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O tema que será desenvolvido tem por título “As Universidades Católicas segundo a
Constituição Apostólica ‘Ex Corde Ecclesiae’, do Santo Padre João Paulo II”. Trata-
se de uma aproximação jurídica, que pretende oferecer, a partir da perspectiva do
Direito e considerando os textos legais pertinentes, algumas reflexões úteis acerca
da natureza das Universidades Católicas e de sua titularidade.
Toda Universidade Católica mantém com a Igreja um vínculo que é essencial para a
sua identidade institucional. Ainda que participe mais diretamente na vida da
Igreja particular em que está implantada, ao mesmo tempo participa e contribui para
a vida da Igreja Universal, assumindo, portanto, um vínculo particular com a Santa
Sé em razão do serviço de unidade, que ela é chamada a cumprir em favor de toda a
Igreja. Desta estreita relação com a Igreja derivam, como consequência, a
fidelidade da Universidade, como instituição, a mensagem cristã e o reconhecimento
e adesão à Autoridade magisterial da Igreja em matéria de fé e moral.(7)
A Universidade Católica, que presta um importante auxílio à Igreja em sua missão
evangelizadora, deve estar cada vez mais atenta às culturas do mundo de hoje, com o
fim de promover um constante e proveitoso diálogo entre o Evangelho e a sociedade
atual. Entre os critérios que determinam o valor de uma cultura, estão, em primeiro
lugar, o significado da pessoa humana, sua liberdade, sua dignidade, seu sentido da
responsabilidade e sua abertura à trascendência. No tocante à pessoa, está
relacionado o valor eminente da família, célula primária de toda cultura humana.(8)
No artigo X do Acordo sobre Ensino, aparece uma alusão aos centros universitários
que se estabeleçam pela Igreja, para afirmar que se acomodarão à legislação que se
promulgue com caráter geral enquanto ao modo de exercer suas atividades. Esta norma
constitui um claro reconhecimento do direito da Igreja de criar universidades que,
como é facilmente reconhecido tanto pela Espanha quanto pelo resto da Europa,
nasceram no seio da Igreja. Conforme ao citado art. X, as autoridades eclesiásticas
são as únicas competentes para decidir sobre a questão da titularidade, elemento
essencial da estrutura orgânica de suas instituições.
Os fiéis, “entre os quais rege uma verdadeira igualdade enquanto a dignidade e ação
comum… para a edificação do Corpo de Cristo”(12), têm respondido frequentemente à
sua vocação ao apostolado realizando, ao longo da História, múltiplas iniciativas
evangelizadoras da mais diversa índole (escolas, editoras, meios de comunicação,
hospitais etc.). Estas empresas apostólicas têm sido propostas pelo Concilio
Vaticano II como modos concretos de participar da missão da Igreja, abertas a todos
os membros do Povo de Deus.(13) Daí que, o direito a promover entidades ou
instituições apostólicas deva considerar-se como originário, independente de
qualquer eventual convite da hierarquia para colaborar ativamente na
responsabilidade que lhe é própria; assim, a autoridade eclesiástica não deve
impedir ou obstaculizar o exercício deste direito, cumprindo os requisitos ou
condições estabelecidos.(14)
As Universidades que têm um vínculo constitutivo são as eregidas pela Santa Sé, a
Conferência Episcopal ou o Bispo, que, por sua vez, em virtude do próprio Decreto
de sua ereção, são Universidades Católicas. Uma Universidade Católica pode também
ser aprovada, diz o artigo 3.1, pela Santa Sé, a Conferência Episcopal ou o Bispo.
Pois bem; uma Universidade eregida “por outras pessoas eclesiásticas ou por leigos”
poderá considerar-se Universidade Católica só com o consentimento da autoridade
eclesiástica competente, “segundo as condições acordadas pelas partes”.(23) A
prestação do consentimento, por parte da autoridade eclesiástica competente,
conforme o artigo 3.3º, será a expressão do seu vínculo jurídico com a Igreja. Em
outras palavras: o consentimento é a resposta ao compromisso institucional assumido
por seus responsáveis, que é uma das causas previstas para aceder ao “status” de
Universidade Católica.(24)
Neste ponto temos de nos perguntar se a Fundação Universitária San Antonio, foi
promotora ou fundadora e, portanto, titular e proprietária da Universidade Católica
San Antonio. A resposta encontra-se no acordo adotado pelo Patronato Reitor de
referida Fundação, em sessão celebrada a 24 de setembro de 1996, em que se debateu
e votou a única proposta da Ordem do Dia, redigida nos seguintes termos: “Criação
da Universidade Católica San Antonio, de inspiração católica, capaz de servir de
instrumento de Ensino Superior e de evangelização de todas aquelas pessoas que se
integrem no círculo de tal instituição e, especialmente, da juventude murciana”.
