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Questão Social e

Serviço Social
Prof.ª Cristiana Montibeller

2017
Copyright © UNIASSELV 2017

Elaboração:
Prof.ª Cristiana Montibeller

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

360
M791q Montibeller, Cristiana
Questão social e serviço social /Cristiana Montibeller.
Indaial: UNIASSELVI, 2017.
280 p. : il.

ISBN 978-85-515-0077-4

1.Serviço social.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a)!

Seja muito bem-vindo a esta nova disciplina!

Estamos iniciando os estudos da disciplina Questão Social e Serviço


Social. A partir deste momento você irá conhecer e compreender vários
aspectos relacionados à profissão de assistente social no que diz respeito
ao surgimento da Questão Social e o contexto sócio-histórico no modo de
produção capitalista, suas múltiplas e complexas expressões contemporâneas
e as implicações na realidade brasileira.

Este Caderno de Estudos também abordará as possibilidades e


alternativas de reversão do agravamento das manifestações e os desafios no
enfrentamento das expressões multifacetadas da Questão Social na construção
de uma nova ordem societária.

Esta disciplina pretende fornecer subsídios teórico-metodológicos


para prepará-lo profissionalmente no sentido da compreensão e análise
crítica da “questão social” em sua gênese e contemporaneidade, bem como
na identificação das várias formas em que se manifestam as expressões
da “questão social“ na sociedade, a fim de que possa construir estratégias
diversas de enfrentamento das desigualdades sociais e propor a conquista,
efetivação, garantia e ampliação dos direitos sociais através das políticas
sociais de inclusão social.

Os conteúdos desta disciplina serão abordados em três unidades,


sendo que cada uma está subdividida em quatro tópicos de estudos.

Na primeira unidade estudaremos a proteção e a assistência na história


da humanidade, as primeiras formas de proteção e assistência, bem como
a contribuição da filosofia e a influência da religião no contexto social e na
profissão; o surgimento da questão social e seu contexto histórico, os fatores
históricos, econômicos, políticos, sociais e culturais que contribuíram para
o surgimento da questão social; significado dos termos: “social” e “questão
social”, a amplitude da palavra “questão”, o conceito de “questão social”
para o serviço social, bem como a abrangência da questão social e de suas
expressões e sobre o termo “a nova questão social”.

Na segunda unidade iremos estudar e aprofundar o termo


neodesenvolvimento no capitalismo e o acirramento das expressões da
questão social, o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, liberalismo
e neoliberalismo, a nova institucionalidade brasileira frente às expressões
sociais, a tipificação nacional de serviços socioassistenciais e a questão social
como objeto do trabalho profissional do assistente social.
III
Na última e terceira unidade iremos rediscutir as questões sociais e
suas expressões na construção de uma nova ordem societária, as situações
de vulnerabilidade social e de risco social enfatizando as expressões sociais
da questão social no Brasil, as novas configurações das expressões sociais
da questão social na realidade brasileira, reconstrução da sociedade pela
reconstrução e desenvolvimento da cultura e da condição humana do sujeito,
bem como novos sentidos para a cidadania, a democracia e a educação em
direitos humanos.

Prontos para começar a estudar, pesquisar, analisar e a compreender o


significado e a amplitude da questão social?

Então, mãos à obra!

Confie em você! Dedique-se com afinco e amor! Acredite na profissão!

Bons estudos e sucesso!

Profª. Cristiana Montibeller

UNI

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades
em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o


material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato
mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação
no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL ................................. 1

TÓPICO 1 – A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA


NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE .................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 AS PRIMEIRAS FORMAS DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA ................................................... 3
3 A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA E A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO ............................... 6
3.1 A ENCÍCLICA “RERUM NOVARUM” FRENTE À QUESTÃO SOCIAL .............................. 12
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 14
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 17
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 18

TÓPICO 2 – SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL


E SEU CONTEXTO HISTÓRICO ......................................................................................................... 19
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 19
2 FATORES HISTÓRICOS ECONÔMICOS, POLÍTICOS,
SOCIAIS E CULTURAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O
SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL ........................................................................................ 19
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 35
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 38
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 39

TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL”


E “QUESTÃO SOCIAL” ......................................................................................................................... 41
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 41
2 REFLEXÕES SOBRE A AMPLITUDE DA PALAVRA “QUESTÃO” ......................................... 41
3 SIGNIFICADO DOS TERMOS: “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL” ...................................... 44
4 O CONCEITO DE “QUESTÃO SOCIAL” PARA O SERVIÇO SOCIAL .................................. 48
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 50
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 54
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 55

TÓPICO 4 – A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL


E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES .................................................................................................... 57
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 57
2 ALGUMAS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES SOCIAIS ....................................... 57
3 REFLEXÕES SOBRE O TERMO “A NOVA QUESTÃO SOCIAL” ............................................. 64
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 68
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 69

UNIDADE 2 – O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO


E O ACIRRAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL ........................................... 71

TÓPICO 1 – O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO


CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO ............................................................... 73

VII
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 73
2 A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA E O ACIRRAMENTO
DAS EXPRESSÕES SOCIAIS ............................................................................................................ 73
3 A ESTRATÉGIA NEODESENVOLVIMENTISTA
FRENTE À QUESTÃO SOCIAL ........................................................................................................ 82
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 95
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 98
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99

TÓPICO 2 – A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA


FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS .................................................................................................. 101
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 101
2 ORIGEM, SIGNIFICADO E ABRANGÊNCIA DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS E DAS POLÍTICAS SOCIAIS ...................................................................................... 101
3 A NOVA INSTITUCIONALIDADE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO BRASIL .......................... 114
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 116
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 120
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 121

TÓPICO 3 – A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS


SOCIAIS BRASILEIRAS ........................................................................................................................ 123
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 123
2 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURIDADE SOCIAL .............................................................. 123
3 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA
ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................................................................................................ 132
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 142
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 143

TÓPICO 4 – A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS


SOCIOASSISTENCIAIS ........................................................................................................................ 145
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 145
2 CARACTERIZAÇÃO DA TIPIFICAÇÃO ....................................................................................... 145
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 154
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 158
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 159

UNIDADE 3 – REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA


CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA ............................................................ 161

TÓPICO 1 – POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO


AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL ................................................. 163
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 163
2 OS DESAFIOS DAS EXPRESSÕES MULTIFACETADAS
DA QUESTÃO SOCIAL ...................................................................................................................... 163
3 REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO DAS
EXPRESSÕES SOCIAIS NO PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO SETOR ......................... 191
RESUMO DO TÓPICO 1 ....................................................................................................................... 205
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 206

TÓPICO 2 – REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMA


NOVAORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZANDO O SERVIÇO
SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE ........................................................................................... 207
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 207

VIII
2 AS ESTRATÉGIAS E O PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO
SOCIAL NO ENFRENTANDO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS ...................................................... 207
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 219
RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................................................... 222
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 223

TÓPICO 3 – A DESIGUALDADE SOCIAL E AS CONCEPÇÕES


DOS SISTEMAS DE INDICADORES ................................................................................................ 225
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 225
2 REFLEXÕES SOBRE A DIVERSIDADE E A DESIGUALDADE SOCIAL ............................... 225
3 TIPOS E SIGNIFICADOS DOS SISTEMAS DE
INDICADORES UTILIZADOS ......................................................................................................... 229
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 238
RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................................................... 243
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 244

TÓPICO 4 – RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS


VULNERABILIDADES E REFORÇO À RESILIÊNCIA HUMANA ............................................. 247
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 247
2 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO MILÊNIO
PARA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES .............................................................................. 247
3 DESENVOLVIMENTO DA CONDIÇÃO E EXISTÊNCIA HUMANA
PARA REFORÇAR A RESILIÊNCIA HUMANA .............................................................................. 252
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 254
RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................................................... 257
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 258
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 259

IX
X
UNIDADE 1

A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA
QUESTÃO SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Esta unidade tem por objetivos:

• compreender e analisar de forma crítica a gênese da Questão Social e da


Assistência do ponto de vista histórico, tendo uma noção do desenvolvi-
mento do sistema de proteção e de seguridade social;

• analisar o cenário contemporâneo, econômico, político, cultural e social


no sentido de possibilitar o conhecimento sobre as expressões da “questão
social“, provenientes do sistema capitalista, e assim perceber a “questão
social“ como resultado das contradições do desenvolvimento do capitalis-
mo;

• verificar e analisar a abrangência da questão social e de suas inúmeras e


novas expressões sociais.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 1 está dividida em quatro tópicos. Ao final de cada um deles você
terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as atividades
propostas.

TÓPICO 1 – A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA


HUMANIDADE

TÓPICO 2 – SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO


HISTÓRICO

TÓPICO 3 – A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO


SOCIAL”

TÓPICO 4 – A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS


EXPRESSÕES

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA


HUMANIDADE

1 INTRODUÇÃO
Para compreender a Questão Social e seus desdobramentos na sociedade
e no Serviço Social, se faz necessário conhecer sua gênese, sua história, os marcos
sociais, suas formas de manifestações ao longo da história, que são diferenciadas,
conforme os meios de sobrevivência dos povos, civilizações, os modos de vida
social e cultural, de produção, de economia, de administração política, visto que
toda ação social consequentemente leva a uma reação, isso tanto na Antiguidade
quanto até nos dias de hoje.

Assim como as principais leis da física – como, por exemplo, na dinâmica


dos fluidos –, fazendo uma analogia, na área social também não deixa de ser, pois
assim como o comportamento de um fluido se move ao longo de um tubo ou
conduto, o comportamento humano também fluiu e continua fluindo através dos
sistemas sociopolíticos e econômicos (condutos sociais) que foram instituídos pelos
próprios homens ao longo da história e continuam sendo alterados, transformados,
construídos na atualidade.

2 AS PRIMEIRAS FORMAS DE PROTEÇÃO E ASSISTÊNCIA


Antes do desenvolvimento do capitalismo foram desenvolvidas diversas
práticas de “ajuda”, “proteção” e/ou “assistência” ao próximo, designados na
época como “necessitados”, “viajantes”, “indigentes”, “doentes”, “desvalidos”,
“abandonados”, “órfãos”, “carentes”, “pobres”. Assim eram conceituados os que
estavam em situação diferente e de desvantagem dos demais, e que precisavam de
alguma forma de ajuda, proteção, apoio ou cura.

3
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

E
IMPORTANT

Percebe-se que a prática da proteção e da assistência ao outro sempre existiu na


história da humanidade. Vigorava nas pessoas “mais fortes” um princípio humano de ajuda
e altruísmo. Assim, sob a ótica da solidariedade caritativa, os “pobres e desvalidos” eram alvo
de olhares, intenções e ações que foram desenvolvidas e assumindo diversas formas nas
diferentes sociedades que existiram.

Entende-se por ajuda qualquer tipo de subsídio ou auxílio do ponto de


vista mais material do que qualquer outro. Nessa perspectiva, o assistencialismo e
o clientelismo vigoraram por muito tempo e ainda em alguns momentos se fazem
valer nas ações de pessoas que querem se prevalecer, ou serem bem vistas, que
esperam um retorno ou vantagem pessoal ou política.

FIGURA 1 – PRÁTICA CLIENTELISTA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br search?q=


figuras+de+ajuda+ao+proximo&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Na história do Serviço Social era comum encontrar as primeiras damas


(esposas de prefeitos) na administração e à frente de Secretarias, Departamentos
de Assistência Social, chamados de “Damismo”.

E
IMPORTANT

Necessário se faz que a categoria profissional continue na luta pela democracia e


justiça social, fortalecendo e priorizando as políticas públicas que garantem os direitos sociais
à população que deles necessitem, direitos necessários a uma vida com dignidade, liberdade,
respeito e autonomia.

A busca dessa organização política exige a recusa pelo profissional do conservadorismo, do


assistencialismo e das práticas funcionalistas, como parte de uma construção histórica, humana,
intencional e criativa, capaz de possibilitar uma reflexão crítica, voltada para a construção do
pacto democrático no Brasil, com a ampliação da cidadania por meio da implementação de
políticas sociais de direito (PIANA, 2009, p. 55).

4
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Porém, na história da humanidade, até se chegar na discussão e


implementação de políticas sociais de direito, muitas coisas ocorreram. Assim,
quando enfatizamos a existência das diferentes sociedades, vamos recorrer à
sociologia, visto que na Antiguidade a primeira forma de sociedade que se formou
pelo contexto da luta pela sobrevivência foi a sociedade de caçadores-coletores,
onde as pessoas viviam em pequenos bandos espalhados, eram nômades em
busca de alimentos e água para a própria sobrevivência do grupo. Toda ação era
de ajuda mútua coletiva em favor do próprio grupo no sentido de manutenção e
perpetuação.

Aproximadamente por volta do ano 7.000 a. C, surge a sociedade de


horticultura e de pastoreio. Assim começam a surgir os primeiros produtores
de alimentos e criadores de animais domésticos. Este tipo de sociedade também
era chamado de sociedade hortelã ou sociedade pastoril. Como resultado, as
sociedades hortelãs criaram povoados com populações numerosas e foram se
adaptando e crescendo, com produção de barcos, cerâmicas, têxteis, entre outros
diversos produtos (OLIVEIRA, 2002).

UNI

No Oriente Médio, sabe-se que em função de se tentar garantir a ordem e instituir


regras e normas para serem seguidas por todos, pois não eram mais alguns e tampouco
pequenos grupos, mas sim, populações numerosas, tem-se registros de códigos em forma de
leis sociais, que foram criados e instituídos em algumas regiões.

Isso na civilização babilônica aproximadamente 2.000 a. C., onde um dos


primeiros reis babilônicos, Hamurábi (1728-1686 a. C.), cria o primeiro Código de
Leis – o Código de Hamurábi; na Índia, o Código de Manu estabelecia normas
morais para regular a conduta e prestar proteção aos necessitados; bem como a
Lei das XII Tábuas que instituiu a legislação na origem do Direito Romano e na
constituição da República Romana.

Na Antiguidade, os primeiros registros na história da proteção social


surgiram no Oriente Médio com o Código de Hamurábi, na Babilônia,
século XVIII a. C., e com o Código de Manu, na Índia, século II a. C., que
continham preceitos de proteção aos trabalhadores e carentes.
Porém, apesar de se afirmar a existência de direitos aos indivíduos,
não existiam garantias contra o poder dos governantes. Assim, cabia
ao cidadão apenas observar as leis (DEZOTTI; MARTA, 2011, p. 433).

