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Informe Agropecuário
Uma publicação da EPAMIG
v.33 n.266 jan./fev. 2012
Belo Horizonte-MG

Sumário

Editorial .......................................................................................................................... 3

Entrevista . ...................................................................................................................... 4

Zoneamento agrícola de pastagens para o estado de Minas Gerais


Paulo José Hamakawa, Williams Pinto Marques Ferreira, Robson Alves de Oliveira, Welliam
Chaves Monteiro da Silva e Roziane Sobreira dos Santos ..................................................... 7

Apresentação
Impactos ambientais da exploração pecuária em sistemas intensivos de pastagem
A pecuária vive um momento de grande
Valdinei Tadeu Paulino, Alline Mariá Schumann, Suelen Corrêa da Silva, Natalino Mendes
transformação. Na pecuária de corte, a taxa de
desfrute elevou-se de 12%, ao ano, para em tor- Rasquinho e Karen Marques dos Santos.............................................................................. 17
no de 23%, nos últimos 30 anos. Na pecuária de
leite, a produção anual elevou-se de 11 bilhões,
há 30 anos, para 30 bilhões de litros de leite, atu- Avaliação econômica do uso de corretivos e fertilizantes em pastagens
almente. Houve grande crescimento, mas ainda Lourival Vilela, Geraldo Bueno Martha Júnior e Adriano Vecchiatti Lupinacci .......................... 25
há um longo caminho a percorrer. Os desafios
estão aí: aumentar ainda mais a produtividade e
incluir de forma definitiva a questão ambiental Consorciação de pastagens: potencial da tecnologia e fatores de sucesso
nos sistemas de produção. Carlos Maurício Soares de Andrade e Giselle Mariano Lessa de Assis . .................................. 36
O pasto tem papel importante nos dois as-
pectos. Como base da alimentação dos ruminan-
tes, é fundamental que se obtenha produtividade, Corretivos e adubos fosfatados em pastagens: aplicação superficial é eficiente?
pois quanto maior a produção do pasto, mais Dilermando Miranda da Fonseca, Manoel Eduardo Rozalino Santos e Adriane de Andrade Silva..... 49
alta a produtividade dos animais. Por outro lado,
apresenta-se como fiel da balança na questão
ambiental, pois quanto mais produtivo, maior Adubação nitrogenada e potássica em sistemas de produção intensiva de pastagens
será sua contribuição como mitigador dos im- Francisco Morel Freire, Antônio Marcos Coelho, Maria Celuta Machado Viana e Edilane
pactos ambientais da atividade pecuária. Outra
grande contribuição das pastagens no aspecto Aparecida da Silva........................................................................................................... 60
ambiental é que constituem, atualmente, o gran-
de depositário de terras para a expansão da agri-
cultura, evitando o desmatamento. Manejo do pastejo em sistemas de alto nível tecnológico
Portanto, há necessidade de aumento na ca- Manoel Eduardo Rozalino Santos, Leandro Martins Barbero, Domicio do Nascimento Júnior
pacidade de suporte dos pastos. Como alcançar e Dilermando Miranda da Fonseca................................................................................... 69
isso? É o que apresenta esta edição do Informe
Agropecuário “Produção Intensiva de Pasta-
gens”. A proposta é explorar o potencial ele- Potencial das forrageiras tropicais para a produção de leite a pasto
vado de produção das gramíneas tropicais, que Carlos Augusto de Miranda Gomide, Domingos Sávio Campos Paciullo, Mirton José Frota
permitem lotações de até 15 vacas por hectare
Morenz, Fermino Deresz e Fernando César Ferraz Lopes............................................................. 80
no pico do verão, dependendo da adubação, da
disponibilidade hídrica e do manejo. Esta edição
completa uma trilogia de Informes com foco na Manejo do rebanho em Sistemas Silvipastoris
produtividade das pastagens, como foi a Integra-
ção Lavoura-Pecuária e a Integração Lavoura- Rasmo Garcia e Domingos Sávio Queiroz....................................................................................... 92
Pecuária-Floresta.
Alternativas de suplementação volumosa na estação seca do ano
Domingos Sávio Queiroz
Edilane Aparecida da Silva Thiago Fernandes Bernardes, Greiciele de Morais e Naiara Caixeta da Silva......................... 102
Maria Celuta Machado Viana

ISSN 0100-3364

Informe Agropecuário Belo Horizonte v.33 n.266 p. 1-112 jan./fev. 2012

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A

Informe Agropecuário é uma publicação da


© 1977 EPAMIG
Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
ISSN 0100-3364 EPAMIG
INPI: 006505007 É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem
autorização escrita do editor. Todos os direitos são reservados à
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Antônio Lima Bandeira Os artigos assinados por pesquisadores não pertencentes ao quadro
Mendherson de Souza Lima da EPAMIG são de inteira responsabilidade de seus autores.
Plínio César Soares
Os nomes comerciais apresentados nesta revista são citados apenas
Maria Lélia Rodriguez Simão
Juliana Carvalho Simões para conveniência do leitor, não havendo preferências, por parte da
Mairon Martins Mesquita EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citação de termos
Vânia Lacerda técnicos seguiu a nomenclatura proposta pelos autores de cada artigo.
O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data de
COMISSÃO EDITORIAL DA REVISTA INFORME AGROPECUÁRIO
publicação da edição.
Plínio César Soares
Diretoria de Operações Técnicas Errata

Maria Lélia Rodriguez Simão No Informe Agropecuária no 265 - Macaúba: potencial e


Departamento de Pesquisa sustentabilidade para o biodiesel - o nome do autor Antônio
Freire Jardim foi grafado incorretamente no artigo Cultivo da
Cristiane Viana Guimarães Ladeira macaúba: ganhos ambientais em áreas de pastagens.
Divisão de Pesquisa Animal

Marcelo Abreu Lanza Esta edição do Informe Agropecuário tem o apoio da FAPEMIG,
Divisão de Pesquisa Vegetal por meio do projeto CAG 3737-10 - Revitalização da estrutura
Trazilbo José de Paula Júnior de produção editorial da revista Informe Agropecuário.
Chefia de Centro de Pesquisa
Vânia Lacerda Assinatura anual: 6 exemplares
Departamento de Publicações Aquisição de exemplares
Divisão de Gestão e Comercialização
EDITORES TÉCNICOS
Av. José Cândido da Silveira, 1.647 - União
Domingos Sávio Queiroz, Edilane Aparecida da Silva e Maria Celuta
Machado Viana CEP 31170-495 Belo Horizonte - MG
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EDITORA-CHEFE Telefone: (31) 3489-5088 - deciocorrea@epamig.br
Vânia Lacerda
Informe Agropecuário. - v.3, n.25 - (jan. 1977) - . - Belo
REVISÃO LINGUÍSTICA E GRÁFICA Horizonte: EPAMIG, 1977 - .
Marlene A. Ribeiro Gomide e Rosely A. R. Battista Pereira v.: il.
NORMALIZAÇÃO
Cont. de Informe Agropecuário: conjuntura e estatísti-
Fátima Rocha Gomes e Maria Lúcia de Melo Silveira
ca. - v.1, n.1 - (abr.1975).
PRODUÇÃO E ARTE ISSN 0100-3364
Diagramação/formatação: Ângela Batista P. Carvalho, Fabriciano
Chaves Amaral, Maria Alice Vieira e Taiana Amorim (estagiária) 1. Agropecuária - Periódico. 2. Agropecuária - Aspecto
Econômico. I. EPAMIG.
Coordenação de Produção Gráfica
Fabriciano Chaves Amaral
CDD 630.5
Capa: Ângela Batista P. Carvalho
O Informe Agropecuário é indexado na
Foto: Domingos Sávio Queiroz AGROBASE, CAB INTERNATIONAL e AGRIS
Governo do Estado de Minas Gerais
Impressão: EGL Editores Gráficos Ltda.
Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento

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Governo do Estado de Minas Gerais
Antonio Augusto Junho Anastasia
Governador
Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Elmiro Alves do Nascimento
Secretário

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais


Conselho de Administração
Elmiro Alves do Nascimento Décio Bruxel Produção intensiva valoriza
potencial das pastagens
Antônio Lima Bandeira Adauto Ferreira Barcelos
Pedro Antônio Arraes Pereira Maurício Antônio Lopes
Vicente José Gamarano Osmar Aleixo Rodrigues Filho
Paulo Henrique Ferreira Fontoura Elifas Nunes de Alcântara
Conselho Fiscal
Evandro de Oliveira Neiva Rodrigo Ferreira Matias
Márcia Dias da Cruz Leide Nanci Teixeira A pecuária no Brasil está fundamentada no uso de pas-
Alder da Silva Borges Tatiana Luzia Rodrigues de Almeida
tagens, em função das características naturais do País e de sua
Presidência
Antônio Lima Bandeira grande dimensão. O rebanho bovino tem cerca de 209 milhões
Vice-Presidência de animais, dos quais a maioria é alimentada em pastagens.
Mendherson de Souza Lima
Diretoria de Operações Técnicas Esta vocação para o uso de pastagens confere um diferencial
Plínio César Soares
ao rebanho bovino brasileiro em relação ao de outros países
Diretoria de Administração e Finanças
Aline Silva Barbosa de Castro produtores.
Gabinete da Presidência As áreas de pastagens têm-se caracterizado como parte
Reginaldo Amaral
Assessoria de Comunicação de um sistema de produção lucrativo e fundamental para a ca-
Roseney Maria de Oliveira deia produtiva bovina. Tais áreas totalizam, aproximadamente,
Assessoria de Desenvolvimento Organizacional
Felipe Bruschi Giorni 180 milhões de hectares, dos quais grande parte apresenta
Assessoria de Informática algum grau de degradação. A recuperação dessas áreas, por
Silmar Vasconcelos
Assessoria Jurídica
meio do manejo adequado e da reposição de nutrientes no
Maria Lourdes Aguiar Machado solo, garantiria a sustentabilidade do sistema e minimizaria os
Assessoria de Negócios Tecnológicos
Mairon Martins Mesquita
danos ao meio ambiente. Vale ressaltar que pastagens bem
Assessoria de Planejamento e Coordenação manejadas, além de contribuir com o sequestro de carbono no
Renato Damasceno Netto
solo, também promovem a diminuição da emissão de metano
Assessoria de Relações Institucionais
Assessoria de Unidades do Interior por animais ruminantes.
Júlia Salles Tavares Mendes Dentro deste foco, a intensificação do uso das pastagens,
Auditoria Interna
Márcio Luiz Mattos dos Santos por meio do aproveitamento do potencial das forrageiras e
Departamento de Compras e Almoxarifado utilização de sistemas de manejo produtivos e ambientalmente
Felipe Bruschi Giorni
Departamento de Contabilidade e Finanças
corretos, pode proporcionar aumento da produtividade pecuá-
Warley Wanderson do Couto ria. A exploração racional das pastagens confere menor custo
Departamento de Engenharia
Luiz Fernando Drummond Alves de produção e capacidade de oferecer melhores condições de
Departamento de Eventos Tecnológicos sanidade e conforto animal. Ao considerar apenas a fase de
Mairon Martins Mesquita
Departamento de Patrimônio e Serviços Gerais
engorda de bovinos no pasto em áreas degradadas, a produ-
Mary Aparecida Dias tividade de carne chega a 2 arrobas/hectare/ano, enquanto
Departamento de Pesquisa
Maria Lélia Rodriguez Simão
que em pastagens com bom estado pode atingir, em média,
Departamento de Publicações 16 arrobas/hectare/ano.
Vânia Lúcia Alves Lacerda
Departamento de Recursos Humanos
Estes dados dão a dimensão do potencial das pastagens
Flávio Luiz Magela Peixoto produtivas e bem manejadas, tema desta edição do Informe
Departamento de Transferência Tecnológica
Juliana Carvalho Simões
Agropecuário, que visa orientar os pecuaristas e difundir tecno-
Departamento de Transportes logias geradas pela pesquisa para esta atividade.
José Antônio de Oliveira
Instituto de Laticínios Cândido Tostes
Luiz Carlos G. C. Júnior, Gérson Occhi e Nelson Luiz T. de Macedo
Instituto Técnico de Agropecuária e Cooperativismo
Luci Maria Lopes Lobato e Francisco Olavo Coutinho da Costa Antônio Lima Bandeira
EPAMIG Sul de Minas Presidente da EPAMIG
Rogério Antônio Silva e Mauro Lúcio de Rezende
EPAMIG Norte de Minas
Polyanna Mara de Oliveira e Josimar dos Santos Araújo
EPAMIG Zona da Mata
Trazilbo José de Paula Júnior e Giovani Martins Gouveia
EPAMIG Centro-Oeste
Wânia dos Santos Neves e Waldênia Almeida Lapa Diniz
EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba
José Mauro Valente Paes e Marina Lombardi Saraiva

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Intensificação de pastagens é a escolha
mais competente do pecuarista
O engenheiro agrônomo Derli Dossa é graduado
pela Universidade Federal de Passo Fundo (UFP), RS,
possui Doutorado em Ciências Econômicas, pela Uni-
versidade de Bourgone, em Dijon, França, e Mestrado
em Economia Rural, pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Atuou como pesquisador e in-
tegra o Conselho de Administração da Embrapa. Foi um
dos criadores do Programa Agricultura de Baixo Carbo-
no (ABC) e participou das negociações do Código Flo-
restal Brasileiro, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária
e Abastecimento (Mapa).
Atualmente, Derli Dossa é chefe da Assessoria de
Gestão Estratégica do Mapa e ressalta o grande de-
senvolvimento alcançado pela pecuária no Brasil e, es-
pecialmente, o uso intensivo de pastagens como ferra-
menta de produtividade e lucratividade para o produtor.

IA - Qual a situação da pecuária no Brasil? por área da pecuária. Lamentavelmente, na minha opinião, o fator terra que é, de
comparam, quase sempre, rebanhos de forma geral, o mais escasso. Neste caso,
Derli Dossa - Os dados dos Censos mos-
países onde a pecuária é semiconfinada. o uso mais intensivo da terra vai levar à
tram que nos últimos 26 anos ocorreu uma
Independentemente dessas visões, a pecu- obtenção de ganhos de produção por uni-
pequena redução na área da produção pe-
ária brasileira, desde que tenha preços re- dade de área. Vários estudos de institui-
cuária. Contudo, houve avanços na pro- ções qualificadas de pesquisa e ensino de-
muneradores, continuará seu crescimen-
dutividade em relação à área explorada. monstram que a intensificação pode tra-
to, tanto em número de animais, quanto
São 60% de ganhos no período, passan- zer resultados positivos para o bolso do
em unidade animal por área. Temos pos-
do de 0,68 para 1,08 animais por hectare. produtor. São muitos os caminhos. Mas o
sibilidade de atingir em torno de três ca-
Pesquisa da Embrapa mostra que a produ- primeiro é recuperar os pastos que estão
beças por hectare ao ano, mas desde que
ção cresceu 3,36% ao ano, sendo 21% re- degradados, trazendo-os de volta ao sis-
o produtor faça um bom manejo dos seus
lacionado com as áreas de pastos e 79%, tema produtivo e melhorando a sua qua-
animais. Para isso, devem, nesse manejo,
da produtividade dos animais. As áreas de lidade. Isto possibilita atingir maior capa-
utilizar insumos para neutralizar a acidez
pasto no período 1950-1975 tinham res- cidade de alimentar um número maior de
dos solos ou fertilizantes para melhorar
ponsabilidade em 85,8% da produção de
a quantidade e a qualidade da pastagem animais por área disponível. Mas o arren-
carnes, enquanto, no período 1996-2006,
e, por fim, evitar de ter uma intensifica- damento de algumas áreas para a lavoura
caiu em 20%. Esses dados mostram que a é também uma saída interessante para al-
ção de animais sem manejo controlado.
produção de carnes cresce por produtivi- guns pecuaristas que têm esta possibilida-
dade animal e não por área de pastagem.
IA - Como o pecuarista pode enfrentar o de. Até porque, podem utilizar nutrientes
No debate do Novo Código Florestal, a
desafio de aumentar a produtividade deixados no solo pela adubação da safra
pecuária foi o setor mais criticado da agri- anterior. Este sistema permite sua capita-
mesmo com redução de área?
cultura. O mesmo ocorreu nas discussões lização, além de investir em seu pasto e/
sobre mudanças climáticas, quando a pe- Derli Dossa - Felizmente, esse é um de- ou em seus animais.
cuária sofreu críticas pesadas quanto a na- safio que vale a pena ser enfrentado pelo
tureza dos bovinos na emissão de gases de pecuarista. A produtividade nada mais é IA - Os pecuaristas, especialmente de base
efeito estufa (GEEs). Dos ambientalistas do que produzir mais com menos fatores familiar, têm condições de implantar
que querem recomposição de florestas, de produção (terra, mão de obra, insumos sistemas mais intensivos de produção
a crítica ocorre pela baixa produtividade e tecnologia). O mais importante deles é, em áreas de pastos degradados?

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Derli Dossa - Sim. Pastos degradados não principalmente pela expansão de área de pastagens mesmo quando o pecua-
precisam mais de três meses para se re- pastagem. No período 1950 até 2006, a rista não tem estrutura ou aptidão
cuperar. Possivelmente, o produtor deva produtividade da pecuária foi responsável para a atividade agrícola?
fazer uma boa análise de solo. Se há de- por 79% do crescimento da produção e a
Derli Dossa - Nós pensamos que sim.
ficiências de calcário e/ou fertilizantes no área por apenas 21%. Mas é interessante
Um novo sistema de produção exige in-
solo existe somente uma receita: colocar refletir um pouco mais sobre esta questão.
vestimentos. Estes têm que ser compa-
esses insumos na terra para que a pasta- Notem que as feiras de exposição pecuá-
tíveis com a rentabilidade. O programa
gem seja nutrida. Mas, em muitos casos, ria no Brasil são em maior número que as
ABC vem dentro deste enfoque. Milhares
é a falta de manejo do rebanho que deter- feiras agrícolas, é uma dinâmica impres-
de produtores têm buscado as redes ban-
mina a produtividade. Logo, um produtor sionante. Foi isto que levou o País a ser o
cárias para conhecer melhor quais são as
que deseja melhorar sua capacidade deve- primeiro exportador de carnes do planeta,
exigências. Acredito que a maior delas é
se abastecer de informações com profis- enviando sua produção para mais de 160
a decisão de fazer um novo modelo pro-
sionais sérios e competentes que temos países em 2011. Esses resultados só fo-
dutivo. O restante ele consegue fazer com
no Brasil. Hoje, existe financiamento de ram alcançados pelo fato de os produtores
benefícios e retornos maiores. Mas, temos
matrizes para evitar que o produtor use usarem, com competência, as tecnologias
que provar com segurança essa relação
tecnologias de baixos custos e sustentabi- sustentáveis.
virtuosa, senão o produtor se retrai.
lidade inadequada ambientalmente.
IA - Como superar a desconfiança dos
IA - A remuneração do pecuarista por
IA - Considerando a grande área de pas- pecuaristas em investir em novas
serviços ambientais pode ser uma
tagens no Brasil, as ações de inten- tecnologias de intensificação do uso
boa estratégia?
sificação podem impactar o consumo de pastagem?
de fertilizantes. Como gerenciar esse Derli Dossa - Não devemos ter grandes
Derli Dossa - Acredito que esta ques-
aumento da demanda sem afetar os expectativas sobre o pagamento por servi-
tão não pode ser generalizada. Quais se-
custos de produção da agropecuária? ços ambientais nos próximos anos. Há uma
riam as razões de um produtor racional,
grande estrada a ser construída nessa pro-
Derli Dossa - Os custos estão relaciona- experiente, não usar uma tecnologia que
posta. Não me arrisco de forma otimista.
dos com os preços em termos de compe- lhe dê maior retorno por unidade mone-
titividade. Um produtor inteligente não tária ou por animal? Parece que devemos
 IA - Qual a sua opinião sobre os impac-
utilizará insumos onde o retorno for me- comprovar ao produtor que a tecnolo-
tos da aprovação do Novo Código
nor do que seus benefícios. Aqui mostra o gia proposta tem melhor relação benefí-
Florestal sobre a intensificação das
quanto o produtor brasileiro é inteligen- cio/custo do que aquela utilizada por ele.
pastagens?
te. Se vai subir muito, ele utiliza um vo- Mas não me iludo nessa área. Há outros
lume menor de insumos. Acredito que o fatores que envolvem riscos e afetam as Derli Dossa - Acredito que o pecuarista é
produtor, quando puder, tomará a decisão decisões. A pecuária de corte tem menor quem vai pagar a maior parte dessa conta.
econômica, ou seja, buscará o máximo de rentabilidade por hectare que grãos ou Vejam como ela se apresenta. Na pecuá-
renda com o mínimo de custos. cana-de-açúcar. Logo, sabemos que é o lu- ria, há necessidade de água para os ani-
cro que remunera o risco. Isto prova que mais. Logo, a maioria dos pecuaristas tem
IA - Como a pecuária tem absorvido os pecuária tem menos riscos. Assim, é ne- lagos, lagoas, sangas e rios. Uma maioria
avanços tecnológicos em compara- cessário que a proposta de mudança tenha deles não tem mais área de preservação
ção com a agricultura? força de argumentação, para que o produ- permanente (APP). Logo, terá que recu-
tor obtenha ganhos maiores, utilizando um perar APPs. Da mesma forma tem que
Derli Dossa - Entre 1996 e 2006 ocorreu novo modelo. Nem sempre isto é obtido proteger as suas nascentes. Para isso, vai
grande parte da modernização da agricul- sem um profissional de maior competên- ter que construir cercas. Mais um gasto
tura brasileira, segundo a Embrapa. De cia. Penso que assistência técnica compe- que terá, já o produtor de grãos não preci-
acordo com este estudo, o desempenho tente é a chave para ajudar o produtor na sa. Ele não pode abandonar uma área para
animal foi responsável por 38% enquan- sua mudança. Ressalto, também, que a me- Reserva Legal (RL), se não protegê-la,
to a taxa de lotação foi de 62%. Neste lhor vitrine é a fazenda do vizinho. Quan- conforme responsabiliza a legislação. Po-
mesmo período a produtividade pecuária do um pecuarista vê que o investimento em deria ser multado, se um fiscal ambiental
cresceu 6,6% ao ano quando o desempe- intensificação traz retorno, isso o motiva. passar perto de uma área de floresta nativa
nho animal explicou por 65%. A taxa de Não se vê um pecuarista, que optou por in- que forma a RL ou mesmo a APP e lá ve-
lotação não é sinônimo de produtivida- tensificar o uso de pastagem, dizer que vai rificar a existência de animais. O produtor
de. Naquele período 1996-2006 a taxa de voltar a ter a pastagem de antes. terá que enfrentar uma lei duríssima e será
crescimento foi de 2,3% ao ano. Equivo- o responsável em proteger essas áreas.
cadamente, há quem pense que a pecuária IA - A Integração Lavoura-Pecuária pode
é um setor de baixa tecnologia, que cresce contribuir para a intensificação de Por Vânia Lacerda

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N
Ç
A
M
EN
TO

Oliveira no Brasil:
LA
tecnologias de produção
Com a finalidade de atender à demanda de
produtores rurais e interessados no cultivo
da oliveira e produção de azeite e azeitona,
a EPAMIG lança o livro Oliveira no Brasil:
tecnologias de produção.

São 22 capítulos escritos por pesquisadores


da EPAMIG, instituições de pesquisa
e ensino brasileiras e do exterior e por
profissionais liberais, abordando temas
que vão desde a distribuição da oliveira na
América Latina, história de sua introdução
em Minas Gerais, considerações sobre
mercado consumidor, botânica, anatomia,
aplicações de técnicas modernas de
biotecnologia e marcadores moleculares,
variedades mais plantadas nos países
produtores, registro e proteção de cultivares,
pragas, doenças, poda, adubação, até o
preparo de azeitonas para mesa, extração
de azeite de oliva, índices de qualidade e
legislação pertinente, e ainda
vantagens do azeite de oliva
para a saúde humana.

publicacao@epamig.br
(31) 3489-5002

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Produção intensiva de pastagens 7

Zoneamento agrícola de pastagens para o estado de


Minas Gerais
Paulo José Hamakawa 1
Williams Pinto Marques Ferreira 2
Robson Alves de Oliveira 3
Welliam Chaves Monteiro da Silva 4
Roziane Sobreira dos Santos 5

Resumo - Na cadeia produtiva da carne bovina, as pastagens figuram como o prin-


cipal alimento para o rebanho bovino. Todavia, a produtividade de forrageiras apre-
senta grande variabilidade por causa da sazonalidade do Brasil. A viabilidade de
uso da irrigação em quatro espécies forrageiras foi avaliada considerando as médias
mensais da precipitação pluvial e da temperatura média do ar. Com base nas exi-
gências térmicas foram consideradas as temperaturas-base de 14 ºC para Pennisetum
purpureum, 20 ºC para Brachiaria brizantha e Cynodon sp., e 21 ºC para Panicum maximum.
Em relação às exigências hídricas, considerou-se a precipitação mínima de 1.000 mm
anuais, distribuída uniformemente, representando a necessidade mínima de 83 mm de
chuva mensal. Em função das restrições térmicas para a região Sul de Minas, as forra-
geiras sob estudo não se adaptam à prática de suplementação de água. Em parte do
Triângulo Mineiro, no Alto Paranaíba, nas mesorregiões Noroeste e Central Mineira e
nas regiões mais ao norte do Estado, onde há grande concentração de pastagens decor-
rentes de importantes bacias leiteiras, a restrição térmica reduz-se na época do inverno,
mas persiste a falta de água proveniente das chuvas. Nesses casos, se o produtor utilizar
irrigação, essa prática, do ponto de vista estritamente climático, pode ser uma alternati-
va interessante, principalmente para o P. purpureum.

Palavras-chave: Forrageira. Pastagem. Bovinocultura. Climatologia.

INTRODUÇÃO negociados como commodities no mercado voltados para incentivar a recuperação de


internacional (soja, açúcar, álcool, biodie- pastagens, fomentar o aumento da produti-
A proteína animal é o produto mais no-
sel etc.), tende a reduzir a área utilizada na vidade pecuária e renovar o plantel, como
bre da cadeia produtiva. É também aquela
que envolve a maior quantidade de energia atividade agropastoril extensiva. forma de aumentar a oferta de carne e leite
agregada. Considerando o aumento da po- De acordo com o Plano Agrícola bovinos (BRASIL, 2010).
pulação mundial, aliado ao maior acesso à e Pecuário 2011-2012, elaborado pelo As áreas de pastagens cada dia mais
renda, supõe-se a maior necessidade desses Ministério da Agricultura, Pecuária e caracterizam-se como parte de um siste-
produtos, tanto individualmente quanto em Abastecimento (MAPA), o Brasil mantém ma de produção lucrativo e fundamental,
quantidades totais. sua produção agropecuária entre as mais principalmente para a cadeia produtiva da
O avanço de culturas e produtos agríco- prósperas do planeta. Assim, os objetivos carne bovina. Para a pecuária brasileira, as
las, de alta rentabilidade no setor primário, do atual Plano Agrícola e Pecuário estão pastagens ainda figuram como o principal

1
Engo Agro, D.Sc., Prof. Associado I UFV - Depto. Engenharia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: hamakawa@ufv.br
Meteorologista, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Café/EPAMIG Zona da Mata, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: williams.ferreira@embrapa.br
2

3
Engo Agrícola e Ambiental, Doutorando Meteorologia Agrícola UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: robson.oliveira@gmail.com
4
Meteorologista, Pós-doutorando UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: william.silva@ufv.br
5
Estatística, Doutoranda Meteorologia Agrícola UFV, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: rozi.rozi@gmail.com

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 7 - 1 6 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

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8 Produção intensiva de pastagens

alimento para o rebanho bovino, sendo seu espécies forrageiras: Brachiaria brizantha, terminada região. Dentre esses fatores
manejo parte importante na redução dos Panicum maximum, Pennisetum purpu- climáticos, a temperatura é o de maior
custos de produção. Por ser coletada dire- reum e Cynodon sp. Estabelecida essa relevância.
tamente pelos próprios animais, a pastagem restrição, deve estar claro que não foram Tonato et al. (2010) trabalharam com o
é considerada como o alimento mais barato avaliadas questões ligadas a solos, formas efeito do fotoperíodo, temperatura e radia-
e de grande potencial produtivo, já que a de aplicação e disponibilidade de água para ção global no acúmulo de forragens para o
pecuária brasileira utiliza-se de algumas irrigação das culturas, nem a viabilidade desenvolvimento de modelos estimadores
espécies tropicais, favorecidas pelas con- econômica dos diferentes sistemas. do acúmulo de forragem potencial, com
dições climáticas reinantes no País. base em parâmetros climáticos. Identifica-
Associado aos pressupostos anterio- IMPORTÂNCIA DAS ram que entre os parâmetros climáticos ava-
res, o recente impulso dado nas visões FORRAGEIRAS liados como variável independente nos mo-
ambientalista pura e da sustentabilidade, De acordo com a Produção Pecuária delos, a temperatura mínima do ar foi a que
em sentido amplo, que em parte são abar- Municipal de 2010 (IBGE, 2010), o Brasil apresentou a melhor capacidade estimadora
cadas pela rastreabilidade dos produtos de apresentava um rebanho de 209.541.109 para o acúmulo de forragem. Ainda nesse
origem animal, induz inevitavelmente a cabeças de bovinos. Minas Gerais era o trabalho, os pesquisadores consideraram,
ideia de que é preciso produzir mais, mais segundo Estado produtor com 22.698.120 em média, a temperatura base de 20 ºC para
rápido, em menores áreas, constantemente cabeças, sendo, Mato Grosso do Sul o o gênero Cynodon e a espécie B. brizantha, e
(isto é, reduzindo o máximo possível a 21,5 ºC para o gênero Panicum, sendo que a
primeiro, com 28.757.438 cabeças.
sazonalidade), de preferência em locais menor temperatura-base considerada foi de
Dada a importância da pecuária mi-
próximos aos centros de consumo ou de
neira e sabendo que a produção animal 17,9 ºC para a cultivar Atlas, da espécie P.
embarque e do modo menos agressivo ao maximum; 18,5 ºC para a cultivar Arapoti,
baseia-se, grande parte, em pastagens, isso
ambiente.
as tornam importantes dentro dessa cadeia da espécie B. brizantha, e 19 ºC para as
Não parece nada fácil. Mas não é im-
produtiva. Tendo em vista que as pasta- cultivares Estrela e Florona do gênero
possível. Para isso, o produtor deve ser um
gens são diretamente influenciadas pelo Cynodon.
estrategista. Seu rebanho deve ter o tama-
padrão climático reinante, o conhecimento Segundo Medeiros, Pedreira e Villa
nho que a área sob sua supervisão suportar.
das áreas com características térmicas e Nova (2002), os principais fatores en-
Se for menor, poderá perder rentabilidade.
hídricas passa a ser determinante para a volvidos na estacionalidade de produção,
Se maior, perderá rentabilidade, seja pelo
produção de pastagem, principalmente que tem sido alvo de vários estudos, em
aumento do tempo de permanência dos
considerando-se o período de inverno re- decorrência de sua grande importância
animais na área, seja por ter de se desfazer
gional, no qual, além da redução no volu- nos sistemas de produção animal com base
de parte de seu plantel.
me pluviométrico, a ocorrência de baixas em pastejo são: características fisiológicas
Precisa também conhecer os padrões
temperaturas compromete a produção das da planta forrageira, deficiência hídrica,
do clima predominante na propriedade.
forrageiras. radiação solar (qualidade e intensidade),
De modo geral, grande parte das áreas
De acordo com estudos de McDowell fotoperíodo e temperatura do ar, espe-
de produção do Brasil encontra-se sob
(1972), a temperatura e a deficiência hídri- cialmente a temperatura-base superior e a
climas com alta sazonalidade de tempera-
ca são os principais elementos limitantes temperatura-base inferior.
tura e chuvas. Isto determina uma enorme
para a produção de forrageiras na região Medeiros, Pedreira e Villa Nova (2002)
variação anual da produtividade de for-
tropical. Segundo este autor, a temperatura também encontraram temperatura-base in-
rageiras. Para manter a curva do ganho
de peso do plantel em valores próximos pode limitar em 36% o crescimento de for- ferior para capim-elefante (P. purpureum)
ao desejável, poderá optar pelo arma- rageiras, em relação à área total cultivada; de 13 ºC, valores próximos dos reportados
zenamento da forragem produzida em a deficiência hídrica em 31%, ou a sinergia na literatura para forrageiras tropicais.
excesso nas épocas quentes e chuvosas, de ambas em 24%. Em outro estudo também voltado para
ou utilizar – se possível – da irrigação, a avaliação da estacionalidade de produ-
EXIGÊNCIA TÉRMICA DAS ção para algumas gramíneas forrageiras
suplementando as necessidades de água
FORRAGEIRAS
da cultura, de modo que mantenha a tropicais, Mendonça e Rassini (2006) de-
produtividade, ou ainda, valer-se de uma Vários fatores climáticos influenciam terminaram a temperatura-base inferior de
associação das duas. o crescimento das forrageiras, o que tor- 13,9 ºC para a cultivar Napier da espécie P.
Assim, objetiva-se com este trabalho na as características do clima de grande purpureum, 15 ºC para a cultivar Marandu
avaliar, estritamente sob a ótica climática, importância para a escolha e/ou adoção da espécie B. brizantha, e 15 ºC para a
a viabilidade de uso da irrigação em quatro de uma espécie mais adequada para de- cultivar Tanzânia da espécie P. maximum.
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Produção intensiva de pastagens 9

Pedro Júnior et al. (1990), ao trabalha- produção de forragem em Minas Gerais, ZONEAMENTO CLIMÁTICO
rem com gramíneas forrageiras e legumi- o zoneamento que visa identificar as áreas DAS PRINCIPAIS
nosas, também identificaram a temperatura mais favoráveis ao plantio dessas culturas FORRAGEIRAS
mínima como o melhor elemento a ser con- leva em consideração, mais especificamen- As forrageiras P. maximum, B. brizantha
siderado para a confecção de um mapa de te, a necessidade hídrica representada pela e Cynodon sp. (Fig. 1 a 4) consideradas no
aptidão das principais espécies forrageiras necessidade de certo volume precipitado presente estudo, por serem tropicais com
para o estado de São Paulo. mensal, definido a partir do volume de pre- alta exigência térmica não se adaptam à
Há ainda estudos, como o realizado por cipitação anual; e da temperatura média do prática de suplementação de água na região
Guimarães et al. (2007), em que os autores ar nas diferentes mesorregiões do Estado. Sul do estado de Minas Gerais, em função
citam que pesquisas sobre a temperatura- das restrições térmicas. Isto se deve às bai-
base para forrageiras tropicais específicas ÍNDICES DE EXIGÊNCIA xas temperaturas reinantes não somente no
não são tão comuns, sendo considerada a ADOTADOS
inverno, mas também em meados do outono
temperatura de 15 ºC como o valor médio
Acerca das exigências térmicas e e da primavera. Com relação à disponibi-
em torno da qual estão as temperaturas-
hídricas por parte das forrageiras, foram lidade hídrica, representada pelo volume
base para as diferentes cultivares dos
utilizados no presente estudo os valores mensal precipitado, as chuvas, por si só,
diferentes gêneros de gramíneas utilizadas
encontrados nas Normais Climatológicas não são capazes de prover as necessidades
como forragens.
(BRASIL, 1992), médias de 30 anos, da das culturas. A exceção é para P. purpureum,
Trabalhando com Cynodon sp., Tonato
temperatura média do ar e das médias que, por apresentar menor exigência térmi-
(2003) relata variações de até 13% nas
mensais da precipitação pluvial. ca, pode ser cultivada como alternativa, se
temperaturas-base inferiores para capins
Embora existam, na literatura cien- houver disponibilidade para suplementação
desse gênero, o que indica a individuali-
tífica, variações bastante amplas em de água via irrigação. Mesmo assim, tendo
dade dessa característica.
relação às exigências térmicas para em vista as baixas temperaturas mínimas
forrageira, neste estudo foram conside- diárias nas regiões mais elevadas e ao sul
EXIGÊNCIA HÍDRICA DAS
FORRAGEIRAS radas as temperaturas-base de 21 ºC para do Estado, tal prática pode ser arriscada.
P. maximum (TONATO et al., 2010); Destaca-se que as exigências térmicas
Com relação à necessidade de água 14 ºC para P. purpureum (MEDEIROS; são mais decisivas nesta análise, quando
para o desenvolvimento de espécies forra- PEDREIRA; VILLA NOVA, 2002); comparadas às exigências hídricas, pelo
geiras, segundo Skerman e Riveros (1992), 20 ºC para B. brizantha (TONATO et al., fato de que, se as temperaturas reinantes
o gênero Panicum desenvolve-se bem em 2010); e 20 ºC para o gênero Cynodon forem baixas para a cultura mesmo ha-
regiões com índices pluviométricos anuais vendo, no local, água disponível à suple-
(TONATO et al., 2010).
acima de 780 mm, sendo ideal os locais
Assim, considerando as exigências mentação, a implantação de um sistema
com precipitações de 1.000 mm anuais.
hídricas das pastagens anteriormente ci- de irrigação torna-se não recomendável
Santos et al. (2008) citam que a cultivar
tadas, levando-se em conta que a prática economicamente.
Tanzânia da espécie P. maximum desenvol-
da irrigação é comumente adotada nos No estado de Minas Gerais, em geral, o
ve-se bem em regiões com precipitação
períodos secos do ano, a região com índice período chuvoso coincide com o de maior
anual entre 800 e 1.500 mm.
pluviométrico anual que varia entre 700 e temperatura. Assim, é possível perceber
Para Souza Filho (1994), a cultivar
1.500 mm, torna-se recomendável para a que para P. maximum, B. brizantha e
Marandu da espécie B. brizantha exige
cultura a precipitação mínima de 1.000 mm Cynodon sp. (Fig. 1 a 4), de outubro a
precipitação anual de 800 a 1.200 mm.
anuais, distribuídos de modo uniforme no março, as necessidades hídricas e térmicas
Com base em pesquisas de campo, Al-
decorrer dos meses do ano, o que repre- estariam supridas.
vares (2001) cita que em pastagens não irri-
senta a necessidade mínima de 83 mm de Em parte do Triângulo Mineiro, no
gadas durante o período seco, normalmente
chuva mensal (Quadro 1). Alto Paranaíba, nas mesorregiões Noro-
é possível a manutenção entre 10% e 20%
do número de animais que são mantidos no
período úmido. De outro lado, em pastagens QUADRO 1 - Temperatura-base e precipitação mínima necessária para o desenvolvimento
que são irrigadas no período seco, há a das forrageiras em estudo
possibilidade da manutenção de 40% a 50% Temperatura-base Precipitação mínima mensal
Forrageira
do número de animais que são mantidos no (ºC) (mm)
período da primavera e do verão. Panicum maximum 21 83
Diante das adversidades climáticas Pennisetum purpureum 14 83
que podem intervir de modo negativo na Brachiaria brizantha e Cynodon sp. 20 83

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10 Produção intensiva de pastagens

este de Minas e Central Mineira, e nas pastagens nestas regiões. Nestes casos, se sistema de irrigação para a suplementação
regiões mais ao norte do Estado, com o o produtor dispuser de água para irrigação de água para essa forrageira, caso o produtor
aumento da temperatura média do ar, a em sua propriedade, essa prática, do ponto disponha de uma fonte de água.
restrição térmica reduz na época do inver- de vista estritamente climático, pode ser É importante frisar que, em qualquer
no propriamente dito, mas persiste a falta uma alternativa interessante. caso, mesmo quando possível a prática
de água proveniente das chuvas. Estas Quando se observam as Figuras 5 e de suplementação hídrica, o produtor não
são importantes bacias leiteiras onde se 6, para P. purpureum por necessitar de deve esperar altas produtividades entre
concentra a produção no Estado, as quais menores valores de temperatura para o seu meados do outono a meados da primavera,
têm na cadeia leiteira importante suporte desenvolvimento, tem-se um quadro mais visto que a temperatura média do ar, ótima
social, onde muitas comunidades se bene- promissor. Novamente, sob a ótica estrita- para o desenvolvimento dessas forrageiras
ficiam da atividade rural e do complemento mente climática, as características do estado tropicais, é elevada, ao redor de 30 ºC a
proteico fornecido pelo leite ou produto de Minas Gerais apresentam melhores pers- 35 ºC, valores estes não encontrados co-
lácteo. Portanto, há grande concentração de pectivas na avaliação da implantação de um mumente no Estado.

Janeiro Fevereiro Março

Abril Maio Junho

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 20 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 20 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 20 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 20 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 1 - Zoneamento climático para o primeiro semestre do ano para Brachiaria brizantha e Cynodon sp.

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Produção intensiva de pastagens 11

Julho Agosto

Setembro Outubro

Novembro Dezembro

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 20 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 20 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 20 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 20 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 2 - Zoneamento climático para o segundo semestre do ano para Brachiaria brizantha e Cynodon sp.

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 7 - 1 6 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

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12 Produção intensiva de pastagens

Janeiro Fevereiro

Março Abril

Maio Junho

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 21 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 21 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 21 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 21 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 3 - Zoneamento climático para o primeiro semestre do ano para Panicum maximum

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Produção intensiva de pastagens 13

Julho Agosto

Setembro Outubro

Novembro Dezembro

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 21 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 21 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 21 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 21 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 4 - Zoneamento climático para o segundo semestre do ano para Panicum maximum

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14 Produção intensiva de pastagens

Janeiro Fevereiro

Março Abril

Maio Junho

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 14 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 14 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 14 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 14 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 5 - Zoneamento climático para o primeiro semestre do ano para Pennisetum purpureum

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Produção intensiva de pastagens 15

Julho Agosto

Setembro Outubro

Novembro Dezembro

Condições ótimas:
Condições ótimas
precipitação > 83 mm e temperatura > 14 ºC

Restrição hídrica:
Restrição hídrica
precipitação < 83 mm e temperatura > 14 ºC

Restrição térmica:
Restrição térmica
precipitação > 83 mm e temperatura < 14 ºC

Restrições hídrica e térmica Restrições hídrica e térmica:


precipitação < 83 mm e temperatura < 14 ºC

Mesorregiões de Minas Gerais

Figura 6 - Zoneamento climático para o segundo semestre do ano para Pennisetum purpureum

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16 Produção intensiva de pastagens

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<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ SANTOS, F.G. dos et al. Índice climático de em pastagens tropicais. Pesquisa Agrope-
economia/ppm/2010/ default.shtm>. Aces-
����� crescimento para os capins Brachiaria bri- cuária Brasileira, Brasília, v.45, n.5, p.522-
so em: 22 dez. 2011. zantha cv. Marandu, Cynodon dactylon cv. 529, maio 2010.

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Produção intensiva de pastagens 17

Impactos ambientais da exploração pecuária


em sistemas intensivos de pastagem
Valdinei Tadeu Paulino 1
Alline Mariá Schumann 2
Suelen Corrêa da Silva 3
Natalino Mendes Rasquinho 4
Karen Marques dos Santos 5

Resumo - A produção animal sustentável tem sido o foco de pesquisa em todo mundo,
diante das mudanças climáticas globais. Contudo, quando se fala de emissão de gás
de efeito estufa (GEE), no Brasil, a pecuária de corte é colocada como vilã da história.
Dentre os diversos setores da economia, este é o que exibe a maior capacidade para
reduzir suas emissões e mitigar significativamente as emissões do País, pelo fato de a
produção animal basear-se, principalmente, em pastagens. No entanto, a baixa fertili-
dade do solo, o manejo incorreto e a elevada carga animal são apontados como causas
principais da degradação das pastagens, o que provoca a diminuição no sequestro de
carbono que representa uma compensação às emissões de metano (CH4) e óxido nitroso
(N2O). As práticas de Integração Lavoura-Pecuária (ILP), Sistema Plantio Direto (SPD),
e consorciação figuram entre as tecnologias promissoras para reduzir a curva de emis-
são de carbono.

Palavras-chave: Emissão de gases. Pastagens. Sequestro de carbono. Integração lavoura-


pecuária. Plantio direto.

INTRODUÇÃO A exploração racional das pastagens con- gases de efeito estufa (GEEs). Pastagens
fere baixo custo de produção e capacidade de bem manejadas, além de contribuir com
A pecuária no Brasil, quase toda,
oferecer melhores condições de sanidade e o sequestro de carbono no solo, também
baseia-se no uso de pastagens, totalizan-
conforto animal. Ao considerar apenas a fase contribui com a diminuição da emissão
do uma área de, aproximadamente, 180
de engorda de bovinos no pasto em áreas de metano (CH4) por animais ruminantes.
milhões de hectares, onde grande parte degradadas, a produtividade de carne chega
apresenta algum grau de degradação. A recuperação de pastagem e a adubação
a 2 arrobas/hectare/ano, enquanto que em
A recuperação dessas áreas, por meio de manutenção resultam em aumento na
pastagens em bom estado pode atingir, em
do manejo adequado e da reposição de média, 16 arrobas/hectare/ano (KICHEL; produção e longevidade da pastagem,
nutrientes no solo, garantiria a sustenta- MIRANDA; ZIMMER, 1999). uma vez que há maior cobertura do solo,
bilidade do sistema de produção de carne Outro aspecto que tem recebido ciclagem de nutrientes, aumento nos teores
em pastagens e minimizaria os danos ao destaque com relação à recuperação de de matéria orgânica (MO) e aumento do
meio ambiente. pastagens é o combate ao aumento dos sequestro de carbono da atmosfera.

Engo Agro, Pós-Doc, Prof./Pesq. Instituto de Zootecnia, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrônico: paulino@iz.sp.gov.br
1

2
Zootecnista, Mestranda Produção Animal Sustentável Instituto de Zootecnia, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrô-
nico: allineschumann@yahoo.com.br
3
Zootecnista, Mestranda Produção Animal Sustentável Instituto de Zootecnia, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrô-
nico: suelencorrea_z@hotmail.com
Zootecnista, Pós-graduando Instituto de Zootecnia, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrônico: rasquinho@zootecnista.com.br
4

Zootecnista, Mestranda Produção Animal Sustentável Instituto de Zootecnia, Caixa Postal 60, CEP 13460-000 Nova Odessa-SP. Correio eletrô-
5

nico: kamarquess@yahoo.com.br

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18 Produção intensiva de pastagens

A participação da agricultura para de cobertura vegetal, redução no teor de e, a seguir, permanece por determinado
diminuir o efeito estufa antrópico pode MO do solo, compactação, falta de aera- tempo em descanso. Dessa forma, o pastejo
ser efetivada por práticas de manejo do ção dos solos, diminuindo a infiltração é homogêneo, o que reduz ou elimina o
solo que contribuem para a mitigação dos de água e aumentando a possibilidade de pastejo seletivo, permitindo a recuperação
GEEs, como uso do Plantio Direto e de emissão de GEE. A MO do solo alimenta desse pasto, com efeito menos pronun-
leguminosas para o sistema de rotação de as formas de vida do solo e sua redução ciado do pisoteio, menor gasto de energia
culturas. faz com que o carbono retorne para o ar pelo animal por causa do menor tamanho
na forma de CO2. de piquete e melhora a distribuição de
INTENSIFICAÇÃO DE A recuperação e a manutenção da dejetos. O pastejo rotacionado prioriza
PASTAGENS produtividade das pastagens contribuem o desempenho animal por área, maximi-
Um sistema de pastejo ideal maximiza para mitigar a emissão dos GEEs. Estu- zando as altas taxas de lotação. Kichel,
a produção animal sem afetar a persistência dos realizados na Amazônia indicam que Miranda e Zimmer (1999) fazem um
das plantas forrageiras (RODRIGUES; pastagens cultivadas, bem manejadas, comparativo entre pastejo rotacionado e
REIS, 1997 apud AGUIAR, 2003?). Essa podem-se manter produtivas por vários contínuo demonstrando algumas vantagens
escolha é bem mais complexa do que sim- anos e os estoques de carbono no solo po- e desvantagens (Quadro 1).
plesmente adotar algumas técnicas de ma- dem chegar próximos aqueles sob a mata Além disso, pastagens bem manejadas
nejo, pois envolve uma série de variáveis nativa (MORAES et al., 1996; MEILL não possuem erosão, promovem maior
interagentes, tais como a planta forrageira, et al., 1997; BERNOUX et al., 1998; captação de CO2 por intensificação fotos-
o animal, o clima e o solo. CERRI et al., 1999 apud CARVALHO sintética, evita perda de nitrogênio (N).
A intensificação do sistema de produ- et al., 2008).
Sistema Plantio Direto
ção no pasto fez com que ocorresse a subs-
Pastejo rotacionado
tituição expressiva de pastagens nativas O Sistema Plantio Direto (SPD) é um
por pastagens cultivadas em todo o Brasil, O método de pastejo rotacionado sub- sistema de manejo, onde não há revolvi-
principalmente na região do Cerrado. Com divide a pastagem em piquetes, que são mento do solo (somente no sulco), e a pa-
o aumento do uso de pastagens cultivadas, ocupados periodicamente pelos animais lhada e os restos culturais são deixados na
houve a introdução do uso de pastagens
do gênero Brachiaria, principalmente da
QUADRO 1 - Comparações entre sistemas de pastejo contínuo e rotacionado
espécie Brachiaria decumbens. A taxa de
Itens Contínuo Rotacionado
lotação que era de 0,25 animal/hectare, na
Investimentos
década de 1960-1970, passou para 0,9-1,0
Cercas e águas + -
animal/hectare. O ganho de peso aumentou
Mão de obra + -
cerca de duas a três vezes em relação ao
obtido em pastagens nativas. Paralelamen- Manejo das pastagens

te, houve a introdução de raças bovinas Ajuste da carga animal - +


precoces, além do melhoramento genético Pressão de pastejo - +
e do cruzamento, o que refletiu na redução Aproveitamento da forrageira - +
na idade de abate. Consumo seletivo + -
Diante da melhora no sistema de cria- Observações e comportamento dos animais - +
ção oferecido pelo uso de B. decumbens, Produção direta
esta destacou-se como planta forrageira
Ganho/animal/dia + -
milagrosa, que sobreviveria em condições
Ganho/hectare - +
adversas de ambiente, sendo resistente,
Economicidade - +
produtiva e adaptada ao mau manejo (fogo,
subpastejo e superpastejo, etc.). Com isso, Produção indireta

intensificou-se o uso de forrageiras cultiva- Sistema radicular - +


das em ciclos cada vez mais curtos, o que Controle de invasoras - +
refletiu na velocidade crescente com que Distribuição do esterco - +
as pastagens se degradaram. Sustentabilidade das pastagens - +
A degradação de pastagens é um pro- FONTE: Kichel, Miranda e Zimner (1999).
cesso lento, mas contínuo. Provoca perda NOTA: + = Vantagens ou pontos positivos; - = Desvantagens ou pontos negativos.

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Produção intensiva de pastagens 19

superfície. Essa técnica promove redução estrutural dos agregados do solo, redu- para baratear o custo de produção agrícola,
da erosão, do assoreamento e sequestro zindo a oxidação da MO do solo e a sua além de ser ecológico e economicamente
de carbono, pelo aumento do estoque de degradação. mais vantajoso, por melhorar as condições
carbono no solo, e da MO em decompo- O ILP preconiza o plantio de capins químicas, físicas e biológicas do solo,
sição na superfície, que, associados com consorciados com culturas de grãos, representa relevante economia de capital
a fração mineral, favorece o acúmulo de especialmente o milho e o sorgo. A con- para os produtores. Outra vantagem dessa
MO do solo. sorciação de capins com culturas anuais alternativa é a promoção do sequestro de
Dessa forma, o SPD pode ser conside- apresenta vantagens como: produção de carbono, processo que ocorre quando as
rado uma das alternativas com potencial grãos e forragem e redução de custos no plantas estão crescendo ou se recuperando
para sequestrar carbono no solo. O se- estabelecimento do pasto. A consorciação dos cortes. Isso abre a oportunidade para
questro de carbono refere-se a processos pode ser estabelecida por plantio con- que no futuro possa haver negociação dos
de absorção e armazenamento de CO2 vencional ou plantio direto, sendo mais direitos à emissão (créditos de carbono).
atmosférico, com intenção de minimizar
interessante o último, pelas vantagens
seus impactos no ambiente, já que se trata Consorciação
agregadas a ele.
de um GEE. A finalidade desse processo
Siqueira Neto (2006) afirmou que A utilização de leguminosas forrageiras
é conter e reverter o acúmulo de CO2 at-
entre as práticas agrícolas, o SPD pode (Fig. 1) é de grande valia, pois, além de
mosférico, visando à diminuição do efeito
atuar como dreno de CO2 atmosférico pelo melhorar a qualidade da pastagem, au-
estufa (BARRETO et al., 2009).
aumento de MO no solo, menor uso e po- mentar o ganho de peso e reduzir gastos
O sistema convencional de uso da terra
tência de máquinas agrícolas e também por com adubos nitrogenados, contribui para
emprega a aração e gradagem no preparo
do solo. Este manejo é considerado agres- reduzir as emissões de outros gases (N2O, recuperar áreas degradadas e ainda garante
sivo, com grande poder de redução da MO NO e CH4), com adoção de rotações de um processo não poluente e ambiental-
do solo. Siqueira Neto (2006) relatou que cultura que incluam leguminosas, e otimi- mente correto. Não se trata de nenhuma
a MO do solo é composta de, aproxima- zação do uso de fertilizantes nitrogenados, novidade, porém ainda não é uma prática
damente, 58% de carbono em diferentes além de manter a sustentabilidade do sis- muito difundida pelos produtores por seu
estádios de decomposição. Práticas de tema, evitando a necessidade de expansão elevado custo de implantação (principal-
manejo que utilizam o revolvimento do da agricultura para novas áreas. mente pelo alto custo das sementes) até a
solo resultam em aumento do fluxo de A palhada que fica sobre o solo no Plan- estabilização de produção da cultura. Outro
CO2 para a atmosfera, causando maiores tio Direto no Sistema ILP é uma alternativa fator que dificulta a consorciação é a com-
emissões de CO2.
O sequestro de carbono sob SPD tende
a ser mais expressivo na região Sul do
Brasil, por causa das condições subtropi-
cais, onde as taxas de decomposição são
menores.

