Você está na página 1de 13

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/329837832

[recensão] Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona

Article · November 2018


DOI: 10.17231/comsoc.34(2018).2959

CITATIONS READS

0 4,312

1 author:

Vitor de Sousa
University of Minho
55 PUBLICATIONS   19 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Strategic Project of CECS-UMinho (2013-2014) View project

History narratives and post-coloniality. Myths, concepts and problems / As narrativas da História e a pós-colonialidade. Mitos, conceitos e problemáticas View project

All content following this page was uploaded by Vitor de Sousa on 30 March 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018, pp. 457 – 462
DOI: 10.17231/comsoc.34(2018).2959

Mbembe, A. (2017). Crítica da razão


Negra. Lisboa: Antígona.
Vítor de Sousa

Crítica da razão Negra, de Achile Mbembe, não é uma história das ideias, nem um
exercício de sociologia histórica, embora se sirva da história “para propor um estilo de
reflexão crítica acerca do mundo do nosso tempo” (p. 21). Logo na Introdução da obra,
Achille Mbembe avisa que ela integra um processo que se encontra numa fase inicial e
que se prende com a urgência em abrir a problemática da política da raça, do racismo e
do colonialismo ao pensamento crítico, desclassificando o statu quo assente em prede-
terminações e estereótipos tendentes a dar “conforto” à lógica dominante. Por outras
palavras, a necessidade em deixar para trás a ideia de verdade absoluta, a que, já em
1997, Stuart Hall chamara a atenção. E é disso que trata este livro, que tem um recorte
teórico sublinhado, em que o autor discorre sobre o conceito de “negro”, sobre a evolu-
ção do pensamento europeu que lhe esteve na origem, sobre a colagem do selo àqueles
que estão subalternizados (que apelida de “devir-negro do mundo”) e sobre os estrata-
gemas destinados a ofuscar o próprio assunto. Neste livro, considera-se urgente a des-
colonização mental da Europa para combater o fenómeno do racismo global tecido pelo
capitalismo selvagem, em que potencialmente todos poderão ser os novos “negros”.
A obra integra a trilogia iniciada com Sortir de la grande nuit (2010), onde o autor
analisa a problemática da descolonização numa perspetiva decolonial, e terminada com
Políticas de inimizade (2017), em que promove um diálogo transversal com pensadores
de diferentes quadrantes que trataram a questão colonial e a sua relação com o impe-
rialismo, o capitalismo e o racismo. É traduzida por Marta Lança, e pode ser encarada
enquanto paródia da Crítica da razão pura, de Kant, em que pretende demonstrar a liga-
ção estrutural entre os conceitos de modernidade e de colonialidade, e em que discorre
sobre o que diz ser a negrificação do mundo e a generalização dessa condição, que ex-
travasa as fronteiras biológicas e sociológicas do “outro” racializado, em que o “negro”
seria um deserdado do mundo.
Nesse quadro, o autor, que é historiador, filósofo, professor de Ciência Política, e
uma referência académica no estudo do pós-colonialismo e um dos intelectuais africa-
nos mais reputados da atualidade, recorda o peso do eurocentrismo, que
sempre teve tendência para abordar a identidade não em termos de per-
tença mútua (co-presença) a um mesmo mundo, mas antes na relação do
mesmo ao mesmo, de surgimento do ser e da sua manifestação no seu ser
primeiro ou, ainda, no seu próprio espelho. (p.10)
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