Nesse sentido, também existem muitos relatos bíblicos enfatizando no


Antigo Testamento, em especial no Egito, situações diversas de miséria, pobreza,
doenças, pestes, entre outras situações de escravidão dos povos, inclusive do povo
hebreu. Os Dez Mandamentos da Lei de Deus, bem como diversos livros e textos
sagrados para os povos, tais com a Lei Torá do Judaísmo, a Bíblia do Cristianismo,
o Alcorão ou Corão do Islamismo, o Dhammapada do Budismo, entre outros,
5
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

também foram criados e tinham como propósito instituir leis, códigos, regras de
conduta, proteção, libertação, salvação, cura, perdão, caridade, sendo que até os
dias atuais se fazem valer sob o ponto de vista religioso ou como filosofia de vida
(GAARDER, 2000).

No Egito, Grécia e Roma, no período da Antiguidade já havia registros de


ações assistenciais de ajuda e auxílio, com distribuição de alimentos, em especial
trigo, aos necessitados.

3 A CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA E A INFLUÊNCIA DA


RELIGIÃO
Sabe-se também que, para o mundo ocidental, as primeiras tentativas
de estudo, questionamento, análise e compreensão a respeito da sociedade, das
relações sociais, das formas de interação humana (ser, pensar e fazer a sociedade)
foram influenciadas na antiguidade pela filosofia grega.

A base das ciências do mundo ocidental emergiu a partir do mundo greco-


romano com a observação dos primeiros filósofos sociais – Sócrates, Platão e
Aristóteles –, que começaram a questionar e refletir temas primordiais, tais como
conceitos de ética, moral, verdade, direito, governo, justiça, política, democracia,
felicidade, melancolia, entre outros diversos assuntos de interesse da polis, das
cidades-estados.

E
IMPORTANT

Interessante saber é que, desde a Antiguidade, os filósofos se preocupavam


também com temas, tópicos de estudo, análise e discussões referente à sociedade em que
viviam. Temas eram discutidos, tais como democracia, política, justiça, verdade, pois existiam
na polis daquela época situações antidemocráticas, de corrupção, de injustiças, de mentiras,
ou seja, manifestações ruins ou erradas que estavam merecendo ser discutidas na sociedade,
no sentido de propiciar mudanças, transformações.

Sócrates (470-399 a.C) de Atenas foi considerado o homem mais sábio e o


filósofo mais importante da sua época. Para ele, o saber fundamental é o saber a
respeito do homem, por isso até hoje conhecemos sua frase máxima: Conhece-te
a ti mesmo. Assim, a maior virtude que o homem pode ter é o conhecimento (é
necessário conhecer para agir retamente) e o maior vício é a ignorância. Sócrates
dedicou-se à reflexão e discussão da Filosofia Humanista.

6
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

FIGURA 2 – FILÓSOFO SÓCRATES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=imagem+do+filosofo+socrates>. Acesso em: 7 jan. 2015.

O termo democracia era muito discutido na época pelos filósofos. Sócrates,


crítico da democracia de sua época, questionava de forma aguda como poderia
numa democracia não existir a participação plena de todos, como poderiam existir
escravos, por que estrangeiros e mulheres não podiam participar da vida política?
Assim, era contra a democracia ateniense e não acreditava na mitologia grega.
Dessa forma, foi condenado à morte por sua racionalidade, criticidade e por
defender suas ideias. Preferiu a morte do que a recusa pelos seus princípios.

Segundo Kim (2011, p.14),

O tipo de pergunta que Sócrates fez aos cidadãos de Atenas buscou


chegar ao cerne do que eles realmente acreditavam que eram certos
conceitos. Sócrates fazia perguntas aparentemente simples – como “O
que é justiça?” ou “O que é beleza?” [...] Em discussão desse gênero,
Sócrates desafiou preceitos sobre a maneira como vivemos e sobre as
coisas que consideramos importantes.

Na filosofia grega existia uma preocupação com a essência das coisas,


sair da superficialidade era necessário para uma mente autêntica e crítica. Assim,
vamos perceber a necessidade da filosofia na profissão, pois precisamos ir além
das aparências e considerar o que realmente é importante.

UNI

Assim, na antiguidade podemos perceber que a escravidão, a exclusão, a


discriminação, a desvalorização da mulher e estrangeiros eram consideradas
pelos filósofos consequências da falta de uma autêntica democracia, ou seja, traduzindo: eram
formas de manifestações da Questão Social = Política da época, o que demonstrava certa
irracionalidade e incoerência por parte dos legisladores, governantes.

7
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

No caso atual, exemplos de manifestações sociais da Questão Social


Política, ou até mesmo da economia, podem ser visualizados. Assim podemos
identificar a corrupção, a pobreza. Seguindo a análise de pensamento de Montaño
(2012), a pobreza é uma expressão da “questão social”, é uma manifestação atual
no capitalismo, da relação de exploração entre capital e trabalho; o pauperismo é
atualmente resultado, manifestação, expressão do capitalismo em sua forma de
exploração e acumulação privada de capital.

Aqui a Questão Social discutida está relacionada ao tema ECONOMIA


ou até conjuntamente ao tópico POLÍTICA, pois ambos contribuem para a
disseminação e aumento da desigualdade e pobreza. E assim, poderíamos
prosseguir com inúmeras e outras reflexões que abordam a questão social e suas
expressivas manifestações. Por analogia e comparações da antiguidade e da
sociedade contemporânea, poderíamos descrever e citar diversas situações que
nos serviriam como base de fundamentação e raciocínio.

Retornando ao pensar a filosofia, os filósofos tinham como compromisso


propor normas para que o ser humano vivesse numa sociedade ideal. As bases
para as ciências sociais foram dadas através dos séculos, desde a Antiguidade, por
pensadores que estiveram ligados à máquina administrativa da cidade-estado ou
que estudaram sua constituição e funcionamento.

Os séculos V e IV a. C. foram os séculos em que Atenas viveu seu


apogeu econômico, político e cultural. Nas palavras do historiador
grego Heródoto, “O Século de Ouro” do governante Péricles, que após
a vitória nas Guerras Médicas contra os Persas de Dario I e Xerxes,
investiu todos os recursos adquiridos de outras cidades (com a Liga
de Delos) na valorização de sua cultura. Aconteceu nesse período
a exaltação dos valores dos atenienses através de construções de
palácios e monumentos; no incentivo de produções artísticas, literárias,
históricas e filosóficas tentando demonstrar o auge de sua cultura e
civilização alcançada com a consolidação do regime democrático. Do
ponto de vista da produção do conhecimento desse período, destacam-
se três filósofos: Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos eles viveram em
Atenas, pelo menos durante o período central de sua produção, e todos
eles têm uma obra que influenciou não apenas o momento histórico
que viveram, mas também o próprio desenvolvimento da Filosofia e
da Ciência. A preocupação desses filósofos era trazer para o centro de
suas indagações o HOMEM, como ser capaz de produzir conhecimento
através do desenvolvimento de sua Moral. Acreditavam, portanto,
que o Conhecimento – a Filosofia – tinha uma função social, e por isso,
consistia na formação de cidadãos como tarefa indispensável para a
transformação da sociedade (RODRIGUES, 2014).

Porém, além da filosofia, também as religiões foram sendo criadas e


influenciaram e muito o comportamento humano nas diversas sociedades.

A necessidade de orientar a vida é fundamental para os seres humanos e era


uma preocupação dos povos antigos, que percebiam que não precisavam apenas
de comida e bebida, de calor, compreensão e contatos físicos, mas, essencialmente,
descobrir a origem da humanidade.

8
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

UNI

Quem somos? Para onde vamos? Por que estamos vivos e como melhorar a vida
no grupo, no povoado, na cidade, na polis, na metrópole? Assim, muitos questionamentos
surgiram sobre a existência de tudo, inclusive da vida e da morte. Essas indagações existenciais
formaram a base de todas as religiões no mundo.

Referente ao pensamento cristão, as relações sociais ocupavam um lugar


considerável no ensinamento dos profetas do Antigo Testamento. E por incrível
que pareça, é na amplitude da temática da justiça que foi elaborado o pensamento
religioso e social dos profetas. Assim, era a justiça um assunto (tema, objeto, tópico,
contexto, matéria), ou melhor dizendo, uma “questão social” de grande importância.
“É em torno do tema da justiça que está elaborado o pensamento religioso e social
dos profetas. [...] É um tema religioso, mas é também, e indissoluvelmente, um
tema social.” (BIGO, 1969, p. 21).

O termo justiça era considerado no sentido do direito, fazer justiça,


ser justo. Assim, a noção de justiça e de direito era foco de interesse, análise e
discussão, pois se percebia, já naquela época, as manifestações da falta de justiça
principalmente aos pequenos, órfãos, viúvas, estrangeiros, indigentes, doentes,
que eram excluídos pelos que possuíam além de suas necessidades e não faziam
justiça, melhor enfatizando, não dividiam, mas sim acumulavam mais e mais para si.

Exemplos podem ser descritos, conforme diversos relatos bíblicos, pois os


ricos tinham mesa abundante, roupas finas e luxuosas, ouro, prata e honras não
merecidas, propriedades diversas, não pagavam seus assalariados justamente, o
lucro dos impostos, acumulação e uso dos bens além das necessidades, riquezas
injustas advindas de administrações desleais, entre outras diversas descrições nos
textos do Antigo e do Novo Testamento.

Sobre essa postura e visão dos profetas, Bigo (1969, p. 24) descreve
claramente:
Assim, os profetas já atribuem à justiça uma dimensão que nós não mais
lhe ousamos dar. A justiça, para eles, não é primeiramente o direito
daqueles que têm, é, antes de tudo, o direito daqueles que não têm, o
direito do membro da comunidade quando se encontra em necessidade.
É nessa perspectiva que se situam as numerosas advertências dos
profetas àqueles que vivem em demasia fartura. O luxo é, literalmente,
uma injúria à pobreza, porque retira àquele que nada tem para dar
àquele que já tem. Há um ensinamento dos profetas sobre o supérfluo,
[...]. A avidez dos açambarcadores, daqueles que juntam “casa sobre
casa, campo sobre campo”, é impiedosamente fustigada.

Podemos chegar claramente à conclusão de que, se não existia justiça,


com certeza existiam inúmeras manifestações, expressões desta “questão social”,
sendo uma delas a pobreza, outras, a desigualdade, a miséria, a doença e assim

9
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

consequentemente. Conforme Bigo (1969, p. 36), “Os sermões dos profetas aos
ricos giravam sempre em torno do tema da justiça, os de Cristo giravam em torno
do tema da pobreza.” Interessante perceber que os sermões de Cristo se baseavam
não na “questão social”, mas nas consequências da falta da justiça, ou seja, no
conjunto das diversas expressões da sociedade injusta da época, proveniente da
avareza, ganância e soberba dos ricos.

A religião se expandiu por toda a Europa com a queda do Império Romano


no ano 400, aproximadamente. A Igreja Católica Apostólica Romana foi o grande
poder que emergiu das cinzas do Império Romano, em torno do qual se ergueu o
mundo medieval, que foi caracterizado como a Idade das Trevas. A Santa Inquisição,
criada em 1232, espalhou medo e terror por toda a Europa, através do Tribunal do
Santo Ofício (que era uma paranoica luta contra o demônio e as heresias), como
também as Cruzadas, guerras santas em que a Europa cristã combateu os “mouros
infiéis”: os islâmicos (COSTA, 1997).

A partir da Idade Média, na Europa, foram criadas as confrarias, que eram


caracterizadas como grupos, irmandades, congregações ou associações religiosas,
formadas por leigos do catolicismo que desenvolviam ações com caráter caritativo,
filantrópico e cultos religiosos.

FIGURA 3 - IRMANDADES, CONGREGAÇÕES DE AJUDA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=igreja


+na+idade+media+e+os+pobres&tbm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Nessa época eram comuns ações assistencialistas ou clientelistas, como


doações, práticas em forma de favor, boa vontade com fundamento em princípios
cristãos. “A ética cristã – como a filosofia cristã em geral – parte de um conjunto de
verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com o seu Criador
e do modo de vida prático que o homem deve seguir para obter a salvação no
outro mundo.” (VÁZQUEZ,1996, p. 243).

Sob a perspectiva da ética cristã, a ideologia religiosa da época priorizava


que toda ação pessoal deveria estar voltada para e com Deus, sob uma nova forma
10
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

de participação social onde o teocentrismo fazia valer uma ação transcendental,


direcionada a favor da própria salvação.
Contudo, a ética cristã tende a regular o comportamento dos homens
com vistas a outro mundo (a uma ordem sobrenatural), colocando o seu
fim ou valor supremo fora do homem, isto é, em Deus. Disto decorre
que, para ela, a vida moral alcança a sua plena realização somente
quando o homem se eleva a esta ordem sobrenatural. (VÁZQUEZ, 1996,
p. 245).

Segundo a ética cristã, Deus exigia obediência sem precedentes, bem


como sujeição a seus mandamentos. Assim, no cristianismo, o ser humano é e
o que deve fazer, antes de tudo em relação a Deus, tendo como valores a fé, a
esperança e a caridade para a obtenção da salvação eterna. Assim, também os “Dez
Mandamentos” e a própria Bíblia foram uma forma de tentar garantir a ordem e
instituir regras e normas para todos, no sentido de mando e doutrina indiscutível,
vindo a se tornar uma constituição que está presente, de uma forma ou outra, até
hoje nas mentes e nas ações das pessoas no mundo ocidental.

Segundo Carvalho (2006, p. 15), “Na Idade Média, a forte influência do


Cristianismo, através da doutrina da fraternidade, incentivou a prática assistencial,
com a difusão das confrarias que apoiavam as viúvas, os órfãos, os velhos e os
doentes”. Esta concepção medieval pensava que a causa da miséria era um
problema do pecado da humanidade, de desobediência a Deus, castigo individual,
e em muitos casos visto como castigo coletivo, se falando em pragas e pestes.

UNI

No século XIV, de 1301 ao ano de 1400, a única explicação possível para a série
de golpes devastadores que abalaram todo o mundo era vista como ira de Deus frente à
desobediência e aos pecados dos homens.