Sistema Integração
Lavoura-Pecuária
O Sistema Integração Lavoura-Pecuá-
ria (ILP) é uma alternativa sustentável para
mitigação dos GEEs, propondo a diversi-
ficação de atividades pela incorporação
estratégica de pastagens à agricultura para
beneficiar ambos. Associando os níveis de
fertilidade adequados do solo da área de
Valdinei Tadeu Paulino

lavouras em SPD com a alta capacidade


das pastagens em estocar carbono no solo,
é de se esperar que resulte no aumento de
carbono no solo e consequente redução
nas emissões de CO2 para atmosfera, uma
vez que este sistema mantém a integridade Figura 1 - Consorciação de soja-perene + Brachiaria brizantha cv. Marandu

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20 Produção intensiva de pastagens

petição estabelecida entre as gramíneas e de FBN obtidos (60 a 120 kg/ha/ano) sejam de gramíneas e consorciadas com legumi-
leguminosas. Dessa forma, a escolha das suficientes para manter o balanço de N no nosas indicaram aumentos significativos
plantas a serem consorciadas deve ser bem solo, dependendo dentre outros fatores da nos estoques de carbono na presença da
analisada. taxa de utilização do pasto. leguminosa. Em pastagens puras de  bra-
Entre os benefícios da consorciação A liberação do N fixado biologicamente quiária e consorciadas com a Stytosanthes
está a capacidade de fixação biológica de responderá, em grande parte pela manu- spp. cv. Campo Grande, foram detectados
nitrogênio (FBN), realizada por bactérias tenção da produtividade da gramínea. As na camada superficial do solo valores su-
fixadoras de N, que o retiram do ar e o transferências do N ocorrerão abaixo e periores de carbono, superando em 1,4 t/ha
transformam em amônia solúvel em água, acima da superfície do solo, diretamente ou a quantidade observada em pastos puros.
utilizada diretamente pela planta. O N pode indiretamente para a planta mais próxima, Estudos desenvolvidos com outras espécies
ainda ser transformado no solo em nitrato, seja pela excreção de N na rizosfera da de gramíneas e leguminosas tropicais evi-
forma que também é disponível para as leguminosa, pela decomposição de raízes denciam incrementos de carbono no solo
plantas. A forma mais conhecida de associa- e nódulos, pela conexão por micorrizas das da ordem de 20%. Pesquisas revelam que
ção é a da bactéria da família Rhyzobiaceae raízes da gramínea com aquelas da legumi- as leguminosas propiciam melhorias de
e pode ser verificada por meio da formação nosa, ou ainda por ação da fauna do solo parâmetros ruminais, podendo reduzir a
de nódulos na raiz (Fig. 2). sobre raízes e nódulos da leguminosa. Já na metanogênese, o que permitiria a redução
Três fatores principais influenciam a superfície do solo, ocorrerá pela decompo-
na produção e emissão de metano. No
FBN pelas leguminosas em pastos con- sição da liteira (restos culturais) de folhas
entanto, estudos relacionados com o papel
sorciados: a disponibilidade de N no solo, na superfície, pela lixiviação de compostos
das leguminosas como componentes no
a produção e a persistência da legumino- nitrogenados do dossel da pastagem e com
processo de mitigação dos GEEs ainda são
sa na pastagem e a competição com as as perdas foliares de amônia, passíveis de
poucos, sendo necessários mais estudos
gramíneas associadas. Andrade, Ferreira absorção pela gramínea (BARCELLOS
que demonstrem seus benefícios.
e Farinatti (2011) relatam que, para que et al., 2008).
seja possível manter um balanço positivo As leguminosas podem ainda contri-
ADUBAÇÃO NITROGENADA
de N nas pastagens cultivadas por meio buir com significativos aumentos na fixa-
da utilização de pastos consorciados com ção de carbono ao solo, bem como reduzir A adubação nitrogenada de pastagens,
leguminosas forrageiras, estas devem a emissão de GEEs por unidade de produto no Brasil, ainda é uma tecnologia não
constituir de 20% a 45% da composição produzido. Neste cenário, estudos compa- muito utilizada, por razões como alto cus-
botânica das pastagens, para que os níveis rativos em áreas de pastagens exclusivas to do fertilizante, grandes áreas de terra,
falta de conhecimento técnico por parte de
produtores e assistência técnica escassa e
pouco qualificada.
A fonte de N mais utilizada é a ureia,
pois apresenta como vantagens menor
custo por quilograma, quando comparada a
outras fontes de N, alta concentração de N,
fácil manipulação e causa menor acidifica-
ção no solo, o que a torna potencialmente
superior a outras fontes do ponto de vista
econômico, mas apresenta maior perda de
N por volatilização na forma de amônia
(NH3) e N2O.
O N é o nutriente exigido em maior
quantidade pelas culturas e o elemento
que apresenta maior dificuldade de mane-
Valdinei Tadeu Paulino

jo na produção agrícola por sua complexa


dinâmica no solo, tais como volatilização,
lixiviação, desnitrificação, nitrificação,
imobilização-mobilização e mineraliza-
ção. Segundo Lara Cabezas, Korndor-
Figura 2 - Sistema radicular da alfafa crioula (Medicago sativa) fer e Mota (1997), as perdas de N por
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Produção intensiva de pastagens 21

volatilização, após a aplicação de ureia O uso de fertilizantes nitrogenados 0-30 cm de profundidade do solo em
no solo, podem atingir valores extremos sintéticos nos solos agrícolas tem sido pastagens bem manejadas (CERRI apud
próximos a 80%. As perdas gasosas de N indicado como principal responsável TEIXEIRA, 2011).
são a principal causa da ineficiência dos pelas crescentes emissões de N2O na at- Estudos realizados em diversas partes
fertilizantes nitrogenados, contribuindo mosfera. Outras fontes antrópicas desse do mundo estimaram que as práticas de
para a emissão de amônia, N molecular gás incluem o N proveniente de resíduos manejo da fertilidade do solo em pasta-
(N2) e N2O������������������������������
. Tais perdas devem-se à apli-
����� animais, da FBN aumentada, do cultivo gens podem aumentar de 50 a 150 kg/ha
cação de fertilizantes nitrogenados em de solos orgânicos e minerais por meio da a quantidade de carbono sequestrada. Por
situações desfavoráveis ou em quantida- mineralização da MO adicionada (IPCC outro lado, a ausência de N e a utilização
des excessivas. apud EMBRAPA, 2008). menos frequente da pastagem resultaram
No entanto, é essencial que seja feita a em perda para a atmosfera de 57 g de car-
adubação nitrogenada para garantir melho- CONTRIBUIÇÃO DAS bono/m2 por ano. Os autores concluíram
ra na qualidade da forragem, principalmen- PASTAGENS PARA O que a conversão de terras aráveis em pas-
te pela elevação no teor de proteína bruta SEQUESTRO DE CARBONO tagens perenes teve efeito positivo sobre
(PB), que aumenta, conforme se eleva a o balanço de carbono no sistema, embora
O solo é considerado o principal reser-
dose de N no solo. Concomitantemente o efeito tenha sido mais pronunciado nos
vatório temporário de carbono no ecossis-
com a melhora da qualidade da forragem, três primeiros anos após a conversão. A
tema (BRUCE apud TEIXEIRA, 2011)
há aumento na capacidade de suporte e redução no uso de fertilizantes, bem como
por apresentar, em média, 4,5 vezes mais
ganho de peso animal. da lotação animal, diminuiu as emissões
carbono do que a biota e 3,3 vezes mais do
Estudos conduzidos na Europa de- de CH4 e N2O por unidade de área. En-
que a atmosfera (LAL apud TEIXEIRA,
monstraram que tanto o uso de N e o tretanto, esse tipo de estratégia diminuiu
2011). A condição de fertilidade do solo
consequente aumento da taxa de lotação, também o potencial de sequestro de carbo-
afeta a produção de biomassa aérea e ra-
e os respectivos aumentos na emissão no pelo solo. Esses resultados fortalecem
N 2O e CH 4, foram compensados pelo dicular, que, por sua vez, afeta diretamente
a hipótese de que o aumento das emissões
grande influxo de carbono atmosférico a quantidade de resíduos depositados no
prejudiciais de CH4 e N2O, decorrente da
para o solo, configurando essas áreas de solo e, consequentemente, o sequestro de
adubação, é frequentemente compensado
pastagens como prováveis mitigadoras do carbono.
pelo sequestro de carbono no solo (LIMA
efeito estufa. Em pastagens, as perdas de carbono
et al., 2006; SUN et al., 2009; YOUNG
podem ser mínimas e até alcançar ganhos,
et al., 2009).
Óxido nitroso quando comparadas ao ecossistema natural
Estudos realizados por Paulino e
(vegetação nativa), sendo ainda maior do
As emissões de N2O dos solos ocor- Teixeira (2011) relacionaram o manejo
que em culturas agrícolas. Em contra-
rem durante o processo microbiano de da pastagem de Brachiaria brizantha
partida, essa situação não é totalmente
desnitrificação a partir do N mineral. A cv. Marandu correspondente a 100% de
favorável em relação aos GEEs, quando
desnitrificação consiste na redução do interceptação luminosa (altura de entrada
nitrato (NO3) a formas intermediárias de se contabiliza a perda da biodiversidade e
de 35 cm) e 95% de interceptação lumi-
N ou, então, a formas gasosas (NO, N2O armazenamento de água no solo.
nosa (altura de entrada de 25 cm) e as
e N2), que são comumente perdidas para As pastagens contribuem com cerca adubações com 50 e 200 kg/ha de N com
a atmosfera. Quando ocorre redução do de 20% do fluxo de carbono no globo e o estoque de carbono no solo. Os esto-
nitrato, a MO é oxidada para a obtenção de 12% dos estoques de carbono no solo. Isso ques de carbono encontrados para altura
energia pelos microrganismos (EMBRAPA ocorre por causa da grande quantidade de de 35 cm (110 Mg/ha) foram superiores
MEIO AMBIENTE, 2008). MO que é mantida no solo, resultado da aos obtidos com entrada de animais a
A mitigação desse gás, que é 310 combinação entre a considerável partição 25 cm (84,4 Mg/ha). Os maiores valores
vezes mais efetivo que o CO 2, como de assimilados para as partes subterrâneas de estoque de carbono foram observados
potencializador de aquecimento global, da planta e a lenta decomposição da MO mediante a aplicação de 200 kg/ha de N
e cuja vida útil na atmosfera é estimada do solo (BRAGA, 2006). associado à altura de 35 cm de pastejo
em 120 anos, é extremamente importante. As pastagens bem manejadas apre- (119,3 Mg/ha) (Gráfico 1). A entrada
Do total de emissões de origem antrópica, sentam aumento dos estoques de car- dos animais numa altura de pré-pastejo
a agricultura é responsável por 70% das bono nos solos em função do tempo de mais elevada (35 cm) resulta em maiores
emissões de N2O, incluindo as culturas implantação das gramíneas. Valores na acúmulos de material vegetal morto, mas
agrícolas e a pecuária (IPCC apud LIMA, ordem de 0,4 a 0,6 kg de carbono/m 2/ compromete a eficiência de colheita da
2006). ano têm sido relatados para a camada forragem.
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22 Produção intensiva de pastagens

ticipação da depreciação do pasto nos


140 custos fixos.
Assim, estudos mostram que o primeiro
120
passo na tentativa de diminuir a participa-
Estoque de carbono(Mg/ha)

100 ção da bovinocultura no aquecimento da


temperatura global seja o aumento da pro-
80 dutividade, pelo fornecimento de alimentos
60 de melhor qualidade (Fig. 3).
Além da alimentação, deve-se focar o
40 melhoramento genético animal visando
20 à produção de carne em menor tempo,
reduzindo dessa forma as emissões de
0 GEE em todo o seu ciclo de vida. Esse
25/50 35/50 25/200 35/200 melhoramento deve ser direcionado não
somente para aumentar a precocidade
Manejo (altura/adubação nitrogenada)
do animal, mas também para aumentar
a absorção de nutrientes e emitir menos
Gráfico 1 - Estoques de carbono em pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu sob
manejo rotativo a duas alturas de entrada (cm) e duas doses de adubação CH4 por meio da fermentação entérica.
nitrogenada (kg/ha) Desta forma, o melhoramento genético
FONTE: Paulino e Teixeira (2011). do animal é parte fundamental na redução
das emissões de GEE na produção de
carne no Brasil.
METANO ENTÉRICO EM ração ou preservação acabam atingindo Os dejetos (fezes e urina), sobretudo
BOVINOS seu peso de abate somente aos 42 meses, derivados de animais em confinamento,
Mundialmente, os animais domésticos e podem vir a emitir 115 kg de metano quando tratados adequadamente, podem
produzem em torno de 80 milhões de to- ou 736 g/kg de carne. O abate precoce reduzir as emissões de GEE na produção
neladas de CH4 por ano, o que corresponde também beneficia o resultado econômico de carne. Dentre as diferentes técnicas
a, aproximadamente, 22% das emissões de da atividade, por causa do retorno mais de tratamentos dos dejetos bovinos,
CH4 no mundo provenientes de atividades rápido do capital e da redução da par- cita-se a utilização de biodigestores. Os
humanas. Ao considerar um bovino adulto,
este é uma fonte de emissão insignificante,
de apenas 80-120 kg de CH4. No entanto,
tornam-se uma importante fonte de emissão
de CH4, quando se leva em consideração a
quantidade de ruminantes no mundo, em
torno de 1,2 bilhão de animais. A fermenta-
ção entérica é a responsável pela produção
de gás CH4 no rúmen do animal, eliminado
por eructação. A produção desse gás está
muito ligada à qualidade da alimentação
que o animal ingere, sendo que quanto pior
a qualidade do alimento, maior a emissão
diária de metano.
Primavesi (2009) relatou que, nor-
malmente, se um bovino obter boa
Alline Mariá Schumann

alimentação e água de qualidade, este


consegue chegar ao peso de abate em
26 meses, emitindo em média 73 kg de
metano ou 445 g/kg de carne. Em con-
trapartida, animais criados em pasto com
superpastejo e sem medidas de recupe- Figura 3 - Confinamento de bovinos

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Produção intensiva de pastagens 23

biodigestores proporcionam a formação emissões de GEE está associada à recupe- leguminosas exclusivas, na forma de ban-
de CH 4, que pode ser utilizado para ração ou reforma dessas pastagens. co de proteína, nos trópicos brasileiros.
a geração de energia elétrica e ainda Tendência da pecuária de corte é tri- Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa,
MG, v. 37, n.51-67, jul. 2008. ����������
Número es-
forma como produto final o biofertili- lhar os mesmos caminhos da avicultura e
pecial.
zante, capaz de promover a diminuição suinocultura, ou seja, a redução da idade
da produção e do uso de fertilizantes de abate, visando ao aumento da produti- BARRETO, E.L. et al. The impact of soil
management on aggregation, carbon sta-
sintéticos (KAPARAJU; RINTALA apud vidade e à qualidade de carne com redu-
bilization and carbon loss as CO2 in the
CERRI, 2011). ção dos custos de produção, respeitando
surface layer of a Rodhic Ferrasol in South-
No entanto, a pecuária não envolve os sistemas de exploração, tem-se como ern Brazil. Agriculture, Ecosystems & En-
apenas os bovinos. Para produzir bovinos consequência a redução dos GEEs. vironment, v. 132, n.3/4, p.243-251, Aug.
é necessário o cultivo de pastagens. Assim, A agricultura, como atividade de- 2009.
em termos ambientais, é preciso analisar pendente de condições climáticas, será BRAGA, G.J. Contribuição da pastagem para
o saldo do sistema solo-planta-animal e grandemente afetada pela mudança cli- sequestro de carbono. In: SIMPÓSIO SO-
não somente o saldo dos animais. Se os mática global e, por isso, justificam-se BRE MENEJO DA PASTAGEM, 23., 2006,
bovinos, bem como os demais animais, as crescentes pesquisas sobre práticas e Piracicaba. Anais... As pastagens e o meio
emitem gases poluidores, as pastagens formas de manejos menos impactantes e ambiente. Piracicaba: FEALQ, 2006. p. 271-
tendem a compensar as emissões desses mitigadoras de GEE. 296.
gases (NOGUEIRA, 2009). No intuito de recuperar uma pastagem CARVALHO, J.L.N. et al. Adequação dos
degradada e torná-la bem manejada, o sistemas de produção rumo à sustentabili-
CONSIDERAÇÕES FINAIS governo prevê diminuir o desmatamento dade ambiental. In: FALEIRO, F.G.; FARIAS
NETO, A.L. de (Ed.). Savanas: desafios e
Os diferentes usos do solo promovem no Cerrado em 40%; recuperar pastos, re-
estratégias para o equilíbrio entre a socie-
alterações nos seus atributos físicos e quí- alizar Plantio Direto, fazer FBN, aumentar
dade, agronegócio e recursos naturais. Pla-
micos, sendo a MO a principal responsável a eficiência energética, incentivar o uso naltina: Embrapa Cerrados, 2008. cap. 19,
pela capacidade de reter e disponibilizar de biocombustíveis, investir em fontes p. 673-692.
nutrientes e fluxo de carbono e N. Portan- alternativas, como a eólica. CERRI, C.E.P. et al. Balanço das emissões de
to, manejos conservacionistas dos solos Mas somente a iniciativa do governo gases do efeito estufa da pecuária brasilei-
reduzem as emissões de GEE, aproveitam não é suficiente, faz-se necessária a mu- ra e ações para mitigação. In: CONGRESSO
melhor os recursos, incluindo melhor dança na postura dos pecuaristas, como a BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 8.,

emprego de resíduos como alternativa adoção de estratégias eficientes de manejo 2011, Uberaba. Anais... Simpósio pecuária
que, quando associadas à utilização de tropical sustentável: inovação, avanços téc-
para incrementar o N no sistema e elevar
tecnologias mais limpas, podem conferir nico-científicos e desafios. Uberaba: ABCZ,
a eficiência no uso do carbono. 2011. p. 14-23.
As técnicas agronômicas desenvol- ao setor pecuário a tão falada e buscada
sustentabilidade ambiental da cadeia da EMBRAPA MEIO AMBIENTE. Fontes
vidas para recuperação e renovação das
agrícolas de óxido nitroso (N20). Jaguari-
pastagens objetivam o restabelecimento carne.
úna, 2008. Disponível em: <http://www.
da biomassa das plantas em um período cnpma.embrapa.br/projetos/index.php3
REFERÊNCIAS
determinado, com custo econômico viável ?sec=agrog:::87>. Acesso em: 20 out.
para o produtor. Para tomar a decisão de AGUIAR, A.P.A. Sistema de pastejo rota- 2011.
quando se deve recuperar ou renovar uma cionado. In: CURSO DE MANEJO DE PAS-
KICHEL, A.N.; MIRANDA, C.H.B.; ZIM-
pastagem, ou qual espécie de forrageira TAGENS, 2003, Itapetinga. Apostila 1... Ita-
MER, A.H. Degradação de pastagens e pro-
petinga: SEBRAE, 2003?. p.66-99.
a ser utilizada, deve-se realizar um diag- dução de bovinos de corte com a integra-
nóstico referente ao tipo de solo, clima, ANDRADE, C.M.S. de ; FERREIRA, A.S.; ção agricultura x pecuária. In: SIMPÓSIO
FARINATTI, L.H.E. Tecnologias para inten- DE PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE, 1.,
topografia, condições químicas e físicas
sificação da produção animal em pastagens: 1999, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG:
do solo da área em questão.
fertilizantes x leguminosas. In: SIMPÓSIO UFV, 1999. p. 201-234.
De modo geral, a pecuária de corte no SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 26.,
LARA CABEZAS, W.A.R.; KORNDOR-
Brasil exibe baixos índices de produtivi- 2011, Piracicaba. Anais... A empresa pecu-
FER, G.H.; MOTTA, S.A. Volatilização de
dade, lucratividade e sustentabilidade. A ária baseada em pastagens. Piracicaba: FE-
N-NH3 na cultura de milho: II - avaliação de
produção nacional baseia-se em sistemas ALQ, 2011. p. 111-158.
fontes sólidas e fluidas em sistema de plan-
extensivos e, em grande parte, sob pas- BARCELLOS, A. de O. L. et al. Sustenta- tio direto e convencional. Revista Brasilei-
tagens degradadas. Nesse sentido, uma bilidade da produção animal baseada em ra de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v.21,
importante atividade para mitigação das pastagens consorciadas e no emprego de n.3, p.491-497, jul./set. 1997. 

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Produção intensiva de pastagens 25

Avaliação econômica do uso de corretivos e


fertilizantes em pastagens
Lourival Vilela 1
Geraldo Bueno Martha Júnior 2
Adriano Vecchiatti Lupinacci 3

Resumo - As respostas variadas do pasto e do animal ao fertilizante e às condições


econômicas a que o negócio está submetido, são variáveis que influenciam a tomada de
decisão. A habilidade de o produtor comprar e vender animais e as ilimitadas combi-
nações entre nível, proporção e velocidade de intensificação da adubação de pastagens
também afetam o processo decisório. A avaliação dos impactos da adubação de pas-
tagens deve contemplar a fazenda como um todo. A tomada de decisão com relação à
adubação de pastagens deve focar nas metas de produtividade necessárias para garan-
tir respostas econômicas favoráveis, tanto nas áreas adubadas como nas não adubadas.
Em última análise, a eficiência bioeconômica da adubação de pastagens depende da
eficiência de conversão do nutriente do fertilizante em forragem, da eficiência de pas-
tejo e da eficiência de conversão da forragem consumida em produto animal. Essas três
eficiências, com grande amplitude de variação, definem a eficiência global do uso do
nutriente do fertilizante na produção animal. A associação do produto animal por quilo
de nutriente aplicado com os termos de troca de uma dada região determina a eficiência
bioeconômica da adubação de pastagens. Na tomada de decisão, além da expectativa de
retorno econômico, a percepção de risco dos agentes econômicos também é importante.

Palavras-chave: Pastagem. Adubação. Fertilizante. Recuperação de pastagem. Cerrado.

INTRODUÇÃO pecuária mudou sensivelmente e passou a ano. Esses ganhos responderam por cer-
priorizar tecnologias mais intensivas em ca de 79% do crescimento da produção
A pecuária de corte é frequentemente
capital, gerando significativos ganhos na (5.803 mil toneladas de equivalente-
taxada como um setor de baixa produtivi-
produtividade (MARTHA JÚNIOR, 2010). carcaça), que cresceu a taxas anuais de
dade, que somente se torna viável como al-
Conforme análise de Martha Júnior et 3,36% no período. A expansão da área de
ternativa econômica pela expansão da área
al. (2011b), com base nos dados do Insti- pastagens, de 107,6 para 158,8 milhões
de pastagem. Essa, no entanto, é uma visão tuto Brasileiro de Geografia e Estatística de hectares – equivalente a uma taxa de
distorcida e equivocada do setor. De fato, a (IBGE), de 1950 e de 2006, a produção crescimento de 0,70% ao ano, explicou
pecuária, na sua origem, foi uma atividade nacional de carne bovina foi de, respec- menos de 21% do aumento na produção
pioneira, associada à expansão da fronteira tivamente, 1.084 e 6.887 mil toneladas do período 1950-2006. Quando esses
agrícola, em resposta à conjuntura macro- de equivalente-carcaça. A produtividade ganhos da taxa de lotação e do desem-
econômica e aos valores da sociedade no passou de 10,1 kg/ha, em 1970, para penho animal na pecuária de corte para
passado, que apontavam para a necessidade 43,4 kg/ha de equivalente-carcaça, em o período de 1950-2006 foram computa-
de ocupar o território. Entretanto, nas úl- 2006, representando um robusto ganho dos, encontrou-se “efeito poupa-terra” de
timas décadas, o modelo de produção da de produtividade da ordem de 4,13% ao 525 milhões de hectares. Isso significa

Engo Agro, M.Sc., Pesq. EMBRAPA Cerrados, Caixa Postal 08233, CEP 73310-970 Brasília-DF. Correio eletrônico: lvilela@cpac.embrapa.br
1

Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. EMBRAPA Estudos Estratégicos e Capacitação/Bolsista CNPq, CEP 70770-901 Brasília-DF. Correio eletrônico:
2

geraldo.martha@embrapa.br
3
Engo Agro, M.Sc., Consultor Agronegócio Profissional Assessoria e Consultoria em Agronegócios, CEP 47805-010 Barreiras-BA. Correio eletrô-
nico: adriano.lupinacci@profissional.agr.br.

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26 Produção intensiva de pastagens

que sem estes ganhos, para obter a mes- bustíveis no País. Porém, não basta apenas alternativas, a adubação, nas fases de es-
ma produção, o adicional de 525 milhões aumentar a produção. Essa expansão da tabelecimento e de manutenção, tem papel
de hectares teria que ser incorporado à oferta de alimentos deverá ocorrer res- central nesse processo. Se essa prática não
produção. peitando critérios de sustentabilidade que for economicamente viável, a sustentabili-
Entretanto, a perda de produtividade abranjam as dimensões técnico-econômica, dade da pecuária bovina em pasto no Brasil
das pastagens, em razão, principalmente, social e ambiental. Assim, evitar o avanço estará seriamente comprometida.
do manejo animal inadequado e da falta de da fronteira agrícola, por exemplo, pela
reposição de nutrientes, é o fator que mais substituição de pastagens de baixa produ- FATORES CONDICIONANTES
tem comprometido a sustentabilidade da tividade no Cerrado por outros usos agríco- PARA O USO DE
produção animal em pasto, sobretudo na las – alimentos, fibras e energia – constitui FERTILIZANTES EM
PASTAGENS
região do Cerrado. É oportuno ressaltar uma ação prioritária.
que, na percepção dos produtores, a área de A mitigação da emissão de gases de Os sistemas de produção de bovinos
pastagens degradada no Brasil é 9,8 milhões efeito estufa (GEEs) tem sido uma preo- mais utilizados no Brasil, sobretudo no
de hectares e que 93% das pastagens estão cupação crescente nos últimos anos. Nos Cerrado, foram e continuam sendo aque-
em boas condições (CENSO AGROPE- sistemas agropecuários, em particular, les extensivos, que se baseiam no uso de
CUÁRIO, 2009). Esses valores contrastam a emissão de metano (CH4), a partir da plantas forrageiras adaptadas às condições
aos sugeridos na literatura, que indicam que fermentação entérica de ruminantes e das edafoclimáticas da região. Esse modelo
50% a 80% das pastagens encontram-se em áreas de arroz irrigado, e de óxido nitroso extrativista de utilização de pastagens, em
diferentes graus de degradação (VIEIRA; (N2O), proveniente do uso de fertilizantes solos com aptidão agrícola desfavorável,
KICHEL, 1995; BARCELLOS, 1996). nitrogenados, predominantemente em justifica, pelo menos em parte, os baixos
A porcentagem de estabelecimentos lavouras, podem ser consideradas as princi- índices zootécnicos e as baixas produtivi-
que declararam adubar suas pastagens é pais fontes, tanto pela quantidade emitida, dades e lucratividades da pecuária de corte.
baixa, da ordem de 1,6%, no Brasil, e de quanto pelos potenciais de aquecimento Nesses sistemas de produção, raramen-
2,4%, no Cerrado. Diante deste cenário e global (HOUGHTON, 1995; FAO, 2006). te utilizam-se corretivos e fertilizantes,
considerando a baixa fertilidade química Dessa forma, estratégias que minimizem particularmente na fase de manutenção da
da grande maioria dos solos tropicais, a emissão desses gases ou que atuem pastagem, agravando o problema da baixa
pode-se concluir que a produtividade da como dreno de carbono da atmosfera são fertilidade dos solos de Cerrado. Nessas
maioria das áreas de pastagens está abaixo desejáveis. situações, observa-se o desbalanceamento
do potencial fisiológico das gramíneas A recuperação de pastagens degradadas entre a exigência nutricional da planta
forrageiras tropicais. é apoiada pelo governo brasileiro como forrageira e a capacidade de fornecimento
Se a adubação de pastagem (implanta- alternativa para redução das emissões de nutrientes pelo solo e outras condições
ção e manutenção) fosse prática comum nas de GEEs pela agropecuária. Na proposta favoráveis ao crescimento vegetal (MAR-
propriedades, o efeito poupa-terra encon- apresentada na 15a Reunião da Conferência THA JÚNIOR; VILELA, 2007b).
trado por Martha Júnior et al. (2011b) teria das Partes (COP 15) do painel intergo- Por um lado, a exigência por nutrientes
sido maior. De acordo com o último Censo vernamental sobre mudança do clima, a das plantas forrageiras tropicais é elevada.
Agropecuário (2009), o efetivo bovino Integração Lavoura-Pecuária (ILP) foi A demanda por N, P e K, para produção de
brasileiro era de 171 milhões de cabeças. mencionada como uma das ações mitiga- 1,0 t/ha de matéria seca (MS) de forragem;
Considerando uma estimativa conservadora doras nacionalmente apropriadas – Na- dependendo da espécie, pode ser de 12 a
de 25% de adoção de sistemas sustentáveis tionally Appropriated Mitigation Actions 20, 0,8 a 3,0 e 12 a 30 kg/ha, respectiva-
de produção com uso baixo a moderado de (Namas). Nesse documento, o governo mente. Por outro lado, a baixa fertilidade
insumos, determinando ganhos líquidos comprometeu-se a recuperar 15 milhões de da maioria dos solos do Cerrado restringe
nas taxas de lotação de 0,06 a 0,66 cabeças/ hectares de áreas de pastagens degradadas, o crescimento vegetal, tanto em razão da
hectare sobre a média de 2006 (1,09 cabeça/ o que reduziria a emissão em 83 a 104 acidez elevada e dos níveis tóxicos de alu-
hectare), seria possível disponibilizar para milhões de toneladas de CO2eq na década, mínio (Al), como pela baixa capacidade de
outros usos (atividades agropecuárias e flo- até o ano 2020. fornecimento de nutrientes – baixos teores
restais e recuperação de áreas de vegetação O desenvolvimento de alternativas de bases trocáveis, fósforo (P), enxofre (S),
nativa) de 2,08 a 14,82 milhões de hectares para o restabelecimento da capacidade micronutrientes e nitrogênio (N).
(MARTHA JÚNIOR, 2010). produtiva das pastagens cultivadas é fun- Em razão da baixa fertilidade química
Numa visão de futuro, é importante damental para alcançar a sustentabilidade dos solos do Cerrado – 45% das pastagens
internalizar que será necessário expandir e aumentar a eficiência de uso da terra pela cultivadas do Brasil estão nessa região – e da
a produção de alimentos, fibras e biocom- pecuária bovina no Cerrado. Entre essas elevada exigência em nutrientes das plantas
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forrageiras, na intensificação dos sistemas modo, esses autores argumentam que os Portanto, otimizar as respostas da
de produção animal em pastejo, devem-se insumos serão utilizados em intensidade adubação em sistemas pastoris implica
considerar, obrigatoriamente, investimentos dependente do impacto causado sobre o conhecer e praticar intervenções, quando
em corretivos e fertilizantes. As adubações, fluxo de caixa e que, em última análise, se necessário, nos principais componentes e
por aumentarem a produção e a qualidade a terra for fator abundante, provavelmente interações que compõem e determinam a
da forragem, atuam, positivamente, sobre faltarão estímulos à inovação poupadora eficiência bioeconômica da adubação de
os dois fatores determinantes primários da de terra. pastagens.
produtividade animal em pastagens: a taxa Além disso, a tomada de decisão pela A eficiência do uso de fertilizantes, em
de lotação e o desempenho dos animais. adubação de pastagens esbarra nos ris- lavouras de grãos, é medida pela razão en-
Ganhos em produtividade, provenientes cos e incertezas inerentes aos processos tre quilo do nutriente aplicado/tonelada de
do progresso tecnológico e do crescimento biológicos – respostas variadas do pasto grão. Em pastagens, essa eficiência pode
na escala de produção, são quesitos funda- e do animal ao fertilizante – e às condi- ser estimada de maneira semelhante, pela
mentais para assegurar a redução dos custos ções econômicas a que o negócio está razão entre quilo de MS de forragem/quilo
marginais médios e, portanto, a viabilidade submetido como: termos de troca desfa- de nutriente aplicado. Contudo, a eficiência
econômica do empreendimento no médio e voráveis; reduzido investimento de médio bioeconômica da adubação de pastagens
longo prazo (BARROS; HAUSKNECHT; e longo prazos; elevada taxa de juros de depende, adicionalmente, da eficiência de
BALSALOBRE, 2004). empréstimos bancários; e outros (MAR- conversão do nutriente do fertilizante em
Essas constatações, em associação com THA JÚNIOR; VILELA 2007a). A esses forragem, da eficiência de pastejo e da efici-
a conscientização da necessidade de maior fatores soma-se a volatilidade da solução ência de conversão da forragem consumida
profissionalização dos empreendimentos de ótima para a adubação de pastagens, que em produto animal – quilo de MS/quilo de
pecuária em pasto, justificam o crescente depende sobremaneira da habilidade de ganho de peso vivo (GPV) ou quilo de leite
interesse de técnicos e produtores pela adu- o produtor comprar e vender animais, e (Fig. 1). Essas três eficiências definem a
bação de pastagens. Infelizmente, o esforço das ilimitadas combinações entre nível, eficiência global do uso do nutriente do fer-
para melhorar a nutrição e a produtividade proporção e velocidade de intensificação tilizante na produção animal (por exemplo,
da planta forrageira no País, por meio da da adubação de pastagens, que afetam quilo de GPV/quilo de nutriente aplicado).
adubação, ainda é muito limitado: em 2006, tanto o desempenho econômico atual do A associação do parâmetro quilo de GPV/
1,6% dos estabelecimentos com pastagem sistema como aquele de médio e longo quilo de nutriente aplicado com os termos
do Brasil declararam usar fertilizantes prazos. de troca (insumo-produto) de uma dada
(CENSO AGROPECUÁRIO, 2009).
O sucesso da adubação de pastagens
depende do perfeito entendimento das
Aplicação de Relação entre preço do
inter-relações entre recursos, atividades corretivos e corretivo e fertilizante e
e influências externas que compõem e fertilizantes preço do produto animal
determinam o sistema de produção animal
em pastejo (componente físico, vegetal,
animal, de manejo, econômico, político
e sociocultural) (MARTHA JÚNIOR; Fatores de Crescimento Produção Viabilidade
clima e de do pasto de carne econômica
VILELA, 2007b). Em razão desse caráter solo
complexo e multidisciplinar dos ecossiste-
mas de pastagens, demandando abordagens
sistêmicas e gerenciamento eficiente do em-
kg de matéria
preendimento, fica evidente a importância kg de MS por kg de
seca (MS) por
de assistência técnica, para que as metas kg de NPK ganho de peso vivo
idealizadas para o sistema de produção
sejam atingidas.
Pelo prisma econômico, vale destacar
Eficiência de pastejo, genética,
adicionalmente que, para o produtor rural,
categoria animal
os recursos naturais são insumos, cujo
valor decorre da capacidade que têm de Figura 1 - Principais componentes e interações da eficiência bioeconômica da adubação
gerar renda na forma de bens destinados de pastagens
ao mercado (CUNHA et al., 1994). Desse FONTE: Dados básicos: Martha Júnior e Vilela (2007a).

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região determina a eficiência bioeconômi- considerada como um todo, em despesas, do tamanho da propriedade e do
ca da adubação de pastagens (MARTHA função do tempo. Quanto maior a custo da terra. Propriedades menores pre-
JÚNIOR; VILELA, 2007a). velocidade de intensificação, maior cisam operar com maior lucro por hectare
O produto das três eficiências parciais – o impacto negativo nos fluxos de do que fazendas de grande porte para obter
quilo de MS/kg de nutriente aplicado, caixa da propriedade logo depois um dado lucro anual na fazenda. Confor-
eficiência de pastejo e quilo de MS/kg de do investimento até que este seja me o lucro desejado, em propriedades de
produto animal – define a eficiência de uso pago pelo acréscimo na receita menor porte ainda é preciso direcionar
do nutriente do fertilizante na produção proveniente da comercialização dos esforços para aumentar tanto o nível como
animal (quilo de produto animal/quilo produtos. a proporção de intensificação da adubação.
de nutriente aplicado). Exemplificando, A decisão por adubar uma área maior Obviamente, propriedades pequenas, com
em pastagens de gramíneas tropicais, na com menor quantidade de fertilizantes maior nível e proporção de intensificação,
média de 105 observações, esse valor seria, provavelmente, a opção escolhida operam com maior risco do que as fazendas
foi de 1,45 kg de GPV/kg de N aplicado por pecuaristas e técnicos avessos a riscos de maior porte para um dado nível de lucro.
(MARTHA JÚNIOR; VILELA, 2007a). (VILELA et al., 2004). Isso acontece quan- Em relação ao preço da terra, é bem-aceito
Berg e Sims (2000) estimaram o efeito do se intensifica o sistema, aumentando as o fato de que propriedades localizadas em
residual da adubação nitrogenada em taxas de lotação, a quantidade demandada regiões de maior valor da terra precisam
0,63 kg de GPV/kg de N aplicado. No de forragem torna-se relativamente grande operar com maior lucro por unidade de
caso de adubações com P, Sousa, Martha em relação à quantidade de forragem que área, a fim de manterem competitivas
Júnior e Vilela (2004) calcularam que pode ser mantida na pastagem. Esse fato em relação às alternativas de uso da terra
1 kg de P2O5 aplicado ao pasto produz, em determina que o tamponamento de siste- (MARTHA JÚNIOR; VILELA, 2007a).
média, 0,8 a 1,2 kg de ganho de peso. Con- mas pastoris, com altas taxas de lotação, Ações voltadas para aumentar a taxa de
siderando o efeito residual desse nutriente seja menos efetivo, quando comparado lotação, por meio da adubação, são mais
no solo, a eficiência de conversão do P- aos sistemas que operam com taxas de efetivas em aumentar a escala de produção
fertilizante em ganho de PV poderia atingir lotação menores. Desse modo, as variações e a produtividade das pastagens, quando
valores de cerca de 5 a 6 kg de GPV/kg P2O5. na condição da pastagem são aceleradas comparadas à intensificação do desempe-
e amplificadas, gerando rápido impacto nho por animal, que, no entanto, não pode
INTENSIFICAÇÃO DO USO ser negligenciado. Com efeito, investi-
sobre o desempenho animal e aumentando,
DE FERTILIZANTES EM
PASTAGENS consequentemente, o risco de produção. mentos no componente animal (genética,
Por essas razões, sistemas pastoris com nutrição, sanidade) são indispensáveis
No processo de intensificação do uso de altas taxas de lotação exigem monitora- para assegurar a rentabilidade do empre-
fertilizantes em pastagens, três aspectos de- mento mais constante e respostas mais endimento, porque o maior desempenho
vem ser considerados: o nível, a proporção ágeis e precisas em relação às variações animal diminui o tempo de retorno do
e a velocidade da intensificação (VILELA relacionadas com o estado da pastagem capital (menor idade de abate) e melhora o
et al., 2004). Conforme discutido por esses (BARIONI; MARTHA JÚNIOR, 2003). fluxo de caixa do negócio. Entretanto, uma
autores, tem-se: A estratégia de adubação de pastagens, meta mínima de desempenho animal deve
a) nível de intensificação: refere-se à pautada no menor nível e na maior propor- ser observada para viabilizar investimentos
magnitude do uso de recursos no ção de área intensificada, também seria na taxa de lotação. Se o desempenho do
sistema, que pode variar, considera- mais indicada por um prisma ambiental. animal em pastos adubados for inferior a
velmente, em razão dos objetivos e Essa assertiva encontra suporte no fato essa meta, aumentar a taxa de lotação pode
das peculiaridades inerentes a cada de que sistemas de produção animal, inclusive multiplicar o prejuízo.
sistema; com elevado uso de insumos, estão, em
b) proporção de intensificação: propor- regra, associados à maior concentração de ADUBAÇÃO DE PASTAGENS
ção de área da fazenda intensificada, EM PROPRIEDADES DE CRIA
animais por unidade de área, o que poten-
normalmente em diferentes níveis, cialmente predispõe a alterações nos ciclos A maioria dos estudos de viabilida-
uma vez que o nível de intensifica- de nutrientes no ecossistema de pastagens. de econômica, sobre a recuperação de
ção em uma fazenda de pecuária é A decisão pelo nível e pela proporção pastagens, foi realizada com animais em
dificilmente homogêneo; de intensificação da adubação na proprie- recria e engorda. No entanto, a exploração
c) velocidade de intensificação: reflete dade ainda depende das metas de lucro comercial da fase de cria assume posição
a variação da intensidade de uso almejadas pelo pecuarista com a atividade de destaque, uma vez que esta atividade
de recursos em uma propriedade, ou do lucro necessário para custear as suas é desenvolvida em mais de 80% dos es-
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Produção intensiva de pastagens 29

tabelecimentos de pecuária do Cerrado QUADRO 1 - Efeito da recuperação de pastagens e adubação de manutenção na evolução dos
(COSTA, 2000). Cabe ressaltar que o índices zootécnicos e de produtividade da Fazenda São Francisco, Barreiras,
segmento de cria sustenta toda a estrutura BA, no período 2004-2010

subsequente da pecuária e apresenta a Parâmetro Unidade Ano Variação


2004 2010 (%)
menor rentabilidade e o maior risco de
Rebanho cabeça 734 1460 98,9
produção (EUCLIDES FILHO, 2000).
Área de pastagem ha 989 989 0
Essa menor rentabilidade da atividade de Taxa de lotação cab./ha 0,74 1,48 98,9
cria, provavelmente, tem desestimulado o Peso de machos à desmama kg/cab. 162 186 14,8
criador em fazer investimentos em algumas Peso de fêmeas à desmama kg/cab. 153 178 16,3
tecnologias, tais como a melhoria da fer- Número de bezerros des- cabeça 236 504 113,6
tilidade de solo. A cria, normalmente, tem mamados
sido desenvolvida em sistemas extensivos Produção de bezerros (as) arroba 1.239,6 3.045,6 145,7
e, de acordo com Barros et al. (2003), a Peso médio de novilha aos kg/cab. 210 285 35,7
maior vantagem desses sistemas em ter- 18 meses
mos econômicos é a menor dependência Número de matrizes cabeça 453 789 74,2
Duração da estação de monta dias 210 90 -57,1
de insumos externos, o que reduz o risco
Taxa de natalidade % 52 64 23,1
de preços.
Área adubada na propriedade % 0 45,5 -
No Brasil, não existe informação dispo-
FONTE: Fazenda São Francisco.
nível que relacione as condições das pasta-
gens com o tipo de atividade desenvolvida
em cada fazenda de pecuária de corte. No Marandu. O manejo do pastejo foi definido monta (90 dias), as vacas paridas ficam
entanto, observa-se, frequentemente, que por metas de altura do dossel forrageiro concentradas nos pastos adubados de
a atividade de cria tem sido desenvolvida para orientar a mudança de animais entre capim-andropogon. Nesse período, a taxa de
em pastagens de pior qualidade e de baixa piquetes. As metas de altura de entrada e lotação tem sido da ordem 750 vacas paridas
produtividade. Tradicionalmente, as fases saída nos pastos variam de 60 a 65 cm e 40 em 150 ha (5 cabeças/hectare). No período
de recria e de engorda são privilegiadas a 45 cm para o capim-andropogon e de 45 a de 2004 a 2010, a taxa de expansão de áreas
com as melhores pastagens. A análise dos 50 cm e 30 a 35 cm para o capim-marandu. de pastagens adubadas foi de 75 ha/ano. E
dados do IBGE (CENSO AGROPECUÁ- O pastejo rotacionado e o pastejo dife- os incrementos nas taxas de natalidade e de
RIO, 2009) indica forte e significativa cor- rido são estratégias adotadas pela fazenda, lotação e na produção de bezerros variaram
relação (r=0,85) entre a atividade de cria e a fim de equilibrar a demanda de forragem de 23% a 146% (Quadro 1).
porcentagem de pastagens degradadas no na seca. Embora o diferimento de espécies A eficiência reprodutiva e o desem-
Cerrado. Embora essa correlação não indi- cespitosas não seja a opção mais reco- penho ponderal estão relacionados com a
que, necessariamente, uma relação causa e mendada, muitas vezes são essas espécies produtividade da bovinocultura de corte
efeito, essa associação é factível e confirma forrageiras que viabilizam o diferimento de no Brasil (CORRÊA et al., 2001). A taxa
a observação de campo de que os piores pastagens na propriedade. Ao pastejar de de natalidade é um dos componentes mais
pastos da propriedade são destinados à cria. forma mais intensa, as espécies cespitosas, importantes para aumentar a eficiência
A recuperação de pastagens por meio como o capim-andropogon, no final da reprodutiva do rebanho. Os resultados do
da correção da fertilidade do solo (Ne- estação das águas, cria-se uma condição estudo realizado por Corrêa et al. (2001)
ossolo Quartizarênico) e adubações de favorável de diferimento para as demais indicaram que o déficit de forragem, em
manutenção com NPK (50 a 100 kg/ha de forrageiras, sobretudo as braquiárias. Essa razão de uma seca prolongada, reduziu
N, 25 a 50 kg/ha de P2O5 e 30 a 50 kg/ha de alternativa é uma grande indicação para drasticamente a taxa de prenhez do rebanho
K2O) têm sido exploradas em propriedades que o produtor busque a diversificação da Fazenda-Modelo da Embrapa Gado de
comerciais de cria (Quadro 1). A Fazenda de espécies forrageiras na propriedade, o Corte. Segundo
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resultados de Valle, Andre-
São Francisco, localizada no oeste baiano, que possibilitaria aproveitar o potencial otti e Thiago (2000), a qualidade e a maior
tem como principal atividade a cria e recria de cada uma delas (MARTHA JÚNIOR disponibilidade de forragem estão entre os
de gado Nelore em pasto. Além da aduba- et al., 2003). principais fatores responsáveis pela melho-
ção para a recuperação da produtividade Com efeito, no caso da Fazenda São ria da produtividade do rebanho de cria.
das pastagens, adotou-se o pastejo rota- Francisco, o capim-andropogon é usado A recuperação da produtividade de
cionado no módulo com 35% da área com mais intensamente durante o período pastagens em processo de degradação ou
Andropogon gayanus cv. Planaltina e os das chuvas, permitindo o diferimento do degradadas pode ser minimizada por meio
outros 65% com Brachiaria brizantha cv. capim-marandu. Durante a estação de do cultivo de culturas de grãos (VILELA et
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30 Produção intensiva de pastagens

al., 2011). A comercialização da produção QUADRO 2 - Efeito da recuperação/renovação de pastagens com lavoura de arroz na evolu-
de grãos pode contribuir para amortizar ção dos índices zootécnicos da Fazenda Recreio, Itaúba, MT, compreendendo
os custos da recuperação (YOKOYAMA o período entre o antes e o depois da implantação do programa de renovação
da produtividade dos pastos
et al., 1999).
Esta foi a estratégia adotada por outra Renovação de pasto Variação
Parâmetro Unidade
fazenda de cria em solo arenoso, Fazen- Antes Depois (%)
da Recreio, Itaúba, MT. A evolução dos Rebanho cabeça 800 1.580 97,5
índices zootécnicos da Fazenda Recreio Área de produção ha 400 1.279 219,8
(Quadro 2), no período de seis anos, foi
Taxa de lotação cab./ha 0,60 1,5 98,9
semelhante aos obtidos pela Fazenda São
Peso de fêmeas ao abate arroba 12,5 14,0 16,3
Francisco. No entanto, na Recreio, a receita
Taxa de prenhez % 68 88 29,1
obtida com a produção de arroz permitiu
pagar os custos diretos da recuperação/ Custo da mineralização R$/cab./ano 41,00 33,00 -19,5

renovação dos pastos da fazenda, melho- FONTE: Martins e Santana (2011).


rando consideravelmente os resultados
econômicos. As margens brutas obser- QUADRO 3 - Efeito do desempenho animal e do valor da arroba do boi gordo sobre a renta-
vadas neste trabalho foram de R$ 247,00, bilidade da recria-engorda de bovinos de corte
com preparo convencional do solo – grade Valor da arroba do boi gordo
Indicadores de desempenho animal
aradora mais grade niveladora – e de R$ (R$/@)
514,00 em Plantio Direto (MARTINS; Idade abate 85,00 90,00 95,00 100,00
kg/cab./dia kg/cab./ano
SANTANA, 2011). Contudo, é importante (meses) (1)
Margem líquida (R$/cab.)
ressaltar que a tomada de decisão em favor 0,62 224 24 163,87 248,80 333,73 418,67
de sistemas de recuperação direta do pasto
0,49 180 28 23,87 108,80 193,73 278,67
(calagem e adubação) ou por meio da ILP
0,41 150 32 -116,13 -31,20 53,73 138,67
deve ser feita de acordo com os preços
0,35 128 36 -256,13 -171,20 -86,27 -1,33
relativos de produtos e insumos e, de prefe-
rência, considerando os riscos (MARTHA 0,31 112 40 -396,13 -311,20 -226,27 -141,33

JÚNIOR et al., 2011a). 0,27 100 44 -536,13 -451,20 -366,27 -281,33


0,25 90 48 -676,13 -591,20 -506,27 -421,33
RESULTADO ECONÔMICO FONTE: Dados básicos: Martha Júnior e Vilela (2007a).
NOTA: Custo de produção igual a R$ 35,00/cab./mês.
Nas análises econômicas apresentadas (1) Margem líquida (R$/cab.) igual à receita bruta (custos variáveis + depreciação).
nos Quadros 3 e 4, consideraram-se peso à
desmama (oito meses) de 190 kg e peso ao
abate de 490 kg, com rendimento de carcaça QUADRO 4 - Efeito do desempenho animal e do valor do custo de produção sobre a renta-
de 52%. No Quadro 3, o custo de produção bilidade da recria-engorda de bovinos de corte
referência foi de R$ 35,00/cab./mês e o Custo de produção
Indicadores de desempenho animal
valor de aquisição do bezerro de R$ 790,00. (R$/cab./mês)
E, no Quadro 4, o valor referência da arroba Idade abate 25 30 35 40
do boi gordo foi de R$ 95,00. As análises de kg/cab./dia kg/cab./ano
(meses) (1)
Margem líquida (R$/cab.)
sensibilidade apresentadas nesses Quadros
0,62 224 24 493,73 413,73 333,73 253,73
consideraram as amplitudes mais frequentes
0,49 180 28 393,73 293,73 193,73 93,73
desses indicadores no Cerrado.
0,41 150 32 293,73 173,73 53,73 -66,27
Idades de abate superiores a 40 me-
ses – típicas de sistemas pastoris com eleva- 0,35 128 36 193,73 53,73 -86,27 -226,27

da proporção de pastos degradados ou em 0,31 112 40 93,73 -66,27 -226,27 -386,27


degradação – somente foram viáveis eco- 0,27 100 44 -6,27 -186,27 -366,27 -546,27
nomicamente – e, mesmo assim, com baixa 0,25 90 48 -106,27 -306,27 -506,27 -706,26
margem – apenas para custos de produção FONTE: Dados básicos: Martha Júnior e Vilela (2007a).
igual ou inferior a R$ 25,00/cab./mês (Qua- NOTA: Valor da arroba de boi gordo de R$ 95,00.
dro 4). Pela amplitude considerada na análise (1) Margem líquida (R$/cab.) igual à receita bruta (custos variáveis + depreciação)

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Produção intensiva de pastagens 31

de sensibilidade, contemplando variações na animal (esquecer o pasto) não permite ga- trutura para permitir o manejo eficiente da
receita (R$/@), (Quadro 3) e nos custos de nhos expressivos de médio/longo prazos pastagem e para garantir ganhos marginais
produção (R$/cab./mês), (Quadro 4), fica no sistema de produção. O avançado grau condizentes com o novo patamar de inves-
claro que os sistemas pastoris tornam-se mais de degradação de pastagens no Cerrado, timentos (MARTHA JÚNIOR; VILELA,
robustos em termos econômicos, quando a determinando a insustentabilidade da pro- 2007a).
idade de abate é inferior a 32 meses. dução pecuária na região, comprova essa Portanto, na pecuária, o tempo de re-
Animais com potencial genético limita- argumentação. torno do capital investido é maior do que
do contribuem para a baixa produtividade A dificuldade de dar valor econômico na agricultura de grãos. Como resultado
do sistema, havendo forte interação entre à adubação de pastagens, na maioria das dos custos mais elevados no processo
o componente animal e a condição da vezes, prende-se ao fato de que o produto de intensificação do uso de fertilizantes
pastagem (oferta nutricional e manejo do comercializado em sistemas pastoris não em sistemas pastoris (animais, insumos
pasto). O trabalho de Barcellos et al. (1999) é a forragem propriamente dita, mas sim, e infraestrutura) e do maior tempo de
ilustrou a importância de associar genética o produto animal (MARTHA JÚNIOR; retorno do capital investido, é comum
animal ao manejo do pasto e à renovação VILELA, 2007a). Desse modo, o resulta- observar fluxos de caixa pouco positivos
de pastagens degradadas. Durante 15 me- do econômico do uso de fertilizantes em ou até mesmo negativos nos primeiros
ses, o ganho de peso de animais cruzados sistemas pastoris depende do incremento anos depois da implantação do projeto.
(Nelore x Blond D’Aquitaine), de maior adicional na quantidade de produto (car- Em diversas propriedades do Cerrado,
potencial de produção, superou o ganho ne, bezerro, leite) no sistema passível de tem-se verificado que embora o projeto
de peso de animais Nelore em 8,8% (161 x comercialização em reposta à adubação. de intensificação da adubação indique
148 kg), quando o pasto estava degradado. Como consequência, o valor da forragem viabilidade econômica, a redução no fluxo
Com ajuste no manejo, a diferença em favor extra produzida pela adubação depende, de caixa gerada pelos investimentos em
dos animais cruzados aumentou para 15,4% inevitavelmente, do perfil de cada sistema animais, fertilizantes e outros insumos é
(263 kg x 228 kg), porém, tal efeito é de de produção, que reflete o produto animal incompatível com a realidade da fazenda,
curta duração na ausência de medidas para comercializável (bezerro, garrote, touri- determinando a inviabilidade financeira
aumentar a produção de forragem. nho, arroba do boi gordo, etc.) e o valor do negócio e, inclusive, problemas de
Em pastagens renovadas e manejadas desse produto no mercado (MARTHA solvência. Nessas situações, o fazendeiro,
adequadamente, os valores de ganho de JÚNIOR; VILELA, 2007a). quase que instintivamente, reduz os gastos
peso registrados para os cruzados supera- Adicionalmente, a valoração da forra- com fertilizantes para saldar suas dívidas e/
ram aqueles dos Nelores em 24,9% (266 x gem produzida pela adubação diz respeito ou para garantir o seu custeio. No entanto,
213 kg). As produtividades no pasto degra- à época do ano em que essa forragem essa decisão, em muitas propriedades, tem
dado, no pasto com ajuste de manejo e no extra é produzida. A maior produção de melhorado a viabilidade financeira apenas
pasto renovado e com manejo do pastejo forragem obtida pelo uso de adubação, em no curto prazo. Em médio e longo prazos,
adequado foram de 3,4; 11,9 e 20,7 @/ha/ épocas do ano em que já existe excedente verificam-se problemas de viabilidade
ano, respectivamente. O maior potencial na produção, condição que varia com o econômica em adição ao restabelecimen-
produtivo obtido pelo cruzamento de raças perfil de cada fazenda, provavelmente to de inviabilidade financeira. Em casos
ou pelo melhoramento genético/seleção do não é econômica, quando não for acom- extremos, o pecuarista se vê forçado a
rebanho deverá estar sempre associado à panhada pelo aumento da taxa de lotação, desfazer de seu patrimônio para corrigir
melhoria da qualidade alimentar ofertada ou quando esse estoque de forragem não falhas não detectadas no projeto inicial do
aos animais. puder ser utilizado em épocas de escassez empreendimento (MARTHA JÚNIOR;
Assim, com a evolução no processo de de alimentos na propriedade. Só aumenta- VILELA, 2007a).
degradação do pasto, os investimentos no ria o desperdício de forragem na fazenda Nesse cenário, dois pontos devem ser
desempenho individual dos animais, nor- (MARTHA JÚNIOR; VILELA, 2007a). enfatizados. Primeiramente, a amplitude
malmente priorizados pelos pecuaristas, Deve-se considerar, também, que o nas eficiências parciais que determinam
passam a ser de baixa relação benefício/ aumento na taxa de lotação resultante a eficiência global de uso dos nutrientes
custo, ou até mesmo inócuos, em razão do do uso de fertilizantes implica custos dos fertilizantes em sistemas pastoris e a
baixo plano nutricional ofertado (pasto em adicionais (animais, despesas com outros oscilação dos termos de troca (produtos
quantidade e qualidade limitante). Se por fertilizantes, sal mineral, vacinas, etc.), que da pecuária/fertilizantes) justificam a falta
um lado investir no componente animal precisam ser conhecidos e considerados na de sentido da pergunta usualmente feita
é indispensável para assegurar a rentabi- análise econômico-financeira da adubação sobre a viabilidade da adubação: “[...] é
lidade do negócio (Quadros 3 e 4), por de pastagens. Em determinadas situações viável, em termos econômicos, adubar a
outro, investir unicamente no componente são necessários investimentos em infraes- pastagem?[...]”. A pergunta a ser feita e
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32 Produção intensiva de pastagens

que deve nortear a tomada de decisão na de abate, também beneficia o resultado notar que existe grande amplitude nas
propriedade rural com relação à adubação econômico da atividade, por causa do eficiências parciais que determinam a
de pastagens é: “quais as metas de produ- retorno mais rápido do capital e da decor- eficiência global de uso dos nutrientes
tividade necessárias para garantir respostas rente redução da depreciação do pasto nos dos fertilizantes em sistemas pastoris.
econômicas favoráveis com a adubação da custos fixos. Desse modo, a tomada de decisão na
pastagem?” (MARTHA JÚNIOR; VILE- Importante notar que a intensificação propriedade rural, com relação à adubação
LA; SOUSA, 2007). de sistemas pastoris pelo uso de aduba- de pastagens, deve focar nas metas de
O segundo ponto a ser destacado diz ção, por aumentar a taxa de lotação da produtividade necessárias para garantir
respeito à avaliação dos impactos da adu- fazenda, “torna mais líquido o patrimô- respostas econômicas favoráveis. Essas
bação de pastagens no sistema pastoril, nio”, uma vez que a parcela crescente metas devem ser aplicáveis a áreas adu-
que deve contemplar a fazenda como um dos ativos passa a ser representada pelos badas e não adubadas. Mais uma vez, a
todo e não apenas a área adubada. Basta animais, cuja liquidez é substancialmente fazenda precisa ser encarada com visão
lembrar que o aumento na produtivida- maior do que a terra e as benfeitorias. mais ampla. Os técnicos e os produtores
Desse modo, com a intensificação do rurais devem ficar atentos para o fato de
de, em resposta à adubação, melhora o
processo produtivo, aumenta-se a partici- que as metas de produção/produtividade
resultado econômico particularmente,
na propriedade rural não são fixas, pois
quando se verifica a diluição dos custos pação do capital produtivo em detrimento
variam com as oscilações nos preços
fixos e de oportunidade do uso do ca- do capital imobilizado (BARROS et al.,
relativos de produtos e insumos.
pital. Exemplificando, a redução mais 2005).
expressiva na participação do pasto no
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
custo fixo é observada quando sua vida
BARCELLOS, A. de O. Sistemas extensivos
útil aumenta e quando, ao longo desse A avaliação dos impactos da adubação
e semi-intensivos de produção: pecuária bo-
período, a taxa de lotação média anual é de pastagens no sistema pastoril deve vina de corte nos cerrados. In: SIMPÓSIO
maior (Gráfico 1). contemplar a fazenda como um todo e SOBRE CERRADO, 8.; INTERNATIONAL
Adicionalmente, o aumento no desem- não apenas a área adubada. Especifica- SYMPOSIUM ON TROPICAL SAVANNAS,
penho animal, traduzido pela menor idade mente nos módulos adubados, há que se 1., 1996, Brasília. Anais... Biodiversidade e
produção sustentável de alimentos e fibras
nos Cerrados. Planaltina: Embrapa CPAC,
1996. p.130-136.

