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UMA ESTRANHA VOCAÇÃO DA EDUCAÇÃO:


SER POPULAR
Escritos, memórias e imaginários entre a pedagogia e a
poesia, entremeados com breves escritos de Paulo Freire,
para estabelecer diálogos transgressivos e transversais
junto a pessoas do Grupo de Educação Popular da ANPEP,
na manhã de segunda feira, 18 de outubro de 2021,

A Educação e algumas de suas possíveis “vocações”

A educação faz sentido porque as mulheres e os homens aprendem


que através da aprendizagem podem fazerem-se e refazerem-se,
porque mulheres e homens são capazes de assumirem a
responsabilidade sobre si mesmos como seres capazes de
conhecerem.

Penso que temos boas perguntas para começarmos o nosso diálogo.


E para pensarmos juntas algo relacionado à educação popular, nada como
pensá-la através de uma outra pergunta: afinal, o que é a educação popular?
Devemos reconhecer que embora existam muitos registros entre artigos e
teses a respeito da estranha junção destas duas palavras: “educação” e
“popular”, elas não aparecem com muita frequência e familiaridade em boa
parte dos livros e de outros escritos a respeito da educação, da pedagogia, da
didática, etc. E quando ela é escrita, não raro o seu sentido parece algo estranho
e quase marginal.
Assim, naquele que considero um dos mais indispensáveis livros a respeito
da educação, o Paidéia - formação do homem grego, de Werner Jaeger, entre as
suas mais de 1400 páginas, essas duas palavras aparecerão juntas entre as
primeiras páginas e de novo, entre as últimas. Nas páginas entre 100 e 200 elas
aparecerão para atribuir ao poeta Hesíodo uma vocação claramente “popular”
(rústica, rurícola) educação, por oposição a ilustrada e erudita pedagogia
presente nos grandiosos poemas de Homero, que Werner Jaeger irá chamar de
“o educador da Grécia”, em páginas em que irá declarar que na Grécia Clássica,
onde e quando por uma primeira vez o oficio de educar surgiu como uma
questão entre a velha filosofia e a nascente pedagogia, a primeira paidéia foi
poésis.
Ou seja, a educação original praticada como pedagogia foi inicialmente a
poesia. Foram depois os dramas e as comédias do teatro grego. E apenas mais
tarde foram a pedagogia e a escola.
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E já nas últimas páginas, em uma passagem presente na edição em


Espanhol e na edição em Português, mas não na no Alemão original, Werner
Jaeger irá atribuir a ninguém menos do que Platão o haver proposto em seu
livro tardio: Leis, uma educação popular; uma educação formadora do cidadão
da polis, estendida não apenas aos nobres de Atenas, mas a todo o povo.
Não é muito diferente o sentido com que muito séculos mais tarde a
expressão “popular” irá aparecer na Europa, entre iluminista e românticos dos
séculos XVIII e XIX e, depois, aqui na América Latina, através de educadores e
pensadores como Simón Rodrigues e José Marti. “Popular” porque “pública”,
laica, não-confessional, e ofertada pelo poder de Estado ao Povo, e não apenas à
elite.
Estranho que a pessoa a quem por toda a parte mais associamos a
expressão “educação popular”, e cujo “centenário de vida e de presença”
estamos celebrando neste 2021, raramente tenha escrito ou mesmo
pronunciado essas duas palavras juntas. De fato, ao lado de suas várias
pedagogias, qualificadas sucessivamente como “do oprimido”, “da esperança”,
“da autonomia”, “da indignação”, Paulo Freire preferia qualificar suas
“educações” como “prática da liberdade”, “libertadora”, “emancipadora”, etc.

Nenhuma pedagogia que seja verdadeiramente libertadora pode


permanecer distante do oprimido, tratando-os como infelizes e
apresentando-os aos seus modelos de emulação entre os opressores.
Os oprimidos devem ser o seu próprio exemplo na luta pela sua
redenção.

