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A menina-moça e a dança

Dari Sortica
Já quase clareava o dia,
E a boieira se anunciava
De madrugada acordava
No seu catre, a guria
Quase em si não se cabia
De tão ansiosa e contente
Era um dia diferente
Já há muito esperado
Tudo estava preparado
Bastava dançar, somente!

Porém ao ver-se acordada


Se entona em frente ao espelho
O certame era parelho
E a disputa apertada
E em pé, ali parada
Fita os olhos com carinho
E aos poucos, de mansinho
Repassa os passos da dança
Bem se sabe que confiança
Se adquire aos pouquinhos

Mesmo sem ter a intenção


Acordou toda a família
O que fazes, minha filha?
Lhe diz a mãe com afeição
Sossega o teu coração
Tente dormir novamente
Não seja tão exigente
Pois bem mais do que a disputa
Na vida o que vale é a luta
Sendo feliz e decente!

De fato, assim pensava


Na invernada aprendera
Que para dançar nascera
E isso é o que interessava
A dança lhe transportava
Para o espaço divino
E por sorte do destino
E amor à tradição
Bem dançar era missão
Que alegrava o céu sulino

Por atenção e respeito


Vai pra cama, sem demora
Pensava, vou fazer hora
Pois dormir não terá jeito
Nestes dias, com efeito
O tempo passa mui lento
Lá fora assovia o vento
Dançando por entre a noite
E com esse som de açoite
Adormece em desalento

E sonha que está dançando


Toda garbosa e faceira
Que sarandeia festeira
Como uma pluma esvoaçando
Vê seus pais lhe admirando
Cheios de orgulho na estampa
Nisso uma voz diz: levanta!
pois o dia já vai alto
E a prenda, em sobressalto
Acorda plena de pampa

O dia será corrido


Dançará de tardezita
Precisa estar bonita
Com o cabelo aprumado
O vestido bem passado
O sapato confortável
Refeição leve e saudável
É o que se recomenda
Para que o corpo da prenda
Deslize leve e agradável

E chega a hora da dança


O salão está lotado
O elenco preparado
Lhe transmite segurança
Ela se sente criança
Põe-se na dança brincando
E feliz vai continuando
A tradição secular
Pois a alegria há de estar
Onde houver prenda dançando!

De um costume, me ufano
Dele falo com emoção
Depois da apresentação
Num amor quase insano
Fazendo um túnel humano
Os pais recebem a invernada
E chorando, obstinada
Chora junto co’as famílias
E abraçada às outras filhas
Vai se sentindo amada!

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