20 3 anos BARCELLOS, A. de O. et al. Restabeleci-


16,77

mento da capacidade produtiva e desem-


18
6 anos penho animal em pastagens renovadas na
16 região do Cerrado. Planaltina: Embrapa
12,89

12,58
Custo (R$/cab./mês)

14 Cerrados, 1999. 4p. (Embrapa Cerrados. Co-


municado Técnico, 22).
10,6

12
9,67

BARIONI, L.G.; MARTHA JÚNIOR., G.B.


8,39

10 Método para estimar o tamponamento nu-


7,74

7,19
6,45

8 tricional para vacas de corte em Sistemas


6,29

5,59
5,53

5,03

Pastoris. Planaltina: Embrapa Cerrados,


4,83

6
3,87
4,3

2003. 4p. (Embrapa Cerrados. Comunicado


4 Técnico, 100).
2 BARROS, A.L.M.; HAUSKNECHT, J.C.O.V.;
0 BALSALOBRE, M.A.A. Intensificação em
0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00 2,25 2,50 pecuária de corte. In: SIMPÓSIO SOBRE
PECUÁRIA DE CORTE, 5., 2004, Piracicaba.
Taxa de lotação (cab./ha)
Anais ... Pecuária de corte intensiva nos tró-
picos. Piracicaba: FEALQ, 2004. p.67-85.

Gráfico 1 - Efeito projetado da vida útil do pasto e da taxa de lotação sobre o custo BARROS, A.L.M. et al. Avaliação dos im-
mensal de depreciação do pasto (R$/cab./mês) pactos da adubação nos custos de produção
FONTE: Martha Júnior e Vilela (2007a). da pecuária de corte. In: SIMPÓSIO SOBRE
NOTA: O custo de formação do pasto de três anos foi de R$ 452,89, e o do pasto de seis MANEJO DA PASTAGEM, 22., 2005, Pira-
anos foi de R$ 696,18, sendo essa diferença causada pela aquisição e aplicação cicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, 2005.
de corretivos e fertilizantes. p.387-403.

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Produção intensiva de pastagens 33

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I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 2 5 - 3 3 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

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34 Produção intensiva de pastagens

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 7 - 1 4 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

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Produção intensiva de pastagens 35

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 7 - 1 4 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

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36 Produção intensiva de pastagens

Consorciação de pastagens: potencial da tecnologia


e fatores de sucesso
Carlos Maurício Soares de Andrade 1
Giselle Mariano Lessa de Assis 2

Resumo - Os capins e as leguminosas são os dois principais grupos de plantas forragei-


ras utilizados para formação de pastagens cultivadas. A consorciação dessas plantas é
uma prática agropecuária reconhecida há muitas décadas por seu grande potencial para
aumento da produtividade e da sustentabilidade das pastagens. O conhecimento dessa
tecnologia evoluiu bastante, especialmente nas duas últimas décadas, e sua adoção já
vem sendo feita com sucesso em muitas regiões do Brasil. Atualmente, existem cultivares
de leguminosas com excelente potencial de persistência em consórcio com gramíneas, o
que possibilita o uso de taxas de lotação anuais de até 3,6 unidades animais por hectare
e produtividade animal superior a 900 kg/ha/ano de peso vivo, além de contribuir for-
temente para a redução do custo de produção pecuária, por meio da fixação biológica
de nitrogênio (FBN). Entretanto, como qualquer tecnologia agropecuária, a viabilidade
técnica e econômica do uso de pastos consorciados depende de alguns fatores condicio-
nantes, tais como a escolha de gramíneas e leguminosas compatíveis, com alto potencial
de persistência, e o respeito às exigências de clima e solo dessas plantas. A pecuária mi-
neira ainda se beneficia pouco dessa tecnologia, porém já existem leguminosas adequa-
das para formação de pastos consorciados em todas as regiões do Estado.

Palavras-chave: Pastagem. Pastagem consorciada. Leguminosa forrageira. Gramínea.

INTRODUÇÃO As leguminosas forrageiras melhoradas aspectos e, principalmente, porque as legu-


são plantas capazes de fornecer alimento minosas não são atacadas pelas principais
As pastagens naturais existentes em
de qualidade ao rebanho e ainda contribuir pragas e doenças que acometem as gra-
todo o mundo, são ecossistemas complexos,
com diversas funções complementares aos míneas e vice-versa (ANDRADE, 2010).
geralmente constituídos por uma vegetação
das gramíneas forrageiras, principalmente Neste artigo, serão discutidos o po-
composta predominantemente por várias
a fixação biológica de nitrogênio (FBN) e a tencial dessa tecnologia para a produção
espécies de gramíneas e leguminosas, além diversificação do ecossistema da pastagem. de bovinos em pasto e os fatores condi-
de outras plantas herbáceas e, algumas ve- Esta diversificação, com uso de cultivares cionantes do sucesso na sua adoção pelos
zes, também arbustos e árvores, como no forrageiras adaptadas, tem sido uma prá- pecuaristas. Muitos exemplos apresentados
Cerrado brasileiro. Apesar disso, quando tica defendida por diversos pesquisadores são originados de pesquisas e experiências
se pensa em uma pastagem cultivada, a como forma de aumentar a sustentabilidade realizadas no bioma Amazônia, especial-
imagem que se passa é a de área homogênea da produção de ruminantes em pastagens, mente no estado do Acre, por ser o Estado
com vegetação composta por uma única especialmente no que se refere aos proble- brasileiro com maior grau de utilização
espécie ou cultivar de capim. Entretanto, a mas causados por doenças e insetos-praga dessa tecnologia (mais de um terço das pas-
pesquisa tem feito um grande esforço para (VALLE; JANK; RESENDE, 2004). O tagens cultivadas). Por fim, será apresenta-
disponibilizar à pecuária brasileira novas uso de pastos consorciados é uma forma do o potencial das principais cultivares de
cultivares de leguminosas forrageiras, com eficiente de diversificar as pastagens, por leguminosas forrageiras para formação de
características adequadas para a formação causa da complementaridade que gramí- pastos consorciados nas diferentes regiões
de pastos consorciados com capins. neas e leguminosas apresentam em muitos do estado de Minas Gerais.

1
Engo Agro, D.S., Pesq. EMBRAPA Acre, Caixa Postal 321, CEP 69908-970 Rio Branco-AC. Correio eletrônico: mauricio@cpafac.embrapa.br
2
Zootecnista, D.S., Pesq. EMBRAPA Acre, Caixa Postal 321, CEP 69908-970 Rio Branco-AC. Correio eletrônico: giselle@cpafac.embrapa.br

I n f o r m e A g r o p e c u á r i o , B e l o H o r i z o n t e , v. 3 3 , n . 2 6 6 , p . 3 6 - 4 8 , j a n . / f e v. 2 0 1 2

Book 1.indb 36 3/5/2012 11:25:16


Produção intensiva de pastagens 37

FIXAÇÃO BIOLÓGICA DE
NITROGÊNIO EM PASTOS
CONSORCIADOS
A sustentabilidade das pastagens culti-
vadas em regiões tropicais apresenta forte
dependência da manutenção da disponibili-
dade de nitrogênio (N) no solo. Os estudos
mostram que as pastagens não adubadas,
formadas apenas com gramíneas, apresen-

Carlos Maurício Soares de Andrade


tam um déficit anual de N, que varia de 60
a 125 kg/ha (MYERS; ROBBINS, 1991;
THOMAS, 1992; CADISCH; SCHUNKE;
GILLER, 1994). Sem a correção desse
déficit, seja por meio da adubação nitro-
genada, seja pelo uso��������������������
de leguminosas con-
sorciadas com as gramíneas, as pastagens
tornam-se improdutivas e acabam entrando
em processo de degradação (Fig. 1). Figura 1 - Pastagem de capim-braquiária em processo de degradação, causada pela
Desse modo, uma das principais expec- deficiência de nitrogênio no solo e pelo manejo inadequado
tativas com relação ao uso de leguminosas
para formação de pastos consorciados é a

Fotos: Carlos Maurício Soares de Andrade


redução da dependência da adubação nitro-
genada para manter as pastagens produtivas.
O potencial de FBN das leguminosas forra-
geiras tropicais é superior a 300 kg/ha/ano,
sendo que a maioria dos resultados obtidos
situa-se na faixa de até 180 kg/ha/ano de
N (THOMAS et al., 1997; MIRANDA;
FERNANDES; CADISH, 1999; GILLER,
2001). Também tem sido demonstrado que
a FBN corresponde, em média, a 80% do Figura 2 - Exemplos de pastos consorciados na Amazônia com proporção ideal de le-
N contido na biomassa aérea das legumino- guminosas
sas. Para o amendoim-forrageiro (Arachis NOTA: A - Consórcio de Panicum maximum cv. Tanzânia com Pueraria phaseoloides;
pintoi), por exemplo, a quantidade fixada B - Consórcio de Brachiaria humidicola com Arachis pintoi cv. Mandobi.
varia de 15 a 25 kg de N para cada tonela-
da de matéria seca (MS) produzida. Desse PRODUÇÃO DE BOVINOS EM estudo realizado no bioma Cerrado com o
modo, o principal fator que determina a PASTOS CONSORCIADOS consórcio da Brachiaria decumbens com
quantidade de N fixada pelas leguminosas o estilosantes Campo Grande (Quadro 1).
em pastagens tropicais é a sua produtividade A produção de bovinos em pastos
Andrade, Ferreira e Farinatti (2011)
consorciados é quase sempre superior à
e persistência (THOMAS et al., 1997). fizeram uma compilação de 15 estudos publi-
Portanto, é possível manter um balanço obtida em pastos exclusivos de gramíneas
cados, entre 1985 e 2010, na América Latina,
positivo de N nas pastagens cultivadas em não adubadas com N, em magnitude que
contendo dados de produção de bovinos de
regiões tropicais por meio da utilização de varia principalmente com o grau de defici- corte em recria em 32 pastos consorciados
pastos consorciados com leguminosas for- ência de N na pastagem e com a proporção com as seguintes leguminosas forrageiras:
rageiras produtivas e persistentes. Para isso, de leguminosas no pasto consorciado. Arachis pintoi, Desmodium ovalifolium,
as leguminosas devem constituir de 20% a De acordo com a literatura revisada por Pueraria phaseoloides, Stylosanthes
45% da composição botânica das pastagens Lascano (2001), a vantagem dos pastos guianensis, S. capitata, S. macrocephala,
tropicais (Fig. 2), para que os níveis de FBN consorciados em termos de produtividade Calopogonium mucunoides e Leucaena
obtidos (60 a 120 kg/ha/ano) sejam suficien- animal é, em média, de 30%. Exemplo leucocephala. A média anual do de-
tes para manter o balanço de N no solo. dessa superioridade pode ser observado em sempenho animal variou de 241
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38 Produção intensiva de pastagens

a 624 g/animal/dia (média de QUADRO 1 - Desempenho (g/animal/dia) e produtividade (kg/ha/ano) de bovinos de corte em
442 g/animal/dia), com 81% dos resul- pastagens de Brachiaria decumbens pura e consorciada com o estilosantes Campo
tados concentrados na faixa de 301 a Grande - média de três anos
600 g/animal/dia (Gráfico 1). Os resulta- Taxa de lotação
Característica (UA/ha)
dos de produtividade animal apresenta-
Média = 442 g/animal/dia
ram variação ainda mais ampla – 216 a 0,90 1,25
40%
993 kg/ha/ano de peso vivo (PV) – , com g/animal/dia
média de 549 kg/ha/ano. Em dois terços dos Brachiaria decumbens 30%
527 494
pastos consorciados avaliados, a produtividade
Brachiaria decumbens consorciada 624 606
esteve na faixa de 400 a 700 kg/ha/ano. 20%
Essa ampla variação reflete obviamente Benefício da consorciação + 18% + 23%
as diferentes condições experimentais destes 10% kg/ha/ano
estudos, principalmente quanto à genética Brachiaria decumbens 289 381
dos animais experimentais, regime hídrico 0%
Brachiaria decumbens consorciada 342 458

0
local, forrageiras utilizadas e oferta de for-

70
30

40

50

60

1-
0-

1-

1-

1-
ragem adotada. Na maioria dos trabalhos Benefício da consorciação + 18% + 20%

60
20

30

40

50
que obtiveram desempenho animal inferior a FONTE: Valle, Silva e Schunke (2001).
400 g/animal/dia, foram utilizadas gramíne- Desempenho (g/animal/dia)

as ou leguminosas de baixa palatabilidade


Média = 442 g/animal/dia Média = 549 kg/ha/ano
(Paspalum atratum, D. ovalifolium e C. 40% 40%
mucunoides) ou foram utilizadas taxas de
lotação excessivamente altas. Os maiores 30% 30%
valores de desempenho animal foram obtidos
em pastos de B. decumbens consorciados 20% 20%
com o estilosantes Campo Grande no bio-
ma Cerrado, com uso de taxas de lotação
10% 10%
baixas (Quadro 1). Já os cinco melhores
resultados de produtividade animal (709 a
0% 0%
993 kg/ha/ano) foram obtidos em pastos de
0

40 400
0

30 00
70

50 00

60 00

00
70 00
30

40

50

60

80 800
90 900
3
1-

10
7
1-
0-

1-

1-

1-

0-

amendoim forrageiro consorciados com gra- 1-

1-

1-
60

1-
1-
20

30

40

50

1-
20

míneas dos gêneros Brachiaria, Paspalum e


Cynodon, no Brasil e na Costa Rica, com uso Desempenho (g/animal/dia) Produtividade (kg/ha/ano de peso vivo)
de taxas de lotação anuais que variaram de 2 a Gráfico 1 - Distribuição de frequência de resultados de desempenho e produtividade de
3 UA/ha (ANDRADE; FERREIRA; FARI- bovinos
Média dekg/ha/ano
= 549 corte em recria em pastos consorciados na América Latina
40%
NATTI, 2011). FONTE: Andrade, Ferreira e Farinatti (2011).
De acordo com pesquisas realizadas
30%
na América Latina, a capacidade de su-
pastagens nas épocas mais favoráveis ao cres- b) o potencial de acúmulo de forragem
porte anual de pastagens tropicais con-
cimento
20% do pasto (primavera-verão) atinge das leguminosas é inferior ao das
sorciadas com leguminosas varia de 1,3 a níveis de até 4,0 UA/ha, sendo reduzidas para gramíneas tropicais melhoradas.
3,6 UA/ha, dependendo das forrageiras uti- 1,010%
a 2,0 UA/ha no outono-inverno (AN-
lizadas e das condições climáticas do local Em resumo, as respostas esperadas em
DRADE; FERREIRA; FARINATTI, 2011).
(Quadro 2). No bioma Cerrado, por causa pastos consorciados são equivalentes às
Em pastos consorciados não é possível
0%
da maior estacionalidade de produção das obtidas em pastos exclusivos de gramíneas
alcançar as mesmas taxas de lotação e ní-
40 400
30 00

50 00

60 00

00
70 00
80 800
90 900

adubadas com 50 a 150 kg/ha/ano de N.


3

10
7

pastagens, a capacidade de suporte foi em


1-
0-

1-

1-

veis de produtividade de bovinos obtidos


1-

1-
1-
1-
20

média de 1,6 UA/ha. Já nos biomas Amazônia em pastagens de gramíneas adubadas com Ou seja, taxas de lotação de até 4,0 UA/ha
e Mata Atlântica, com condições climáticas altas Produtividade (kg/ha/ano de
doses de fertilizantes peso vivo)
nitrogenados, e produtividade de até 1.000 kg/ha/ano de
mais favoráveis, principalmente com relação por dois motivos: peso vivo.
à melhor distribuição das chuvas, tem sido a) as leguminosas não conseguem fixar Não existem muitos estudos que com-
possível obter médias mais elevadas de ca- a quantidade de N necessária para param as vantagens econômicas e am-
pacidade de suporte anual (2,6 a 2,7 UA/ha). explorar o potencial produtivo das bientais do uso de pastos consorciados na
Geralmente, a capacidade de suporte dessas pastagens tropicais; produção de ruminantes no Brasil. Porém,
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Produção intensiva de pastagens 39

os resultados de algumas pesquisas e de um QUADRO 2 - Capacidade de suporte de pastagens formadas pelo consórcio de gramíneas e
estudo de caso na Amazônia mostram que leguminosas em diferentes biomas da América Latina
essa tecnologia precisa ser mais bem explo- Capacidade de suporte anual
Precipitação anual
rada na pecuária brasileira, pois consegue Bioma (UA/ha)
(mm)
conciliar aumento produtivo com redução Média Amplitude
de custos e benefícios ambientais, fatores Amazônia 1.800 - 4.530 2,7 2,2 a 3,6
extremamente necessários para a viabili- Mata Atlântica 1.200 - 1.400 2,6 1,8 a 3,1
dade da atividade pecuária nos dias atuais. Cerrado 1.450 - 1.560 1,6 1,3 a 2,0
Um estudo de cinco anos de duração,
FONTE: Andrade, Ferreira e Farinatti (2011).
realizado no Paraná, comparou a produ-
ção animal e a viabilidade econômica da
recria de novilhos cruzados em pastagens QUADRO 3 - Indicadores zootécnicos e financeiros de sistemas de recria de bovinos cruza-
de capim-coastcross (Cynodon dactylon), dos em pastagens de coastcross e amendoim-forrageiro no Paraná - média de
consorciadas ou não com o amendoim- cinco anos
forrageiro (A. pintoi cv. Amarillo), adubadas Consórcio Consórcio Consórcio Coastcross +
Indicador
+0N + 100 N + 200 N 200 N
com diferentes doses de N (GOMES, 2008).
Zootécnico
No pasto consorciado sem adubação nitro-
Taxa de lotação anual (UA/ha) 3,2 3,8 4,5 4,5
genada, com taxa de lotação anual média Produção animal (kg/ha/ano de PV) 935 1.104 1.266 1.200
de 3,2 UA/ha, foi possível produzir 935 kg/ Econômico
ha/ano de peso vivo (Quadro 3). Com o uso Renda líquida (R$/ha/ano) 391,02 268,04 315,56 327,36
de 200 kg/ha/ano de N, foi possível elevar (1)
Payback (meses) 29 36 34 35
a taxa de lotação anual para 4,5 UA/ha e a Taxa média de retorno (%) 40,7 27,1 32,8 33,1
produtividade animal para pelo menos 1.200 Valor presente líquido (R$) 871,41 119,29 465,48 478,12
kg/ha/ano de peso vivo. Embora menos Índice de rentabilidade adicional (%) 67,2 9,3 35,9 37,2
Taxa interna de retorno (%) 28,3 8,8 18,6 19,6
produtivo, o pasto consorciado sem adu-
bação nitrogenada apresentou os melhores FONTE: Gomes (2008).
NOTA: PV - Peso vivo.
resultados econômicos, com base em todos
(1) Tempo decorrido entre o investimento inicial e o momento no qual o lucro líquido acu-
os indicadores analisados pelo autor, com mulado se iguala ao valor desse investimento.
menor custo de manutenção da pastagem, es-
pecialmente com fertilizantes nitrogenados.
Um estudo de caso apresentado por forragem disponível (Quadro 4). Com base especialmente quando em pastagens com
Andrade (2010) permite uma análise inte- idade média de 21 anos, sem adubação
na composição botânica das pastagens e em
ressante sobre o potencial do uso de pastos
dados de literatura sobre a produtividade nitrogenada, com animais criados rece-
consorciados para aumento da produtivida-
de MS destas leguminosas, a eficiência da bendo apenas suplementação mineral. A
de e da rentabilidade da pecuária de corte
FBN por leguminosas tropicais e o preço da taxa de lotação das pastagens é quase o
no Brasil. O estudo foi realizado em uma
ureia no mercado de Rio Branco, em 2010, dobro da média da Região Norte do Brasil
propriedade particular no estado do Acre,
foi possível estimar os níveis de FBN nas (0,97 UA/ha) (VALENTIM; ANDRADE,
que trabalha com cria, recria e engorda de
pastagens da Fazenda ABC e a economia 2009), graças à boa fertilidade natural do
bovinos de corte em pastagens, com longo
histórico de uso de pastos consorciados com fertilizantes nitrogenados nestas pas- solo, ao manejo com pastejo rotativo e,
com as leguminosas puerária (Pueraria tagens. Os resultados mostraram uma FBN certamente, à incorporação de N pelas
phaseoloides), calopogônio (Calopogonium média de 60,2 kg/ha/ano de N, gerando uma leguminosas. Os níveis de produtividade
mucunoides) e amendoim-forrageiro (A. economia anual de, aproximadamente, R$ animal superiores a 150 kg/ha/ano de equi-
pintoi) cv. Belmonte. O levantamento da 240,00 por hectare, o equivalente a quase valente-carcaça, ou a aproximadamente
proporção de leguminosas nas pastagens 4,0 arrobas de boi gordo3. 300 kg/ha/ano de PV, considerando rendi-
da Fazenda ABC mostrou que estas cons- Os indicadores zootécnicos obtidos pela mento de carcaça e 52%, são também ex-
tituíam de 7% a 35% da composição botâ- Fazenda ABC, entre 2008 e 2009, podem pressivos. Em sistema de produção de gado
nica, com contribuição média de 23,7% da ser considerados muito bons (Quadro 5), Nelore na Região Centro-Oeste (cria, recria

3
A arroba do boi gordo em Rio Branco estava cotada a R$ 61,00, em dezembro de 2009.

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40 Produção intensiva de pastagens

QUADRO 4 - Estimativa da fixação biológica de nitrogênio (FBN) em pastos consorciados da O sistema de criação da Fazenda
Fazenda ABC e economia anual com fertilizantes nitrogenados ABC tem permitido o abate de machos
Pastagem Área Leguminosa FBN Economia com ureia Nelore aos 34 meses, com peso de 17
(ha) (%) (kg/ha/ano de N) R$/ha/ano R$/ano
arrobas. Quanto aos animais resultantes
1 269 29,4 60,9 243,72 65.560,68
de cruzamento industrial (Aberdeen
2 152 12,0 25,3 101,22 15.385,44
Angus x Nelore) têm sido abatidos com
3 100 32,0 90,0 360,12 36.012,00
4 230 22,0 40,8 163,02 37.494,60 idade média de 27 meses (ANDRADE,
5 100 7,0 13,1 52,28 5.228,00 2010). Isso tem permitido a obtenção de
6 95 7,0 15,3 61,30 5.823,50 taxa média de desfrute de PV de 31,7%
7 53 15,0 41,2 164,86 8.737,58 (Quadro 5), valores considerados muito
8 82 22,0 63,3 253,22 20.764,04 bons para um sistema exclusivo a pasto.
9 80 35,0 72,1 288,46 23.076,80 No sistema de produção descrito por
10 20 9,0 20,7 82,68 1.653,60
Corrêa et al. (2000), com base no uso de
11 53 29,0 74,1 296,48 15.713,44
suplementação proteico-energética dos
12 120 35,0 121,7 486,90 58.428,00
13 149 33,0 114,1 456,50 68.018,50
machos em recria, seguido de termina-
Total/Média 1.503 23,7 60,2 240,78 361.896,18 ção em confinamento, a taxa de desfrute
FONTE: Andrade (2010). obtida foi de 34,5%.
Os indicadores financeiros da Fazen-
da ABC (Quadro 5), com lucratividade
QUADRO 5 - Indicadores zootécnicos e financeiros da Fazenda ABC, entre 2008 e 2009, em superior a 40% e rentabilidade superior
Rio Branco, Acre
a outras opções tradicionais de investi-
Indicador 2008 2009 Média mento, como a caderneta de poupança,
Zootécnico indicam um sistema de produção equili-
Taxa de lotação (UA/ha) 1,92 1,91 1,91 brado, gerando receitas capazes de cobrir
Taxa de lotação (cabeças/ha) 2,87 2,85 2,86 os diversos custos da atividade (mão de
Produtividade (@/ha/ano) 10,35 10,21 10,28 obra, manutenção do rebanho, impostos,
Taxa de desfrute de PV (%) 29,5 33,8 31,7 etc.) e as depreciações, além de viabilizar
Financeiro
os investimentos necessários (renovação
de pastagens) e garantir a sobrevivência
Preço da arroba (macho) 66,00 61,00 63,50
do negócio no longo prazo.
Preço da arroba (fêmea) 60,00 57,00 58,50
Os resultados desse estudo de caso
Receita bruta (R$/ha/ano) 710,87 602,76 656,82 proporcionam uma análise interessante
Custo mensal por cabeça (R$) 14,28 11,98 13,13 sobre o potencial de redução de custos
Custo por arroba produzida (R$) 39,98 35,03 37,51 na produção de gado de corte em pastos
Receita líquida (R$/ha/ano) 297,07 245,02 271,05 consorciados, em comparação com siste-
Lucratividade (%) 41,79 40,65 41,27 mas que se baseiam na adubação nitro-
Rentabilidade (%) 7,75 7,09 7,42 genada das pastagens. Por exemplo, se
incluir no custo de produção da Fazenda
FONTE: Andrade (2010).
NOTA: PV - Peso vivo.
ABC as despesas com aquisição de ureia
(R$ 240,78 ha), conforme Quadro 4, vi-
sando substituir a quantidade de N fixada
e engorda), com um terço das pastagens aos obtidos em um estudo feito, em 2009, pelas leguminosas, a receita líquida anual
de gramíneas, recebendo adubação com pela empresa de consultoria Exagro, com- por hectare da propriedade seria reduzida
100 kg/ha/ano de ureia, e com os machos em parando 84 fazendas de gado de corte das para R$ 56,29 e R$ 4,24, e a lucratividade
recria recebendo suplementação proteico- Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste diminuiria para 7,9% e 0,7%, em 2008
energética em pastagem na primeira seca (Quadro 6). Nesse estudo, a fazenda campeã e 2009, respectivamente (ANDRADE,
e confinados na segunda seca, a produti- de produtividade teve resultado semelhante 2010). O estudo comparativo da Exagro
vidade animal obtida foi de 101 kg/ha/ano ao da Fazenda ABC, que também apresenta mostrou que fazendas que conseguem
de equivalente-carcaça (CORRÊA et al., menor custo de produção e receita líquida produzir com menor custo por arroba,
2000). Os resultados da Fazenda ABC são duas vezes maior do que a média das fazen- apresentam melhores resultados econô-
também favoráveis, quando comparados das estudadas pela Exagro. micos (JOSÉ, 2010).
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Produção intensiva de pastagens 41

QUADRO 6 - Indicadores zootécnicos e financeiros de 84 fazendas de gado de corte nas sáveis pelo melhoramento genético e aos
Regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, em 2009 técnicos e extensionistas de cada Estado
Indicador Máximo Médio Mínimo ou município, o papel de orientar os pecu-
Produtividade (@/ha/ano) 10,38 5,62 1,37 aristas sobre as exigências edafoclimáticas
Custo mensal por cabeça (R$) 46,40 21,95 6,82 das novas cultivares lançadas.
Receita líquida (R$/ha/ano) 404,65 127,50 -130,35
Potencial de persistência
FONTE: José (2010).
das leguminosas
O potencial de persistência de uma
A produção de ruminantes em pastos FATORES DE SUCESSO leguminosa forrageira sob pastejo depende
consorciados pode trazer uma série de PARA USO DE PASTOS fundamentalmente de dois conjuntos de
benefícios ambientais em comparação CONSORCIADOS mecanismos:
à pecuária tradicional. No Brasil, atual- A viabilidade técnica e econômica de a) aqueles que asseguram a perenidade
mente, os principais problemas ambien- qualquer tecnologia na atividade pecuária ou manutenção da população de
tais decorrentes da atividade pecuária depende de alguns fatores condicionantes. plantas na pastagem;
estão relacionados com a conversão de No caso do uso de pastos consorciados isso b) aqueles que regulam a adaptação da
ecossistemas naturais para expansão de não é diferente, e os principais fatores a se- planta ao pastejo.
novas áreas de pastagens cultivadas e a rem observados pelo pecuarista que deseja O entendimento destes mecanismos é
emissão de gases de efeito estufa (GEEs), investir nessa tecnologia, são: fundamental tanto para os pesquisadores
especialmente o metano. O uso de le- a) disponibilidade de cultivar de legu- que trabalham com manejo de pastos
guminosas em pastos consorciados tem minosa com médio a alto potencial consorciados, quanto para os pecuaristas
potencial para contribuir com a fixação de persistência sob pastejo; que pretendem investir nessa tecnologia.
de carbono no solo e para a redução das b) disponibilidade de uma ou mais A perenidade das leguminosas nas
emissões de metano, conforme discutido cultivares de gramíneas compatíveis pastagens pode decorrer de:
por Abberton et al. (2008), Barcellos et com essa leguminosa; a) longevidade das plantas originais;
al. (2008) e Lascano e Cárdenas (2010). c) as cultivares identificadas devem ser b) reposição de plantas por via repro-
Também reduz a demanda por energia adaptadas às condições edafoclimá- dutiva (sementes);
de combustíveis fósseis necessária para ticas da área onde a pastagem será c) reposição de plantas por via vegeta-
sintetizar o N inorgânico dos fertili- estabelecida; tiva (estolões e rizomas).
zantes e de fontes de N não proteico de
d) disponibilidade de sementes ou de O primeiro mecanismo é importante
alimentos para bovinos, o que significa
material vegetativo dessas cultivares para algumas espécies, geralmente lenho-
menores emissões de GEEs nos sistemas na região. sas, com duração de vida extremamente
que se baseiam em pastos consorciados
Os dois últimos fatores parecem óbvios, longa, como a leucena, por exemplo. Já
(ANDREWS et al., 2007; LEDGARD et
porém nem sempre são levados em consi- as espécies anuais dispõem apenas do
al., 2009).
deração pelos pecuaristas, especialmente a segundo mecanismo, ou seja, do ciclo
As perspectivas para as próximas
questão da adaptabilidade das forrageiras. de florescimento, formação de sementes,
décadas, com um cenário de mudanças
É preciso reconhecer que o Brasil é um país aumento das reservas de sementes no solo,
climáticas globais, elevação dos preços com dimensões continentais, composto por regeneração de plântulas e sobrevivência
do petróleo, mudanças na matriz ener- seis biomas diferentes (Amazônia, Caa- destas até o florescimento.
gética, controle das emissões de GEEs, tinga, Cerrado, Pantanal, Mata Atlântica e A maioria das leguminosas herbáceas
crescimento do nível de renda nos países Pampa), cada um possuindo um conjunto “perenes” têm duração de vida limitada a
em desenvolvimento e aumento da de- particular de características de clima e dois ou três anos, e deverão ser substituí-
manda mundial por alimento, justificam solo, e que toda planta forrageira possui das por novas plantas, para que a popula-
plenamente o investimento, visando exigências edafoclimáticas próprias, que ção seja mantida. Portanto, a maioria das
ampliar a produção de ruminantes em precisam ser levadas em consideração no leguminosas de clima tropical depende
pastos consorciados de gramíneas e le- planejamento da formação das pastagens. do recrutamento de novas plantas, a partir
guminosas. Essa é uma das tecnologias Portanto, não é sensato pensar em uma de sementes, para compensar a morte das
que melhor se encaixam dentro da filo- cultivar de leguminosa ou em um consórcio plantas mais velhas. O problema desta
sofia de produção pecuária sustentável que seja adequado para todo o País. Cabe via de persistência é que, em pastos es-
(ANDRADE, 2010). às instituições e aos pesquisadores respon- táveis, com dossel fechado, as plântulas
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42 Produção intensiva de pastagens

geralmente sofrem forte competição por mecanismos de escape são aqueles que possuem tolerância ao pastejo tão elevada
parte da vegetação já estabelecida. Muitas reduzem a probabilidade e a severidade quanto o amendoim-forrageiro. O estado
vezes, a leguminosa pode possuir grande do pastejo, ao passo que a tolerância ao do Acre possui a maior área plantada
reserva de sementes no solo e apresentar pastejo consiste dos mecanismos que com o amendoim-forrageiro (A. pintoi cv.
problemas de persistência decorrentes promovem a retomada do crescimento das Belmonte), no Brasil (VALENTIM; AN-
da fraca sobrevivência das plântulas plantas após a desfolha. DRADE, 2005), e a experiência adquirida
(FORDE; HAY; BROCK, 1989; JONES; Para exemplificar esses conceitos, os ao longo dos últimos 20 anos indicam que
CARTER, 1989). principais mecanismos de persistência de persistência não é um problema para essa
A reposição de plantas por via vege- algumas leguminosas forrageiras tropicais leguminosa (Fig. 3).
tativa, processo também conhecido como são descritos no Quadro 7. Somente as
reprodução clonal, é o mecanismo mais leguminosas que não dependem exclu- Compatibilidade entre
gramíneas e leguminosas
eficiente e desejável para assegurar a sivamente da reprodução sexual como
persistência das leguminosas forrageiras mecanismo de perenidade podem ser O sucesso no uso de pastos consor-
nas pastagens. Leguminosas estoloníferas classificadas como de alta capacidade ciados de gramíneas e leguminosas não
como o amendoim-forrageiro dependem de persistência em pastos consorciados. depende exclusivamente da persistência
pouco da ressemeadura natural, pois são Dentre as leguminosas herbáceas tropicais da leguminosa no consórcio. Há muitos
capazes de multiplicar-se vegetativamente já avaliadas, nenhuma possui potencial exemplos de consórcios em que a legu-
a partir do enraizamento dos seus estolões, de persistência tão elevado quanto o minosa persiste por muitos anos, porém
dando origem à formação de novas plantas amendoim-forrageiro. As cultivares dis- com baixa participação na composição
(clones), que garantem a perenidade da poníveis dessa leguminosa apresentam botânica, por falta de compatibilidade
população na pastagem. alta eficiência tanto na reprodução sexual, com a gramínea.
Os mecanismos de resistência ao pas- com manutenção de um vigoroso banco A compatibilidade entre gramíneas
tejo também são importantes para a per- de sementes enterradas no solo, quanto e leguminosas foi definida por Collins e
sistência das leguminosas nas pastagens. na reprodução clonal, por se tratar de uma Rhodes (1989) como sendo a habilidade
Estes são subdivididos em mecanismos planta verdadeiramente estolonífera. Além de duas espécies crescerem juntas e pro-
de escape e de tolerância ao pastejo. Os disso, poucas plantas forrageiras tropicais duzirem alta quantidade de forragem, com

QUADRO 7 - Mecanismos de persistência de algumas leguminosas forrageiras tropicais sob pastejo

Mecanismos de perenidade Mecanismos de adaptação ao pastejo


Potencial de
Leguminosa Longevidade Porte
Reprodução Reprodução Tolerância Tolerância persistência
de plantas Palatabilidade da
sexual clonal ao pastejo ao pisoteio
originais planta

Leucaena leucocephala Alta - - - Alta - - Alto

Arachis pintoi cv. Belmonte - Sim Sim - - Alta Alta Alto

Desmodium ovalifolium cv.


- Sim Sim Baixa - Alta Alta Alto
Itabela

Pueraria phaseoloides - Sim - Média - - - Médio

Calopogonium mucunoides - Sim - Baixa - - - Médio

Stylosanthes spp. cv. Campo


- Sim - - - Média Média Médio
Grande

Macrotiloma axillare cv. Java - Sim - Baixa - - - Médio

Pouca
Stylosanthes guianensis cv.
- produção de - - - Média Média Baixo
Mineirão
sementes
Neonotonia wightii (Soja-pe-
- Sim - - - - - Baixo
rene)
FONTE: Dados básicos: Andrade (2010).

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Produção intensiva de pastagens 43

Fotos: Carlos Maurício Soares de Andrade


Figura 3 - Pasto consorciado de capim-massai e amendoim-forrageiro estabelecido há 17 anos, em Rio Branco, AC

uma porcentagem de leguminosa suficiente 100%


para otimizar os benefícios da FBN e da
90%
qualidade de forragem superior.
Na literatura, são relacionados diver- 80%
sos fatores que determinam a compati-
bilidade entre espécies, porém, nenhum 70%
é tão importante quanto o hábito de
60%
crescimento das plantas. As leguminosas
Artigos publicados

forrageiras tropicais apresentam grande 50%


diversidade quanto ao hábito de cres-
40%
cimento, sendo as espécies herbáceas
geralmente classificadas em: trepadeiras 30%
ou de crescimento volúvel, eretas e pros-
tradas ou rasteiras. Entre as prostradas, 20%
existem espécies não-radicantes, espé-
10%
cies que possuem crescimento estolo-
nífero, como o amendoim-forrageiro, e 0%
outras que são rizomatozas, como o A. 1970 1980 1990 2000
glabrata. Entretanto, o maior número
de espécies estudadas possui o hábito de Prostradas Arbustivas

crescimento volúvel. Eretas Trepadeiras


No passado, havia a crença de que
o hábito de crescimento volúvel de vá- Gráfico 2 - Participação de leguminosas forrageiras tropicais em artigos publicados nos
periódicos RBZ e PAB nas décadas de 1970 a 2000, conforme o hábito de
rios gêneros de leguminosas tropicais crescimento
(Calopogonium, Centrosema, Macropti- FONTE: Andrade (2010).
lium, Macrotyloma, Neonotonia e Pueraria) NOTA: RBZ - Revista Brasileira de Zootecnia (Sociedade Brasileira de Zootecnia); PAB -
conferia vantagem em relação às gramíneas Pesquisa Agropecuária Brasileira (EMBRAPA).
tropicais, pelo fato de possibilitar sua esca-
lada ao topo do dossel e, assim, competir
mais eficientemente por luz. Isso explica a quanto à persistência destas leguminosas dos em compatíveis ou incompatíveis, na
grande predominância de leguminosas com sob pastejo, pois essa vantagem somente prática tem-se observado a existência de
hábito de crescimento volúvel nas pesquisas se concretiza quando o pasto é mantido sem níveis variados de compatibilidade nos
realizadas no Brasil nas décadas de 1970 desfolha por longos períodos. consórcios já testados. Exemplo de um
e 1980 (Gráfico 2). Entretanto, esse ponto Embora os consórcios de gramíneas e consórcio incompatível é a associação da
de vista mostrou-se totalmente equivocado leguminosas sejam geralmente classifica- grama-estrela com a puerária (ANDRA-
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44 Produção intensiva de pastagens

DE, 2009). No Acre, tem sido observado equilibrados por períodos superiores a seca prolongado em parte da região;
que a introdução da gramínea em áreas 15 anos. b) Zona da Mata, Sul/Sudeste de Minas
dominadas pela puerária resulta na ex- e Campo das Vertentes: boa preci-
clusão da leguminosa da pastagem em Disponibilidade de
pitação anual (1.200 a 1.800 mm),
cultivares adaptadas
poucos anos. De modo geral, as legumi- topografia acidentada, ocupada princi-
nosas de hábito de crescimento volúvel Um fator crucial para o sucesso na palmente por pequenas propriedades;
têm grande dificuldade de conviver com consorciação de pastagens é a utiliza- c) Triângulo, Alto Paranaíba, Noroes-
gramíneas prostradas e estoloníferas, ção de espécies e cultivares adaptadas te: bom regime de chuvas, principal-
especialmente quando manejadas sob à região de cultivo. O estado de Minas mente no Triângulo Mineiro e Alto
pastejo rotativo. Gerais apresenta grande diversidade Paranaíba (1.400 a 1.800 mm);
O Stylosanthes guianensis cv. Mi-
de clima, solo e relevo, de forma que a d) Central, Metropolitana de Belo Ho-
neirão é uma leguminosa que consegue
escolha da cultivar forrageira deve tam- rizonte e Oeste: regiões com menor
formar consórcios harmônicos com
bém considerar tais fatores. O Instituto número de bovinos, com boa preci-
gramíneas do gênero Brachiaria, porém
Brasileiro de Geografia e Estatística pitação anual (1.300 a 1.500 mm).
com baixa persistência por sua pequena
(IBGE) dividiu Minas Gerais em 12
produção de sementes, já que essa le- Atualmente, há cultivares de legumino-
mesorregiões (Fig. 4), que apresentam
guminosa depende exclusivamente da sas forrageiras recomendadas para Minas
ressemeadura natural como mecanismo aspectos peculiares determinantes na
Gerais, porém, pela elevada diversidade
de perenidade. O contrário tem sido escolha das cultivares de gramíneas e existente de clima, solo, relevo e tipos de
observado nos pastos consorciados de leguminosas a serem utilizadas nos sis- sistemas de produção, torna-se necessário
puerária com cultivares de Panicum temas de produção pecuários, as quais o desenvolvimento de novas cultivares
maximum na Amazônia (Fig. 2). Há foram assim agrupadas: de gramíneas e leguminosas forrageiras
vários exemplos de persistência da le- a) Norte de Minas, Jequitinhonha, que atendam realmente às demandas dos
guminosa por períodos superiores a dez Vale do Mucuri e Rio Doce: baixa produtores.
anos nessas pastagens, porém consti- precipitação anual (700 a 1.300 mm, A área a ser implantada com as pasta-
tuindo consórcios com menos de 10% de conforme Fig. 5), aliada ao período de gens consorciadas dentro da propriedade
participação da leguminosa. Entretanto,
se a pastagem for vedada por um longo
período, o que se observa é o completo
domínio da leguminosa no consórcio.
Outro exemplo de consórcio persistente,
porém muito instável, é aquele constituí-
do pelo calopogônio com várias espécies
do gênero Brachiaria.
A existência de alto grau de compati-
bilidade entre gramíneas e leguminosas
tropicais, o que parecia ser impossível
até poucos anos, já é realidade para al-
guns consórcios. O amendoim-forrageiro
cv. Belmonte tem conseguido constituir
consórcios harmônicos e persistentes
com algumas gramíneas prostradas e
estoloníferas, tais como grama-estrela,
capim-tangola e B. humidicola (Fig. 2). A
semelhança entre essas espécies quanto
ao hábito de crescimento, grau de plasti-
cidade morfológica, resistência ao pastejo,
palatabilidade e mecanismo de pereniza-
ção (reprodução clonal), ajuda a explicar
o alto grau de compatibilidade, que tem Figura 4 - Mesorregiões de Minas Gerais, de acordo com o IBGE
permitido a manutenção de consórcios FONTE: Instituto de Geociências Aplicadas (200-).

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Produção intensiva de pastagens 45

deve ser bem analisada, pois mesmo em


áreas de Cerrado, há terras mais altas e
outras mais baixas (várzeas), que irão
demandar diferentes opções forrageiras. O
tipo e a fertilidade do solo também devem
ser considerados, devendo o produtor fazer
calagem e adubação necessárias, conforme
as exigências das forrageiras a serem plan-
tadas. O uso de irrigação em regiões de
clima mais seco, onde não há baixas tem-
peraturas, também amplia as possibilidades
de uso de leguminosas forrageiras tropicais.
Serão apresentadas, a seguir, as
principais características das cultivares
de leguminosas forrageiras atualmente
disponíveis para formação de pastos con-
Figura 5 - Mapa das classes de precipitação pluvial total média anual (mm) para o esta-
sorciados em Minas Gerais. Parte dessas do de Minas Gerais
informações foi resumida no Quadro 8. FONTE: Carvalho et al. (2008).

QUADRO 8 - Características de leguminosas forrageiras tropicais herbáceas com potencial para uso em pastagens consorciadas
Exigência em
Método de Valor Gramíneas potenciais
Espécie Cultivar fertilidade do Tolerância à seca Palatabilidade
propagação nutritivo para consorciação
solo
Arachis pintoi Amarillo Sementes Média Baixa, com morte Alto Alta Grama-estrela (Cynodon
e mudas de estolões em seca nlemfuensis)
superior a 4 meses Brachiaria humidicola
Capim-tangola
Belmonte Mudas Média a baixa,
(B. mutica x B. arrecta)
com intensa perda
Brachiaria decumbens
de folhas em seca
Brachiaria brizantha
superior a 4 meses
Capim-massai e capim-
aruana (P. maximum)

Calopogonium Comum Sementes Baixa Baixa, com boa re- Médio Baixa B. decumbens,
mucunoides generação das plan- B. humidicola,
tas por sementes no B. brizantha
início das águas

Desmodium Itabela Sementes Baixa Baixa Baixo Baixa B. humidicola,


ovalifolium B. brizantha,
B. decumbens,
Andropogon gayanus

Macrotyloma Java Sementes Baixa Média a alta Médio Baixa Andropogon gayanus,
axillare P. maximum,
B. brizantha

Stylosanthes Mineirão Sementes Baixa Alta, com boa reten- Médio Média-alta A. gayanus, P. maxi-
guianensis ção de folhas na seca mum, B. decumbens

Stylosanthes Campo Sementes Baixa Média, com perda Médio Média-alta A. gayanus,
spp. Grande de folhas na seca P. maximum,
B. decumbens, B.
brizantha

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DESCRIÇÃO DE ALGUMAS et al., 2005; VIANA; PURCINO; MA- sendo a mistura formada por 20% de
CULTIVARES CÊDO, 2004; SCHRODER et al., 2007). S. macrocephala e 80% de S. capitata,
Essa leguminosa é mais indicada para as ambas altamente resistentes à antracnose
Amendoim-forrageiro
(Arachis pintoi) regiões com regime de chuvas favoráveis, (EMBRAPA GADO DE CORTE, 2000).
especialmente no Triângulo Mineiro, Alto Atualmente, o estilosantes Campo Grande
O amendoim-forrageiro é uma legu- Paranaíba, Sul/Sudeste e Oeste de Minas ocupa 1 milhão de hectares de pastagens
minosa herbácea perene, de crescimento (Fig. 5). Nas demais regiões, deve-se consorciadas no Brasil (EMBRAPA,
prostrado e estolonífero, que ocorre natu- priorizar o uso em solos de várzea e em 2011), especialmente no bioma Cerrado.
ralmente nos Vales dos Rios Jequitinhonha, pastagens irrigadas. Um fator crucial na adoção desta legumi-
São Francisco e Paraná, sendo exclusiva nosa está relacionado com a alta disponibi-
da flora brasileira (VALLS, 1992). Essa Estilosantes (Stylosanthes lidade de sementes no mercado, associado
forrageira apresenta elevada persistência e spp.)
a estratégias de propaganda e marketing.
capacidade de consorciação com diferentes Espécies do gênero Stylosanthes apre- Essa cultivar pode ser plantada em prati-
gramíneas tropicais, além de alta palata- sentam características importantes para uso camente todas as regiões de Minas Gerais,
bilidade e valor nutritivo (Quadros 7 e 8). em sistemas consorciados, como tolerância especialmente em locais com solos mais
Entre as cultivares existentes, Amarillo e à seca, alta adaptação a solos ácidos e de arenosos, pois sua persistência em solos
Belmonte têm sido as mais utilizadas e baixa fertilidade, elevada capacidade de argilosos deixa a desejar.
pesquisadas no estado de Minas Gerais. FBN, alta produtividade de MS e elevado
A cultivar Amarillo foi lançada na potencial para produção de sementes. Uma Calopogonium mucunoides
cv. Comum
Austrália, em 1987, coletada pelo pro- questão preocupante no cultivo do estilo-
fessor Geraldo Pinto, em 1954, na Bahia. santes é sua suscetibilidade à antracnose, Esta leguminosa ocorre naturalmente
A cultivar Amarillo adapta-se melhor às doença causada pelo fungo Colletotrichum na América Tropical, sendo mais frequente
condições do trópico úmido, quando com- gloeosporioides, tornando necessário o na América do Sul e na América Central.
parada às condições de Cerrado (PIZAR- desenvolvimento de cultivares resistentes No Brasil, a linha comercial desta cultivar
RO; RINCÓN, 1995). Para o seu cultivo, a essa doença. As principais cultivares de denominada calopogônio-comum tem sido
a altitude deve variar de 0 a 1.800 m e a estilosantes que vêm sendo utilizadas em a mais utilizada. As plantas desta espécie
precipitação anual total deve ser de 2.000 pastagens consorciadas são S. guianensis são herbáceas, com hábito de crescimento
a 4.000 mm, bem distribuída ao longo do cv. Mineirão e Stylosanthes spp. cv. Campo volúvel (VALENTIM, 2010). Adapta-se
ano. Esta cultivar é capaz de sobreviver em Grande. melhor em clima quente e úmido, com pre-
regiões com período seco de cinco meses, O estilosantes Mineirão foi lançado em cipitação anual superior a 1.125 mm, não
embora haja grande perda de folhas e morte 1993 pela Embrapa Cerrados e Embrapa tolerando geadas nem sombreamento. Sua
de estolões. Gado de Corte. Conforme Karia et al. palatabilidade é baixa, provavelmente pela
A cultivar Belmonte foi lançada pela (2010), esta cultivar, coletada em Minas presença abundante de pelos nas folhas e
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Gerais, caracteriza-se por ser perene, com talos. Portanto, seu consumo pelos bovinos
Cacaueira (Ceplac), na Bahia, em 1999, hábito de crescimento semiereto, podendo somente ocorre quando a disponibilidade
e vem apresentando elevada adaptação, atingir 2,5 m de altura. Está bem adaptada e a qualidade da gramínea associada são
superioridade agronômica e boa produção a solos de baixa fertilidade e permanece baixas.
animal em sistemas consorciados em diver- verde até mesmo no período seco do ano. É Em regiões com estação seca prolonga-
sos biomas brasileiros. Recomenda-se seu considerada uma cultivar bastante tolerante da, o calopogônio geralmente comporta-se
cultivo em regiões onde haja precipitação à antracnose. No entanto, sua produção de como uma espécie anual. Entretanto, por
anual acima de 1.200 mm. A ‘Belmonte’ sementes é baixa, afeta a persistência em sua alta capacidade de produção de semen-
apresenta pouca floração e baixíssima consórcios (Quadro 7) e eleva o custo das tes e rápido estabelecimento, geralmente
produção de sementes, sendo sua multi- sementes, o que vem dificultando a sua consegue repor a população de plantas na
plicação feita por meio de mudas. Métodos adoção. Atualmente, essa leguminosa tem pastagem com o início das chuvas. Esse
de introdução da cultivar Belmonte em sido mais recomendada para a formação de comportamento sazonal pode gerar bene-
pastagens são apresentados por Valentim bancos de proteína, por sua alta capacidade fícios para a gramínea consorciada, pela
et al. (2002). Nos estudos realizados em de acúmulo de forragem e excelente reten- liberação de N proveniente da decompo-
diversas regiões de Minas Gerais, a cultivar ção de folhas na seca. sição das folhas, caules e raízes.
Belmonte tem apresentado adaptação bem O estilosantes Campo Grande, lançado Estudos de adaptação e de consorcia-
superior à cultivar Amarillo (PURCINO; em 2000 pela Embrapa Gado de Corte, é ção com essa leguminosa são escassos,
VIANA; GIANASI, 2000; PURCINO uma cultivar composta por duas espécies, inclusive em Minas Gerais. As regiões
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Produção intensiva de pastagens 47

Norte de Minas, Jequitinhonha, Vale do de e baixa digestibilidade, pela presença de ANDRADE, C.M.S. Produção de ruminan-
Mucuri e Rio Doce são aquelas com menor taninos condensados, cujo teor pode variar tes em pastos consorciados. In: SIMPÓSIO
probabilidade de sucesso no uso do calopo- em função das condições edafoclimáticas da SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PAS-
TAGEM, 5.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL
gônio, por causa da menor disponibilidade região de cultivo.
SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTE-
hídrica. A cultivar Itabela apresenta boa capa-
JO, 3., 2010, Viçosa, MG. Anais... Viçosa,
cidade de consorciação com gramíneas MG: UFV, 2010. p. 171-214.
Macrotyloma axillare cv. do gênero Brachiaria, especialmente com
Java ANDRADE, C.M.S.; FERREIRA, A.S.; FA-
Brachiaria humidicola. Existem poucas RINATTI, L.H.E. Tecnologias para intensi-
A cultivar Java foi obtida por meio do informações sobre sua adaptação em Minas ficação da produção animal em pastagens:
cruzamento artificial entre duas cultivares Gerias, porém deve ser observado o regi- fertilizantes x leguminosas. In: SIMPÓSIO
de Macrotyloma axillare, denominadas me de chuvas da região, pois esta cultivar SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 26.,
Archer e Guatá. Foi lançada em 2004 apresenta baixa tolerância à seca, sendo 2011, Piracicaba. Anais... A empresa pecu-
pela Empresa Matsuda. As plantas dessa recomendada para regiões com estação ária baseada em pastagens. Piracicaba: FE-
ALQ, 2011. p. 111-158.
cultivar são herbáceas, com hábito de seca de até três a quatro meses.
crescimento volúvel, apresentam ciclo ANDREWS, M. et al. Use of white clover as
CONSIDERAÇÕES FINAIS an alternative to nitrogen fertilizer for dairy
perene e adaptam-se às regiões tropicais
pastures in nitrate vulnerable zones in the
e subtropicais livres de geadas, sendo A pecuária brasileira vem experimen- UK: productivity, environmental impact and
também resistentes à seca. Estão bem tando um forte processo de intensificação economic considerations. Annals of Applied
adaptadas a regiões com precipitação anual do uso de tecnologias e de aumento de Biology, v. 151, n.1, p.11-23, Aug. 2007.
acima de 900 mm. Possuem grande vigor, produtividade, em todas as regiões do BARCELLOS, A. de O. et al. Sustentabili-
alta digestibilidade e baixa palatabilidade. País. O uso de leguminosas forrageiras na dade da produção animal baseada em pas-
Não toleram pastejo intensivo nem solos de formação de pastos consorciados é uma tagens consorciadas e no emprego de legu-
baixa permeabilidade ou alagados. tecnologia que pode contribuir muito para a minosas exclusivas, na forma de banco de
Estudos realizados no Norte de Minas sustentabilidade desse processo de moder- proteína, nos trópicos brasileiros. Revista
Gerais mostram que a cultivar Java apre- Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v. 37,
nização da pecuária brasileira. Entretanto,
p. 51-67, jul. 2008. Número especial.
senta boa adaptação nessa região, carac- deve-se reconhecer que o desenvolvimento
terizada pelas altas temperaturas e baixa CADISCH, G.; SCHUNKE, R.M.; GILLER,
da tecnologia está mais avançado em algu-
K.E. Nitrogen cycling in a pure grass pas-
precipitação, possuindo potencial para mas regiões do Brasil, onde as pesquisas
ture and a grass-legume mixture on a red
proteção do solo como cobertura vegetal no intensificaram-se nas últimas décadas. As latosol in Brazil. Tropical Grasslands, v.28,
manejo de áreas degradadas (SILVA et al., instituições de pesquisa e extensão de Mi- p.43-52, 1994.
2007). Porém, são escassos os estudos de nas Gerais estão entre as mais qualificadas
CARVALHO, L.G. de et al. In: SCOLFORO,
consorciação da cultivar Java com gramí- do País e um maior esforço conjunto para J.R.; CARVALHO, L.M.T. de; OLIVEIRA,
neas forrageiras, assim como de produção desenvolver e divulgar essa tecnologia A.D. de. (Ed.). Zoneamento ecológico-eco-
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Produção intensiva de pastagens 49

Corretivos e adubos fosfatados em pastagens:


aplicação superficial é eficiente?
Dilermando Miranda da Fonseca 1
Manoel Eduardo Rozalino Santos 2
Adriane de Andrade Silva 3

Resumo - Para evitar a degradação da pastagem, bem como recuperar aquelas em


degradação, a adubação é prática fundamental. É comum surgirem dúvidas sobre a
efetividade da aplicação superficial ou sobre a real necessidade de incorporar correti-
vos (calcários) e adubos fosfatados em pastagens. Em geral, esta prática acarreta mor-
talidade de plantas; reduz a taxa de rebrotação do pasto; cria condições para maior
mineralização da matéria orgânica (MO) do solo, diminuindo-a; exige maior número
de operações, o que resulta em elevação de custos. Padrão de resposta contrário tende
a ocorrer, quando o calcário e os adubos fosfatados são aplicados em superfície, sem
incorporação ao solo. Com a incorporação do calcário, a eficiência de correção do solo
(0-20 cm) é maior no curto prazo, em comparação à aplicação superficial. Porém, em
ambas as formas de aplicação de calcário, incorporada ou superficial, há correção da
camada arável do solo. A aplicação, na superfície do solo, de adubos fosfatados resulta
em sua distribuição limitada à camada superficial, em menor possibilidade de adsorção
do fósforo (P) ao solo e, com efeito, em maior disponibilidade, eficiência de absorção e
utilização do P aplicado. A alta massa superficial de raízes e a natural acidez em solo
de pastagens garantem adequada solubilização e aproveitamento do adubo fosfatado
aplicado em superfície. Assim, em pastagens, o calcário e os adubos fosfatados podem
ser aplicados em superfície, sem incorporação ao solo.