E bem sabemos que em seu sentido mais radical e naquele que aqui nos
reúne, educação popular é algo que ressurge e em poucos anos - entre a
“década dos 60” e a “dos 70” - difunde-se ao longo de toda a América Latina e o
Caribe, através do trabalho, das ideias e dos escritos de uma pluralidade de
militantes da educação, mulheres e homens que entre o passado e o presente
reconhecem-se praticantes do que chamamos “o legado freireano”1.
Sou um antropólogo desde o começo dos anos 70. E sou um educador
popular desde o começo dos anos 60. Fazendo interagir uma vocação com a
outra, quero trazer a este nosso diálogo virtual (mas nem por isso tão menos
vivo, vivenciado e virtuoso) algumas idéia de fundo que imagino serem, entre o
passado que relembramos aqui, e o presente que somos, que vivemos e que

1 A respeito desta questão indico com fervor a leitura de trabalhos recentes de dois
colombianos: Marco Raul Mejia e Alfonso Torres Carrillo. E também o recente livro de
Oscar Jara: A educação popular latino-americana – história e fundamentos éticos,
políticos e pedagógicos. O livro foi traduzido para o Português e publicado em 2020
pelo CEAAL, a Ação Educativa e outras instituições brasileiras. Sobre a pesquisa de
Oscar Jara em busca das origens atuais da expressão “educação popular” entre nós
escrevi um pequeno artigo: Entre o cordel e a educação popular. Ele pode ser
encontrado em alguma nuvem.
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partilhamos, a assinatura da educação popular que praticamos, entre palavras,


gestos e esperanças.

1. O mesmo que Paulo Freire sempre disse e escreveu a respeito da Pessoa


Humana, da Sociedade e da Vida, vale para a vocação de pedagogia-e-educação
que ele ajudou substantivamente a criar. A educação e cada uma de suas
vertentes, escolas e vocações não “é”. Tal como a pessoa que ensina-e-aprende,
toda pedagogia “está sendo”. Existe não como uma “coisa”, como algo que “aí
está”. Ou “está aí”. Existe como um “estar sendo” e, assim, realiza-se como algo
não “situado em”; alguma coisa fixada em um “aí” ou “aqui”, entre o tempo dos
anos e os espaços do mundo.
2. Se o seu projeto é a mudança, a transformação, ela própria, a Educação
Popular, não pode existir a não ser transformando-se também. Situada no
acontecer do fluir de todas as coisas, ela é um “mover-se em direção a”, que em
sua dimensão ela própria contribui para “ir além de”.
Assim, uma pedagogia de vocação freireana existe através de dois
movimentos: a) o de tornar-se sempre variante, de acordo com o “mundo
cultural” em que está (lembrar Paulo Freire trabalhando no Nordeste do Brasil,
no Chile, na África, e de novo no Brasil”); b) deixar-se reconceptualizar-se
(buscar a ideia de “reconceptualização da Educação Popular entre os anos 70 a
2000, e agora), ao atualizar-se, abrir-se e transformar-se ao longo do tempo. Ela
a cada era se transforma, sempre que surgem novos dilemas, novos desafios e,
sobretudo, novos sujeitos atores de ações emancipatórias em diferentes
vocações, dimensões e direções.

O homem está no mundo e com o mundo. Se estivesse apenas no


mundo, não haveria transcendência nem se objetivaria a si mesmo.
Mas como pode objetivar-se, pode também distinguir entre um eu e
um não-eu. Isso o torna um ser capaz de relacionar-se; de sair de si;
de projetar-se nos outros; de transcender. Pode distinguir órbitas
existenciais distintas de si mesmo. Estas relações não se dão apenas
com os outros, mas se dão no mundo, com o mundo e pelo mundo.

3. O que entre as suas diferenças de focos e de vocações genericamente


chamamos de Educação Popular tende a realizar-se como uma “pedagogia de
transformações”. Isto parece bastante óbvio. Mas me parece merecer uma
atenção maior.
Estejamos atentas a que na prática, ao redor do mundo testemunhamos
um crescendo hegemônico do que chamarei aqui de “pedagogias da
competência. Vivenciamos também uma ampla variação de “pedagogias do
desenvolvimento”, e nos acreditamos praticantes de uma variante de pedagogias
da transformação.