Em contrapartida, urge compreender se o “negro” e a raça têm significado a mes-


ma coisa para os imaginários das sociedades europeias, em consequência dessa lógica
“de autoficção, de autocontemplação e, sobretudo, de enclausuramento” (p. 10).
Observando as asserções primárias em relação à raça que se desenvolveram na
sua grande maioria a partir do século XVII, e cuja terminologia daí resultante é por si
apelidada como de um “delírio” produzido pela modernidade, Mbembe observa que os
conceitos de escravo e de negro se diluem, lembrando que o “negro” passa de homem-
-mercadoria (tráfico negreiro de escravos) a homem-metal (exploração mineira em Áfri-
ca) e, daí, a homem-moeda (como produto de troca no capitalismo) (p. 300). Olha,
também, para as manifestações elementares do conceito de “negro”, desde logo come-
çando por aquele em que o vemos “quando nada se vê, quando nada compreendemos
e, sobretudo, quando nada queremos compreender”; também aquele em que “ninguém
(…) desejaria ser um negro ou, na prática, ser tratado como tal”; e, finalmente, “fun-
cionando simultaneamente como categoria ordinária, material e fantasmagórica”, em
que a raça tem estado, no decorrer dos séculos precedentes, na origem de inúmeras
catástrofes, “e terá sido a causa de devastações inauditas e de incalculáveis crimes e
carnificinas” (p. 11).
Achille Mbembe refere-se a um “devir-negro do mundo”, em que toda a Humani-
dade subalterna corre o risco de se tornar negra, e em que as desigualdades em que todo
o processo assenta correm o risco de se disseminarem rapidamente. Explica que tudo
isso é consequência da violência do capitalismo, nomeadamente o tráfico atlântico de
escravos e a colonização dos séculos XIX e XX, cuja lógica está, de forma rápida, a dis-
seminar-se e a chegar à Europa. No atual contexto de crise, alarga o conceito de “negro”
a uma condição universal a que todos estarão sujeitos pelo facto de o neoliberalismo,
na sequência dos novos modelos de exploração que o caracterizam, olhar para todos
enquanto negros, com a consequente ideia de submissão associada. O que não diverge
muito da lógica racista vivenciada nomeadamente em setores da sociedade portuguesa,
que apelidam ainda hoje de “negro”/”preto” aquele que é sujeito, por exemplo, a um
trabalho muito mais duro do que o habitual. Um resquício, afinal, da dinâmica social
colonial que o próprio Mbembe pretende derrubar.
A isto não está dissociada a ideia de declínio da Europa e o seu recentramento
no mundo, com a consequente perda da sua importância. Segundo Mbembe, o ocaso
europeu anuncia-se “mesmo que o mundo euro-americano não tenha chegado a saber,
ainda que quisesse saber (ou fingir saber), do negro”, o que leva a que em muitos países
se assevere agora um “racismo sem raça”. No intuito de aprimorar a prática da discri-
minação, tornando a raça conceptualmente impensável, explica que se fez “com que a
cultura e a religião tom[assem] o lugar da ‘biologia’”. O que faz com que afirme que o
universalismo republicano é cego em relação à raça: “encerram-se os Não-Brancos nas
suas supostas origens, e continuam a proliferar categorias totalmente racializadas, as
quais, maioritariamente, alimentam, no quotidiano, a islamofobia”. É por isso que não
tem dúvidas de que terá chegado o momento de finalmente fundar qualquer coisa de ab-
solutamente novo, “enquanto a Europa se extravia, apanhada pela doença de não saber
onde se encontra o mundo” (p. 20).

458
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

O impacto para o racismo e para a ideia de raça no contexto de subalternização da


Europa pode ser explicado através da história. Mbembe concluiu que os riscos sistemá-
ticos aos quais os escravos negros foram expostos durante o primeiro capitalismo estão
na base das constantes dinâmicas de subalternização. Não será, assim, de estranhar
que o fio condutor do autor em relação a esta problemática assente num quadro de
recorte económico, pelo que não é possível separar a subjugação do “negro” da explo-
ração capitalista. O racismo teria, assim, sido desenvolvido como legitimador do capita-
lismo, através da opressão e da exploração, sendo que, para sobreviver, necessitava de
pressupostos raciais.
Sustenta que os conceitos de raça e de racismo são constantemente renovados,
não importando o lado da barricada em que estejam os protagonistas, o que simplifica
um processo ideológico complexo. Refere Mbembe que não passará de uma mera ficção
a redução da pessoa humana a uma dinâmica biológica (como a cor da pele), e eviden-
cia que a Europa e a América em particular “fizeram do negro e da raça duas versões de
uma única e mesma figura, a da loucura codificada” (p. 11). A construção da identidade
do “negro” passou, assim, para além da fixação do próprio nome, pela sua interioriza-
ção e, finalmente, pela subversão do conceito. O autor não se limita a desferir as suas
críticas às correntes ideológicas legitimadoras do colonialismo, estendendo-as aos mo-
vimentos “africanistas”, em que
a proclamação da diferença é apenas um momento de um projecto mais
vasto – de um mundo que virá, de um mundo antes de nós, no qual o
destino é universal, um mundo livre do peso da raça e do ressentimento e
do desejo de vingança que qualquer situação de racismo convoca. (p. 306)