Palavras-chave: Pastagem. Pasto. Adubação. Calagem. Fósforo.

INTRODUÇÃO que foram exauridos pelo uso contínuo com sivas. Sua importância, tanto em nível
pastos ou outras culturas agrícolas. Essa nacional quanto mundial, está relacionada
No Brasil, a maioria das pastagens é
realidade deveria ser alterada, uma vez que com os fatores econômicos e nutricionais.
cultivada com gramíneas forrageiras de
clima tropical. Dentre as espécies cultiva- existe tecnologia disponível para modifi- O rebanho tem cerca de 209 milhões de
das, algumas apresentam elevado potencial cação da fertilidade natural dos solos. Para animais (PRODUÇÃO DA PECUÁRIA
genético para a produção de forragem, isso, é preciso acabar com alguns mitos, MUNICIPAL, 2010), dos quais a maioria
desde que sejam atendidas as condições como o de que “pastagens são sistemas que é alimentada em pastagens. Porém, no
necessárias quanto à fertilidade do solo e ao não demandam adubações frequentes” e “a ecossistema Cerrado, onde predomina a
manejo da área, para obtenção de elevados pecuária não custeia os insumos necessários pecuária bovina de corte nacional, cerca
níveis de produtividade. para modificação da fertilidade do solo, o de 40% dos solos apresentam saturação
Ainda hoje, a maior concentração do re- que não ocorre com as culturas agrícolas”. por alumínio (Al), superior a 40%; cerca
banho de ruminantes é criada em pastagens, As dimensões da cadeia produtiva de de 88% exibem teores de cálcio (Ca2+)
com solos de baixa fertilidade natural e/ou bovinos de corte no Brasil são expres- menores do que 1 cmol c /dm 3 e 90%

1
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Associado UFV - Depto. Zootecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dfonseca@ufv.br
Zootecnista, D.S., Prof. UFV - Faculdade de Medicina Veterinária, Campus Umuarama, CEP 38400-902 Uberlândia-MG. Correio
2

eletrônico: manoeleduardo@famev.ufu.br
3
Pós-doutoranda UFV - Instituto de Ciências Ambientais e Agrárias/Bolsista FAPEMIG, CEP 38400-902, Campus Umuarama, Uberlândia-MG.
Correio eletrônico: adriane@iciag.ufu.br

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50 Produção intensiva de pastagens

apresentam teores de magnésio (Mg2+) dúvidas sobre a efetividade da aplicação de transporte de elétrons, regulação de
inferiores a 0,5 cmolc/dm3; e aproxima- superficial ou acerca da real necessidade atividade enzimática na síntese de açúcar
damente 92% têm teores de fósforo (P) de incorporar estes insumos no solo de e no transporte de carboidrato (NOVAIS
disponível, estimado por extrator ácido, pastagens. et al., 2007).
menor que 2 mg/dm 3 (LOPES et al., Sendo assim, é necessário que os emba- Pode-se, ainda, destacar a importância
1983). Esses dados caracterizam a baixa samentos teóricos das práticas de correção do enxofre (S), que é constituinte de al-
fertilidade natural dos solos do Cerrado, e adubação em áreas de implantação, re- guns aminoácidos e interage com o N nas
o que, acrescido do manejo incorreto da forma (recuperação e/ou renovação) e ma- respostas produtivas dos pastos.
fertilidade do solo e da taxa de lotação das nutenção de sistemas de pastagens sejam Na planta, o Ca exerce três tipos de fun-
pastagens, contribui para sua degradação. reafirmados, pois as práticas de calagem e ção, quais sejam: estrutural, de regulação
Degradação de pastagem é o processo adubação fosfatada são reconhecidamente enzimática e de mensageiro químico. O Ca
evolutivo de perda de vigor, de produti- importantes e tradicionalmente recomen- é essencial para manter tanto a integridade
vidade e de capacidade de recuperação dadas nos sistemas pastoris de produção estrutural quanto funcional das membranas
natural, o que a torna incapaz de sustentar animal, a fim de corrigir as limitações dos e da parede celular. Além disso, como
os níveis de produção e de qualidade exigi- solos e, com isso, possibilitar a introdução mensageiro químico, as variações na con-
dos pelos animais, bem como o de superar de recursos forrageiros mais produtivos centração de Ca no citoplasma consistem
os efeitos nocivos de pragas, doenças e e exigentes ou aumentar a eficiência de em respostas aos estímulos externos (luz,
invasoras. Em um estádio avançado, po- crescimento dos pastos tropicais. gravidade, mecânico) e internos (hormô-
derá haver considerável degradação dos Existem procedimentos técnicos, em- nios) (LUZ et al., 2007).
recursos naturais (MACEDO, 1995). basados em estudos científicos, que devem O Mg tem relação direta com a fotossín-
Para evitar a degradação da pastagem ser seguidos, para que a calagem e a aduba- tese, pois é constituinte da clorofila, influen-
e recuperar aquelas em degradação, a ção das pastagens resultem nos benefícios cia o movimento de carboidratos na planta e
adubação é prática fundamental e consiste esperados. Dessa forma, objetiva-se com estimula a absorção e transporte do P (NO-
na aplicação de adubos no solo para recu- este trabalho revisar e discutir as princi- VAIS et al., 2007). Outro fator importante
perar ou conservar a sua fertilidade, o que
pais práticas para aplicação de corretivos relacionado com o Mg é a sua menor absor-
possibilita suprir a carência de nutrientes
e adubos fosfatados em pastagens e, com ção quando há excesso de potássio (K). Em
e proporcionar adequado desenvolvimento
isso, responder a questão: “Corretivos e pastagens, também existe a possibilidade de
das plantas forrageiras.
adubos fosfatados em pastagens: a aplica- ocorrência da tetania das pastagens – trans-
Em sistemas de pastagens estabelecidas,
ção superficial é eficiente?” torno metabólico que acomete os animais,
a aplicação de fertilizantes e corretivos de
quando há ingestão de pequenas quantidades
acidez ocorre a lanço e em superfície, uma
FUNÇÃO DOS NUTRIENTES de Mg ou desequilíbrios na composição do
vez que a incorporação desses insumos no EM SISTEMAS DE PASTAGENS pasto –, que pode provocar carência direta ou
solo acarretaria destruição da cobertura ve-
Os nutrientes essenciais para o desen- indireta de Mg (CARVALHO; BARBOSA;
getal e a possível necessidade de nova seme-
volvimento das plantas forrageiras são os MCDOWEL, 2003).
adura da planta forrageira na área. Contudo,
Em solos deficientes, o Ca e o Mg po-
alguns pecuaristas questionam a aplicação macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) e os
de P em superfície, principalmente em razão micronutrientes (Cu, Fe, Zn, Mn, B, Cl, Ni, dem ser supridos às plantas pela tradicional
da sua baixa mobilidade em solos tropicais. Mo, Co); porém, destaca-se a resposta com prática da calagem, que também beneficia
Outro forte questionamento diz respeito aos aplicação de nitrogênio (N), cálcio (Ca), a planta forrageira pela melhoria do pH
reais efeitos benéficos da não incorporação magnésio (Mg) e P em pastagens. do solo. Além disso, em pH próximo ao
de calcários e adubos fosfatados solúveis, O N é o principal constituinte das prote- ideal, aumenta-se a disponibilidade de P
quando distribuídos em conjunto e em única ínas, o nutriente mais exigido pela maioria para a planta.
aplicação. Estas questões não são discutidas das culturas e promove as maiores limitações
com profundidade ou são pouco detalhadas para produtividade das gramíneas forragei- OBJETIVOS COM A
ras. Porém, caso ocorram limitações da dis- CORREÇÃO DA ACIDEZ DO
nos principais manuais de recomendação
SOLO EM PASTAGENS
de adubos e fertilizantes usados no Brasil ponibilidade de Ca, Mg e P, as respostas em
(WERNER et al., 1996; CANTARUTTI et produção também serão bastante reduzidas. A maioria dos solos de Minas Gerais,
al., 1999; VILELA; SOUSA; MACEDO, O P tem grande importância, por estar especialmente os da região do Cerrado,
2000), cujas orientações são mais focadas diretamente relacionado com os processos apresenta, em geral, características químicas
nas doses de corretivos e adubos a serem energéticos, no armazenamento e na trans- inadequadas às plantas forrageiras mais pro-
aplicados. Portanto, é comum surgirem ferência de energia, fotossíntese, processo dutivas, como elevada acidez, altos teores
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Produção intensiva de pastagens 51

de Al trocável e deficiência de Ca e Mg. manuais de correção do solo, a próxima cimo na massa de raízes da planta forrageira
A correção do solo consiste na aplica- etapa consiste na aplicação desse corretivo. em comparação à aplicação a lanço. Tam-
ção de calcários ou silicatos de Ca e Mg bém no segundo ano de avaliação, na cama-
que, quando adicionados ao solo, liberam APLICAÇÃO DE CORRETIVOS da de 0 a 5 cm, o mesmo padrão de resposta
hidroxilas (OH-) e estas complexam o Al3+ EM PASTAGENS ocorreu (Gráfico 1). Provavelmente, esses
e o H+ presentes na solução do solo. Com A acidez do solo em sistemas de pas- efeitos devem-se à mortalidade das raízes
isso, ocorre aumento do pH e da capacida- tagens pode ser corrigida de duas formas: e de perfilhos, bem como à lenta rebrotação
de de troca catiônica (CTC) do solo. com incorporação ao solo, por ocasião da do pasto após a gradagem.
Quando o pH do solo é ≤ 5,5, e na pre- reforma (recuperação e/ou renovação), Nos pastos em estádios avançados
sença do Al3+ este solubiliza-se na solução de degradação, é comum o emprego da
ou implantação da pastagem, pois, nessa
do solo, torna-se potencialmente tóxico calagem e da descompactação do solo por
fase, o uso de implementos para revolvi-
para as plantas (KOCHIAN, 1995). Os meio de gradagem pesada, o que contribui
mento do solo é viável, ou com aplicação
para incorporação do calcário. Todavia, de
sintomas de toxidez por Al são percebidos superficial, utilizada geralmente na fase de
acordo com Oliveira (2007), o uso de grade
pelo ápice radicular e, nessa condição, as manutenção da pastagem, para que a acidez
raízes tornam-se grossas e os pelos radi- pesada durante a recuperação da pastagem
ativa do solo permaneça em valores dese-
culares escassos (RAO, 2001), ocorrendo resulta em revolvimento do solo, o que
jáveis ou para o fornecimento de Ca e Mg.
redução no desenvolvimento do sistema favorece a atividade de microrganismos
Tradicionalmente, as vantagens da apli-
radicular, prejudicando a absorção e uti- e, consequentemente, a mineralização
cação de calcário com incorporação ao solo
da MO. Isso melhora momentaneamente
lização de nutrientes e água pelas plantas. são reconhecidas. Quando este corretivo é
a disponibilidade dos nutrientes; porém,
Apesar de a maioria das gramíneas for- incorporado ao solo, há maior contato deste
em curto prazo, o pasto volta a degradar,
rageiras tropicais apresentar nível razoável com os coloides, o que promove as substi-
em decorrência da redução da pequena
de tolerância ao Al no solo, sua correção é a tuições de cátions na CTC do solo em toda a
quantidade de MO nesses solos.
forma de fertilização para fornecimento de sua camada arável e, com efeito, permite que
De acordo com Luz et al. (2004),
Ca e Mg, com grande efeito residual, o que esta correção ocorra de forma mais efetiva.
em pastagens bem manejadas, os efeitos
resulta em maior volume de solo explorado Por outro lado, a incorporação do
maléficos do processo de incorporação
pelo sistema radicular (VITTI; LUZ, 1997). calcário altera a estrutura física do solo do calcário ao solo são pouco evidentes,
A aplicação de calcário também contribui e a mineralização da MO e, por isso, tem quando se emprega grade leve e destra-
para diminuir as perdas de nutrientes por sido indicada apenas em casos em que a vada, que atua superficialmente no solo.
lixiviação, reduzir a fixação do P, estimular degradação é mais intensa, justificando As gramíneas de crescimento estolonífero
a atividade microbiana e melhorar a fixação a aração e a gradagem para minimizar, ou rizomatoso possibilitam melhor efi-
simbiótica de N pelas leguminosas (ALVA- principalmente, os problemas decorrentes ciência nesse processo, o que aumenta a
REZ V.; RIBEIRO, 1999). da compactação, uma vez que, em solo expectativa de resposta. Já gramíneas de
Em pastagens, as vantagens com a ca- compactado, a germinação das sementes crescimento cespitoso apresentam peque-
lagem ainda não motivaram grande parte é comprometida. na resposta à incorporação do calcário,
dos pecuaristas a empregar esta estratégia A partir daí, surgem alguns questiona- que inclusive poderá provocar a morte de
de manejo. Essa assertiva pode ser justifi- mentos, por exemplo, o que fazer: aplicar muitos perfilhos e prejudicar a rebrotação.
cada pelo fato de as gramíneas forrageiras calcário superficial ou incorporado ao solo? Vale salientar que em trabalhos de
tropicais, amplamente utilizadas no Brasil, Ao aplicar o calcário na superfície pesquisa é comum haver certa dúvida
caracterizarem-se por maior ou menor do solo há algumas vantagens, como a no tocante ao efeito da incorporação em
tolerância à acidez e só responderem à manutenção da integridade dos órgãos das aumentar a eficiência da calagem. Em
calagem, quando há deficiência de Ca e/ou plantas, especialmente do sistema radicu- alguns casos, maior produção de forragem
Ma no solo (CANTARUTTI et al., 2002). lar, o que não ocorre quando se opta pela é obtida com a incorporação do calcário,
Para alcançar os objetivos com a ca- incorporação. Nesse contexto, Oliveira, em virtude do estímulo à mineralização
lagem, vários aspectos devem ser levados Boaretto e Trivelin (2003), ao avaliarem da MO e não em razão da eficácia com a
em consideração, como os fatores exter- durante dois anos a massa de raízes de incorporação do corretivo.
nos relativos à aplicação, os fatores dos Brachiaria decumbens, na camada de 0 a Em condições de estabelecimento de
corretivos e os econômicos (VITTI; LUZ, 30 cm de profundidade, após a aplicação pastagens, utilizando a técnica de seme-
2001). Nesse contexto, uma vez definidas a de calcários na superfície ou incorporado adura direta, a aplicação de calcário em
necessidade e as doses de calcário a serem ao solo, verificaram que, no primeiro ano, a cobertura e sem a incorporação é prática
empregadas na pastagem, por meio dos incorporação do calcário provocou decrés- comum e eficiente (KAMINSKI et al.,
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52 Produção intensiva de pastagens

Primeiro ano Segundo ano

7 7 6,5 a
Superfície Incorporado

Massa de raiz (t/ha de MS)


Superfície Incorporado 5,8 b
Massa de raiz (t/ha de MS)

6 6
4,9
5 5
4,3 a 4,3
4 3,7
4 3,4
3 2,6 a 3
2,3 a
2 1,8 a 1,7 b 2
1,3 a
1 1

0 0
0a5 5 a 10 10 a 30 0a5 5 a 10 10 a 30

Profundidade (cm) Profundidade (cm)

Gráfico 1 - Massa de raízes de Brachiaria decumbens, na camada de 0 a 30 cm de profundidade, após a aplicação de calcários na
superfície ou incorporado ao solo
FONTE: Oliveira, Boaretto e Trivelin (2003).
NOTA: Médias do mesmo ano e da mesma profundidade seguidas por letras distintas diferem pelo teste F (P<0,05 e P<0,01 no pri-
meiro e no segundo ano, respectivamente.
MS - Matéria seca.

2005). Em pastagens já estabelecidas, a QUADRO 1 - Produção anual e acumulada de Brachiaria decumbens de acordo com o modo
aplicação de calcário em superfície pode de aplicação de calcário em um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico, com
ser tão eficiente quanto a sua incorporação 30% de argila

ao solo (Quadro 1). Entretanto, tal resposta Calcário 1999-2000 2000-2001 2001-2002 2002-2003 2003-2004 Total
positiva é observada a médio e a longo 4 t/ha 1 corte 4 cortes 5 cortes 5 cortes 4 cortes 19 cortes
prazos. Assim, a calagem em cobertura e
Superficial 2.821 a 10.124 b 10.519 a 10.388 a 9.238 a 43.089 a
sem a incorporação ao solo, em curto pra-
zo, é menos eficiente em corrigir a acidez Incorporado 2.065 a 13.506 a 9.220 a 11.041 a 9.113 a 44.944 a

do solo da camada arável (0 a 20 cm de FONTE: Dados básicos: Primavesi et al. (2005).


NOTA: Depois de cada corte, foram aplicados 100 kg/ha de N, na forma de sulfato de amônio.
profundidade), que quando incorporada
Médias na mesma coluna, seguidas de letras iguais, não diferem pelo teste de Tukey
por meio de aração/gradagem. Ademais, (P<0,05).
seu efeito é influenciado pelas caracterís-
ticas texturais e teores de MO no solo, e
pela cobertura vegetal viva (em pastagem) perfície do solo (OLIVEIRA, 2007). Assim, de corretivo, uma profundidade efetiva
ou dessecada (plantio direto), que influen- em pastagens, a calagem pode ser realizada de incorporação natural de, aproximada-
ciam infiltração de água e/ou mobilidade logo após o período das chuvas, para que o mente, 5 cm, e, para a incorporação até
do corretivo no perfil do solo (ALVAREZ calcário possa reagir lentamente até o início camadas mais profundas, deve-se associar
V. et al., 1999). Portanto, uma prática de da próxima estação de crescimento, quando a aplicação de gesso à calagem.
manejo recomendada em pastagens é evitar se iniciam as adubações em cobertura com N Essa profundidade do solo a ser corri-
o retardamento da reposição de calcário, e outros nutrientes (LUZ et al., 2004). gido (0 a 5 cm) com aplicação superficial
para minimizar perdas de produtividade, Adicionalmente, a aplicação de calcá- de calcário pode, portanto, ser considerada
sobretudo daquelas espécies forrageiras rio na superfície do solo poderia limitar a conservadora. A partir de resultados recen-
menos tolerantes à acidez do solo (VILE- correção da acidez e dos teores de Ca e Mg tes de diagnóstico da fertilidade do solo,
LA; SOUSA; MARTHA JÚNIOR, 2007). apenas às camadas superficiais, não haven- para detectar efeitos de práticas de aduba-
A aplicação de calcário em superfície do esses benefícios para as camadas mais ção e correção, tem-se constatado que os
pode provocar perdas de N por volatilização, profundas. Por isso, segundo Cantarutti et efeitos da calagem superficial ocorrem até
quando se pretende fazer adubações nitro- al. (1999), para a calagem em pastagens 10 cm de profundidade (LUZ et al., 2004).
genadas em cobertura após a aplicação do estabelecidas, é importante levar em Luz et al. (2007) relataram um experi-
calcário, em virtude do aumento do pH na su- consideração, para cálculo da quantidade mento conduzido em Latossolo Vermelho
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Produção intensiva de pastagens 53

para avaliar os efeitos de tipos e doses de elevada CTC e com baixos níveis de bases Por ser constituinte dos ácidos nu-
calcário na correção da acidez e na satura- trocáveis, poderá ocasionar problemas de cleicos, o P é essencial na divisão celular
ção por bases no perfil do solo (0-5; 5-10; deficiência de micronutrientes e desequilí- das plantas (WHITEHEAD, 2000). Desse
10-20; 20-40; 40-60 e 60-80 cm) ao longo brios nas relações entre Ca, Mg e K (LUZ modo, no estádio inicial de desenvol-
do tempo (15; 30; 45; 60; 90; 120; 180 e et al., 2007). vimento da planta forrageira, onde há
360 dias). A partir dos resultados dessa No Quadro 2, estão sumarizadas as desenvolvimento do sistema radicular,
pesquisa, esses autores afirmaram que, principais características normalmente intenso perfilhamento em gramíneas e alta
em pastagens, a correção da camada de 0 associadas aos dois modos de aplicação ramificação em leguminosas, há grande
a 10 cm ocorreria já aos 45 dias, enquanto a do calcário: superficial ou incorporado ao demanda por P, a fim de suprir a intensa
correção da camada de 10 a 20 cm deman- solo. Verifica-se que, com a aplicação em atividade meristemática da planta.
daria entre 60 e 90 dias após a aplicação. superfície, é possível obter os benefícios Na maioria dos ecossistemas pastagens,
Assim, concluíram ser possível obter a esperados com a calagem de forma mais essa alta demanda por P não é acompanha-
ação corretiva do calcário pela sua aplica- simples e com menor custo, quando com- da pelo seu suprimento a partir do solo, o
ção superficial, sem incorporação ao solo. parado com a incorporação do calcário que desencadeia condição de deficiência.
Quando o calcário é aplicado de forma ao solo. Realmente, em solos tropicais, geralmente
superficial, sua mobilidade ocorre pela muito intemperizados e formados a partir
presença dos macroporos e dos canais for- OBJETIVOS COM A
de um material de origem pobre, há baixa
mados pela micro e mesofauna, bem como ADUBAÇÃO FOSFATADA EM
PASTAGENS disponibilidade deste nutriente.
pelas raízes mortas presentes no solo. Esses Além disso, o pouco P é fortemente
fatores fazem com que a incorporação até A principal função do P nas plantas adsorvido aos argilominerais do solo,
os 20 cm seja possível. Para correção em está relacionada com o armazenamento conferindo-lhe um caráter de dreno de P,
camadas mais profundas do solo, uma e a utilização de energia captada da luz tornando-o indisponível às plantas (NO-
das práticas recomendadas é a aplicação solar pelo processo de fotossíntese, via VAIS; SMYTH, 1999). Neste contexto,
conjunta de gesso agrícola e calcário, pois síntese de trifosfato de adenosina (ATP). não são incomuns solos com capacidade
a mobilização do sulfato no solo carreia as Assim, todos os processos metabólicos de adsorção de P superior a 2 mg/dm3, o
bases (Ca e Mg) e complexa o Al. das plantas relacionados com os gastos de
que corresponderia a 4 mil quilos/hectare
Para a aplicação de calcário em su- energia têm participação direta ou indireta
deste nutriente, considerando-se os 20 cm
perfície e sem a incorporação ao solo, do P. Este elemento também é constituinte
superficiais (NOVAIS; SMYTH, 1999).
recomenda-se evitar doses superiores a das plantas, pois está presente na formação
Assim, não há possibilidades de perdas de
3 t/ha (WERNER et al., 1996). Nessas de enzimas e proteínas; e é componente
P no solo via lixiviação, mas grandes pro-
condições, a necessidade de aplicação de estrutural de fosfolipídeos, fosfoproteínas
babilidades de fixação (LUZ et al., 2007).
alta dose de calcário, comum em solos com e ácidos nucleicos (LUZ et al., 2007).
A baixa mobilidade natural do P em
solos tropicais, por sua grande adsorção
QUADRO 2 - Principais características associadas às formas de aplicação de calcário em aos argilominerais do solo, pode resultar
pastagens em menor disponibilidade. Além disso, o
Aplicação de calcário em pastagens reduzido sistema radicular da planta na fase
Em superfície Incorporado ao solo de estabelecimento restringe o volume de
solo a ser explorado e, portanto, limita a
Integridade dos órgãos das plantas Mortalidade de plantas
capacidade da planta em absorver P, o que
Não há prejuízo à rebrotação do pasto Menor taxa de rebrotação do pasto
também justifica a grande demanda inicial
Menor mineralização da MO do solo e sua Maior mineralização da MO do solo e sua externa desse nutriente pelas gramíneas
preservação diminuição tropicais (SANTOS et al., 2002).
Menor eficiência de correção do solo (0-20 Maior eficiência de correção do solo Em razão da baixa disponibilidade natu-
cm) em curto prazo (0-20 cm) em curto prazo
ral e da elevada capacidade de adsorção de
Maior possibilidade de perda de N por Baixa possibilidade de perda de N por
P pelo solo, além da sua essencialidade para
volatilização volatilização
a planta, notadamente na fase de estabeleci-
Menor número de operações Maior número de operações
mento, a adubação fosfatada no Brasil tem
Baixo custo Custo mais alto
sido recomendada para a quase totalidade
Correção da camada de solo arável Correção da camada de solo arável dos sistemas de produção de ruminantes
NOTA: MO - Matéria orgânica. com base na utilização de pastagens.
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54 Produção intensiva de pastagens

A correção da acidez do solo ainda


9
0 t/ha de calcário

Produção de forragem (t/ha de MS)


aumenta a disponibilidade de P do solo e,
8 Y = 3,35 + 0,0188X
com efeito, melhora a eficiência de uso do 1 t/ha de calcário
R² = 0,99
P dos fertilizantes fosfatados solúveis. O ex- 7

perimento conduzido por Couto et al. (1982 6

apud LUZ et al., 2007) ilustra esse fato. Estes 5


autores verificaram que a produção de for- 4
ragem do capim-andropogon (Andropogon 3
Y = 2,05 + 0,0137X
gayanus), acumulada em dois anos, aumen- 2 R² = 0,99
tou em decorrência da aplicação de adubos 1
fosfatados em solo não corrigido, porém 0
aumento mais intenso ocorreu, quando foi 0 60 120 180 240
aplicado 1 t/ha de calcário (Gráfico 2).
kg/ha de P2O5
APLICAÇÃO DE ADUBOS Gráfico 2 - Produção acumulada de forragem em pastos de Andropogon gayanus duran-
FOSFATADOS EM PASTAGENS te dois anos, em resposta às doses de calcário e de fósforo, aplicadas a lan-
ço, na forma de superfosfato triplo, em Latossolo Vermelho-Escuro argiloso
Reconhecida a relevância da aduba-
FONTE: Couto et al. (1982 apud LUZ et al., 2007).
ção fosfatada em pastagens, bem como
NOTA: MS - Matéria seca.
estabelecida a dose de adubo fosfatado a
ser utilizada, atenção deve ser dada à sua
forma de aplicação. na elevada capacidade de adsorção de P sementes em menor profundidade. Também
Na fase de estabelecimento do pasto, nos solos tropicais (NOVAIS; SMYTH, no estabelecimento de plantas forrageiras
recomenda-se a aplicação de adubos fos- 1999). A incorporação de adubos fosfata- por mudas, esta deve ser colocada no fundo
fatados com alta solubilidade das seguintes dos de alta solubilidade ao solo, após sua do sulco, juntamente com o adubo fosfata-
maneiras (LUZ et al., 2007): aplicação em superfície, mesmo que em do. Em todos os casos, objetiva-se garantir
a) a lanço em área total e em pré-semea- doses elevadas, poderá comprometer a efi- maior contato da semente ou da muda com
dura, com incorporação superficial ciência da adubação, porque cria condições o adubo fosfatado e, assim, tornar mais efi-
com grade niveladora; propícias para o maior contato do solo com ciente sua absorção e utilização pela planta,
b) misturado com a semente no dia ou o adubo e, com efeito, favorece a adsorção além de diminuir sua adsorção pelo solo.
na véspera da semeadura; do P pelo solo, ou seja, o solo competirá Na fase de manutenção, o ambiente
c) no sulco de semeadura, similar aos mais intensamente com a planta forrageira do pasto estabelecido reúne características
cultivos agrícolas. pelo pouco fósforo liberado. favoráveis à obtenção de boa eficiência
Na implantação da pastagem, segundo Para o estabelecimento de plantas forra- com a adubação fosfatada na superfície
Luz et al. (2007), a aplicação de P na su- geiras, recomenda-se a mistura do adubo fos- do solo, em cobertura. Primeiramente, por
perfície e em área total, seguida de incorpo- fatado com a semente. Essa mistura poderá causa da tolerância das plantas forrageiras
ração, é recomendada principalmente em ser distribuída na superfície do terreno com ao Al trocável, os solos podem ser mantidos
solos arenosos (teor de argila < 25%) e com solo preparado via aração e/ou, gradagem, em níveis de acidez altos, que favorecem
baixos teores de P. Esses autores ressaltam, como ocorre no caso do estabelecimento de a solubilização dos adubos fosfatados,
ainda, que a adubação fosfatada no sulco gramíneas forrageiras de sementes pequenas especialmente daquelas fontes pouco so-
de semeadura não é dispensável, mesmo como as do gênero Panicum, ou de semen- lúveis. Ademais, sendo o amônio (NH4+)
quando se faz a aplicação na superfície. tes com grande pilosidade, como as de a forma de nitrogênio inorgânico predo-
A justificativa para essa recomendação A. gayanus. A mistura de adubo fosfatado minante em solos ácidos (SYLVESTER-
é que a distribuição a lanço, seguida de e semente também poderá ser aplicada a BRADLEY; MOSQUERA; MÉNDEZ,
incorporação, cria boas condições para que determinada profundidade no solo, geral- 1988), a intensa absorção dessa forma pelas
a planta absorva o P e outros nutrientes, mente de 2 a 5 cm, como ocorre quando plantas forrageiras resulta em contínua aci-
em virtude de sua melhor distribuição em se estabelecem gramíneas de sementes dificação da rizosfera (LOGAN; THOMAS;
maior volume de solo. maiores, como as do gênero Brachiaria, RAVEN, 2000). Da mesma maneira, as le-
De outra maneira, a aplicação dos adu- ou mesmo como as do gênero Panicum, guminosas dependentes da fixação biológi-
bos fosfatados de forma localizada, próxi- que são menores, quando se dispuser de ca de N também são efetivas na acidificação
ma da semente ou da muda, fundamenta-se semeadoras adequadas para distribuição das da rizosfera (MARSCHNER, 1995).
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Produção intensiva de pastagens 55

Além desse aspecto, existe outro ar- to, porque a planta forrageira demanda alta um nível de acidez que favoreça a solubi-
gumento, talvez o mais importante, que disponibilidade desse nutriente nessa fase, lização destes fosfatos (CANTARUTTI et
propicia alta eficiência com a adubação conforme explicado anteriormente. De outro al., 1999). Porém, a aplicação de adubos
fosfatada na superfície do solo, qual seja, modo, na fase de manutenção, a ausência de fosfatados naturais, de baixa solubilidade,
a extensa massa e a elevada superfície parcelamento da dose de adubo fosfatado ainda é controversa em pastagens.
radicular presente na camada superficial justifica-se pela baixa mobilidade do P Cantarutti et al. (1999) recomendaram
do solo de pastos bem manejados. Isso nos solos tropicais e pelas reduzidas doses para solos com baixa disponibilidade de P,
aumenta a capacidade de a planta forra- recomendadas nessa condição (WERNER em que se instalará pastagem em sistemas
geira absorver o P aplicado na superfície. et al., 1996; CANTARUTTI et al., 1999; de baixo a médio níveis tecnológicos,
O grande volume de solo explorado pelo VILELA; SOUSA; MACEDO, 2000). Vale aplicação de 250 a 500  kg/ha de fosfato
extenso sistema radicular de pastos de gra- ressaltar que o parcelamento da dose de P na natural, incorporados nos primeiros 15 cm.
míneas forrageiras em áreas já estabelecidas manutenção dos pastos pode ser aceito ou Em solos mais argilosos, maior eficiência
compensa a baixa disponibilidade natural recomendado, quando se utilizam fórmulas pode ser conseguida ao aplicar o fosfato em
desse nutriente no solo, o que também confe- de adubos que contenham, além do N e do sulcos espaçados de 30 a 50 cm. Ressalta-
re à planta forrageira baixa demanda externa K, geralmente parcelados, o P. se, no entanto, que não se elimina a ne-
por P na fase de manutenção (CANTARUT- Normalmente, as melhores repostas das cessidade de aplicar parte das doses como
TI et al., 2002; SANTOS et al., 2002). plantas forrageiras à adubação fosfatada fonte solúvel. Para as forrageiras em siste-
Vale salientar que a ocorrência de em superfície ocorrem quando a acidez mas de produção de baixo e médio níveis
abundante “malha” de raízes na camada do solo é corrigida e há adição de doses tecnológicos, esses autores argumentam
superficial do solo ocorrerá em pastos bem adequadas dos outros nutrientes. que o fosfato natural pode ser utilizado
manejados, sem indícios de degradação. A pastagem também reúne condições fa- com o propósito de atender à demanda de
Nestas condições, haverá maior infiltração de voráveis ao uso de fosfatos naturais de baixa manutenção com aplicações em cobertura
água pluvial no solo contribuindo para maior reatividade, pois é sistema constituído por de 300 a 600 kg/ha/ano. As menores doses
umidade, que é fator importante e necessário plantas consideradas perenes, em que as exi- são recomendadas para solos arenosos e
para absorção de P pela planta forrageira. Em gências externas de teores de P disponíveis argilosos com média disponibilidade de P.
pastos degradados, a compactação e a erosão (níveis críticos de P no solo) pela forrageira As maiores doses são recomendadas para
do solo, bem como a ocupação dos espaços após o estabelecimento são relativamente solos argilosos e para aqueles com baixa
por plantas daninhas, diminuem drastica- baixas. Além disso, diante da adaptação disponibilidade de P.
mente a ocorrência de raízes superficiais, de muitas plantas forrageiras à acidez, os No Quadro 3, estão sumarizadas as
o que provavelmente diminui a eficácia da solos de pastagens podem ser mantidos em principais características dos dois prin-
adubação fosfata em superfície.
A incorporação dos adubos fosfatados QUADRO 3 - Principais características associadas às formas de aplicação do adubo fosfatado
em pastagens provavelmente conduz a em pastagens
resultados inferiores aos da aplicação su- Aplicação de adubo fosfatado em pastagens
perficial, pela alta capacidade de fixação do
Em superfície ou localizada Incorporado ao solo
P nos solos tropicais, pela rapidez com que
a MO é decomposta, além da exposição do Distribuição limitada na camada superficial Distribuição em maior volume do solo
pasto aos frequentes veranicos que podem do solo
ocorrer nas Regiões Sudeste e Centro- Menor possibilidade de adsorção do P ao solo Favorece a adsorção do P pelo solo

Oeste (CORSI; NUSSIO, 1993). Ademais, Melhor disponibilidade do P aplicado Menor disponibilidade do P aplicado
a incorporação dos adubos fosfatados em Não há danos mecânicos às plantas Mortalidade de plantas
pastagens pode provocar redução na pro-
Não há prejuízo à rebrotação do pasto Menor taxa de rebrotação do pasto
dução de forragem, como consequência
dos prejuízos causados à parte aérea e ao Manutenção da MO do solo Diminuição da MO do solo
sistema radicular das plantas forrageiras. Alta massa superficial de raízes garante o Melhor contato do adubo com as raízes mais
Tanto na fase de estabelecimento como aproveitamento do adubo profundas
na de manutenção do pasto, a adubação fos- Adequada solubilização do adubo por causa Adequada solubilização do adubo por causa
da acidez em solo de pastagem da acidez em solo de pastagem
fatada deve ser realizada em dose única, no
Maior facilidade operacional Menor facilidade operacional
início do período das águas (CANTARUTTI
et al., 1999). Não há necessidade de parcelar a Baixo custo Custo mais elevado
adubação fosfatada na fase de estabelecimen- NOTA: MO - Matéria orgânica.

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56 Produção intensiva de pastagens

cipais métodos de aplicação do adubo CANTARUTTI, R.B. et al. ����������������


Adubação de pas- MACEDO, M.C.M. Pastagens nos ecossiste-
fosfatado em pastagem. Observa-se que tagens: uma análise crítica. In: SIMPÓSIO ma Cerrados: pesquisas para o desenvolvi-
é possível obter os benefícios esperados SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PAS- mento sustentável. In: SIMPÓSIO SOBRE
TAGEM, 1., 2002, Viçosa, MG. Anais... Vi- PASTAGENS NOS ECOSSISTEMAS BRA-
com a adubação fosfatada em superfície,
çosa, MG: UFV, 2002. p.43-84. SILEIROS, 1995, Brasília. Anais... Pesquisas
com a vantagem de ser mais simples e de
para o desenvolvimento sustentável. Brasí-
menor custo, quanto à incorporação do CANTARUTTI, R.B. et al. ������������������
Pastagens. In: RI-
lia: SBZ, 1995. p.28-62.
BEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVA-
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REZ V, V.H. (Ed.). Recomendação para o MARSCHNER, H. Mineral nutrition of
uso de corretivos e fertilizantes em Minas higher plants. 2nd ed. New York: Academic
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aplicado em superfície, sem incorporação
ao solo. KAMINSKI, J. et al. Eficiência da calagem dução de ruminantes em pastagens. �������
Piraci-
A aplicação de adubos fosfatados na superficial e incorporada precedendo o caba: FEALQ, 2007. p.39-73.
sistema plantio direto em um argissolo
superfície do solo resulta em sua distri- OLIVEIRA, P.P.A. et al. Liming
���������������
and fer-
sob pastagem natural. Revista Brasileira
buição limitada à camada superficial, tilization to restore degraded Brachiaria
de Ciência do Solo, Viçosa, MG, v.29, n.4,
porém o P tem menor possibilidade de decumbens pastures grown on entisol.
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Scientia Agricola, Piracicaba, v.60, n.1,
ser adsorvido ao solo, o que melhora a
KOCHIAN, L.V. Cellular mechanisms of p.125-131, Jan./Mar. 2003.
disponibilidade, a eficiência de absor-
aluminium toxicity and resistence in plant.
ção e de utilização do P aplicado. Além PRIMAVESI, O. et al. Calagem em pastagem
Annual Review of Plant Physiology and
degrada de capim-braquiária (Brachiaria
disso, a alta massa superficial de raízes Plant Molecular Biology, v.46, p.237-260,
decumbens) intensamente adubada com
e a natural acidez em solo de pastagens 1995.
nitrogênio em Latossolo-Amarelo distrófi-
garantem adequada solubilização e apro- LOGAN, K.A.B.; THOMAS, R.J.; RAVEN, co. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
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Produção intensiva de pastagens 57

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58 Produção intensiva de pastagens

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Produção intensiva de pastagens 59

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60 Produção intensiva de pastagens

Adubação nitrogenada e potássica em sistemas


de produção intensiva de pastagens
Francisco Morel Freire 1
Antônio Marcos Coelho 2
Maria Celuta Machado Viana 3
Edilane Aparecida da Silva 4

Resumo - Para o sucesso da exploração intensiva da pastagem, esta deve ser vis-
ta sob novo enfoque e explorada, considerando que as gramíneas forrageiras são
tão ou mais exigentes que as culturas agrícolas. O nitrogênio (N) é o nutriente mais
impactante em termos de ganhos na produção de forragem. O potássio (K) tam-
bém pode limitar a resposta das forrageiras de maior exigência nutricional, espe-
cialmente em sistemas intensivos. O potencial de resposta das gramíneas tropicais
ao N depende das condições de fertilidade do solo, que deve estar corrigido e com
os demais nutrientes em níveis adequados. Especial atenção deve ser dada à adu-
bação potássica, de modo que não limite a resposta ao N. Perdas elevadas deste nu-
triente, decorrentes da adubação com ureia em cobertura, têm sido constatadas, in-
dicando que mais estudos precisam ser realizados para melhoria de sua eficiência.

Palavras-chave: Pastagem. Forrageira. Nitrogênio. Potássio. Fertilizante. Ureia.

INTRODUÇÃO para o sucesso da exploração intensiva degradação. Além disso, para que possa
da pastagem, esta deve ser vista sob novo ser usado como ferramenta estratégica para
As pastagens representam a forma mais
enfoque, considerando que as gramíneas maximizar a produção de forragem nos sis-
prática e econômica de alimentação de bo-
forrageiras são tão ou mais exigentes que as temas intensivos de produção, o solo deve
vinos e constituem a base de sustentação da
culturas agrícolas, devendo ser tratadas como estar devidamente corrigido e suprido com
pecuária no Brasil. Apesar de sua grande im-
tal (CORRÊA; SANTOS, 2003). Em siste- fósforo (P) e outros macro e micronutrien-
portância para a exploração pecuária, grande mas com alta lotação, entre oito e dez vacas tes. O potássio (K), por sua vez, também
parte das pastagens encontra-se estabelecida por hectare, o uso de fertilizantes chega a ser pode limitar a resposta da produção de
em áreas marginais de baixa fertilidade na- maior do que nas culturas mais produtivas, forrageiras de maior exigência nutricional,
tural ou que foram exauridas pelo manejo tais como a soja e o milho (OLIVEIRA;
especialmente em sistemas intensivos, onde
inadequado, com baixa produtividade de for- PENATI; CORSI, 2008).
ragem e baixa capacidade de suporte animal. as relações inadequadas dos nutrientes
O nitrogênio (N) é o nutriente mais im-
Sabe-se, no entanto, que as pastagens tro- podem prejudicar a nutrição mineral das
pactante em termos de ganhos, na produção
picais podem ser muito produtivas e suportar plantas (BERNARDI; RASSINI, 2008).
de forragem. Sua aplicação é de fundamen-
uma taxa de lotação elevada no período mais tal importância para a manutenção da produ-
RECURSO FORRAGEIRO
quente e chuvoso do ano. Como consequên- tividade e da sustentabilidade da pastagem,
cia da elevada produção de forragem, ocorre sendo sua deficiência considerada um fator Para sistemas de alto nível tecnológico
alta extração de nutrientes do solo. Assim, importante para desencadear o processo de ou intensivos, caracterizados por pastagens

Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FESR, Rod. MG 424, km 64, CEP 35751-000 Prudente de Morais-MG. Correio eletrônico:
1

morel@epamig.br
2
Engo Agro, Ph.D., Pesq. EMBRAPA Milho e Sorgo, Caixa Postal 285, CEP 35701-970 Sete Lagoas-MG. Correio eletrônico: amcoelho@cnpms.embrapa.br
Enga Agra, D.Sc., Pesq. EPAMIG Centro-Oeste - FESR/Bolsista FAPEMIG, Rod. MG 424, km 64, CEP 35751-000 Prudente de Morais-MG.
3

Correio eletrônico: mcv@epamig.br


4
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Triângulo e Alto Paranaíba/Bolsista FAPEMIG/Membro INCT Ciência Animal, Caixa Postal 311,
CEP 38001-970 Uberaba-MG. Correio eletrônico: edilane@epamig.br

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Produção intensiva de pastagens 61

divididas em piquetes, com manejo rota- RA, 1997; ALVIM et al., 1999; THIAGO et produção de forragem depende da espécie
cionado, recebendo insumos (fertilizantes, al., 2000). forrageira, da disponibilidade dos outros
calcário, gesso e água), que permitem Assim, na escolha da gramínea, o nutrientes, do manejo da pastagem, da
aumentar a taxa de lotação, a forrageira produtor deve dar preferência por aquelas estratégia de manejo do N-fertilizante
deve apresentar elevado potencial de res- mais adaptadas à sua região e que possam (dose, fonte e forma de parcelamento do
posta às tecnologias aplicadas, em especial responder mais rapidamente às adubações. N aplicado) e das condições de solo e
à adubação. Nas décadas de 1970 e 1980 As mais comuns e que podem ser utilizadas clima da região (MARTHA JÚNIOR et
as pesquisas com plantas forrageiras eram sob manejo intensivo são: capim-braquiária, al., 2004). Ademais, diferentemente dos
conduzidas, primordialmente, com a tônica capim-braquiarão, capim-colonião, capim- outros nutrientes, a análise de solo não
dos “insumos mínimos”, pelo fato de as tanzânia, capim-tobiatã, capim-mombaça, é uma ferramenta segura para estimar a
pastagens geralmente ser plantadas em solos capim-coastcross, capim-estrela e capim- quantidade de N disponível para as plantas.
com elevada acidez e pobres em P. Essas tifton 85. No que se refere às leguminosas Isto deve-se ao fato de o N presente no
técnicas fundamentavam-se na seleção de indicadas para este manejo, são citadas a solo estar envolvido em diversos processos
germoplasma adaptado às condições am- alfafa e a leucena (CANTARUTTI et al., dinâmicos que alteram sua disponibilidade
bientais, buscando otimizar a eficiência de 1999; CORRÊA; SANTOS, 2003). em curtos espaços de tempo.
utilização dos recursos naturais disponíveis Em face disso, uma maneira de estimar a
(água, solo e clima); no estabelecimento de MANEJO DA ADUBAÇÃO quantidade de fertilizante nitrogenado a ser
pastagens com baixo custo e baixo risco NITROGENADA recomendada é a partir de valores de efici-
para o produtor; na capacidade de incor- ência de adubação (kg de matéria seca (MS)
As gramíneas tropicais apresentam eleva-
porar eficientemente o N do ar com o uso de forragem/kg de N aplicado). No cálculo,
do potencial de resposta à adubação com N,
de pastagens de gramíneas e leguminosas também é necessário estimar a eficiência de
quando comparadas àquelas de clima tempe-
consorciadas; no manejo apropriado para pastejo, que depende do resíduo pós-pastejo
rado. Incrementos lineares na produtividade
otimizar a utilização e a persistência dos e o consumo de MS dos animais. Para a
de massa de forragem seca até a faixa de
componentes das pastagens (TOLEDO, eficiência de pastejo são sugeridos valores
250 a 300 kg/ha/ano de N são relatados para
1987). Assim, as pesquisas concentraram- de 50% a 60% e para consumo de forra-
gramíneas forrageiras temperadas na Europa
se em espécies como Andropogon gayanus, gem cerca de 10 kg de MS/unidade animal
(JARVIS; SCHOLEFIELD; PAIN, 1995).
Brachiaria decumbens e B. humidicola, (UA) por dia (BALSALOBRE; SANTOS,
Para as tropicais foram encontradas respostas
por apresentar grande adaptação aos solos 2004). Embora a eficiência de conversão
lineares até doses anuais de N que variaram
ácidos dos trópicos. de N-fertilizante possa atingir até 83 kg de
A partir da década de 1990, no entanto, de 400 a 600 kg/ha/ano (MARTHA JÚNIOR
MS/kg de N aplicado, considerou-se o valor
sistemas de maior produtividade demanda- et al., 2004). No entanto, este potencial de
médio de 26 kg de MS/kg de N (MARTHA
ram o desenvolvimento de tecnologias para resposta ao N depende das condições de ferti-
JÚNIOR et al., 2004). O exemplo a seguir
permitir o aumento tanto de qualidade quanto lidade do solo, que deve estar corrigido e com
mostra como calcular a necessidade de N
da capacidade de suporte das pastagens. Para os demais nutrientes em níveis adequados,
para uma pastagem com lotação de 5 UA/
isso, a seleção das forrageiras tem-se funda- da espécie forrageira e do manejo. Como as
ha e estação de crescimento de 150 dias:
mentado em maximizar a eficiência do uso gramíneas forrageiras são relativamente exi-
a) consumo de forragem na estação
de corretivos e fertilizantes com a utilização gentes em K, a adubação com este nutriente,
de crescimento: 5 UA/ha x 10 kg
de espécies e/ou variedades mais tolerantes especialmente em sistemas intensivos de
de MS/UA por dia x 150 dias =
às condições adversas e minimizar as perdas exploração das pastagens, torna-se de gran-
7.500 kg de MS/ha;
de nutrientes do sistema solo-planta, por meio de importância para não limitar a resposta
b) necessidade de forragem para
de uma eficiente ciclagem de nutrientes. Com ao N (GLÓRIA, 1994 apud COSTA et al.,
2006). Os efeitos da interação positiva de N uma eficiência de pastejo de 60%:
isso, espécies de gramíneas, como Brachiaria
e K com capim-colonião, capim-braquiária, 7.500 kg de MS/ha x 100/60 =
brizantha cv. Marandu, Panicum maximum
capim-elefante e Cynodon são relatados por 12.500 kg de MS/ha;
cv. Tanzânia e Mombaça, Pennisetum
purpureum, híbridos do gênero Cynodon e Bernardi e Rassini (2008). c) necessidade de N, considerando
outros passaram a ter maior destaque. Apesar 26 kg de MS/kg N aplicado:
Como estimar a 12.500 kg de MS/ha ÷ 26 kg
de não serem apropriadas às condições de
necessidade de nitrogênio
“insumos mínimos”, por requererem maiores de MS/kg de N aplicado =
doses de fertilizantes, caracterizam-se pelo As gramíneas tropicais apresentam 481 kg/ha de N.
elevado potencial produtivo e maior valor elevado potencial de resposta à adubação Dessa necessidade de N, pode-se
nutritivo (EUCLIDES; MACEDO; OLIVEI- nitrogenada. Entretanto, a resposta em descontar a disponibilidade natural do
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62 Produção intensiva de pastagens

solo. Por exemplo, se antes da adubação Para o capim-coastcross cultivado Numa tentativa de chegar a reco-
a pastagem tivesse uma capacidade de em solos com textura média e níveis mendações de doses de N consideradas
suporte de 1 UA/ha, adotando-se o mesmo de fertilidade de média a alta em P, K, econômicas para o capim-braquiária sob
raciocínio anterior para efeito de cálculo, cálcio (Ca) e magnésio (Mg), Primavesi pastejo rotacionado, Viana et al. (2011a)
o solo estaria disponibilizando cerca de 96 et al. (2003) recomendaram adubações encontraram doses que variaram de 133 a
kg/ha de N. Com isso, haveria necessidade nitrogenadas de 250 kg/ha/ano, se for 216 kg/ha/ano de N no primeiro ano, e 123
de proceder à adubação com 385 kg/ha usado nitrato de amônio, e 250 a 500 kg/ a 212 kg/ha/ano de N, no segundo ano de
de N, parcelada ao longo da estação de ha/ano, se for usada ureia, para obter a condução do trabalho. Esses autores assu-
crescimento. melhor recuperação do N aplicado. Para miram que as doses de máxima eficiência
os sistemas intensivos, Cantarutti et al. econômica permitiriam produzir entre 80%
Doses recomendadas (1999) recomendaram, independentemen- e 90% da produção máxima física.
A partir de resultados de trabalhos de te da gramínea, doses de 200 kg/ha/ano de Outra questão a ser respondida refere-
pesquisa, quando foram avaliadas doses de N, fracionadas no início, meio e fim do se à dose de N a ser aplicada por pastejo
N em diversas condições edafoclimáticas e período chuvoso, enquanto em sistemas em sistemas intensivos de produção
para diversas forrageiras, estabeleceram-se intensivos sob irrigação é recomendada animal a pasto. Segundo Cantarutti et al.
recomendações de adubação nitrogenada a dose de 300 kg/ha/ano de N, fracionada (1999), aplicações inferiores a 50 kg/ha
que podem ser encontradas na literatura. em seis aplicações, acompanhada da dose de N são inócuas. Por sua vez, em revisão
No estabelecimento da pastagem, o uso de recomendada de K. apresentada por Menezes et al. (2003), é
adubos nitrogenados deve ser restrito a siste- Embora as doses de N recomendadas mencionado que as forrageiras tropicais
mas mais intensivos. Para pastos manejados permitam à forrageira expressar o seu
apresentam boas respostas a doses de 100
sob sistemas de médio nível tecnológico, potencial produtivo, não se pode afirmar
kg/ha de N por aplicação em condições
recomenda-se a aplicação de 50 kg/ha de que sejam efetivamente econômicas, visto
de sequeiro e podem responder a doses de
N. Para sistemas de alto nível tecnológi- que uma análise que leve à confirmação da
até 200 kg/ha de N por aplicação, quando
co, recomenda-se a aplicação de 100 a economicidade da adubação nitrogenada é
irrigadas. Com base em resultados práticos
150 kg/ha de N, parcelados, de modo que de difícil elaboração. A eficiência bioeconô-
em propriedades comerciais, esses autores
não ultrapasse 50 kg/ha/aplicação. A adu- mica do uso de N em pastagem depende da
verificaram que as melhores respostas do
bação nitrogenada deve ser aplicada em co- conversão do N-fertilizante em forragem,
ponto de vista econômico têm sido obtidas
bertura, quando a forrageira cobrir de 60% pela razão entre quilo de MS/quilo de N
com doses entre 40 e 80 kg/ha de N por
a 70% do solo, para maior aproveitamento aplicado. Depende, ainda, da eficiência com
aplicação, resultando em adubações entre
do fertilizante. Caso a forrageira apresente que a forragem produzida é consumida pelo
200 e 400 kg/ha de N, ao longo da estação
sintomas de deficiência de N, caracterizado animal (eficiência de pastejo) e da eficiência
de crescimento.
pelo amarelecimento das folhas mais velhas, com que a forragem consumida é convertida
pode-se antecipar a adubação nitrogenada em produto animal (quilo de MS/quilo de
Recuperação do nitrogênio
aplicando-se no máximo 50 kg/ha de N ganho de peso vivo (GPV). O resultado do fertilizante aplicado
(CANTARUTTI et al., 1999). destas três eficiências parciais define a
A adubação nitrogenada de manutenção eficiência de conversão do N-fertilizante A recuperação aparente do N do ferti-
é fundamental para a sustentabilidade das em produto animal (quilo GPV/quilo de N lizante aplicado em pastagens encontra-se
pastagens. Dessa maneira, dependendo da aplicado), que, quando associada à relação usualmente dentro dos limites de 50% a
dose, a adubação nitrogenada pode ser usada de troca entre preços de insumos e produtos, 80%. Além disso, com aumento das doses
com o objetivo de manter a disponibilidade determina a eficiência bioeconômica da de N, valores menores de recuperação apa-
de N para evitar o declínio na produção e a adubação nitrogenada de pastagens. Além rente desse nutriente têm sido verificados.
sua degradação ou para intensificar o siste- disso, salienta-se que o aumento na taxa de Primavesi et al. (2003), ao trabalharem
ma de exploração com obtenção de elevadas lotação resultante da adubação nitrogenada com o capim-coastcross, encontraram para
produtividades, como se espera nos sistemas implica em custos fixos (animais) e variáveis as doses de 25, 50, 100 e 200 kg/ha de N,
mais intensivos. As recomendações para o (despesas com outros fertilizantes, sal mi- valores de recuperação de 45%, 52%, 46%
capim Panicum maximum, por exemplo, neral, vacinas, etc). Toda esta complexidade e 37% para o uso de ureia e de 67%, 75%,
variam de 50 a 300 kg/ha/ano de N, sendo a na análise econômico-financeira decorre da 68% e 45%, para uso de nitrato de amônio,
dose mais baixa recomendada com o intuito forragem produzida ser um produto de difí- respectivamente. Viana et al. (2011a), por
de evitar a degradação da pastagem e as cil valoração, sendo, seu valor dependente sua vez, em experimento com o capim-bra-
mais altas para obter elevada produtividade da sua capacidade de gerar desempenho quiária conduzido por dois anos, obtiveram
(MONTEIRO, 1995). animal (MARTHA JÚNIOR et al., 2004). valores médios de recuperação de 33,1%,
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Produção intensiva de pastagens 63

41,7% e 42,2%, para as doses de 100, 200 Fontes de nitrogênio para Os dejetos e outros resíduos da produ-
e 300 kg/ha de N, respectivamente, utili- sistemas com pastagens ção animal também podem ser utilizados
zando ureia e sulfato de amônio. Os dois irrigadas como fertilizantes, desde que adequada-
trabalhos apresentaram baixa eficiência de Para sistemas com pastagens irriga- mente manejados, e, assim, constituírem
recuperação de N. Neste contexto, salienta- das o fertilizante nitrogenado pode ser alternativas econômicas importantes para
se o caso da aplicação superficial da ureia, aplicado na forma sólida, manualmente as propriedades rurais (SANTOS et al.,
fertilizante nitrogenado mais comum no 2007). Além do potencial fertilizante dos
ou com uso de implementos agrícolas,
mercado brasileiro, que pode reduzir a dejetos líquidos de suínos, esses autores
ou nas formas sólida e líquida por meio
quantidade de N recuperado pelas plantas, mencionam que os dejetos de bovinos,
da fertirrigação. Nesta modalidade de
por causa das perdas de amônia (NH3) por provenientes de confinamentos ou de salas
aplicação, o sistema de irrigação passa
volatilização. de ordenha, também podem ser aplicados
a ser mais bem utilizado, tendo dupla
Fontes de nitrogênio para função de irrigação e de fertilização. via fertirrigação. Devem, entretanto, utili-
sistemas com uso intensivo Para atendê-la, podem ser encontrados zar sistemas de sedimentação de sólidos,
do pasto no verão no mercado fertilizantes nitrogenados como partículas de areia e outros mais
sólidos e líquidos (Quadro 1), sendo pesados que a água. Para calcular quanto
As principais fontes de N são: ureia
(45% de N), sulfato de amônio (20% de N), mais comuns: ureia, sulfato de amônio, pode ser aplicado em termos de nutrientes,
nitrato de amônio (33% de N) e nitrocálcio nitrato de amônio, nitrato de potássio, no Quadro 2 é mostrada a composição
(20% a 25% de N). Na escolha da fonte de fosfato monoamônico (MAP) e fosfato química média dos dejetos de suínos de
N, devem-se ponderar as vantagens e des- diamônico (DAP). acordo com o teor de sólidos.
vantagens de cada uma. A ureia apresenta
o menor custo/quilo de N e maior potencial QUADRO 1 - Fertilizantes nitrogenados mais utilizados na fertirrigação
de perda de N por volatilização. O sulfato
Fertilizante Forma
de amônio tem maior custo/quilo de N,
Ureia Sólida
maior poder de acidificação, mas menores
perdas de N, além de ser fonte de S. O Sulfato de amônio Sólida
nitrato de amônio tem maior custo/quilo Nitrato de amônio Sólida
de N, é muito higroscópico, mas apresenta URAN Líquida
menores perdas de N e o nitrocálcio tem Nitrato de sódio Sólida
maior custo/quilo de N, é muito higroscó- Nitrato de sódio e potássio Sólida
pico, mas apresenta menores perdas de N Nitrato de potássio Sólida
e menor poder de acidificação (CORRÊA;
MAP Sólida/Líquida
SANTOS, 2003).
DAP Sólida/Líquida
Dentre as fontes listadas, o sulfato
Nitrato de cálcio Sólida
de amônio é o mais recomendável para
FONTE: Coelho (1994).
aplicações a lanço em cobertura. Para
NOTA: URAN - Ureia+nitrato de amônio; MAP - Fosfato monoamônico; DAP - Fosfato diamônico.
reduzir as perdas de N no uso da ureia
em cobertura, devem ser observados
alguns cuidados. A aplicação deve ser QUADRO 2 - Composição química média dos dejetos de suínos de acordo com o teor de sólidos
feita quando o solo estiver com umidade Sólidos no dejeto
adequada, evitando-se dias muito quen- (%)
tes (CANTARUTTI et al., 1999). A esse
Nutriente 0,72 1,63 2,09 2,54 3,46 4,37
respeito, Viana et al. (2011a) verificaram
que a eficiência do sulfato de amônio foi Quantidades de nutrientes
(kg/m3)
superior à da ureia na produção de for-
ragem em capim-braquiária sob pastejo Nitrogênio (N) 1,29 1,91 2,21 2,52 3,13 3,75
rotacionado, nos meses de março/abril, Fósforo (P2O5) 0,83 1,45 1,75 2,06 2,68 3,29
final do período chuvoso. No entanto,
Potássio (K2O) 0,88 1,13 1,25 1,38 1,63 1,88
quando foi considerada a produção total
de forragem no período chuvoso, as duas NPK 3,00 4,49 5,21 5,96 7,44 8,92
fontes não diferiram entre si. FONTE: Konzen (2002 apud SANTOS et al., 2007).