Por unanimidade e à proposta de D. José Luis Mendoza, se acordou erigir a UCAM, com
a titularidade anexa.
REFLEXÃO FINAL
Escolher a Universidade Católica significa eleger esta aproximação que, apesar dos
inevitáveis limites históricos, qualifica a cultura da Europa, a cuja conformação –
e não é por acaso – as universidades nascidas historicamente “ex corde Ecclesiae”
(do coração da Igreja), deram uma contribuição fundamental.
Fiéis ao espírito dos primórdios, ao compromisso que com tanta ilusão e não sem
dificuldades, assumiram os promotores, fundadores e titulares da UCAM, em
circunstâncias muitas vezes adversas, inclusive quando se experimenta o cansaço e a
desilusão, desejo que prossigam construindo, dia após dia, com entusiasmo e
alegria, a Universidade Católica de San Antonio.
[Encerro] com as palavras de Bento XVI: “No vasto mar da cultura, Cristo sempre tem
necessidade de pescadores de homens, isto é, de pessoas de consciência e bem
preparadas que ponham suas competências profissionais ao serviço do bem e, em
última instância, ao serviço do Reino de Cristo”.(35)
Muito obrigado!
—
NOTAS
(1) João Paulo II, Constituição Apostólica sobre as Universidades Católicas “Ex
Corde Ecclesiae” (ECE), de 15 de agosto de 1990, nº 9.
(2) ECE, nº 4.
(3) ECE, nº 1.2.
(4) ECE, nº 1.4.
(5) João Paulo II, Exortação Apostólica pós-sinodal “Christifideles Laici”, de 30
de dezembro de 1988.
(6) ECE, nº 2.5.
(7) ECE, nº 2.7.
(8) ECE, nº 4.5.
(9) As Universidades Eclesiásticas são reguladas pela Constituição Apostólica
“Sapientia Christiana”, de 1979.
(10) M. López Alarcón, A titularidade da UCAM a partir da perspectiva jurídica
concordataria, diário “A Verdade” de Murcia.
(11) M. López Alarcón, ibidem.
(12) Lumen Gentium, 32c.
(13) Presbyterorum Ordinis, 9b; Perfectae Caritatis, 20; Apostolicam Actuositatem,
24; Ad Gentes, 6c.
(14) O mesmo Concílio, no Decreto “Apostolicam Actuositatem”, sobre o apostolado
dos seculares, declara que “guardada a relação devida com a autoridade
eclesiástica, os seculares têm o direito de fundar e dirigir associações e o de
afiliar-se às já fundadas” (AA 19). Mantendo uma união bastante estreita com a
hierarquia, os “seculares oferecem sua experiência e assumem sua responsabilidade
na direção destas organizações” (AA 20b). Neste sentido, afirma o Concílio, “há na
Igreja muitas obras apostólicas constituídas pela livre escolha dos seculares e
dirigidas por seu prudente juízo… Nenhuma obra, no entanto, deve arrogar-se o nome
de ‘católica’ sem o assentimento da legítima autoridade eclesiástica” (AA 24).
(15) Em relação com o exposto, o cânon 225, dentro do título relativo
especificamente aos direitos e obrigações dos leigos, confirma o apontado no
parágrafo anterior: “Os leigos têm a obrigação geral e gozam do direito, tanto
pessoal quanto associadamente, de trabalhar para que a mensagem divina de salvação
seja conhecida e recibida por todos os homens em todo o mundo; obrigação que lhes
exige todavia mais naquelas circunstâncias nas quais só através deles podem os
homens ouvir o Evangelho e conocer a Jesus Cristo”. É evidente que se trata de um
forte apelo à responsabilidade destes fiéis cristãos, para que se façam presentes
no âmbito das realidades seculares.
(16) Este texto se baseia no Código de Direito Canônico (cc. 807-814), porém é, ao
mesmo tempo, seu desenvolvimento ulterior. Por outra lado, as Normas Gerais da “Ex
corde Ecclesiae” informarão a legislação particular.