Transversal aos seis capítulos do livro (“A questão da raça”, p. 25; “O poço da alu-
cinação”, p. 75; “Diferença e autodeterminação”, p. 139; “O pequeno segredo”, p. 179;
“Réquie para o escravo”, p. 223; e “Clínica do sujeito”, p. 255), são as referências do au-
tor a Frantz Fanon, de que se mostra adepto, nomeadamente no último capítulo. Prova
disso é o comentário que faz ao autor de Pele Negra Máscaras Brancas sobre o conceito
político de violência racista da era colonial, citando-o, de resto, bastamente: “Fanon diz
que a violência não é apenas consubstancial à opressão colonial. A duração no tempo
de tal sistema, por si estabelecido com violência, é, explica ele, ‘função da manutenção
da violência’” (p. 183), não obstante o discurso colonial ter um recorte subdesenvolvido
uma vez que se articula à volta dos estereótipos de alteridade. Mbembe refere que, se
algo devemos a Fanon, é exactamente a ideia segundo a qual existe, em qualquer ser
humano, “algo de indomável, de verdadeiramente inapreensível, que a dominação (…)
não consegue nem eliminar, nem conter, nem reprimir, pelo menos totalmente” (p. 285).
É assim que sublinha não haver nenhuma relação consigo mesmo que não passe pela
relação com o Outro:
O outro mais não é do que a diferença e semelhante reunidos. O que teremos
de imaginar será uma política do ser humano que seja, fundamentalmente,

459
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

uma política do semelhante, mas num contexto onde, é verdade, o que


partilhamos em conjunto sejam as diferenças. E são elas que precisamos,
paradoxalmente, de por em comum. (p. 297)

Por em comum as diferenças passa pela reparação e por “uma ampla concepção
da justiça e da responsabilidade” (p. 297).
Trata-se de uma ideia reafirmada e desenvolvida no “Epílogo” da obra, intitulado
“Existe apenas um mundo” (p. 299), e em que Mbembe aponta alguns caminhos para
um futuro que pretende “livre do peso da raça e do ressentimento” (p. 306). Trata-se de
um processo que só será possível concretizar através da justiça, restituição e reparação:
“para construir este mundo que é o nosso, será necessário restituir, àqueles e àquelas
que passaram por processos de abstracção e de coisificação na história, a parte de huma-
nidade que lhes foi roubada”, sendo que o conceito de “reparação”, enquanto categoria
económica, “remete para o processo de reunião de partes que foram amputadas, para
a reparação de laços que foram quebrados”. Por isso é que defende que “restituição” e
“reparação” (“porque a história deixou lesões e cicatrizes (…) que impedem de fazer co-
munidade”, p. 305) estão no centro da própria construção de uma consciência comum
do mundo, o que significará no “cumprimento de uma justiça universal” (p. 304). Para
tanto, o autor propõe a necessidade de a Europa ser mentalmente descolonizada, numa
lógica em que “a construção do comum [seja] inseparável da reinvenção da comunidade”
(p. 305). E, como lembra, trata-se de um processo que não é linear, uma vez que há que
contar com inúmeras cicatrizes “[da]queles que passaram pela dominação colonial ou
a quem, num dado momento da história, a sua humanidade foi roubada, a recuperação
desta parte de humanidade passa muitas vezes pela proclamação da diferença” (p. 306).
Publicada inicialmente em 2013 (a primeira edição foi dada à estampa, em Portu-
gal, no ano seguinte), a obra é de uma grande atualidade, não tendo sido de estranhar a
sua republicação em 2017. Numa altura em que, de forma global, estão a ser postos em
causa conceitos tidos até recentemente como verdadeiros, faz sentido convocar algumas
polémicas mediatizadas que cruzaram a atualidade mediática recente e que tiveram o
seu início no verão de 2017. É o caso dos acontecimentos ocorridos em Charlottesville,
na Virgínia (EUA), com o derrube de estátuas em homenagem a símbolos dos Estados
Confederados, evidenciando a clivagem entre os que defendem que elas homenageiam
a Guerra Civil Americana e não devem ser retiradas, e os adeptos do seu derrube, por
elas serem símbolos racistas que celebram a escravidão. Situações que, também em
Portugal, vão tendo repercussões. Para tanto, bastará recordar a visita do Presidente da
República a Gorée, no Senegal (2017), em que este que foi criticado por não ter pedido
desculpa por causa das responsabilidades esclavagistas que Portugal teve no local, co-
nhecido por ter sido um antigo entreposto nas rotas atlânticas do tráfico de escravos.
Também a inauguração da estátua do Padre António Vieira (no largo Trindade Coelho,
em Lisboa, em 2017), em que o escritor e prelado está representado na companhia de
três crianças índias, o que denota, segundo os críticos, paternalismo colonial mas, em
contrapartida, mereceu uma manifestação de apoio de um grupo de extrema-direita,
em defesa de alegados valores nacionais, Ou a ideia de a Câmara de Lisboa fazer um