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64 Produção intensiva de pastagens

Alternativas para melhoria N na solução por meio da troca catiônica as aplicações poderiam ser repetidas de
de eficiência da ureia (CAMPANA et al., 2008). Estes autores, quatro a seis vezes na estação chuvosa,
ao avaliarem tratamentos com combina- de acordo com o período de descanso da
As perdas de N decorrentes da adu-
ções de ureia e zeólita em uma pastagem pastagem (CORRÊA; SANTOS, 2003).
bação com ureia são, em grande parte,
de capim-tanzânia sob sistema intensivo Para sistemas de alto nível tecnológico
responsáveis pela eficiência abaixo da
rotacionado, verificaram que a adição de recomenda-se fracionar a dose indicada
esperada desse fertilizante em fornecer N
para as culturas. Perdas de até 78% do N
25% de zeólita proporcionou redução na de N no início, meio e final do período
da ureia aplicada na superfície dos resídu-
volatilização de amônia, durante o verão, chuvoso, ao passo que, para sistemas
de 34,7 para 7,6 kg/ha. Entretanto, são ne- rotacionados sob irrigação, recomenda-se
os em Sistema Plantio Direto (SPD) para
cessários mais estudos antes da recomen- fracionar a dose de N em seis aplicações
cultura do milho foram relatadas por Lara
dação da zeólita como aditivo na adubação (CANTARUTTI et al., 1999).
Cabezas, Korndorfer e Motta (1997). Ao
nitrogenada de pastagens, com objetivo de Para pastagens irrigadas, onde as con-
aplicar a ureia na superfície do solo, esta
diminuir a volatilização de amônia, já que dições locais de temperatura e fotoperíodo
passa pelo processo de hidrólise pela ação
no inverno não foram observados efeitos no inverno não são limitantes à produção
da uréase, formando amônia (NH3), dió-
xido de carbono (CO2) e água (SENGIK;
do uso desse aditivo. de forragem, é estratégico que parte da
KIEHL, 1995). Alternativas para o controle adubação nitrogenada recomendada seja
Estratégias de aplicação de
aplicada nesta época para intensificar
das perdas de amônia por volatilização têm nitrogênio
sido avaliadas. Efeitos benéficos da asso- o efeito da irrigação tornando-a mais
No que se refere à época de aplicação compensadora economicamente. Neste
ciação de sais inorgânicos à ureia, como
do fertilizante nitrogenado ao longo do contexto, um trabalho foi conduzido na Fa-
superfosfato simples e cloreto de potássio,
ano, existe consenso de que a estação chu- zenda Experimental de Santa Rita (FESR)
foram obtidos por Oliveira, Trivelin e Oli-
vosa é a mais favorável ao desenvolvimen- da EPAMIG Centro-Oeste, em Prudente
veira (2003). Segundo esses autores, a re-
to das pastagens, em função das condições de Morais, onde foram avaliadas quatro
dução das perdas de amônia foi decorrente
de luminosidade, temperatura e umidade doses de N (ureia): 0, 45, 90 e 180 kg/ha,
da presença de ácido fosfórico, da redução
(MENEZES et al., 2003). aplicadas em duas coberturas no período de
da atividade da uréase, da adsorção do fos- A estratégia a ser usada para adubação
fato e do aparecimento de cargas negativas inverno (VIANA et al., 2011b). A produção
nitrogenada merece ser avaliada mais crite-
no meio para o superfosfato simples e pela de MS do capim-tanzânia, em dois ciclos
riosamente no que se refere à sazonalidade
formação de carbonato de cálcio e cloreto de pastejo, foi influenciada positivamente
da produção de forragem. Segundo Santos
de amônio para o cloreto de potássio (KCl). pelas doses de N (Gráfico 1). O máximo
(2010), as adubações realizadas no período
Na busca de melhoria de eficiência, o rendimento de forragem após dois ciclos
de verão nas Regiões Sudeste e Centro-
uso da ureia protegida vem ganhando espa- de pastejo foi obtido com 163 kg/ha de N.
Oeste acentuam as diferenças de produção
ço no mercado, prioritariamente usada na Observou-se, ainda, que o potencial de res-
de forragem entre as estações chuvosa
pecuária para alimentação de ruminantes. posta desse capim à adubação nitrogenada
e da seca, notadamente a nitrogenada.
Com enfoque para adubação de pastagens, aumentou, à medida que a temperatura
Salienta, ainda, que a adubação realizada
os estudos sobre este fertilizante são ain- elevou-se ao final do período de inverno.
no período de inverno, normalmente, não
da incipientes (FONSECA; MARTUS- Este resultado sugere que as doses de N
resulta em efeito positivo sobre a produção
recomendadas devam ser concentradas no
CELLO; SANTOS, 2011). Estes autores de forragem, uma vez que as condições
salientam que dentre as novas propostas início e no final desse período, quando as
climáticas nesta estação são restritivas ao
de aumento da eficiência da adubação com desenvolvimento da pastagem. Para con- condições climáticas são mais favoráveis
ureia destaca-se também seu uso associado tornar o problema dessa maior oferta de para resposta à irrigação.
às zeólitas. A zeólita é um mineral que vem forragem no período chuvoso em relação
sendo estudado como aditivo, pois apre- MANEJO DA ADUBAÇÃO
ao seco, a adubação realizada no término
POTÁSSICA
senta alta porosidade e alta capacidade de do verão e/ou início do outono contribui
troca catiônica (CTC) e também auxilia na para incrementar a produção de forragem O K é absorvido pelas raízes como K+,
liberação lenta de nutrientes. Essas caracte- no período da seca, minimizando as dispa- transportado via xilema para a parte aérea,
rísticas facilitam o aumento da capacidade ridades de produção. movimenta-se livremente pelo interior da
de absorção de nutrientes e de retenção Como recomendação, em sistemas planta e não forma compostos orgânicos.
de água no solo. O princípio da ação da intensivos de pastagens, o fertilizante Desempenha importantes funções, pois
zeólita na conservação do amônio (NH4) nitrogenado deve ser aplicado após a sa- altera a atividade de várias enzimas,
envolve a diminuição da concentração do ída dos animais do piquete. Desse modo, ativando-as ou inibindo-as. É requerido
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Produção intensiva de pastagens 65

um experimento com os capins colonião,


2500 1º ciclo
napier e pangola por três anos, em Porto
2º ciclo
Rico, quando avaliaram doses de até
2.160 kg/ha de K2O. Observaram que os
2000
capins colonião e napier apresentaram
incrementos significativos na produção de
Matéria seca (kg/ha)

forragem até a dose anual de, aproximada-


1500
mente, 540 kg/ha de K2O. Para o capim-
pangola, 260 kg/ha de K2O foi a dose
anual que propiciou os mais significativos
1000
aumentos de forragem.
A disponibilidade de K no solo tem
500 1º ciclo: Ŷ = 952 + 10,746**N – 0,04749*N2 R2 = 0,950 sido primordial para a resposta da gramínea
2º ciclo: Ŷ = 662 + 8,7405*N R2 = 0,930 à adubação com esse nutriente. Mesmo
capins considerados pouco exigentes em
0 fertilidade do solo têm respondido posi-
0 45 90 135 180 tivamente à aplicação do K em condições
de baixa disponibilidade deste nutriente no
Dose de N (kg/ha)
solo (COUTINHO et al., 2004). Assim, a
Gráfico 1 - Produção de matéria seca do capim-tanzânia em dois ciclos de pastejo, no grande influência da disponibilidade desse
período de inverno, em resposta a doses de N - EPAMIG Centro-Oeste - Fa-
nutriente na produção das forrageiras torna
zenda Experimental de Santa Rita (FESR), Prudente de Morais, MG
os resultados da análise química do solo
FONTE: Viana et al. (2011b).
uma ferramenta importante para efetuar
a recomendação de adubação potássica.
para a síntese de proteínas e influencia leguminosas forrageiras, a deficiência de K Para tanto, esses autores sugerem o nível
a fotossíntese pelo aumento da taxa de influencia, além do crescimento da planta, crítico de K no solo de 0,14 cmolc/dm3
fixação de carbono. Além disso, exerce a fixação do N por diminuição no número (55 mg/dm3), que deve ser interpretado
papel fundamental na translocação de e no tamanho dos nódulos. Os sintomas vi- como uma aproximação, uma vez que os
poucos trabalhos utilizados para calcular
carboidratos produzidos nas folhas para suais também caracterizam-se por clorose
essa dose não foram desenvolvidos para
outros órgãos da planta, está diretamente e necrose nos ápices e bordas dos folíolos,
essa finalidade. Para Minas Gerais, visando
relacionado com o controle de abertura podendo evoluir para o enrolamento das
separar situações de deficiência, é sugerido o
e fechamento dos estômatos, de grande bordas necrosadas, completo secamento e
nível crítico de K no solo de 0,18 cmolc/dm3
importância no balanço hídrico da planta, queda dos folíolos.
(70 mg/dm3), que deve também ser conside-
e atua na expansão celular e na osmorregu-
Resposta de plantas rado como uma aproximação (ALVAREZ V.
lação das células (MARSCHNER, 1995).
forrageiras à adubação et al.,1999).
Uma vez que o K pode translocar-se
potássica Em leguminosas forrageiras, a resposta
livremente na planta, os sintomas de defi-
na produção em função da adubação potás-
ciência desse nutriente ocorrem primeira- Gramíneas forrageiras com exigências
sica também é influenciada pela capacida-
mente nas folhas mais velhas. De acordo distintas quanto à fertilidade do solo ou de de o solo fornecer K. Neste sentido, ao
com os sintomas descritos em Coutinho potencial de produção apresentaram au- relacionar as concentrações de K no solo
et al. (2004), os capins com deficiência mentos na produção de MS em resposta à com a produção de alfafa, o teor de K de
de K apresentam colmos finos, raquíticos adubação potássica, em diversos trabalhos 0,18 cmolc/dm3 (70 mg/dm3) foi conside-
e pouco resistentes ao tombamento, en- conduzidos em condições de solução nutri- rado limiar entre a alta probabilidade de
quanto as folhas são pequenas, amareladas tiva, vaso com solo e em campo (COUTI- resposta e a probabilidade quase nula de
ou amarelo-alaranjadas, com manchas NHO et al., 2004). Esses autores salientam resposta à adubação potássica (BORGES
necróticas nas pontas e margens. As fo- que os capins tropicais apresentam alta ca- et al., 1999 apud COUTINHO et al., 2004).
lhas envelhecidas secam da ponta para a pacidade de resposta à adubação potássica, A resposta ao K está relacionada tam-
base, com intensidade maior nas margens, quando intensivamente manejados. Como bém com a disponibilidade dos outros
assumindo, após secas, coloração parda, exemplo, Vicente-Chandler et al. (1962 nutrientes. Por sua vez, a exigência em
com manchas necróticas mais escuras. Nas apud COUTINHO et al., 2004) conduziram K pela planta está diretamente associada
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66 Produção intensiva de pastagens

ao nível de produção, que é determinado (2001) relataram que, embora no pastejo recomendado adubação com K? Ademais,
pelo suprimento de N no sistema. Assim, a os animais percorram a pastagem de modo nos sistemas intensivos com produções
resposta da forrageira à adubação potássica homogêneo, o ato de excretar é diferente elevadas de forragem, ocorre alta extração
deve estar relacionada com a produção, do ato de pastejar, com concentração de de K, o que pode acarretar empobrecimento
que é influenciada pelas doses de N, da excreções em determinados locais como do solo a médio e a longo prazo. Nesse
mesma maneira como a capacidade do solo cercas, cochos, bebedouros e áreas sob caso, seria pertinente monitorar a ferti-
em suprir K (COUTINHO et al., 2004). A influência de sombras. lidade do solo com mais frequência por
esse respeito, Bernardi e Rassini (2008), Por outro lado, Coutinho et al. (2004) meio da análise química e, se necessário,
ao avaliarem o capim-tanzânia sob cortes mencionaram que com maiores taxas de efetuar a reposição pela adubação potássica
em função de três doses de N (1o ano: 100; lotação, com subdivisão da pastagem em de manutenção.
500 e 1.000 kg/ha e 2o ano: 100, 400 e 800 piquetes e pastejo rotativo ocorre dimi- Para a fase de estabelecimento é re-
kg/ha) e quatro relações de N:K2O (1:0, nuição da concentração de excreções em comendável, especialmente para solos de
1:0,5, 1:1 e 1:1,25), verificaram que os áreas restritas, aumentando a distribuição textura média a arenosa, que a adubação
melhores resultados de produção de MS na área do pasto. Apesar disso, em áreas potássica seja feita em cobertura, quando
foram obtidos com as doses mais elevadas de pastejo intensivo, com elevada produção a forrageira cobrir 60% a 70% do solo,
de N na relação N:K2O de 1:1,25. A relação de forragem e extração de K, recebendo de modo que possibilite maior absorção e
N:K2O calculada em experimentos sob aplicação de doses maiores de N, deve-se menores perdas por lixiviação. Se ocorrer
corte deve ser vista com reserva, uma vez dar maior atenção à adubação potássica, deficiência de potássio na fase inicial de
que a intensa reciclagem de K obtida sob para que o efeito da adubação nitrogenada desenvolvimento das plantas em solos
pastejo fica comprometida com o corte e possa ser maximizado. deficientes desse nutriente, doses de 30 a
remoção da forragem. Recomendações de adubação potássi- 60 kg/ha de K2O devem ser aplicadas, mes-
Além do N, a acidez do solo e outros ca para o estabelecimento e manutenção mo em solos de textura média a arenosa,
nutrientes também podem limitar a pro- de pastagens em sistemas intensivos de já que nessa dose não é apresentado risco
dução e a resposta à adubação potássica. produção, considerando a disponibilidade de lixiviação. Quanto à adubação potássica
Como nos solos tropicais, os teores de P
de K no solo, encontram-se no Quadro 3. de manutenção, para dose igual ou inferior
são mais limitantes que os de K, não se
No que se refere a não recomendação a 40 kg/ha de K2O, esta deve ser aplicada
deve pensar em adubar a pastagem com
de adubação potássica para a condição de a lanço em cobertura em dose única, no
K antes de ter resolvido o problema da
disponibilidade de K no solo considerada início da estação chuvosa. Como as doses
limitação do P (COUTINHO et al., 2004).
boa (valores maiores que 70 mg/dm3), al- recomendadas para pastagens em sistemas
De acordo com Sanzonowicz (1986 apud
guns comentários podem ser feitos. Deve intensivos são maiores, a adubação potás-
WERNER, 1994), o efeito da adubação
ser considerado que este valor crítico é sica deve ser parcelada em pelo menos três
potássica na Brachiaria decumbens depen-
geral, não sendo específico para as forra- aplicações com intervalos de 30 dias, sendo
deu da dose de P usada e, para um mesmo
geiras, o que pode levar a erros de inter- a primeira aplicada no início da estação
nível de P aplicado, a resposta foi maior na
pretação e de recomendação de adubação, chuvosa (CANTARUTTI et al., 1999).
presença da calagem.
devendo ser, dessa forma, analisado com Ao recomendar o parcelamento da adu-
Recomendação de ressalvas e não como verdade absoluta. Por bação potássica, esta deve ser feita junto
adubação potássica exemplo, se o solo apresentar 75 mg/dm3 à adubação nitrogenada. A relação N:K2O
de K, que não é um valor alto, não seria de 1:1 tem sido recomendada, quando os
Em solos originalmente supridos de
K e em sistemas mais extensivos, não se
esperam problemas de sua deficiência nas QUADRO 3 - Recomendação de adubação potássica para o estabelecimento e manutenção de
pastagens, uma vez que há reciclagem pastagens em sistemas intensivos de produção, considerando a disponibilidade
desse nutriente pelo retorno ao pasto das de K no solo
fezes e urina dos animais. No entanto, Disponibilidade de K no solo
quando os teores de K no solo são bai- Adubação potássica Baixa Média Boa
xos, é necessário aplicá-lo para corrigir (< 40 mg/dm3) (40 a 70 mg/dm3) (> 70 mg/dm3)
sua limitação. A respeito do retorno de Estabelecimento (kg/ha 60 30 0
K via urina e fezes, é difícil determinar de K2O)
esta contribuição, visto que os animais Manutenção (kg/ha de 200 100 0
em pastejo não distribuem os nutrientes K2O)
uniformemente na área. Cantarutti et al. FONTE: Cantarutti et al. (1999).

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Produção intensiva de pastagens 67

teores de K no solo são baixos. Entretanto, com distribuição ampla e variável em todo rais: 5a aproximação. Viçosa, MG: Comissão
em sistemas intensivos de exploração com o território brasileiro (MARTINS et al., de Fertilidade do Solo do Estado de Minas
maior ciclagem do K via partes mortas das 2008). Também, subprodutos da mineração, Gerais, 1999. p.25-32.
plantas, perdas de pastejo, fezes e urina, abundantes no Brasil, têm sido avaliados ALVIM, M.J. et al. Resposta do Tifton 85 a
esta relação poderá ser modificada com como fontes alternativas de fertilizantes po- doses de nitrogênio e intervalos de cortes.
o tempo, dependendo do monitoramento Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
tássicos (COELHO; MARRIEL; ROCHA,
v.34, n.12, p.2345-2352, dez. 1999.
da fertilidade via análise do solo (COR- 2010). Embora promissores, estes materiais
RÊA; SANTOS, 2003). Em experimento precisam ser mais estudados, especialmente, BALSALOBRE, M.A.A.; SANTOS, P.M. Cál-
conduzido na Fazenda Experimental de culo de adubação nitrogenada em pasta-
para uso como fertilizante potássico em
gens. [S.l.]: MILKPOINT, 2004. Disponível
Leopoldina (FELP) da EPAMIG Zona da pastagens.
em: <http://www.milkpoint.com.br/artigos-
Mata com novilhos de corte sob pastejo
tecnicos/pastagens/calculo-de-adubação-
rotativo de capim-napier, Fagundes et al. CONSIDERAÇÕES FINAIS nitrogenada-em-pastagens-18321n.aspx>.
(2007) estudaram, durante quatro estações Acesso em: 25 nov. 2011.
A adubação nitrogenada é a mais im-
chuvosas, a combinação de três doses de
pactante em termos de ganhos de produção BERNARDI, A.C. de C.; RASSINI, J.B. Pro-
N (100, 200 e 400 kg/ha) e três doses de dução de matéria seca pelo capim-tanzânia
de forragem, sendo de fundamental impor-
K2O (50, 100 e 200 kg/ha), gerando com- em função de doses e relações de nitrogê-
tância para a manutenção da produtividade
binações com 1:2 até 1:0,125 de N:K2O. A nio e potássio. In: REUNIÃO BRASILEIRA
e sustentabilidade da pastagem. Para que
disponibilidade de MS total, a composição DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO
seja usada como ferramenta estratégica
química do capim-elefante, bem como o DE PLANTAS, 28., 2008, Londrina. Anais...
para maximizar a produção de forragem nos Desafios para o uso do solo com eficiência
ganho de peso diário por animal não foram
sistemas intensivos de produção, no entanto, e qualidade ambiental. Londrina: Embrapa
influenciados pelas doses de K, indicando
o solo deve estar devidamente corrigido e Soja: SBCS, 2008. 1 CD-ROM.
que até a relação 1:0,125 não houve com-
prometimento da produção. Entretanto, suprido adequadamente com P e os outros CAMPANA, M. et al. Volatilização de amô-
estudos de longo prazo precisam ser feitos macro e micronutrientes. Como fonte de N, nia em pastagem de capim-tanzânia ferti-
a ureia tem a grande vantagem de apresentar lizada com mistura de ureia e zeólita. São
para saber até que ponto os teores de K no
o menor custo/quilo de N. Por outro lado, Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2008.
solo são comprometidos. Por segurança,
5p. (Embrapa Pecuária Sudeste. Circular
recomenda-se que essa relação N:K2O não apresenta as mais elevadas perdas de N,
Técnica, 56).
seja menor que 1:0,5 a 1:0,7, dependendo quando aplicada em condições desfavo-
ráveis. Mais estudos devem ser realizados CANTARUTTI, R.B. et al. Impacto do animal
do teor de K no solo.
sobre o solo: compactação e reciclagem de
A principal fonte de potássio é o KCl com o intuito de reduzir essas perdas.
nutrientes. In: MATTOS, W.R.S. et al. (Org.).
(60% de K2O). O Brasil importa a maior O K também pode limitar a resposta Produção animal na visão dos brasileiros.
parte do fertilizante potássico utilizado na de produção das forrageiras de maior Piracicaba: FEALQ, 2001. p.826-837.
agricultura, especialmente, na forma de exigência nutricional, especialmente em
CANTARUTTI, R.B. et al. Pastagens. In: RI-
cloreto de potássio (KCl). Em 2007, foram áreas de pastejo intensivo com aplicações BEIRO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVA-
produzidas 471 mil toneladas de K2O, cor- elevadas de N, onde ocorre alta produção REZ V., V.H. (Org.). Recomendação para o
respondendo 11% da demanda nacional. de forragem e alta extração de K. Dessa uso de corretivos e fertilizantes em Minas
Há previsões, ainda, de que esta demanda forma, deve-se dar maior atenção à adu- Gerais: 5a aproximação. Viçosa, MG: Co-
de K2O cresça 50% até 2015. Em face deste bação potássica, para que o efeito da adu- missão de Fertilidade do Solo do Estado de
cenário, há necessidade de buscar alterna- bação nitrogenada possa ser maximizado. Minas Gerais, 1999. p.332-341.

tivas econômicas aos fertilizantes tradicio- Como o Brasil tem importado a maior COELHO, A.M. Fertirrigação. In: COSTA,
nais. Resultados de pesquisas indicam que parte do fertilizante potássico utilizado na E.F.; VIEIRA,R.F.; VIANA, P.A. (Org.). Qui-
rochas contendo quantidades razoáveis de migação: aplicação de produtos químicos e
agricultura, há necessidade de buscar al-
biológicos via irrigação. ����������������
Brasília: EMBRA-
flogopita ou biotita podem constituir fontes ternativas econômicas para os fertilizantes
PA-CNPMS; Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994.
alternativas de potássio para a agricultura. tradicionais. cap.8, p.201-220.
Algumas rochas com potencial de uso agro-
COELHO, A.M.; MARRIEL, I.E.; ROCHA,
nômico incluem rochas magmáticas alcali- REFERÊNCIAS
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������������������
CONGRESSO BRA-
cálcio-silicáticas e produtos de metasso- RO, A.C.; GUIMARÃES, P.T.G.; ALVAREZ SILEIRO DE ROCHAGEM, 1., 2009, Brasí-
matismo potássico (por exemplo: biotita V., V.H. (Org.). Recomendação para o uso lia. Anais... Planaltina: Embrapa Cerrados,
xisto, flogopita xisto, biotitito, flogopitito), de corretivos e fertilizantes em Minas Ge- 2010. p.283-288.

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68 Produção intensiva de pastagens

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Produção intensiva de pastagens 69

Manejo do pastejo em sistemas de alto nível tecnológico


Manoel Eduardo Rozalino Santos 1
Leandro Martins Barbero 2
Domicio do Nascimento Júnior 3
Dilermando Miranda da Fonseca 4

Resumo - O manejo do pastejo deve ser adequadamente controlado para garantir a pere-
nidade e o desenvolvimento do pasto, bem como bons níveis de desempenho animal. Seu
controle em sistemas intensivos ou de alto nível tecnológico exige modificações, quando
comparado aos sistemas extensivos ou de baixo nível tecnológico. Ajustes no manejo do
pastejo são necessários para otimizar a produção animal, quando o sistema de produção
é manejado de forma intensiva. Nestes sistemas, as taxas de aparecimento, de crescimen-
to e de senescência dos órgãos da planta forrageira são normalmente elevadas. Com isso,
é necessário aumentar a frequência de pastejo, o que pode ser conseguido pela adoção
de maior taxa de lotação, no caso do manejo em lotação contínua, ou pelo emprego de
menor período de descanso, quando o pasto é utilizado em lotação intermitente. Em sis-
temas de alto nível tecnológico, a intensidade de pastejo também pode ser aumentada,
dentro dos limites tolerados pela planta forrageira, sem comprometer a sua perenidade.
A adoção desses ajustes no manejo do pastejo permite, dentre outros fatores, manter ou
melhorar os níveis de utilização da forragem produzida, controlar a estrutura do pasto e
assegurar maior eficiência do uso de insumos (adubo, corretivo, água, suplemento, etc.).

Palavras-chave: Pasto. Pastagem. Adubação. Período de descanso. Produção de forra-


gem. Taxa de lotação.

INTRODUÇÃO A utilização do pasto é a etapa em que controle do desenvolvimento do pasto pelo


o manejador da pastagem pode atuar para manejo do pastejo é fundamental para oti-
A produção animal em pastagens
obter maior oportunidade de alteração da mizar a produção de forragem, bem como
pode ser entendida, do ponto de vista do
funcionamento, como resultado de três eficiência do sistema produtivo. Assim, as para criar um pasto com estrutura adequada
etapas interdependentes: crescimento, uti- ações de manejo devem, prioritariamente, ao bom desempenho dos animais.
lização e conversão (HODGSON, 1990). A atuar na etapa de utilização da forragem Contudo, ocorrem variações no desen-
fixação de energia proveniente do sol e a produzida, por meio do controle e moni- volvimento do pasto entre as estações do
transformação dessa energia em forragem toramento do processo de pastejo, para ano, bem como entre sistemas específicos
correspondem à etapa de crescimento. resultar em aumento da produtividade do de produção animal em pastagens. Nesse
Essa forragem, quando pastejada pelo sistema (SILVA; CORSI, 2003). sentido, todas as ações do manejador do
animal, caracteriza a etapa de utilização. O manejo do pastejo também controla pasto, como aquelas empregadas para a
A conversão, última etapa do processo e/ou interrompe o desenvolvimento do intensificação do sistema produtivo, irão
produtivo, consiste na transformação da pasto, pela remoção dos órgãos da planta e determinar a necessidade de modificações
forragem consumida em tecidos e produtos de seus efeitos posteriores no crescimento no manejo do pastejo, a fim de assegurar
de origem animal. pós-desfolhação (SANTOS, 2010). O a eficiência da colheita da forragem pro-

Zootecnista, D.Sc., Prof. Adj. UFU - Faculdade de Medicina Veterinária, Campus Umuarama, CEP 38400-902 Uberlândia-MG. Correio eletrônico:
1

manoeleduardo@famev.ufu.br
2
Zootecnista, D.Sc., Prof. Adj. UFU - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootécnica, Campus Umuarama, CEP 38400-902 Uberlândia-MG.
Correio eletrônico: leandrobarbero@famev.ufu.br
Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Tit. UFU - Depto. Zootecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: domicio@ufv.br
3

Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Associado UFU - Depto. Zootecnia, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: dfonseca@ufv.br
4

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70 Produção intensiva de pastagens

duzida, a otimização do consumo e do por intensidade de pastejo e taxas de lotação A constatação de que o pecuarista não
desempenho animal e garantir eficácia no intermediárias. vende a forragem produzida ou o pasto,
uso de insumos em pastagens. Vale ressaltar que em uma empresa de mas determinado produto animal (carne,
produção animal com base na utilização leite, lã, etc.), é suficiente para convencê-lo
AJUSTES NO MANEJO DO de pastagens, normalmente existem áreas da necessidade de colher eficientemente o
PASTEJO EM SISTEMAS DE manejadas com objetivos diferenciados. pasto, o que é conseguido pelo adequado
ALTO NÍVEL TECNOLÓGICO Desse modo, é possível a coexistência de manejo do pastejo. Em sistemas de alto ní-
O manejo do pastejo consiste no pastagens manejadas intensivamente ou vel tecnológico, a colheita da forragem tem
controle e monitoramento do processo com alto nível tecnológico, bem como que ser feita de forma eficiente, para obter
de colheita da forragem produzida pelos manejadas de forma extensiva ou com rápida recuperação dos altos investimentos
animais durante o pastejo (SILVA; CORSI, baixo aporte de insumos, em uma mesma realizados com a aquisição de insumos,
2003). Dessa forma, o manejo do pastejo é fazenda ou propriedade rural. uma premissa básica para a sustentabilida-
uma das inúmeras possibilidades de ações Em sistemas de pastejo de alto nível de econômica do sistema produtivo.
que podem e devem ser empregadas para tecnológico, é primordial que ações de Dois fatores principais devem ser
o manejo eficiente das pastagens. manejo sejam empregadas de forma dife- considerados no manejo do pastejo: a fre-
No Brasil, existem sistemas pastoris renciada, quando comparadas aos sistemas quência e a intensidade. Por frequência de
de produção animal que operam com de baixo nível tecnológico. Isso ocorre pastejo, entende-se o número de desfolha-
diferentes níveis tecnológicos ou graus de porque o uso de insumos (adubos e água, ções ocorridas em uma folha ou perfilho em
intensificação do uso das pastagens. Des- por exemplo), dependendo do nível, altera um dado período, o que, no caso do sistema
sa forma, as ações de manejo do pastejo os processos intrínsecos ao sistema solo- sob lotação intermitente5, é determinado e
devem ser contextualizadas, de acordo planta-animal, como o desenvolvimento controlado pelo período de descanso do
com o perfil do sistema de produção. Para da planta por unidade de tempo, no qual pasto. A intensidade de pastejo refere-se
isso, neste trabalho, será considerada a incluem os processos de crescimento e à proporção da biomassa vegetal colhida
classificação proposta por Cantarutti et al. senescência. em relação à biomassa disponível na pasta-
(1999), em que os sistemas de pastejo são Por exemplo, a adubação da pastagem, gem. Geralmente, maiores intensidades de
agrupados em: típica de sistemas intensivos, resulta em pastejo estão associadas às menores alturas
a) sistemas de alto nível tecnológico aumento do crescimento da planta forra- médias do pasto manejado em lotação con-
ou intensivo; geira, o qual passa a ser caracterizado por tínua6, assim como aos menores resíduos
incrementos nas taxas de aparecimento e pós-pastejo naqueles manejados sob lota-
b) sistemas de médio nível tecnológico;
de alongamento de folhas e de colmo. Com ção intermitente (FONSECA; SANTOS;
c) sistemas de baixo nível tecnológico isso, ocorrem variações mais intensas, MARTUSCELLO, 2008).
ou extensivo. por unidade de tempo, nas características Em geral, a frequência de desfolhação
Caracterizam-se como sistemas de alto estruturais do pasto adubado, o que exi- em pastos manejados de forma intensiva
nível tecnológico aqueles em que as pas- ge modificação nas ações de manejo do deve ser maior, independentemente do mé-
tagens são manejadas com altos níveis de pastejo, para que a estrutura do pasto seja todo de pastejo utilizado (lotação contínua
insumos (fertilizantes, calcário, água, suple- controlada e, com efeito, alcance a almeja- ou intermitente) e do critério de manejo do
mentos concentrados, etc.), o que possibilita da produtividade da pastagem (SANTOS, pastejo adotado (altura do pasto em pré-
aumento acentuado na taxa de lotação, de 2010). Entende-se por estrutura do pasto pastejo ou períodos de descanso com base
acordo com a planta forrageira utilizada. a distribuição e o arranjo da parte aérea em dias fixos, por exemplo).
Por outro lado, em geral, os sistemas de das plantas, cuja formação é resultado da O aumento da frequência de pastejo
baixo nível tecnológico caracterizam-se dinâmica de crescimento de suas partes no exige monitoramento mais frequente dos
pela utilização mínima de insumos e baixas tempo e no espaço (LACA; LEMAIRE, pastos e maior movimentação dos lotes de
taxas de lotação, normalmente menores que 2000). Em outras palavras, a estrutura do animais. Demanda também maior trabalho
1 unidade animal (UA)/ha/ano. Os sistemas pasto é a forma como o animal encontra o e nível gerencial do sistema de produção.
de médio nível tecnológico caracterizam-se alimento (o pasto) no momento do pastejo. Essas novas exigências podem limitar ou

5
Método de pastejo que utiliza subdivisão de uma área de pastagem em dois ou mais piquetes que são submetidos a períodos controlados de
pastejo (ocupação) e de descanso. Também conhecido como “pastejo rotacionado”.
Método de pastejo em que os animais têm acesso irrestrito a toda a área pastejada, sem subdivisão em piquetes e alternância de períodos de
6

pastejo com períodos de descanso.

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Produção intensiva de pastagens 71

tornar imprópria a recomendação de adu- vido da pastagem. Por conseguinte, menor medida que se aumenta a intensidade de
bação para muitos sistemas produtivos com quantidade de nutrientes será reciclada pastejo, o uso de fertilizantes é fator pri-
baixo nível gerencial. no sistema solo-planta. Com isso, menos mordial para assegurar a sustentabilidade.
Com relação à intensidade de pastejo, matéria orgânica (MO) retornará ao solo, Além disso, à medida que se aumenta a
vislumbra-se a possibilidade de aumentá-la visto que o processo de senescência de entrada de insumos no sistema, o pasto tem
em sistemas de alto nível tecnológico. Pois, tecidos vegetais tende a ser minimizado. a capacidade de suportar uma maior inten-
quanto maior a intensidade de pastejo, Portanto, maior quantidade de insumos sidade de pastejo, sem entrar em processo
caracterizada por menor altura de resíduo (corretivo e/ou, adubo) deve ser aplicada de degradação.
pós-pastejo (lotação intermitente) ou da nessa pastagem para assegurar sua pereni- É adequado adotar menor intensidade
altura média do pasto (lotação contínua), dade e sustentabilidade (Gráfico 1 e Fig. 1). de desfolhação em plantas sob condições
maior será o porcentual de forragem remo- Observa-se no Gráfico 1 e Figura 1 que, à de solos pouco férteis e uso limitado de
fertilizantes (sistemas extensivos), quan-
do comparadas àquelas que vegetam em
solos mais férteis e/ou recebem aporte
adequado de nutrientes via adubações
(sistemas intensivos), porque não há
Nível de adubo e/ou corretivo

possibilidade de a planta vegetar e crescer


adequadamente sem exaurir o solo e, com
isso, iniciar o processo de degradação
(SILVA, 2004).
Quanto maior a intensidade de desfo-
lhação, mais dependente a planta forrageira
se torna do uso de fertilizantes nitrogena-
dos. O decréscimo na captação de luz e na
capacidade fotossintética da planta, a re-
dução nos níveis de reservas nitrogenadas
e no tempo de transferência do nitrogênio
Intensidade de pastejo (N) das raízes e da base do colmo para a
Gráfico 1 - Relação teórica entre intensidade de pastejo e nível de utilização de adubos lâmina foliar nova e o menor crescimento
e/ou corretivos para garantir a sustentabilidade da pastagem e atividade de raízes, são fatores que ex-
FONTE: Fonseca, Santos e Martuscello (2008). plicam a maior demanda de N pela planta

AUMENTO NA AUMENTO NA
INTENSIDADE DE PASTEJO INTENSIDADE DE PASTEJO

MAIOR REMOÇÃO DE MAIOR REMOÇÃO DE


FORRAGEM FORRAGEM

MENOR CICLAGEM DE MENOR CICLAGEM DE


NUTRIENTES NUTRIENTES
APLICAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
MAIORES DOSES APLICAÇÃO DE
DE ADUBO DE ADUBO
SUSTENTABILIDADE SUSTENTABILIDADE
ASSEGURADA COMPROMETIDA

A B
Figura 1 - Relações entre intensidade de pastejo e utilização de adubos, quando se emprega alta intensidade de pastejo
FONTE: Santos (2010).
NOTA: A - Sustentabilidade na pastagem adubada; B - Não sustentabilidade com a ausência de adubação.

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72 Produção intensiva de pastagens

em situações de maior intensidade de des- (somatório dos períodos de ocupação e mesmo melhorados. Ademais, o controle
folhação (MARTHA JÚNIOR et al., 2007). de descanso) e em cada ciclo será colhida da estrutura do pasto garante condições
Os métodos de pastejo mais comu- semelhante massa de forragem. O aumento adequadas para a sua rebrotação futura e,
mente utilizados pelos pecuaristas brasi- no número de ciclos de pastejo é reflexo consequentemente, não limita a produção
leiros são a lotação contínua e a lotação do maior crescimento do pasto e, com de forragem (Quadro 2).
intermitente. efeito, da maior produção de forragem na Como exemplo da necessidade de
pastagem, que se apresenta no ponto ade- ajuste adequado no manejo do pastejo
Lotação intermitente
quado de colheita em período de descanso em pastos sob desfolhação intermitente,
No pastejo em lotação intermitente, menor. Com esse manejo, a estrutura do pode-se citar o experimento conduzido
a pastagem é dividida em dois ou mais pasto, bem como seu valor nutritivo e a por Freitas (2009) durante o verão, que
piquetes que são submetidos a períodos eficiência de pastejo são mantidos ou até avaliou o Panicum maximum cv. Tanzânia
controlados de pastejo (períodos de ocu-
pação) e de descanso (PEDREIRA, 2002).
Este método também pode ser utilizado QUADRO 1 - Recomendações de alturas médias dos pastos para a entrada (condição associada
a 95% da interceptação da luz pelo dossel) e saída dos animais em condição
com taxa de lotação fixa ou variável e apre-
de lotação intermitente
senta uma série de modalidades, tais como:
Altura do pasto
pastejo em faixa, pastejo primeiro-último,
(cm)
creep grazing, creep grazing avançado e Gramínea Fonte
pastejo diferido. Pré-desfolhação Pós-desfolhação
Em geral, sob pastejo intermitente, a
Capim-mombaça 90 30 a 50 Carnevalli et al. (2006)
rebrotação dos pastos tropicais é iniciada
basicamente por meio do acúmulo de folhas Capim-tanzânia 70 30 a 50 Barbosa et al. (2007)
e, a partir do momento em que o dossel
Capim-marandu 25 10 a 15 Trindade et al. (2007)
intercepta 95% da luz solar incidente sobre
o pasto, o padrão de rebrotação modifica-se Capim-xaraés 30 15 a 20 Pedreira, Pedreira e Silva (2007)
e ocorre redução no acúmulo de folhas e e Sousa (2009)
aumento acentuado no acúmulo de colmos Capim-cameroon 100 40 a 50 Voltolini (2006)
e de folhas senescentes (CARNEVALLI et Capim-andropógon 50 27 a 34 Sousa (2009)
al., 2006; BARBOSA et al., 2007; PEDREI-
Capim-braquiária 20 5 a 10 Braga et al. (2008)
RA; PEDREIRA; SILVA, 2007). Por isso,
recomenda-se a interrupção do período de Capim-mulato 30 15 a 20 Silveira (2010)
descanso dos pastos sob lotação intermi-
tente, quando estes interceptam 95% da
luz incidente, o que gera a necessidade de QUADRO 2 - Características e consequências do manejo do pastejo em pastagens utilizadas
de forma intensiva e sob lotação intermitente, com ou sem ajuste na frequência
trabalhar com período de descanso variável.
de pastejo
Porém, a mensuração da interceptação lu-
Condição de manejo do pastejo
minosa é prática complicada em condições
de campo. Assim, diante dessa limitação, Com ajuste Sem ajuste
procura-se associar a condição do pasto, (frequência de pastejo variável) (frequência de pastejo constante)
onde ocorre a interceptação de 95% da luz Maior número de ciclos de pastejo Manutenção do número de ciclos de pastejo
incidente, com um valor de altura do dossel,
Manutenção da massa de forragem por ciclo Maior massa de forragem por ciclo
variável facilmente mensurável no campo
com auxílio de uma simples régua graduada Maior produção de forragem no período Maior produção de forragem no período
e um avaliador, devidamente treinado para
Controle da estrutura do pasto Degradação da estrutura do pasto
tal função (Quadro 1).
No caso de pastagens manejadas sob Manutenção do valor nutritivo do pasto Pior valor nutritivo do pasto
lotação intermitente e em sistemas de alto
Manutenção da eficiência de pastejo Menor eficiência de pastejo
nível tecnológico, o necessário aumento da
frequência de pastejo resulta em realiza- Adequada rebrotação Inadequada rebrotação
ção de maior número de ciclos de pastejo FONTE: Dados básicos: Fonseca, Santos e Martuscello (2008).

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Produção intensiva de pastagens 73

submetido às doses de N (0, 80, 160 e dos pastos. Este conjunto de informações so) resulta em manutenção do número de
320 kg/ha) e às densidades de plantas (9, 25 é evidenciado nos Gráficos 2, 3 e 4. Com ciclos de pastejo no período, maior massa
e 49 plantas/m2). Neste trabalho, o capim- o apropriado ajuste no manejo da desfo- de forragem obtida em cada ciclo e, como
tanzânia foi manejado com o critério de in- lhação, no trabalho de Freitas (2009), as consequência, a produção de forragem
terceptação de 95% da luz incidente como estruturas dos pastos de capim-tanzânia também será aumentada, quando se con-
definidor da condição pré-desfolhação. foram controladas, fato constatado pela alta sidera todo o período de pastejo. O efeito
Desse modo, pastos adubados com do- participação de folha na forragem colhida negativo dessa falta de ajuste no manejo
ses altas de N, característica de sistemas de (Gráfico 5), uma condição necessária para do pastejo será a degradação da estrutura
alto nível tecnológico, além de produzirem a melhoria do valor nutritivo do pasto. do pasto e a redução no valor nutritivo
mais forragem, são colhidos com menor De outra maneira, em pastos manejados da forragem produzida, os quais podem
intervalo de tempo (menor período de de forma intensiva e sob lotação intermi- comprometer a eficiência de pastejo e
descanso), o que resulta em maior número tente, a ausência de maior frequência de criar condições desfavoráveis à rebrotação
de colheitas durante o período de utilização pastejo (inalteração do período de descan- futura do pasto (Quadro 2).

1600
48
1400 44

Duração do intervalo (dias)


40
1200
38
MST (g/m2)

1000 32
28
800
24
600 20 Ŷ = 43,12 - 0,065* N(r2 = 0,83)
Ŷ = 750,34 + 2,249* N(r2 = 0,92)

0
0 80 160 320 0 80 160 320

Dose de N (kg/ha) Dose de N (kg/ha)

Gráfico 2 - Produção de massa de forragem seca total (MST) em Gráfico 3 - Duração do intervalo de colheitas do capim-tanzânia
pastos de capim-tanzânia adubados com nitrogênio (N) adubado com nitrogênio (N)
FONTE: Freitas (2009). FONTE: Freitas (2009).

100
6 100
100
5 100
Número de ciclos de colheita

100
4 100
%

100
3 100
100
2 100
Ŷ = 2,91 + 0,0076* N(r2 = 0,95) 100
0N-9D

0N-25D

0N-49D

80N-9D

80N-25D

80N-49D

160N-9D

160N-25D

160N-49D

320N-9D

320N-25D

320N-49D

0
0 80 160 320 ■ Lâmina foliar
Colmo Tratamento
Dose de N (kg/ha) Tecidos mortos
Gráfico 5 - Porcentuais de lâmina foliar, colmo e tecidos mortos do
Gráfico 4 - Número de ciclos de colheitas do capim-tanzânia adu- capim-tanzânia sob doses de nitrogênio (kg/ha de N) e
bado com nitrogênio (N) densidades de plantas (no de plantas/m2), respectivamente
FONTE: Freitas (2009). FONTE: Freitas (2009).

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74 Produção intensiva de pastagens

Independentemente da adoção ou não ção está associada a sistemas de produção contínua, pode-se citar o trabalho con-
de ajuste no manejo do pastejo, a pasta- mais extensivos, embora essa relação não duzido, durante o verão, por Moreira
gem com alto nível tecnológico tende a signifique que sistemas produtivos inten- (2000), que avaliou a produção do
produzir mais forragem do que a manejada sivos não o possam utilizar. pasto e a produção de bovinos em pas-
com baixo nível tecnológico. Todavia, na De forma geral, sob lotação contínua, os tagens com Brachiaria decumbens cv.
condição de ajuste no manejo do pastejo, pastos manejados muito baixos apresentam Basilisk (capim-braquiária), adubadas
a maior produção é obtida por causa da menor produção de forragem, por causa com quatro doses de N (75, 150, 225 e
ocorrência de maior número de ciclos da reduzida presença de folhas. Em pastos 300 kg/ha de N). O capim-braquiária foi
de pastejo (FREITAS, 2009), ao passo altos, a produção também é menor, pela alta manejado com taxa de lotação variável,
que, na situação de ausência de ajuste taxa de mortalidade das folhas. Nos pastos a fim de manter a altura média do pasto
de manejo, o incremento em produção com alturas intermediárias, a produção é em, aproximadamente, 20 cm. Com esse
de forragem ocorre em razão da maior praticamente constante e próxima do máxi- manejo, os pastos adubados com maiores
massa de forragem por ciclo de pastejo. mo (PINTO, 2000; SBRISSIA, 2004). Com doses de N, situação típica de sistemas
Um fato que deve ser evidenciado é que a base nessa constatação, atualmente valores de alto nível tecnológico, apresentaram
elevada quantidade de massa de forragem de alturas médias dos pastos têm sido re- maior taxa de crescimento e, consequen-
produzida por ciclo de pastejo em sistemas comendados para o adequado manejo de temente, superior acúmulo de forragem
sem ajustes da frequência é composta em gramíneas tropicais manejadas em lotação (Gráfico 6), o que tornou necessário o
sua grande maioria por colmos e material contínua. Esta altura apresenta variações aumento da taxa de lotação da pasta-
senescente, partes estas que fazem com de acordo com a espécie ou com a cultivar gem (Gráfico 7) para manter a altura
que a forragem seja de baixo valor nutri- de planta forrageira utilizada (Quadro 3). média do pasto dentro da meta almejada
cional e de difícil apreensão pelo animal Sob lotação contínua, os sistemas (20 cm). Esse ajuste no manejo do pastejo
no momento do pastejo (SILVEIRA, 2010; pastoris com alto nível tecnológico de- permitiu controle adequado da estrutura
SOUZA JUNIOR, 2011). vem, em geral, ser manejados com maior do pasto adubado, o que possibilitou
Vale ressaltar que, em pastos sob lota- taxa de lotação, a fim de conseguir maior obtenção de forragem com melhor valor
ção intermitente, a frequência de pastejo frequência de pastejo. Isto permitirá o nutritivo (Gráfico 8) e superior produção
é controlada de forma separada de sua controle da estrutura e do valor nutritivo animal por área (Gráfico 9) naqueles
intensidade. Nessa condição, o período de do pasto, a manutenção da eficiência de pastos adubados com maiores doses de
descanso é que determina a frequência de pastejo e garantirá adequada rebrotação N, sem prejuízo ao desempenho animal
pastejo, enquanto a taxa de lotação e o perí- do pasto, da mesma forma que ocorre com (Gráfico 10).
odo de ocupação são os condicionadores da o método de lotação intermitente. A ma- Em pastos manejados sob lotação
intensidade de pastejo. Assim, a redução no nutenção ou a redução da taxa de lotação, contínua e mantidos numa mesma altura
crescimento do pasto, causada por ausência concomitante à realização de adubação do média durante o período de pastejo, a
ou uso limitado de corretivos e adubos pasto, é incoerente e resultará nos mesmos taxa de lotação é que define a frequência
em solos pouco férteis, características de problemas descritos na condição de lota- e a intensidade de pastejo, concomitan-
sistemas de baixo nível tecnológico, pode ção intermitente (Quadro 2). temente. Dessa forma, qualquer decrés-
ser compensada por ajustes no período Como exemplo de ajuste adequa- cimo na produção de tecido foliar deve
de descanso, para minimizar as perdas do no manejo do pastejo em lotação ser seguida de uma redução na taxa de
de tecidos por senescência, desde que a
intensidade de pastejo seja suficiente para
QUADRO 3 - Alturas médias recomendadas para o manejo de pastos tropicais sob lotação
remover o máximo porcentual da forragem
contínua
produzida (SBRISSIA; SILVA; NASCI-
Alturas do pasto
MENTO JUNIOR, 2007). Gramínea Fonte
(cm)
Lotação contínua Capim-marandu 20 a 40 Sbrissia (2004)

O pastejo em lotação contínua é um Gênero Cynodon 10 a 20 Pinto (2000)


método em que os animais têm acesso
Capim-braquiária 20 a 30 Faria (2009)
irrestrito a toda a área de pastejo, e a taxa
de lotação pode variar ou não em função do Capim-xaraés 30 a 45 Pequeno (2010)
manejo e da estacionalidade de produção
Capim-tanzânia 40 a 60 Canto et al. (2008)
de forragem (PEDREIRA, 2002). Sua ado-
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Produção intensiva de pastagens 75

180 6
Acúmulo de forragem (kg/ha/dia)

170 5,5
5,2

Taxa de lotação (UA/ha)


160 153
5
150 142 4,7

140 4,5
131 4,2
130 4
121 3,7
120
3,5
110

100 3
75 150 225 300 75 150 225 300

Dose de N (kg/ha) Dose de N (kg/ha)


Gráfico 6 - Acúmulo de forragem em pastos de B. decumbens cv. Gráfico 7 - Taxa de lotação em pastos de B. decumbens cv. Basilisk
Basilisk adubados com nitrogênio (N) adubados com nitrogênio (N)
FONTE: Dados básicos: Moreira (2000). FONTE: Dados básicos: Moreira (2000).

13,6 1200
14
12,3
Produção por área (kg/ha)

11,0 1008
11 1000
9,6
PB (% MS)

879

8 800 749

620

5 600
150 225 300 75 150 225 300
75
Dose de N (kg/ha) Dose de N (kg/ha)
Gráfico 8 - Proteína bruta (PB) da forragem em pastos de B. Gráfico 9 - Produção animal por unidade de área em pastos de
decumbens cv. Basilisk adubados com nitrogênio (N) B. decumbens cv. Basilisk adubado com nitrogênio
FONTE: Dados básicos: Moreira (2000). (N)
NOTA: MS - Matéria seca. FONTE: Dados básicos: Moreira (2000).

lotação, o que, consequentemente, dimi- 20 dias, uma folha desta planta será pas- mesma altura média pode resultar em me-
nui a frequência de desfolhação e, com tejada duas vezes durante o período em nor consumo do pasto, pela necessidade de
efeito, a eficiência de pastejo (NABIN- que estiver viva. Caso o intervalo entre menor taxa de lotação e, consequentemen-
GER, 1999), caso a duração de vida da duas desfolhações consecutivas aumente te, de frequência de pastejo inferior. Isso
folha se mantenha inalterada. Isso ocorre de 20 para 25 dias, o que corresponde a pode causar desequilíbrio entre crescimen-
porque o número máximo de desfolhação uma redução na frequência de desfolha- to e consumo de forragem, com prejuízo à
que uma folha pode sofrer é determinado ção, a folha será pastejada apenas uma eficiência de pastejo.
pela sua duração de vida e frequência de vez enquanto permanecer viva, fazendo Por outro lado, em sistemas pastoris
desfolhação (MAZZANTI; LEMAIRE, com que as perdas por senescência sejam intensivos, em que se utilizam níveis
1994). Um exemplo prático para esse acentuadas. elevados de adubos, o método de pastejo
fato é um pasto onde a duração média de Dessa forma, nos sistemas pastoris em lotação contínua, com taxa de lotação
vida de uma folha seja de 40 dias. Caso o extensivos, em que a utilização de adubos variável para manutenção da mesma altura
intervalo entre duas desfolhações conse- é mínima ou ausente, a adoção de lotação média do pasto, permite manter equilíbrio
cutivas em uma planta individual seja de contínua e a manutenção do pasto com a estável entre crescimento e consumo de
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76 Produção intensiva de pastagens

forragem. A maior produção de forragem


é colhida eficientemente em razão da maior
0,8 Y = 0,679
taxa de lotação.