Nessa época, a Ásia foi atormentada por secas, enchentes e terremotos


que provocaram uma fome sem precedentes, a Europa sofreu com as mudanças
climáticas com perdas irreparáveis de sucessivas colheitas, tendo como consequência
a fome generalizada que espalhou doenças e o desespero nas comunidades
superpovoadas. Não bastando, uma epidemia entre 1346 e 1352 assolou todo o
continente e chegou a matar mais de um terço da população europeia, conhecida
como a peste negra, que provocou a maior onda de mortandade no mundo
(GUSMÃO JR., 2014).

Durante a Idade Média começaram a surgir, a partir dos mosteiros


e conventos, instituições asilares, destinadas mais a cuidar dos doentes e
proporcionar-lhes conforto e ajuda, sobretudo no período de doença em fase
terminal, pois não se sabia como curá-los.
11
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Com o aparato e influência da civilização judaico-cristã, a ajuda toma a


expressão de caridade e a filantropia ao próximo. Assim, com a intenção de
juntar práticas de auxílio e apoio aos aflitos, doentes e pobres, diversos grupos
filantrópicos e religiosos começaram a se organizar, dando origem às diversas
instituições de caridade sob ordem e fundamento da Igreja Católica (SPOSATI et
al., 2007).

O doente, o inválido, o indigente, o pobre, na visão cristã, passou a ser um


indivíduo digno de compaixão e auxílio. A prática da caridade era de conforto e
acolhimento. Assim, com o passar dos tempos, a concepção de doença, pobreza,
miséria, castigo, entre outros termos, típicos da Europa nos séculos XVI a XIX –
aproximadamente entre 1501 a 1801 –, inicia e desenvolve‑se fundamentalmente a
partir da organização de ações filantrópicas.

Assim, a miséria, a pobreza e todas as manifestações delas não eram


consideradas como resultado da dominação e exploração absolutista do clero da
época, no período feudal, mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade
individual ou coletiva dos setores por elas atingidos.

Começa‑se a se pensar então a “questão social”, a miséria, a pobreza, e


todas as manifestações delas, não como resultado da exploração econômica,
mas como fenômenos autônomos e de responsabilidade individual ou coletiva
dos setores por elas atingidos. A “questão social”, portanto, passa a ser
concebida como “questões” isoladas, e ainda como fenômenos naturais
ou produzidos pelo comportamento dos sujeitos que os padecem
(MONTAÑO, 2012, p. 272).

Durante longo período da história, especificamente durante a Idade Média,


não se discutia a “questão social”, muito menos suas expressões na sociedade da
época, e a assistência ficava relegada ao campo da filantropia e da caridade. Dessa
forma, as iniciativas de apoio e amparo aos chamados “pobres” eram realizadas
de forma caridosa e piedosa pela Igreja, por paróquias, pelos grupos religiosos
ancorados nos postulados da fé cristã.

3.1 A ENCÍCLICA “RERUM NOVARUM” FRENTE À QUESTÃO


SOCIAL
Na Idade Média houve pouca evolução nas declarações de direitos humanos
e sociais, as que surgiram não eram universais e se restringiam a determinados
grupos. Encontramos o Decreto de Afonso IX, nas Cortes de Leon, de 1188, e a
Magna Carta de João II, em 1215, na Inglaterra. Foi um período histórico muito
complexo e difícil, frente a muitos interesses, conflitos, guerras, revoluções,
doenças, sofrimentos. Assim, através do fortalecimento do cristianismo, nasceu
a ideia de solidariedade que fez surgir sistemas de mútua ajuda e seguridade.
Porém, foi com o Estado Absolutista que houve a primeira lei que versou sobre a
assistência social, que ficou conhecida como Law of Poor (Lei dos Pobres) ou Poor

12
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Relief Act (ação de assistência aos pobres) em 1601, na Inglaterra, durante o reinado
da rainha Isabel (DEZOTTI; MARTA, 2011).

A partir daí as autoridades começaram, a passos lentos, a se preocupar com


a proteção social, procurando dar auxílio nos casos de enfermidades, invalidez e
desemprego, tendo como princípio a responsabilidade do Estado pela assistência
pública, surgindo a obrigatoriedade de contribuições para fins sociais.

Diante de toda essa realidade, consequentemente a Igreja se viu na


obrigatoriedade de pensar com afinco a “questão social”. Então, em 1891, a Igreja
Católica oficializou, por meio do Papa Leão XIII, a publicação da Encíclica "Rerum
Novarum", apresentando ao mundo católico os fundamentos e as diretrizes da
Doutrina Social da Igreja, enfatizando sua postura frente aos graves problemas
sociais que dominavam as sociedades europeias naquele período.

A Igreja Católica, a partir da Encíclica, priorizou um discurso e intervenção


doutrinária na ação política, com a elaboração de diretrizes gerais de compreensão
dos problemas sociais da época, que estavam eclodindo por efeito do fenômeno
industrial na Europa. No entanto, suas diretrizes oscilavam entre a influência
marxista a favor do socialismo e a proposta liberal do sistema capitalista com
amplitude de reforma social.

Foi aproximadamente nesse período, quando o Serviço Social transitava


para sua profissionalização, que surgiram duas encíclicas papais, uma que foi a
Rerum Novarum, divulgada por Leão XIII a 15 de maio de 1891, e a outra, chamada
Quadragésimo Anno, divulgada por Pio XI a 15 de maio de 1931, diante do fervor do
capitalismo e da crise econômica no mundo.

Sabemos que, no Brasil, o Serviço Social foi criado em 1936, a partir das
iniciativas dos grandes líderes da Igreja Católica, inspirados na Doutrina Social da
Igreja então enriquecida por uma nova Encíclica Social: a "Quadragésimo Ano",
redigida pelo Papa Pio XI e publicada no dia 15 de maio de 1931, em comemoração
aos 40 anos da Rerum Novarum.

Assim, a profissão do Serviço Social foi se desenvolvendo e crescendo


permeada pela prática da "Ação Social Católica", sob a liderança da Igreja, sendo
que até o início dos anos 60 recebeu forte influência que está permeada até os
dias atuais (CONSELHO REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL – CRESS/SC – 12ª
REGIÃO, 2014).

Mas o fato de sabermos que o dia "15 de maio" é uma homenagem à


publicação da "Rerum Novarum" – documento que embalou a profissão
em berço e lhe sustentou a vida – não esgota o assunto em pauta. Quem
determinou que assim o fosse? É uma data comemorada apenas por
assistentes sociais brasileiros? Essas são algumas perguntas que na
literatura encontrada, bem como nos contatos estabelecidos na fase
preparatória desse artigo, não responderam a estas indagações. Cabe,
portanto, aos assistentes sociais interessados na história profissional, que
se embrenhem pelos caminhos da pesquisa em busca dessas respostas

13
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

e de outras relativas ao tema. Cabe a nós, assistentes sociais, conhecer


o passado e construir a memória da nossa profissão (CONSELHO
REGIONAL DE SERVIÇO SOCIAL – CRESS/SC – 12ª REGIÃO, 2014).

Interessante averiguarmos o quanto a profissão teve a influência do


catolicismo, por isso é um grande desafio mudar aspectos culturais. No entanto,
com qualificação e competência podemos mostrar que trabalhar na área social não
é algo tão simples assim, ter boa vontade ou espírito solidário não é profissão.

UNI

O Serviço Social tem sua história vinculada com ações de caridade e benevolência,
por isso ainda nos dias de hoje a profissão passa pelo desafio de esclarecer as interpretações
equivocadas, que ainda não abrangem a clareza do real significado contemporâneo da
terminologia ligada à profissão.

Utilizam-se ainda muitos termos ligados à história e à religião, como


ajuda, caridade, auxílio, doação, entre outros, assim confundem-se muito os
termos ligados ao Serviço Social, aos Serviços Sociais, à Assistência Social. Para
esclarecer, vejamos o quadro a seguir, que enfatiza com teor e objetividade diversas
especificações referentes à abrangência e compreensão da profissão.

LEITURA COMPLEMENTAR

Myrian Veras Baptista

A QUESTÃO SOCIAL COMO UM DESAFIO


HISTÓRICO DO SERVIÇO SOCIAL

Assumo como ponto de partida para essa minha reflexão a ideia de que,
na estrutura do serviço social brasileiro como profissão, sempre esteve presente
o desafio do enfrentamento das expressões da questão social gestadas pelo
capitalismo, o que fez com que seus profissionais parametrassem suas intervenções
na relação capital-trabalho.

Evaldo A. Vieira tem sobre esse aspecto uma posição assemelhada à que
eu expresso aqui. É dele a consideração seguinte: a questão social foi uma base sólida
na constituição e consolidação do serviço social, uma vez que tem sido sempre seu eixo
de reflexão e a expressão de sua particularidade2. Helena Iraci Junqueira, uma das
pioneiras da profissão, esclarece em depoimento (1983:16) que o serviço social
originou-se de um movimento dentro da Igreja [Católica] […] de uma prática concreta,
de uma posição de vanguarda […] voltando-se para a formação de profissionais para a

14
TÓPICO 1 | A PROTEÇÃO E A ASSISTÊNCIA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE

atuação sobre os problemas sociais que se colocavam na época. Ele começou com ímpeto
de renovação, de estudo, de posicionamento avançado para a época. Em outro momento,
em depoimento (LIMA, 1982:75), H. I. Junqueira situa as razões de sua escolha do
serviço social como profissão: […] eu estava engajada no movimento de Ação Católica.
Esse movimento, em São Paulo, despertara, desde o início, um sentido profundamente social
nos seus membros […] Tínhamos uma grande preocupação pela justiça social. […] quando
tive conhecimento da fundação da Escola de Serviço Social, me empolguei com a ideia de
que poderia ter uma profissão que iria servir à implantação da justiça social.

O serviço social brasileiro foi gestado na esteira de um movimento


internacional, articulado e comandado pela Igreja Católica, que tinha por objetivo
sedimentar uma proposta política que se configurara através de encíclicas papais as
quais estruturaram uma doutrina social que se tornou conhecida como a Doutrina
Social da Igreja.

A Doutrina Social da Igreja estabelecia as bases para a operacionalização


de uma alternativa para o enfrentamento da questão social – “nem o liberalismo,
nem o individualismo, nem o comunismo, o humanismo cristão”, Rerum Novarum
de Leão XIII, publicada em 15 de maio de 1891, e Quadragésimo Ano de Pio XI, de
15 de maio de 1931.

Hoje, o espaço privilegiado da ação profissional continua sendo o do


enfrentamento das manifestações da questão social – naturalmente, a partir de
outros paradigmas –, principalmente aquelas que expressam a relação pobreza-
sociedade, na medida em que essa pobreza se gesta, se nutre e se amplia nas
defasagens sofridas pelos polos menos favorecidos da relação capital/trabalho.

[…] Esse quadro, posto por H. I. Junqueira, expressa uma realidade na


qual se pode depreender processos econômicos e sociopolíticos que compõem
as condições objetivas para que o serviço social se constitua como profissão: a
sociedade e o Estado viam-se cada vez mais desafiados a enfrentar as questões
sociais construindo respostas ao nível de políticas sociais e de serviços, a uma
crescente gama de situações que exigiam profissionais preparados para seu
planejamento e execução, e os assistentes sociais foram investidos como um dos
agentes executores das políticas sociais (NETTO, 2001:74-75).

[...] Em São Paulo, o movimento que tinha por proposta a expansão política
da Doutrina Social da Igreja se apoiou estrategicamente em um tripé cujas bases
eram configuradas por:

1) um partido político, o Partido Democrata Cristão, cuja presidência foi assumida,


via eleição, pelos integrantes do movimento. Nesse partido, muitos assistentes
sociais militaram politicamente, aceitando e disputando cargos políticos. O PDC
teve, por muitos anos, como secretário geral, José Pinheiro Cortez; e Helena
Iracy Junqueira foi, pelo partido, a primeira vereadora mulher da cidade de
São Paulo e foi também Secretária da Educação no município, nos anos 50, na
administração PDC.

15
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

2) a mobilização do laicato católico através da organização da Ação Social Católica,


cuja responsabilidade de implantação em São Paulo fora assumida pelo CEAS
– Centro de Estudos e Ação Social – a partir de 1934. A Ação Social Católica
destacava a responsabilidade social do cristão, superando a vivência religiosa mais
individual (VICINI, 1990:24) e atuava através de grupos organizados como a Liga
Feminina de Ação Católica, a Juventude Operária Católica-JOC, a Juventude
Agrícola Católica – JAC, a Juventude Estudantil Católica (secundarista) – JEC,
a Juventude Independente Católica – JIC, a Juventude Universitária Católica –
JUC.

3) e a implementação de espaços de formação e de disseminação de ideias e


da doutrina, de preparação de uma elite intelectual católica, configurados
principalmente pelas Universidades Católicas. Não por acaso, em São Paulo,
foi o CEAS a entidade fundadora e mantenedora da primeira Escola de Serviço
Social.

Consonante com as propostas da Doutrina Social da Igreja, o objeto da


formação e da intervenção profissional dos assistentes sociais nesse período era
também o objeto que preocupava a Igreja e a Ação Social Católica: a questão social,
tal como vinha se expressando na sociedade brasileira e, no caso de São Paulo,
paulista. Em decorrência, a profissão de serviço social se constituiria num dos aspectos
concretos da ação social (Albertina Ferreira Ramos – 1940 - apud Yasbek, 1980:40) e
o curso de serviço social, além de se voltar para a disseminação de conhecimentos
e de técnicas para uma ação mais eficaz no enfrentamento dos problemas sociais,
dedicava-se também à formação social de dirigentes, integrantes da ação política
do laicato católico (LIMA, 1982:45).

FONTE: BAPTISTA, Myrian Veras. A questão social como um desafio histórico do serviço social.
2009. Disponível em: <http://www.jurassicos.com.br/leao_XIII/arquivos/surgimento_servico_
social.pdf>. Acesso em: 5 jan. 2015.

16
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste primeiro tópico ampliamos nossos conhecimentos e estudamos
um pouco mais sobre a gênese da questão social, assim enfatizamos vários itens:

• Verificamos as características da proteção e da assistência na história da


humanidade e percebemos que mesmo antes do desenvolvimento do capitalismo
foram desenvolvidas diversas práticas de “ajuda”, “proteção” e/ou “assistência”
ao próximo.

