ial. [80] Na
petiç ão, o es trangeiro dev e dec larar, de modo ex pres s o, que opta pela nac ionalidade bras ileira,
s eguindo o dis pos to no artigo 12, II, da CF/88, e na Lei n.º 6.815/80, o E s tatuto do E s trangeiro.
A lgumas hipótes es para a naturaliz aç ão podem s er a obtenç ão de v is to permanente, o c as amento
c om bras ileiro (a) ou ter filhos brasileiros .

O artigo 12, § 2. º, da CF/88, dis põe que pode m s er naturaliz ados : 1 -) " os que, na forma da lei,
adquiram a nac ionalidade bras ileira, ex igidas aos originários de país es de língua portugues a
apenas res idênc ia por um ano ininterrupto e idoneidade moral" (art. 12, § 2.º, II, " a" , CF/88); 2-)
" os es trangeiros de qualquer nac ionalidade, residentes na Repúblic a Federativ a do B ras il há ma is
de quinz e anos ininterruptos e s em c ondenação penal , des de que requeiram a nac ionalidade
bras ileira" (art. 12, § 2.º, II, " b", CF/88).

A os portugues es, o c ons tituinte c onferiu tratamento es pec ial, c onforme o artigo 12, § 1.º, da
CF/88: "A os portugues es c om residênc ia permanente no P aís , s e houv er rec iprocidade em fav or de
bras ileiros , s erão atribuídos os direitos inerentes ao bras ileiro, s alv o os c as os prev istos nesta
Cons tituiç ão."

Um bras ileiro, em regra, não pode perder a nac ionalidade, s alv o em c as os de c anc elamento da s ua
naturaliz aç ão, por s entenç a judicial, em v irtude de ativ idade nociv a ao interes s e nac ional (art. 12,
§ 4.º, I, CF/88) ou aquis iç ão de outra nac ionalidade (art. 12, § 4.º, II, CF/88). Nes ta última, há
ex c eç ões , que muitas v ez es c ulminam e m mais de uma nac ionalidade: 1 -) " aquis iç ão originária de
nac ionalidade pela lei es trangeira" (art. 12, § 4.º, II, " a" , CF/88); 2 -) " imp os iç ão de naturaliz aç ão,
pela norma es trangeira, ao brasileiro res idente em E s tado es trangeiro, c omo c ondiç ão para
permanênc ia em s eu território ou para o ex erc ício de direitos c ivis " (art. 12, § 4.º, II, " b" , CF/88).

A pes ar de s er c onstituc ionalmente pro ibida a dis tinç ão entre brasileiros natos e bras ileiros
naturaliz ados, há algumas ex c eç ões . O artigo 12, § 3.º, da CF/88, apres enta ex pres s amente os
c argos priv ativ os para bras ileiros natos , nos s egui ntes inc is os : " I - de P res idente e Vice -
P residente da Re públic a; II - de P residente da Câmara dos Deputados ; III - de P residente do
S enado Federal; IV - de Minis tro do S upremo Tribunal Federal; V - da c arreira diplomátic a; VI - de
ofic ial das Forç as A rmadas ; V II - de Minis tro de E s tado da Defes a."

CA PÍTULO II ± DE ONTOLOGIA P ROFIS SIONA L E CÓDIGOS DE É TICA

10.Direitos Fundamentais A plic ados à Profis s ão

Como v is to anteriormente, os Direitos Fundamentais dev em s er obs erv ados obrigatoriamente em


qualquer ins tância c omportamental regida por uma Cons tituiç ão. P ortan to, os Direitos
Fundamentais , as s im c omo as demais normas da CF/88, s ão bas e de todo o ordenamento jurídic o
bras ileiro. A CF/88 es tá no topo da ordem jurídic a, c onferindo fundamento e v alidade para as
demais normais que lhes s ão s ubordinadas (Leis , Dec reto s , Atos A dminis trativ os, Regulamentos ,
P ortarias, etc.). De ac ordo c om o es quema propos to por Hans K els en
Cons tituiç ão
----------------
Leis Complementares
--------------------------------------------
Leis Ordinárias e Medidas Prov is órias
-----------------------------------------------------------------
Dec retos e Res oluç ões do Legis lativ o
--------------------------------------------------------------------------------
Dec retos do E x ec utiv o
-------------------------------------------------------------------------------------------
A tos A dminis trativ os

" Mes mo nes s as c irc uns tânc ias, a empres a étic a não pode deix ar de c umprir es s as normas
inc orretas por s imples dec is ão de s ua adminis traç ão. P ara deix ar de c umprir uma norma
jurídic a, ela precis ará de uma dec is ão judic ial que a autoriz e a as sim proc eder .

P ara ev itar que as empres as fiquem aguardando os finais dos proc es s os judiciais, os juíz es são
autoriz ados a c onc eder ordens liminares ou tutelas antec ipadas , que, na prátic a, s ão autoriz aç ões
imediatas para que a empres a deix e de c umprir uma norma. E s s a dec is ão é outorgada no início ou
no trans c orrer de um proc es s o no qual a empres a pleiteie o rec onhecimento do v íc io de ilegalidade
e/ou inc ons titucionalidade de uma norma.

A Cons tituiç ão atual permite que c ertas as s oc iaç ões de c las s e, de âmbito nacional, também
pleiteiem junto ao J udic iário, em nome dos s eu s as s oc iados , o rec onhec imento da ilegalidade ou
inc ons tituc ionalidade de uma norma jurídic a." (MORE IRA , 2002, p. 21, grifo nos s o)

V emos , então, que a e mpres a não pode des c u mprir as Leis , ex c eto s e elas forem c ons ideradas
ilegais ou inc ons titucionais , des de que haja ex pres s a autoriz aç ão judicial. Afinal, ninguém, em
tes e, s eria obrigado a c umprir o que diz uma Lei il egal ou inc ons titucional, s egundo o es q uema
ac ima ex plic ado. E m regra, portanto, a empres a dev e s eguir a legis laç ão que s erv irá, além dos
princ ípios étic os , para a formaç ão e manutenç ão das normas d e c onduta e mpres arial. A s s im, o
entendem K laus M. Leis inger e K arin S c himitt, ampliando e ex plic i tando, ainda, o c onc eito de
Direito e a s ua funç ão no res guardo de v alores morais :

" ¶Direito, as s im define Otfried Höffe, é µa ess ênc ia das obrigaç ões normativ as (normas , mas
também es truturas e proc es s os, as s im c omo a conduta que lhes c orres ponde) que ± em v igor num
determinado tempo e para u ma determinada c om unidade polític a c onc reta ± regulam formalmente a
c onv iv ênc ia¶. E s te amplo c onc eito do Direito abrange normas jurídic as , Direito P os itiv o e normas
s oc iais . O Direito estabelec e quem dev e faz er e ex i g ir o quê, c omo também c ontém c onc eitos
morais do tipo µlealdade e fé¶, µbons c ostumes ¶ ou µes pertez a¶. Des ta maneira, atrav és de
mandamentos , proibiç ões e regras de proc edimento o Direito c ontribui dec isiv amente para
es tabelec er as c ondiç ões para que numa s oc iedade a c onv iv ênc ia s eja o mais pos sív el is enta de
c onflitos . O Direito é também um meio efic az para prev enir ou ev itar um c omportamento c riminos o
ou gros s eiramente negligente." (LE IS INGE R & SCHIMITT, 2002, p. 46 -47, grifos nos s os )
10.1Normas J urídic as B ásic as para as E mpres as

A prov eitamos a s is tematiz aç ão de J oaquim Manhães Moreira, para arrolar uma lis ta de normas
jurídic as que c ons ideramos básic as para as empres as , c ons ideradas em s eus relac ionamentos .
E mbora não c onc ordemos c o m todas as c las s ific aç ões , as s im as dis pomos , para fins meramen te
didátic os, no intuito de mos trarmos a importânc ia da legis laç ão nac ional c om relaç ão ao c otidiano
profis sional. Na nos s a c onc epç ão, a CF/88 é aplic áv el e norma bas e para todos os tipos de
relac ionamentos da empre s a, s eja c om: a -) clientes; b -) c ons umidores ; c -) c onc orrentes ; d -)
empregados ; e -) s ócios e acionistas ; f -) autoridades , c andidatos e gov erno; g -) públic o em geral.

P ara K laus Leis inger e K arin S c himitt, não bas ta enc arar c omo agentes morais s omente os
a c ionis tas (s hareholders ). Dev em s er c ons iderad os t ambém c omo agentes morais , c om que m há de
s e relac ionar étic a e legalmente, os s tak eholders . Que raios s ão os s tak eholders ? Um c onc eito
genéric o para o ambiente s ocial de uma empres a, c ompos to de, à s emelha nç a do parágrafo
anterior: " a -) c lientes ; b -) ec ologis tas; c -) v iz inhos ; d -) fornec edores ; e -) c onc orrentes ; f -)
s indic atos; g -) as s oc iaç ões; h -) autoridades e s eus repres entantes ; i -) repres entantes da v ida
polític a." [83] Os interes s es dos s tak eholders s ão legítimos e dev em s er lev ados em c ons ideraç ão
pelos div ers os s etores es truturados da empres a.

Há de s e lev ar em c onta a legis laç ão e os princ ípios étic os para s e lidar c om os s tak eholders ,
tendo em v is ta que o ordena mento jurídic o é um todo harmonios o e, e m tes e, não c ontraditório.
Daí, as Leis, num s entido amplo, dev em s er interpretadas em s eu c onjunto e não apenas
is oladamente. Há de s e pres tar atenç ão também no fato de as Leis não s erem dogmas intoc áv eis ,
pois es tão s ujeitas a reformas legislativ as . E tais reformas podem s e dar muito rápido. A s sim, é
nec es s ário es tar atento a tais modific aç ões. S ugeri mos v isitar c ons tantemente o site da
P residênc ia da Repúblic a [84], pois lá es tão pratic amente todas as Leis Federais, atualiz adas
c ons tantemente.

10.1. 1 Relac ionamento c om Clientes [85]

-Código de Defes a do Cons umidor (Lei n.º 8.078, de 11 de s etembro de 1990);

-Lei n.º 8.884/94 (Repres s ão ao A bus o de P oder E c onômic o);

- Lei n.º 8.666/93 (Lic itaç ões e Contratos P úblic os );

- Dec reto n.º 1.171/94 (Códi go de É tic a P rofis s ional do S ervidor P úblic o Federal);

- Código Civil;

- Código Comerc ial.

10.1.2. Relacionamento c om Cons umidores [86]

- Lei n.º 8.884/94 (Repres s ão ao A bus o de P oder E c onômic o);

- Lei n.º 9.609, de 19 de fev ereiro de 1998 (P roteç ão aos Programas de Computadores );

- Código Civil;

- Código Comerc ial;

- Lei n.º 9.279, de 14 de maio de 1996 (Nov a Lei de P atentes ).

10.1.3. Relacionamento c om Conc orrentes [87]


- Lei n.º 8.884, de 11 de s etembro de 1994 (Repres s ão ao A bus o de P oder E c o nômic o);

- Lei n.º 9.279, de 14 de maio de 1996 (Nov a Lei de P atentes ).

10.1.4. Relacionamento c om E mpregados [88]

- Cons tituiç ão Federal de 1988, artigos 5.º e 6.º;

- Cons olidaç ão das Leis do Trabalho (CLT), Dec reto - Lei n.º 5.452, de 1.º de maio de 19 43;

10.1.5. Relacionamento entre S ócios e A cionistas [89]

- Lei n.º 6.404/76 (Lei das S ociedades A nônimas , c ujos dis pos itiv os princ ipais s ão também
aplic áv eis às S oc iedades por Quota de Res pons abilidade Limitada).

10.1.6. Relacionamento c om A utoridades , Candidatos e Gov erno [90]

- Código P enal (Dec reto -Lei n.º 2.848, de 7 de dez embro de 1940);

- Lei n.º 9.100, de 20 de s etembro de 1995 (Dis c iplina e dis põe limites para doaç ões des tinadas às
c ampanhas eleitorais ).

10.1.7. Relacionamento c om o P úblic o em Geral [91]

- Lei n.º 9.065, de 17 de fev ereiro de 1998 (P uniç ões às c ondutas les iv as ao meio ambiente);

- Lei n.º 9.613, de 1.º de març o de 1998 (P uniç ões às ativ idades de lav agem de dinheiro).

11. Introduç ão à deontologia profis sional

E m 1834, o fi lós ofo e jurista inglês J eremy B entham ± pai da E s c ola Utilitaris ta ± c unhou o termo
" deontologia" . Deontologia é um ramo da étic a n ormativ a que es tuda os fundamentos do dev er e as
normas morais , ou s eja, é uma teoria do dev er. A deontologia profis sional, por s ua v ez , des c reve e
pres c rev e o agir c orreto de uma determinada profis s ão. S enhoras e s enhores . Faç amos um
adendo. E x pliquemos o que v em a s er a étic a e o que v em a s er a moral, s egundo Klaus M.
Leis inger e K arin S c himitt: "P or µmoral¶ entendemos deter minadas normas que orientam o
c omportamento prátic o (s obretudo para c om o próx imo, mas também para c o m a naturez a e p ara
c ons igo mes mo). A µétic a¶, c omo c iência, oc upa -s e c om o tema de uma maneira des c ritiv a e
c omparativ a, mas também c omo uma av aliaç ão crí tic a da moral." [92]

A moral c ons titui -s e de v alores e de normas . O s v al ores orientam a moral, já as normas s ão as


ex igênc ias que lhe c onferem imperativ idade. Como er a de s e es perar, as normas morais s ó
pos s uem efic ác ia quando s ão evidentes para o indiví d uo, alertam Leisinger e S c himitt. Daí, é
nec es s ária uma jus tific ativ a quando tais normas mor ais não s ão ev identes e, muita v ez es , o
" c onv enc imento" . P or que a jus tific ativ a e o c onv enc imento? P orque, muitas v ez es , o que
repres enta um v alor para um pode s er um des v alor para outro. E s s e juíz o de v alor, s egundo Vic tor
K raft, tem dois c omponentes : " o c aráter de v alor, isto é, a propriedade do v alor (por ex emplo,
µbom¶ ou µmau¶), e o objeto (por ex emplo, s inc eridade, falsidade), ao qual o c aráter de v alor é
atri buído." [93]
Diante dis s o, há de s e tomar c uidado c om o " mor alis mo" , ou "fals o moralis mo" . " O moralis mo reduz
a étic a a banalidades , transforma a v ida moral em as s unto de trivial importância. E le amputa
radic almente a c omplex idade da étic a, reduzindo -a a dimens ões manipuláv eis de pequenez moral,
c apaz de s er reduz ida a um c ódigo, c ujo s eguimento tranqüiliz a a c ons ciênc ia." [94] P or is so,
antes de s e tomar juíz os precipitados, é prec is o analis ar todas as v ariáv eis pos sív eis, o c ontex to
do problema, os agent es env olvidos , a legis laç ão e os princ ípios étic os . Com c alma, s e pos s ív el, e
bus c ando c oloc ar -s e no lugar dos outros . Com relaç ão aos s tak eholders , há de s e perguntar:

" Quem s ão os s tak eholders, e quais os s eus interes s es ?