Desempenho animal (kg/animal/dia)


As considerações apresentadas vão
contra o senso comum de que o método 0,6

de pastejo em lotação contínua deve ser


utilizado apenas nos sistemas de pro- 0,4
dução extensivos ou com baixo nível
tecnológico. 0,2

EFICIÊNCIA DE PASTEJO EM 0
SISTEMAS DE ALTO NÍVEL 75 150 225 300
TECNOLÓGICO
Dose de N (kg/ha)
Seja em condição de lotação inter-
mitente, seja em lotação contínua, os
Gráfico 10 - Desempenho de bezerros em pastos de B. decumbens cv. Basilisk adubado
ajustes na frequência e intensidade de com nitrogênio (N)
pastejo são formas efetivas de melhorar FONTE: Dados básicos: Moreira (2000).
sua eficiência, definida como o porcentual
acumulado da forragem que é consumida
pelo animal.

- Variação nas características +


- Variação nas características +

Em sistemas de produção comercial,


Produção de
é comum obter valores de eficiência Produção de
forragem
forragem
de pastejo de cerca de 40% a 45%
(BARIONI et al., 2003), e o potencial
para melhoria desse índice permitiria a
obtenção de valores da ordem de 90%
(DIFANTE et al., 2009). Nesse contexto, Eficiência de Eficiência de
pastejo pastejo
em pastos manejados de forma intensiva
e, dessa forma, com maior produtividade, - Nível de adubo + - Nível de adubo +
deve-se modificar o manejo para evitar
A B
diminuição na eficiência de pastejo
(Gráfico 11A), o que ocorre comumente
quando não se adotam períodos de des-
- Variação nas características +

canso mais curtos nos pastos sob lotação


Produção de
intermitente, ou quando a taxa de lotação forragem
não é incrementada em pastos sob lota-
ção contínua.
O aumento da frequência e da in-
tensidade de pastejo é uma maneira
Eficiência de
de manter controlada sua eficiência, pastejo
em condições de maior crescimen-
to do pasto em sistemas intensivos - Nível de adubo +
(Gráfico 11B). Ademais, a possibilidade de C
incremento mais acentuado na frequência
Gráfico 11 - Relação teórica entre nível de utilização de insumos (adubos, corretivos,
e, sobretudo, na intensidade de desfolhação
água, etc.), produção de forragem e eficiência de pastejo em sistemas de
em pastagens manejadas, pode até elevar produção
a eficiência de pastejo (Gráfico 11C), com FONTE: Fonseca et al. (2008).
resultado positivo sobre a eficiência bioe- NOTA: Figura 11A - Sem ajuste no manejo do pastejo. Figura 11A e 11B - Com ajuste
conômica da adubação de pastagens. no manejo do pastejo.

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Produção intensiva de pastagens 77

OTIMIZAÇÃO DA
REBROTAÇÃO EM 30
SISTEMAS DE ALTO NÍVEL 25,6 A
TECNOLÓGICO 25 22,2 B

As condições de clima (insolação, 20

t/ha de MS
temperatura, precipitação pluvial) são
distintas e específicas em cada estação do 15
ano, o que determina mudanças nos tipos
10
dos processos que ocorrem no pasto, como
crescimento, senescência e florescimento, 5
dentre outros. Diante dessa situação, o ma-
nejo do pastejo deveria ser contextualizado 0
25 cm 15 - 25 cm
às estações do ano, pois uma única ação de
manejo não seria eficiente e vantajosa sob Tratamento
condições abióticas diferentes.
Gráfico 12 - Produção de forragem em pastos de B. decumbens cv. Basilisk manejado
Nesse sentido, Santos (2009) consta- sob lotação contínua e com altura fixa ou variável durante todo o período
tou que o manejo do pastejo em lotação experimental
contínua, concebido de forma sazonal FONTE: Santos (2009).
por meio do rebaixamento do pasto de NOTA: 25 cm: pastos mantidos com 25 cm de altura média durante todo o período
B. decumbens cv. Basilisk, no início do experimental; 15-25 cm: pastos com 15 cm no inverno e 25 cm na primavera
inverno, e seu posterior aumento para e verão.
Letras maiúsculas comparam médias das estratégias de manejo.
25 cm no início da primavera são vantajo- MS - Matéria Seca
sos, quando comparado à manutenção do
pasto em altura fixa (25 cm, em média),
durante as estações do ano. Conforme ciclagem de nutrientes, via senescência, CONSIDERAÇÕES FINAIS
este autor, o manejo sazonal do pastejo na pastagem, o que implica em maior
Em sistemas de alto nível tecnológico,
aumentou a taxa de aparecimento foliar, necessidade de aporte de nutrientes
ocorre aumento no crescimento da planta
favoreceu o perfilhamento no início da externos ao sistema produtivo via aduba-
forrageira. Com isso, deve-se aumentar
primavera, reduziu a senescência das ção. Como a adubação é prática comum
a frequência de pastejo, o que pode ser
folhas, bem como resultou em acúmulo em sistemas de pastejo com alto nível
conseguido pela adoção de maior taxa
superior de forragem (Gráfico 12). Ao tecnológico, o rebaixamento do pasto
de lotação, no caso da lotação contínua,
considerar uma eficiência de pastejo de no inverno não teria um efeito negativo
sobre a perenidade do pasto. ou pelo emprego de menor período de
80% e um consumo diário de forragem
Em condições de lotação intermitente, descanso, quando se emprega a lotação
por UA de 12 kg de matéria seca (MS),
ainda é necessária a realização de pesquisas intermitente. Em pastos adubados, a
esse adicional de produtividade primária
possibilitaria aumento na taxa de lotação para avaliar se a redução do resíduo pós- intensidade de pastejo também pode ser
em até 1,2 UA/ha durante a primavera e pastejo (altura do pasto após a retirada dos aumentada, dentro dos limites tolerados
o verão, estações em que o acúmulo de animais do piquete) resulta nas mesmas pela planta forrageira, sem comprometer a
forragem foi majoritário. vantagens obtidas por Santos (2009), em sua perenidade. A adoção desses ajustes no
Em sistemas intensivos ou de alto situação de lotação contínua. manejo do pastejo permite, dentre outros
nível tecnológico, a proposta de rebai- Vale ressaltar que as gramíneas for- fatores, manter ou melhorar os níveis de
xamento do pasto no inverno pode ser rageiras de maior altura natural, normal- utilização da forragem produzida, controlar
vantajosa, à medida que se antecipa a mente manejadas em lotação intermitente a estrutura do pasto e assegurar maior efici-
rebrotação e a produção de forragem na e com colmo mais espesso e lignificado, ência do uso de insumos (adubo, corretivo,
primavera. Com isso, a pastagem pode podem oferecer maior dificuldade de rebai- água, suplemento, etc.).
ser utilizada mais cedo na próxima esta- xamento pelos animais em pastejo durante A partir do momento que ajustes no
ção de pastejo e, com efeito, os recursos o inverno. Essa limitação, todavia, é menos manejo são realizados, fica claro que os
e insumos despendidos no manejo da acentuada com gramíneas de menor altura conceitos de dias fixos de ocupação e des-
pastagem intensiva são utilizados de natural, tal como a maioria daquelas mane- canso no pastejo com lotação intermitente
maneira mais eficiente. O rebaixamento jadas em lotação contínua (gramíneas do não atendem às premissas do crescimento
do pasto no inverno resulta em menor gênero Brachiaria). e desenvolvimento das plantas forrageiras
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78 Produção intensiva de pastagens

durante as estações do ano. Da mesma pasto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, ficiency of herbage utilization. Grass and
forma, no pastejo com lotação contínua, o Brasília, v.43, n.3, p.429-435, mar. 2008. Forage Science, v.49, n.3, p.352-359, Sept.
crescimento não é constante durante o ano CARNEVALLI, R.A. et al. Herbage
������������
pro- 1994.
e ajustes na taxa de lotação, objetivando duction and grazing losses in Panicum MOREIRA, L.M. Características estrutu-
mudanças na frequência de pastejo, fazem maximum cv. Mombaça under four grazing rais do pasto, composição química e de-
com que seja necessário um planejamento managements. Tropical Grasslands, v.40, sempenho de novilhos em pastagem de
p.165-176, 2006. Brachiaria decumbens cv. Basilisk aduba-
dentro da propriedade, para que seja pos-
DIFANTE, G.S. dos. et al. ����������������
Ingestive behav- da com nitrogênio. 2000. 132p. Tese (Dou-
sível variar o número de animais que estão
iour, herbage intake and grazing efficiency torado em Zootecnia) – Universidade Fede-
presentes em uma determinada área. Dessa
of beef cattle steers on tanzania guineagrass ral de Viçosa, Viçosa, MG.
forma, os gerenciamentos do rebanho e da
subjected to rotational stocking manage- NABINGER, C. Eficiência do uso de pasta-
planta forrageira dentro da propriedade de- ments. Revista Brasileira de Zootecnia, gens: disponibilidade e perdas de forragem.
vem buscar o que os resultados de pesquisa Viçosa, MG, v.38, n.6, p.1001-1008, June In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTA-
demonstram como condições ótimas de 2009. GEM, 14., 1997, Piracicaba. Anais... Funda-
manejo do pastejo, que garantam, conco- FARIA, D.J.G. Características morfogênicas mentos do pastejo rotacionado. Piracicaba:
mitantemente, adequadas produtividades e estruturais dos pastos e desempenho de FEALQ, 1999. p.213-252.
do animal e da planta. Entretanto, seguir novilhos em capim-braquiária sob diferen- PEDREIRA, B.C. e; PEDREIRA, C.G.S.; SIL-
essas recomendações de manejo do pastejo, tes alturas. 2009. 145f. Tese (Doutorado em
VA, S.C. da. Estrutura do dossel e acúmulo
com base no crescimento do pasto, não é Zootecnia) – Universidade Federal de Viço-
de forragem de Brachiaria brizantha cul-
sa, Viçosa, MG.
tarefa fácil e, por isso, o êxito na atividade tivar Xaraés em resposta a estratégias de
só será alcançado mediante dedicação e FONSECA, D.M.; SANTOS, M.E.R.; MAR- pastejo. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
empenho por parte do manejador do pasto. TUSCELLO, J.A. Adubação de pastagens no Brasília, v.42, n.2, p.281-287, fev. 2007.
Brasil: uma análise crítica. In: SIMPÓSIO
PEDREIRA, C.G.S. Avanços metodológicos
SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PAS-
REFERÊNCIAS na avaliação de pastagens. In: REUNIÃO
TAGEM, 4.; SIMPÓSIO INTERNACIONAL
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
BARBOSA, R.A. et al. Capim-tanzânia sub- SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL EM PASTE-
ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais... A
metido a combinações entre intensidade e JO, 2., 2008, Viçosa, MG. Anais... Viçosa,
produção animal e a sociedade brasileira.
frequência de pastejo. Pesquisa Agropecuá- MG: UFV, 2008, p.295-334.
ria Brasileira, Brasília, v.42, n.3, p.329-340, Recife: Sociedade Brasileira de Zootecnia,
FREITAS, F.P. de. Produtividade e valor nu- 2002. p.100-150.
mar. 2007. tritivo do capim-tanzânia com diferentes
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do uso de recursos forrageiros na produção nio. 2009. 44f. Dissertação (Mestrado em como condicionante da estrutura do dos-
de bovinos em pastejo. In: SIMPÓSIO SO- Zootecnia) – Universidade Federal de Viço- sel e da assimilação de carbono em pastos
BRE MANEJO DA PASTAGEM, 20., 2003, sa, Viçosa, MG 2009. de capim xaraés [Brachiaria brizantha (A.
Piracicaba. Anais... Piracicaba: FEALQ, Rich) Stapf. cv. Xaraés] sob lotação contí-
HODGSON, J. Herbage production and uti-
2003. p.105-154. nua. 2010. 75f. Dissertação (Mestrado em
lization. In: HODGSON, J. Grazing mana-
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Book 1.indb 78 3/5/2012 11:25:35


Produção intensiva de pastagens 79

SBRISSIA, A F. Morfogênese, dinâmica do tejo. In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE submetido a estratégias de pastejo rotati-
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acúmulo de forragem e eficiência de pas- fológica da forragem consumida por bovi-
SBRISSIA, A.F.; SILVA, S.C.; NASCIMEN- tejo em pastos de capim-mulato submeti- nos de corte durante o rebaixamento do
TO JUNIOR, D. Ecofisiologia de plantas for- dos a estratégias de pastejo rotativo. 2010. capim-marandu submetido a estratégias
rageiras e o manejo do pastejo. In: SIMPÓ- 119f. Tese (Doutorado em Zootecnia) – Uni- de pastejo rotativo Pesquisa Agropecuária
SIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM, 24., versidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. Brasileira, Brasília, v.42, n.6, p.883-890,
2007, Piracicaba. Anais... Produção de ru- jun. 2007.
SOUSA, B.M. de L. Morfogênese e caracte-
minantes em pastagens. Piracicaba: FEALQ,
rísticas estruturais dos capins andropógon VOLTOLINI, T.V. Adequação protéica em
2007. p.153-176.
e xaraés submetidos a três alturas de corte. rações com pastagens ou com cana-de-açú-
SILVA, S.C. da. Fundamentos para o manejo 2009. 108f. Dissertação (Mestrado em Zoo- car e efeito de diferentes intervalos entre
do pastejo de plantas forrageiras dos gêne- tecnia) – Universidade Federal de Viçosa, desfolhas da pastagem de capim elefante
ros Brachiaria e Panicum. In: SIMPÓSIO Viçosa, MG. sobre o desempenho lactacional de vacas
SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA PAS- leiteiras. 2006. 167p. Tese (Doutorado em
SOUZA JUNIOR, S.J. de. Modificações na
TAGEM, 2., 2004, Viçosa, MG. Anais... Vi- Agronomia) – Escola Superior de Agricultu-
estrutura do dossel, comportamento in-
çosa, MG: UFV, 2004. p.347-385. ra “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
gestivo e composição da dieta de bovinos
SILVA, S.C. da; CORSI, M. Manejo do pas- durante o rebaixamento do capim-mulato Paulo, 2006.

La
Cercas eletrificadas nç
n o am
benefícios e recomendações 99 en
t o
As cercas eletrificadas são amplamente utilizadas
em vários países, principalmente Estados Unidos
e Austrália.
Sua utilização no Brasil vem crescendo nos
últimos anos, principalmente por suas diversas
aplicações e benefícios.
Para uma correta instalação de cerca eletrificada,
devem-se utilizar materiais próprios que tenham
eficiência em conter os animais, além de lhes
proporcionar segurança.
Este Boletim Técnico traz informações sobre a
utilização de cercas elétricas em propriedades
ruais, bem como benefícios desse sistema e as
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80 Produção intensiva de pastagens

Potencial das forrageiras tropicais para a produção


de leite a pasto
Carlos Augusto de Miranda Gomide 1
Domingos Sávio Campos Paciullo 2
Mirton José Frota Morenz 3
Fermino Deresz 4
Fernando César Ferraz Lopes 5

Resumo - O uso de pastagens para alimentação é reconhecidamente a forma mais eco-


nômica de produção de ruminantes. Da mesma forma, a exploração de sistemas inten-
sivos de produção tem permitido melhores retornos na atividade pecuária, sobretudo
na de leite. A diversidade de gramíneas tropicais, associada ao potencial de produção,
representa uma vantagem competitiva para a produção de leite a pasto no Brasil. Adi-
cionalmente, estudos têm apontado para o alto potencial das forrageiras tropicais em
proporcionar produção de leite com altos teores de substâncias nutracêuticas como o
ácido linoleico conjugado – conjugated linoleic acid (CLA). Contudo, o sucesso da ex-
ploração intensiva de pastagens tropicais depende do correto manejo do pastejo, a fim
de garantir disponibilidade de forragem com boa estrutura do pasto, forragem de bom
valor nutritivo e alta eficiência de uso da forragem produzida. O manejo do pasto inte-
rage inclusive com a estratégia de suplementação adotada, que deve ser vista como um
componente do sistema para a obtenção do retorno desejado.

Palavras-chave: Pastagem. Pasto. Produção de forragem. Suplementação. Valor nutriti-


vo. Produção leiteira. Ácido graxo.

INTRODUÇÃO Entretanto, especialistas têm apontado várias aplicações financeiras, só foi supe-
que, com o aumento de 10% na produti- rada pela aplicação em fundos de ações
Apesar das dimensões continentais do
vidade dos sistemas pecuários, é possível (NOGUEIRA, 2008 apud PEDROSO;
Brasil, é cada vez maior a pressão ambien-
manter as atuais produções de leite e carne, DANÉS, 2011).
tal contra a abertura de novas fronteiras
mesmo com a substituição de pastagens por Os resultados preliminares do Censo
agrícolas. Associado a isto, a expansão áreas de culturas de cana, soja, milho etc. Agropecuário 2006 revelam pequena re-
da cultura da cana-de-açúcar e da sil- Outro aspecto a ser considerado é que, na dução na área de pastagens, passando de
vicultura, promovida pelo crescimento pecuária, os sistemas intensivos de produ- 177 milhões de hectares, em 1996, para 172
do programa brasileiro de agroenergia, ção de leite têm mostrado maior rentabi- milhões, em 2006 (IBGE, 2007). Já a área
tem provocado impacto sobre as áreas de lidade, desde que administrados de forma de pastagens cultivadas vem crescendo nos
pastagem e à atividade pecuária como um eficiente. Estudo de rentabilidade financeira últimos anos, mostrando, de certa forma,
todo, quer pela competição direta entre de diversas atividades agropecuárias, no uma busca por sistemas mais eficientes de
estas atividades, quer pela valorização ano de 2007, apontou a produção intensiva produção.
fundiária, que eleva o custo de oportuni- de leite (25 mil litros/hectare/ano), como O elevado potencial de produção de
dade da terra. a mais rentável, e, quando comparada a forragem das gramíneas tropicais pode ser

1
Engo Agro, Pós-Doc, Pesq. EMBRAPA Gado de Leite, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: cagomide@cnpgl.embrapa.br
2
Engo Agr o, Dr., Pesq. EMBRAPA Gado de Leite, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: domingos@cnpgl.embrapa.br
3
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EMBRAPA Gado de Leite, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: morenz@cnpgl.embrapa.br
4
Zootecnista, Ph.D., Pesq. EMBRAPA Gado de Leite/Bolsista CNPq, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: deresz@cnpgl.embrapa.br
5
Engo Agro, Dr., Pesq. EMBRAPA Gado de Leite, CEP 36038-330 Juiz de Fora-MG. Correio eletrônico: fernando@cnpgl.embrapa.br

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Produção intensiva de pastagens 81

usado para incrementar os níveis de de- o pastejo de bovinos leiteiros. As taxas de ção de leite. Além da sua comprovada
sempenho animal a pasto com claras van- acúmulo de lâminas foliares, com base na superioridade para formação de capinei-
tagens competitivas. Contudo, o sistema de MS, têm variado entre 94 e 164 kg/ha/dia, ras, diversos autores demonstraram seu
produção, seja com base na utilização de durante a época chuvosa, dependendo da potencial para uso sob pastejo de lotação
pastagens ou não, envolve vários aspectos espécie e do manejo adotado (Quadro 1). rotativa (DERESZ, 2001; CARVALHO et
que vão além da mudança ou renovação do Dentre as forrageiras cultivadas, as al., 2005; VOLTOLINI et al., 2010).
pasto. O manejo do sistema como um todo gramíneas do gênero Brachiaria são Diversos sistemas de manejo têm sido
envolve práticas de adubação da pastagem, as mais usadas no Brasil. A espécie B. propostos para o capim-elefante, sob lota-
controle da estrutura e do valor nutritivo decumbens disseminou-se em função de ção rotativa. Variações sobre o número de
do pasto, previsão alimentar para o período suas características: boa adaptabilidade dias de ocupação e descanso do piquete,
seco do ano, uso de suplementação volu- aos solos ácidos e pobres, fácil multipli- altura de resíduo pós-pastejo, taxa de lo-
mosa e concentrada, além do manejo do cação por sementes, alta capacidade de tação animal, entre outros componentes do
rebanho propriamente dito. competição com plantas invasoras e bom sistema são encontrados em Deresz (2001)
Este artigo aborda as principais gra- desempenho animal, quando comparado e Carvalho et al. (2006).
míneas forrageiras utilizadas em sistemas às pastagens nativas. Entretanto, proble- Apesar de vários trabalhos comprova-
intensivos de produção de leite, com base mas associados com a suscetibilidade às rem o potencial produtivo do capim-ele-
em pastagens, visando aspectos da produ- cigarrinhas-das-pastagens e à fotossensi- fante, manejado com intervalo fixo de 30
ção e composição do leite a pasto, inclusive bilização estimularam a busca por outras dias de descanso (DERESZ, 2001; CAR-
quanto ao perfil de ácidos graxos de sua espécies (VALLE et al., 2008). VALHO et al., 2005; PACIULLO et al.,
gordura, e apresentar estratégias de manejo A B. brizantha cv. Marandu vem 2008), sob lotação rotativa, é reconhecida
nutricional das vacas e da pastagem, para substituindo as áreas de B. decumbens, a dificuldade enfrentada para manutenção
melhoria dos índices de produção. em decorrência de sua boa produtividade da estrutura adequada do pasto em função
e resistência às cigarrinhas dos gêneros do rápido alongamento do colmo, espe-
GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS Notozulia e Deois. Outras duas cultivares cialmente em manejo intensivo, com altas
TROPICAIS PARA PRODUÇÃO de B. brizantha foram liberadas mais re- doses de nitrogênio (N) e outros nutrientes
DE LEITE A PASTO centemente, visando à diversificação de (PACIULLO et al., 2003; CARVALHO et
O uso de espécies com alto potencial pastagens. O capim-xaraés é uma cultivar al., 2005).
forrageiro tornou-se uma realidade a partir que se destaca pela elevada capacidade Pesquisas com intervalos de pastejo
do processo de intensificação da produção de suporte, enquanto o capim-piatã pro- flexíveis ainda são escassas para o capim-
de leite a pasto. Gramíneas dos gêneros porciona alto desempenho por animal, em elefante. Estudo recente sobre a cultivar Na-
Brachiaria, Panicum, Pennisetum e decorrência de seu elevado valor nutritivo pier indicou que o manejo do pastejo, com
Cynodon têm sido introduzidas em sistemas (EUCLIDES et al., 2009). base na interceptação de luz, proporcionou
de pecuária leiteira, por suas características O capim-elefante é uma das forragei- melhor valor nutritivo e maior produção
de elevada capacidade de produção de ma- ras que têm contribuído para alimentação de leite que aquele com base no número
téria seca (MS) e bom valor nutricional. De animal em sistemas intensivos de produ- de dias de descanso. Nesse estudo, a altura
fato, em condições tropicais, o grande po-
tencial produtivo das gramíneas forrageiras, QUADRO 1 - Taxas de acúmulo de lâminas foliares (kg/ha/dia de MS) de gramíneas forra-
usadas para formação de pastagens, cons- geiras tropicais
titui uma das maiores vantagens competiti-
Época do ano
vas, quando comparadas com gramíneas de Espécie Fonte
clima temperado. Sob o ponto de vista de Chuvosa Seca
nutrição animal, não basta elevada produ-
P. purpureum cv. Napier 125 25 Paciullo et al. (2003)
tividade, e sim alta proporção de folhas na
biomassa do pasto. Este fato tem relevância, P. purpureum cv. Napier 94 - Carvalho et al. (2005)
considerando o melhor valor nutritivo e a
C. dactylon cv. Coastcross 127 53 Paciullo et al. (2005)
preferência dos animais em consumirem
folhas em relação aos colmos. Neste con- B. brizantha cv. Xaraés 121 - Pedreira, Pedreira e Silva (2009)
texto, diferentes estudos têm revelado o Gomide, Gomide e Alexandrino
P. maximum cv. Mombaça 164 -
elevado potencial de produção de folhas das (2007)
principais gramíneas tropicais usadas para NOTA: MS - Matéria seca.

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82 Produção intensiva de pastagens

para entrada dos animais no piquete, que se determinante não só do desempenho das concentrado na estação das chuvas, Mota
associou à condição de 95% de intercepta- vacas, mas, principalmente, da eficiência (2006) relatou taxa de substituição média
ção luminosa, foi de 100 cm (VOLTOLINI econômica do próprio sistema, já que o de 0,54.
et al., 2010). pasto constitui o mais barato dos alimentos. Além da quantidade de concentrado
A espécie Panicum maximum é uma O consumo voluntário determina a quanti- fornecida, outro fator que influencia no
das mais importantes para a produção de dade e a eficiência com que os nutrientes consumo de pasto é a estratégia de suple-
bovinos nas regiões de climas tropical e digestíveis ingeridos são utilizados nos mentação concentrada. Alvim et al. (1999)
subtropical e vem ganhando importância processos metabólicos dos animais, para avaliaram duas estratégias de fornecimento
em sistemas de produção leiteira inten- atendimento dos requisitos nutricionais de suplemento concentrado ao longo da
sivos. Entre as cultivares, destacam-se a para mantença, produção e reprodução. lactação de vacas da raça Holandesa ma-
Tanzânia e a Mombaça, que apresentam Assim, sua correta e acurada determinação nejadas em pastagem de capim-coastcross
características favoráveis ao processo de ou estimativa faz-se crucial ao balancea- sob lotação rotacionada. Foram estudadas
intensificação do manejo da pastagem, mento de dietas mais eficientes e desenvol- a quantidade fixa de 6 kg/vaca/dia de
tais como elevada produção de MS e bom vimento de estratégias de suplementação, concentrado e as quantidades variáveis de
valor nutritivo da forragem. Os estudos que resultem no aumento da eficiência concentrado (9, 6 e 3 kg/vaca/dia, respec-
têm indicado que as alturas em pré-pastejo produtiva e econômica dos sistemas de tivamente, nos terços inicial, médio e final
mais adequadas para o manejo do pastejo produção a pasto. da lactação). Esses autores relataram que
do capim-tanzânia e do capim-mombaça os consumos totais médios de MS foram,
Em sistemas de produção com base no
em regime de lotação intermitente são 70 e respectivamente, de 18,2 e 18,8 kg/vaca/
uso do pasto como principal fonte de nu-
dia, ao fornecer quantidades fixas ou vari-
90 cm, respectivamente (BARBOSA et al., trientes, vários são os fatores que concor-
2007; SILVA, 2011). Em geral, os resíduos áveis de concentrado, correspondendo, em
rem para o controle do consumo voluntário
pós-pastejos avaliados têm variado entre média, a 3,1% do peso vivo (PV) das vacas.
dos ruminantes. Nestes sistemas, fatores
25 e 50 cm de altura para o capim-tanzânia As variações observadas no consumo de
relacionados com o manejo e a utilização
e 30 e 50 cm para o mombaça. MS de pasto foram diretamente relaciona-
da pastagem atuam de forma decisiva, mo-
O gênero Cynodon, tradicionalmente das com a disponibilidade e a composição
dificando a estrutura do dossel forrageiro,
conhecido e explorado como um dos química da massa de forragem, e inversa-
a composição morfológica (proporção de
mais ricos recursos forrageiros para mente associadas à quantidade do suple-
colmos, folhas e material morto) e a com-
áreas tropicais e subtropicais, tem sido mento concentrado consumido pelas vacas
posição química da forragem disponível,
objeto de recente atenção por parte da (Quadro 2). Esses autores recomendaram o
com reflexos na quantidade de pasto consu-
pesquisa agropecuária. Entre as espécies fornecimento estratégico, em quantidades
mida pelos animais (LOPES et al., 2004). variáveis, ao longo da lactação em detri-
pertencentes a esse gênero, destacam-se Quanto ao nível de suplementação
algumas originárias da África, tais como mento da estratégia fixa de suplementação
concentrada, de modo geral, a utilização com 6 kg/vaca/dia.
Cynodon dactylon (L.) Pers., Cynodon de quantidades moderadas de concen-
plectostachyus, Cynodon nlemfuenesis e A utilização de volumosos na suple-
trado resulta na redução do consumo de mentação da pastagem durante a estação
alguns híbridos, como Tifton 68 e Tifton
forragem – em um fenômeno denominado seca do ano e seu efeito sobre o consumo
85, desenvolvidos nos Estados Unidos.
“efeito de substituição” – com incremento de MS de pasto por vacas em lactação
Vários trabalhos desenvolvidos com gra-
no consumo total de MS. Destaca-se que foi revisada por Lopes (2008). Este au-
míneas do gênero Cynodon comprovaram
o impacto na depressão do consumo de tor sumarizou resultados dos trabalhos
o seu potencial em proporcionar elevadas
forragem é, de modo geral, proporcio- publicados sobre o tema, evidenciando
produções de leite, quando submetidas ao
nal ao nível de suplemento concentrado a queda no consumo de pasto durante
pastejo. Para vacas em lactação, são apre-
fornecido. a estação da seca, bem como o incre-
sentadas, na literatura, produções de leite
Lopes et al. (2005), ao utilizarem vacas mento no consumo voluntário de MS do
entre 15 e 20 kg/vaca/dia, suplementadas
Holandês x Zebu em lactação em pastagem suplemento volumoso. Trabalhando com
com concentrado na quantidade média de
de capim-elefante, relataram redução de vacas Holandês x Zebu sob condição
4,5 kg/vaca/dia (VILELA, 2005).
0,42 kg de MS de pasto por quilo de con- de pastejo em capim-elefante com 30 a
centrado consumido. Em estudo realizado 45 dias de intervalo de desfolha, Lopes
VALOR NUTRITIVO DO PASTO com vacas Holandesas sob condição de et al. (2004) relataram decréscimo de
E CONSUMO DE FORRAGEM
pastejo em capim-coastcross (Cynodon 0,4% do PV/mês no consumo de MS de
Em sistemas de produção animal a pasto, dactylon cv. Coastcross), suplementado pasto, desde fevereiro até setembro. Por
o consumo de forragem é o principal fator com 2,7 ou 5,3 kg/vaca/dia de MS de outro lado, segundo estes autores, foi
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Produção intensiva de pastagens 83

QUADRO 2 - Efeito da estratégia de suplementação concentrada da pastagem de capim- gem também interferem no consumo.
coastcross (Cynodon dactylon cv. Coastcross) sobre o consumo total de MS e No Quadro 4, são descritas informações
de pasto, sobre a produção de leite de vacas Holandesas em lactação e sobre sobre esses tipos de estudo e, com base nos
a disponibilidade de massa de forragem
resultados obtidos, não se pode indicar o
Estratégia de
(1)
melhor capim, a ser amplamente recomen-
suplementação com
dado para formação de pastagens em siste-
Variáveis concentrado
mas intensivos de produção de leite. Assim,
(2)
Fixa Variável
(3) a utilização de uma ou de outra gramínea
em específica região estará na dependência
0 a 90 dias da lactação de recomendação técnica, adaptabilidade,
relevo, condições edafoclimáticas e de
Massa de forragem disponível na pastagem (kg/ha de MS) 4.280 4.445
clima, facilidade de manejo etc.
Consumo de MS de pasto (kg/vaca/dia) 12,5 10,4
O manejo da pastagem influencia di-
Consumo total de MS (pasto + concentrado) (kg/vaca/dia) 18,0 18,7 retamente o consumo voluntário dos ani-
Produção média de leite (kg/vaca/dia) 21,5 25,5 mais, com reflexos tanto na estrutura do
dossel quanto no valor nutritivo do pasto.
91 a 180 dias da lactação
Pastagens mal manejadas, não adubadas,
Massa de forragem disponível na pastagem (kg/ha de MS) 4.913 5.287 com períodos de descanso extensos e/ou
Consumo de MS de pasto (kg/vaca/dia) 11,8 12,9 elevada altura de resíduo pós-pastejo,
caracterizam-se por apresentar forragem
Consumo total de MS (pasto + concentrado) (kg/vaca/dia) 17,3 18,4
com elevados teores da fração fibrosa e
Produção média de leite (kg/vaca/dia) 19,8 20,6 menores teores de proteína bruta (PB).
181 a 270 dias da lactação O aumento no teor da fração fibrosa do
pasto implica na menor taxa de degrada-
Massa de forragem disponível na pastagem (kg/ha de MS) 5.854 6.007
ção no rúmen e maior tempo de retenção,
Consumo de MS de pasto (kg/vaca/dia) 13,4 14,9 sendo o consumo voluntário limitado
Consumo total de MS (pasto + concentrado) (kg/vaca/dia) 18,9 17,7 pelo enchimento físico do rúmen. Além
Produção média de leite (kg/vaca/dia) 14,3 13,4
disso, os menores teores de PB resultam
em menor disponibilidade de compostos
Média geral (0 a 270 dias da lactação) nitrogenados para a síntese de proteína
Massa de forragem disponível na pastagem (kg/ha de MS) 5.015 5.246 microbiana no rúmen, com consequente
redução das taxas de degradação ruminal
Consumo de MS de pasto (kg/vaca/dia) 12,7 13,3
da MS, contribuindo para o aumento do
Consumo total de MS (pasto + concentrado) (kg/vaca/dia) 18,2 18,8 tempo de retenção do alimento no rúmen
Produção média de leite (kg/vaca/dia) 18,5 19,8 e redução do consumo.
FONTE: Dados básicos: Alvim et al. (1999).
NOTA: MS - Matéria seca. MANEJO DA PASTAGEM PARA
(1)Concentrado com 92% de MS; 23,5% de proteína bruta (PB); e 80% de nutrientes PRODUÇÃO DE LEITE
digestíveis totais (NDT). (2)6 kg/vaca/dia de concentrado ao longo da lactação. (3)9, 6 e
A produção de leite por hectare é resul-
3 kg/vaca/dia, respectivamente, nos terços inicial, médio e final da lactação.
tado da produção por animal e do número
de animais mantidos na área. A produção
observado incremento no consumo diário sobre o consumo de pasto. No Quadro 3, por animal reflete a qualidade da forragem
do suplemento volumoso utilizado, qual são apresentados os dados reportados por ingerida, enquanto o número de animais
seja, a cana-de-açúcar mais ureia, a par- Paciullo et al. (2008), que demonstraram mantidos por hectare reflete o potencial
tir de junho (1,0% do PV) até setembro que o fornecimento de silagem de milho, produtivo do pasto. Considerando os teores
(1,6% do PV). além da suplementação com farelo de soja, de PB e os coeficientes de digestibilidade
De modo geral, tem sido demonstrado promoveu relativa estabilização no consumo das gramíneas tropicais, estima-se um
que a suplementação volumosa da pastagem de MS total ao longo do ano. potencial de produção de leite de 10 a
é eficiente em minimizar os efeitos negativos Fatores relacionados com a espécie de 14 kg/vaca/dia exclusivamente a pasto.
na estacionalidade da produção da forragem gramínea utilizada na formação da pasta- Entretanto, com a correta exploração da
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84 Produção intensiva de pastagens

QUADRO 3 - Consumo total e médio diário de MS do pasto de capim-elefante, em função alta capacidade produtiva das gramíneas
do ano e da estação do ano tropicais é possível obter altas taxas de
Ano Verão Outono Inverno
lotação e, assim, incrementar a produção
animal por área.
Consumo de pasto (%PV) Das etapas envolvidas na produção ani-
1999 2,45 Aa 2,47 Aa 0,80 Bb mal a pasto, a utilização da forragem pro-
duzida é a que apresenta maior chance de
2000 2,70 Aa 2,27 Ab 1,11 Ac
manipulação por meio do manejo (Fig. 1).
2001 2,54 Aa 2,00 Bb 0,61 Bc A Figura 1 evidencia a importância em
Consumo total se preocupar com práticas de manejo que
1999 2,45 Aa 2,47 Aa 2,77 Aa permitam otimizar a utilização do pasto.
Tal aspecto ganha relevância para gramíne-
2000 2,70 Aa 2,27 Ab 2,46 Bab
as tropicais, sobretudo as cespitosas, que,
2011 2,54 Aa 2,00 Bb 2,28 Ba embora apresentem altas taxas de cresci-
NOTA: Médias seguidas por letras diferentes, minúsculas na linha e maiúsculas na coluna, mento na época chuvosa (Quadro 1), se
diferem (P<0,05) entre si. caracterizam também por rápido acúmulo
Valores apresentados para o inverno referem-se ao consumo de pasto, somados aos
de colmos e de material senescente, o qual
consumos individuais médios de silagem de milho (1,80; 1,20 e 1,50 %PV, em 1999,
concorre para diminuir a eficiência de co-
2000 e 2001, respectivamente) e de farelo de soja (0,16 %PV).
MS - Matéria seca; PV - Peso vivo. lheita de animais em pastejo (CARVALHO
et al., 2011).
Tem-se conseguido o aumento na
QUADRO 4 - Espécies de gramíneas tropicais utilizadas na formação da pastagem e o consumo taxa de lotação com a redução do período
de MS de pasto e produção de leite de vacas leiteiras de descanso dos piquetes, pelo menos
Composição bromatológica Consumo dentro da estação chuvosa, e aumento na
Consumo total Produção eficiência de uso da forragem, levando
Forrageira de pasto (pasto+ de leite
PB FDN DIVMS a um menor número de piquetes (NP)
(% PV) ração) (kg/vaca/dia)
(% MS) (% MS) (%) e consequente redução de área de pasto
(% PV)
(VOLTOLINI et al., 2010; GOMIDE et
P. maximum cv. 14,1 78,8 57,9 2,9 3,6 16,0 al., 2011).
Colonião
A intensificação no uso da forragem
B. decumbens 11,8 76,6 63,3 2,8 3,5 14,4 produzida torna mais importante a reposi-
Pennisetum 15,4 76,9 64,2 2,7 3,4 15,4 ção de nutrientes ao sistema, para garantir
purpureum as condições de rápido restabelecimento
P. purpureum cv. 14,8 71,4 - 2,6 2,6 17,3 da planta forrageira. O N é o principal
Mott nutriente responsável pela aceleração no
Cynodon spp. cv. 16,3 78,5 - 3,2 3,2 20,7 crescimento das plantas e no incremento
Tifton 85 da capacidade de suporte da pastagem, mas
seu efeito pressupõe alta disponibilidade
P. maximum cv. 11,1 70,4 61,6 3,6 4,0 9,8
Tanzânia
de fósforo (P) e potássio (K) no solo. De
modo geral, a adubação nitrogenada não
C. nlemfuensis 11,9 72,8 59,4 2,6 2,9 8,4
traz benefício ao desempenho animal, se-
B. brizantha cv. 9,4 67,1 64,0 2,9 3,0 9,8 não à capacidade de suporte da pastagem e,
Marandu
assim, à produção por hectare. Este efeito
P. maximum cv. 13,9 68,7 71,9 1,7 e 2,1 2,1 e 2,4 14,2 pode ser claramente observado no trabalho
Tanzânia de Lugão (2001), que, ao estudar níveis de
C. nlemfuensis 14,4 64,9 73,4 1,2 e 1,5 2,0 e 1,8 14,3 adubação de 0, 150, 300 e 450 kg de N/ha em
B. brizantha cv. 12,7 64,3 74,3 1,6 e 1,9 2,0 e 2,2 13,9 pastagem de capim-tanzânia, não observou
Marandu mudança no ganho de PV de novilhos, mas
FONTE: Dados básicos: Lopes (2008). incrementou a capacidade de suporte em
NOTA: MS - Matéria seca; PB - Proteína bruta; FDN - Fibra em detergente neutro; DIVMS - 3,5 vezes, com resposta equivalente na pro-
Digestibilidade in vitro da matéria seca. dução por área. Mais claramente, para se
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Produção intensiva de pastagens 85

Avaliando a produção de leite em pastos


Solo Produto: de capim-marandu sob lotação rotacionada
Forragem Forragem
Clima leite,
produzida consumida (três dias de ocupação), com período de
Planta etc. carne
descanso fixo (30 dias) ou “flexível”, defi-
nido em função do tempo necessário para
Crescimento Utilização Conversão atingir 95% de interceptação luminosa (IL)
2 a 4% 40 a 80% 7 a 15%
pelo pasto, Gomide et al. (2011) observaram
Figura 1 - Eficiência das etapas envolvidas no processo de produção animal em pasta- que o tempo médio de descanso dos pique-
gens tes foi reduzido para 18-21 dias no manejo
FONTE: Hodgson (1990). flexível, com pequena redução na produção
diária por vaca de 13,4 para 11,7 L/dia. A
ter maiores respostas ao uso da adubação, podendo a suplementação ser usada como utilização de apenas sete ou oito piquetes
principalmente a nitrogenada, é preciso re- uma ferramenta estratégica, conforme pro- dos 11 disponíveis traduz-se em maior
conhecer que seu grande benefício está em põem Pedroso e Danés (2011). taxa de lotação (7,1 x 4,4 vacas/hectare),
acelerar o crescimento ou a recuperação da O aumento na produção por área ad- com consequente aumento na produção de
planta após a desfolha/pastejo. Com isso, vém da redução do NP necessários para leite por área (81,9 x 59,8 L/ha/dia), dentro
é possível e necessário reduzir o período o manejo do sistema. Como exemplo, da estação chuvosa. Estes dados são ainda
de descanso dos piquetes para garantir boa considere-se um pastejo rotacionado com preliminares e merecem ser validados, por
estrutura do pasto (GOMIDE; GOMIDE; período de descanso de 33 dias e três dias um maior período, e repetido por alguns
ALEXANDRINO, 2007; TRINDADE et de ocupação dos piquetes. Neste caso, o anos. Resultado semelhante foi observado
al., 2007; BARBOSA et al., 2007; VOL- NP necessário seria de: NP = (33/3) + 1, por Voltolini et al. (2010), em ensaio com
TOLINI et al., 2010). ou seja, 12 piquetes. Entretanto, é possível, capim-elefante. Estes resultados são frutos,
A partir de um determinado estádio numa pastagem bem formada com gramí- dentre outros fatores, da melhoria na estru-
de desenvolvimento do pasto há queda no neas produtivas dentro da estação chuvosa tura do dossel e no aumento da eficiência
ritmo de crescimento de folhas e acúmulo e com adubação adequada, tirar proveito de uso da forragem.
de materiais indesejáveis (colmo, material do rápido crescimento das gramíneas tro- Em capim-mombaça sob pastejo
morto e inflorescência), resultando em picais e reduzir o tempo necessário para o rotacionado, Carnevalli et al. (2006) ob-
maiores perdas sob pastejo e consequente restabelecimento do pasto para 24 dias ou servaram maior produção de forragem ao
diminuição da eficiência de uso do pasto. menos. Nesta nova perspectiva o número longo do ano ao associar menor resíduo
Alta eficiência de uso do pasto deve ser de piquetes passaria para: NP = (24/3) + 1, pós-pastejo (30 cm) com período de des-
considerada, a fim de otimizar o retorno ou seja, nove piquetes. canso, necessário ao alcance de 95% de IL
em termos da produção por quilo de N Estudos de manejo de pastagens das (88 cm de altura), relativamente ao resíduo
aplicado (BOIN, 1986). Segundo esse au- últimas décadas têm controlado a estrutura de 50 cm e/ou maior período de descanso.
tor, a eficiência da adubação nitrogenada, do pasto e aumentado sua eficiência de Além disso, houve queda na proporção de
em termos de quilo de leite/quilo de N, é uso sob pastejo, sendo a intensidade e a folhas e aumento na participação de colmo
influenciado pelo nível produtivo da vaca, frequência, ferramentas a serem ajustadas e material morto com o aumento do resíduo
mas principalmente pela eficiência de uso para este objetivo. Sob lotação rotacionada de 30 para 50 cm e, principalmente, com
do pasto. Assim, a resposta à aplicação de este controle tem sido buscado com varia- o prolongamento do período de descanso
N, considerando um nível de produção ções no resíduo pós-pastejo (intensidade) de 95% para 100% de IL, que representou
de 12 kg/vaca/dia, pode variar de 10,9 a e no intervalo entre pastejos (frequência). uma altura média em pré-pastejo de 88 e
19,6 kg de leite/quilo de N em resposta Também, em gramíneas tropicais, 115 cm, respectivamente.
a uma utilização do pasto de 50% a 90%, a interrupção do período de descanso, Da mesma forma, Barbosa et al. (2007)
respectivamente. com base na interceptação de 95% da luz estudaram, em capim-tanzânia, o efeito das
Embora a resposta animal seja mais sen- incidente pelo dossel, tem-se mostrado alturas de resíduo de 25 e 50 cm combi-
sível à suplementação, a adubação é mais eficiente em prevenir, além do acúmulo nadas com as frequências de 90%, 95% e
eficiente em promover aumentos na produ- de material senescente, o alongamento do 100% de IL para entrada dos animais no
ção por hectare. Estes resultados reforçam a colmo (SILVA et al., 2011), processos que piquete. O acúmulo de MS total e de folhas
importância de explorar o aumento da taxa comprometem a estrutura do pasto e redu- em 309 dias foi maior na combinação de
de lotação conseguida com a adubação, zem a eficiência de utilização da forragem 25 cm com 95% de IL. Esses resultados,
principalmente em gramíneas tropicais, (CARVALHO et al., 2011). associados às características estruturais do
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86 Produção intensiva de pastagens

pasto como baixo acúmulo de colmo e bai- QUADRO 5 - Características estruturais do pasto de capim-mombaça sob diferentes períodos
xo porcentual de material morto, levaram de descanso, determinado pelo número de folhas aparecidas após o pastejo
esses autores a concluir ser este o melhor Período de
Altura Biomassa Relação Perfilhos
manejo do capim-tanzânia sob manejo descanso
(cm) (kg/ha/ciclo) folha/colmo (no/m2)
(no de folhas)
rotacionado. Também Difante et al. (2010),
ao avaliarem o capim-tanzânia sob lotação 2,5 79 4.570 4,6 240
rotacionada com período de descanso com 3,5 98 5.580 3,7 176
base na IL de 95%, observaram que o apro-
veitamento médio da forragem produzida 4,5 117 7.340 1,7 148
ao longo do período chuvoso foi de 90% FONTE: Gomide, Gomide e Alexandrino (2007).
e 50%, respectivamente para os resíduos
pós-pastejo de 25 e 50 cm. Isto mostra a
QUADRO 6 - Efeito do período de descanso e dos ciclos de pastejo sobre a altura pós-pastejo
importância da associação entre intensi-
do capim-mombaça
dade de pastejo e de período de descanso,
para o controle da estrutura do pasto e de Ciclos de pastejo
Período de descanso
sua alta eficiência de uso.
1o 2o 3o
Outro critério prático é a observação do
início do amarelecimento e morte de folhas 2,5 folhas 38,2 39,3 39,4
nos perfilhos. Com base no fato de que o 3,5 folhas 46,8 57,1 65,4
capim-mombaça mantém três folhas vivas
4,5 folhas 59,1 68,6 -
por perfilho, desenvolveu-se um ensaio
FONTE: Cândido et al. (2005).
utilizando o número de folhas formadas
após a desfolha como determinante do
período de descanso dos piquetes, para produção diária de leite das vacas. Cóser retorno financeiro. Pedroso e Danés (2011)
avaliar o efeito sobre as características do et al. (1999) avaliaram a variação na pro- compararam, por meio de simulação, a
pasto desse capim (CÂNDIDO et al., 2005; dução de leite de vacas em pastagem de necessidade de suplementação para um
GOMIDE; GOMIDE; ALEXANDRINO, capim-elefante sob lotação rotacionada rebanho de 100 vacas com produção média
2007). No Quadro 5, observa-se que o com um, três e cinco dias de ocupação do de 20 kg/dia, numa pastagem de baixa ou
prolongamento do período de descanso, piquete. Observaram maior estabilidade de alta qualidade. A simulação apontou
além da formação da terceira folha, com- na produção de leite de vacas manejadas que o pasto de melhor qualidade gera uma
promete a estrutura do pasto em termos de com apenas um dia de ocupação, enquanto economia de 1,56 kg de concentrado por
sua relação folha/colmo, além de dificul- com período de ocupação de cinco dias vaca/dia, além de permitir uma formulação
tar a manutenção do resíduo pós-pastejo houve grande variação na produção em mais econômica do concentrado utilizado,
(Quadro 6). resposta às variações no perfil do pasto.
refletindo numa receita diária por vaca
No Quadro 6, vê-se que o prolonga- Apesar de o período de ocupação de um
de R$ 7,40 contra R$ 6,45 para o pasto
mento do período de descanso prejudica o dia permitir maior uniformidade de pastejo
de baixa qualidade. A economia anual
rebaixamento do pasto, o que acarreta um e estabilidade na produção diária de leite
gerada com a alteração da suplementação
aumento progressivo da altura residual que por vaca, o número de piquetes necessários
do rebanho é estimada em R$ 34.675,00,
compromete a sua estrutura, nos ciclos de ao sistema torna-se excessivo. Períodos de
fruto apenas do manejo adequado do pasto.
pastejo seguintes. ocupação de três dias conciliam estabilida-
Ao longo do período de ocupação dos de da produção e uniformidade de pastejo
SUPLEMENTAÇÃO
piquetes, há mudança do perfil explorado. com redução considerável no número de
CONCENTRADA E PRODUÇÃO
Na fase inicial do rebaixamento do pasto piquetes.
DE LEITE A PASTO
o animal encontra alta disponibilidade de A variação na composição da dieta dos
folhas que vai sendo progressivamente animais dentro do período de ocupação é O efeito da suplementação com
reduzida, e sua participação na dieta maior em pastos com características estrutu- concentrado em pastagem de capim-
substituída por frações menos nobres da rais indesejáveis (TRINDADE et al., 2007). elefante sobre a produção de leite e a
planta, como colmos e material senescente A estrutura adequada do pasto aumenta variação do PV das vacas, foi estuda-
(TRINDADE et al., 2007). Por isso, em o valor nutritivo da forragem refletindo até do por Deresz (2001). Foi testado o
sistemas rotacionados com longos perío- mesmo na estratégia de suplementação efeito de 2 kg/vaca/dia de concentrado,
dos de ocupação observa-se variação na concentrada com consequente impacto no contra apenas pasto de capim-elefante
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Produção intensiva de pastagens 87

manejado com período de descanso de QUADRO 7 - Produção de leite (kg/vaca/dia) de vacas Holandesas x Zebu em pastagem de
30 dias e período de ocupação dos piquetes capim-elefante, sem suplementação ou com 2 kg/vaca/dia de concentrado,
de três dias, durante a época das chuvas durante a época das chuvas

(dezembro a maio). A taxa de lotação Mês Sem concentrado Com concentrado


utilizada foi de seis vacas por hectare e a
Dezembro 14,1 15,1
adubação consistiu de 1 mil quilos/hectare/
Janeiro 13,8 15,0
ano da fórmula 20:05:20, dividida em três
Fevereiro 13,3 14,6
aplicações na época chuvosa. No Quadro 7,
estão apresentadas às produções médias Março 12,9 14,3

de leite de vacas Holandesas x Zebu, nos Abril 12,6 13,9


dois tratamentos. Maio 12,1 14,4
As produções médias de leite durante Média 13,1 14,4
o período de estudo foram de 13,1 e 14,4 FONTE: Deresz (2001).
quilos/vaca/dia, com incremento de apenas
0,65 kg de leite para cada 1 kg de concen-
Usualmente, quanto melhor a quali- distribuição durante os estádios da lacta-
trado fornecido, apesar do potencial de 2 kg
dade de forragem menor é a resposta em ção, objetivando melhor aproveitamento
de leite/quilo de concentrado em termos de
produção de leite de vacas que recebem do concentrado, assim como o máximo
energia – nutrientes digestíveis totais (NDT)
suplementação concentrada, quando consumo de MS. Alvim et al. (1999)
e PB (ESTADOS UNIDOS,1989).
manejadas em pastagens. Os resultados estudaram o efeito de duas estratégias
É importante chamar a atenção de que,
da literatura mostram que a resposta à de suplementação da pastagem de capim-
quando se fornece concentrado para as
suplementação com concentrado é maior coastcross manejadas sob pastejo rotativo,
vacas em pastagens de boa qualidade, há
na fase inicial da lactação (ESTADOS utilizando vacas da raça Holandesa. A
substituição (usualmente diminuição) no
UNIDOS, 1989). taxa de lotação (UA/ha) foi variável em
consumo de MS do pasto. Por esta razão,
Outro exemplo de resposta à suplemen- função da disponibilidade de forragem.
a resposta à suplementação com concen-
tação concentrada, utilizando pastagem Os tratamentos foram: 6 kg/vaca/dia, fixos,
trado não causa aumento proporcional na
de capim-coastcross e vacas puras da raça durante toda a lactação e o fracionamento
produção de leite em relação aos nutrientes
Holandesa, pode ser visto no trabalho de do concentrado, sendo 9 kg/vaca/dia, nos
fornecidos pelo concentrado. Para haver
aumento proporcional na produção de lei- Alvim, Vilela e Lopes (1997). No Quadro 8, primeiros 90 dias da lactação; 6 kg durante
te, quando se utiliza concentrado, deveria estão apresentados os dados médios de 91 a 180 dias e 3 kg, no período de 181 a
haver aumento no consumo total de MS produção de leite de vacas que receberam, 270 dias, sendo igual a quantidade total de
pelo animal. O concentrado pode também individualmente, 3 e 6 kg/vaca/dia de concentrado fornecida por vaca nos dois
ter sido utilizado para recompor reservas concentrado, contendo em sua composição tratamentos (1.620 kg), durante o período.
corporais e, assim, parte dos nutrientes 23,5% de PB e 80% de NDT e testado du- Os resultados de produção média de
contidos no concentrado podem ser prio- rante as épocas de chuvas e seca do ano. leite corrigido para 4% de gordura, de
rizados para atender às necessidades de Em resposta ao nível de concentrado, a vacas da raça Holandesa manejadas em
gestação das vacas prenhes, especialmente taxa de lotação (UA/ha) variou de 8,3 a pastejo rotativo, utilizando pastagem de
no terço final da lactação (200 a 305 dias). 7,5, durante a época das chuvas, e 3,8 a capim-coastcross, estão apresentados no
Ainda, na maior parte das vezes, a vaca que 4,7, na época seca do ano, respectivamente. Quadro 2. Observa-se que o fornecimento
recebe concentrado gasta menos tempo Nos Estados Unidos (1989), observa-se de concentrado em quantidade variável
pastejando que aquela que não recebe, e, resposta em torno de 1 kg de leite para cada aumentou a produção média de leite
por isso, a resposta em produção de leite quilo de concentrado fornecido, embora apenas nos primeiros 90 dias de avalia-
não é proporcional à quantidade de nutrien- cada quilo contivesse nutrientes para 2,5 kg ção, enquanto no terço final da lactação
tes fornecida por meio do concentrado. A de leite em termos de PB e NDT. as vacas que receberam concentrado de
produção de leite das vacas no tratamento Em condições de pastejo, o concen- forma constante produziram, em média,
sem concentrado é uma indicação de que trado pode ser balanceado em termos de 0,8 kg/vaca/dia a mais que as vacas que
é possível obter até 14 kg/vaca/dia de energia (NDT) e PB de acordo com a usaram a estratégia de distribuição vari-
leite, mais a necessidade de mantença, qualidade da forragem, conforme estimado ável do concentrado. Na média geral, as
fornecendo apenas pasto de boa qualidade por Pedroso e Danés (2011). vacas que receberam a suplementação
e em quantidade suficiente para maximizar A suplementação concentrada pode ser concentrada variável ao longo da lactação,
o consumo de pasto. usada ao utilizar diferentes estratégias de produziram 1,3 kg/vaca/dia a mais que
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88 Produção intensiva de pastagens