• Analisamos a influência da filosofia para o mundo ocidental, sendo que as


primeiras tentativas de estudo, questionamento, análise e compreensão a
respeito da sociedade, das relações sociais, foram influenciadas na Antiguidade
pela filosofia, especificamente pela filosofia grega.

• Verificamos que durante longo período da história, especificamente durante a


Idade Média, não se discutia a “questão social”, muito menos suas expressões na
sociedade, e a assistência ficava relegada ao campo da filantropia e da caridade.

• Constatamos a influência da religião católica na sociedade e especificamente


no serviço social, como, por exemplo no Brasil, o Serviço Social foi criado em
1936, a partir das iniciativas dos grandes líderes da Igreja Católica, inspirados
na Doutrina Social da Igreja.

• Analisamos que a profissão do Serviço Social foi se desenvolvendo e crescendo


permeada pela prática da “Ação Social Católica”, sendo que até o início dos anos
60 recebeu forte influência no sentido de ter caráter caritativo e assistencialista,
práticas severamente combatidas na atualidade.

17
AUTOATIVIDADE

1 Conforme o estudo desta primeira unidade, descreva como foram


desenvolvidas na Antiguidade as práticas de assistência ao outro.

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2 Que influência teve a religião na consolidação da prática da assistência no


contexto social, especificamente na Europa e América Latina?

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UNIDADE 1
TÓPICO 2

SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO


HISTÓRICO

1 INTRODUÇÃO
Iremos aprofundar nesta unidade os fatores históricos econômicos,
políticos, sociais e culturais que contribuíram para o surgimento da questão
social, especificamente, durante o período de transição da Idade Média para a
Idade Moderna, tais como, movimentos intelectuais como o Renascimento e o
Iluminismo, que contribuíram para a concretização da Revolução Francesa.

Abordaremos também o surgimento e desenvolvimento do capitalismo,


bem como os significados do liberalismo e do neoliberalismo enquanto doutrinas
de política econômica a favor das ideias e avanços industriais e capitalistas.

2 FATORES HISTÓRICOS ECONÔMICOS, POLÍTICOS,


SOCIAIS E CULTURAIS QUE CONTRIBUÍRAM PARA O
SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL
A questão social está intrinsecamente vinculada com a história do surgimento
e desenvolvimento do capitalismo, visto o desenrolar dos acontecimentos que
mudaram o curso da história da humanidade. Por isso precisamos conhecer o
passado para compreender e refletir sobre aspectos do cenário contemporâneo
mundial e da nossa própria realidade.

A transição da Idade Média para a Idade Moderna foi um período muito


conturbado e difícil em todos os sentidos, pois foi um período de transição entre
a mentalidade medieval para a mentalidade moderna racional, com profundas
transformações sob o ponto de vista histórico econômico, político, social e cultural.

Ao invés de termos o mundo explicado pela fé (por verdades reveladas),


passa-se a ter um mundo explicado pela razão, pela ciência experimental; do
teocentrismo passa-se para a perspectiva do antropocentrismo, focando não mais
na fundamentação da teologia e do poder do absolutismo, mas essencialmente na
racionalidade científica, onde o homem dotado de certeza e razão torna-se o centro
do mundo.

19
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

O teocentrismo é uma concepção que enfatiza Deus no centro de todas as


coisas, desse modo, o homem e o que deve fazer definem-se essencialmente em
relação a Deus (VÁZQUEZ, 2000).

Nesse período de transição obtivemos a primeira noção de movimento


social, o RENASCIMENTO – desenvolvimento do Humanismo nos séculos XV e
XVI, que foi caracterizado como um movimento intelectual de desenvolvimento
artístico, literário e científico. Desse modo, renasce novamente a filosofia e há um
grande passo às pesquisas científicas, até então proibidas na Idade Média. As
manifestações deste movimento tiveram maior repercussão na França, contra as
injustiças sociais, intolerância religiosa e privilégios do absolutismo.

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DO PERÍODO MODERNO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=antropocentrismo&bi


w=>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Assim também surgiu o ILUMINISMO, que significou uma corrente


de pensamento dominante no período aproximado de 1700 a 1800, período
caracterizado como Século das Luzes. Era um movimento que representava uma
visão de mundo da burguesia intelectual da época na Europa, que estimulava a
luta da razão e do progresso contra a superstição e a teologia. Essa corrente de
pensamento inspirou os ideais da Revolução Francesa em 1789, que teve como
lema: Liberdade, Fraternidade e Igualdade, pois denunciava erros e vícios do
Antigo Regime feudal e absoluto, efetivando a derrubada da monarquia absoluta.

20
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

Hampson (1996, p. 375) descreve que:


Mais que um movimento, o Iluminismo foi um modo de pensar. Falando
de maneira geral, foi uma consequência da “revolução científica” no final
do século XVII, que havia transformado a concepção que a maior parte
das pessoas instruídas tinha a respeito do mundo por elas habitado. [...]
A compreensão, pelo Homem, de si mesmo e da sociedade só podia
ser alcançada pelos métodos científicos da observação e dedução, que
lhe permitiam captar princípios que governavam o comportamento da
matéria.

O francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) tornou-se o iluminista mais


radical, precursor do socialismo, defendia um Estado democrático, voltado para o
bem comum e a vontade geral.

UNI

Surge na época uma sociedade racional, porém com uma sociedade burguesa
ambiciosa, onde a exploração e dominação eram cada vez mais evidentes,
transparecendo novamente a desigualdade e a exclusão social. Assim, com o novo sistema
econômico desenvolveu-se também uma nova sociedade, urbana e industrial, com suas
consequências inevitáveis.

Surge na época uma doutrina política e econômica designada como


Liberalismo. Seu principal teórico foi o economista escocês Adam Smith (1723-
1790), que criticava a intervenção estatal na economia e idealizava uma economia
dirigida pelo jogo livre da oferta e da procura, chamado de laissez-faire (deixai fazer),
como se existisse algo invisível que iria conduzir da melhor forma a economia e a
sociedade. O trabalho nesta concepção era considerado como a verdadeira riqueza
das nações e o sistema econômico deveria ser dirigido pela livre iniciativa dos
empreendedores, burgueses, capitalistas.

A ação racional, portanto, significava conformidade a um sistema que era


moralmente autolegitimado. A “mão invisível” da Providência garantia
que a busca individual de um autointeresse iluminista conduziria
sempre ao bem-estar da sociedade como um todo. [...] Durante a
segunda metade do século XVIII, o Iluminismo foi contestado por uma
repulsa ao que era visto como uma concepção mecanicista do universo,
uma negação das verdades da percepção e da emoção e uma fuga ao
conflito entre inclinação e dever. Jean-Jacques Rousseau, em particular,
embora partilhasse alguns dos pressupostos do Iluminismo, baseou
sua teoria na soberania popular e um conceito de regeneração moral do
indivíduo pela sociedade que tirava o seu dinamismo da consciência e
de uma moralidade intuitiva. [...] Os homens que se viram no controle
da França em 1789, em sua esmagadora maioria, partilhavam dos seus
pressupostos (HAMPSON, 1996, p. 376).

Interessante ressaltar que a sociedade racional dos iluministas revelou na


sociedade burguesa uma profunda irracionalidade, pois começava a germinar
um tipo de dominação e exploração por parte dos burgos da época. Assim, foi

21
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

se consolidando e crescendo um tipo de grupo social que estava enriquecendo,


a burguesia, grupo que foi se consolidando com o crescimento do capitalismo,
sendo considerada mais tarde como classe social burguesa.

UNI

No século XVIII ocorreram duas grandes revoluções na Europa, a Revolução


Francesa e a Revolução Industrial. Influenciadas pelos princípios iluministas
e da substituição das ferramentas pelas máquinas, ajudaram a consolidar a globalização do
capitalismo, bem como as teorias econômicas liberalistas (RAMALHO, 2012).

A Europa passava por imensas transformações, a começar pela Revolução


Francesa, e depois pela Revolução Industrial, que mudaram o curso da história,
principalmente para o absolutismo e poderio da Igreja, visto que os princípios
iluministas se proliferavam pela luta da razão e do progresso contra a superstição
e a teologia, bem como com o fim do feudalismo.

A Revolução Francesa, ao romper com um sistema político de privilégios


e protagonizar a instauração de uma sociedade de indivíduos, assume,
desde o século XVIII, com a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, a tarefa de encaminhamento de uma política social, que foi
tornando a caridade e a assistência clerical cada vez mais aleatória. A
esta época, o frágil equilíbrio necessário para tornar a solidariedade
eficaz, entre a riqueza e a pobreza, entre a generosidade e o sofrimento,
se torna a cada dia mais difícil e ilusório (IVO, 2012, p. 72).

FIGURA 5 – IMAGEM DA REVOLUÇÃO FRANCESA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SOCIAL>. Acesso


em: 6 jan. 2015.

22
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

UNI

A REVOLUÇÃO FRANCESA (chamada de Revolução Gloriosa) se caracterizou


como um movimento social revolucionário de caráter liberal e burguês a favor do liberalismo,
nacionalismo e socialismo, provocando a derrubada da monarquia absoluta.

Segundo Carlebach (1996, p. 405), “A Revolução Francesa visava reestruturar


toda a sociedade, em todos os níveis, no espírito das novas noções de igualdade
social defendidas pelo Iluminismo”.

A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, emergindo


aproximadamente em 1775 e se espalhando por toda a Europa. Concomitantemente
com o crescimento econômico, crescia também um número exorbitante de homens,
mulheres e crianças em situações desumanas e degradantes.

Era um retrocesso social, tendo em vista as condições desumanas a que os


trabalhadores eram submetidos em toda a Europa, assim foi se caracterizando o
Estado Liberal com intervenção mínima do poder político e estatal na sociedade
da época.

Desenvolviam-se as teorias econômicas liberalistas que ajudaram a


consolidar o progresso capitalista e, consequentemente, fizeram emergir os
problemas sociais (atualmente designados como expressões da questão social)
oriundos destas profundas transformações, tais como pauperismo, carências,
mendicância, desvios de conduta, desemprego, péssimas condições de trabalho,
entre outras consequentes manifestações.

FIGURA 6 – TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS INGLESAS

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=revolução+industrial&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

23
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Em 1848, na Europa, ocorreram diversas revoluções, manifestações


populares, revoltas diversas em vários países. Vários movimentos de trabalhadores
começaram a eclodir, pois começaram a negar a manutenção do poder burguês,
a criticar a crise econômica, a exigir melhores condições sociais, econômicas e
políticas a favor da democracia e cidadania.

Originalmente, o termo “primavera dos povos” está associado às


revoluções ocorridas na Europa central e oriental em 1848. A grande
onda de reivindicações iniciada nesse ano, que tinha em sua agenda
política a extensão do direito de voto e a ampliação de direitos das
minorias nacionais, foi uma resposta à política continental de restauração
que conduziu as decisões internas dos Estados europeus após a derrota
napoleônica. Incapazes de absorver as mudanças propostas pelo
ideário liberal/burguês e mesmo de processar a incorporação dos novos
grupos sociais surgidos das transformações sociais da industrialização
crescente, os Estados monárquicos europeus viram eclodir diversas
revoluções (PARADA, 2011).

Esse conjunto de revoluções foi chamado de Primavera dos Povos, tinha


caráter liberal, democrático, nacionalista e, apesar de sua breve duração, recebe
importância significativa no estudo da questão social, por ter sido a primeira
revolução do proletariado.

Na França, com intuito de apaziguar o contexto de revoltas, o governo


francês procura remediar como podia. Referindo-se aos debates de 1848,
Rosanvallon (1998, p. 120) descreve:

Em 26 de fevereiro de 1848, um cartaz com um novo decreto foi exposto


nos muros da capital: “O governo provisório da República Francesa se
compromete a prover a existência do trabalhador pelo trabalho, que
será garantido a todos os cidadãos” [...] Reunindo inicialmente alguns
milhares de homens, chegavam a quase 100.000 beneficiados [...] A
experiência foi um insucesso monstruoso, [...].

Protestos e reivindicações emergiram na França e se proliferaram por toda


a Europa. Resultado consequente da transformação de uma sociedade agrária para
uma industrial, fez emergir um contingente de operários sem garantias de trabalho
e direitos sociais, bem como milhares de desempregados em situação de miséria.

UNI

Interessante ressaltar que as revoluções estão associadas ao termo radicalismo,


as mudanças radicais fundamentais geralmente estão interligadas com o sistema social e suas
conjunturas, sistemas de poder da política, da economia.

Com o desenvolvimento ocorre a passagem da manufatura para


mecanização, criação de duas novas classes sociais antagônicas: burguesia e
proletariado, ou empresários e trabalhadores. Surgem as primeiras manifestações

24
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

de revolta na Europa, dando origem aos sindicatos a partir de 1833. Começa-se a


produção de consumo.

A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL se caracterizou como um processo histórico


de transformação econômica e social, através do qual um novo modo de produção
capitalista passa a dominar a sociedade: produção em escala para o mercado
mundial, uso intensivo de máquinas, concentração de operários – trabalhadores –
e a divisão social do trabalho.
FIGURA 7 – CONFIGURAÇÕES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=revolução+industrial


&biw=1366&bih~>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Surge então efetivamente o capitalismo, um novo sistema econômico e


social de mercado, um tipo de economia e de sociedade que se caracteriza pela
propriedade privada (individual ou coletiva) dos meios de produção, trabalho
assalariado e acumulação de capital (riqueza), se baseando no controle, previsão
e exploração de oportunidades de mercado para efeito do lucro, bem como de
recursos técnicos e naturais disponíveis.

UNI

Podemos analisar o capitalismo sob duas perspectivas, uma sob a análise do


perspectivismo liberal e a outra sob a análise do perspectivismo marxista, duas
concepções totalmente distintas referentes à concepção do capital, do sistema de produção e
reprodução capitalista, da sociedade e de suas manifestações presenciais e futuras.

25
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Para os liberais da época, a propriedade privada assegurava a melhor


distribuição possível dos recursos. Assim, o mercado assegurava uma satisfação
em função de sua dotação e criação de bens e serviços, e a distribuição dos recursos
podia resultar pelo simples jogo do mercado, que, por si só, beneficiava a todos e
sem interferência do Estado na economia, mas com uma intervenção flexível ou
mínima através de suas políticas de bem-estar.