4. Sendo uma “pedagogia da transformação”, estamos diante de uma


pedagogia de “conversão a”, no sentido humano, ético e político desta palavra:
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“conversão”. Pois trata-se de tornar-se quem ainda não se é, e pode vir-a-ser


através de uma transformação do conhecimento em consciência. Este seria o
caminho oposto a como as pedagogias de competência reduzem o conhecimento
à informação.
5. Sendo uma pedagogia de conversão, a educação popular não almeja
mudanças ou transformações para um fora-de-mim-mesmo. Trata-se de uma
transformação em sentido freireano, como superação de si-mesmo em direção a
um alguém capaz de superar-se e transcender-se continuamente. Algo para
além de um simples aprimoramento de virtualidades parciais, e sobretudo
utilitárias pragmáticas.

6. Em toda a pedagogia freireana não existe uma destinação exterior e pré-


existente como local de “chegada” ou de “encontro”, quando ao se educar a
pessoa educanda transforma o que sabe no que conhece; o que conhece no que
reconhece; o que reconhece naquilo de se que torna pessoalmente consciente,
como consciência-de-Si, consciência do Outro, consciência do Mundo.

O conhecimento emerge apenas através da invenção e da


reinvenção, através da inquietante, impaciente, contínua e
esperançosa investigação que os seres humanos buscam no mundo,
com o mundo e uns com os outros.

7. Assim, a destinação virtual da pessoa educanda – mas jamais


inteiramente educada – não é uma teórica e militarizada “Pátria”; não é um
“Partido” único; não é uma forma exclusiva e unilateral de inserção e de
participação militante em frentes de luta emancipatórias. Não é um modelo
único e, portanto, não aberto e democrático de formação social.

8. A destinação única da pedagogia freireana é a pessoa humana. É a


eminente individualidade de qualquer uma ou qualquer um de nós, quem quer
que sejamos. É o que pessoas podem e devem criar como cenários e frentes de
reconhecimento pessoa e interativamente solidário de resistência e de luta em
nome de um horizonte de libertação de todos e de tudo, entre pessoas,
sociedades, o Mundo e a Vida.

9. Sendo uma pedagogia de descoberta de um Si-mesmo, a Educação


Popular é uma via de reconhecimento da pessoa do Outro. A consciência de
mim-mesmo somente se realiza através da derivada e consequente consciência
do Outro. O meu melhor e mais fiel espelho é o rosto do meu Outro.
E o reconhecimento do Outro deriva em reconhecimento de ações políticas
de realização de um Entre-Nós. Se o mundo de vida e de trabalho em que
vivemos nega não somente para mim, mas para qualquer outra pessoa, a sua
plena realização, ele exige ser não apenas melhorado ou regulado. Exige ser
transformado em sua radicalidade. Não existe horizonte viável no domínio do
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capitalismo neoliberal. É ele, em sua opressora inteireza que deve ser


inteiramente revolucionado; transformado.

10. Nós, os seres humanos, não somos funcionalmente educadoss para nos
tornarmos funcional e competentemente “fazedores de”. Isso fazem as
máquinas que inventamos. Somos todas e todos destinados a sermos criadores.
Nossos atos valem como ações que ao transformarem o mundo em que vivemos
em um mundo de cultura, nos transformam social, cultural e humanamente
naquilo que somos.

11. Paulo Freire pensa a educação como cultura. Pensa a cultura como a
resultante de um consciente e transformador trabalho humano ao mesmo
tempo sobre a matéria do mundo e sobre o seu próprio espírito. Nele o trabalho
é pensado como práxis. Como a ação também pedagógica destinada a gerar ao
mesmo tempo a transformação ascendente do que é criado no mundo e a
transformação do seu criador, uma pessoa humana.

12. Pensar a cultura como uma ética que se realiza como uma política.
Desde os gregos clássicos nós nos compreendemos ao mesmo tempo como
“idiotas” e políticos”. “idiota” em seu sentido original, como a dimensão da
pessoa que se volta sobre ela mesma. Aquela que busca ampliar dimensões e
transformar vocações de e desde a sua interioridade, de seu si-mesmo.
A dimensão “política” é aquela que em seu primeiro momento volta este
“Si-mesmo” ao seu-Outro. E torna o enlace entre vários sujeitos sociais
mutuamente reconhecidos um círculo e um circuito de coletivos destinados a
responderem pela gestão do mundo social em que compartem a vida. E à
transformação de um mundo dividido entre oprss0res-e-oprimidos, que nega
para uns e outros o seu direito à realização e à felicidade.