460
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

Museu das Descobertas, nome que não é consensual e que motivou várias tomadas de
posição públicas entre os que defendem o seu alegado recorte nacionalista e aqueles
que sublinham a necessidade de ele dever mostrar o lado mais obscuro dos Descobri-
mentos (como por exemplo a escravatura, as pilhagens e a violência da conquista). Ou,
já em 2018, com o CDS a recuperar uma proposta antiga para indemnizar os espoliados
das ex-colónias portuguesas, pretendendo o maior consenso possível sobre um tema
que constitui para aquele partido ainda uma ferida aberta resultante do processo de
descolonização.
Trata-se da face visível da luta entre a história e a memória que, sendo coisas dife-
rentes, tendem a ser misturadas neste tipo de ativismos. Paul Ricoeur estabelece uma
ligação entre memória e história, considerando que o estudo histórico encena o traba-
lho da memória. O que não deixa de ser um processo contraditório, já que promove a
seleção, transformando experiências anteriores para se ajustarem a novos usos, bem
como pratica o esquecimento, que será a única forma de dar lugar ao presente (Ricoeur,
2000). Segundo Irene Flunser Pimentel, enquanto a memória se coloca no evento, sen-
do contemporânea daquele que tenta transmitir e se apoia na experiência vivida num
passado que deixou marcas nos atores, a história, enquanto conhecimento, distancia-se
e tenta extrair um sentido do passado:
a História estabelece uma distância com o seu objecto de referência, mas,
na medida em que é mais distante, mais objectivante, mais impessoal na
sua relação com o passado, ela pode ter um papel de equidade e de verda-
de, para temperar a exclusividade e a fidelidade das memórias particulares.
(Pimentel, 2013, s. p.)

José Neves observa que o relato historiográfico está condenado a usar palavras do
passado e de hoje, sendo que
o problema não reside na circunstância de um historiador discursar sobre
sujeitos de um dado período fazendo uso de nomes próprios de outros pe-
ríodos no que consubstancia um anacronismo; o problema surge quando
o historiador não o circunstancia (…) nem discute tal intertextualização.
(Neves, 2016, p. 14)

É, afinal, como refere Moisés de Lemos Martins (2014), a propósito da lusofonia,


a evidência da existência de uma clivagem entre equívocos que urge desconstruir junto
dos protagonistas de uma história da relação entre um “eu” colonial e um “outro” co-
lonizador. É por isso que é urgente a descolonização mental, como preconiza Mbembe,
no sentido de ultrapassar esses equívocos e dirimir ressentimentos, sentidos de supe-
rioridade e/ou de inferioridade, bem como de imaginários ideológicos. O que sublinha
a diversidade relacional entre as partes, contrariando a homogeneização provocada pela
globalização em que, quanto mais idênticas forem as pessoas, mais veloz será a circula-
ção do capital, das mercadorias e da informação, mas onde menor será a crítica exercida
pelos cidadãos e em que o produto final será monolítico.

461
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

Referências
Hall, S. (1997). The centrality of culture: notes on the cultural revolutions of out time. In K. Thomson (Ed.),
Media and culture regulation (pp. 208-238). Reino Unido: The Open University.

Martins, M. L. (2014). Língua portuguesa, globalização e lusofonia. In N. Bastos (Ed.), Língua portuguesa e
lusofonia (pp.15-33). São Paulo: EDUC - IP-PUC.