Quais as pos s ibilidades pos iti v as e as potenciais ameaç as que podem partir deles ?

Que res pons abilidades (ec onômic as , s oc iais, ec ológi c as e outras ) res ultam da teia de relaç ões
entre a empres a e eles ?

Qual a es tratégia c orreta para lidar c om es tas pes s oas e s eus interes s es ?" (LE ISINGE R &
S CHIMITT, 2001, p. 109)
P ara não nos atermos , ademais, as definiç ões terminológic as . Trataremos deontologia empres arial
c omo s inônimo de étic a empres arial.

11.1. J ulgamento Étic o

A ntes de v ers armos s obre o julgamento étic o, dev emos faz er um interlúdio. P recis amos de uma
definiç ão de realidade. P ara P aul Watz lawic k, segundo Leis inger e S c hmitt, ex is te uma realidade
de primeira ordem e uma realidade de s egunda ordem. Que raios s ão c a da uma? Leisinger e
S c hmitt ex plic am:

" A realidade de primeira ordem refere -s e aos fatos físic os , is to é, àqueles as pectos da realidade
relac ionados c om o c ons ens o da perc epç ão, e sobretudo c om as c onfirmaç ões ex perimentais , que
podem s er repetidas e des t a maneira v erificadas . A realidade de s egunda ordem bas eia -s e
ex c lus iv amente na atribuiç ão de s entido e de v alor às c ois as . E s ta µs egunda¶ realidade es tá
marc ada por ex periênc ias pres entes e pas s adas e pel o es tado de c onhec imento das pes s oas , por
s eus des e jos , s onhos e pes adelos . Tais fatores infl uenciam as idéias das pes s oas a res peito do
µbem¶ e do µmal¶, s eus c onc eitos de s abedoria e louc ura. No âmbito das realidades de s egunda
ordem não tem s entido dis c utir s obre o que é realmente real." (LEISINGE R & S C HMITT, 2001, p.
113, grifos nos s os )
A realidade de primeira ordem refere -s e ao mundo ontológic o, aquilo que é. J á a realidade de
s egunda ordem diz res peito ao mun do deontológic o, aquilo que dev e s er. A étic a e o Direito
mov imentam -s e nos meandros da realid ade de s egunda ordem, ou s eja, no m undo do dev er s er,
que não c orres ponde nec es s ariamente à quilo que tem que s er. Oc orre que nes s a realidade de
s egunda ordem, nem tudo é igual para todos . A quele que c rê que a s ua c onc epç ão de realidade é a
únic a c las s ific a rá as v oz es dis c ordantes c om v alores negativ os , c omo " bobos " , " maus " ou " louc os" .
P ortanto, não bas ta apenas afirmar -s e numa c onv ic ç ão. É nec es s ário lev ar o outro em c onta.

P ara Leis inger e S c hmitt, o filós ofo Hans J onas s oube lidar c om es s e problema de m anei ra
ex emplar. O princ ípio da res pons abilidade, de Hans J onas , v ers a que é nec es s ária uma nov a étic a,
que lev e em c onta " a res pons abilidade c onc reta pelo que é dado aqui e agora, e por s eus efeitos
no futuro". [95] Is s o não s ignific a negar o mundo materi al, muito pelo c ontrário. " P elo menos eu
interpreto is to no s entido de que, em s eu c onceito de progres s o, o es s encial é a perfeiç ão étic a
dos indiv íduos e da s oc iedade c omo um todo. D entro des te c onc eito, o progres s o material também
tem lugar; o que ele re jeita é a c egueira material para c om todos os v alores imateriais do homem e
da dignidade humana." [96]
Obv iamente, a atividade empres arial vis a o luc ro, porém, c omo res s alta Hans J onas , não s e pode
permitir o lucro a qualquer c us to. Há limites para a obte nç ão des s e luc ro, que pode ser
c onquis tado, des de que res peite os v alores da digni dade humana. E m outras palavras . A c orrida
pelo luc ro e pelo s uc es s o empres arial é lícita des de que não ofenda Cons tituiç ão, a Legis laç ão e,
princ ipalmente, os Direitos Funda mentais do s er humano.

O julgamento étic o dev e lev ar tudo is s o em c ons ider aç ão ± as ques tões de fato (da realidade de
primeira ordem ± ou mundo ontológic o) e as ques tões étic as e jurídic as (da realidade de s egunda
ordem ± ou mundo deo ntológic o) ± e mais : os sentimentos de empatia. P or empatia, entendemos ,
em termos s imples , o c oloc ar -s e no lugar do outro. [97] A liás , as tomadas de decis ões dev em ser
lev adas em c onta todas as opiniões, mes mo as c ontrárias: " Nos c omplex os proc es s os de decis ão
s empre dev em s e r inc luídas v oz es dis s identes (dis s i dent v oic es) ± tudo prec is a s er c oloc ado s obre
a mes a, não s omente os fatos mas também todas as opiniões pos sív eis , por menos s impátic as que
pos s am parec er. A c ontradiç ão de quem pen s a de maneira diferente, mes mo quando pare ç a
inc onv eniente e c ontrária à tendênc ia geral das opi niões, tem que s er rac ionalmente refutada ou
s uperada nas dis c us s ões de grupo, e não s er s em dis c us s ão ou por raz ões ideológic as v arridas
para debaix o do tapete." [98]

E s s a preoc upaç ão s e es tende t ambém ao meio ambiente e às c ons eqüênc ias que determinada
ativ idade o influenc ia, as sim c om os demais agentes em redor:

" Como regra prátic a v ale que, c om a grav idade e a intensidade dos efeitos para a s oc iedade e para
o mundo ambiente, aumenta a nec es sida de de legitimaç ão do agir empres arial. E x igências feitas
c ontra a v ontade dos atingidos nec es s itam, em todos os c as os , de uma legitimaç ão es pec ial, do
c ontrário elas repres entam uma defic iência moral da aç ão da empres a. P ois a liberdade das
pes s oas c ons is t e também em que s ão elas , e não outr as , que dev em dec idir s obre o v alor e a
importânc ia de s eus des ejos e interes s es ." (LEISINGE R & S CHMITT, 2001, p. 116, grifo nos s o)
P ara s e ev itar prec onc eitos ou pré -c ondenaç ões , e dec is ões por dem ais generaliz antes , há de s e
es quematiz ar todo o proc es s o de julgamento étic o, i ns erido no c ontex to da étic a empres arial.
Leis inger e Sc himitt, c itando Tödt, mos tram os pas s os do julgamento étic o:

" 1. P erc epç ão do problema: E m que c onsis te o problema étic o? Trata -s e realmente de um problema
étic o, ou s erá que a problemátic a s e enc ontra em outro plano inteiramente diferente? E m todos os
c as os , é nec es s ária aqui uma perc epç ão integral do problema, is to é, os problemas parc iais têm
que s er integrados dentro de u m c ontex to mais amp lo, para que s ua importânc ia étic a pos s a s er
rec onhec ida.

2. A nális e da s ituaç ão: Quais os c ontex tos relev ant es ? P elo problema que s e apres enta nesta
s ituaç ão es pec ífic a, quem s e enc ontra em obrigaç ão ou em uma res pons abilidade es pec ial?

3. J ulgamento da s opç ões de c onduta: Como d ev em s er julgadas a longo praz o, num mundo de
inc ertez as e c ontradiç ões s ob o ponto de v is ta étic o, as s oluç ões téc nic as e pragmátic as imediatas
e aparentemente naturais ? Quais as alternativ as , quais s uas c ons eqüênc ias e s eus efe itos
c olaterais ?

4. A nalis ar as normas , os bens e as pers pec tiv as : Que normas e padrões têm que s er empregad os
para es tabelec er as alternativ as pos s ív eis de c onduta, e para av aliar a opç ão preferenc ial? Que
bens dev em s er preferidos em determinadas s ituaç ões ?

5. A nális e da obrigatoriedade étic a e c omunic ativ a: S erá que, nes ta s ituaç ão e s ob es tes mes m os
pres s upos tos v itais , as outras pes s oas podem c ompor tar -s e c omo é impos to pela dec is ão em
v is ta?
6. Dec is ão adotada: Qual o res ultado da ponderaç ão e c omb inaç ão dos c inc o fatores prec edentes ?
A que c onduta lev a es ta v is ão e dec is ão?" (LE IS INGE R & S CHMITT, 2001, p. 116 -117, grifos
nos s os )

11.2. Dos Males , o Menor?

E s tamos diante de um dilema étic o [99], quando nos enc ontramos em s ituaç ões limite. Mes mo que
tenhamos nos prec av ido e nos guiado pelos princ ípios étic os e jurídic os , mais os s eis pas s os para
o julgamento étic o, muitas v ez es , teremos que dec idir entre alte rnativ as que não s ão de todo boas
em s i, nem traz em 100 % de c ons eq üênc ias bené fic as . O ideal, c omo gos taríamos s empre ± agin do
s egundo a Lei Moral, nos prec eitos de Immanuel K ant -, s eria obedec er as normas . Mas e s e
obedec er as normas c egamente oc as ionar um res ultado pior que des obedec ê -las ? E s e, mes mo
obedec endo as normas , c hegás s emos a c onc lus ões que c aus as s em, c ada qual num determinado
grau de grandez a, um mal? Dos males , o menor. A s s im, dizia o v elho ditado popular.

Como agir diante de tais s ituaç ões ? Citando Georges E nderle, Leis inger e S c hmitt, propõem quatro
regras ?

" 1. Dec ida s empre a partir de um ponto de v ista imparc ial.

2. Dec ida dentro de u m s is tema de objetiv os e direitos , de tal forma que os diretamente atingidos
s ejam o mais pos s ív el res p eitados em s eus direitos bás ic os, e que o s eu c onforto não s eja
influenciado por c onsideraç ões de v antagens .

3. Dec ida de tal forma que a ex igênc ia de jogo limpo em relaç ão às pes s oas s eja lev ada em
c ons ideraç ão.

4. Dec ida de tal forma que os rec urs os te nham um aprov eitamento ótimo, res peitando da melhor
maneira pos s ív el as três regras menc ionadas ac ima." (LE IS INGE R & S CHMITT, 2001, p. 121, grifos
nos s os )
Lembremos s e mpre, que v is lumbramos , em regra , um c enário de normalidade, em que as empres as
operam di ante de des afios pos s ív eis em c as o de paz , e não de guerra. P ortanto, importante
s alientar, qualquer que s ejam as dec is ões toma das , elas não podem v iolar os direitos bás ic os , ou
os Direitos Fundamentais , dos diretamente afetados , c omo as s inala o item 3. A imparcialidade
dev e marc ar não s ó as dec is ões , mas todo proc edimento que lev ou a tomada das dec is ões ,
mos trando, inc lusiv e, trans parênc ia para todos os env olv idos . Tudo is s o tem o intuito de evitar ±
ou diminuir, s e for o c as o ± , o máx imo pos s ív el, os dano s que, porv entura, v ierem a oc orrer p or
c aus a das dec is ões .

12. Conc eito e Funç ão de Código de Étic a

Os c ódigos de étic a empres arial s ão c onjuntos de normas es tabelec idas pela empres a no intuito de
regular os c omportamentos . Na v erdade, em v ez de " Código de É tic a", preferimos o termo " Código
de Conduta" . Como já v imos , étic a é a parte da filos ofia, ou c iênc ia, que tem por objeto a mor al,
es ta relativ a no tempo e no es paç o. S eria s implis ta reduzir, então, a étic a a um apanhado d e
normas c odific adas por uma empres a. No máx imo, poderíamos falar em deontologia profis sional
que tem c omo referenc ial de rac ionalidade para proc edimentos dec is órios e de regulaç ão de
c omportamentos um c ódigo de normas . Mas c o mo já foi populariz ado o termo " Código de É tica" ,
us aremos o dito c ujo. Faz er o quê, né? A ntes falemos do poder normativ o das e mpres as e d as
normas empres ariais .
A empres a tem poder de direç ão que lhe c onfere, de c erta forma, um poder normativ o no s eu
âmbito de atuaç ão. Quer diz er, por elaborar normas empres aria is , que " s ão diretriz es étic as de
orientaç ão e aç ão pos tas em v igor por iniciativ a pr ópria da empres a, isto é, s em que ex is ta
impos iç ão legal, mas mes mo as s im obrigando todos os c olaboradores" [100]. Tais normas não são
feitas à toa. Têm uma funç ão: " c ontr ibuir para que s ejam v is ados e atingidos da maneira mais
harmonios a pos s ív el os objetiv os ec onômic os , s oc iai s e ec ológic os da empres a. (...) s obretudo
para grupos que atuam a nív el internac ional, que pr ec is am oc upar -s e c om as mais div ersas
c ondiç ões jurídi c as, s oc iais e c ulturais." [101] Para Leis inger e S c hmitt, têm as s eguintes funç ões :

- "E las ajudam a empres a a identific ar e definir suas res pons abilidades não -ec onômic as .

- S erv em de orientaç ão nas s ituaç ões etic amente c onfus as, des ta maneira tornando
des nec es s árias dec is ões ad hoc .

- * A tuam em s entido c ontrário a uma progres siva regulamentaç ão pelo E s tado e s uas autoridades ,
des ta forma c ontribuindo para s e c hegar à liberdade empres arial.