Entendo a educação popular como o esforço de mobilização,


organização e capacitação das classes populares; capacitação
científica e técnica [...]. Em uma primeira ‘definição’ eu a aprendo
desse jeito. Há estreita relação entre escola e vida política.

Nesse sentido, para os autores a educação é uma prática


política: política e educação se mesclam e se misturam em um
processo contínuo de aprendizado e transformação social.

13. Pensar a educação-cultura-política como história. O “fio do


pensamento” da pedagogia freireana, desagua na história. Sendo em nossas
diferenças não desiguais sujeitos criadores de culturas, e existindo as pessoas, as
formações sociais e as culturas, no fluxo do tempo e dos acontecimentos, tudo o
que há existe no fluir da história.
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O foco da Educação Popular desde as suas origens está em que, tal como a
cultura, a história não é algo em que “se está”, ou algo que escolarmente “se
estuda”. A história é um acontecer de que somos participantes e críticos
criadores, quem quer que sejamos.

14. A Educação Popular de ontem e de hoje, de antes e de agora, não se fixa


e nem se estabelece em uma pedagogia uni-dirigida, nem em uma didática
escolar exclusiva, e nem em um padrão único de escola.
Se, entre tantas, a compararmos com a Educação Antroposófica de Rudolf
Steiner, e a sua excelente e uni-dirigida “Pedagogia Walldorf”, teremos aí uma
clara imagem de diferenças.
A Educação Popular não propõe uma direção única no que toca um
especifico “trabalho docente”. Ela é um projeto de progressiva humanização
através de transformações pessoais-coletivas-e-sociais realizadas em e entre
culturas, por meio de ações de uma “pedagogia do oprimido”.
Ela possui um destinatário preferencial. Possui um ideário humanizador.
Pressupõe ações de “emancipação do sistema capitalista”, e não apenas de uma
“regulação do sistema” (para trazer aqui ideias de Boaventura de Souza Santos).
Pressupõe uma pluri-adesão a serviço de diferentes atores sociais do passado
(camponeses e operários como classe social) e do presente (eles e mais
indígenas, negros, quilombolas, minorias e maiorias expropriadas e oprimidas.

15. Sobretudo nas últimas décadas, a Educação Popular diferencia-se, sem


perder o seu foco transformador e revolucionário mesmo, a Educação Popular
interage com outras vocações da educação, desde quando também elas pensem
e trabalhem em direção a um horizonte de luta em favor dos oprimidos (os
“esfarrapados da Terra) em Pedagogia do Oprimido. Em favor da emancipação
social frente ao sistema capitalista. Em nome do fortalecimento de uma
democracia ativa e participativa. Em nome também, do ambiente e da Vida, das
minorias e das maiores marginalizadas e subalternizadas, dos direitos humanos
e dos direitos da Vida. Enfim, da paz e da felicidade entre todas as pessoas,
todos os povos e todas as nações.

A liberdade é adquirida pela conquista, não pelo presente. Deve ser


perseguida constante e responsavelmente.

Ninguém pode ser autenticamente humano enquanto impede que


outros também o sejam.

Se eu não amo o mundo, se não amo a vida, se não amo as pessoas,


não posso entrar em diálogo.

Entre os anos da escrita de Pedagogia do Oprimido e o dos últimos


escritos de Paulo Freire, e entre o Perguntas de um Trabalhador que lê, de
Bertold Brecht e os anos de agora, os “sinais dos tempos” nos revelam que as
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condições da reiteração de desigualdade social, da exclusão, da marginalização


de maiorias e da desqualificação de minoria em nada melhoraram.
Ao contrário, os indicadores dos “males do Mundo” revelam que entre
pessoas oprimidas e naturezas devassadas, possivelmente estejamos vivendo
agora “o pior dos mundos”.
E um poema humildemente assinado por um “Pina”, encontrado por mim
em um artigo de Flávio Barbosa, no livro O pensar filosófico, a cultura e a
formação humana, talvez seja a mais candente evidência do que lembro aqui2.