Neves, J. (2016). Os sujeitos da História. In J. Neves (Ed.), Quem faz a História? Ensaios sobre o Portugal
contemporâneo (pp. 9-16). Lisboa: Tinta da China.

Pimentel, I. F. (2013, 20 de fevereiro). Será que a História nos pode fornecer algo de preventivo e “anular o
destino”? [Post em blogue]. Retirado de http://irenepimentel.blogspot.com/2013/02/

Ricoeur, P. (2000). La memóire, l’histoire, l’oubli. Paris: Éditions du Seuil.

Nota biográfica
Vítor de Sousa é doutorado em Ciências da Comunicação (Comunicação Intercul-
tural), pela Universidade do Minho, em 2015, com a tese Da ‘portugalidade’ à lusofonia,
é mestre (especialização em Educação para os Média) e licenciado (especialização em
Informação e Jornalismo) na mesma área. Entre as suas áreas de investigação constam
as questões em torno da identidade, Estudos Culturais, Educação para os Média e teo-
rias de Jornalismo. É investigador do CECS, onde integra o Grupo de Estudos Culturais,
sócio da Sopcom, ECREA e da Associação dos Amigos da Biblioteca Municipal de Pena-
fiel. Venceu o Prémio Científico Mário Quartim Graça 2016, que distinguiu a melhor tese
concluída nos últimos três anos na área das Ciências Sociais e Humanas, em Portugal e
na América Latina. Foi jornalista (1986-1997) e assessor de imprensa (1997-2005).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6051-0980
Email: vitordesousa@gmail.com
Morada: CECS-Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, ICS-Instituto de
Ciências Sociais, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga

* Submetido: 15.05.2018
* Aceite: 29.06.2018

462
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018, pp. 463 – 468
DOI: 10.17231/comsoc.34(2018).2960

Mbembe, A. (2017). Crítica da razão


Negra. Lisboa: Antígona.
Vítor de Sousa

Crítica da razão Negra [Critique of Black reason], by Achille Mbembe, is not a story
about ideas, or an exercise in historical sociology, despite making use of history “to put
forth a style of critical reflection about the world of our time” (p. 21). Straightaway in the
work’s Introduction, Achille Mbembe lets the reader know that it’s included in a process
that’s at a preliminary stage in connection with the urgency to open up the problem
of racial policy, racism and colonialism to critical thinking, declassifying the status quo
hinged on predeterminations and stereotypes tending to bring “comfort” to the predom-
inant logic. In other words, the need to put behind the notion of absolute truth, which,
as early as 1997, Stuart Hall called attention. And this is what this book is about, that it
comprises an underscored theoretical clipping, where the author expounds on the con-
cept of “black,” on the evolution of European thinking that was behind it, with regard to
affixing the stamp on those that are subordinated (which he calls “black development”
of the world) and regarding stratagems intended to overshadow the matter itself. This
book deems it urgent to mentally decolonize Europe in order to fight the phenomenon
of global racism forged by rampant capitalism, where potentially everyone could be the
new “blacks”.
The work includes the trilogy that starts with Sortir de la grande nuit (2010), where
the author looks into the problem of decolonization from a decolonial perspective, and
ends with Politiques de l’inimitié (2017), where he fosters a cross-sectional dialogue with
thinkers from different quarters who dealt with the colonial issue and how it relates to
imperialism, capitalism and racism. Translated (to Portuguese) by Marta Lança, it can
be viewed as a parody of Kant’s Critique of pure reason, where it seeks to show the struc-
tural link between the concepts of modernity and coloniality, and which expounds on
what it says is the “blackification” of the world and the generalization of that condition,
going beyond biological and sociological boundaries of the racialized “other”, where the
“black” would be disowned in the world.
Within this framework, the author, who is a historian, a philosopher, a Political Sci-
ence professor, and an academic reference in the study of post-colonialism and currently
one of the most renowned African intellectuals, recalls the weight of eurocentrism, which
always tended to address identity not in terms of mutual belonging (co-
presence) to a single world, but, rather, how they relate to one another, the
emergence of the being and of their manifestation in their first being or
even in their own mirror. (p.10)
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