- Diminuem os c us tos s ociais das trans aç ões ." (LE IS INGE R & S C HMITT, 2001, p. 124, grifos
nos s os )
A s normas empres ariais dev em s er referenc iais para a s oluç ão de problemas reais , tendo em s ua
elaboraç ão o diálogo c omo um dos principais ingredi entes . E s s as normas empres ariais podem s er
c ompiladas em forma de um c ódigo . Geralmente, as empres as denominam es s a c ompilaç ão de
" Código de É tic a" . S egundo J oaquim Manhães Moreira, " Código de É tic a é um padrão de c ond uta
para pes s oas c om diferentes v is ões e ex periênc ias aplic adas a ativ idades empres ariais c omplex as .
P ode s ervir c omo prov a legal da intenç ão da empres a" . [102] E vitar as deturpaç ões na
interpretaç ão e aplic aç ão de princípios legais e ét ic os é uma das principais preoc upaç ões :

" O Código de É tic a tem a mis s ão de pa droniz ar e for maliz ar o entendimento da organiz aç ão
empres arial em s eus div ers os relacionamentos e oper aç ões . A exis tênc ia do Código de Étic a evita
que os julgamentos s ubjetiv os deturpem, impeç am ou res trinjam a aplic aç ão plena dos princ ípios .
A lém dis s o o Código de Étic a, quando adotado, implantado de forma c orreta e regularmente
obedec ido, pode c ons tituir uma prov a legal da deter minaç ão da adminis traç ão da empres a, de
s eguir os prec eitos nele refletidos." (MORE IRA, 199 9, p. 33 -34, grifos nos s os )

13. B as es para um Código de Étic a

S eremos brev es nes te tópic o, pois cremos que Leis inger e S c hmitt sintetiz aram de forma c oerente
os princípios básic os para a elaboraç ão de um Código de É tic a E mpres arial, que dev e lev ar em
c on s ideraç ão: a -) clientes; b -) empregados ; c -) inv estidores; d -) fornec edores e parc eiros; e -)
empres as c onc orrentes ; f -) s ociedade.

13.1. P ara uma Relaç ão Étic a c om os Clientes

Leis inger e S c hmitt afirmam o óbv io. Todos os c lientes , s ejam diretos ou indir etos , dev em s er
tratados c om res peito. Is s o s ignific a que os produt os e s erviç os dev em ter a máx ima qualidade
pos s ív el de ac ordo c om as nec es sidades dos seus c li entes . E s s e jogo limpo s e refere " à lis ura e
hones tidade em todas as trans aç ões de negóc ios , à plena s atisfaç ão, e a um s erviç o e uma
as s es s oria prestativ as, bem c omo a c orreç ão dos err os ". [103] Outras preoc upaç ões de extrema
importânc ia s ão a c onsideraç ão c om a s aúde e s eguranç a dos c lientes , s eja no as pec to da
c ons erv aç ão s eja no as pec to do fav or ec imento. A mpli ando es s e racioc ínio, os produtos e s erviços
da empres a não podem deteriorar o meio ambiente, dev endo pres erv á -lo e c orrigi-lo, na medida do
pos s ív el. "A oferta de produtos e s erv iç os da empres a, bem c omo s uas medidas de mark eting e
propagan da, têm que res peitar a dignidade humana e proteger a integridade c ultural de s eus
c lientes." [104]

13.2. P ara uma Relaç ão Étic a c om os E mpregados

Como não poderia deix ar de s er, é c laro, os interes s es e a dignidade dos empregados dev em s er
pres erv ados . Leis inger e S c hmitt ex plic am tais princ ípios: [105]

- " c riar e c ons erv ar v agas de trabalho, bem c omo pagar s alários que melhorem as c ondiç ões de
v ida dos empregados ;

- c uidar de um c lima e de c ondiç ões de trabalho que c orres pondam à dignidade humana e pr oteger
os empregados de doenç as e ferimentos evitáv eis ;

- c omunic ar -s e c om s inc eridade c om os emp regados , c ompartilhar as informaç ões c om eles


abertamente, s em outras limitaç ões que não s ejam os dev eres legais e c ompetitiv os de sigilo;

- es tar franc ament e abertas às idéias, propos tas, s uges tões , perguntas e queix as dos empregado s ,
ouv i -los, e, quando pos s ív el, agir de ac ordo c om is to;

- negoc iar fielmente c om os empregados e s uas as s oc iaç ões quando oc orrerem c onflitos ;

- não admitir nem pratic ar dis c rim inaç ão por raz ão de s ex o, idade, raç a, religião e outras
diferenç as ;

- c oloc ar os empregados da melhor maneira pos s ív el de ac ordo c om s uas c apac idades , fav orec er
s uas aptidões , bem c omo enc orajá -los e apoiá -los , a fim de que ampliem s eus c onhec imentos e
h abilidades ;

- em todas as dec is ões da e mpres a ex erc er s eu dev er de c uidado para c o m os empregados , be m


c omo tratar c om s eriedade e s ens ibilidade os grandes problemas s oc iais do des emprego."
(LE ISINGE R & S CHMITT, 2001, p. 194 -195, grifos nos s os )
13.3 P ara uma Relaç ão É tic a c om os Inv es tidores

De ac ordo c om Leis inger e S c hmitt, a empres a dev e c orres ponder à c onfianç a que os inv estidores
nela depos itaram, tendo o dev er de:

- " gerir os negóc ios de uma maneira profiss ional, c uidados a e inov adora, que garanta a
rentabilidade do c apital empregado pelos inv es tidor es ;

- c ons erv ar e ampliar os bens de s eus inv es tidores ;

- ter uma c omunic aç ão franc a c om os inv estidores e informá -los s obre todos os as s untos
importantes que, por raz ões legais ou de c onc orrênc ia, não dev am permanec er s ob s igilo;

- res peitar as perguntas , propostas , queix as e res oluç ões formais dos inv es tidores , e atender a
s uas nec es s idades na medida do pos s ív el." (LE IS INGE R & S CHMITT, 2001, p. 195)
13.4. P ara uma Relaç ão Étic a c om Fornec edores e P ar c eiros
O res peito e a c onfianç a mútua dev e m pautar as relaç ões da empres a c o m s eus fornec edores e
parc eiros . P ara que is s o s e mantenha, Leisinger e S c hmitt rec omendam:

- " na es c olha de s eus fornec edores e parc eiros, c ui dar que eles as s umam res pons abilida des do
ponto de v ista s oc ial e ec ológic o, e que s uas c ondi ç ões de emprego res peitem a dignidade
humana;

- c ultiv ar relaç ões c ons tantes c om os fornec edo res c ujos produtos e s erv iç os s ejam c omp etitiv os
no toc ante a v alor, qualidade e s eguranç a, e também qua nto à c onfiabilidade;

- em todas as relaç ões c om erc iais c om fornec edores e parc eiros agir c om lis ura, c onfiabilidade e
fidelidade;

- ev itar pres s ão e des nec es s árias ques tões jurídic as , ou res olv ê -las pac ific amente;

- pres tar aos fornec edores e parc eiros informaç ões relev antes e inclui -los em proc es s os de
planejamento;

- pagar pontualmente aos fornec edores , c omo foi ac ertado." (LE ISINGE R & S CHMITT, 2001, p.
195)

13.5. P ara uma Relaç ão Étic a c om as E mpres as Conc or rentes

No B ras il, há prev is ão c ons titucional legal e c ons t itucional de defes a da c onc orrênc ia, de
regulaç ão e proteç ão da propriedade industrial e dos direitos autorais. A liás , este é um dos
prec eitos fundamentais da ec onomia de merc ado, c ont ribuindo para a produç ão de riquez a e
dis tri buiç ão de bens e s erviç os . P ara c umprir es se intuito, as empres as dev em:

- " apoiar a abertura dos merc ados para o c omércio e os inv es timentos ;

- c ontribuir em toda parte para a criaç ão e c ons erv aç ão de uma ec onomia de merc a do
ec ologic amente c ompatív el, f av orec endo -a e protegendo -a da obs erv aç ão de s uas regras ;

- mos trar lis ura e res peito aos c onc orrentes no mer c ado;

- não ir atrás de pagamentos ou fav ores ques tionáv eis , nem pres tar tais fav ores , vis ando c ons ervar
duv idos as v antagens de c onc orrênc ia;

- res peitar os direitos de propriedade material e intelec tual;

- não adquirir informaç ões ec onomic amente relevantes c om métodos des ones tos ou antiétic os ;

- motiv ar as empres as c onc orrentes , e outros ramos , a empregarem os mes mos princ ípios , e apoiá -
las em s eus es forç os pelo emprego das máx ima s da ét ic a empres arial." (LE IS INGE R & S CHMITT,
2001, p. 196)
13.6. P ara uma Relaç ão Étic a c om a S ociedade

Leis inger e S c hmitt afirmam que as empres as , c omo parte de uma s oc iedade global, têm o dever
de apoiar uma refor ma para a defes a e implanta ç ão dos direitos humanos e do meio a mbiente. A s
empres as dev em ainda apoiar os legítimos interes s es dos gov ernos e as polític as que v is em o
des env olv imento humano duradouro. O ec onômic o não dev e s e s obrepôr aos interes s es s oc iais ,
nem v ic e -v ers a. A mbos dev em s er c onc iliados . " P or último, c omo bons me mbros da c omunidad e
global, c onstitui parte do dev er das empresas , s empre que pos s ív el, pos sibilitarem ajuda
c omunitária, doaç ões c aritativ as , c ontribuiç ões par a a formaç ão e a c ultura , bom c omo a
participarem das ativ idades e inic iativ as da c omuni dade e dos cidadãos ." [106]

B ibliografia
B OBB IO, Noberto. A E ra dos Direitos . 1.ª ed. Rio de J aneiro (RJ ): E ditora Campus , 1992.

E CO, Umberto; MA RTINI, Carlo Maria. E m que c rêem os que não c rêem. Traduç ão de E liana
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LE IS INGE R, K laus M. & S CHIMITT, K arin. P etrópolis (RJ ): E ditora V oz es, 2001.

MORE IRA , J oaquim Manhães . A Étic a E mpres arial no B r as il. 1.ª ed. S ão P aulo (SP ): P ioneira /
Thoms on Learning, 1999.

S ILVA , J os é A fons o da. Curs o de Direito Cons titucional P os itiv o. 19.ª ed. S ão P aulo (SP):
Malheiros E ditores , 2001.
É tic a é a parte da filos ofia, ou c iênc ia, que tem c omo objeto de es tudo a moral, c onc eituou o
mex ic ano A dolfo S ánc hez V áz ques . No entanto, não há unanimidade entre os autores. P orém, étic a
é reflex ão teóric a, algo que v ai além da prátic a moral, a des c ons tr ói, funda -a, reformula -a, ex plic a
J os é Renato Nalini. No s entido normativ o, salienta Nalini, a étic a é normativ a, porém não
legis lativ a, pois tem a funç ão c rític a das normas .

P or relac ionar -s e c om v alores , a étic a é ax iológic a, ou s eja, uma teoria dos v alores ± daquilo que
é o bem. A qui s e v erific a um impas s e. Diante do dev er e do v alor, qual alternativ a s eguir: o que é
o c orreto s egundo a norma moral ou jurídic a, ou o que é c ons iderado c omo v alios o (c onduta,
riquez a, belez a, entre outros )?

E nfim, as s u nto para polêmic as . Ainda mais ex is tem dois pos ic ionamentos c ontrários, c om relaç ão à
perenidade ou univ ers alidade das normas mora is . A c orrente relativ ista e empirista c ons idera a
norma é mutáv el, c onv enc ional e s ubjetiv a. Ou seja, v aria c onforme a époc a e o lugar, s endo fruto
da v ontade humana. P or outro lado, a c orrente abs olutista e aprioris ta prega uma moral univ ers al e
objetiv a, ens ina Nalini (p. 23).

A s doutrinas morais s ão agrupadas em quatro denominaç ões , ou es c olas étic as, no entendimento
de E dua rdo Garc ía May nez , c orroborado por Nalini: a -) étic a empíric a; b -) étic a de bens ; c -) étic a
formal; d -) étic a v alorativ a.

É TICA E MP ÍRICA

De ac ordo c om a c onc eituaç ão de Im manuel K ant, a filos ofia empíric a é bas eada na ex periênc ia, já
a pura em princ ípios rac ionais . ³Singelamente, étic a empíric a é aquela que pretende deriv ar s eus
princ ípios da mera obs erv aç ão dos fatos ´, narra Nalini (p. 27). E nfatiz a -s e o ex ame da v ida moral,
c omo o ho mem realmente é, em s eu es tado natural. Mas , c ada c abeç a, uma s entenç a. A í, res v ala-
s e no relativis mo e no s ubjetivis mo moral.

No s ubjetiv is mo moral, c ada um delineia o padrã o de c onduta qu e lhe é mais adequado, originando
o s ubjetiv is mo étic o individualis ta e o s ubjetivis mo étic o s oc ial (antropologis mo ou s ubjetivismo
étic o es pec ífic o). ³E m outras palavras , s e nada é abs olutamente bom, o c aminho aberto é proc urar
c ondutas que pareç am mais benéfic as à s oc iedade e ao indiv íduo, faz endo do útil o prec eito moral
s upremo´, fala Nalini (p. 28).

A s três v ertentes da étic a empíric a s ão: a -) étic a anarquis ta, b -) étic a utilitaris ta, c -) étic a
c etic ista.

É TICA E MP ÍRICA A NA RQUIS TA

A narquis mo, do grego, s ignific a s em gov erno. A liberdade inc ondic ional humana é a tônic a des s a
es c ola. Repudia as normas e os v alores , as s im, c omenta Nali ni (p. 28): ³Direito, moral
c onv enc ionalis mos s ociais , religião, tudo c ons titui ex igência arbitrária, nas c ida da ignorância, da
maldade e do medo. A s s im, as leis não s ão legítimas , s ejam morais , s ejam jurídic as. Elas
des res peitam a autonomia da v ontade de c ada um. A únic a regra a s er s eguida é a determinação
indiv idual.´

S e o que v ale é a v ontade humana, liv re de c erc eamentos , então, predomina a v ontade do mais
forte, que s ubmetem os mais frac os a s i. Há tam bém u m paralelo inev itáv el entre o anarquis mo e o
hedonis mo, já que apregoa a bus c a do praz er e a fuga da dor. Mas e s e a bus c a do prazer
c ons tituir -s e em faz er bem ao outro? O egoís mo v es t e a c apa do altruís mo.
Frequentemente, o anarquis mo c ombate as organiz aç ões s oc iais , principalmente, o E s tado. Os
a narquis tas individualistas não s ão credores da v iolênc ia. A c reditam que a raz ão progride a pas sos
lentos e gradativ os a uma forma de organiz aç ão s oc i al em que o c erne da ques tão é a liberdade
abs oluta.

Os anarquis tas c omunistas , por s ua v ez, pregam que, s e nec es s ário, far -s e-á o us o da v iolência,
que enc ontra legitimidade na rec uperaç ão da v erdadeira liberdade, principalmente c om o fim da
propriedade priv ada.

E goís mo ao ex tremo? Não é bem as s im. Trata -s e de uma v ida em c ooperaç ão e as s oc iação
es pontâneas , v is ando a ex c elênc ia no des en v olv iment o da indiv idualidade. A narquistas s ão
diferentes dos individualistas . E s tes propõem uma l iv re as s oc iaç ão de egoístas , diz Nalini (p. 29),
s em demoniz ar a propriedade priv ada, porém, demoniz ando o as s oc iativ is mo.