Saldo Negativo

Dói muito mais arrancar o cabelo de um europeu


Que amputar a perna, a frio, de um africano.
Passa mais forme um francês com três refeições por dia
Que um sudanês com um rato por semana.
É muito mais doente um alemão com gripe
Que um indiano com lepra.
Sofre muito mais uma americana com caspa
Que uma iraquiana sem leite para os filhos.
É mais perverso cancelar o cartão de crédito de um belga
Que roubar o pão da boca de um tailandês.
É muito mais grave jogar um papel ao chão na Suíça
Que queimar uma floresta inteira no Brasil.
Pe muito mais intolerante o xador de uma muçulmana
Que o drama de mil desempregados na Espanha.
É mais obscena a falta de papel higiênico num lar sueco
Que a água potável em dez aldeias do Sudão.
É mais inconcebível a escassez de gasolina na Holanda
Que a de insulina em Honduras.

É mais revoltante um português sem celular


Que um moçambicano sem livros para estudar.
É mais triste uma laranjeira seca num kibutz hebreu
Que a demolição de um lar na Palestina.
Traumatiza mais a falta de uma Barbie de uma menina inglesa
Que a visão do assassínio dos pais de um menino ugandês.
Isto não são versos; isto são débitos
Numa conta sem provisão do Ocidente.

Eis o que eu teria a lembrar, dizer e confidenciar a vocês esta manhã de


uma primavera “pandêmica e pandemônica” no ano de 2021, quando

2. O livro em homenagem ao querido amigo Ildeu Moreira Coelho, da Universidade


Federal de Goiás, foi publicado pela Mercado das Letras, de Campinas, em 2020. O
poema está na página 540. Sem maiores indicações, Flávio Barbosa assinala um artigo
de Ladislau Dowbor, de 2008,
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celebramos os “100 anos de Paulo Freire” - e quando eu tenho uma data a


celebrar: os meus “60 anos de educação popular”.
E quis trazer para esta manhã alguns poemas, algumas memórias e
algumas ideias sobre o que aqui e em outros cenários e tempos nos reúne entre
a noite do dia 17, domingo, e a manhã de segunda feira... e de outros dias.
Antes de me despedir quero deixar com vocês um poema meu. Afinal, eu
também gosto de me imaginar como um poeta. Na verdade, ele é mais uma “ode
a quem educa”. E como estou escrevendo tudo isto no “Dia da Professora”, em
15 de outubro de 2021, acho que ele cabe bem entre os outros poemas que
trilhamos nesta manhã.

Nós, as pessoas que educam

Nós, educadoras e educadores


de pessoas, da vida, da cultura e da sociedade,
aprendemos e ensinamos porque cremos
que somos também, como a própria vida,
feitos de água, de barro e de fogo
e por isso somos o desejo e o amor.
Somos feitos de terra e de vento
e, assim, somos eternos como a vida
e somos passageiros como a flor.

Somos a luz, a sombra, o claro, a escuridão.


E somos o criar da nossa história,
entre o saber da ciência e a poesia
e tudo o que há em nós entre a mente e o coração.
Somos o espaço e o tempo, e somos o fluir da vida
o dia de sempre, o nunca e o agora.
Somos a imensidão da Terra, nossa casa,
E somos o vir da noite e o chegar do dia,
e somos o ser do sol e o do céu e o do chão.

Somos o silêncio e o som do saber


O estudo somos, e a partilha do agora e do futuro.
Somos parte do amanhã de uma criança
Somos o esquecimento e somos a lembrança.
Somos a coragem de acender o fogo do esquecido.
E somos o encontro, o aconchego e o abandono.
A espera somos nós, e somos a esperança.

Somos o perene, o fluir e o momento,


a árvore, a pedra, o vento e a flor.
Somos a energia, a luta e a paz.
Somos a vida criada e o criador.
Somos o mundo que sente,
e irmãos da vida saberemos ser.

Somos a aventura de lembrar o se esquece


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E somos quem acende de novo fogueira


De toda a sabedoria adormecida.
Somos quem acorda a consciência,
Desvela o afeto, e se arma de ternura
Para semear o saber e a rebeldia.
Assim, em cada ser que nasce há nossa alma
Em cada ser que aprende a nossa aura
E em cada gesto do saber que liberta, a nossa vida.

O professor é, naturalmente, um artista, mas ser um artista não


significa que ele ou ela consiga formar o perfil, possa moldar os
alunos. O que um educador faz no ensino é tornar possível que os
estudantes se tornem eles mesmos.

Se não posso estimular sonhos impossíveis, não devo negar o direito


de sonhar com quem sonha.

Escrito no dia da Professora, no ano de 2021

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