O lucro é justificado no capitalismo pela sua própria natureza, assim como


a justa remuneração e iniciativa dos empresários, que se empenham em melhorar
o capital técnico, investem seus recursos em novos recursos e na produção,
descobrem novas ideias e procuram pô-las em prática para que o desenvolvimento
e o crescimento econômico se efetivem cada vez mais em sua plenitude (GÉLÉDAN;
BRÉMOND, 1988).

Sabe-se que o processo de industrialização e o avanço desenfreado do


capitalismo desencadearam inúmeras consequências na área social, evidências e
expressões negligenciadas e omitidas pelos liberalistas, visto apenas visualizarem
o bem-estar econômico da sociedade – seu crescimento e desenvolvimento do
ponto de vista da economia –, deixando à deriva o desenvolvimento social e as
consequências desastrosas do sistema capitalista.

A questão social e suas expressões, na época designada como problemas


ou disfunções sociais, para os liberais estavam dissociadas da questão econômica.
Assim, percebiam e consideravam todos os problemas sociais como desvios de
conduta que estavam vinculados e relacionados com a cultura, a moral, a religião,
a família, a própria pessoa. Dessa forma, a pobreza era relacionada a causas
individuais e psicológicas, pensava-se o pauperismo como mendicância e como
crime, e assim a repressão se instituía como forma de tentar harmonizar a sociedade
da época.

[...] a partir de 1834, existem algumas características e problemas dessa


concepção de “questão social”, pobreza e tratamentos:
a. A “questão social” é separada dos seus fundamentos econômicos
(a contradição capital/trabalho, baseada na relação de exploração do
trabalho pelo capital, que encontra na indústria moderna seu ápice)
e políticos (as lutas de classes). É considerada a “questão social”
durkheimianamente como problemas sociais, cujas causas estariam
vinculadas a questões culturais, morais e comportamentais dos próprios
indivíduos que os padecem.
b. A pobreza é atribuída a causas individuais e psicológicas, jamais a
aspectos estruturais do sistema social.
c. O enfrentamento, seja a pobreza considerada como carência ou
déficit (onde a resposta são ações filantrópicas e beneficência social).
Ou seja, ela entendida como mendicância e vadiagem (onde a resposta
é a criminalização da pobreza, enfrentada com repressão/reclusão),
sempre remete à consideração de que as causas da “questão social” e da
pobreza encontram‑se no próprio indivíduo. Trata‑se das manifestações
da “questão social” no espaço de quem os padece, no interior dos limites
do indivíduo, e não como questão do sistema social.
Essa é a perspectiva pós‑1835, século XIX — que, a partir da
constituição do proletariado como sujeito e de suas lutas desenvolvidas
particularmente entre 1830‑48, pensa o pauperismo como mendicância

26
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

e como crime, tratando assim dela com repressão (MONTÃNO, 2012,


p. 274).

As inúmeras consequências se evidenciavam com o aumento da pobreza


e da exclusão social, das desigualdades sociais, da expansão de situações de risco
social, aumento de situações de vulnerabilidade social, precarização do trabalho,
baixo salário, diminuição de postos de trabalho, trabalho infantil, crescimento
excessivo de imigrações e migrações, explorações diversas.

UNI

Porém, a questão social, mesmo com o desenvolvimento e crescimento do


capitalismo, era considerada alvo de preocupação, pois os “problemas sociais” não
deixavam de existir, mas cresciam em diferentes formas e números, sendo alvo de estudo por
diversos pensadores.

Bottomore (1996, p. 59) especificou o capitalismo como um:

Tipo de economia e de sociedade que, em sua forma desenvolvida, surgiu


a partir da Revolução Industrial do século XVIII na Europa Ocidental,
o capitalismo foi posteriormente conceituado de variadas maneiras por
economistas, historiadores e sociólogos (a palavra em si mesma só veio
a ser amplamente utilizada no final do século XIX, particularmente por
pensadores marxistas). Marx (O Capital, 1867, vol. 1) definiu-a como
uma “sociedade produtora de mercadorias”, na qual os principais meios
de produção estão nas mãos de uma classe particular, a BURGUESIA,
e a força de trabalho também se torna uma mercadoria que é comprada
e vendida. Essa concepção foi elaborada no quadro da teoria de Marx
sobre a história – sua “interpretação econômica” – e o capitalismo
encarado como o mais recente estágio em um novo processo de evolução
dos modos de produção e formas de sociedade humanos. Seus aspectos
característicos, segundo Marx, eram a capacidade de autoexpansão
através da acumulação incessante (a centralização e a concentração de
capital), a revolução contínua dos métodos de produção (fortemente
enfatizada em O manifesto comunista), intimamente ligada ao avanço
da ciência e da tecnologia como uma força produtiva de importância
maior, e ainda o caráter cíclico de seu processo de desenvolvimento,
marcado por fases de prosperidade e depressão, e também uma divisão
mais claramente articulada, ao lado de crescente conflito entre as duas
classes mais importantes (ver CLASSE) – a burguesia e o proletariado
(ver CLASSE OPERÁRIA).

Quando a classe proletária explorada começa a questionar a realidade


social e o sistema econômico vigente, sua consciência crítica e de classe social faz
surgir e proliferar inúmeros movimentos sociais, revoluções sociais. Dessa forma,
os problemas sociais foram politizados, obrigando o Estado a efetivar e garantir os
direitos sociais, ou seja, os problemas sociais foram transformados e considerados
como expressões sociais da questão social e não mais como resultados do
comportamento individual e das instituições sociais.
27
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 8 – MOVIMENTOS SOCIAIS

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=movimentos+sociais&b


iw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Os problemas sociais ou disfunções sociais foram politizados pela classe


trabalhadora, foram transformados em expressões sociais, em manifestações
multifacetadas da questão social. Assim, constatamos que a questão social e
suas expressões eram designadas, caracterizadas, conceituadas como: problemas
ou disfunções sociais, pois não eram tratadas sob o ponto de vista estrutural da
sociedade capitalista.

E
IMPORTANT

Podemos entender o significado de expressões ou manifestações multifacetadas


da questão social como aquelas que se apresentam na sociedade com várias facetas, muitas
faces, múltiplas aparências, características ou atributos.

Porém, essa politização e questionamento da classe trabalhadora não


ocorreram de forma pacífica, lenta e amigável durante a história, tanto é que as
transformações que estavam ocorrendo impulsionaram muitos estudiosos a
se debruçarem cientificamente sobre os estudos sociais e, através de pesquisas,
mostrassem evidências comparadas e comprovadas da sociedade. Assim, por
necessidade, é que a sociologia se caracterizou como uma ciência.

A partir da substituição das ferramentas pelas máquinas, da energia


humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema fabril,
se iniciou o processo de industrialização em escala mundial. Consequentemente,
o capitalismo começou a emergir e foi alvo de atenção de diversos economistas e
sociólogos.

28
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

Alguns teóricos e profissionais estavam preocupados em organizar o


processo de produção para obtenção do crescimento do próprio capital, e outros,
em analisar os resultados de tal sistema, seu modo de funcionamento e suas
consequências. Assim, seguindo as descrições feitas por Oliveira (2002), podemos
relatar alguns dos grandes mestres das ciências sociais, que analisaram a sociedade
de sua época:

QUADRO 1 – OS PENSADORES CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA


O francês Augusto Comte (1798-1857), filósofo e matemático, fundador da
primeira forma de pensamento social, o positivismo (estado científico). Foi o
primeiro teórico a definir a Sociologia como – física social: estática e dinâmica
– que procura analisar e compreender a sociedade no sentido da organização
(ordem) e da reformulação (progresso). O positivismo expressava uma confiança
nos benefícios da industrialização, bem como um otimismo em relação ao
progresso capitalista guiado pela técnica, pela ciência e pela racionalidade.

O alemão Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista, crítico idealizador do


socialismo e do comunismo. A sociedade é vista como uma inevitável luta de
classes sociais, por causa do sistema capitalista. Este conflito de poder terminaria se
existisse igualdade social, se os meios de produção fossem de toda a coletividade.
Segundo a visão marxista, a sociedade sempre estará em luta de classes, cada
qual lutando por seus interesses, e jamais haverá equilíbrio ou harmonia onde
existe dominação e/ou exploração.

O francês David Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo, considerado


fundador da Sociologia Moderna, a partir de seus estudos a Sociologia passou
a ser considerada como uma ciência independente das demais Ciências Sociais
(Antropologia, Política, Economia) e da Filosofia. Para ele, a Sociologia é o estudo
dos fatos sociais, ou seja, de todos os processos de interação humana. Seu maior
estudo foi sobre o suicídio, tipos e causas.

O alemão Max Weber (1864-1920), sociólogo, criou o método compreensivo


através da análise dos processos históricos e sociais. Para ele, a pesquisa histórica
é essencial para compreensão das sociedades. O objetivo maior da Sociologia é
compreender a conduta social, que ele chegou a definir como ação social. Foi
fundador da Sociologia da Religião.
FONTE: OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia. São Paulo: Ática, 2002.

Entre estes teóricos clássicos, o que mais influenciou o serviço social foi o
economista Marx, visto que começou a criticar severamente as práticas capitalistas
e trouxe como solução as teorias que foram chamadas de socialistas, pois o principal
objetivo desse novo processo e sistema social era socializar os bens de consumo e
de produção.

29
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Assim, seguindo a análise marxista de pensamento e interpretação social,


podemos compreender que a Questão Social está diretamente vinculada ao
processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no
cenário político da sociedade, aos conflitos advindos do capital versus trabalho,
pois todas as manifestações expressivas na sociedade surgem das relações de
exploração e dominação capitalista.

De acordo com Iamamoto e Carvalho (1996, apud PIERITZ, 2013a, p. 104):

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e


desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político
da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do
empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida
social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa
a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão.

Marx (1848), descrevendo sua percepção da exploração capitalista,


enfatizou que na medida em que a relação de trabalho permite que a remuneração
do trabalhador seja menor do que o valor que ele produz, o capitalista, que é o dono
dos meios de produção, estará se apropriando da parcela não paga ao trabalhador.
Este valor (lucro) apropriado pelo capitalista advém da diferença entre o valor
produzido e o salário pago ao trabalhador, e a essa diferença dá-se o nome de
mais-valia, ou seja, o excedente, o lucro, a exploração, é evidente no capitalismo,
assim a desigualdade social se instaura na sociedade.

FIGURA 9 - O FILÓSOFO E ECONOMISTA KARL MARX

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=teoria+marxista


+capital+e+trabalho&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Para Marx, o socialismo prega a igualdade social e não a desigualdade, a


exploração, a alienação, a pobreza, entre outras situações de exclusão social que
são geradas pelo capitalismo.

30
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

No século XX o enfoque das necessidades humanas foi instigado


por duas considerações: problemas na teoria marxista e questões
nas políticas públicas. Os marxistas clássicos tinham que explicar a
inesperada longevidade do capitalismo, previsto para desmoronar em
consequência da superprodução e do subconsumo. Alguns revisionistas
marxistas, casando noções freudianas de desejos instintivos com
observações acerca do papel da mídia por teóricos da sociedade de
massas, propuseram uma explicação em termos de “falsas necessidades”.
Começando com Erich Fromm, que foi o primeiro a expor essa ideia nos
anos 30, e incluindo Wilhelm Reich, Herbert Marcuse e membros da
escola de Frankfurt, esses pensadores argumentaram que o capitalismo
tem uma capacidade inigualável de introjetar na psique de seus súditos
as necessidades que ele precisa que eles tenham a fim de que o sistema
sobreviva. (SPRINGBORG, 1996, p. 519).

Nas palavras de Erich Fromm (1987, p. 82), enfatizado anteriormente


na citação, podemos averiguar seu embasamento sobre as falsas necessidades
produzidas no capitalismo a partir de uma ideologia dominante:

As normas pelas quais a sociedade funciona também moldam o caráter


dos seus membros (caráter social). Numa sociedade industrial, esses
caracteres são: desejo de adquirir propriedade; mantê-la; aumentá-
la, isto é, obter lucro. Os que possuem propriedade são admirados e
invejados como seres superiores. Mas a vasta maioria de pessoas não
possui propriedade alguma no sentido real de capital e bens de capital.
[...] E como os grandes proprietários, os pobres estão obcecados pelo
desejo de manter o que têm e aumentá-lo, mesmo que seja em um
mínimo (por exemplo, poupando um centavo aqui, um centavo ali).

Na visão marxista, o modo de desenvolvimento deste processo caracteriza


a produção de coisas inúteis que não atendem às necessidades humanas em
termos de qualidade de vida e através do processo de trabalho se concretiza uma
desvalorização e alienação do ser humano; a força e a energia humanas se reduzem
apenas ao fazer repetitivo e não ao pensar crítico; se produz o desnecessário como
forma de priorizar o processo de valorização do capital através do consumo sem
razão lógica e racional, exercício de uma ilusória e falsa cidadania com negação
total dos direitos sociais, como também, consequentemente, degradação do meio
ambiente através do próprio processo de trabalho e exploração da natureza.

Assim, o trabalho, ao invés de servir para o bem comum de todos, garantido


à vida humana e à natureza, passou a ser utilizado para o enriquecimento de
alguns. De realização pessoal e criatividade, foi transformado em processo de
alienação, em esforço rotineiro e repetitivo e passividade crítica, com resultados
de lucro, consumo e destruição, visto que a alienação é um processo que torna
algo pertencente alheio a si próprio; assim, os atos de uma pessoa são governados
por outros e se transformam em uma força estranha e contrária de si mesmo,
obscuramente a alienação se produz para satisfazer as necessidades do mercado.

31
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Podemos constatar que a concepção marxista se diferencia e muito da concepção


liberal, sobre a concepção do capital, do sistema de produção e reprodução capitalista e da
sociedade.

Assim, procurando compreender o mundo contemporâneo, verificamos


que, ao longo dos séculos XIX e XX, surge o desemprego nos países desenvolvidos,
o mercado se globaliza, surge a concorrência, o capital produtivo ganha
organização mais complexa, ocorre o movimento neocolonial pela necessidade de
encontrar territórios ricos em matéria-prima que pudessem abastecer a economia
para investimento de capitais excedentes, bem como atender aos problemas de
crescimento populacional e de fornecimento de mão de obra numerosa e barata.