É TICA E MP IRIS TA UTILITA RIS TA

O utilitaris mo é uma doutrina que s e originou na Inglaterra, tendo c omo princ ipais autores J eremy
B entham (1748 -1832) e J ohn Stuart Mill (1806 -1873). A liás , B entham foi o mes tre de S tuart Mill,
que lanç ou as bas es da democ rac ia li beral. Também c on hec ido c omo m oralis mo britânic o ou
pens amento radic al, liberalis mo c lás s ic o ou pos itivis mo inglês , o utilitaris mo influencia o
pens amento étic o -filos ófic o, ec onômic o e jurídic o por pelo menos dois s éc ulos . De ac ordo c om
Luis A lberto P elus o (p. 202), foi a primeira es c ola filos ófic a, em s entido es trito, que s e originou no
mundo de fala ingles a. E s s a doutrina é muito atual e s eus argumentos s ão utiliz ados
frequentemente nos proc es s os dec is órios , s eja no âmbito partic ular, militar ou polític o, justamente
por s e enfoc ar mais nas c ons equênc ias . Trata -s e de uma teoria étic a c ons equenc ialis ta, na qual se
definem anteriormente os bens a s erem atingidos ou protegidos . E o Direito s eria o meio de
c ons egui -los . Uma c urios idade. E s s a doutrina também ins pirou, quiç á, programas c ontemporâne os
de entretenimento, na linha dos reality s hows , c omo o famigerado ³B ig Brother´. Qualquer
s emelhanç a c om o P anoptic on de B entham poderá não s er mera s emelhanç a.

B entham: rev oluc ionário e c ons erv ador

B entham nas c eu em Londres , um dos s eis filhos de um adv ogado de renome e c orretor de imóv eis .
Quando tinha 12 anos , entrou no Queen¶s College, em Ox ford, s agrando -s e bac harel em
Humanidades em 1763. E s tudou numa das es c olas de Direito de Londres (Inn¶s of Court), a
Linc oln¶s Inn, mas v oltou a Ox ford, para es tudar c om S ir William B lac k stone, a quem c riticou
s ev eramente pela s ua teoria dos Direitos Naturais , a qual, para B entham, era irracional. S eguiu a
tradiç ão empiris ta de J ohn Loc k e e de Dav id Hume. Não quis adv ogar, pois dec epc ionou -s e c om a
maneira c omo era c onduz ida a prátic a da profis são naquela époc a.
E m 1766, tornou -s e mes tre em Humanidades e retornou para Londres . E ra um reformador político e
inv entor. E m s uas aulas , P elus o atribui a inv enç ão de u m protóti po inc ipiente de geladeira a
B entham. A pes ar dos av anç os ³radic ais ´, B entham também era um c ons erv ador. Tinha preoc upação
em pres erv ar a s oc iedade ingles a do furor q ue oc orr eu na Franç a e nos E s tados Unidos , a
rev oluç ão.
E s c rev eu v ários liv ros c omo ³Fragme nto s obre o gov erno´ e ³Introduç ão aos princ ípios da moral e
da legis laç ão´. B entham c riou a palavra ³deontologia´, ou s eja, o c onjunto de princ ípios morais e
legais aplic ados às ativ idades profis s ionais. A ex pres s ão Direito Internac ional também é uma
c ria ç ão atribuída a B entham, antes utiliz av a -s e o t ermo ³Direito das Gentes ´.
Tornou -s e uma pes s oa influente e s eu grupo ajudou a fundar a Univ ers idade de Londres . Morreu
aos 84 anos , em 1832. S eu c adáv er foi embals amado e dis pos to na Univ ers idade de Londres ( ver
foto). Toda v ez que o c olegiado s e agrega, o c adáv er de B entham partic ipa da reunião.

O princ ípio da utilidade


P ara Way ne Morris on (p. 222), o utilitaris mo de B entham foi uma tentativ a de s e c riar uma c iência
objetiv a da s oc iedade e da polític a. P ens av a-s e em s e liv rar do s ubjetivis mo, tal c omo da
influência religios a e dos ac identes his tóric os. Interes s e e raz ão s e c ombinav am e o ponto
arquimediano (de equilíbrio) es taria na própria nat urez a: o princípio da utilidade.
O franc ês Helv etius es c rev eu que o ho mem é go v ernado pelo praz er e pela dor. E s s a foi a bas e do
liv ro ³Introduç ão aos princ ípios da moral e da legi s laç ão´. E s c rev eu B entham: ³A naturez a c olocou
a humanidade s ob o domínio de dois s enhores s oberanos , a dor e o praz er. S ó a eles c ompete
ind ic ar o que dev emos faz er, as s im c omo determinar o que faremos . A s eu trono es tão atrelados ,
por um lado, o c ritério que diferencia o c erto do errado, e, por outro, a c adeia das c aus as e dos
efeitos .´
O s er humano bus c a o praz er e foge da dor. E es te s eria o embas amento para u ma filos ofia
jurídic a c rític a e também c omo modelo para o legis l ador hábil c ontrolar e dirigir o c omportamento
s oc ial. ³Nes s e s entido, ele defendeu a idéia de que o princ ípio que rege tanto as aç ões individuais
quanto as s oc iais é: µa b us c a da felic idade para o maior núm ero de pes s oas ¶. E s s e princ ípio da
utilidade daria c ons is tência a uma É tic a c apaz de produz ir o melhor dos indiv íduos e a melhor d as
c oletividades . P ortanto, a bus c a do praz er pela fuga da dor é o princ ípio motiv ador da a ç ão
humana, tanto indiv idual quanto c oletiv a. Dis so dec orria uma É tic a para indivíduos racionais ,
c apaz es de bus c ar s eus próprios interes s es , amantes da v ida. E nfim, uma É tic a c om todos os
ingredientes da v is ão Iluminista do mundo qu e teria c arac teriz ado o s s éc ulos XV II e XV III´,
as s inala P elus o (p. 13 -14).
P elus o des crev e os princípios (P) e as regras (R) morais do utilitaris mo de B entham (p. 24 -25):

³I ± Princ ípio da Utilidade:


P 1. Todo s er humano bus c a s empre maior praz er pos s í v el.
R1. B us que s empre o m aior praz er e fuja da dor.
II ± Princ ípio da Identidade de Interes s es :
P 2. O fim da aç ão humana é a maior felicidade de todos aqueles c ujos interes s es es tão em jogo.
Obrigaç ão e interes s e estão ligados por princípio.
R2. Aja de forma que s ua aç ão pos s a s er modelo para os outros .
III ± P rincípio da E c onomia dos P raz eres:
P 3. A utilidade das c ois as é mens uráv el e a des c oberta da aç ão apropriada para c ada s ituaç ão é
uma ques tão de aritimétic a moral.
R3. Faç a o c álc ulo dos praz eres e das dores e defina o bem em termos genéric os .
IV ± P rincípio das V ariáv eis Conc orrentes :
P 4. O c álc ulo moral depende da identificaç ão do v al or aritmétic o de s ete v ariáv eis :
Intens idade/Duraç ão/Certez a/P roximidade/Fec undidade/P urez a/E x tens ão.
R4. Proc ure max imiz ar a objetividade e a ex atidão de s uas av aliaç ões morais.
V ± Princ ípio da Comis eraç ão:
P 5. O s ofrimento é s empre um mal. Ele s ó e admis s ív el para evitar um s ofrimento maior.
R5. Alivie o s ofrimento alheio.
V I ± P rincípio da A s s imetria:
P 6. Praz er e dor pos s uem v alores as s imétric os , pois a eliminaç ão da dor s empre agrega praz er.
R6. E s c olha s empre a aç ão que res ulta na maior quantidade de praz er, agregando o praz er da
eliminaç ão de s ofrimento.´

O papel do Direito

P ara B entham, étic a, moral e Direito eram a mes ma c ois a. Pretendia iniciar uma nov a c iênc ia do
Direito, tal c omo reformar a s oc iedade, tornando -a moderna e dis c iplinada. ³Contrariamente aos
juristas mais des tac ados des s e período, B entham def endeu a idéia de que as leis s ão rev ogáv eis e
aperfeiç oáv eis´, s alienta P elus o (p. 19).
P orém, a medida também era c ons erv adora: ³Bentham s empre temeu as rev oluç ões que, em s eu
tempo, v iu v arrer o c ontinente europeu e as A méric as . A ordem e a s eguranç a eram preoc upaç ões
c entrais , as s im c omo era c ruc ial poder c ontar c om es s a p rev is ibilidade da interaç ão e da c ertez a
do res ultado. O c omérc io ex ige um s is tema jurídic o que faç a c umprir as promes s as e as s egure a s
ex pec tativ as legítimas ´, narra Morris on (p. 225). Também fris a P elus o (p. 209): ³E duc aç ão e
dis c iplina s oc ial s ão as dua s pilas tras que garantem a s oc iedade e a c iv iliz aç ão. A s oc iedade é um
s is tema de rec ompens as e puniç ões , e a tarefa do gov erno c ons is te em garantir a estrutura para a
implementaç ão das puniç ões e as c ondiç ões para que os indivíduos pos s am des frutar das
re c ompens as que s e s eguem de s eus próprios esforç os .´
O Direito, então ± para B entham -, as s ume importânc ia de des taque. O legis lativ o s ó dev e elaborar
e aprov ar leis s egundo o princ ípio da utilidade. A s leis dev em s er produz idas para aumentar a
felicidade d o maior número de pes s oas . A s leis poderiam s er princ ipais (s e dirigidas aos
c idadãos ), ou s ubs idiárias (para as autoridades faz erem c umprir as primeiras). ³Contudo, o
utilitaris mo não s e es gota nes s a É tic a do s uces s o. Ele também trans forma em motiv o étic o o
frac as s o. P ois que, em s eu projeto, s e o princ ípio da aç ão huma na é a bus c a do praz er e a
eliminaç ão da dor, ele estabelec e um vínc ulo c aus al entre o praz er do agente individual e o
s ofrimento que pos s a, de alguma forma, es tar as s oc i ado à s ua aç ão. A s si m, o agente moral é
res pons áv el pela eliminaç ão de todas as formas de s ofrimento identific adas na c onviv ênc ia s ocial.
A eliminaç ão do s ofrimento alheio s e torna motivo da aç ão moral de c ada u m´, c omenta P elus o (p.
14).

A v erdadeira funç ão do Direito s eria dis ciplinar as pes s oas , c omo ens ina P elus o (p. 209): ³Ness e
s entido a educ aç ão e a dis c iplina s oc ial s ão ingredientes indis pens áv eis para o func ionamento da
s oc iedade. P es s oas s em educ aç ão frequentemente bus c am a oportunidade de s e aprov eitar das
rec ompen s as dev idas a outros , ou ainda proc edem s e m lev ar em c ons ideraç ão os v erdadeiros
efeitos , em termos de praz er e de dor, de s ua c onduta pes s oal.´
Houv e também es pec ial atenç ão às s anç ões e puniç ões , já que o praz er e a dor atribuem
v erdadeiros v alores aos a tos e também s ão c aus as ef ic ientes do c omportamento, ex plic a Morrison
(p. 227). P aul S mith c omplementa: ³P ara B entham, portanto, a utilidade (praz er ou felicidade)
define o benefíc io. E s s a c onc epç ão é us ada pa ra det erminar o que é Direito. B entham propõe o
princ ípio da utilidade ou da maior felic idade. E ss e é o princ ípio que µaprov a ou não toda aç ão¶ de
ac ordo c om s ua tendênc ia de µaumentar ou diminuir¶ a felic idade. A plic a -s e a toda aç ão, apenas à s
dos indivíduos , mas também as do gov erno.´
Comenta S mith ( p. 162) que, de ac ordo c om Bentham, os elementos es s enc iais e a es trutura do
utilitaris mo s eriam a c onc epç ão do benefício c omo praz er ou felicidade (utilidade) e o Direito s eria
s imples mente algo para aumentar es s a felic idade. A aç ão c orreta s eria aquela q ue atendes s e
melhor aos des ígnios da utilidade, a maior felic idade ou o praz er para o maior número pos s ív el de
pes s oas . ³Fic a ev idente que, na formulaç ão de B entham, a interpretaç ão do princípio de utilidade
implic a a c oinc idênc ia entre o praz er partic ular e o bem públic o. Nes s e s entido, a felic idade alheia
é des ejada porque está as s ociada c om a própria feli c idade do s ujeito moral´, ex plic a P elus o (p.
18). Morris on (p. 229) c omplementa: ³O direito objetiv a aumentar a felic idade total da s ociedade ao
des es ti mular os atos que pos s am gerar más c ons equênc ias . Um ato c riminos o ou ilegal
repres entam, por definiç ão, uma prátic a c laramente prejudic ial à felicidade do c orpo s oc ial;
s omente um ato que, de alguma forma es pec ífica, inflija na prátic a algum tipo de dor ± diminuindo,
as s im, o praz er de um indiv íduo ou grupo es pecífic o ± dev e s er objeto da preoc upaç ão do Direito.´

A s s anç ões c omo forç a vinc ulatória

J us tific a -s e, as sim, que os direitos de uma min oria s ejam s ac rific ados em nome dos direitos de
uma maioria. P orém, is s o não é tão simples . É prec is o s aber c alc ular o praz er e a dor. A s s anç ões
dão forç a v inc ulatória a uma regra de c onduta o u lei, ex plic a Morris on (p. 227), e s ão, no total, de
quatro tipos : fís ic as , públic as , morais ou religios as . S eriam as s anç õ es ameaç as de dor. ³Na vida
públic a, o legislador entende que os homens s e s ent em ligados a c ertos atos s omente quando
es tes têm uma s anç ão c lara a eles as s ociados , e tal s anç ão c ons iste em alguma forma de dor se o
tipo de c onduta determinado pelo legis lad or for inf ringido pelo cidadão. P ortanto, a principal
preoc upaç ão do legislador é dec idir que formas de c omportamento tenderão a aumentar a
felicidade da s oc iedade, e quais s anç ões s erão mais pas s ív eis de produz ir es s a maior felicidade.
(...) Além dis s o, B entham adotou a pos iç ão de que, s obretudo na es fera s oc ial em que o direito
opera, a lei s ó pode punir aqueles que realmente infligiram s ofrimento, qualquer que s eja s eu
motiv o, ainda que s e admitam algumas ex c eç ões ´, as s ev era Morris on (p. 228).
A teoria d a puniç ão propos ta pelo utilitaris mo é s imples e mais c apaz de atingir s eus objetivos .
P orém, c onsiderav a B entham que a puniç ão é um mal em s i, pois ac arreta em s ofrimento e dor. S ó
s e utiliz a a puniç ão, então, no intuito de punir um mal maior. Dev e ela s e r útil para que, ao final s e
tenha mais praz er e felic idade. Des ta feita, não s e trata de retaliaç ão ou de v inganç a pura. ³A
puniç ão não dev eria s er infligida (i) quando for infundada; por ex emplo, quando inefic az , no
s entido de não s er c apaz de impedir um ato prejudic ial; (ii) quando for inefic az , no s entido de não
s er c apaz de impedir um ato prejudicial; por ex empl o, quando uma lei c riada depois do ato for
retroativ a, ou ex pos t fac to, ou quando u ma lei já ex is te mas não foi public ada. A puniç ão também
s eria inefic az quando es tiv es s em env olvidos uma c ri anç a, um louc o ou um bêbado, ainda que
B entham admitis s e que nem a infânc ia nem a intox ic aç ão eram bas es s ufic ientes para a
µimpunidade abs oluta¶. A puniç ão também não dev e s er infligida (iii) quando for imp rofíc ua ou
ex c es s iv amente oneros a, µquando os danos em que res ultas s e fos s em maiores do que aquilo c uja
oc orrênc ia impedis s e¶; (iv ) quando for des neces s ári a, µquando o dano puder s er impedido ou
interrompido s em ela, is to é, a um menor c us to¶, s obretudo no s c as os µque c ons is tem n a
dis s eminaç ão de princ ípios pernic ios os em matéria de dev er¶, uma v ez que em tais c as os a
pers uas ão é mais efic az do que a forç a´, diz Morris on (p. 230).