QUADRO 8 - Produção de leite e taxa de lotação em pastagem de capim-coastcross, na época lêmicos (PALMQUIST, 2010).
das chuvas (1/10 a 14/4) e na época seca do ano (15/4 a 30/9) Tem sido também alvo das pesquisas
Produção Taxa lotação a elevação das concentrações dos áci-
Concentrado (kg/vaca/dia) (UA/ha) dos linoleicos conjugados – conjugated
(kg/dia) linoleic acids (CLA), especialmente a
Chuva Seca Chuva Seca
do ácido rumênico, cujas propriedades
3 17,3 16,5 7,5 3,8
anticarcinogênicas, antiaterogênicas,
antidiabetogênicas (diabetes do tipo II)
6 20,5 19,5 8,3 4,7 e imunomodulatórias têm sido apontadas
FONTE: Alvim, Vilela e Lopes (1997). em diversos trabalhos. Da mesma forma,
busca-se elevar a concentração do ácido
vaccênico, por ser este o precursor para
aquelas que receberam o concentrado de 1 kg de leite para cada 1 kg de concentrado
síntese endógena do ácido rumênico na
forma fixa. fornecido em pastagens de Coastcross,
glândula mamária (DEWHURST et al.,
As melhores respostas em produção manejadas em pastejo rotativo (ALVIM;
2006; PALMQUIST, 2010).
de leite, utilizando vacas Holandesas x VILELA; LOPES, 1997). Entretanto, pelo
Desejando-se elevar a concentração de
Zebu de diferentes composições genéti- potencial de produção de leite destas vacas
ácido rumênico na gordura do leite, deve-
cas, manejadas sob condições de pastejo no início da lactação ser superior a 25 kg/
se prover o rúmen de substratos como os
rotativo e adubadas, estão na faixa de 0,5 dia, é possível que esta maior resposta seja,
ácidos linoleico e α-linolênico, objetivando
a 0,65 kg/dia, por 1 kg de concentrado em parte, por causa da mobilização de reser-
alcançar a produção máxima não só do
fornecido. Assim, sempre que o preço vas corporais (perda de peso), para produção ácido rumênico, mas também do ácido
de 1 kg de concentrado balanceado for de leite (ESTADOS UNIDOS, 1989), como vaccênico (ELGERSMA; TAMMINGA;
maior do que o preço de 0,5 a 0,65 kg de usualmente acontece no estádio inicial de ELLEN, 2006). O ácido α-linolênico é o
leite fica inviável economicamente o uso lactação. Sabe-se que até 1/3 da produção principal componente da fração lipídica
de concentrado, quando a variável leite inicial de leite de vacas de alto potencial de das forrageiras tropicais, que apresentam
é a única a ser considerada, mas outras produção, pode ser proveniente da mobili- também elevada concentração de ácido
variáveis podem ser importantes, quando zação de reservas corporais. linoleico (LOPES et al., 2011).
se utiliza a suplementação concentrada A suplementação de dietas das vacas
para vacas em lactação, tais como: ga- PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS com fontes lipídicas ricas em ácidos graxos
NO LEITE DE VACAS
nho de peso e desempenho reprodutivo oleico, linoleico e/ou α-linolênico, tais
principalmente. MANEJADAS SOB PASTEJO
como os óleos de soja e girassol sem tra-
EM FORRAGEIRAS TROPICAIS
Por que a resposta à suplementação tamento ou protegidos da biohidrogenação
concentrada é tão baixa? Porque, quando A descoberta dos benefícios para a ruminal por sais de cálcio de ácidos graxos,
se fornece 1 kg/vaca/dia de concentrado em saúde humana de substâncias bioativas ou diretamente pelos grãos de oleaginosas
pastagens de boa qualidade, a vaca deixa de naturalmente presentes no leite confere, a (soja, girassol, canola, linhaça), ou com
consumir 0,4 a 0,6 kg de MS da pastagem, este, status de “alimento funcional”. Algu- coprodutos da agroindústria de alimentos
segundo Bargo et al. (2002). Este efeito é mas destas substâncias nutracêuticas, tais (torta de girassol), tem sido adotada como
conhecido como de substituição da MS da como os ácidos graxos butírico, rumênico, estratégia para incremento dos teores dos
pastagem pela MS do concentrado. Além vaccênico e aqueles da série ω-3, fazem- ácidos rumênico, vaccênico e oleico, e con-
disso, quando há suplementação da vaca, se presentes na gordura do leite. Apesar comitante redução das concentrações dos
com o uso do concentrado ou volumoso, disso, esta é historicamente lembrada e ácidos graxos saturados de cadeia média
usualmente, ocorre diminuição do tempo questionada pela comunidade médica no leite (LOPES et al., 2011).
de pastejo. Isso resulta em menor consu- somente por sua elevada concentração de Foi demonstrado que a suplementação
mo de MS do pasto e, consequentemente, ácidos graxos saturados de cadeia média, de dietas de vacas leiteiras com tais fon-
observa-se baixa resposta à suplementação considerados hipercolesterolêmicos e ate- tes lipídicas pode alterar positivamente o
com concentrado. Para obter aumento na rogênicos (PALMQUIST, 2010). Assim, perfil de ácidos graxos da gordura do leite.
produção de leite, a suplementação con- tem-se buscado reduzir os teores dos ácidos Ocorre que, na maioria desses trabalhos,
centrada deveria promover aumento no graxos saturados de cadeia média (ácidos foram utilizadas espécies forrageiras de
consumo total de MS. láurico, mirístico e palmítico) e elevar as clima temperado, do ciclo fotossintético C3,
As respostas em produção de leite, ao concentrações dos ácidos oleico e aqueles fornecidas, principalmente, sob a forma de
utilizar vacas da raça Holandesa, foram de da série ω-3, considerados hipocolestero- fenos e silagens. Nos estudos de avaliação

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Produção intensiva de pastagens 89

do perfil de ácidos graxos no leite, reali- ocorrer importantes perdas oxidativas de ácidos graxos) foram próximas daquelas
zados no Brasil, com vacas que receberam de ácidos graxos poli-insaturados, prin- observadas no leite das vacas manejadas
forragens conservadas, a silagem de milho cipalmente α-linolênico (DEWHURST sob pastejo (Quadro 9), mas inferiores
foi a principal fonte de volumoso incluída et al., 2006). Nas plantas forrageiras no que diz respeito às concentrações dos
nas dietas (LOPES et al., 2011). Dados consumidas frescas, o ácido α-linolênico ácidos oleico (20,4 a 21,7 g/100 g) e lino-
compilados por estes autores indicaram é o principal substrato para formação do lênico (0,21 a 0,28 g de ácidos graxos). A
que vacas alimentadas com silagem de ácido vaccênico (ELGERSMA et al., soma das concentrações dos ácidos graxos
milho suplementada com concentrados sem 2006). Assim, de modo geral, o leite de saturados de cadeia média (∑ C12:0, C14:0
fonte importante de ácidos graxos apresen- vacas alimentadas com forrageiras forne- e C16:0), que têm sido associados ao risco
tam limitado potencial para produção de cidas frescas ou consumidas sob pastejo de doenças coronárias, variou de 42,2 a
leite com concentrações elevadas de ácido apresenta potencialmente maior relação 44,8 g/100 g de ácidos graxos nas dietas
rumênico (faixa de 0,09 a 0,67 g/100 g de de ácidos graxos insaturados/saturados, com capim-elefante picado, apresentando
ácidos graxos). maiores concentrações de ácidos graxos valores superiores em relação aos obser-
A partir de dados obtidos com forra- poli-insaturados e de ácido rumênico que vados no leite produzido sob condição
geiras tropicais consumidas sob pastejo, o obtido do leite de vacas que receberam de pastejo. Esses autores concluíram que
percebe-se enorme potencial na produção dietas com forragens conservadas (EL- o leite de vacas sob pastejo apresentou
de leite naturalmente enriquecido com GERSMA et al., 2006). perfil de ácidos menos aterogênico e
ácido rumênico (Quadro 9). Mesmo na- Ainda há poucos grupos de pesquisa colesterolêmico, ou seja, mais saudável
queles trabalhos em que foram utilizados no Brasil, que se dedicam a estudar o perfil (Quadro 9). Isto pode estar relacionado
concentrados sem fonte importante de de ácidos graxos na gordura do leite e em com o maior consumo dos ácidos graxos
ácidos graxos, os teores do ácido ru- derivados lácteos obtidos de vacas mane- α-linolênico e linoleico, decorrente do
mênico (0,95 a 1,02 g/100 g de ácidos jadas sob pastejo em forrageiras tropicais. pastejo seletivo per se que a vaca tem opor-
graxos) foram superiores aos relatados Lopes et al. (2011) compilaram resul- tunidade de realizar, mas que é limitado,
por Lopes et al. (2011), em dietas com tados de experimentos com vacas que con- quando as dietas têm como base volumoso
base em silagem de milho suplementada sumiram capim-elefante fornecido picado picado fornecido no cocho.
com concentrados que contêm grãos de no cocho e suplementado com concentrado Foi realizado um experimento para
oleaginosas, óleo de soja ou sais de cálcio sem fonte importante de ácidos graxos. avaliar o perfil de ácidos graxos do leite
de ácidos graxos (0,29 a 1,01 g/100 g de As faixas de concentrações dos ácidos de vacas Holandesa x Gir, manejadas em
ácidos graxos). A explicação é que nos rumênico (0,88 a 1,28 g/100 g de ácidos pastagem de capim-marandu, as quais rece-
processos de fenação e ensilagem podem graxos) e vaccênico (1,76 a 2,00 g/100 g beram 6 kg/dia, base matéria natural (MN)

QUADRO 9 - Perfil de ácidos graxos no leite de vacas sob pastejo em gramíneas tropicais suplementadas com concentrados com ou sem
fonte importante de ácidos graxos

Ácidos graxos
Baixo Alto
α-linolênico e linoleico no concentrado

Forrageira (A)
Tanzânia (A)
Xaraés (B)
Marandu (B)
Marandu Estrela
(C)

Concentrado (kg/vaca/dia) 3a6 3a6 6,1 (1)(0,0) 6,1 (1)(1,3) 6,1 (1)(2,6) 6,1 (1)(3,9) 4,0

Ácidos graxos no leite (g/100 g de ácidos graxos totais)

∑ C12:0 + C14:0 + C16:0 39,76 40,29 40,3 34,6 31,0 27,9 36,15

Vaccênico (C18:1 trans-11) 1,65 1,97 2,19 2,40 2,57 2,34 4,52

Oleico (C18:1 cis-9 ) 23,2 21,6 19,8 22,6 24,1 25,9 28,33

Linoleico (C18:2 cis-9 cis-12) 1,21 1,19 1,76 3,16 4,47 5,76 1,73

Rumênico (CLA cis-9 trans-11) 1,00 1,02 0,95 0,98 1,01 0,93 1,45

Linolênico (C18:3 cis-9, cis-12, cis-15) 0,46 0,35 0,39 0,60 0,74 0,87 0,41
FONTE: (A) Lopes et al. (2011), (B) Mourthé (2011) e (C) Medeiros et al. (2010).
(1) Valores entre parênteses = quantidade de soja-grão tostada no suplemento concentrado (kg/vaca/dia).

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90 Produção intensiva de pastagens

de suplemento concentrado com níveis das gramíneas tropicais, sob adubação e gem e adubação de pastagens. Piracicaba:
crescentes de inclusão de grão de soja tos- dentro da época chuvosa, além de con- POTAFOS, 1986. p.386-419.
tado (GST), moído (0; 1,3; 2,6; e 3,9 kg de trolar a estrutura do pasto e garantir bom CÂNDIDO, M.J.D. et al. Morfofisiologia do
GST/vaca/dia, base MN). Não houve efeito valor nutritivo da forragem, permite a dossel de Panicum maximum cv. Mombaça
da inclusão do GST nas concentrações dos obtenção de altas taxas de lotação com sob lotação intermitente com três períodos
ácidos rumênico e vaccênico (MOURTHÉ, reflexo na produção por área. Além disso, de descanso. Revista Brasileira de Zootec-
nia, Viçosa, MG, v.34, n.2, p.406-415, mar./
2011), que variaram, respectivamen- novos estudos apontam o potencial de
abr. 2005.
te, de 0,93 a 1,01 g/100 g; e de 2,19 a produção de leite com altos teores de
2,57 g/100 g de ácidos graxos. Mas as substâncias nutracêuticas como o CLA, CARNEVALLI, R.A. et al. Herbage pro-
duction and grazing losses in Panicum
concentrações dos ácidos graxos oleico, obtido por meio do pastejo de gramíneas
maximum cv. Mombaça pastures under
α-linolênico e linoleico aumentaram tropicais. O uso da suplementação con-
four grazing managements. Tropical Grass-
linearmente com a inclusão do GST, indi- centrada é uma realidade na pecuária
lands, v.40, p.165-176, 2006.
cando que a tostagem do grão promoveu de leite, mas deve ser vista como uma
CARVALHO, C.A.B. de et al. Influência de
proteção do óleo de soja em nível de rú- estratégia de manejo e não de forma
intervalos de desfolha e de alturas do resí-
men, mas disponibilizou os ácidos graxos isolada, usada apenas para garantir altas
duo pós-pastejo sobre a produção e a com-
para absorção intestinal e captação pela produções individuais. posição da forragem e do leite em pastagens
glândula mamária para secreção no leite de capim-elefante. Boletim da Indústria
(MOURTHÉ, 2011). Além disso, este autor AGRADECIMENTO Animal, Nova Odessa, v.62, n.3, p.177-188,
observou que, em função do incremento À Fundação de Amparo à Pesquisa do
2005.
de GST no concentrado, houve sensível Estado de Minas Gerais (Fapemig) e ao CARVALHO, P.C.F. et al. Estudo do consu-
redução na concentração total dos ácidos Conselho Nacional de Desenvolvimento mo de forragem pelo animal em pastejo e
graxos saturados de cadeia média, consi- seu impacto na produção de ruminantes.
Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
derados aterogênicos e colesterolêmicos In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE
apoio financeiro concedido para condução
(Quadro 9). AVANÇOS EM TÉCNICAS DE PESQUI-
de projetos na área de produção animal a SA EM NUTRIÇÃO DE RUMINANTES, 3.,
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o potencial de gramíneas tropicais ma-
USP, 2011. p.212-228.
nejadas sob pastejo, para produção de REFERÊNCIAS
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leite com perfil de ácidos graxos mais
ALVIM, M.J.; VILELA, D.; LOPES, R. dos S. preliminares. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.
saudáveis para o consumo humano. No
Efeito de dois níveis de concentrados sobre CÓSER, A.C. et al. Efeito de diferentes pe-
entanto, ainda há muito que estudar nesta a produção de leite de vacas da raça Holan- ríodos de ocupação da pastagem de capim-
linha de pesquisa, e todas as informações desa em pastagem de coast-cross (Cynodon elefante sobre a produção de leite. Pesquisa
geradas serão de grande importância para dactylon (L.) Pers.). Revista Brasileira de Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.5,
a indústria de laticínios na prospecção Zootecnia, Viçosa, MG, v.26, n.5, p.967- p.861-866, maio 1999.
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I����������������������������
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terno ou externo para comercialização, ALVIM, M.J. et al. Estratégia de fornecimen- canso da pastagem de capim-elefante na
bem como para definição de critérios e to de concentrado para vacas da raça Holan- produção de leite de vacas mestiças Holan-
eventual implementação de políticas de desa em pastagem de coast-cross. Pesquisa dês x Zebu. Revista Brasileira de Zootec-
bonificação de pagamento ao produtor Agropecuária Brasileira, Brasília, v.34, n.9, nia, Viçosa, MG, v.30, n.2, p.461-469, mar./
p.1711-1720, set. 1999.
que produza leite com tais características abr. 2001.
nutracêuticas. BARBOSA, R.A. et al. Capim-tanzânia sub- DEWHURST, R.J. et al. Increasing the con-
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tropicais para ser usadas em sistemas BARGO, F. et al. Milk response to con- Dec. 2006.
intensivos de produção, todas com alto centrate supplementation of high produ- DIFANTE, G. dos S. et al. Desempenho e
potencial produtivo, sendo a escolha de cing dairy cows g�������������������������
razing at two pasture al- conversão alimentar de novilhos de corte
cada uma dependente de condições es- lowences. Journal of Dairy Science, v.85, em capim-tanzânia submetido a duas inten-
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Produção intensiva de pastagens 91

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92 Produção intensiva de pastagens

Manejo do rebanho em Sistemas Silvipastoris


Rasmo Garcia 1
Domingos Sávio Queiroz 2

Resumo - A resposta fisiológica das plantas forrageiras à desfolhação é uma carac-


terística que tais plantas adquiriram para, rapidamente, substituir os tecidos re-
movidos pelo pastejo. Os efeitos da desfolhação podem causar a redução de su-
primento de carboidratos que afeta o crescimento e a respiração das raízes, o
crescimento de perfilhos, a absorção de nutrientes e, consequentemente, a dimi-
nuição da produtividade da planta. Em ambientes com luminosidade reduzida, no
caso de sub-bosques de Sistemas Silvipastoris (SSPs), tais processos ocorrem com
visíveis alterações morfológicas, que comprometem o equilíbrio nutricional des-
sas plantas e a capacidade de recuperar a desfolhação ocasionada pelo pastejo.

Palavras-chave: Pastagem. Sub-bosque. Sombreamento. Forrageira. Rotação de culturas.

INTRODUÇÃO Os SSPs propiciam aos agricultores e diferentes componentes não podem ser
pecuaristas a vantagem de diversificação de visualizados e interpretados como fatores
Os Sistemas Silvipastoris (SSPs), uma
culturas, produção de madeira e alimento, isolados, tendo em vista o caráter integrado
modalidade dos Sistemas Agroflorestais
controle da erosão e maior fertilidade do desse ecossistema de produção. Os SSPs
(SAFs), referem-se à técnica de produção
solo. É importante destacar que os efei- apresentam-se com inúmeras vantagens
na qual, intencionalmente, se integram
tos das interações que ocorrem com os para um manejo mais correto do meio am-
numa área – árvores, pasto e animais que
realizam o pastejo, com estruturas e intera-
ções planejadas (Fig. 1). Tais sistemas re-
presentam uma forma de uso da terra, onde
as atividades silviculturais e pecuárias são
combinadas para gerar produção de forma
complementar pela integração de seus
componentes (GARCIA; COUTO, 1997).
A integração do animal às diferentes
culturas não constitui um sistema novo de
atividade agropecuária. O que talvez seja
novo é o fato de a integração do animal
à atividade florestal ser capaz de melho-
rar a produtividade por unidade de área.
Em um mundo onde a população cresce
Arquivo Votorantim

rapidamente, sobretudo nos países menos


desenvolvidos, o aumento de produtividade
da terra torna-se uma necessidade também
crescente, uma vez que a área disponível
para a agricultura tradicional terá seus limi- Figura 1 - Sistema Silvipastoril – capim-braquiária e eucalipto na região do Cerrado de
tes esgotados num futuro não muito distante. Minas Gerais-Fazenda Bom Sucesso, Paracatu, MG

1
Engo Agro, Pós-Doc., Prof. UFV - Depto. Zootecnia/Bolsista CNPq, CEP 36571-000 Viçosa-MG. Correio eletrônico: rgarcia@ufv.br.
2
Zootecnista, D.Sc., Pesq. EPAMIG Zona da Mata/Membro INCT Ciência Animal, Caixa Postal 216, CEP 36570-000 Viçosa-MG. Correio
eletrônico: dqueiroz@epamig.br

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Produção intensiva de pastagens 93

biente quanto às práticas agropecuárias. No bra. Isto ocorre, por causa das diferenças no de modo geral a diminuição da intensidade
entanto, muito ainda se tem que conhecer potencial de produção das espécies. luminosa provoca redução na produtivida-
no manejo dos componentes de um sistema O capim-gordura (Melinis minutiflora) de delas (ERIKSEN; WHITNEY, 1981;
pela interatividade que é desenvolvida. e o capim-setária (Setaria sphacelata) foram KEPHART; BUXTON; TAYLOR, 1992).
No SSP, quatro componentes básicos, considerados tolerantes ao sombreamento, Contudo, respostas positivas de produção
como solo, árvore, pasto (sub-bosque) e o pois suas produções de MS não foram foram observadas por Castro, Garcia e Car-
animal que realiza o pastejo podem ser ma- alteradas significativamente pela sombra. valho (1999) e Burner e Brauer (2003). Sob
nejados pelo homem de forma direcionada Já o capim-andropogon (Andropogon condições de baixa luminosidade, as espé-
e com técnicas conhecidas. A importância gayanus), espécie que apresentou uma cies necessitam de estratégias de tolerância
do solo, como sustentador do sistema e dos queda acentuada na produção de MS com à sombra, como a capacidade de maximizar
efeitos dos componentes arbóreo, herbáceo o sombreamento, ainda produziu 7,0 t/ha de a eficiência de uso da radiação, a produção
e animal sobre o solo, tem sido objeto de MS a 60% de sombreamento, bem superior de área foliar e a interceptação da luz, por
estudos no decorrer dos anos. Todavia, pe- aos capins-gordura e setária. Portanto, o cri- meio de alterações anatômicas, morfoló-
las poucas pesquisas conduzidas até então, tério tolerância ao sombreamento não pode gicas e fisiológicas (ALLARD; NELSON;
no Brasil, com SSPs, vê-se a necessidade, ser considerado isoladamente na escolha da PALLARDY, 1991; DEINUM et al., 1996;
entre outras, de conduzir trabalhos voltados espécie forrageira a ser utilizada em um SSP. LAMBERS; CHAPIN III; PONS, 1998),
para o manejo do rebanho. Com o objetivo de verificar a existência que, por sua vez, podem afetar a quanti-
de outros fatores, além da baixa disponibi- dade e a qualidade da forragem produzida
EFEITO DA SOMBRA NO lidade de luz, que interfere no crescimento (LIN; MCGRAW; GEORGE, 2001; PERI;
SUB -BOSQUE normal da gramínea, Andrade et al. (2001) LUCAS; MOOT, 2007).
conduziram um estudo em SSP, constitu- O sombreamento leva a uma redução
Embora algumas plantas forrageiras
ído por Eucalyptus urophyla e Panicum na radiação incidente e na relação do
que constituem o sub-bosque sejam mais
maximum cv. Tanzânia na região dos espectro de luz (vermelho: vermelho ex-
tolerantes à sombra do que outras, o efeito
Cerrados de Minas Gerais. Esses autores tremo) (FELDHAKE, 2001), tornando a
geral de diminuição da intensidade de luz é
concluíram que o sombreamento imposto temperatura mais amena, aumentando a
a redução da produtividade do sub-bosque.
pelo eucalipto não foi o único fator que umidade do ar e do solo, reduzindo a taxa
As gramíneas forrageiras tropicais são
interferiu no crescimento normal da gramí- de evapotranspiração. Essas alterações
mais sensíveis ao sombreamento, quando
nea. A baixa disponibilidade de N no solo microclimáticas podem causar mudanças
comparadas às leguminosas. A capacidade
constitui a principal limitação nutricional significativas na morfologia das plan-
fotossintética das folhas das gramíneas tas forrageiras. Dentre as modificações
ao crescimento da gramínea. É provável,
tropicais, com metabolismo C4, cresce também, que as plantas foram afetadas morfológicas induzidas pela sombra, que
com o aumento do nível de irradiação, ao negativamente por substâncias alelopáticas interfere na quantidade e qualidade da for-
passo que as leguminosas (C3) tornam-se produzidas pelo eucalipto. ragem, destacam-se a área, o comprimento,
saturadas ao redor de 50% de luz solar A exploração bem-sucedida dos SSPs a espessura e a orientação da lâmina foliar,
direta. Acredita-se que um dos fatores li- requer o uso de espécies forrageiras tole- o comprimento do colmo e o pecíolo, o
mitantes da capacidade de crescimento das rantes às condições que resultam da pre- número de folhas e a relação folha/colmo.
leguminosas na sombra seja uma reduzida sença de árvores, como o sombreamento. O cultivo de várias espécies de gramí-
taxa de fixação de nitrogênio (N). Segundo Wong (1991), essa característica neas, sob diferentes níveis de redução da
Avaliando a tolerância de seis espécies refere-se à capacidade de uma espécie cres- intensidade luminosa, resultou em plantas
de gramíneas forrageiras ao sombreamento, cer à sombra em relação ao crescimento a mais altas e com colmos mais longos
Castro, Garcia e Carvalho (1999) observa- pleno sol e sob a influência de desfolhações (CASTRO; GARCIA; CARVALHO, 1999;
ram que a produção de matéria seca (MS), regulares. No entanto, a tolerância das PERI; LUCAS; MOOT, 2007). Além disso,
a concentração de N, a produção forrageira forrageiras à sombra deve ser caracterizada sob níveis decrescentes de luz, as folhas
e as características morfológicas das es- não só pela sobrevivência, mas também de gramíneas tendem a ficar mais longas
pécies avaliadas foram influenciadas pelo pela adaptação ao manejo, às condições (CASTRO; GARCIA; CARVALHO,
sombreamento. As gramíneas cultivadas à edafoclimáticas da região, produção sa- 1999; LIN et al., 2001). O sombreamento
sombra tornaram-se mais suculentas, com tisfatória de MS (GARCIA; ANDRADE, também pode influenciar o teor de MS e o
menor teor de MS. Um fato interessante de 2001) e pela qualidade e valor nutritivo acúmulo de material morto nas plantas for-
observar é que as espécies mais tolerantes adequados da forragem. rageiras. As gramíneas cultivadas à sombra
ao sombreamento nem sempre são as mais Apesar de algumas plantas forrageiras tendem a ser mais suculentas, com menor
produtivas num determinado nível de som- serem mais tolerantes à sombra que outras, teor de MS, por causa do desenvolvimen-
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94 Produção intensiva de pastagens

to mais lento das plantas, com reduzida estudos sugerem que a digestibilidade com o pasto sob pleno sol e não como
velocidade de perda de água pelos tecidos da MS da forragem, tanto de gramíneas um sub-bosque de um SSP. Então, existe
(CASTRO; GARCIA; CARVALHO, de clima tropical quanto de clima tempe- a necessidade de conduzir pesquisas que
1999; PERI; LUCAS; MOOT, 2007). A rado, diminui em função da redução da visem os efeitos do manejo animal sobre o
redução do acúmulo de tecidos mortos intensidade luminosa (MASUDA, 1977). pasto no sistema e, daí, poder recomendar
pelo sombreamento também pode estar Contudo, em outros trabalhos, verificou- qual o método de pastejo a ser empregado
relacionada com a menor velocidade de se redução no teor de fibra, bem como para os sistemas.
desenvolvimento das plantas sob sombra e aumentos na digestibilidade de plantas Informações de desempenho animal
também com as condições microclimáticas sombreadas (SAMARAKOON; WILSON; referentes à qualidade do pasto consumido,
do ambiente sombreado, onde predominam SHELTON, 1990; KEPHART; BUXTON; às ofertas e ao tipo de forragem disponível,
temperaturas mais amenas e maior umida- TAYLOR, 1992). à adubação nitrogenada e à produção de
de do ar e no solo. De acordo com Kephart, Buxton e biomassa do sub-bosque e à tolerância de
O valor nutritivo das plantas, definido Taylor (1992), condições estressantes, como algumas espécies ao sombreamento, são
em função de sua composição química o sombreamento, provavelmente reduzem encontradas na literatura. A maior preo-
e da digestibilidade potencial, depende a disponibilidade de fotoassimilado para o cupação de vários pesquisadores no Brasil
de fatores químicos, físicos e estruturais desenvolvimento de parede celular secundá- na área de estudos em SSPs esteve voltada,
inerentes à planta, sendo que todos, de ria, o que pode contribuir para o aumento da desde décadas atrás, para a tolerância de
alguma forma, são dependentes de fatores qualidade das plantas forrageiras na sombra. algumas espécies forrageiras de clima
externos como o clima. As alterações Isto se justifica, pois temperaturas elevadas tropical à luminosidade reduzida. Vários
morfológicas, anatômicas e fisiológicas promovem a síntese mais rápida de novas estudos foram conduzidos utilizando de
que ocorrem nas plantas, em função do células, bem como aceleram sua maturação sombreamentos artificiais (sombrites),
sombreamento, influenciam diretamente a e desenvolvimento do colmo, afetando para obter respostas de forrageiras às di-
qualidade e o valor nutritivo destas plantas. adversamente a digestibilidade (WILSON; ferentes intensidades luminosas, visando à
O teor de proteína bruta ou o conteúdo de TAYLOR; DOLBY, 1976). produtividade e à qualidade da biomassa
N geralmente aumenta em plantas sombre- Apesar de muitos estudos avaliarem produzida.
adas (BELESKY; CHATTERTON; NELL, o efeito da sombra sobre o valor nutritivo Um dos fatores que garantem o sucesso
2006; PERI; LUCAS; MOOT, 2007). Mas das plantas, é importante ressaltar que este do estabelecimento e persistência de uma
essa tendência é maior em gramíneas do efeito pode ser confundido com aqueles da espécie num sistema é a sua tolerância à
que em leguminosas (LIN et al., 2001). temperatura, pois a sombra geralmente di- sombra. Diante de algumas pesquisas rea-
Existem muitas hipóteses para explicar o minui a temperatura local. Sob sombra, as lizadas no País, a gramínea forrageira, cv.
efeito positivo da sombra sobre o teor de menores temperaturas podem aumentar a Marandu (Brachiaria brizantha), passou
proteína nas plantas forrageiras. A sombra a ser a mais difundida nos sistemas, por
digestibilidade da forragem (SHARROW,
pode ter efeito positivo sobre a disponibi- apresentar melhor tolerância à sombra
1999). A temperatura mais baixa pode ter
lidade de N no solo. O maior teor de umi- sem, contudo, ter diminuído muito sua
efeito positivo sobre a digestibilidade das
dade no solo, associado com a temperatura produtividade. Outras gramíneas, como
plantas forrageiras, superando ou equi-
moderada sob sombra, pode resultar na as espécies do gênero Panicum também
librando o efeito negativo causado pela
maior velocidade da taxa de mineralização foram objeto de estudo nos experimentos
redução no teor de carboidratos solúveis e
do N, decomposição do litter e ciclagem de ao se procurarem os efeitos da sombra
aumento no conteúdo de fibra.
N (HUMPHREYS, 1994). O maior teor de sobre o sub-bosque.
proteína bruta (PB) nas plantas sombreadas Em alguns trabalhos, apesar da pre-
MANEJO DO REBANHO
também pode estar associado ao menor sença do animal no pastejo, os objeti-
tamanho das células sob sombra. O menor Para que se possa preconizar qualquer vos estiveram voltados para os efeitos
tamanho das células, juntamente com a prática de manejo dos animais que irão da adubação nitrogenada e potássica
quantidade praticamente constante de N realizar o pastejo do sub-bosque em um sobre a produtividade do sub-bosque e
por célula, pode ter um efeito concentrador SSP, é necessário que, primeiramente, seja desempenho animal (BERNARDINO;
(KEPHART; BUXTON; TAYLOR, 1992). feita uma revisão de conhecimentos mor- GARCIA; TONUCCI, 2007ab). O som-
Existem relatos de que a lignificação fofisiológicos de plantas forrageiras que breamento altera o processo fotossintético
e o teor de sílica são maiores em plantas irão constituir o sub-bosque de um sistema. e as características morfofisiológicas da
sombreadas (SAMARAKOON; WILSON; A maioria dos resultados de pesquisas planta, predispondo-a, a uma condição
SHELTON, 1990). Concordando com os que mostram as respostas de plantas forra- desfavorável aos efeitos da desfolhação
resultados citados anteriormente, alguns geiras submetidas ao pastejo foi realizada pelo pastejo.
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Produção intensiva de pastagens 95

A idade e o tipo dos tecidos da plan- perturbação. Todavia, poucos estudos têm do sistema radicular. Experimentos com
ta, quando intensamente removidos irão sido conduzidos para detectar os efeitos nas Lolium perenne, em solução nutritiva,
influenciar sua recuperação. Diferentes funções das plantas, tais como crescimento, mostraram que a taxa de absorção de
intensidades de remoção de tecidos pelo respiração e absorção de nutrientes. NO3- começou a declinar dentro de 30 min
pastejo resultam em diferentes graus de Os efeitos imediatos da desfolhação após 70% da MS dos perfilhos ter sido
recuperação das plantas. Quanto maior dependem principalmente da intensidade removida (CLEMENT et al., 1978). O
a intensidade de pastejo maior será o do pastejo, e são atribuídos a uma medida aumento na absorção de NO3- não ocorreu
tempo de recuperação da planta. Uma direta do grau de redução no processo até um positivo balanço diário de carbono
contínua e discreta desfolhação difere fotossintético ou de ganho de carbono. A na planta ter sido restabelecido. A rapidez
fundamentalmente em seus efeitos sobre redução da fotossíntese não é proporcional e magnitude dos declínios em respiração
a planta. Com contínua desfolhação, numa à perda de área foliar, mas às mudanças das raízes e absorção de nutrientes após
intensidade que pode ser tolerada pela no microclima do dossel, após a perda de a desfolhação são proporcionais à in-
planta, individualmente esta pode ajustar parte aérea da planta e também da desi- tensidade de desfolhação (DAVIDSON;
sua fisiologia à diferente condição fotos- gualdade da contribuição fotossintética MILTHORP, 1966). O sombreamento dos
sintética e suprimento de nutrientes. Alta das folhas de várias idades (LUDLOW; perfilhos ou danos na raiz causam rápidas
frequência de desfolhação, tal como ocorre CHARLES-EDWARDS, 1980). Quando e grandes diminuições na respiração das
em gramíneas pastejadas continuadamente ocorre uma desfolhação em plantas com raízes e absorção de nutrientes, semelhan-
em pastagens, pode resultar em adapta- predominância de folhas maduras, a baixa tes àqueles decréscimos observados após
ções da planta (PARSONS; JOHNSON; capacidade fotossintética destas folhas desfolhações.
WILLIAMS,1988). resulta em maior redução em fotossíntese O crescimento de raízes, respiração
A recuperação da planta de uma desfo- do dossel do que o esperado para a pro- e absorção de nutrientes é grandemente
lhação depende não só de sua capacidade porção de área foliar removida (GOLD; inibido imediatamente após desfolhação
de rebrotação, mas das características da CALDWELL, 1989). em plantas que crescem rapidamente e
desfolhação e dos fatores bióticos e abi- bem supridas com nutrientes, mas esses
óticos do meio. Condições abióticas, luz, Crescimento de raízes, processos são menores após desfolha-
água e nutrientes, que limitam a produção respiração e absorção de ção em plantas com crescimento lento.
nutrientes do sub-bosque
da planta antes ou após o pastejo, podem A alocação de carbono, para raízes de
ter efeitos decisivos na capacidade de a Pesquisas não muito recentes têm de- plantas com limitação de nutrientes, pode
planta se recuperar dos efeitos do pastejo. monstrado para forrageiras do grupo C3 e continuar a ocorrer, por serem as raízes
Pelo fato de a maioria dos estudos fisioló- C4 que o crescimento radicular cessa por especialmente fortes armazenadoras ou
gicos ter sido conduzida visando respostas 24 horas após a remoção (40% a 50%) porque, mesmo após a desfolhação, o
à desfolhação de plantas que crescem da parte aérea da planta (CRIDER, 1955; crescimento dessas plantas assegura a
isoladas, em casas de vegetação ou no TROUGHTON, 1957). Raízes finas e no- limitação de carbono.
campo, com adequada disponibilidade de vas podem também morrer e começar a se
recursos, precaução deve ser tomada ao decompor após a desfolha. Claramente, o Importância dos
fazer interpretação de estudos de cortes, crescimento de raízes e a sua manutenção meristemas apicais
os quais diferem de pastejos. são extremamente sensíveis à desfolhação A capacidade para uma rápida rebrota-
dos perfilhos. O processo de respiração das ção ou uma recomposição da planta após a
Efeitos imediatos do raízes diminui muito rapidamente após a desfolhação realizada pelo pastejo, é uma
pastejo desfolha, mas a magnitude de redução é característica distinta das plantas toleran-
Uma redução instantânea no processo menor do que para o crescimento de raí- tes à desfolhação. Das características que
fotossintético ocorre quando as plantas, in- zes (DAVIDSON; MILTHORPE, 1966). contribuem para uma rápida recuperação
dividualmente, são desfolhadas pelo paste- Monitoramentos contínuos de respiração foliar, a mais importante é a presença de
jo. Como consequência à redução do ganho do sistema radicular indicaram que a res- meristemas ativos, também denominados
em carbono, previamente armazenado em piração pode começar a declinar dentro meristemas apicais. A presença de meriste-
tecidos-fonte, a translocação de carbono e a de horas após a desfolhação, sendo subs- mas apicais na planta, após a desfolhação,
atividade carregadora do floema paralisam. tancialmente reduzida dentro de 24 horas conduz a uma expansão da folha. Algumas
O conhecimento de como as funções fisio- (CLEMENT et al. 1978). vezes, quando a maioria dos meristemas é
lógicas são alteradas imediatamente após A absorção de nutrientes diminui removida pelos animais, no ato do pastejo,
a desfolhação é essencial para o entendi- rapidamente após a desfolhação, conco- ou quando o entrenó eleva-se com o alon-
mento de como as plantas recuperam de tal mitantemente com a redução da respiração gamento do colmo, ou mesmo quando o
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96 Produção intensiva de pastagens

pastejo realiza-se em um nível bem baixo,


próximo da superfície do solo, as plantas
apresentam uma recuperação muito pe-
quena (RICHARDS; CALDWELL,1985).
O potencial de recuperação da planta
é muito maior quando o meristema apical
permanece após a desfolhação. Quando
os meristemas apicais estão presentes, a
presença de alta disponibilidade de carboi-
dratos pode aumentar a taxa de rebrotação.
A rebrotação também pode ser influenciada
pelos fatores do meio como estresse de
água, disponibilidade de nutrientes e tem-
peratura (Fig. 2).

Pastejo e ciclagem de
nutrientes

Rasmo Garcia
O pastejo tem efeito dominante sobre
a ciclagem dos nutrientes por meio do
sistema solo/planta/animal e, dessa for-
ma, sobre a fertilidade dos solos do siste- Figura 2 - Sistema Silvipastoril – capim-braquiária ainda verde em período de seca na
região do Cerrado de Minas Gerais-Fazenda Bom Sucesso, Paracatu, MG
ma. Esse aspecto tem grande importância
em SSPs, uma vez que a ciclagem de
nutrientes em sistemas florestais é mais que possam satisfazer suas necessidades de 100% para 20%, respectivamente. Me-
lenta que em ecossistemas forrageiros de água e minerais. A deposição de ex- nores reduções, no entanto, foram regis-
sem árvores. crementos nesses locais traz como con- tradas para as espécies adaptadas à sombra
Os animais desempenham um papel sequência o empobrecimento das áreas como Paspalum conjugatum e Axonopus
de acelerador no processo de retorno de destinadas ao pastejo. Práticas adequadas compressus. A taxa de fotossíntese líquida
nutrientes à forma mineral para serem reu- de manejo para todos os componentes de responde diferentemente às mudanças
tilizados, pois parte da fração indigestível um SSP, incluindo a adição de fertilizan- no nível de radiação fotossintética ativa,
das plantas forrageiras, antes de retornar tes, são indispensáveis para maximizar a dependendo se as plantas forem do tipo C4
ao solo, sofre degradação no rúmen, retirada de produtos florestais e pecuários (gramíneas tropicais) ou C3 (leguminosas
diminuindo, dessa forma, o tamanho de
sem que haja degradação dos recursos tropicais e gramíneas e leguminosas de
partículas.
naturais. clima temperado).
Esse fato permite um melhor ataque
O manejo do rebanho deve ser direcio-
dos microrganismos do solo, em conse- Pastejo e produtividade do nado para a manutenção de uma área foliar
quência do aumento da área superficial sub-bosque que minimize a luz direta na superfície do
específica. Quando se considera a cicla-
O crescimento do pasto no SSP, o solo, ou seja, uma cobertura foliar deve
gem de nutrientes em ecossistemas de
pastagens, um fator de grande importância qual numa análise final determina a taxa existir. A quantidade de área foliar removi-
é a transferência de nutrientes promovida de lotação, depende da quantidade da da pelo pastejo e a rapidez com que é recu-
pelos animais. Isto ocorre, principalmen- radiação fotossintética ativa incidindo perada, durante e após o pastejo, são fatores
te, pela maior deposição de excreções em no relvado, que, por sua vez, depende da determinantes no crescimento do pasto. A
locais próximos às aguadas e cochos de radiação recebida no local e da porcenta- taxa de lotação determina a frequência e
sal mineral. gem de transmissão por meio das copas a intensidade da desfolhação da planta, e
É provável que esse fenômeno seja das árvores. Smith e Whiteman (1983 esta não influencia somente a quantidade
também importante num SSP, por cau- apud HUMPHREYS, 1994) verificaram de folhas presentes, mas também o nível de
sa da existência de áreas de descanso, reduções nos rendimentos de MS de carboidratos totais não estruturais (CTNE),
aguadas e cochos para mineralização do Brachiaria decumbens e B. humidicola os quais estão armazenados na base de
rebanho, onde os animais permanecem de 28,2 t para 3,3 t e de 22,8 t para 2,6 t, colmos e raízes. Em pastos sombreados,
por determinado período do dia, para quando a intensidade de luz foi reduzida o acúmulo de CTNE não influencia só
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Produção intensiva de pastagens 97

a persistência da planta, mas também a


rapidez com que a folha se expande após
a desfolhação (WONG, 1991).
Em pastos manejados de capim-guiné
(P. maximum), sob cortes a cada oito e
quatro semanas de intervalo, Wong (1991)
verificou interceptação de luz de 90% e
35% a cada oito e quatro semanas, respec-
tivamente. Torna-se importante lembrar
que, para a espécie de gramínea estudada,
com oito semanas de intervalo de pastejo e
com a interceptação de luz de 90%, o valor
nutritivo desta planta decresce substan-
cialmente com a idade, especialmente em

Ivan Janotti Wendling


gramíneas do tipo C4. O indicador altura da
planta e intensidade de pastejo influencia
na retomada de crescimento da planta, na
área residual de folhas após o pastejo e nas
gemas basais presentes abaixo da altura de
remoção pelo pastejo. Os estudos realiza- Figura 3 - Sistema Silvipastoril – capim-braquiária e coqueiros na região do Vale do Rio
Doce, MG
dos com diversas gramíneas forrageiras
cultivadas a pleno sol, preconizando a
entrada dos animais na pastagem, quando variando desde o simples sistema de lidade no método contínuo em impedir que
o pasto apresentar um dossel interceptando diferimento ao mais sofisticado sistema o animal não realize o pastejo com mais
95% de luz, provavelmente não será o ideal rotacionado de curta duração. frequência e intensidade sobre a forragei-
para pastos sombreados. O índice de área O objetivo geral desse método foi ra. Mesmo adotando a mesma pressão de
foliar ótimo, para forrageiras a pleno sol, aumentar a produção de forragem na pas- pastejo (UA/kg de MS pasto disponível),
deve ser revisto para as espécies forragei- tagem, assegurando à espécie forrageira que a princípio pode parecer que os efeitos
ras de clima tropical em ambientes com luz, água e nutrientes adequados, para do sistema de uso contínuo comparado ao
luminosidade reduzida, e que os conceitos melhorar o crescimento do pasto, para de uso rotacionado não são diferentes, na
de manejo a pleno sol não deverão ser disponibilizá-lo ao animal de forma mais prática, os efeitos são distintos.
aplicados integralmente. Só pelo fato de eficiente. Os objetivos específicos foram No sistema contínuo, os animais ficarão
as plantas forrageiras sob sombra terem melhorar a produtividade, reduzir a sele- confinados na mesma área da pastagem, o
seus mecanismos fisiológicos alterados tividade animal pelo aumento da pressão que resulta na desfolhação das plantas com
e visivelmente apresentarem alterações de pastejo e assegurar maior uniformidade mais frequência e maior grau de utilização.
morfológicas, um manejo do rebanho que de distribuição dos animais na pastagem. A seletividade, pelo animal, não deixará de
conduza a um pastejo diferenciado em SSP, Até os dias de hoje, os métodos con- existir pela preferência que este tem por
necessita de informações mais concretas, o tínuo e rotacionado são discutidos, e as partes da planta no decorrer do período ou
que será conseguido por meio da pesquisa afirmativas de que cada um pode ser mais estações do ano. No sistema rotacionado,
(Fig. 3). vantajoso do que o outro são apresentadas os animais podem também expressar uma
por pesquisadores de pastagens em seus seletividade, mas será em menor grau,
MÉTODO ROTACIONADO NO diferentes relatos. A despeito de claras e pois serão monitorados pelo manejador
SISTEMA SILVIPASTORIL consistentes evidências que demonstram do rebanho que julgará a necessidade de
O método rotacionado, algumas vezes que os métodos rotacionado e contínuo retirá-los de uma determinada área, para
também denominado método rotativo ou têm similaridades efetivas no manejo da conduzi-los para outra área da pastagem.
sistema rotativo, foi descrito por James pastagem, o rotacionado continua a ser Como resultado, as plantas terão, na au-
Anderson no fim do século 18, na Escócia promovido como um método superior de sência dos animais, um período para se
(VOISIN, 1959). Mas a implementação sistema de pastejo. Observa-se que entre recuperar da desfolhação provocada pelo
do sistema de uso rotacionado verificou- um e outro método existem diferenças pastejo. Espera-se com o método rotacio-
se, posteriormente, durante o século 20, marcantes, quando se analisa a impraticabi- nado um controle maior do animal sobre
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98 Produção intensiva de pastagens

a planta, no que se refere à remoção de corrência da menor relação folha/colmo, apresentavam três anos e meio de idade.
meristemas apicais e à área foliar deixada além de que a espera por uma interceptação Durante os três primeiros anos de pastejo
após a desfolhação, princípios básicos que maior de luz pelo dossel provavelmente no SSP, o ganho de peso vivo anual foi de
governam a rebrotação da planta. Num não corresponderá ao melhor manejo do 40 kg/ha, caindo para 30 kg/ha após o ter-
sistema onde a luminosidade é reduzida sub-bosque. ceiro ano de pastejo, equivalente ao sexto
para o pasto, as práticas comuns de manejo Assim, sabendo da fragilidade das ano do sistema e, a partir daí, não houve
do rebanho deverão ser modificadas pelas plantas forrageiras que constituem o sub- mais ganho. Segundo esses autores, apesar
alterações fisiológicas e morfológicas que bosque de um SSP, e outras características do alto nível de sombreamento inviabilizar
as forrageiras apresentam. Uma vantagem visíveis que se manifestam sob sombre- a exploração pecuária a partir do sexto ano
indiscutível do método rotacionado é a amento, recomenda-se que o método do SSP, a redução da massa de forragem
possibilidade de realizar o diferimento rotacionado seja utilizado até que mais do sub-bosque, realizada pelo pastejo,
planejado, o que dará às plantas a condição pesquisas possam gerar mais conhecimen- reduziu os riscos de incêndio e os custos
de produção de sementes e o ressemeio tos para o aprimoramento de um método de de sua prevenção.
natural pela formação de um banco de manejo do rebanho e do pasto no sistema. Silva et al. (1999) estudaram o de-
sementes capaz de manter a perenidade da sempenho animal, a taxa de lotação e a
espécie forrageira. PRODUÇÃO DE CARNE EM forragem residual em SSP com acácia-
O diferimento do pasto é uma alterna- SISTEMAS SILVIPASTORIS negra (Acacia mearssi) cultivada em dois
tiva que pode ser utilizada para minimizar Conforme relatado até aqui, pratica- espaçamentos de plantio (2 x 3 m e 2 x 5
o efeito da estacionalidade forrageira em mente não existem estudos dirigidos ex- m), tendo como sub-bosque as espécies
SSPs. A viabilidade da prática do dife- clusivamente para o manejo da pastagem forrageiras B. brizantha cv. Marandu e P.
rimento depende de vários fatores como em SSPs. Entretanto, algumas pesquisas maximum cv. Gatton (Quadro 1). O tra-
a espécie forrageira, nível de adubação avaliaram o desempenho animal nesse balho foi conduzido durante o período de
nitrogenada, período de diferimento e de sistema, adaptando estratégias de manejo outubro de 1998 a fevereiro de 1999 e os
utilização. Esta ainda é uma técnica de adotadas em sistemas a pleno sol. melhores desempenhos zootécnicos foram
manejo muito pouco explorada nos SSPs Baggio e Schreiner (1988) estudaram obtidos na condição de menor densidade
e carente de trabalhos científicos. Um dos um SSP constituído por Pinus elliottii, con- arbórea (1.000 árvores/hectare).
poucos, se não o único trabalho sobre sorciado com várias espécies de gramíneas Lucas (2004) avaliou o desempenho
diferimento em SSP, é o de Fernandes et e leguminosas, utilizando gado de corte. de novilhas em SSP com acácia-negra,
al. (2009), que observaram diferença da O pínus foi cultivado no espaçamento de sob duas densidades de cultivo (833 e
produtividade em função das épocas de 3 x 3 m (1.111 árvores/hectare) e o gado 500 árvores/hectare), cujo sub-bosque era
diferimento. foi introduzido na área, quando as árvores composto pelas gramíneas P. maximum
Orientações de manejo de forrageiras
cultivadas a pleno sol foram descritas
desde a década de 1970 (WILSON, 1973), QUADRO 1 - Efeito da densidade de plantio de acácia-negra em associação com duas gra-
em que o índice de área foliar ótimo de um míneas sobre o desempenho de novilhos, taxa de lotação e forragem residual
Densidade arbórea/Espaçamento
dossel estivesse interceptando 95% da luz.
Variáveis 1.666 árvores/hectare 1.000 árvores/hectare
Recentemente, pesquisadores no Brasil
(2 x 3 m) (2 x 5 m)
vêm recomendando aos manejadores de
Panicum maximum cv. Gatton
pastagem a entrada dos animais para o
pastejo, quando as plantas forrageiras, a Ganho médio diário (g/dia) 644 696
exemplo das gramíneas tropicais, atin- Lotação média (novilhos/ha) 1,70 2,55
girem uma interceptação de luz de 95%. Ganho por área (kg/ha) 104 169
Todavia, para os SSPs, este conceito deve
Forragem residual (kg de MS/ha) 2.422 3.200
ser revisto.
As gramíneas forrageiras no sistema Brachiaria brizantha cv. Marandu
já mostraram modificações que devem ser Ganho médio diário (g/dia) 573 690
observadas, como alongamento do colmo, Lotação média (novilhos/ha) 1,85 2,85
crescimento lento, recuperação lenta após
Ganho por área (kg/ha) 105 195
desfolhação, redução do perfilhamento,
maior exposição dos meristemas apicais Forragem residual (kg de MS/ha) 1.720 2.995
e diminuição do valor nutritivo em de- FONTE: Silva et al. (1999).

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Produção intensiva de pastagens 99

cv. Gatton, P. maximum cv. Aruana, e QUADRO 2 - Ganho diário de peso de novilhas em pastagens de gramíneas sob duas densi-
Digitaria diversinervis (Quadro 2). Esse dades arbóreas de acácia-negra
autor concluiu a viabilidade técnica para Árvores/hectare
Dias de
a produção de carne em SSP com acácia- Pastagem 833 500
pastejo
negra, no Rio Grande do Sul. Assim g/dia kg/ha g/dia kg/ha
como no trabalho de Silva et al. (1999),
P. maximum cv. Gatton 108 699 314 778 360
os maiores ganhos de peso por área foram
obtidos com menor densidade de árvores P. maximum cv. Aruana 108 735 275 864 380
por hectare.
Na Zona da Mata mineira, Paciullo Digitaria diversinervis 93 919 288 780 290
et al. (2004) avaliaram o ganho de peso FONTE: Lucas (2004).
de novilhas leiteiras mantidas em pasta-
gem de B. decumbens, consorciada com
QUADRO 3 - Taxa de lotação e ganho de peso vivo por animal, de novilhas leiteiras, em Sistema
Stylosanthes guianensis e espécies arbóreas,
Silvipastoril (SSP) e em pastagem exclusiva de B. decumbens
comparado com o ganho de peso de novi-
Ganho de peso Taxa de lotação
lhas mantidas em pastagem exclusiva de B.
Tratamento g/dia kg/ano Novilhas/hectare
decumbens. Nas avaliações realizadas du-
rante a época das chuvas, o ganho de peso Chuva Seca Anual Chuva Seca

por animal foi semelhante entre os tratamen- SSP 570 a 428 a 179,6 1,8 1,2
tos, com média de 486 g/dia. Entretanto, B. decumbens 542 a 306 b 152,6 1,8 1,1
durante o período seco, o ganho de peso das FONTE: Alvim et al. (2004).
novilhas variou, sendo 40% maior no SSP NOTA: Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem pelo teste de Tukey a 5%.
com estilosantes e árvores (326 g/dia), contra
236 g/dia observado em novilhas mantidas
QUADRO 4 - Ganho de peso por animal e ganho de peso por hectare de novilhos em Sistema
com B. decumbens em monocultivo. O Silvipastoril (SSP) adubado com fertilizante nitrogenado sob duas ofertas de
SSP era composto por faixas de 30 m de forragem
pastagens consorciadas com S. guianensis e
Doses de N Oferta de forragem Ganho de peso por Ganho de peso por
faixas de 10 m de espécies arbóreas (Acacia (kg/ha) (% peso vivo) animal hectare
angustissima, A. mangium, A. auriculiformes, (kg/animal) (kg/ha)
Mimosa artemisiana e Eucaliptus grandis). 0 10 43,5 57,83
Nessa mesma área experimental, Alvim et al.,
15 44,5 50,83
(2004) verificaram que, na época da seca, o
75 10 49,5 132,33
ganho de peso de novilhas no SSP foi signifi-
15 50,0 144,00
cativamente maior ao daquele verificado em
novilhas com acesso à pastagem exclusiva de 100 10 57,5 197,72
B. decumbens (Quadro 3). 15 52,3 175,50
Na região do Cerrado de Minas Gerais, FONTE: Bernardino et al. (2007a).
o desempenho de novilhos da raça Nelore
submetidos a duas ofertas de forragem
(10% e 15% do peso vivo) em pastagem de deve ser maior com oferta de forragem de No Vale do Rio Doce, Minas Gerais,
B. brizantha cv. Marandu, no sub-bosque 10%. Foram observados ganhos crescen- Wendling et al. (2006) estudaram o consór-
de eucalipto, no espaçamento de 10 x tes, à medida que foram adicionadas doses cio de Cocos nucifera (178 árvores/hectare)
4 m, adubado com três níveis de N (0, 75 crescentes de fertilizante nitrogenado, por e B. brizantha cv. Marandu manejada sob
e 150 kg/ha), foi estudado por Bernardino, causa do aumento da produção de massa, lotação rotacionada. Esses autores relata-
Garcia e Tonucci (2007a). Foram reali- da capacidade de suporte dos pastos adu- ram ganho diário de peso vivo de novilhas
zadas três avaliações de ganho de peso bados, o que permitiu maior produção mestiças HZ de 0,542 kg/dia (média de 365
(Quadro 4). Segundo esses autores, a ofer- de peso vivo por unidade de área. Esses dias de avaliação). No estudo, a capacidade
ta de forragem de 15% é mais adequada, autores concluíram que a fertilização do de suporte média anual da pastagem foi de
quando não se utiliza N ou este é aplicado sub-bosque mostrou boa resposta à inten- 4,0 novilhas/ hectare, o que correspondeu
em doses baixas na pastagem. Para doses sificação do uso de sistemas integrados a 2,4 UA/ha, bem superior à capacida-
mais elevadas de N, a pressão de pastejo com eucalipto-pastagem. de de suporte média da região, que é
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100 Produção intensiva de pastagens

0,5 UA/ha/ano. A consorciação do coco ANDRADE, C.M.S. de et al. Fatores limi- CRIDER, F. J. Root-growth stoppage resul-
com produção animal proporcionou renta- tantes ao crescimento do capim-tanzânia ting from defoliation of grass. Washington:
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ambientes com luminosidade reduzida, two tropical grasses (Brachiaria brizantha
mesmo que tenham as suas exigências BELESKY, D.P.; CHATTERTON, N.J.; NEEL, and Panicum maximum var. trichoglume).
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nutricionais atendidas e que não estejam
light gradiente in the Central Appalachian ce, v.44, n.2, p.111-124, 1996.
sendo submetidas a qualquer processo de
Region of the easterm USA: III - nonstruc-
desfolhação pelo pastejo. Também, quando ERIKSEN, F. I.; WHITNEY, A. S. Effect of
tural carbohydrates and nutritive value.
light intensity on growth of some tropical
sob sombreamento parcial, estas plantas Agroforestry Systems, v.67, n.1, p.51-61,
forage species: I - interaction of light in-
apresentam visíveis alterações morfológi- Apr. 2006.
tensity and nitrogen fertilization on six fo-
cas, refletindo na produtividade e no valor BERNARDINO, F. S.; GARCIA, R.; TO- rage grasses. Agronomy Journal, v.73, n.3,
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pode resultar em maiores danos às espécies corte pastejando o sub-bosque de um Sis-
FELDHAKE, C. M. Microclimate of a natural
forrageiras comparado ao mesmo proces- tema Silvipastoril submetido a doses de
pasture under planted Robinia pseudoacacia
fertilizante nitrogenado e duas ofertas de
so para plantas sob pleno sol. Os SSPs, in central Appalachia, West Virginia. Agro-
forragem. In: REUNIÃO ANUAL DA SO-
quando bem empregados, apresentam-se CIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA,
forestry Systems, v.53, n.3, p.297-303, Nov.
como excelente possibilidade de manter o 2001.
44., 2007, Jaboticabal. Anais... O avan-
equilíbrio entre os componentes inseridos ço científico e tecnológico na produção FERNANDES, F.E.P. et al. Produtividade de
no ecossistema pastoril, com múltiplos be- animal. Jaboticabal: SBZ: UNESP, 2007a. Brachiaria brizantha cv. Marandu diferi-
1CD-ROM. da em Sistema Silvipastoril. In: REUNIÃO
nefícios, que melhoraram a produtividade
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
animal. Destaca-se, ainda a possibilidade BERNARDINO, F. S.; GARCIA, R.; TONUC-
ZOOTECNIA, 46., 2009, Maringá. Anais...
de diversificação de produtos que os SSPs CI, R. G. Desempenho de novilhos de corte
Inovação Científica e Tecnológica em Zoo-
permitem, o que pode reduzir os riscos de- pastejando o sub-bosque de um Sistema Sil-
tecnia. Maringá: Universidade Estadual de
vipastoril submetido a doses de fertilizan-
correntes da monocultura e até melhorar a Maringá: SBZ, 2009. 1CD-ROM.
te nitrogenado e potássico. In: REUNIÃO
renda da propriedade. Mais pesquisas pre- ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA GARCIA, R.; ANDRADE, C. M. S. de Sis-
cisam ser conduzidas em busca de melhor DE ZOOTECNIA, 44., 2007, Jaboticabal. temas Silvipastoris na Região Sudeste. In:
produtividade e qualidade do sub-bosque, Anais... O avanço científico e tecnológi- CARVALHO, M.M.; ALVIM, M.J.; CARNEI-
com um manejo do rebanho que assegure co na produção animal. Jaboticabal: SBZ: RO, J. da C. (Ed.). Sistemas Agroflorestais
UNESP, 2007b. 1 CD-ROM. pecuários: opções de sustentabilidade para
um bom desempenho dos animais e que
áreas tropicais e subtropicais. Juiz de Fora:
possa garantir a perpetuação da forrageira e BURNER, D. M.; BRAUER, D. K. Herbage
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Produção intensiva de pastagens 101

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e-mail: femf@epamig.br
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102 Produção intensiva de pastagens

Alternativas de suplementação volumosa


na estação seca do ano
Thiago Fernandes Bernardes 1
Greiciele de Morais 2
Naiara Caixeta da Silva 3

Resumo - A manutenção de estoques forrageiros para alimentação de ruminantes, duran-


te a estação seca, pode ser feita por meio do cultivo de culturas, disponíveis durante essa
estação, ou pelo uso de técnicas de conservação de volumosos. A cana-de-açúcar merece
destaque, por se tratar de capineira, pelo potencial produtivo da cultura e pela atrativida-
de dos custos. Outra opção seria o capim-elefante, forrageira tradicionalmente cultivada
no estado de Minas Gerais. A ensilagem e a fenação são compostas por um conjunto de
etapas distintas, complexas e de maior custo e risco, todavia, a confecção de alimentos
conservados elimina o inconveniente do corte diário, decorrente do uso das capineiras.