By contrast, we need to understand whether “black” and race have meant the same
thing for the imaginaries of European societies, as a result of that logic “of autofiction,
self-contemplation and, above all, enclosure” (p. 10).
Upon observing primary assertions regarding race that have been developed most-
ly from the 17th century, and whose resulting terminology he dubs as that of a “delir-
ium” arising from modernity, Mbembe remarks that the concepts of slave and black
are blurred, while recalling that the “black” goes from man-merchandise (black slave
trafficking) to man-metal (mining in Africa) and, then, to man-currency (as the product
of exchange in capitalism) (p. 300). He also looks at the basic manifestations of the
concept of “black,” starting off by that where we see “when nothing is seen, when we
don’t understand anything and, especially, when we don’t want to understand anything;”
likewise, that where “nobody (…) would wish to be a black or, in practice, to be treated as
such”; and, finally, “simultaneously working as an ordinary, material and phantasmagori-
cal category”, where race has been, throughout the previous centuries, behind countless
catastrophes, “and which has been the cause of untold devastations and incalculable
crimes and carnages” (p. 11).
Achille Mbembe refers to a “black development of the world,” where all of subordi-
nate Humanity risks becoming black, and where the inequalities on which the entire pro-
cess is hinged runs the risk of being quickly disseminated. He explains that all this is the
result of the violence of capitalism, namely Atlantic slave trafficking and the colonization
in the 19th and 20th centuries, whose logic is quickly disseminating and arriving in Europe.
In the current crisis context, he expands the concept of “black” to a universal condition to
which everyone is subject due to the fact that neoliberalism, in the wake of new exploita-
tion models characterizing it, looks to everyone as blacks, with the subsequent idea of
related subjection. This does not diverge much from the racist logic experienced, namely
in sectors of Portuguese society, which even today dubs as “black” he who is subject, for
example, to much harder work usual. As it turns out, this is a remnant of the colonial
social dynamic that Mbembe himself seeks to tear down.
This is not separate from the notion of the decline of Europe and its re-focus in
the world, with the subsequent loss of its importance. According to Mbembe, Europe’s
sunset is announced “even if the Euro-American world has not become aware of, despite
wanting to know (or to pretend to know) about, the black man,” which now leads many
countries to assert a “raceless racism”. In order to enhance the practice of discrimina-
tion, where race becomes conceptually unthinkable, he explains that this caused “culture
and religion to take the place of ‘biology’”. This, in turn, leads him to state that republi-
can universalism is blind in relation to race: “non-Whites are encapsulated in their sup-
posed origins, while fully racialized categories continue to proliferate, which mostly feed
islamophobia on a daily basis”. This is why there is no question in his mind that the mo-
ment has come arrived in order to found something absolutely new, “while Europe goes
astray, caught by the disease of not knowing where the world is at” (p. 20).
The impact for racism and for the notion of race within the subordination of Eu-
rope, can be explained by history. Mbembe concluded that the systematic risks to which

464
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

black slaves were exposed during the first capitalism forms the basis for constant dynam-
ics of subordination. Thus, it’s no wonder that the author’s common thread in relation
to this problem hinges on a framework of economic clipping, and so we cannot separate
subjecting the “black man” from capitalist exploitation. Racism would, therefore, have
been developed to legitimize capitalism, through oppression and exploitation, as racial
assumptions were required for this to survive.
He maintains that the concepts of race and racism are constantly renewed, regard-
less of the players’ side of the fence, thus simplifying a complex ideological process.
Mbembe points out that reducing human beings to a biological dynamic (such as skin
color) is nothing more than mere fiction, while emphasizing that Europe and America
in particular “take the black man and race and make two versions of a single figure: en-
coded madness” (p. 11). The construction of the “black man” identity thus included not
only establishing one’s own name, but also its internalization and, finally, subverting the
concept. The author does not merely unleash his criticism on ideological currents that
legitimize colonialism, as he also extends them to “africanist” movements, where
proclaiming difference is just a moment on a broader project – of a coming
world, of a world preceding us, where destiny is universal, a world free from
the weight of race and resentment and from the desire for revenge sum-
moned by any situation of racism. (p. 306)