No programa de telev is ão ³B ig Brother´, todos os partic ipantes s ão vigiados a todo momento por
c âmeras de telev is ão. E s s a s ens aç ão de s er obs erv ado a todo momento não é nov idade. E ss e
mec anis mo que utiliz ar o olhar alheio c omo meio de s e c oibir c omportamentos foi c onc ebido por
B entham. Ele c onc ebeu um tipo de prédio c om uma arquit etura s ingular e o denominou de
P anoptic on. Nes s e imóv el, as pes s oas c onfinadas s eriam v igiadas c ons tantemente, para
c ondic ionar o c omportamento humano. Es s e modelo poderia s er aplic ado às pris ões , porém, s eria
aberto ao públic o, que, durante as v is itaç ões , ex aminaria a arquitetura e manteria a v igilânc ia
s obre os rec lus os . O franc ês Mic hel Fouc ault, no li v ro ³Vigiar e P unir´, es crev eu um c apítulo
es pec ífic o s obre o P anoptic on. V ale a pena c onferir e c omparar c om o ³Big B rother´.

É tic a empíric a c etic ista

O c étic o não c rê em c ois a alguma, s em s e det er a qualquer dogma. A liás , não julga, não toma
partido algum, de afirmar, ou negar. De c erta maneira, remonta à fras e de S óc rates: ³S ó s ei que
nada s ei.´ P orém, duv idar de tudo s empre lev a a alguma c ois a?

Nec es s ário, então, diferenc iar a dúv ida metódica da dúv ida s is temátic a. Como método a dúv ida é
uma s us pens ão do juíz o transitória, no intuito de s e atingir a c ertez a. Ou s eja, é algo normal que
fec unda a reflex ão e a pes quis a, para s e tomar as dec is ões c orretas , e não ac reditar em tudo que
s e c oloc a piamente em s eu c aminho, as meras aparênc ias . É uma dúv ida s audáv el, em bus c a de
um índic e maior de c ertez a. J á a dúv ida s is te mátic a é c arac terís tic a dos que tudo duv idam, e
s empre.

O c etic is mo abs oluto é c omplic ado. Os c étic os, aliás , v erific am a nec es sidade de uma moral e
alguns v alores : o v alios o s e enc ontra na naturez a, us ar a moderaç ão para s atisfaz er as
nec es s idades humanas , rec onhec er as leis e c o s tumes que realmente mereç am is s o e dignific ar o
trabalho, diz Nalini (p. 36).
O pos itiv is mo lógic o, do Círc ulo de Viena, tem um c ritério empíric o de s ignfic ado, no qual um
enunc iado não tem s ignific ado s e não pode s er v erif ic ado empiric amente, por qualquer um dos
s entidos . A s s im, muit os des s es juíz os de v alor s eri am apenas ex pres s ões de emoç ões . Han s
K els en, jus filós ofo, reforç ou es s e entendimento, ao s eparar radic almente moral de Direito. S ó pode
s er aprec iado o que é objetiv o, a norma pos ta, c riada pelo Es tado. O res to é s ubjetiv is mo e não
tem v alidade.

É TICA E MP ÍRICA S UB J E TIVIS TA

No s ubjetivis mo étic o, o indivíduo é a fonte da c onduta moral. A étic a s ubjetivis ta c onstitui,


as s ev era Nalini (p. 39), a forma mais c omum de étic a empíric a, já que todas as c ois as s ão
obs erv adas pelo pont o de v is ta pes s oal. A dota -s e a c onduta mais adequada c om a es c ala de
v alores que o próprio s ujeito c ons truiu. P or is s o mes mo, s e diz que a origem do s ubjetivis mo es tá
no s ofista P rotágoras de A bdera: ³O homem é a medida de todas as c ois as .´

Nalini (p. 40) tec e uma pertinente c rític a e que c orrobora c om o s ubjetivis mo individualis ta: ³Cada
homem é a medida do bem e do mal e s eu próprio parâmetro. Viv e -s e uma époc a em que não é
difícil demons trar o alc anc e des s a c ompreens ão do mundo. Interes s ante obs erv ar qu e o
s ubjetivis mo não s ó permanec e na pós -modernidade, c omo s e es praiou em todos os s etores da
ex is tênc ia humana. (...) Compreender o ts unami de s ubjetiv is mo que tomou c onta do pens amento
univ ers al pode auxiliar no enfrentamento do µv ale -t udo¶ c ontemporâneo , em que os temas os mais
div ers os , des de os aparentemente s ingelos até os mais c omplex os , adquirem v ers ões as m ais
dís pares , a depender do ângulo de v is ão de quem os analis e.´

E ntretanto, também ex is te o s ubjetivis mo s oc ial ou es pec ífic o. No s ubjetivis m o étic o s oc ial, bus ca -
s e o c ons ens o, c omo uma imens a enquete de ³Big Brot her´. B us c a -s e objetividade por meio do
c ons ens o, bas tando a v oz da maioria. Contudo, muito c uidado nes s a hora. O s ens o c omum e os
prec onc eitos batem forte nes s e momento, o q u e pode l ev ar a c ons eq üênc ias funes tas , c omo a
pers eguiç ão de minorias étnic as ou a c onflitos de r eligião.

O c ritério utilidade é o parâmetro de objetiv idade do s ubjetivis mo étic o es pec ífic o. ³E s s a reflexão
s e faz também em relaç ão ao v erdadeiro, ao bom, ao jus to. S e algo é v erdadeiro para um também
é v erdadeiro para outrem, ou não é v erdadeiro. E x iste uma relaç ão de identidade na afirmaç ão da
mes ma v erdade. A s s im, o v erdadeiro é o s ocialmente v erdadeiro, o bom é o s oc ialmente bom e o
jus to, o s oc ialmente justo´, e ns ina Nalini (p. 42).

É TICA DE B E NS

A étic a de bens , dos fins , ou teleológic a, é c ontrária ao relativis mo. P ortanto, es tabelec e um v alor
fundamental, ou ³télos ´, um fim último que é es tabelec ido c omo parâmetro ou meta a s er atingida
pelo s er humano. ³O s upremo bem da v ida c o ns is tirá na realiz aç ão do fim própria da criatura
humana. E s s e objetiv o, na hierarquia dos bens , é o que s e c hama bem s upremo´, fala Nalini (p.
43). E o que é o bem s upremo? Nalini (p. 44) arremata: ³P ara s e estabelec er a hierarquia do s fins ,
bas ta v erific ar qual deles pode s er, s imultaneament e, fim e meio para a obtenç ão d e outro fim.
Quando alguém s e defronta c om um bem que nã o pode s er meio de qualquer outro, então es s e é o
s eu bem s upremo.
É tic a dos bens: eudemonis mo, idealis mo e hedonis mo

Há três matriz es fundamentais na étic a dos bens , o eudemonis mo, o idealis mo étic o e o
hedonis mo. A primoram -s e as v irtudes para s e atingir o bem. E udemonia, em grego, s ignific a
felicidade. E udêmones eram habitantes da A rábia Feliz, narra Nalini (p. 44): ³O eudemonismo
av alia c omo etic amente pos itiv as todas as atitudes que aprox imem o home m daquilo que e le
c ons idera felicidade. Incluem -s e nes s a c ompreens ão as doutrinas que faz em da v entura o v alor
s upremo. P artem do pres s uposto de que a tendênc ia à felic idade é inata ao homem. (...) Todos os
outros bens da v ida podem s er meios para a obt enç ão daquele que é o eternamente apetec ív el em
s i, ins us c etív el de s er c onv erter em meio para uma finalidade que fos s e ainda s uperior a ela.´

P ratic ar o bem é a f inalidade do s er humano, de ac ordo c om o idealis mo. O idealis ta, ou es tóic o,
bus c a s er bom, o que pode c oinc idir, ou não, c om s er feliz . A v irtude é um fim nela mes ma, e não
um meio. ³Impõe -s e a c riatura s er v irtuos a, ainda que dis s o não s e ex traia praz er algum. A his tória
do homem es tá repleta de modelos idealis tas. No pas s ado e mes mo no pres ente, ainda podem s er
apontadas figuras que oferec em o s eu es forç o, o s eu talento e a s ua dedic aç ão a uma c aus a´,
s alienta Nalini (p. 44).

O bem s upremo d o hedonis mo é o praz er, s eja na s ua fac eta s ens ual, do deleite, da ativ idade
intelectual ou artís tic a. Nada mais atual que o hedonis mo, a bus c a do praz er des enfreado, s em s e
preoc upar nec es s ariamente c om as c ons eqüên c ias ou c om o bem -es tar ou c ons ideraç ão c om o
outro. Há v árias doutrinas as s oc iadas c om o hedonis mo.

E s s as três v ertentes podem s e mis turar, apregoa Nalini (p. 45): ³Há o eudemonis mo idealista, para
o qual a felicidade é o fim s upremo, mas o c aminho únic o a atingi -la é a v irtude. O eudemonis mo
hedonis ta el egeu a felicidade c omo fim, mas o praz er c omo meio.´

É tic a dos bens: S óc rates, P latão e A ris tóteles

No iníc io da Filos ofia, o foc o era na origem da nat urez a, do mundo e, por reflex o, as relaç ões
entre os homens . P orém, c om o mov imento dos s ofis tas no s éc ulo V antes de Cris to, houv e uma
ruptura, no qual o home m é c oloc ado no c e ntro das dis c us s ões filos ófic as . Os s ofis tas ± s ábios ±
foram os primeiros profes s ores , mas não formaram uma es c ola propriamente dita, já que v ários dos
s eus pens amentos div ergiam entre si.
Com uma relativ a es tabiliz aç ão polític a da Grécia A ntiga (s éc ulo V a.C.), no c hamado S éc ulo de
P éric les , não hav ia tanta nec es s idade de c ultiv ar as v irtudes (arete) dos guerreiros. Nes s a época,
flores c eram as artes , a mitologia, a filos ofia, a l iteratura, a his tória e a polític a. Os fatores que
c ontribuíram para is s o, s egundo B ittar e A lmeida (p. 92), foram a partic ipaç ão popular nos
ins trumentos de poder, principalmente c om a es truturaç ão da democ rac ia de Atenas , a ex pans ão
das fronteiras gregas , ac úmulo de riquez as e intens ific aç ão do c omérc io, inc lusiv e c om outros
pov os , e a utiliz aç ão do ³falar bem´ para as s emblear, além de s e ter c onhecimentos gerais.