Palavras-chave: Pastagem. Suplemento energético. Ensilagem. Silagem. Fenação. Feno.


Cana-de-açúcar.

INTRODUÇÃO de conservação abrangem diversas etapas sobretudo em sistemas produtivos do


complexas e dispendiosas, as quais os estado de Minas Gerais.
O estoque de volumoso suplementar
caracterizam como alternativas de maior
para a alimentação dos animais na esta-
custo e risco. Cana-de-açúcar
ção seca do ano pode ser feito por meio
Os objetivos deste artigo são explanar A utilização da cana-de-açúcar como
do cultivo de forrageiras para corte e
sobre os principais tipos de volumosos recurso forrageiro para a minimização
fornecimento in natura (capineiras) ou
suplementares, representados pelas capi- dos efeitos da entressafra das pastagens
pela utilização de volumosos conservados
neiras, silagem e feno, abordar aspectos vem crescendo ano a ano. O dogma de
(silagem ou feno).
relativos às culturas, etapas de cada proces- ser considerado um volumoso restrito
A opção pelas capineiras representa
so e considerações de ordem nutricional e a animais de baixo potencial produtivo
uma forma simples de reserva de alimento
econômica pertinentes. tem sido substancialmente renegado.
na propriedade, onde o sucesso consiste
na adequada implantação e manejo dos Encontram-se, na literatura, citações ta-
CAPINEIRAS xando a utilização da cana-de-açúcar para
talhões de acordo com a cultura, tendo,
porém, o inconveniente do corte diário. As capineiras são áreas delimitadas vacas com produção de 10 kg de leite/
A conservação de volumosos, seja por da propriedade agrícola, onde se culti- dia. Atualmente, trabalhos de pesquisa
meio da ensilagem, seja pela fenação, visa vam forrageiras para corte e fornecimen- e experiências práticas mostram que a
manter o valor nutritivo das forrageiras, to no cocho, após picagem. As culturas cana-de-açúcar pode e deve ser utilizada
permitindo a padronização das dietas e mais utilizadas para essa finalidade são para animais de alta produção.
viabilizando a dinâmica da alimentação a cana-de-açúcar e o capim-elefante. A A filosofia de utilização da cana-
de rebanhos numerosos com alcance de primeira, destaca-se pela produtividade de-açúcar deve ter como base que, esse
índices produtivos satisfatórios ou supe- elevada e ponto de maturação coin- alimento é fonte de energia, ao invés
riores aos obtidos na época de disponibi- cidente com a época seca do ano, e o de ser criticado pelo seu baixo teor de
lidade dos pastos. Todavia, tais métodos capim-elefante pela tradição de cultivo, proteína. A qualidade da fibra da cana-

Engo Agro, Pós-Doc, Prof. Adj. II UFLA - Depto. Zootecnia, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: thiagobernardes@dzo.ufla.br
1

Zootecnista, Mestranda Zootecnia UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: greicimor@yahoo.com.br
2

Zootecnista, Mestranda Zootecnia UFLA, Caixa Postal 3037, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico: naiaranoemi@bol.com.br
3

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Produção intensiva de pastagens 103

de-açúcar é o verdadeiro entrave para cuja relação forragem:concentrado foi de se deve a não incidência de custos relativos
sua utilização. 50:50, as vacas produziram 20,1 kg/dia à conservação do material, já que a cana
A escolha por determinada variedade com a cana-de-açúcar. encontra-se madura justamente na época de
de cana-de-açúcar, para utilização como Corrêa et al. (2003) avaliaram o desem- maior demanda de suplementação energética.
capineira em um sistema de produção de penho de vacas Holandesas de alta produ- Além disso, a comparação realizada
ruminantes, deve seguir discernimentos ção, alimentadas com silagem de milho entre as opções de manejo convencional
técnicos e econômicos, principalmente, ou cana-de-açúcar, utilizando dietas com da cana (colheita manual, seguida de
pelo fato de a cana ser uma planta semi- relação forragem:concentrado de 45:55. A picagem em equipamento estacionário) e
perene, podendo estar presente dentro da cana-de-açúcar deprimiu o consumo (23,1 colheita mecanizada apontou para vanta-
propriedade por período próximo a cinco versus 21,5 kg/dia) e a produção de leite gens nos custos por tonelada de matéria
anos. Dessa forma, devem-se preconizar (34,4 versus 31,9 kg/dia). Esses autores verde (MV) e de matéria seca (MS) da
variedades que apresentem: alta produti- concluíram que a cana parece ser uma alter- opção mecanizada, decorrente, princi-
vidade, alto teor de sacarose, resistência nativa para alimentar grupos de vacas Ho- palmente, da substituição vantajosa dos
ao tombamento, resistência a pragas e landesas, durante fases da lactação, na qual custos relativos à mão de obra do sistema
doenças, despalhamento facilitado, adap- a demanda nutricional não seja a máxima. convencional pelo custo da mecanização
tabilidade às condições edafoclimáticas da A cana-de-açúcar também foi avaliada (depreciação e manutenção de colhedora
região e digestibilidade da fração fibrosa como forragem para recria de animais es- de forragens), como pode ser observado no
satisfatória. pecializados em produção de leite. Andrade Quadro 1. Desse modo, a decisão final pela
Outra estratégia, pouco explorada (1999) utilizou novilhas Holandesas em colheita mecanizada deverá considerar,
por pecuaristas, é a obtenção de varieda- experimento, recebendo como forragem entre outras características, aspectos agro-
des em função da época de maturação. exclusiva a silagem de milho ou a cana- nômicos como a manutenção de colmos
Encontram-se disponíveis variedades de de-açúcar. O ganho em peso diário foi de eretos e a não ocorrência de tombamento
cana-de-açúcar precoces, médias e tardias, 1,18 kg para a dieta com silagem de milho e e arqueamento de touceiras, com vistas à
sendo que, para maximização da qualidade de 1,01 kg para a dieta com cana-de-açúcar. viabilização da operação (DANIEL; ZO-
nutricional desse volumoso, aliada a um Quanto ao custo de produção da cana in POLLATTO; NUSSIO, 2011).
planejamento forrageiro adequado, a cultu- natura, segundo a simulação proposta por
ra da cana-de-açúcar dentro de um sistema Capim-elefante
Daniel, Zopollatto e Nussio (2011), apesar do
de produção animal também não deve ser
elevado custo por hectare, essa opção é mais O capim-elefante é tradicionalmente
fundamentada em apenas uma variedade,
barata do que a utilização de silagens. Isso cultivado como capineira no estado de Mi-
mas sim, em variedades com diferentes
pontos de maturação.
Por fim, não é pertinente a indicação QUADRO 1 - Parâmetros agronômicos e nutricionais da cana-de-açúcar in natura e custos de
de uma variedade, que seja designada produção do volumoso colhido de forma manual e mecanizada
como ideal para qualquer sistema de Parâmetro
Cana mecanizada Cana manual
produção animal, pois, pelas diferenças (planta/soca) (planta/soca)
edafoclimáticas encontradas no Brasil, Produtividade (t MV/ha) 84 84
Produtividade (t MS/ha) 25,2 25,2
uma determinada variedade poderá ou não
MS forragem (%) 30 30
expressar seu máximo potencial. Assim,
NDT (%) 60 60
o ideal é optar por variedades inseridas PB (%) 2,5 2,5
na região, buscando aquela que apresente Custos (R$)
valor nutricional desejado para produção Insumo (1)
2.379,42 / (2)601,50 (1)
2.379,42 / (2)601,50
de ruminantes. Preparo do solo 164,69 164,69
Quanto à utilização, Mendonça et al. Plantio e tratos culturais (1)
668,06 / (2)99,75 (1)
668,06 / (2)99,75
(2004) alimentaram vacas em lactação com Colheita 541,50 1410,18
dietas de relação forragem:concentrado Distribuição 509,12 509,12
Total (R$/ha) 2.379,60 3.248,28
de 60:40, sendo a silagem de milho ou a
Total (R$/t MV) 28,54 38,95
cana-de-açúcar como forragem exclusiva.
Total (R$/t MS) 95,12 129,84
A produção de leite foi de 22,0 e 19,2 kg FONTE: Dados básicos: Daniel et al. (2011).
para as vacas alimentadas com silagem de NOTA: MV - Matéria verde; MS - Matéria seca; NDT - Nutrientes digestíveis totais; PB -
milho e com cana-de-açúcar, respectiva- Proteína bruta.
mente. Entretanto, em um dos tratamentos, (1) Valores referentes à planta. (2) Valores referentes à soca.

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104 Produção intensiva de pastagens

nas Gerais. Todavia, são comuns as falhas crescimento da variedade disponível na Todavia, a silagem de milho apresenta
no manejo dessa forrageira nas fazendas. fazenda, de modo que impeça a brotação custo de produção elevado, sendo justifi-
Por se tratar de uma cultura altamente de gemas aéreas, a redução acentuada na cada somente quando produzida de forma
produtiva, as capineiras dessa espécie relação folha-colmo e a perda do vigor das tecnificada para resultar em forragem
demandam uma adequada reposição de touceiras. Ao mesmo tempo, a fitomassa de alta qualidade. Outro entrave é que a
nutrientes em sincronia à realização dos acumulada deve suprir a quantidade neces- espécie é agronomicamente complexa,
cortes, o que invariavelmente é negligen- sária ao arraçoamento e manter a qualidade exigindo tratos culturais frequentes e in-
ciado. Deve-se ressaltar que, o crescimento satisfatória. tensos (fertilizantes, herbicidas, inseticidas
do capim-elefante, assim como dos demais e fungicidas). A colheita durante o período
capins tropicais, concentra-se na época de SILAGEM chuvoso também pode ser um limitante,
abundância das chuvas. quando se pensa em compactação do solo,
A silagem é o produto da fermentação
O maior problema, no entanto, é veri- e o cultivo próximo às zonas urbanas torna-
de uma forrageira no silo, e a ensilagem é
ficado quanto ao modo como são condu- se inviável pelo roubo de espigas.
o processo realizado com vistas à obten-
zidos os cortes das capineiras. É comum Sobre a colheita do milho para ensila-
ção da anaerobiose, condição vital para
observar nas propriedades capineiras com gem, apesar de tratar-se de um assunto já
o desenvolvimento de microrganismos
crescimento máximo durante a época das muito discutido entre produtores e técnicos,
desejáveis ao processo, sobretudo as
águas, resultando em materiais altamente ressalta-se que o corte deverá ser realizado
bactérias ácido láticas, cujos produtos
fibrosos e pobres em nutrientes, para serem quando os grãos atingirem entre 50% e
formados determinarão o abaixamento do
utilizados na época seca. 60% da linha do leite, momento em que a
pH e, consequentemente, a conservação do
Estudos recentes com capim-elefante forragem apresenta MS entre 32% e 35%
alimento estocado.
sob pastejo passaram a avaliar a colheita (Gráfico 1). Dessa forma, além de garantir
dessa forrageira em intervalos de tempo Culturas associadas à o teor de MS ideal para o crescimento de
variáveis, correspondentes a 1,0 m de al- ensilagem microrganismos desejáveis, o enchimento
tura das plantas; momento em que o dossel dos grãos é assegurado até a capacidade
consegue interceptar 95% da luz incidente As condições climáticas do Brasil per-
próxima da máxima. Esse aumento no teor
(VOLTOLINI et al., 2010ab; CARARE- mitem o cultivo de uma grande diversidade
de amido da silagem pode impactar na
TO, 2007). Características positivas, como de forrageiras que podem ser ensiladas, redução dos custos com alimentação, pela
menor acúmulo de material morto, menor resultando em volumosos diferenciados possível diminuição na compra de nutrientes
teor de fibra (VOLTOLINI et al., 2010a) e qualitativamente e capazes de suprir, em energéticos sob a forma de concentrado para
melhorias no desempenho animal (VOL- parte, a energia demandada pelos animais balanceamento das dietas.
TOLINI et al., 2010b; CARARETO, 2007), em extensão variável, conforme o seu Outro aspecto de relevância na colheita
foram atribuídas ao manejo em questão. potencial produtivo. Daí a necessidade de das plantas de milho é o rompimento dos
Todavia, tratando-se de capineiras, o conhecer as diferentes culturas aptas para grãos. Johnson et al. (1999), ao confrontarem
corte do capim-elefante, com base na altura tal finalidade, bem como as características diversos estudos sobre a presença de grãos
de 1 m das plantas não se aplica, por causa das silagens produzidas. quebrados, mostraram que essa medida de
das questões operacionais e pela própria manejo reflete em aumento na produção, po-
Milho
finalidade, que é o acúmulo de massa de dendo variar de 0,2 a 2,0 kg de leite/vaca/dia.
forragem para a época seca do ano. Dessa O milho tem sido a cultura predominan- A escolha da semente a ser usada com
forma, caberá ao produtor equacionar te para produção de silagem. Essa espécie a finalidade de ensilar deve ser ponderada
a perda em valor nutritivo que ocorrerá apresenta concentração de MS ideal, teor não somente em função do preço, mas
progressivamente, à medida que a planta de carboidratos solúveis elevado e baixo em função dos benefícios nutricionais
acumular mais forragem, realizando uma poder tamponante no momento ideal do advindos daquela planta. Nesse contexto,
adequada suplementação proteico-energé- corte, o que favorece a fermentação da o teor de fibra em detergente neutro (FDN)
tica, por meio de alimentos concentrados, massa. é uma característica de grande importân-
conforme o caso. A cultura do milho reúne duas ca- cia, sobretudo nas condições de produção
Existem muitas variedades de capim- racterísticas extremamente importantes brasileira, onde a maioria das lavouras de
elefante e estas diferem quanto ao potencial em um volumoso suplementar: elevado milho para silagem é composta por mate-
produtivo e conformação das touceiras, potencial de produção de MS e elevado riais de grão duro. Dessa forma, materiais
impedindo, assim, a definição de uma valor nutricional, além da flexibilidade de que apresentam comportamento decres-
altura padrão para o seu corte. O manejo uso, podendo-se fazer silagem da planta cente da FDN, à medida que o teor de MS
deve ser com base no monitoramento do inteira ou a silagem dos grãos. das plantas se eleva, devem ser preferidos
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Produção intensiva de pastagens 105

com vistas à produção de silagens de


Amido MS
qualidade. Outro raciocínio complemen-
tar é que, independente do teor de FDN, 45
42
devem-se buscar materiais que apresentem
40
maior digestibilidade dessa fração, o que, 37,2
comprovadamente, está associado a maior 37,4
35 32,4
consumo e a desempenho animal mais 35,1
satisfatório (OBA; ALLEN, 2000). 30

%
Quanto à utilização, reconhecidamente 25 28,1 28,7
a silagem de milho possui o melhor valor
20
alimentício, comparada às demais silagens,
fato que, somado ao seu elevado custo 15
18,2
de produção, faz com que esta seja mais
indicada para alimentação de animais de 10

alta exigência nutricional. Leitoso 1/4 linha leite 2/3 linha leite Maturidade fisioliológica

Desse modo, é de extrema importância


Estádio de maturidade do grão
que a silagem tenha qualidade final bastan-
te satisfatória, pois do contrário, a proprie- Gráfico 1 - Relação entre o estádio de maturidade dos grãos de milho e os teores de matéria
dade estaria negligenciando os benefícios seca (MS) das plantas e de amido depositado nos grãos
do uso desse volumoso. O Quadro 2 pode FONTE: Bal, Coors e Shaver (1997).

QUADRO 2 - Avaliação da silagem de milho com base em características físicas e organolépticas


Possível Pontuação
Característica
pontuação aplicada
Proporção de grãos (40 pontos)
Alta - 35% ou mais. 30-40
Média - 15% a 35%. 15-29
Baixa - 1% a 14%. 0-14
Odor (28 pontos)
Desejável - odor leve e prazeroso, sem o indício de putrefação. 24-28
Aceitável - odor frutado e levedado, com leve indicativo de fermentação indesejável. Leve odor de 11-23
vinagre e leve odor de queimado.
Indesejável - forte odor de queimado, indicando aquecimento excessivo. Forte odor de mofo, indicando 0-10
a proliferação de fungos. Odor pútrido, indicando fermentação indesejável.
Coloração (12 pontos)
Desejável - verde a amarelo-esverdeado. 9-12
Aceitável - amarelo. 5-8
Indesejável - marrom ou fortemente escura, indicando aquecimento ou putrefação. Se predominante- 0-4
mente branco ou cinza, ocorreu excessivo desenvolvimento de fungos.
Umidade (10 pontos)
Sem água livre, quando uma amostra é bem comprimida na mão. 9-10
Presença de água, quando bem comprimida ou moderadamente seca. 5-8
Elevada presença de água, quando comprimida ou excessivamente seca com forte odor de mofo. 0-4
Partículas (10 pontos)
Partículas pequenas, bem uniformes e com ângulos bem definidos. 9-10
Partículas uniformes, mas sem ângulos bem definidos. Pedaços moderadamente grandes de palha e sabugo 5-8
Partículas grandes e desuniformes. 0-4
Total
NOTA: Pontuação final: 90 ou acima - Excelente; 80-89 - Satisfatória; 65-79 - Moderadamente satisfatória; Abaixo de 65 - Insatisfatória.

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106 Produção intensiva de pastagens

ser utilizado para qualificar silagens de mi- como o milho, as características da planta produção de álcool e consequente perda
lho, todavia, esta não substitui a avaliação favorecem o processo fermentativo, tendo de MS, tornando imprescindível o uso de
química do volumoso, fundamental quando o diferencial da menor sensibilidade ao aditivos para controle dessas fermentações
o interesse é realizar o balanceamento da fotoperíodo e à deficiência de água, quando indesejáveis. Apesar disso, a ensilagem da
dieta. As considerações listadas, a seguir, comparada ao milho, o que a posiciona cana-de-açúcar justifica-se por permitir um
visam auxiliar no uso do Quadro 2: como opção para a safrinha. melhor manejo agronômico dos talhões;
a) o item Proporção de grãos (Quadro 2) Da mesma forma que o milho, o sorgo é resolver o problema do corte diário e do
pode ser avaliado da seguinte forma: flexível quanto ao uso e exigente em tratos fogo acidental ou criminoso no canavial,
retire amostras da silagem, homo- culturais, tendo o agravante de sofrer in- além de ser uma forma de estocagem de
geneíze essas amostras e faça uma tenso ataque de pássaros, quando os grãos elevadas quantidades de volumoso nas
nova amostragem do material homo- estão na fase de enchimento, o que eleva fazendas, dado o potencial produtivo da
geneizado. Pese essa amostra e anote as perdas da fração amido. cultura.
o peso. Separe os grãos da amostra, Um aspecto importante a ser ressaltado
é a diferença entre os híbridos disponíveis Capins tropicais
pese-os e anote o peso. Divida o peso
dos grãos pelo peso da amostra e no mercado. Os sorgos forrageiros são bons O Brasil possui diversas espécies de ca-
multiplique por 100. Desse modo, ter- produtores de MS (baixo valor nutricional), pins tropicais as quais podem ser ensiladas:
se-á a proporção de grãos na massa; enquanto os materiais denominados gra- Pennisetum purpureum (capim-efelante),
níferos produzem menos massa, contudo Panicum maximum (capim-mombaça;
b) os demais itens são de interpretação
apresentam valor nutricional superior. capim-tanzânia), Brachiaria brizantha
individualizada;
Desse modo, a planta de sorgo não reúne (capim-marandu; capim-xaraés) e os
c) procure não amostrar silagem que produtividade e valor nutricional, como capins do gênero Cynodon (Tifton 85 e
se encontra na região periférica do ocorre com o milho, cabendo ao técnico a Coastcross).
silo (topo e próxima às laterais), pois opção de qual é mais viável (forrageiro ou Quanto aos aspectos fermentativos, os
essa zona pode sofrer maior deterio- granífero) para o seu sistema de produção. capins tropicais apresentam alta umidade,
ração aeróbia (efeito da presença de Quanto ao uso, a silagem de sorgo é a baixa concentração de carboidratos solú-
ar) que a região central; que mais se aproxima do valor nutritivo veis e alto poder tamponante no momento
d) atribua pontos, inserindo-os na co- da silagem de milho, o que determina seu ideal do corte, o que desfavorece a fermen-
luna da direita, de acordo com o in- fornecimento para animais de produção tação e aumenta os riscos de a conservação
tervalo mostrado na coluna do meio. inferior à daqueles cujo mérito produti- não se concretizar.
Terminada a aplicação dos pontos, vo justifique a utilização de silagem de Os capins tropicais são altamente
some-os. O valor obtido deve ser milho. produtivos, porém são necessários vários
comparado com os índices mostrados cortes durante o ano, a maioria no período
Cana-de-açúcar
no final do Quadro 2, o que indicará chuvoso, o que pode limitar o processo de
se a silagem de milho produzida na A cana-de-açúcar alia produtividade ensilagem.
propriedade é de qualidade exce- elevada com valor nutritivo satisfatório, Para contornar o problema das in-
lente, satisfatória, moderadamente assim como o milho. Além disso, a espécie tempéries climáticas, dentro do contexto
satisfatória ou insatisfatória; é agronomicamente simples, comparada de manejo do campo de feno, as sila-
ao milho e ao sorgo, por causa da necessi- gens pré-secas de forrageiras do gênero
e) caso a pontuação seja inferior a
dade de tratos culturais menos frequentes Cynodon apresentam-se como uma im-
80, é necessário que o manejo da
e intensos. A colheita ocorre no período portante alternativa. No caso do capim-
ensilagem seja revisto (melhorado),
seco do ano e com uma janela de corte elefante, o aproveitamento pode-se dar
ou que haja mudança de cultura
bastante extensa, o que facilita o manejo sob a forma de capineira e, das demais
para a produção de silagens, pois
de ensilagem. forrageiras, outra alternativa seria a utili-
índice inferior a este não pode ser
Trata-se de uma cultura altamente rica zação na forma de pasto.
permitido em fazendas produtoras
em açúcares, que são utilizados como A opção pela ensilagem de capins
de volumosos conservados.
substratos pelos microrganismos fermen- tropicais no Brasil esbarra em questões
tadores. Essa característica, aliada ao de operacionalidade, uma vez que as fa-
Sorgo
adequado teor de MS da cultura madura, zendas não são equipadas com máquinas
A silagem de sorgo é um ingrediente desencadeia um rápido abaixamento do pH para corte de capins ou para realização do
energético que vem ganhando destaque em dessas silagens. Todavia, o processo fer- pré-emurchecimento das plantas, quando
rações de bovinos em todo o mundo. Assim mentativo é dominado por leveduras, com este se fizer necessário.
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Produção intensiva de pastagens 107

As silagens de capins tropicais apre- QUADRO 3 - Parâmetros agronômicos e nutricionais de volumosos suplementares
sentam baixo valor nutricional – nutrientes Silagem de Silagem de (1)
Silagem Silagem de
Parâmetro
digestivos totais (NDT) próximo de 50% –, milho sorgo de capim cana
o que torna a dieta mais cara por causa do Produtividade (t MV/ha) 41 44 100 84
Produtividade (t MS/ha) 13,0 13,2 20,0 25,2
elevado uso de concentrado. Além desse
MS forragem (%) 32 32 20 30
fato, como a fermentação ocorrida nessas NDT (%) 65 60 56 58
forrageiras é menos eficiente, existe o risco PB (%) 8,7 9,4 7,8 3,5
de proliferação de microrganismos patogêni- FONTE: Dados básicos: Daniel, Zopollato e Nussio (2011).
cos, como a Listeria monocytogenes, os quais NOTA: MV - Matéria Verde; MS - Matéria seca; NDT - Nutrientes digestíveis totais;
podem contaminar o leite, restringindo o uso PB - Proteína bruta.
(1) Silagem de capim-tanzânia.
dessas silagens na pecuária leiteira.

Custo das silagens


QUADRO 4 - Custo (R$) de produção de volumosos suplementares
conforme a cultura
Daniel, Zopollato e Nussio (2011) rea- Silagem de Silagem de (1)Silagem de capim Silagem de cana
(2)
Parâmetro
milho sorgo (formação/manutenção) (planta/soca)
lizaram uma simulação dos custos de dife-
Insumo 2.010,02 1.745,72 (3)1.569,97 / (4)1.513,00 (5)2.379,42 / (6)601,50
rentes volumosos suplementares. Para tanto,
Investimento 171,91 171,91 694,66 169,84
foram adotados alguns parâmetros relativos
Preparo do solo 225,44 225,44 (3)
59,84 / (4) - (5)
164,69 / (6) -
à composição nutricional e características Plantio e tratos 145,70 145,70 (3)
62,13 / (4) 23,95 (5)
668,06 / (6)99,75
agronômicas dos volumosos (Quadro 3) e, culturais
para composição do custo total de cada sila- Colheita e 842,79 928,53 1.102,35 1.238,50
gem (Quadro 4), consideraram-se as etapas ensilagem
de cultivo, colheita, ensilagem e oferta dos Descarga e 661,59 661,59 1.122,34 1.040,40
volumosos aos animais, incluindo as perdas distribuição
Aditivação - - - 13,17
inerentes em cada fase. Observa-se que,
Total (R$/ha) 4.057,44 3.878,88 4.402,33 3.790,88
dentre as opções de silagens apresentadas,
Total (R$/t MV) 99,49 88,16 67,73 61,43
os custos da silagem de capim são mais Total (R$/t MS) 310,92 293,85 338,64 204,77
elevados. Tal informação pode surpreender FONTE: Dados Básicos: Daniel, Zopollato e Nussio (2011).
a classe produtora, uma vez que os capins NOTA: MV - Matéria verde; MS - Matéria seca.
tropicais são altamente produtivos. De fato, (1) Silagem de capim-tanzânia. (2) Silagem de cana mecanizada. (3) Valores referentes à
o preço por tonelada de MV é baixo, porém formação. (4) Valores referentes à manutenção. (5) Valores referentes à planta. (6) Valores
referentes à soca.
quando se equaciona o custo em função da
MS, este se torna semelhante ao custo das
opções de culturas anuais.
120
A silagem de milho apresenta-se como o
volumoso mais caro, seguida da silagem de 97
100
sorgo (Quadro 4). Nessas duas opções volu-
mosas, os custos relativos aos insumos (fer- 80 69 70 72
66 63
61 64 63
tilizantes, corretivos, inseticidas, herbicidas)
60
foram mais significativos, correspondendo,
em média, a 47% do custo total de produção. 40
No caso das demais silagens os insumos
responderam por 33,5% do custo total. 20
Quanto à silagem de cana-de-açúcar,
0
a utilização de diferentes aditivos resulta Controle LB 5x10^4 LB 5x10^5 Calcário 1% CaO 1% Ureia 1% NaOH 1% B 0,1%
em volumosos com custos diferenciados
Gráfico 2 - Custos de produção (R$/tonelada de matéria original) de silagens de cana-
(Gráfico 2), inclusive superiores ao custo de-açúcar obtidas com diferentes aditivos
adotado no Quadro 4, que é referente ao FONTE: Dados básicos: Daniel, Zopollato e Nussio. (2011).
uso do calcário como aditivo (DANIEL, NOTA: Controle - Sem Aditivo; LB - Lactobacillus buchneri; CaO - Óxido de cálcio;
ZOPOLLATO; NUSSIO, 2011). NaOH - Hidróxido de sódio; B - Benzoato De Sódio.

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108 Produção intensiva de pastagens

Etapas do processo de faca e contra-faca são importantes para Para silos do tipo superfície, a situação
ensilagem garantir a eficiência do corte. Em algumas se agrava pela ausência de sustentação
O processo de ensilagem é composto fazendas, tem-se observado que a colhe- durante a compactação, então as silagens
dora não passa por nenhuma revisão antes contidas neste espaço estão mais sujeitas
basicamente pelas fases de corte e picagem
de iniciar a colheita, e o mais grave é que, à deterioração aeróbia. Desse modo, é in-
da cultura, abastecimento do silo, com-
da mesma forma que o equipamento estava dispensável evitar dimensões excessivas,
pactação da massa, vedação, e, por fim,
o desabastecimento para fornecimento da
desde o último dia de uso, permanece até o sobretudo quanto à altura, para que o equi-
final do processo, promovendo a cada dia pamento que estiver efetuando a pressão
silagem aos animais.
partículas maiores. possa transitar em dois sentidos (compri-
O alcance da anaerobiose e a efetiva
Também, é muito comum a observa- mento e largura), durante a compactação.
conservação do alimento ensilado somente
ção de grãos inteiros nas fezes de animais Em silos do tipo superfície, compactar com
serão obtidos, se todas essas etapas forem
alimentados com silagem de milho e de baixa eficiência os lados significa que, pelo
realizadas de maneira adequada, o que en-
sorgo. Parte desse problema está ligado menos, 50% da massa estará condenada à
volve uma série de cuidados, que deverão
ao estádio de maturação dos grãos, porém, deterioração.
ser criteriosamente seguidos.
ajustes nas máquinas também são respon- Outro aspecto fundamental é que a
Colheita sáveis por esse tipo de perdas. Dessa forma, compactação deve ser constante até o
quando a colhedora não for equipada com
término do enchimento do silo. Segundo
A colheita não tem somente o papel de o dispositivo de rompimento de grãos, a
separar os segmentos planta-solo, mas tam- Ruppel et al. (1995), o turno de compac-
amolação do jogo de facas é fundamental
tação deve ser igual ou superior ao de
bém de promover a picagem da planta num para garantir que tais grãos sofram pelo
determinado tamanho que seja satisfatório colheita, seguindo uma relação de 1 a 1,2
menos uma fragmentação.
e propicie uma fermentação de qualidade vezes maior que o tempo gasto para colher
no silo e, posteriormente, favoreça o con- Compactação e abastecimento a forragem. Ou seja, se o turno de colheita
sumo para os animais. na propriedade for de 10 horas por dia, o
A densidade e a porosidade são proprie- turno de compactação da massa colhida
A redução do tamanho da partícula
dades inter-relacionadas, sendo dependen- deverá durar de 10 a 12 horas. Além disso,
favorece o contato entre as bactérias e o tes da espécie, teor de MS e estrutura da
substrato (açúcares), aumenta a densidade o peso do trator compactador deve ser equi-
forrageira, estádio de maturidade, tamanho
da massa, diminui os custos de estocagem. valente a 40% da tonelagem de forragem
de partícula, altura da camada distribuída
Além disso, partículas menores permane- transportada por hora.
no silo durante o enchimento, peso do
cem menos tempo no rúmen do animal, veículo e pressão que este exerce, tempo Vedação
aumentando, assim, o seu consumo, o de compactação e altura do silo.
que deve ser ponderado de modo que o Quanto maior for o tamanho dos poros
Falhas na vedação podem comprometer
tamanho de partículas obtido propicie uma da massa ensilada, mais facilmente o ar seriamente a eficiência na conservação
adequada ruminação. poderá penetrar no seu interior. Portanto, de forragens, por causa do ingresso de ar
No Brasil, a colheita é feita majoritaria- a redução da porosidade é a prerrogativa na massa, o que se traduz em aumento da
mente por colhedoras de linha acopladas ao principal para perdas por deterioração temperatura, das perdas pela presença de
trator. No estudo de Igarasi (2002), dados aeróbia. Além desse fato, quanto mais MS fungos e possível contaminação de pro-
referentes ao tamanho médio de partículas é estocada dentro de um mesmo volume, dutos de origem animal, sobretudo o leite,
e densidade de silagens foram relacionados menores serão os custos fixos de armaze- com microrganismos indesejáveis.
com os respectivos modelos de colhedoras namento por unidade de MS. O mercado brasileiro de filmes plás-
presentes nas fazendas avaliadas. Como Um estudo realizado junto a 40 fazendas ticos disponibiliza aos consumidores
resultados, colhedoras de linha propor- na Itália mostrou que os valores de densidade basicamente dois tipos de lonas: a de
cionaram tamanho médio de partícula, na região central dos silos (tipo trincheira) coloração preta e a lona dupla face, ambas
geralmente superior a 1,91 cm e densidade variaram de 230-240 kg de MS/m3, e nas confeccionadas em polietileno (AMA-
média das silagens de 135,18 kg MS/m3; regiões periféricas (topo e próximas à pare- RAL; BERNARDES, 2009).
enquanto a única autopropelida avaliada de), a densidade foi de 70-100 kg de MS/m3 A lona dupla face, comparada com a
apresentou 71,3% das partículas com (TABACCO; BORREANI, 2002). Portanto, lona preta de mesma espessura, apresenta
tamanho entre 1,91 e 0,79 cm e densidade para esse tipo de estrutura deve haver par- uma camada de plástico de coloração
da silagem de 230 km MS/m3. ticular atenção para evitar zonas periféricas branca, capaz de refletir parte da luz solar
O afiamento das facas de corte e a com pendências, tanto nas laterais, quanto incidente. Isso possibilita menor aque-
regulagem da distância entre os conjuntos nas extremidades. cimento e menor entrada de oxigênio na
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Produção intensiva de pastagens 109

massa. Apesar de a lona dupla face ser, em


média, mais cara em relação à preta, seu Lona Lona e bagaço Lona e terra

custo é compensado pelas menores perdas 45,0


de MS nas silagens.

Temperatura das silagens (oC)


Ainda assim, a comparação de lonas 40,0

de polietileno, com novos filmes plásticos 35,0


com barreira ao oxigênio, comprovam a
30,0
menor eficiência deste polímero (BORRE-
ANI; TABACCO; CAVALLARIN, 2007; 25,0
BERNARDES; NUSSIO; AMARAL,
20,0
2012) sugerindo que, nas condições bra-
sileiras de produção, outras medidas de 15,0
manejo na vedação devem ser observadas. 1 11 21 31 41 51 61 71 81 91
Temperaturas mais elevadas na massa
favorecem o desenvolvimento de micror- Estocagem (dias)

ganismos indesejáveis, o que prejudica Gráfico 3 - Temperaturas do topo de silagens de milho sob diferentes coberturas da lona
a qualidade nutricional e sanitária da de vedação
silagem, levando a maiores perdas. Desse
modo, quando for possível, o plástico
utilizado na vedação, principalmente o de promovendo aquecimento da massa de gresso de ar, tanto no sentido horizontal
coloração preta, deve receber algum tipo forragem. como no vertical na massa, além dos aci-
de proteção. dentes pelo desmoronamento da porção
Desabastecimento e superior do silo.
A utilização de materiais (terra, cas-
fornecimento da silagem
calho, pneus) sobre o filme plástico pode O manejo de retirada poderá ser auxi-
representar grande demanda de mão de Após a abertura do silo, a parte que não liado por desensiladoras (providas de rolo
obra, seja para colocá-los ou para retirá- é fornecida rapidamente aos animais, per- giratório e lâminas de corte), que executam
los, principalmente quando o silo é extenso manece exposta ao ambiente e, portanto, o trabalho com precisão, promovendo o
ou existem vários silos numa mesma pro- ao oxigênio. Uma vez que isto acontece, corte da superfície no sentido de cima para
priedade. Porém, esse tipo de cobertura perde-se a condição de anaerobiose (prin- baixo, embora este equipamento possa ser
traz benefícios, diminuindo a incidência cipal fator que determina a estabilidade encontrado com preço elevado no Brasil.
de raios solares e trocas gasosas com o aeróbia da silagem) e, então, a massa torna- Outro maquinário que tem sido utilizado
ambiente. Ainda, o emprego de materiais se potencialmente instável. com frequência nas fazendas brasileiras
sobre a lona provoca adesão entre a lona e a A superfície de corte vertical do silo é o garfo hidráulico, principalmente em
massa ensilada, o que dificulta a circulação deve avançar rapidamente, de modo que sistemas que trabalham com silagem de
do oxigênio. impeça que os microrganismos aeróbios capins tropicais. Entretanto, o uso da man-
Amaral et al. (2009) avaliaram a pre- utilizem as fontes energéticas da massa, díbula na prensagem da silagem durante a
sença de bagaço de cana (10 kg/m2) ou de deteriorando-a. Por isso, remoções mí- retirada parece promover perturbações nas
terra (30 kg/m2) sobre o plástico (coloração nimas diárias de camadas de 20 cm, em camadas laterais.
preta e espessura de 200 micras), utilizado toda a extensão da superfície, devem ser O problema da instabilidade aeróbia de
na vedação de silagem de milho. A partir realizadas. silagens tem sido frequentemente relegado
do 81o dia de estocagem, a silagem que No Brasil, os produtores têm dificul- a segundo plano. Entretanto, estudos reali-
não estava com cobertura sobre a lona dades para encontrar e adquirir equipa- zados nos Estados Unidos demonstraram
apresentou maiores temperaturas até o mentos que desenvolvam um trabalho os impactos negativos que a presença de
momento de abertura dos silos (Gráfico 3). considerado ideal, durante o desabaste- silagem deteriorada tem sobre a ingestão
Com o passar dos dias, a efetividade con- cimento do silo. Com grande frequência, e digestibilidade em bovinos, onde se
tra os raios ultravioletas do filme exposto fazendas de grande porte têm utilizado observou que uma maior participação de
à radiação foi reduzida, o que permitiu pás carregadoras frontais na remoção silagem deteriorada na dieta (75%) levou
aumento da permeabilidade da lona ao de silagem. Contudo, esta máquina não à redução da ingestão em 17%, e da diges-
ar. Dessa forma, pode ter havido maior é apropriada para esse tipo de operação, tibilidade da matéria orgânica (MO) em
atividade de microrganismos aeróbios, os pela desestruturação provocada ao longo 10% (BOLSEN; WHITLOCK; URIARTE-
quais iniciaram a deterioração da silagem, da superfície, o que leva ao intenso in- ARCHUNDIA, 2002).
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110 Produção intensiva de pastagens

FENO Análise da qualidade c) os fardos não devem conter material


do feno no momento da estranho, como plantas daninhas;
A fenação consiste basicamente na se-
compra
quência de operações realizadas, visando d) o odor deve ser agradável e o mate-
à remoção da umidade da forragem de Para adquirir um volumoso de feno rial deve ter boa flexibilidade. Feno
valores iniciais próximos de 70% a 80% com qualidade satisfatória, alguns itens mofado, sem odores característicos,
para valores na faixa de 15% a 20%, devem ser observados: empoeirado e excessivamente seco
permitindo, assim, o armazenamento a) os fardos devem apresentar elevada deve ser evitado.
do feno com segurança e baixos riscos quantidade de folhas e pouco caule; O Quadro 5 contém informações a se-
de perdas. b) o fardo deve apresentar cor verde rem utilizadas na avaliação visual do feno,
O processo é altamente dependente de marcante. Feno com aparência de modo que auxiliem no ranqueamento de
maquinário e sujeito às intempéries climá- amarelada e/ou marrom pode ter determinados lotes no momento da compra.
ticas, características determinantes para o sofrido elevado tempo de secagem Além de todas as características visuais
elevado custo desse volumoso. Daniel, Zo- no campo ou a armazenagem não observadas, é de grande importância que
pollato e Nussio (2011) consideraram um foi adequada; seja realizada análise química do material.
valor de R$ 600,00 pela tonelada de MV
de feno, enquanto, por exemplo, o custo da
silagem de milho, que é um volumoso de QUADRO 5 - Avaliação visual de fardos de feno

referência, foi simulado em R$ 99,49/t de Possível Pontuação


Característica
MV e 310,92/t de MS. pontuação aplicada
No Brasil, comumente a produção Estádio de maturidade (30 pontos)
desse volumoso é realizada por unidades Vegetativo 26-30
produtoras especializadas para esse fim, Antes do florescimento 21-25
cabendo ao produtor rural a compra dos Florescendo 16-20
fardos necessários para o arraçoamento Presença de sementes 11-15
dos animais. Folhas (30 pontos)
A produção do feno para consumo na Muitas folhas 26-30
própria fazenda não é adotada por diversos Folhas 21-25
motivos, conforme elencado por Evange- Poucas folhas 16-20
lista, Reis e Morais (2012): Ausência de folhas 11-15
a) máquinas fundamentais ao pro- Coloração (15 pontos)
cesso (segadoras para o corte, Verde natural da cultura 13-15
ancinhos para o revolvimento e Verde claro 10-12
enleiramento e enfardadoras) não Amarelado 7-9
são comumente encontradas nas Escuro 0-6
fazendas, além de possuírem alto Odor (15 pontos)
custo de aquisição; Odor da cultura 13-15
b) a demanda por fertilizantes é ele- Odor de poeira 10-12
vada, em função da intensidade Odor de mofo 7-9
de cortes, bem como o gasto com Odor de tabaco/queimado 0-6
combustíveis; Maciez (10 pontos)
c) os cortes são concentrados no perí- Muito macio e flexível 9-10
odo chuvoso, de modo que a dinâ- Macio 7-8
mica da unidade produtiva deve ser Levemente macio 5-6
voltada para o campo de feno, com Rígido 0-4
vistas a impedir os efeitos nocivos Subtotal
das chuvas e, por fim, a falta de Penalidades (0 a 35 pontos perdidos) 0-35
cultura em produzir feno, determi- Plantas daninhas, terra e outros materiais estranhos
nando a opção pela compra desse Total
volumoso. NOTA: Pontuação final: > 90 - Excelente; 80-89 - Bom; 65-79 - Médio; < 65 - Ruim.

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Produção intensiva de pastagens 111

CONSIDERAÇÕES FINAIS 56f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Anais... Maringá: Universidade Estadual de
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Maringá, 2011. p.271-292.
Por muitos anos o capim-elefante 1999.
IGARASI, M. S.  Controle de perdas na
foi a cultura predominante nas capinei-
BAL, M. A.; COORS, J. G.; SHAVER, R. D. ensilagem de capim Tanzânia (Panicum
ras utilizadas na alimentação animal,
Impact of the maturity of corn for use as maximum Jacq. cv. Tanzânia) sob os efei-
principalmente no estado de Minas Ge- silage in the diets of dairy cows on intake, tos do teor de matéria seca, do tamanho
rais. Na última década, esse cenário foi digestion, and milk production. Journal of de partícula, da estação do ano e da pre-
ligeiramente modificado pelo aumento Dairy Science, v.80, n.10, p.2497-2503, Oct. sença de inoculante microbiano. 2002.
do cultivo da cana-de-açúcar, espécie 1997. 152p. Dissertação (Mestrado em Ciência
muito produtiva e com valor nutritivo BERNARDES, T. F.; NUSSIO, L. G.; AMA- Animal e Pastagens) – Escola Superior de
satisfatório. Contudo, a cana-de-açúcar RAL, R. C. do. Top spoilage losses in maize Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba,
também apresenta as suas limitações, silage sealed with plastic films with differ- 2002.
pois é agronomicamente mais complexa ent permeabilities to oxygen. Grass and
JOHNSON, L. et al. Nutritive value of corn
que o capim-elefante. Desse modo, não é Forage Science, v.67, n.1, p.34-42, Mar.
silage as affected by maturity and mechani-
2012.
correto confrontar as culturas dentro das cal process: a comtemporary review. Jour-
suas vantagens e desvantagens. O cultivo BOLSEN, K. K.; WHITLOCK, L. A.; nal of Dairy Science, v.82, n.12, p.2813-
de cada uma delas será de acordo com URIARTE-ARCHUNDIA, M. E. Effect of 2825, Dec. 1999.
surface spoilage on the nutritive value
a aptidão agrícola e zootécnica de cada MENDONÇA, S. de S. et al. Consumo, di-
of maize silages diets. In: THE INTER-
propriedade. gestibilidade aparente, produção e compo-
NATIONAL SILAGE CONFERENCE, 13.,
Quanto às práticas de conservar for- 2002, Auchincruive. Proceedings... Au- sição de leite e variáveis ruminais em vacas
ragens, a ensilagem predomina no Brasil, chincruive: Scottish Agricultural College, leiteiras alimentadas com dietas à base de
pois é menos dependente do clima e ope- 2002. p.75-77. cana-de-açúcar. Revista Brasileira de Zoo-
racionalmente menos complexa, diante tecnia, Viçosa, MG, v.33, n.2, p.481-492,
BORREANI, G.; TABACCO, E.; CAVALLA-
da fenação. O produtor deve estar atento mar./abr.2004.
RIN, L. A new oxygen barrier film reduces
a cada uma de suas fases de produção, aerobic deterioration in farm-scale corn si- OBA, M.; ALLEN, M. S. Effects of brown mi-
além de optar adequadamente pelo tipo lage. Journal of Dairy Science, v.90, n.10, drib 3 mutation in corn silage productivity of
de silo e aditivo a ser utilizado (quando p.4701-4706, Oct. 2007. dairy cows fed two connnetrations of dietary
este for necessário). Com relação ao CARARETO, R. Uso de uréia de libe- neutral detergent fiber: 1 - feeding behavior
feno, como na maioria das vezes ocorre ração lenta para vacas alimentadas and nutrient utilization. Journal of Dairy
com silagem de milho ou pastagens de Science, v.83, n.6, p.1333-1341, June 2000.
a compra ao invés de sua produção, é
importante que o pecuarista esteja atento capim-elefante manejadas com interva- RUPPEL, K. A. et al. Bunker silo manage-
los fixos ou variáveis de desfolha. 2007.
à qualidade do volumoso, que pode ser ment and its relationship to forage preser-
113p. Dissertação (Mestrado em Ciência vation on dairy farms. Journal of Dairy
avaliado por meio de uma simples obser-
Animal e Pastagens) – Escola Superior de Science, v.78, n.1, p.141-153, Jan. 1995.
vação dos fardos. Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracica-
ba, 2007. TABACCO, E.; BORREANI, G. Contrastare
Referências il deterioramento aerobico negli insilati di
CORRÊA, C. E. S. et al. Performance
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of Hol-
mais. L’ Informatore Agrario, v.58, n. 15,
AMARAL, R.C.; BERNARDES, T.F. Cober- stein cows fed sugarcane or corn silages of
p. 105-111, 2002.
tura da lona no processo de vedação: uma different grain textures. Scientia Agricola,
alternativa. Piracicaba: Agripoint, 2009. Piracicaba, v.60, n.4, p.621-629, Oct./Dec. VOLTOLINI, T. V. et al. Características pro-
Disponível em: <http://www.milkpoint. 2003. dutivas e qualitativas do capim-elefante
com.br/artigos-tecnicos/conservacao-de- pastejado em intervalo fixo ou variável de
DANIEL, J. L. P.; ZOPOLLATTO, M.; NUS-
forragens. aspx>. Acesso em: 15 ago 2011. acordo com a interceptação da radiação
SIO, L. G. A escolha do volumoso suple-
AMARAL, R.C. et al. Top losses in silos con- mentar na dieta de ruminantes. Revista fotossinteticamente ativa. Revista Brasi-
taining corn silage according to the sealing Brasileira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.40, leira de Zootecnia, Viçosa, MG, v.39, n.5,
method adopted. In: THE INTERNATIO- p.261-269, 2011. Suplemento especial. p.1002-1010, maio 2010a.
NAL SILAGE CONFERENCE, 15., 2009, Ma- VOLTOLINI, T. V. et al. Produção e compo-
EVANGELISTA, A.R.; REIS, R.A.; MORAIS,
dison. Proceedings... Madison: USDA-Dairy sição do leite de vacas mantidas em pasta-
G. Fatores limitantes para a adoção da tec-
Forage Research Center, 2009. p.197-198. gens de capim-elefante submetidas a duas
nologia de fenação em diferentes sistems
ANDRADE, M. A. F. Desempenho de novi- de produção animal. In: SIMPÓSIO SOBRE frequências de pastejo. Revista Brasileira
lhas holandesas alimentadas com cana- PRODUÇÃO E UTILIZAÇÃO DE FORRA- de Zootecnia, Viçosa, MG, v.39, n.1, p.121-
de-açúcar como volumoso único. 1999. GENS CONSERVADAS, 4., 2011, Maringá. 127, jan. 2010b.

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112 Produção intensiva de pastagens

INSTRUÇÕES AOS AUTORES


INTRODUÇÃO PRAZOS E ENTREGA DOS ARTIGOS
O Informe Agropecuário é uma publicação seriada, periódica, Os colaboradores técnicos da revista Informe Agropecuário devem
bimestral, de caráter técnico-científico e tem como objetivo principal observar os prazos estipulados formalmente para a entrega dos
difundir tecnologias geradas ou adaptadas pela EPAMIG, seus parceiros trabalhos, bem como priorizar o atendimento às dúvidas surgidas ao
e outras instituições para o desenvolvimento do agronegócio de Minas longo da produção da revista, levantadas pelo Editor técnico, pela
Gerais. Trata-se de um importante veículo de orientação e informação Revisão e pela Normalização. A não-observância a essas normas trará
para todos os segmentos do agronegócio, bem como de todas as as seguintes implicações:
instituições de pesquisa agropecuária, universidades, escolas federais a) os colaboradores convidados pela Empresa terão seus trabalhos
e/ou estaduais de ensino agropecuário, produtores rurais, técnicos, excluídos da edição;
extensionistas, empresários e demais interessados. É peça importante b) os colaboradores da Empresa poderão ter seus trabalhos excluídos
para difusão de tecnologia, devendo, portanto, ser organizada para ou substituídos, a critério do respectivo Editor técnico.
atender às necessidades de informação de seu público, respeitando O Editor técnico deverá entregar ao Departamento de Publica-
sua linha editorial e a prioridade de divulgação de temas resultantes ções (DPPU) da EPAMIG os originais dos artigos em CD-ROM ou pela
de projetos e programas de pesquisa realizados pela EPAMIG e seus Internet, já revisados tecnicamente, 120 dias antes da data prevista
parceiros. para circular a revista. Não serão aceitos artigos entregues fora desse
A produção do Informe Agropecuário segue uma pauta e um cro- prazo ou após o início da revisão lingüística e normalização da revista.
nograma previamente estabelecidos pelo Conselho de Publicações da O prazo para divulgação de errata expira seis meses após a data
EPAMIG e pela Comissão Editorial da Revista, conforme demanda do de publicação da edição.
setor agropecuário e em atendimento às diretrizes do Governo. Cada
edição versa sobre um tema específico de importância econômica ESTRUTURAÇÃO DOS ARTIGOS
para Minas Gerais.
Os artigos devem obedecer a seguinte seqüência:
Do ponto de vista de execução, cada edição do Informe Agropecuário
a) título: deve ser claro, conciso e indicar a ideia central, podendo
terá um a três editores técnicos, responsáveis pelo conteúdo da publica-
ser acrescido de subtítulo. Devem-se evitar abreviaturas, parên-
ção, pela seleção dos autores dos artigos e pela preparação da pauta.
teses e fórmulas que dificultem a sua compreensão;
b) nome do(s) autor(es): deve constar por extenso, com nume-
APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS
ração sobrescrita para indicar, no rodapé, sua formação e títulos
Os artigos devem ser enviados em CD-ROM ou pela Internet, no acadêmicos, profissão, instituição a que pertence e endereço.
programa Word, fonte Arial, corpo 12, espaço 1,5 linha, parágrafo Exemplo: Engo Agro, D.Sc., Pesq. EPAMIG Sul de Minas, Caixa
automático, justificado, em páginas formato A4 (21,0 x 29,7cm). Postal 176, CEP 37200-000 Lavras-MG. Correio eletrônico:
Os quadros devem ser feitos também em Word, utilizando apenas ctsm@epamig.br;
o recurso de tabulação. Não se deve utilizar a tecla Enter para forma- c) resumo: deve constituir-se em um texto conciso (de 100 a 250
tar o quadro, bem como valer-se de “toques” para alinhar elementos palavras), com dados relevantes sobre a metodologia, resulta-
gráficos de um quadro. dos principais e conclusões;
Os gráficos devem ser feitos em Excel e ter, no máximo, 15,5 cm d) palavras-chave: devem constar logo após o resumo. Não
de largura (em página A4). Para tanto, pode-se usar, no mínimo, corpo devem ser utilizadas palavras já contidas no título;
5 para composição dos dados, títulos e legendas.
e) texto: deve ser dividido basicamente em: Introdução, Desenvol-
As fotografias a serem aplicadas nas publicações devem ser recen-
vimento e Considerações finais. A Introdução deve ser breve e
tes, de boa qualidade e conter autoria. Podem ser enviadas em papel enfocar o objetivo do artigo;
fotográfico (9 x 12 cm ou maior), cromo (slide) ou digitalizadas. As
f) agradecimento: elemento opcional;
fotografias digitalizadas devem ter resolução mínima de 300 DPIs no
g) referências: devem ser padronizadas de acordo com o
formato mínimo de 15 x 10 cm e ser enviadas em CD-ROM ou ZIP
“Manual para Publicação de Artigos, Resumos Expandidos e
disk, preferencialmente em arquivos de extensão JPG.
Circulares Técnicas” da EPAMIG, que apresenta adaptação das
Não serão aceitas fotografias já escaneadas, incluídas no texto, em
normas da ABNT.
Word. Enviar os arquivos digitalizados, separadamente, na extensão
já mencionadas (JPG, com resolução de 300DPIs). Com relação às citações de autores e ilustrações dentro do texto,
Os desenhos devem ser feitos em nanquim, em papel vegetal, ou também deve ser consultado o Manual para Publicações da EPAMIG.
em computador no Corel Draw. Neste último caso, enviar em CD-ROM NOTA: Estas instruções, na íntegra, encontram-se no “Manual para
ou pela Internet. Os arquivos devem ter as seguintes extensões: EPS, Publicação de Artigos , Resumos Expandidos e Circulares Téc-
CDR ou JPG. Os desenhos não devem ser copiados ou tirados de Home nicas” da EPAMIG. Para consultá-lo, acessar: www.epamig.br,
Page, pois a resolução para impressão é baixa. entrando em Biblioteca/Normalização.

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