Transversal to the books’ six chapters (“The issue of race,” p. 25; “The pit of hal-
lucination”, p. 75; “Difference and self-determination”, p. 139; “The little secret” p. 179;
“Réquiem for the slave”, p. 223; and “The subject’s clinic”, p. 255) are the author’s ref-
erences to Frantz Fanon, of whom he admits to being a fan, namely in the last chapter.
Proof of that is his comment regarding the author of Black skin, white masks, concerning
the political concept of colonial era racist violence, quoting him quite simply: “Fanon
says violence is not just an integral part of colonial oppression. Such a system’s duration
over time, established with violence, is, he explains, ‘a function of maintaining violence’”
(p. 183), notwithstanding the colonial discourse comprising an underdeveloped contour
articulated around the stereotypes of otherness. Mbembe refers that, if there’s anything
we owe Fanon, it’s precisely the notion whereby, in any human being, there is “something
indomitable, truly intangible, that domination (…) cannot achieve or do away with, or
contain, or repress, at least totally” (p. 285). This is how he points out that there is no
relation to himself that does not go by way of a relation with the Other:
the other is nothing more than the difference and similarity combined. What
we will need to imagine is a policy where the human being is essentially a
policy of what is similar, but within a context where, truth be told, what we
share together are the differences. And, paradoxically, these are what we
need to set in common. (p. 297)

Setting differences in common goes by way of repair and of “a broad concept of


justice and responsibility” (p. 297).

465
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

This notion is reasserted and developed in the works “Epilogue” entitled “There
is but one world” (p. 299), and where Mbembe highlights a few paths to a future seek-
ing to be “free from the weight of race and resentment” (p. 306). This is a process only
achievable through justice, restitution and repair: “to build this world that is ours, it will
be necessary to restore, to those who have gone through processes abstraction and
objectification in history, that part of humanity of which they have been robbed”, as the
concept of “reparation”, as an economic category, “hearkens to the process of bringing
together parts that were amputated, to repairing bonds that were broken”. That’s why
he maintains that “restitution” and “repair” (“because history has left wounds and scars
e cicatrizes (…) that hinder forming a community”, p. 305) are at the center of the very
construction of a common awareness of the world, which will entail the “fulfillment of a
universal justice” (p. 304). To such end, the author suggests the need for Europe to be
mentally decolonized, within a logic where “construction of what is common [is] insepa-
rable from reinventing the community” (p. 305). And, as he reminds us, this is not a lin-
ear process, as we need to take into account countless scars “[of ] those who experienced
colonial domination or who, at a given point in history, were robbed of their humanity, re-
covery of this part of humanity often goes by way of proclaiming the difference” (p. 306).
Originally published in 2013 (the first edition appeared in Portugal the following
year), the work is highly up-to-date, and so it’s no wonder it was republished in 2017. At
a time when, at a global scale, concepts recently regarded as true are being called into
question, it makes sense to summon a few high-profile controversies that recently put
forth in the media, starting in the summer of 2017. This is the case with events that took
place in Charlottesville, Virginia (U.S.), with the toppling of statues honoring symbols of
the Confederate States, highlighting the rift between those maintaining they pay tribute
to the U.S. Civil War and should not be removed, and those in favor of bringing them
down, saying they are racist symbols extolling slavery. Such situations have had repercus-
sion, even in Portugal. To this end, we simply need to hearken back to the Portuguese
president’s visit to Gorée, Senegal (2017), where he was criticized for not having issued
an apology for Portugal’s role in the slave trade there, a place known for having served
as a former outpost for Atlantic slave trafficking routes. Likewise, the dedication of the
statue of Father António Vieira (at largo Trindade Coelho, in Lisbon, in 2017), where the
author and prelate is depicted in the company of three Indian children, which critics
claim to denote colonial paternalism, but which, by contract, warranted a show of sup-
port from a far-right group defending alleged national values. Or Lisbon City Council’s
idea of creating a Museum of the Discoveries, a name that does not garner consensus,
as it prompted various public stances among those maintaining its alleged nationalist
contours and those underpinning that it needs to display the darker side of the Discover-
ies (such as slavery, lootings and conquest-related violence). Or, in 2018, with the CDS
political party reviving an old proposal to compensate those dispossessed when they
lived in the former Portuguese colonies, while seeking the greatest possible consensus
regarding a topic which that party still regards as an open sore resulting from the decolo-
nization process.