Os s ofis tas e a democ rac ia grega

Foram os s ofis tas uma res pos ta às nec es s idades da democ ra c ia grega, ou s eja, ex erc er a
c idadania por meio do dis c urs o. ³Is s o não há que s e negar c omo dado c omum a todos os s ofis tas :
s ão eles homens dotados de do mínio da palav ra, e que ens inam a s eus auditórios (auditórios
abertos ou c írc ulos de iniciados ) a arte da retóric a, c om v is ta no inc remento da arte pers uas iva
(peitho)´, es crev em Bittar e A s sis (p. 93).
O domínio da arte retóric a, por parte de homens dot ados da téc nic a (tec hné) da utiliz aç ão das
palav ras , ex plic am Bittar e Almeida (p. 94), era nec es s ário n ão s omente na praç a públic a (agorá),
mas també m para atuar perante os magis trados , na tr ibuna: ³A s palav ras tornaram -s e o elemento
primordial para a definiç ão do jus to e do injus to. A téc nic a argumentativ a fac ulta ao orador, por
mais difíc il que s eja s ua c aus a jurídic a, s uplantar as barreiras dos prec onc eitos s obre o jus to e o
injus to e demons trar aquilo que aos olhos v ulgares não é imediatamente v isív el.´
Talv ez s e tenha noç ão, v ulgarmente, de que os s ofistas ± muitos deles estrangeiros - formaram
uma únic a es c ola, por es tarem no c enário das polêmi c as c om S óc rates (469 -399 a.C) e seu
dis c ípulo P latão (427 -347 a.C.). ³Os s ofistas s empr e foram mal interpretados por c aus a da s
c rític as que a eles fiz eram S óc rates e P latão. A imagem d e c erta forma c aric atural da s ofístic a tem
s ido reelaborada na tentativ a de res gatar a s ua v er dadeira importânc ia´, as s inalam Maria Lúc ia de
A rruda Aranha e Maria Helena P ires Martins (p. 120) .
S óc rates ac us ou os s ofis tas de ³pros tituiç ão´ s impl es mente porque es tes ens inav am para aqu eles
que pudes s em pagá -los , s endo os primeiros ³profes s ores ´, na c onc epç ão atual da palavra, ens inam
A ranha e Martins (p. 120): ³Cabe aqui um reparo: na Gréc ia A ntiga, apenas a aris toc rac ia se
oc upav a c om o trabalho intelectual, pois goz av a do óc io, ou s ej a, da dis ponibilidade de tempo, já
que o trabalho manual, de s ubsis tência, era ocupaç ão de es c rav os . Ora, os s ofis tas, geralmente
pertenc entes à c las s e média, faz em das aulas s eu of íc io, por não s erem s ufic ientemente ric os para
s e darem ao lux o de filos ofa rem.´
No entanto, os s ofis tas s istematiz aram o ens ino, formando um c urríc ulo, ex plic am A ranha e Martins
(p. 120): ³gramátic a (da qual s ão inic iadores), ret óric a e dialétic a; por influência dos pitagóric os ,
des env olv em a aritmétic a, a geometria, a astronomi a e a mús ic a.´
³O homem é a medida de todas as c ois as ´, dis se o s ofis ta P rotágoras de A bdera (485 -411 a.C.).
A s s im, o s er humano pas s a a s er o c entro das atenç ões , c omo ex plic am Carlos E duardo B ianc a
B ittar e Guilherme de A s s is Almeida (p. 90): ³É es s e o c ontexto de flores c imento do mov imento
s ofís tic o, muito mais ligado que es tá, portanto, à dis c us s ão de interes s es c omunitários , a
dis c urs os e eloc uç ões públic as , à manifes taç ão e à deliberaç ão em au diênc ias polític as, ao
c onv enc imento dos pares , ao alc anc e da notoriedade no es paç o da praç a públic a, à demons tração
pelo rac iocínio dos ardis do homem em interaç ão s oc ial.´
Os s ofis tas foram os primeiros a estabelec er uma di ferenç a entre naturez a (phy s is ) e lei humana
(nomos ), s em, no entanto, c ontrapô -las , ex plic a Flamarion Tav ares Leite (p. 23), na etapa original.
O jus to e o injus to, para os s ofistas , não s e origi nará na naturez a das c ois as , mas nas opiniões e
c onv enç ões humanas , na forma da lei (nomos ), oriunda da s ua opinião (dox a). E m s emelhanç a ao
que v ers a o pos itiv is mo jurídic o atual, s egundo eles , o jus to é o que es tá s egundo a lei, e injus to o
que a c ontraria. Numa s egunda etapa, os s ofis tas af irmariam que a naturez a s e opõe à lei humana.
³Nes ta, enc ontra -s e fundada a igualdade natural de todos os homens ; naquela, s ua des igualdade
antinatural´, ens ina Leite (p. 23).
Com os s ofis tas , opos itores radic ais da tradição, s urgia o relativ o, o prov áv el, o pos s ív el, o
ins táv el, o c onv enc ional, afirmam Bittar e A lmeida (p. 94) Nes s a s egunda etapa, de predomínio da
lei humana (nomos ) s obre a naturez a, os s ofis tas optaram pela prev alênc ia des ta, que libertaria os
humanos dos laç os de barbárie. A deliberaç ão s obre o c onteúdo das leis não teria origem na
naturez a ou na div indade (nem mes mo c o m bas e nas deus as da jus tiç a , Thémis e Dik é), mas na
v ontade humana. A jus tiç a é definida por critérios humanos , e não naturais . S e fos s em naturais ,
todas as leis s eriam iguais. P ode parec er democ ráti c o tudo is s o. Mas atenç ão. A lguns c ultores da
s ofís tic a as s inalav am, c onforme B ittar e Almeida (p. 96), que ³os homens dev eriam s ub meter -s e ao
poder daquele que as c endes s e ao c ontrole da c idade por meio da forç a; a jus tiç a é v antagem para
aquele que domina e não para aquele que é dominado (Tras ímac o)´.
O c onc eito de jus tiç a, para os s ofis tas , é igualado ao de lei. J us to é o que es tá na lei, o que foi
dito pelo legislador. ³E m outras palavras , a mes ma inc ons tânc ia da legalidade (o que é lei hoje
poderá não s er a manhã) pas s a a s er aplic ada à jus ti ç a (o que é jus to hoje poderá não s er
amanhã) . Nada do que s e pode diz er abs oluto (imutáv el, perene, eterno, inc ontes táv el...) é ac eito
pela s ofístic a. E s tá aberto c ampo para o relativ ismo da jus tiç a´, falam B ittar e A lmeida (p. 96).

S óc rates e o nas cimento da étic a

³S ó s ei que nada s ei´. O autor d a fras e, S ócrates ± um opos itor ferrenho aos s ofis tas - deix ou uma
marc a indis c utív el no modo de s e pens ar no Oc idente. Figura polêmic a, por não ter deix ado
es c ritos, muitos diz em, inc lusiv e, que não ex is tiu, foi apenas um pers onagem que teria s ido
inv enta do por s eus s upos tos alunos Platão e Xenofonte. Foi, então, principalmente por meio dos
es c ritos des s es dois , que o legado de S óc rates não perec eu. C onv iv endo na E ra de P éric les
(s éc ulo V a.C.), de apogeu da Gréc ia, junto ao pov o nas praç as públic as (agorá ), da cidade (pólis )
de A tenas , S óc rates s ituou s ua doutrina na naturez a humana e s eus des dobramentos étic o -s oc iais .
V ia na prudênc ia (phónesis ) uma v irtude es s enc ial para a ordem s oc ial, vis ando uma educ aç ão
c idadã.
De origem s imples , S óc rates era filho d e um es cultor e de uma parteira. E s tudou literatura, mús ica,
ginás tic a, retóric a, geometria e astronomia, tal c omo as obras dos outros filós ofos e também dos
s ofis tas, c onta A ndreas Dros dek (p. 15). E nquanto c ons c rito no s erviç o militar, lutou c om brav ura
pela s ua c idade. P artic ipou por muito tempo da A s s embléia de A tenas, mas não apoiav a normas
que c ons iderav a injus tas. ³Não apoiou, por ex emplo, o gov erno dos Trinta Tiranos , no ano 404, que
mandav a para a pris ão, por simples c apric ho, v ítimas inoc entes . P r ov av elmente, s ó foi s alv o da
fúria dos tiranos graç as à c ontrarrev oluç ão, ocorrida pouc o tempo depois ´, s alienta Dros dek (p.
16).
S óc rates tinha um método bas eado na ironia e n a maiêutic a. Na primeira fas e do método, a ironia,
S óc rates ± diante de outra pe s s oa que diz ia c onhec er um as s unto ± diz ia que nada s abia. E le s ó
faz ia perguntas , até des montar o outro, que ac abav a por demons trar, na v erdade, s ua ignorânc ia.
Na s egunda fas e, a maiêutic a (parto em grego, em homenage m à s ua mãe Fenareta), S óc rates
dav a luz às nov as idéias, c ons truindo nov os c onc eit os , mes mo que não s e c hegas s e a c onc lus ões
definitiv as . Indagav a s obre o s entido dos c ostumes e as dis pos iç ões de c aráter dos ateniens es ,
dirigindo -s e à s oc iedade e ao indivíduo.
A profes s ora Marilena Chauí (p. 311) é c ontundente s obre o método de S óc rates : ³A s perguntas
s oc rátic as terminav am s empre por rev elar que os ateniens es res pondiam s em pens ar no que
diz iam. Repetiam o que lhes fora ens inado desde a i nfânc ia. Como c ada um hav ia interpretado à
s ua maneira o que aprendera, era c o mum, q u ando um grupo c onv ers av a c o m o filós ofo, uma
pergunta rec eber res pos tas diferentes e c ontraditórias . A pós c erto tempo de c onv ers a c o m
S óc rates, um ateniens e v ia -s e diante de duas alternativ as : ou z angar -s e c om a impertinênc ia do
filós ofo perguntador e ir embora irritado, ou rec onhec er que não s abia o que imaginav a s aber,
dis pondo -s e a c omeç ar, na c ompanhia de S óc rates , a bus c a filos ófic a da virtude e do bem.´
Dev ido a es s a atitude, ao mes mo tempo e m que arregimentav a s eguidores , S óc rates tev e um
grande número de inimigos, que, posteriormente, c ons eguiram artic ular politic amente a s ua
c ondenaç ão à morte, c om res paldo popular, sob a ac us aç ão de negar as divindades (c riando
outras ) e de c orromper a juv entude. Condenad o ao s uic ídio, S óc rates bebeu um v eneno c ha ma do
c ic uta. P oderia ter optado pelo ex ílio de A tenas ou apelado por mis eric órdia, mas não o fez . ³No
entanto, a étic a de res peito às leis , e, portanto, à c oletividade, não permitia que as s im agis s e´,
narram Bittar e A lmeida (p . 102). ³A fuga, portanto, era impens áv el para ele, pois s e as s im agiss e
não es taria mais s ervindo a A tenas´, c ompleta Dros dek (p. 17).
S óc rates des afiav a a ordem v igente nos círculos s oc iais da s ua époc a, pois ques tionav a o
relativ is mo dos s ofistas , prega ndo uma v erdade perene, que influenc iaria s is temas filos óficos
pos teriores c omo o platonis mo, o aristotelis mo e o es toicis mo.
Des s e modo, para S óc rates , erro é fruto da ignorânc ia, e toda v irtude é c onhec imento. O filós ofo,
as s im, tinha c omo mis s ão ³parir´ o c onhec imento que es tá dentro das pes s oas . ³Daí a importânc ia
de rec onhec er que a maior luta huma na dev e s er pela educ aç ão (paidéia), e que a maior d as
v irtudes (areté) é a de s aber que nada s e s abe´, es c rev em B ittar e A lmeida (p. 99) De onde s erá
que os partidos e os polític os tiraram a bandeira da ³educ aç ão´ ac ima de tudo?
A S ócrates pode s er atribuída a origem da étic a (ou filos ofia moral), tendo c omo ponto de partida a
c ons c iênc ia do agente moral, arremata Chauí (p. 311): ³É s ujeito étic o ou moral s om ente aquele
que s abe o que faz , c onhec e as c aus as e os fins de s ua aç ão, o s ignific ado de s uas intenç ões e de
s uas atitudes e a es s ênc ia dos v alores morais . S óc r ates afirma que apenas o ignorante é v ic ios o
ou inc apaz de virtude, pois quem s abe o que o é be m não poderá deix ar de agir v irtuos amente.´
A étic a de S óc rates reside no c onhecimento e na felic idade. Como as s im c onhec imento? A quele
que c omete o mal c rê pratic ar algo que o lev e à felic idade, por ter s eu juíz o enganado por meros
³ac his mos ´. P or is s o é precis o, antes, c onhec er a s i mes mo. Depois de dotado de c onhec iment o,
aí, sim, v alorar ac erc a do bem e do mal. A felicidade, para ele, não s e res umia a bens materiais ,
riquez as , c onforto ou s tatus perante os demais homens . Conforme B ittar e Almeida (p. 10 1): ³O
c ultiv o da v erdadeira virtude, c ons istente no c ontr ole efetiv o das paix ões e na c onduç ão das forças
humanas para a realiz aç ão do s aber, é o que c onduz o homem à felic idade.´ S ua étic a é, portanto,
teleológic a, ou s eja, tem c omo fim da aç ão a felic i d ade.
P ara S ócrates o c oletiv o tinha primaz ia s obre o indiv idual, mas s e opunh a à c onc epç ão de q ue
Direito é a ex pres s ão dos mais fortes , s endo melhor s ofrer uma injus tiç a do que c ometê -la. A
filos ofia, de ac ordo c om S óc rates , é bus c ar a maior perfeiç ão pos s ív el s eja na v ida, quanto na
morte. ³P ara ele, a cidade e s uas leis s ão nec es s ár ias e res pondem às ex igências da naturez a
humana. A obediênc ia às leis da c idade é um dev er s empre e para todos . P or is s o S óc rates
s ubmete -s e à c ondenaç ão da c idade, ainda que rec onhec endo a injus tiç a de que é v ítima´, dis s erta
Leite (p. 24 -25). Complementam B ittar e Almeida (p. 102): ³E is s o porque a étic a s oc rátic a não s e
aferra s omente à lei e ao res peito dos dev eres humanos em s i e por s i. Trans c ende a is s o tudo:
ins c rev e -se c omo uma étic a que s e atrela ao porv ir (pos t mortem). (...) Is s o ainda signific a diz er
que a v erdade e a jus tiç a dev em s er bus c adas c om v i s ta em um fim maior, o bem v iv er pos t
mortem. E não há outra raz ão pela qual s e des eje filos ofar s enão a de preparar -s e para a morte.´
E mbora tiv es s e c onhec imento de que a lei humana (nomos ) ± artifíc io humano e não da naturez a ±
poderia s er jus ta ou injusta, S ócrates pregav a a ir res trita obediência à lei. O Direito ± c onjunto de
leis , em termos s implis tas ± s eria um in s trumento de c oes ão s oc ial que lev aria à realiz aç ão do bem
c omum, entendido c omo o ³des env olv imento integral de todas as potencialidades humanas ,
alc anç adas por meio do c ultiv o das v irtudes ´, ens inam B ittar e Almeida (p. 104). A lei s eria
elemento de ordem no todo da c idade (pólis ) e, por is s o, não dev eria s er c ontrariada, mes mo qu e
s e v oltas s e c ontra si mes mo, s ob pena de s e ins talar a des ordem s oc ial. ³O homem integrado
enquanto integrado ao modo polític o de vida dev e z elar pelo res peito abs oluto, mes mo e m
detrimento da própria vida, às leis c omuns a todos , às normas polític as (nómos póleos )´,
c ompletam B ittar e A lmeida (p. 106 -107).
O indiv íduo nas s uas eluc ubraç ões poderia ques tionar os c ritérios de jus tiç a de uma lei pos itiv a
(ex terna), mas s omente c rit ic á-la, s em des obedec ê -l a, ev itando, as s im, o c aos por lev ar outras
pes s oas a des obedec ê -la. Diz em B ittar e Almeida (p. 108): ³E m outras palav ras , para S óc rates ,
c om bas e nu m juíz o moral, não s e podem de rrogar leis pos itiv as . O foro interior e indiv idual
d ev eria s ubmeter -s e ao exterior e geral em benefíc io da c oletiv idade.´ P ros s egue Leite (p. 25):
³E fetiv amente, a justiç a, para S ócrates , c ons is te no c onhec imento e, portanto, na obs erv ância das
v erdadeiras leis que regem as relaç ões entre os homens , tanto d as leis da c idade c omo das leis
não -es c ritas. S egundo S ócrates , que propugna pela obediênc ia inc ondicional às leis da c idade, o
jus to não s e es gota no legal, pos to que ac ima da jus tiç a humana ex is te uma jus tiç a natural e
div ina.´
B ittar e Almeida (p. 109) enumeram os motiv os que lev aram S óc rates a optar pelo s uic ídio:
³c onc atenaç ão da lei moral c om a legis laç ão c ív ic a; o res peito às normas e à religião que
gov ernav am a c omunidade, no s entido do s ac rifíc io da parte pela s ubsis tência do to do; a
importânc ia e imperatividade da lei em fav or da c ol etividade e da ordem do todo; a s ubs tituiç ão do
princ ípio da rec iproc idade, s egundo o qual s e re s pondia ao injus to c om injus tiç a, pelo princ ípio da
anulaç ão de um mal c om o s eu c ontrário, as s im, da i njustiç a c om um ato de jus tiç a; o
rec onhec imento da s obrev iv ênc ia da alma, para um julgamento definitiv o pelos deuses ,
res pons áv el pelo v erdadeiro v eredito dos atos humanos .´