Os conflitos gerados pelos interesses colonialistas em choque com os


mercados associados levaram à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e à Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). Assim, no contexto da expansão capitalista pós-
guerra, o Estado assume tarefas e funções essenciais para a nova fase de acumulação
capitalista e institucionalização dos conflitos sociais da classe trabalhadora; a
“questão social” passa a ser como que internalizada na ordem social. Agora sendo
considerada não mais como um problema do indivíduo, mas como consequência
do desenvolvimento social e econômico – do subdesenvolvimento. De caso de
polícia, a questão social passa a ser vista como caso de política, política pública
(MONTAÑO, 2012).

No século XX surgem complexos industriais e empresas multinacionais, a


indústria química e eletrônica se desenvolve, avanços da automação, da robótica
e da engenharia genética são incorporados ao processo produtivo, que depende
cada vez menos de mão de obra e cada vez mais de alta tecnologia. Os grandes
complexos financeiros (bancos) passam a especular na bolsa de valores e financiar
a dívida dos países emergentes, dando origem às privatizações e aberturas de
mercados, enfraquecendo o poder do Estado e dando origem ao movimento
neoliberal.

Segundo Ianni (1999, p. 55),

Desde que o capitalismo retomou sua expansão pelo mundo, em


seguida à Segunda Guerra Mundial, muitos começaram a reconhecer
que o mundo estava se tornando o cenário vasto de um vasto processo
de internacionalização do capital. Algo jamais visto anteriormente em
escala semelhante, por sua intensidade e generalidade.

Procurando compreender a evolução do liberalismo, doutrina político-


econômica surgida na Europa, especificou-se um novo termo chamado
neoliberalismo, sendo uma adaptação da doutrina às novas condições do
capitalismo a partir de 1938, onde a liberdade econômica das empresas e as leis
32
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

de mercado se tornam indiscutíveis. A função do Estado foi manter o equilíbrio


dos preços com políticas anti-inflacionárias e cambiais, bem como apaziguar os
conflitos sociais por meio de políticas sociais de bem-estar social.

FIGURA 10 – A QUEBRA DO ESTADO DEVIDO ÀS PRIVATIZAÇÕES

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=privatizações


&biw>. Acesso em: 5 jan. 2015.

Para os neoliberais, o Estado não deve desempenhar funções assistencialistas,


o que resultaria numa sociedade completamente administrada e, portanto,
antiliberal. Nesse sentido, é a afirmação da sociedade civil que deve buscar novas
formas de resolver seus problemas, ao Estado cabe apenas a tarefa de garantir a lei
comum, bem como a função de equilibrar e incentivar as iniciativas da sociedade
civil. A posição neoliberal é reduzir ao máximo o poder ou intervenção do Estado, a
ponto de ficar responsável apenas pela repressão de disfunções sociais ou ameaças
à ordem pública.

No contexto e no pensamento neoliberal, o Estado deve estimular o capital


a investir, garantindo e preservando o lucro frente às flutuações do mercado,
particularmente em contexto de crise investindo o mínimo necessário na área
social, através das políticas sociais.

UNI

Enquanto isso, a ação social se torna mínima no âmbito estatal, transferindo a


responsabilidade para o terceiro setor com ação voluntária e solidária de indivíduos
e organizações da sociedade civil, bem como para as empresas no âmbito da responsabilidade
social que procuram atingir a população consumidora.

De acordo com a visão de Montaño (2012), a estratégia neoliberal orienta-se


numa tripla ação:

33
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

• políticas sociais do Estado para a população mais pobre (cidadão usuário) com
ações precarizadas, regionalizadas e passíveis de clientelismo;
• a ação mercantil, desenvolvida pela empresa capitalista, dirigida à população
consumidora (cidadão cliente); e,
• as ações do chamado “terceiro setor”, ou da chamada sociedade civil organizada
para a população não atendida nos casos anteriores, desenvolvendo uma
intervenção filantrópica.

Podemos analisar que o neoliberalismo possui estratégias de


desenvolvimento, orienta-se de maneira manipulatória e congruente com o
capitalismo, a fim de que o sistema capitalista cresça em abundância, dando
continuidade ao processo de exploração e dominação, assim compactua com os
outros setores da sociedade, como o público estatal e a sociedade civil organizada.

UNI

Com os avanços do capitalismo mundial e com a globalização, temos


novamente uma discussão: quais são as novas formas de pobreza? Percebendo
que a burguesia e o proletariado não são mais caracterizados, quem são os dominados da
contemporaneidade? Que grupos dominantes fazem parte dessa nova etapa do capitalismo,
agora mundial? Digital? Que tipos de exclusão e exploração estão vigorando na atualidade? O
que virá depois da globalização?

Assim, nesse sentido, para nos fundamentar temos alguns dicionários


básicos, que precisamos ler e reler, até para adquirirmos um melhor conteúdo,
vocabulário mais próprio da profissão e uma linguagem mais qualificada.

DICIONÁRIO DAS CRISES E DAS ALTERNATIVAS.


Centro de Estudos Sociais Laboratório Associado – CES.
Universidade de Coimbra. Coimbra: Almedina, 2012. 218 p.

DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO


SÉCULO XX. Editado por William Outhwaite e Tom Bottomore.
Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 970 p.

34
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

LEITURA COMPLEMENTAR

PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO E PROBLEMAS EMERGENTES:


IMPLICAÇÕES PARA O SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORÂNEO

Nélson Alves Ramalho

SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS: SOCIEDADES DE RISCO?

Como observámos, esta rede complexa de processos e interdependências


ocorre da junção de vários fatores, níveis e dimensões (SCHOLTE, 2000; STEGER,
2006). É nesse conjunto de “globalizações” e de relações sociais diferentes que
surgem conflitos e, com eles, vencedores e vencidos que podem, a longo prazo,
ter impactos irreversíveis (SANTOS, 2005). Santos atribui à constelação desses
conjuntos distintos de relações sociais, que originam diferentes fenômenos de
globalização, a terminologia de “globalizações”, usada no plural. Segundo ele,
“não existe uma entidade única chamada globalização” (2005, p. 62). Essa relação
entre os processos de globalização e o surgimento e expansão de situações de risco
social permite‑nos observar que a globalização pode contribuir para limitar os
seus contributos para um desenvolvimento humano sustentável.

A supressão da pobreza é um desses limites. Após anos de liberalização


e desregulação do mercado mundial, não foi possível observar o seu fim.
Pelo contrário, tais políticas têm promovido a “globalização da pobreza”
(CHOSSUDOVSKY, 1997). Associado a ela está, também, a questão do emprego.
Segundo Amaro (2005), as atuais relações instáveis e precárias de trabalho,
a expansão do desemprego e os baixos salários constituem uma limitação à
acessibilidade dos consumos tradicionais, sendo difíceis ou impossíveis para uma
parcela importante da população.

A junção da má qualidade de vida (em consequência da pobreza) e a


falta de oportunidades conjugado com a difusão da “qualidade” nos países
desenvolvidos, através da globalização dos meios de informação e comunicação,
impulsionou o crescimento massivo do fenômeno das migrações. Segundo
dados da International Organization for Migration (IOM) de 2010, o número de
migrantes cresceu de 150 milhões, em 2000, para 215 milhões, em 2010. Estima‑se
que em 2050 haja 405 milhões de migrantes como resultado do crescimento das
disparidades demográficas, os efeitos das mudanças ambientais e a nova dinâmica
política e econômica global, a revolução tecnológica e as redes sociais. Aliados a
esses problemas estão, também, o crescimento populacional, os conflitos étnicos e
o renascimento da intolerância, o terrorismo e a insegurança social.

Há, também, as questões ambientais (GIDDENS, 2006), cujas sociedades


contemporâneas tendem a ter dificuldades na resolução de problemas relacionados
com as mudanças climáticas, a camada de ozônio, a desertificação, a dependência
do consumo de combustíveis não renováveis, a diminuição (com risco de perda)
da diversidade biológica, a poluição transfronteiriça e a destruição dos recursos

35
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

naturais. Há, ainda, as questões relacionadas com o progresso técnico moderno,


nomeadamente, no nível das armas nucleares potencialmente destrutivas, dos
organismos geneticamente modificados na agricultura e na alimentação e dos
resíduos nucleares altamente radioativos (GARCIA, 2003; JERÓNIMO, 2006;
MARTINS E GARCIA, 2006; WINNER, 2003).

Face a todas essas situações, confrontamo‑nos perante questões éticas e


inquietações no decurso da globalização: Será que o progresso alcançado conseguiu
gerar um não progresso? Que rumos tomamos? Que limites são impostos ao avanço
da ciência e da tecnologia? Que responsabilidades estão inerentes a todos esses
“avanços” para que o planeta e as gerações futuras não sejam comprometidos?
Será o homem secundarizado e visto como um meio para incrementar e alimentar o
sistema capitalista ou deverá ser, antes, a centralidade no progresso da humanidade
com vistas à sua felicidade? Estamos perante a destituição de valores humanistas
e de uma ética global?

Como abordam Hespanha e Carapinheiro (2001, p. 16), “muitos dos


problemas não têm uma resposta organizada e é ainda o Estado nacional ou,
na sua falta, as instituições locais quem se ocupa deles, mobilizando recursos e
redes de solidariedade primárias”. Face a essa realidade, cresce a pressão sobre os
Estados‑nação para que possam desenvolver políticas ativas perante esses “novos
problemas” quando, na realidade, não se deveria reivindicar uma intervenção
supranacional capaz de resolver, ou minimizar substancialmente, os problemas
localizados, uma vez que foram originados, na sua génese, pelos processos da
globalização?

É nesta análise que se introduz o conceito de “sociedade de risco” (BECK,


1992). O autor atribui riscos de perigosidade globalizada imputados às decisões
humanas, relações sociais, institucionais e dinâmicas deliberadas produzidas no
desenvolvimento das sociedades modernas e que atingem, de forma indiscriminada,
todos os países, classes sociais e com repercussões geracionais. A expansão do
conceito de risco fez‑se à custa de uma ausência de delimitação analítica clara
entre “risco” e outras noções como “incerteza”, “perigo” ou “ameaça”. Abordar o
conceito de risco é abordar, necessariamente, os restantes conceitos. Desta forma,
o conceito de risco remete‑nos para cenários de probabilidade de ocorrência
de eventos futuros (GIDDENS, 2006; GRANJO, 2006; JERÓNIMO, 2006), o que
permite que autores como Areosa (2008), Martins (1998, citado em JERÓNIMO,
2006) queiram antes falar em “sociedades de incerteza”, na medida em que, não
traduzindo uma visão errônea do conceito, transmitem a imprevisibilidade de o
acontecimento ocorrer sabendo, no entanto, quais os potenciais efeitos que podem
surgir.

De fato, para o autor, a “democratização dos riscos” não escolhe grupos


específicos em termos de rendimento, prestígio ou poder para a difusão dos
seus impactos. Esta falta de imunidade de todos, face às ameaças globais, fá‑lo
designar o conceito de “efeito de boomerang”. Beck (1992) revela que estes novos
riscos deixam, então, de poder ser pensados localmente e de forma circunscrita
e ao, tendencialmente, democratizarem‑se passam a assumir um carácter global,
36
TÓPICO 2 | SURGIMENTO DA QUESTÃO SOCIAL E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

estendendo‑se a todas as classes sociais, culturas, raças e nações. São, segundo ele,
as ameaças ecológicas, sociais, políticas, económicas e individuais, anteriormente
desconsideradas, que põem em risco a vida de todo o planeta.

Beck (1992) e Giddens (2006) argumentam que esses riscos são produtos
humanamente fabricados no próprio conceito de desenvolvimento. É nesse
contexto que ambos utilizam o conceito de “risco fabricado” que se diferencia
do “risco externo” como sendo o risco proveniente da natureza externa, como as
más colheitas, inundações, pragas ou fomes. O “risco fabricado” refere‑se ao risco
causado pelo próprio impacto do desenvolvimento. Por um lado, o conhecimento
técnico‑científico permitiu controlar e minimizar alguns riscos, por outro, permitiu
gerar novos e desconhecidos riscos com consequências globais. No entanto, essas
novas formas de risco tornam‑se de grande complexidade ao entendimento
humano, pelo seu desconhecimento sobre eles e pela falta de experiência no seu
trato (AREOSA, 2008).

FONTE: RAMALHO, Nélson Alves. Processos de globalização e problemas emergentes:


implicações para o Serviço Social contemporâneo. Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 110, p. 345-368,
abr./jun. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n110/a07n110.pdf>. Acesso em: 4
ago. 2014.

37
RESUMO DO TÓPICO 2
No Tópico 2 ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um pouco
mais sobre os fatores históricos econômicos, políticos, sociais e culturais que
contribuíram para o surgimento e desenvolvimento da questão social no
capitalismo, liberalismo e neoliberalismo, assim enfatizamos vários itens:

• Refletimos sobre o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, bem como os


significados do liberalismo e do neoliberalismo enquanto doutrinas de política
econômica a favor das ideias e avanços industriais e capitalistas.

• Analisamos o contexto da Revolução Industrial, que teve início na Inglaterra,


emergindo aproximadamente em 1775 e se espalhando por toda a Europa.
Concomitantemente com o crescimento econômico, crescia também um número
exorbitante de situações desumanas e degradantes a que os trabalhadores eram
submetidos em toda a Europa.

• Verificamos que o capitalismo pode ser considerado sob duas perspectivas, uma
sob a análise do perspectivismo liberal e a outra sob a análise do perspectivismo
marxista, duas concepções totalmente distintas referentes à concepção do
capital, do sistema de produção e reprodução capitalista, da sociedade e de suas
manifestações presenciais e futuras.

• Constatamos que, dentre os teóricos clássicos, o que mais influenciou o serviço


social foi o economista Marx, assim compreendemos que a Questão Social
está diretamente vinculada ao processo de formação e desenvolvimento da
classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, aos conflitos
advindos do capital versus trabalho.

• Discutimos que o capitalismo intensificou-se enquanto sistema econômico do


ponto de vista de integração e interação para obter maior e melhor exploração
e dominação, através da economia mundial, fazendo emergir a globalização –
mundialização da economia.

38
AUTOATIVIDADE

1. Qual é a diferença entre os termos liberalismo e neoliberalismo econômico?

_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
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_____________________________________________________________________

2. Descreva algumas características do capitalismo, antes e depois da


globalização.