466
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

This is the visible face of the struggle between history and the memory which,
despite being two different things, tend to be mistaken in this kind of activisms. Paul
Ricoeur establishes a link between memory and history, as he feels that historical study
stages the memory’s work. Still, this remains a contradictory process, as this fosters se-
lection, transforming previous experiences so that they are adjusted to new uses, while
engaging in forgetfulness, which will be the only way to give way to the present (Ricoeur,
2000). According to Irene Flunser Pimentel, as memory is placed into the event, becom-
ing contemporary to that which it attempts to convey and is based on experience from a
past that left scars on its players, history, in the form of knowledge, distances itself while
seeking to draw some sense from the past:
while history establishes a distance from its reference object, to the extent
where it is more distant, more objectivizing, more impersonal in its relation
to the past, it can play an equitable and truthful role, in order to mitigate the
exclusivity and faithfulness of particular memories. (Pimentel, 2013, n.p.)

José Neves remarks that the historiographic report is doomed to use words from
the past and from today, as
the problem does not lie in the circumstance of a historian giving a speech
on subjects from a given period, making use of names from other periods
included in an anachronism; the problem arises when the historian does
not give details (…) or discusses such an intertextual relation. (Neves, 2016,
p. 14)

It is, after all, as Moisés de Lemos Martins (2014) points out, the purpose of Lu-
sophony, proof of the existence of a rift between mistakes need to be deconstructed
among players from a history of the relation between a colonial ‘me’ and a colonizing
‘other’. This is why engaging in mental decolonization is urgent, as advocated by Mbem-
be, in order to overcome such mistakes and to settle resentments, feelings of superiority
and/or inferiority, as well as ideological imaginations. What underpins relational diver-
sity among the parties, counteracting the homogenization brought about by globaliza-
tion, where, the more identical people are, the swifter the circulation of capital, goods
and information, but which will result in less criticism expressed by citizens and where
the end product will be monolithic.

Translation: Traduções Técnicas do Minho, Lda.

References
Hall, S. (1997). The centrality of culture: notes on the cultural revolutions of out time. In K. Thomson (Eds.),
Media and culture regulation (pp. 208-238). United Kingdom: The Open University.

Martins, M. L. (2014). Língua portuguesa, globalização e lusofonia. In N. Bastos (Ed.), Língua portuguesa e
lusofonia (pp.15-33). São Paulo: EDUC - IP-PUC.

467
Comunicação e Sociedade, vol. 34, 2018
Mbembe, A. (2017). Crítica da razão Negra. Lisboa: Antígona. . Vítor de Sousa

Neves, J. (2016). Os sujeitos da História. In J. Neves (Ed.), Quem faz a História? Ensaios sobre o Portugal
contemporâneo (pp. 9-16). Lisboa: Tinta da China.

Pimentel, I. F. (2013, 20 de fevereiro). Será que a História nos pode fornecer algo de preventivo e “anular o
destino”? [Blog post]. Retrieved from http://irenepimentel.blogspot.com/2013/02/

Ricoeur, P. (2000). La memóire, l’histoire, l’oubli. Paris: Éditions du Seuil.

Biographical note
Holder of a Ph.D in Communication Sciences (Intercultural Communication), from
the University of Minho, in 2015, Vítor de Sousa authored the thesis Da ‘portugalidade’
à lusofonia; he holds a master’s degree (specialization in Media Education) and a B.A.
(specialization in Information and Journalism) in the same field. His areas of research
include issues surrounding identity, Cultural Studies, Media Education and Journalism
theories. He is a researcher at CECS, where he is part of the Group of Cultural Studies,
a member of Sopcom, ECREA and the Association of Friends of the Penafiel City Library.
He was awarded the 2016 Mário Quartim Graça Scientific Prize, given to the best thesis
completed in the last three years in the field of Social and Human Sciences, in Portugal
and Latin America. He was a journalist (1986-1997) and press secretary (1997-2005).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6051-0980
Email: vitordesousa@gmail.com
Address: CECS-Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, ICS-Instituto de
Ciências Sociais, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, 4710-057 Braga

* Submitted: 15.05.2018
* Accepted: 29.06.2018

468

View publication stats

Você também pode gostar