P latão, as idéias e a hierarquia s ocial

P latão, o mais famos o dos dis cípulos de S óc rates , nas c eu no s eio de uma das mais tradic ionais
famílias da aris tocrac ia polític a de A tenas . A o c ompletar 20 anos , c on hec eu s eu mentor, qu e
mudaria para s empre o rumo da s ua vida. ³P latão era de família aris tocrátic a, o que torna notáv el o
fato de e le ac reditar que os gov ernantes não dev eriam s er es c olhidos por s ua origem, e s im pela
inteligênc ia e forç a de c aráter. A c ima de tudo, o oportunis mo dos polític os ateniens es , que ac abou
c ulminando no julgamento e na s entenç a de morte de S ócrates , c onv enc er a Platão a c ons iderar
c om muita s eriedade as qualidades nec es s árias a um bom líder´, ex plic a Dros dek (p. 26).
E m 387 a.C. Platão c riou a A c ademia, o primeiro c entro de ens ino s uperior do Ocidente, afirma
Leite (p. 27): ³A té então, a educ aç ão s uperior nunc a hav ia as s umido es s a forma c orporativa,
organiz ada, s edentária, c om distribuiç ão de c urs os e matérias , que imprimiu P latão à A c ademia.´
S eus princ ipais liv ros s ão ³A Repúblic a´, ³O P olític o´ e ³A s Leis´.
Com relaç ão à s ua doutrina, é interes s ante rec orrer ao ³mito da c av erna´, incluído no livro VII de
³A Repúblic a´, rec omendam A ranha e Martins (p. 121) : ³Platão imagina uma c av erna onde pes s o as
es tão ac orrentadas des de a infânc ia, de tal forma que, não podendo v er a entrada dela, apenas
enx ergam o s eu fundo, no qual s ão projetadas as s ombras das c ois as que p as s am às s uas c os ta s ,
onde há uma fogueira. S e um des s es indiv íduos c ons eguis s e s e s oltar das c orrentes para
c ontemplar à luz do dia os v erdadeiros objetos, ao regres s ar, relatando o que v iu aos s eus antig os
c ompanheiros , es s e o tomariam por louc o e não ac reditariam em s uas palav ras.´
A qui, em termos relac ionados ao c on hec imento (epis t emologia), faz uma s eparaç ão entre mun do
s ens ív el (dos fenômenos ) e mundo inteligív el (das i déias gerais ). O mundo s ens ív el é perc ebido
pelos s entidos, s endo ilus ório, múltiplo, c om répli c as imperfeitas do v erdadeiro. P ara Platão, o
mundo das idéias gerais refletia a doutrina de P armênides , nos quais o s er é imóv el, enquanto o
mundo s ens ív el s e es pelhav a em Herác lito, que afirm av a a mutabilidade es s enc ial do s er. Na v ida
terrena, s e ex perimenta a mutabilidade; no Hades (além -v ida), a permanênc ia. ³A s almas c umprem
s eus c ic los num longo período de prov as , dura nte o qual permanec e m indo e v indo entre dua s
realidades ´, as s ev eram B i ttar e A lmeida (p. 121).
A liando o ars enal teóric o de P armênides e de S óc rates , P latão c ria a palavra ³idéia´, para
denominar as intuiç ões intelec tuais, s uperiores às s ens ív eis . O mundo real, para P latão, s eria o
mundo das idéias gerais (as únic as v erdades ), que s eria atingido pela c ontemplaç ão e depuraç ão
dos enganos dos s entidos . A s s ev eram A ranha e Martins (p. 122): ³P ara P latão há uma dialétic a
que fará a alma elev ar -s e das c ois as múltiplas e mutáv eis às idéias unas e imutáv eis. A s idéias
gerais s ão hier arquiz adas , e no topo delas es tá a i déia do B em, a mais alta em perfeiç ão e a mais
geral de todas : os s eres e as c ois as não ex istem s enão enquanto partic ipam do B em. E o B em
s upremo é também a S uprema B elez a. É o Deus de Platão.´
A alma humana rec upera, as idéias que lhes es tão latentes , por reminis c ênc ia. O es quec imento s e
deu na pas s agem d o pós -v ida (Hades ) para a Terra. No pós -v ida, as almas es c olheriam um
reenc ontro próx imo c om um c orpo c arnal, c om b as e em ex periênc ias e hábitos de v ida anteriores ,
ex pl ic am B ittar e Almeida (p. 119): ³Nes s e s entido, tendo em v is ta a liberdade de es c olha de c a da
alma, podiam s er es c olhidas v idas animais ou humanas ; após a es c olha, c ada alma rec ebia seu
demônio, que lhes enc aminharia nas dific uldades da v ida.´
P as s a -s e, ag ora, à interpretaç ão polític a do ³mito da c av erna´. O filós ofo (s emelhante ao homem
que c ons eguiu s air da c av erna) c ontempla a v erdadei ra realidade, pas s ando da opinião (dox a) à
c iênc ia (epis teme). A í, c omentam Aranha e Martins ( p. 122), dev e ³retornar ao meio dos outros
indiv íduos , para orientá -los (...), ensiná -los e gov erná -los ´. P latão idealiz a o s ábio (filós ofo) c omo
rei para que o E stado s eja bem gov ernado, s endo prec is o que ³os filós ofos s e tornem reis, ou que
os reis s e tornem filós ofos ´. Como s e le rá, a p artir do parágrafo s eguinte, is s o norteou a teoria
étic o -polític a de Platão.
A jus tiç a, es c rev e Platão em ³A Repúblic a´, é a v ir tude do c idadão e do filós ofo que te m
predominânc ia s obre as outras (s abedoria, c oragem e temperanç a). É a jus tiç a que or dena as
v irtudes que regem c ada uma das três partes (ou pot ênc ias ) da alma humana, a rac ional
(pos s ibilita o c onhec imento das idéias ), a irrasc ibilidade (impuls os e afetos ) e a c onc upis c ente
(nec es s idades mais elementares ). A raz ão s eria gov ernada pela s ab edoria ou prudênc ia (s ophia ou
phrónes is ), a irras c ív el pela c oragem (andreia). Tanto a irras cibilidade e a c onc upis ciência
dev eriam s ubmeter -s e à raz ão, por meio da temperanç a ou moderaç ão (s ophros y ne).
A s v irtudes , para P latão, dependem de ap erfeiçoament o c ons tante por parte dos h umanos , c o m a
predominânc ia ± é c laro, da alma rac ional s obre as tendênc ias iras c ív eis e c onc upis c ív eis. E x iste
harmonia (armonía) ao s e dominar os ins tintos feroz es , o des c ontrole s ex ual e a fúria dos
s entimentos , v ers am Bittar e Almeida (p. 114), permitindo que a alma frua dos praz eres es pirituais
e intelectuais : ³O v íc io, ao c ontrário da v irtude, es tá onde reina o c aos entre as partes da alma. De
fato, onde predomina o lev ante das partes inferiores c om relaç ão à alma rac ional, aí está
implantado o reino do des gov erno, is s o porque ora manda o peito, e s uas ordens e mandamentos
s ão torrentes inc ontroláv eis (ódio, ranc or, inv eja, ganânc ia...), ora manda a paix ão ligada ao baix o
v entre (s ex ualidade, gula...).´ O rec ado, c ompletam B i ttar e Almeida (p. 115), é c laro: ³S ac rific ar -
s e pela c aus a da v erdade s ignific a abandonar os des ejos do c orpo, e faz er da alma o fulc ro de
c ondenaç ão da c onduta em s i e por si.´
E s s a teoria da alma s eria as s ociada, por P latão, à teoria da c idade. Platão d ividiu a s ociedade em
três c las s es, c ada qual c om uma funç ão. No topo da s oc iedade es tariam os gov ernantes filós ofos ,
guiados pela s abedoria (s ophia), em s eguida, os guerreiros imis c uídos da c oragem (andreia) e,
abaix o, os artes ãos e agric ultores , a bas e e c onômic a. Os guerreiros e os artes ãos e agric ultores
ac eitariam o gov erno dos que têm s ab edoria, e a temperanç a, que lhes é pec uliar, lhes c astraria o
ímpeto de tomar o pod er. E m s uma, os filós ofos s eriam a c abeç a; os gu erreiros , o peito; e os
artes ãos e c omerciantes o baix o v entre do c orpo pol ític o.
A doutrina polític a de P latão é aris tocrátic a: ³Nes s e c ontex to, a jus tiç a c orres ponde: aos
magis trados (filós ofos) dev em gov ernar; os guardiões , defender a cidade das des ordens internas e
dos ataques ex ternos ; os artes ãos e agric ultores , produz ir. Dev em faz er apenas is s o, s em
intromis s ão naquilo que não lhes c ompete pelo ofíc i o ou c las s e. J us tiç a, pois , é c ada um faz er o
que lhe é c ometido, s em intrometer -s e na s eara dos demais . Isto signific a que nenhuma das
v irtudes poderia exis tir s em a justiç a. A injus tiç a s eria a ruptura des ta ordem, a s ediç ão das
potênc ias inferiores c ontra a raz ão´, es c rev e Leite (p. 29).
J us tiç a para Platão é manter es s a ordem original, ou as formas de gov erno (c inc o, em ³A
Repúblic a´) de generariam. P ara ele, a únic a forma de gov erno legítima e justa s eria o gov erno dos
s ábios , que poderia ter a forma de monarquia. As demais s eriam formas degeneradas da pura, nas
quais não s e efetiv aria justiç a. Com os guerreiros no poder, hav eria a timoc r acia, o gov erno que
prez a honrarias . Cas o os ric os fic as s em no c omando, s eria uma oligarquia, que dividiria os
c idadãos entre os mais abastados e os pobres . A oli garquia prov oc aria maior ac umulaç ão de bens
para os ric os , des equilibrando e div idindo a cidad e em duas , abrindo c aminho para a democ rac ia
(a des ordem). Com a des ordem da de moc rac ia, um únic o homem tiraria prov eito da situaç ão para
s agrar -s e no poder, inaugurando a tirania, a forma que mais s e opõe à justiç a.
J á, em ³O P olític o´, P latão des c rev e tr ês formas legítimas de gov erno (monarquia, aris toc racia e
democ rac ia moderada, em ordem dec res c ente de prefer ênc ia) e três formas ilegítimas de gov erno
(democ rac ia turbulenta, oligarquia e tirania, da menos para a mais c orrupta). ³E m ³A s Leis ´, P latão
ac re s c enta uma forma à c las sific aç ão ex posta em µO P olític o¶: a forma mis ta de gov erno, que é
uma mes c la de monarquia e democ rac ia´, narra Leite (p. 32).
A liás , hav endo uma realidade divina (mundo das idéi as gerais), além des ta realidade (mundo
s ens ív el), impl ic a-s e, igualmente, na ex istênc ia de uma jus tiç a div ina, s uperior à jus tiç a falha e
imperfeita dos homens . S e é inteligív el, perfeita, abs oluta e imutáv el es s a justiç a pode ser
c ontemplada para, daí, extrair princ ípios para gov ernar e manter a s aúde do c or po s oc ial.
Não s e trata, pois , de uma jus tiç a apenas dos h omens , mas de u ma outra, metafís ic a, pres ente no
Hades (além -v ida), no qual a jus tiç a univ ers al s e dá pela doutrina da paga (puniç ão para o mal
c ometido, rec ompens a para o bem realiz ado. ³A c onduta étic a e s eu regramento pos s uem raíz es no
A lém (Hades ), de modo que o s uc es s o terreno (homic idas , tiranos , libertinos...) e o ins uc es so
terreno (S óc rates ...) não podem repres entar c ritérios de mens urabilidade do c aráter de um homem
(s e jus to ou injus to). No reino das aparênc ias (mundo terreno, s ens ív el), o que parec e s er justo,
em v erdade, não o é; o que parec e s er injusto, em v erdade, não o é´, c omentam Bittar e A lmeida
(p. 121).
E m P latão, s e viu que a alma racional dev e c ontrolar as outras partes da alma, para que haja a
harmonia da v irtude. Cas o is s o não oc orra, prev alec e o v íc io. P orém, es s e plano é metafís ic o, e
não terreno. A paidéia (formaç ão) da alma deveria prepará -la para atingir o B em A bs oluto. E sta
s eria uma tarefa do E s tado, para que o c idadão p udes s e melhor aprov eitá -lo e também melhor
s erv i-lo. Es s a v is ão de P latão s obre o papel do E s t ado na v ida do c idadão pode s er v is ta c omo
paternalista. P ara o filós ofo K arl P opper, a filosofia polític a de Platão é autoritária. A s s unto para
mais polêmic as , e nfim, que podem s er temas de outro texto.

É tic a dos bens: epic uris mo

A pós S óc rates, Platão e A ris tóteles, a filos ofia tomou outros rumos , princ ipalmente, por div ergir
s obre a naturez a do bem s upremo. Dois grandes grupos s urgiram: o epic uris mo, para o qua l o bem
s upremo é o praz er; e os es tóic os, c ujo bem s upremo é a v irtude.

P ara E pic uro (342 -270 a.C.), predomina o c aos e a c egueira no Cos mos , já que o univ ers o pos s ui
c omandos mec anic is tas e materialis tas. Não nega os deus es , porém, prega que os ho mens dev e m
pers eguir o praz er e o goz o da v ida, ens ina Nalini (p. 53): ³P ois a felic idade é o bem último da
ex is tênc ia e c ons iste, ex atamente, no praz er. Mas ex is te uma hierarquia entre os praz eres . Não se
dev e pers eguir o praz er s ens ual, a lux úria, o gozo ins e ns ato. Atingi -s e o praz er mediante inúmeras
fruiç ões , dentre as quais as mais elev adas s ão a s do es pírito. O s ábio identific ará a hierarquia dos
v alores e prioriz ará o praz er intelectual ao s ensív el, o s ereno ao violento, o es tétic o ao grotes co.
V ia E pic uro na amiz ade um dos goz os mais intens os e puros da v ida.´

E le div idiu os praz eres em naturais e nec es s ários , naturais e não nec es s ários, não naturais e nem
nec es s ários , c orporais , es pirituais, v iolentos e s erenos . Os praz eres naturais e nec es s ários , por
e x emplo, s ão a s atis faç ão moderada dos apetites . Os praz eres naturais e não nec es s ários podem
s er ex emplific ados pela gula. J á os praz eres nem naturais e nec es s ários podem s er citados na
glória (no s entido de orgulho, s oberba).

Qual é a finalidade des s a c las s ific aç ão? ³O s er humano prec is a renegar os praz eres não naturais e
não nec es s ários , c omo o ex c es s o de bens materiais e as glórias, limitar a fruiç ão dos praz eres
naturais e não nec es s ários, tais c omo a gula e a embriaguez . O ideal é c onduzir -s e pelo natural e
nec es s ário´, res ponde Nalini (p. 54).