(17) Constituição Apostólica ECE, art. 2.2.
(18) Cânon 116.
(19) Cânon 114, §3.
(20) ECE, Normas Gerais, art. 3.4.
(21) Cânon 394, §1.
(22) ECE, Normas Gerais, art. 2.2.
(23) ECE, Normas Gerais, artigo 3.3º e cânon 808.
(24) O conteúdo do compromisso institucional é, pelo que se vê, a aceitação da
legislação canônica na matéria, no que seja de pertinente aplicação: o Código, a
Constituição Apostólica “Ex Corde Ecclesiae” e o direito particular emanado da
Conferência Episcopal. Qualquer dúvida neste sentido é desfeita pelo art. 1.3 do
ECE, em virtude do qual, as Universidades do segundo e terceiro grupos – as
eregidas por pessoas jurídicas públicas ou privadas – “farão próprias” as Normas
Gerais da Constituição Apostólica e suas aplicações locais e regionais,
incorporando-as aos documentos relativos ao seu governo e – enquanto seja possível
– adequarão seus vigentes estatutos às Normas Gerais como às suas aplicações.
(25) Tal é a razão pela qual a “Ex Corde Ecclesiae” (art. 3.4), limita às
Universidades do primeiro e segundo grupos a exigência de aprovação estatutária.
(26) Conforme o artigo XVI do Acordo entre a Santa Sé e o Estado espanhol, sobre
Ensino, de 3 de janeiro de 1979, cabe às Altas Partes (Santa Sé e Governo
espanhol), “proceder de comum acordo na resolução das dúvidas ou dificuldades que
puderem surgir na interpretação ou aplicação de qualquer cláusula do citado Acordo,
inspirando-se para isso nos princípios que o informam”. Neste sentido, o ditame ou
informe que, em seu caso, emita o Conselho de Estado não é vinculante para a Igreja
Católica, enquanto se refira à interpretação do Acordo internacional ou à
legislação específica da Igreja sobre Universidades.
(27) Cânon 360 e Constituição Apostólica “Pastor Bonus”, de 28 de junho de 1988.
(28) O Diretório “Ecclesiae Imago”, para o Ministério Pastoral dos Bispos, de 22 de
fevereiro de 1973, no nº 42, dispõe que “o poder de que goza cada Bispo em sua
diocese é próprio, ordinário e imediato, ainda que circunscrito dentro de
determinados limites em vista da utilidade da Igreja e dos fiéis. Aos Bispos está
confiado plenamente o ofício pastoral, ou seja, o habitual e cotidiano cuidado de
sua grei; porém, não devem ser considerados vigários do Romano Pontífice, porque
são revestidos de autoridade própria”.
(29) A UCAM foi eregida como pessoa canônica privada; por isso, se lhe aplica o
art. X do Acordo sobre Ensino e Assuntos Culturais, sem contradizer a doutrina do
Conselho de Estado. Esta personificação canônica é independente da titularidade e
propriedade que corresponde à Fundação Universitária (FUNSA), como entidade
fundadora.
(30) Os Estatutos da Universidade Católica San Antonio foram aprovados pelo Decreto
350/2007, de 9 de novembro, do Conselho de Governo da Região de Murcia, cujo art.
2º declara que “a titularidade da Universidade Católica San Antonio, assim como as
faculdades de governo, gestão e administração correspondem perpetuamente à Fundação
Universitária San Antonio”.
(31) A UCAM pertence à Igreja certamente – e por isso ostenta a denominação de
“católica”; porém, à Igreja-comunhão, em razão de ser fundada e integrada por
pessoas físicas batizadas que, como estabelece o cânon 96, estão incorporadas à
Igreja de Cristo e constituídas em pessoas nela, “com os deveres e direitos que são
próprios dos cristãos, considerando a condição de cada um, enquanto estão em
comunhão eclesiástica e não o impeça uma sanção legitimamente imposta”.
(32) Preâmbulo, Decreto Geral da Conferência Episcopal para aplicar na Espanha a
Constituição Apostólica “Ex Corde Ecclesiae”.
(33) ECE, nº 30.
(34) ECE, nº 13.
(35) Bento XVI, discurso ao visitar a Universidade Católica do Sagrado Coração de
Roma.