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_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________

39
40
UNIDADE 1
TÓPICO 3

A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO


SOCIAL”

1 INTRODUÇÃO
Este terceiro tópico tem por objetivo apresentar a amplitude e significado
dos termos: questão, social e a questão social, demonstrando sua origem e sua
relação com o resultado das contradições do surgimento e desenvolvimento do
capitalismo.

É necessário que o profissional conheça e identifique as questões sociais e


as inúmeras e multifacetadas expressões sociais que se apresentam na sociedade,
visto que a questão social tem sido considerada objeto do Serviço Social, visto que o
assistente social, enquanto profissão, procura responder às necessidades humanas
na garantia e efetivação dos direitos sociais.

A Questão Social em si não é algo negativo, mas representa e requer


uma perspectiva de análise, discussão e interpretação da sociedade, para o
enfrentamento das suas expressões multifacetadas, pois estas é que emergem, se
multiplicam e estão em evidência nas sociedades.

2 REFLEXÕES SOBRE A AMPLITUDE DA PALAVRA “QUESTÃO”


Deve-se levar em consideração a amplitude do conceito tanto da palavra
questão, quanto questão social, visto que não é algo tão simples assim, como em
muitos casos é considerado. Por isso é obrigatório refletirmos sobre o significado
do termo e sua abrangência, como, por exemplo, o que é e o que não seria uma
questão social? Como é expressa socialmente uma questão social? Quais são suas
formas de manifestações na sociedade, suas formas de expressão?

UNI

Olhando para a figura a seguir, quais das interrogações você consegue de imediato
responder?

41
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 11 REFLEXÕES SOBRE OS SIGNIFICADOS DOS TERMOS

FONTE: A autora (2015)

UNI

Começamos então com a reflexão sobre: o que é uma questão?

Existem mais de 70 sinônimos da palavra questão, ou, melhor dizendo,


existem mais de 70 palavras parecidas e que por vezes são usadas equivocadamente
ou de forma muito abstrata e subjetiva tanto no nosso vocabulário pessoal e
profissional, quanto na escrita e em textos teóricos de âmbito profissional. Assim,
temos que admitir que tal termo apresenta um problema semântico, de significado
da palavra questão, visto o seu vasto campo conceitual.

Vejamos o quadro a seguir, que descreve 76 sinônimos da palavra


questão enfatizando cinco sentidos que a palavra abrange, podendo ser de:

• Pergunta
• Assunto
• Problema
• Desavença
• Matéria debatida em juízo

42
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

QUADRO 1 – SENTIDOS E SINÔNIMOS DA PALAVRA “QUESTÃO”

E SINÔNIMOS DA PALAVRA “QUESTÃO”

1 SENTIDO DE PERGUNTA:
• indagação,  investigação,  interrogação, especulação,  pesquisa, exame,
inquirição, inquisição, perquirição, perquisição, quesito, (questão).
2 SENTIDO DE ASSUNTO:
• argumento, assunto, contexto, capítulo, tópico, conteúdo, item, matéria, ponto,
objeto, tema, tese, (questão).
3 SENTIDO DE PROBLEMA:
• dificuldade, aborrecimento,  adversidade,  aperto,  atrapalhação,
atribulação,  contrariedade,  contratempo,  embaraço,  empecilho,  impedimento,
inconveniente, incômodo,  infortúnio,  objeção, obstáculo,  oposição,  pepino,
resistência, revés, transtorno, vicissitude, (questão).
4 SENTIDO DE DESAVENÇA:
• debate, desacordo,  desarmonia,  desavença,desentendimento,
desinteligência,  discórdia,  altercação,  atrito,  briga,  choque,  cisão,
cizânia,  conflito,  contenda,  contestação,  controvérsia,  discussão,  disputa,
dissensão, dissentimento, dissidência, dissídio, impugnação, objeção, polêmica,
querela, questiúncula, rixa, zanga, (questão).
5 SENTIDO MATÉRIA DEBATIDA EM JUÍZO:
• demanda, ação, processo, pendência, litígio, pleito, (questão).
FONTE: Adaptado de Dicionário de sinônimos on-line. Sinônimo de questão. Disponível em:
<http://www.sinonimos.com.br/questao/>. Acesso em: 6 jan. 2015.

E
IMPORTANT

Analisando o quadro acima, podemos perceber que dos cinco sentidos, os três
primeiros podemos levar em consideração, para propiciar uma discussão maior sobre a
Questão Social no âmbito e perspectiva do Serviço Social.

Podemos constatar a amplitude e a complexidade do termo, isso que não é


um termo específico somente da nossa profissão, termo próprio e único do Serviço
Social, porém se tornou palavra-chave nos últimos tempos, até pela própria
especificidade literária que a profissão requer e deve ter.

O Serviço Social, enquanto categoria profissional, se apropria e adapta


termos que podem contribuir para uma análise, digamos, mais técnica e profissional,
visto que é necessária uma contínua revisão teórica e prática dentro do contexto
ético-político da profissão.

43
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), a


palavra questão é caracterizada como:

1. Ponto que deve ser discutido ou examinado.
2. Tema, assunto, tese.

Assim, trazendo essa perspectiva do sentido de pergunta (pesquisa,
investigação, questionamento), assunto (tema, objeto, tópico, contexto, matéria)
ou até mesmo problema (adversidade, obstáculo, incômodo, contratempo), como
também das características de ponto, tema, assunto e tese, que deve ser discutido,
analisado, examinado, percebemos que devemos, sim, aprimorar nossos termos
teóricos profissionais.

Vamos percebendo que tudo evolui e se desenvolve, assim como as


sociedades e os sistemas de produção, as instituições e as profissões, sendo um
processo natural e inevitável. Assim, tudo surge, desenvolve-se, se adapta, vai
se construindo e se refazendo, sempre na busca do melhor, do mais apropriado,
adequado, conveniente e necessário.

De qualquer modo, é de referir que a palavra questão, para além
de significar «pergunta, interrogação», tem outros sentidos, sendo
usada para designar, também, algo que suscite discussão, dúvidas
ou controvérsias: «assunto submetido à apreciação e decisão do
tribunal»; «tema, assunto, teste sobre qualquer matéria científica»;
«ponto de discussão»; «disputa, pendência, controvérsia»; «dissidência,
perturbação de relações sociais ou familiares»; «ponto essencial
num empreendimento ou assunto»; «assunto ou tema que é objecto
de reflexão, de estudo ou debate»; «ponto que oferece dúvida, que
suscita ou se presta a discussão; aquilo que necessita ser esclarecido =
problema» (MARTA, 2011).

Nessa perspectiva, pode-se analisar que a palavra questão realmente tem
significado amplo, significa muito mais que uma breve pergunta ou interrogação,
agora imagine o termo questão social!

3 SIGNIFICADO DOS TERMOS: “SOCIAL” E “QUESTÃO


SOCIAL”
Em seu sentido mais amplo, o termo social congrega tudo o que diz respeito
à sociedade, tudo o que se relaciona com os sistemas sociais, suas características,
incluindo a política, a economia. No sentido mais restrito, o social condiz com as
condições de vida dos indivíduos, com seus modos de vida e de todas as relações
que estabelecem entre si, incluindo o desenvolvimento intelectual, moral, cultural
e material.

44
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

UNI

Refletindo sobre a constituição do termo “social”.

Do ponto de vista histórico, o pensar sobre o social está relacionado com


o desenvolvimento do capitalismo, especificamente em meados do século XIX na
França, assim especifica a assistente social e doutora em Sociologia Marilena Jamur
(1997, p. 19-20), descrevendo e interpretando o sociólogo francês Jacques Donzelot:

O social, segundo Donzelot (1992), foi uma “invenção” do século XIX.


Através de uma ampla e minuciosa análise, o autor faz a demonstração
de que a “invenção do social” se impõe como uma necessidade política,
no momento em que o ideal republicano – forjado no Século das Luzes –
se vê confrontado à primeira forma democrática colocada em prática na
França, após a Revolução de 1848. Naquela conjuntura, com a adoção do
sufrágio universal, quando são retomados os princípios democráticos
norteadores da “Revolução Gloriosa” de 1789, por um lado, reavivam-
se as certezas e as promessas contidas no ideal republicano de liberdade
e de igualdade; ao mesmo tempo, por outro lado, aparecem claramente
as contradições e o conflito de interesses que obstaculizam a realização
desse ideal. O autor defende o argumento de que a emergência do social
com um domínio específico de preocupações e de intervenção está
profundamente articulada ao surgimento da “questão social”.

Veremos mais à frente que as revoluções que se iniciaram na França


foram surgindo e se espalhando por toda a Europa, consequentemente devido à
transformação econômica e social da época, de uma sociedade feudal e agrária,
para uma sociedade capitalista, industrial e urbana, com uma população operária
sem direitos, grande parte sem postos de trabalho, outra grande parcela miserável.
Assim, no confronto entre o povo e seus representantes, os termos: social e questão
social se fazem aparecer e marcam a história.

Assim, desde os autores clássicos aos contemporâneos, o social tem sido


motivo central, intenção categórica e primeira, sempre na busca de alternativas
que possam pelo menos trazer esperanças no sentido de como vencer a pobreza,
a desigualdade, as injustiças, as necessidades humanas, o sofrimento no mundo.

Segundo descreve W. Wanderley (2013, p. 207) sobre estudos acerca do


social:

São conhecidas as extremas dificuldades e as divergentes interpretações


que ele suscita na literatura clássica, constando os distanciamentos
entre as concepções da economia e da política, da política e do social,
da igualdade e da liberdade, da liberdade e da necessidade, do
público e do privado, do trabalho e da realização, da utilidade e da
instrumentalidade, das massas e do povo, do indivíduo e da classe,
da reforma e da revolução, da propriedade privada e da propriedade
social. E que perduram na contemporaneidade sem uma decifração

45
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

que satisfaça. Como resolver a denominada questão social? E onde ele


se situa na presente conjuntura mundial? Como vencer a pobreza, a
desigualdade e as injustiças sociais?

UNI

E a especificação do termo “questão social?”

Assim como o social, a questão social também está vinculada à história do


desenvolvimento do capitalismo, ou mais especificamente, com as consequências
do novo sistema econômico que estava surgindo na Europa, um déficit social de
desencantamento, temor e pânico, pois o capitalismo para se instalar não foi de
modo pacífico, harmonioso ou glorioso, mas de forma coercitiva, manipulatória,
autoritária, exploratória e excludente.

Segundo Donzelot (1992, p. 33-34, apud JAMUR, 1997, p. 21),

A “questão social” – designação que aparecera por volta de 1830 – será


definida principalmente neste sentido: como reduzir a distância entre
o novo fundamento da ordem política e a realidade da ordem social,
a fim de assegurar a credibilidade da primeira e a estabilidade da
segunda, se não quiser “que o poder republicano seja de novo investido
de esperanças desmedidas e, depois, vítima do desencantamento
destruidor daqueles mesmos que a ele deveriam ser mais apegados”. A
“questão social” aparece como a “constatação de um déficit da realidade
social, com relação ao imaginário político da República. Um déficit
gerador de desencantamento e de temor: desencantamento daqueles
que esperavam dessa extensão da soberania política (a todo o povo)
uma modificação imediata de sua condição civil; temor, e mesmo
pânico, daqueles que receavam que esse poder através do povo servisse
para instaurar o poder do povo de Paris sobre o resto da Nação”.

Nesse sentido, vamos entendendo que a “questão social” surge por volta
de 1830, e emerge com questionamentos sobre como diminuir a relação entre o
público e o privado, entre a política e a realidade social, com o intuito de efetivar
a credibilidade e comprometimento político e a harmonia social. Assim é que
a questão social surge, numa esfera de desencantamento e decepção de uma
democracia disfarçada e numa esfera de medo do que estaria por vir.

Com o surgimento do capitalismo, a nova divisão do trabalho social trouxe


aos trabalhadores e suas famílias diversos prejuízos e riscos. Além de evidenciar
a desigualdade social e um contingente de miseráveis, os mesmos eram iludidos
por um imaginário político ideológico de modernidade, progresso e riqueza para
todos.

46
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

FIGURA 12 – PENSAR SOBRE A QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SOCIAL>. Acesso


em: 6 jan. 2015.

E
IMPORTANT

Os problemas sociais ou disfunções sociais foram politizados pela classe


trabalhadora, foram transformados em expressões sociais, em manifestações multifacetadas da
questão social. Assim, constatamos que a questão social e suas expressões eram designadas,
caracterizadas, conceituadas como: problemas ou disfunções sociais, pois não eram tratadas
sob o ponto de vista estrutural da sociedade capitalista.

Responder a esse questionamento – o que é uma questão social? – não é tão


simples assim, pois temos que olhar para a história, para o passado e, ao mesmo
tempo, vislumbrar a realidade atual, contemporânea. Assim, as respostas irão
variar conforme a teoria que a fundamenta, visto que existem várias correntes de
pensamento e teorização sobre a “questão social”, ou mais especificamente sobre
suas expressões na sociedade, seja no mundo ou no Brasil.

Segundo Ianni (1989, p. 145), “A questão social é um tema básico e


permanente na sociedade brasileira e influencia o pensamento e a prática de
muitos. Em diferentes lugares procura-se conhecer, equacionar, controlar, resolver
ou exorcizar suas condições e efeitos”.

Podemos enfatizar, sim, que a questão social representa uma perspectiva


de análise da sociedade, assim não há um consenso único de pensamento no
fundamento básico que constitui a questão social, e nem poderia ter, pois olhamos
de forma diferente para a mesma coisa, em tempos distintos, assim construímos
saberes que por vezes podem se identificar ou divergir, inevitavelmente.

A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade.


[...] Nós não vemos a questão social, vemos suas expressões: o
desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta de leitos em
hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que a questão social
só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam

47
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

as determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o


objetivo é acumular capital e não garantir condições de vida para toda a
população (MACHADO, 2014).

Assim vamos compreender então que a questão social representa uma


perspectiva de análise da sociedade, pois não vemos a questão social em si, mas
sim suas expressões, ou seja, percebemos as inúmeras e incômodas manifestações
e expressões sociais.

4 O CONCEITO DE “QUESTÃO SOCIAL” PARA O SERVIÇO


SOCIAL
Mesmo sabendo da amplitude, a questão, dita agora social, vem sendo
designada pela nossa profissão como Objeto do Serviço Social, como ponto essencial
de reflexão, estudo e debate, visto a necessidade de esclarecimentos e compreensão
para a própria intervenção social. Assim, a QUESTÃO SOCIAL passa a ser um
assunto submetido à apreciação dos assistentes sociais, foco de interesse e
intervenção profissional.