Como s e s abe, muitas v ez es a dor é inev itáv el. O epic uris mo prega que ela pode s er c aminho para
praz eres ainda maiores . Não s e trata, c ontudo, de mas oquis mo. O ho mem s ábio tem c o mo v irtude
a prudênc ia, que o aux iliará a es c olher o c aminho mais adequado, ou o melhor naquele mo mento.
S egundo E pic uro, a étic a tem duas finalidades , uma c rític a (livrar os s eres humanos da s
s upers tiç ões que c onduz em ao medo) e outra c ons trut iv a (demons trar as normas ou regras que
lev arão o indivíduo à felicidade.

Na jornada para a felicidade, depara -s e o s er humano c om o medo da morte e o temor aos deus es .
Não s e dev e temer a morte, as s inala E pic uro, pois ela não é da alç ada do h ome m v iv o. ³A morte
nada é para nós , pois enq uanto s omos , ela não é e qu ando ela c hega, já não s omos . (. ..)
Igualmente, não s e dev e temer aos deus es , pois , s er es perfeitos e dis tantes, não es tão
preoc upados c om a imperfeiç ão humana. (...) Os deus es enc ontram -s e entregues c ontinuamen te às
s uas próprias v irtudes e ac olhem ex clus iv amente s eus s emelhantes . Cons ideram es tranho tudo o
que não é s emelhante a eles ´, es c larec e Nalini (p. 54).

No epic uris mo, a étic a é indiv idualista, pois a c onduta é pes s oal, e não tem â mbito c oletiv o. O
s ábi o tem interes s e no s eu bem -es tar e na s ua v irtude, e não na dos outros . A s abedoria tem c omo
c ritério o praz er tendo no temor a preoc upaç ão . De c erta maneira, c omenta Nalini, o epic urismo
antec ipa -s e ao utilitaris mo. O epic uris mo é uma éti c a eudemonis ta he donis ta, indiv idualis ta e
egoís ta. O filós ofo, para E pic uro, não dev e faz er polític a, mas ³v iv er es c ondido´, fala Nalini (p.
55): ³A justiç a é o fruto de um pac to de utilidade. Cada indiv íduo des is te de moles trar os demai s ,
em troc a de também não s er moles tado. O E stado tem o dev er de v elar pelo c umprimento do
c ontrato s ocial e punir s eus infratores .´

E pic uro rec eitou quatro remédios para s e libertar a humanidade do medo, s eja das div indades , s eja
da morte, s eja do s ofrimento, ou da dor. Trata -se do tétrap harmak on, ex põe Nalini (p. 55): ³I ± O
s er bem -av enturado e inc orruptív el não tem ele mes mo preoc upaç ões e não as c aus a e m outre m;
de forma que ele não es tá s ujeito nem à c ólera nem à benev olênc ia: pois tudo is s o é próprio de um
s er frac o. II ± A morte não é nada em relaç ão a nós ; pois o que é dis s olvido não s ente, e o que
não s ente não é nada e m relaç ão a nós . III ± O limi te da grandez a dos praz eres é a eliminaç ão de
toda a dor. P or toda parte em que s e enc ontre o praz er, durante o tempo que ele dura, não há
lugar para a dor, o s ofrimento, ou os deus es ao mes mo tempo. IV ± A dor não dura de uma maneira
ininterrupta na c arne, mas naquela que é ex trema o tempo não é mais brev e, e aquela que apen as
ultrapas s a o praz er c orpóreo não dura inúmeros dias ; quanto às doenç as de longa duraç ão, elas s e
ac ompanham para a c arne mais de praz er do que de dor.´

É tic a dos bens: es toic is mo


A es c ola estóic a tev e três grandes períodos : es toic is mo antigo (Zenon de Cítio, Cleantes e Cris ipo;
es toic is mo médio (P anéc io e P os s idôni o); e es toic is mo nov o (S ênec a, Mus ônio Rufo, E picteto e
Marc o A urélio). A liás , o es toicis mo foi uma das doutrinas filos ófic as que mais influenc iou o
c ris tianis mo. Leia mais a res peito: http://treeofhopes .blogs pot.c om/2010/03/prof.html .

E ns ina Nalini (p. 56) que duas fórmulas repres entam o es toic is mo: v iv er de ac ordo c onsigo mes mo
e v iv er de ac ordo c om a naturez a. Como a naturez a humana s e c urv a perante à raz ão, viver
s egundo a naturez a é v iv er s egundo a raz ão. A v irtude é ter a raz ão imperando s obre os s e ntidos ,
eliminando as paix ões, ou doenç as da alma. Virtude é o únic o bem, e o víc io o únic o mal. Viv er de
maneira v irtuos a é viv er c onforme a naturez a, não biológic a, mas pela naturez a rac ional.

E x iste no mundo uma ordem univ ers al que o gov erna. O c ic lo p redeterminado ³o ano c ós mic o´ é o
c alendário de tudo que nas c e e morre. Tudo s e repet e, há um ³eterno retorno´, c omo s e foi
aprov eitado pos teriormente em ³A ins us tentáv el lev ez a do s er´, de Milan K undera. Diante des s a
ordem, o s er humano dev e agir c om inde ferenç a (apat ia), ou s eja, ac eitar as c ois as c omo elas s ão
e des ejá -las des s e jeito, e não des ejá -las de um modo que ele quer.

Dev e o s er humano des ligar -s e do mundo ex terior par a atingir a apatia, libertando -s e das
inc linaç ões e afetos , a patologia human a. O praz er é afeiç ão, portanto, dev e s er evitado. E a
v irtude é autárquic a, ou s eja, bas ta a si mes ma. ³A virtude é únic a ± nis s o fundam -s e em S óc rates
-, e entre a v irtude, bem únic o, e o v ício, únic o mal, não há meio -termo. Tudo o mais v em a s er
etic ame nte indiferente ± adiáforas . E s s e rigorismo foi temperado pelos dis c ípulos de Zenon, ao
dis tinguir os bens des ejáv eis e os bens c ondenáv eis . Não s e c onfunde o des ejáv el c om o
etic amente bom. Mas os tenta v alor enquanto es timula a prátic a da v irtude. O c ens u ráv el, ou
c ondenáv el, não s e c onfunde c om o mal, mas repres enta empec ilho ao ex ercíc io da atividade
v irtuos a´, ensina Nalini (p. 56).

É tic a do bem: estoicis mo romano

O filme ³Gladiador´, c om o neoz elandês Rus s el Crowe, foi um s uc es s o de bilheteria. No c o meç o do


filme, hav ia c enas c om o Imperador de Rom a, M arc o A urélio, viv ido pelo ator neoz elandês Ric hard
Harris . Marc o A urélio foi um filós ofo es tóic o. A liás , uma ramific aç ão romana de es tóic os foi
pers onific ada por S ênec a (4 a. C. a 65 d. C), E píteto (50 a 138) e Marc o A urélio (121 a 180).
Também im portante fio Marc o Túlio Cíc ero (106 a 43 a. C.), que c onjugou o es toic is mo e o
platonis mo. Defendia Cíc ero um igualitaris mo soc ial es toic o. ³S us tenta que todos os homens t êm
uma es s enc ial dignidade. Todos pos s ue m raz ão e c onhec em o hon es to e o des ones to, c ons egue m
dis tinguir o jus to do injus to. É frequente em s ua obra o us o da ex pres s ão µhumanitas ¶, no s entido
da formaç ão humana e es piritual, s igno da elev ada c ondiç ão do homem. P or is s o é que ele
alimenta generos a c onfianç a na naturez a humana. S ua influênc ia foi grande porque durante os
s éc ulos s eguintes houv e dis s eminaç ão de s eu pens amento e das d outrinas do es toic is mo, em
es pec ial no pertinente ao Direito Natural. Importante enfatiz ar que o estoicis mo ± na s ua
s ubmis s ão às dores e ao s ofrimento ± es tá pres ente e é perfeitamente identific áv el no
Cris tianis mo. Mes mo porque o pens a mento c ic eroninano alimentou a obra dos P adres da Igr eja
Oc idental, es pecialmente Lactânc io, S anto A mbrós io e S anto A gostinho´, diz Nalin i (p. 57).

O s er humano, s egundo es s a v ertente es toic a, é uma c riatura intermediária, que pode s e tornar
v irtuos o, ou um v iciado (o mais prov áv el). E ssa mis tura entre o bem e o mal, o frágil e o forte
trans formou o s er humano em algo que es tá em c ons tante trans formaç ão, para o aprimorar ou o
deteriorar. E a étic a s eria o c aminho para a virtude a s aúde da alma ou a forç a da alma.

É tic a formal
A étic a empíric a e a étic a dos bens referem -se aos res ultados da c onduta humana. J á a étic a
formal, c ujo princ ipal repres entante é o alemão Immanuel K ant (1724 -1804), prec eitua que o
s ignific ado do c omportamento moral es tá na p urez a da v ontade e na retidão dos propós itos do
agente c ons iderado, e não nos res ultados ex ternos , es c rev e Nalini (p. 58). Aliás, magis tralmente,
K ant faz uma diferenc iaç ão entre moralidade (foro í ntimo, liberdade interna, autonomia) e
legalidade (foro ex terno, liberdade ex terna, hete ronomia). Leia mais s obre K ant e a diferenç a entre
moral e Direito: http://treeofhopes .blogs pot.c om/2010/02/immanuel -k ant -leis -naturais -e-leis .html .

K ant, em s ua c ontribuiç ão para a étic a, retirou as idéias de praz er e de utilidade da moral. No


c ampo mor al, a c onduta s ó é v alios a s e s ua motiv aç ão é o rec onhec imento ao bem. No entanto, se
agiu para obter algo em troc a, não s e trata de aç ão moralmente pos itiv a. J á no Direito o v alor
s upremo é a liberdade. ³S ob influência de Cris tiano Tomás io, dis tinguiu a m oral do Direito,
entendendo que a primeira s e oc uparia c om o motiv o da aç ão, que dev eria identific ar -s e c om o
amor ao bem, enquanto para o s egundo o relevante s eria o plano ex terior das aç ões . Os direitos
naturais , que identific ou c om a liberdade, poderiam s er c onhec idos a priori pela raz ão e
independeriam da legis laç ão ex terna. O Direito P os itiv o, em c ontrapartida, não v inc ula s em u ma
legis laç ão ex terna´, arremata Nalini (p. 63).

É tic a dos v alores

Com uma étic a formal, K ant proc urou evitar o relativis mo his tóric o e o eudemonis mo. Outro ponto
de v is ta foi o adotado por Max S c heler, no entanto, c om bas e nos v alores ex perimentados s eria
pos s ív el obter a univ ers alidade da étic a. Há uma s eparaç ão entre a intuiç ão dos v alores (problema
epis temológic o) e a ex ist ênc ia do v alor (problema ontológic o). ³P ara a filos ofia v alorativ a, o v alor
moral não s e bas eia na idéia de dev er, mas dá -s e o inv ers o: todo dev er enc ontra fundamento em
um v alor. S ó dev e s er aquilo que é v alios o e tudo o que é v alios o dev e s er. A noç ão de v alor pas s a
a s er o c onc eito étic o es s encial. E v alor não arbit rariamente c onv enc ionado. P ois o que é v alios o
v ale por s i, ainda quando s eu v alor não s eja c onhec ido nem aprec iado. (...) É nos s a c ons c iênc ia
que nos adv erte da ex is tência dos v alores. Mas nã o foram c riados por ela, s enão por ela
des c obertos . S ó pode s er des c oberto o que já exis te´, es c rev e Nalini (p. 64).

Mas o que é v alor? Há v árias dis c us s ões a s eu res peito, porém, nada fec hado. Alguns tentaram
anc orar tal c onc eito na raz ão prátic a, c om ba s e na ex istênc ia de v alores objetiv os . P orém, outros
dec lararam a relatividade dos v alores. As s unto, ent ão, nada pac ífic o, nem c laro, pois os v alores
parec em difíc eis de s erem c onc eituados , porém, s ão perc eptív eis , por s uas qualidades . Is s o é
es tudado prin c ipalmente pela Filos ofia do Direito, que c oloc a em x eque, muitas v ez es, o
pos itivis mo jurídic o, ou a rígida s eparaç ão entre moral e Direito.

Os v alores ex istem e não pos s uem forma de s e ex teri oriz ar, s endo s entidos ou intuídos . Fazem
parte os v alores do mundo imaterial, perc ebido pelo intelec to. Faz em parte das idéias, e não da
ordem real, do mundo material. S ão abs olutos os v alores enquanto s er e relativ os quanto à
apreens ão, as s inala Nalini (p. 67): ³A c ons ciênc ia é a ins tância enc arregada de c onfrontar os
v alores morais e de ins pirar a aç ão.´

Há uma hierarquia dos v alores, portanto, utilizada para es c olher a aç ão. S egundo S c heler, para
identific ar os v alores mais altos dos mais baix os, é precis o v erific ar s ua maior durabilidade, menor
ex tens ão e divis i bilidade, quanto mais profunda é a s atis faç ão e quanto menos relativ a é a
perc epç ão s entimental. Quanto mais permanec e, mais duráv el é o v alor. É mais elev ado s e há
menos nec es s idade de div idi -lo c om outra pes s oa. E o v alor que tem c om o fundamento outro v a lor
(fundamentado) s empre inferior ao que lhe deu origem (fundamentante). ³A s sim, a v ida, entre os
direitos fundamentais , é o bem por ex c elênc ia. Todos os de mais direitos s ão bens da v ida, nes ta
fundamentados e, portanto, inferiores à própria v ida. A s atis faç ão c oincide c om a v iv ênc ia de
c umprimento, não c om o es tado de praz er gerado pela pos s e do v alor. E a es c ala de relativ idade
dos v alores auxilia a aferir o grau de s uperioridade dele. Há v alores vinc ulados ao agradáv el, os
v alores da v ida que s ão relati v os aos s eres v iv entes , e há v alores puros , c omo os v alores morais ,
que tem c aráter abs oluto, não relativ o. Mas S cheler es boç ou uma c las s ific aç ão dos v alores sob
enfoque hierárquic o, dis tinguindo -os em: a -) v alores do agradáv el e do des agradáv el; b -) v alores
v itais; c-) v alores es pirituais; d -) v alores religi os os . Ignorar ou s ubv erter es s a hierarquia é fonte
de não pequenos nem s imples problemas da s oc iedade c ontemporânea. O amor oc upa lugar
priv ilegiado nes s a hierarquia.´, fundamenta Nalini (p. 68). E o v a lor s upremo é Deus .

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