O Serviço Social enquanto profissão tem uma função fundamental, que é a


de atuar nas variações e mudanças da sociedade. Assim sendo, para ver a questão
social como objeto do Serviço Social é preciso estar nesse processo teórico e prático
de desenvolvimento e percepção das mudanças sociais e transformações históricas.

UNI

A questão social não pode ser objeto de uma só profissão, neste caso do serviço
social, do assistente social, pois percebemos que várias outras profissões estão diretamente
ligadas à questão social, especificamente em suas diversas e inúmeras expressões sociais.

Existem vários teóricos que abordam a “Questão Social”, porém aqui


vamos citar agora a assistente social e doutora em Ciências Sociais, Maria
Vilella Iamamoto, que neste tema também é referência no Brasil, visto que vem
contribuindo significativamente para a teoria e prática da nossa profissão:

Como já foi referido, o Serviço Social tem na questão social a base


de sua fundação como especialização do trabalho. Questão social
apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades sociais
da sociedade capitalista madura, [...]. Os assistentes sociais trabalham
com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais
como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área
habitacional, na saúde, na assistência social pública etc. (IAMAMOTO,
2014, p. 27-28).

48
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

Percebemos que na atualidade uma questão social é sobretudo uma


questão político-social, visto que não é algo isolado do sistema no qual vivemos.
Nesse sentido, podemos nos referir à reprodução das relações sociais na sociedade
capitalista, que pode ser compreendida em suas contradições de desigualdade
econômica, visto que o crescimento do capital corresponde à crescente pauperização
relativa da população, dependente do trabalho, do capital, do sistema.

Segundo Iamamoto, é nessa “lei geral da produção capitalista que se


encontra a gênese da “questão social” nessa sociedade”. (IAMAMOTO, 2014).
Assim, para a autora, a gênese da questão social está diretamente relacionada e
intrínseca ao capitalismo e suas relações de produção, dominação e exploração e
desigualdade social.

Na visão teórica de Iamamoto (2014), a Questão Social requer uma


compreensão não apenas como manifestação da desigualdade social no capitalismo,
mas como um elemento político e social mediador das ações das distintas realidades
sociais no desenvolvimento e desdobramento do modo de produção capitalista.

E
IMPORTANT

Sobre a QUESTÃO SOCIAL como objeto do Serviço Social, assunto submetido à


apreciação dos assistentes sociais, olhar e foco de interesse e intervenção profissional, vamos
aprofundar mais adiante!

E
IMPORTANT

Procure aprofundar o tema da questão social, bem como melhorar o seu


vocabulário, lendo e relendo o Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social: 81
problemáticas, lançado em 2013.

DICIONÁRIO TEMÁTICO DESENVOLVIMENTO


E QUESTÃO SOCIAL: 81 problemáticas. Anete B. L. Ivo
(Coord.). São Paulo: Annablume; Brasília: CNPq; Salvador:
Fapesb, 2013. 559 p.

49
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

QUESTÃO SOCIAL: OBJETO DO SERVIÇO SOCIAL?

Maria Machado

O QUE É QUESTÃO SOCIAL?

A concepção de questão social está enraizada na contradição capital x


trabalho. Em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida
no âmbito do modo capitalista de produção.

A concepção de questão social mais difundida no Serviço Social é a de


Carvalho e Iamamoto (1983, p. 77):
“A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento
da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu
reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no
cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a
exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”.

Não contraditória a esta concepção, temos a de Teles (1996, p. 85):

“... a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco a disjunção,
sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética
dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete
igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de
poder e dominação”.

Portanto, a questão social é uma categoria que expressa a contradição


fundamental do modo capitalista de produção. Contradição, esta, fundada na
produção e apropriação da riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem
a riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o trabalhador não usufrui
das riquezas por ele produzidas.

A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. Isto


porque não há consenso de pensamento no fundamento básico que constitui a
questão social. Em outros termos, nem todos analisam que existe uma contradição
entre capital e trabalho. Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria
questão social, estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que
se encontra a maioria da população – aquela que só tem na venda de sua força
de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. É ressaltar as diferenças
entre trabalhadores e capitalistas, no acesso a direitos, nas condições de vida;
é analisar as desigualdades e buscar forma de superá-las. É entender as causas
das desigualdades, e o que essas desigualdades produzem, na sociedade e na
subjetividade dos homens.

50
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

E as consequências da apropriação desigual do produto social são as mais


diversas: analfabetismo, violência, desemprego, favelização, fome, analfabetismo
político, etc.; criando “profissões” que são frutos da miséria produzida pelo capital:
catadores de papel; limpadores de vidro em semáforos; “avião” – vendedores de
drogas; minhoqueiros – vendedores de minhocas para pescadores; jovens faroleiros
– entregam propagandas nos semáforos; crianças provedoras da casa – cuidando
de carros ou pedindo esmolas, as crianças mantêm uma irrisória renda familiar;
pessoas que “alugam” bebês para pedir esmolas; sacoleiros – vivem da venda de
mercadorias contrabandeadas; vendedores ambulantes de frutas etc. Além de
criar uma imensa massa populacional que frequenta igrejas, as mais diversas, na
tentativa de sair da miserabilidade em que se encontram.

Como toda categoria arrancada do real, nós não vemos a questão social,
vemos suas expressões: o desemprego, o analfabetismo, a fome, a favela, a falta
de leitos em hospitais, a violência, a inadimplência, etc. Assim é que a questão
social só se nos apresenta nas suas objetivações, em concretos que sintetizam as
determinações prioritárias do capital sobre o trabalho, onde o objetivo é acumular
capital e não garantir condições de vida para toda a população.

Neste terreno contraditório entre a lógica do capital e a lógica do trabalho,


a questão social representa não só as desigualdades, mas, também, o processo de
resistência e luta dos trabalhadores. Por isto ela é uma categoria que reflete a luta
dos trabalhadores, da população excluída e subalternizada, na luta pelos seus
direitos econômicos, sociais, políticos, culturais. E é aí, também, que residem as
transformações históricas da concepção de questão social.

O avanço das organizações dos trabalhadores e das populações


subalternizadas coloca em novos patamares a concepção de questão social. Se, no
período ditatorial brasileiro pós-64 a luta prioritária era romper com a dominação
política, hoje a luta é pela consolidação da democracia e pelos direitos de cidadania.
As transformações no mundo do trabalho, seja com a substituição do homem pela
máquina, seja pela erosão dos direitos trabalhistas e previdenciários, exigem,
também, que se reatualize a concepção de questão social.

Importa ressaltar que a questão social é uma categoria explicativa da


totalidade social, da forma como os homens vivenciam a contradição capital–
trabalho. Ela desvenda as desigualdades sociais, políticas, econômicas, culturais,
bem como coloca a luta pelos direitos da maioria da população, ou como os homens
resistem à subalternização, à exclusão e à dominação política e econômica.

Considerando a concepção de questão social aqui, minimamente debatida,


resta-nos perguntar se é possível que ela se constitua em objeto do Serviço Social.

Questão Social: Objeto do Serviço Social?


Iamamoto (1997, p. 14) define o objeto do Serviço Social nos seguintes
termos:

51
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas
expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família,
na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo
desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e
a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da
rebeldia e da resistência que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido
por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem
a vida em sociedade. [...] a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho
cotidiano do assistente social”.

É indiscutível a inserção da intervenção do Serviço Social no âmbito


das desigualdades sociais, ou, mais amplamente, da questão social. Entretanto,
considerando a concepção de questão social, é de se perguntar se a mesma, ou
suas expressões, podem se constituir em objeto de uma única profissão. Estamos
partindo da concepção de que o objeto é o que demonstra, coloca, a especificidade
profissional. Ora, entender a questão social como objeto específico do Serviço Social,
das duas uma: ou se destitui a questão social de toda a abrangência conceitual, ou
se retoma uma visão do Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/
transformações da sociedade.

Se pensarmos na abrangência da concepção de questão social, concluiremos


que as mais diversas profissões têm suas atuações determinadas por ela: o médico
que atende problemas de saúde causados por fome, insegurança, acidentes de
trabalho, etc.; o engenheiro que projeta habitações a baixo custo; o advogado
que atende as pessoas sem recursos para defender seus direitos; enfim, os mais
diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da questão social.

Há, ainda, uma outra reflexão possível: em sendo a questão social uma
categoria que explicita, expressa, as desigualdades geradas pelo modo de
produção capitalista, ela se colocaria, também, como objeto de todos aqueles
que apostam no capitalismo como a forma perfeita de produção da vida social.
Assim, ela, também, se expressaria nas políticas econômicas, sociais, culturais,
traçadas em âmbito governamental, para manter as classes que vivem do trabalho
subordinadas e dominadas. Ou seja, se a manifestação da desigualdade, a luta
pelos direitos sociais e de cidadania são uma expressão da questão social, não
interessa às classes detentoras dos poderes políticos e econômicos que haja um
acirramento da contradição, viabilizando, desta forma, espaços de organização da
população. Neste sentido, a contradição capital–trabalho também é um objeto dos
que buscam, na manutenção do capitalismo, a garantia de privilégios econômicos
e políticos.

Segundo Faleiros (1997, p. 37):


“... a expressão questão social é tomada de forma muito genérica, embora seja usada
para definir uma particularidade profissional. Se for entendida como sendo as contradições
do processo de acumulação capitalista, seria, por sua vez, contraditório colocá-la como
objeto particular de uma profissão determinada, já que se refere a relações impossíveis de

52
TÓPICO 3 | A CONSTITUIÇÃO DOS TERMOS “SOCIAL” E “QUESTÃO SOCIAL”

serem tratadas profissionalmente, através de estratégias institucionais/relacionais próprias


do próprio desenvolvimento das práticas do Serviço Social. Se forem as manifestações
dessas contradições o objeto profissional, é preciso também qualificá-las para não colocar
em pauta toda a heterogeneidade de situações que, segundo Netto, caracteriza, justamente,
o Serviço Social”.

Portanto, definir como objeto profissional a questão social não estabelece


a especificidade profissional. Podemos entender, na sugestão de Faleiros, que
qualificar a questão social significa apreender o que compete ao Serviço Social
no âmbito da questão social. Se falarmos, por exemplo, nas expressões sociais
da questão social, estaremos, minimamente, definindo um espaço de atuação
profissional.

Há que se ressaltar que, para Faleiros, entretanto, o objeto do Serviço Social


se define pelo empowerment:
“A questão do objeto profissional deve ser inserida num quadro teórico-prático, não
pode ser entendida de forma isolada. Penso que no contexto do paradigma da correlação de
forças o objeto profissional do serviço social se define como empoderamento, fortalecimento,
empowerment do sujeito, individual ou coletivo, na sua relação de cidadania (civil, política,
social, incluindo políticas sociais), de identificação (contra as opressões e discriminações)
e de autonomia (sobrevivência, vida social, condições de trabalho e vida ...)”. Fonte:
correspondência pessoal, 15/10/1999).

Não estamos defendendo, aqui, a opção por um ou outro objeto. O


fundamental é repensarmos como o objeto de Serviço Social tem sido colocado, e
como poderemos revê-lo para darmos objetividade à atuação profissional.

Entendemos que, a cada situação, temos que reconstruir o objeto profissional.


Entretanto, ele tem determinações mais amplas, e essa reconstrução tem por
finalidade, apenas, garantir, no processo de intervenção, as particularidades de
cada situação, inserida no contexto específico de onde atuamos.

FONTE: MACHADO, Ednéia Maria. Questão social: objeto do serviço social? Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v2n1_quest.htm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

53
RESUMO DO TÓPICO 3
No Tópico 3 estudamos a amplitude e significado dos termos: questão,
social e a questão social, demonstrando sua origem, na qual foram abordados
vários aspectos:

• Verificamos a amplitude do conceito tanto da palavra questão, do termo social e


da questão social, visto que não é algo tão simples assim, como em muitos casos
é considerado.

• Percebemos também a importância que o Serviço Social tem enquanto uma


profissão que procura responder às necessidades humanas na garantia dos
direitos sociais, e enquanto profissão tem uma função fundamental, que é a de
atuar nas variações e mudanças da sociedade. Assim, para ver a questão social
como objeto do Serviço Social, é preciso estar nesse processo teórico e prático de
desenvolvimento e percepção das mudanças sociais e transformações históricas.

• Constatamos que na visão teórica de Iamamoto (2014), a Questão Social requer


uma compreensão não apenas como manifestação da desigualdade social no
capitalismo, mas como um elemento político e social mediador das ações das
distintas realidades sociais no desenvolvimento e desdobramento do modo de
produção capitalista.

• Compreendemos que a Questão Social em si não é algo negativo, mas


representa e requer uma perspectiva de análise, discussão e interpretação da
sociedade, como, por exemplo, o trabalho, a habitação, a educação, entre outras
diversas questões sociais que foram descritas; o que perturba são as diversas
manifestações negativas destas nas sociedades.

54
AUTOATIVIDADE

1 De acordo com o estudo realizado, como surgiu a preocupação com o social?

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____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

2 Descreva a amplitude do conceito da questão social.

____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

55
56
UNIDADE 1
TÓPICO 4

A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E


SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

1 INTRODUÇÃO
Nesse tópico estudaremos a diversidade da questão social e iremos analisar
que existem várias, com suas diversas e multifacetadas expressões, nas diversas
sociedades.

Analisaremos a descrição de algumas novas expressões sociais e de várias


questões sociais que se apresentam na sociedade, assim ampliaremos a nossa visão
sobre a abrangência da questão social e suas expressões, que variam de acordo
com cada conjuntura e contexto social.

Refletiremos também sobre o termo “nova questão social”, que vem sendo
utilizado por alguns autores.

2 ALGUMAS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES


SOCIAIS
Muitas vezes, a questão social é considerada de forma errônea como
disfunções e problemáticas sociais, situações sociais problemas, tais como: a
pobreza, desemprego, violência, mendicância, favelas, doenças, exploração
infantojuvenil, discriminação, pedofilia, analfabetismo, dependência química,
entre outras inúmeras situações, porém temos que ter noção de que todas essas
situações são expressões, são manifestações da Questão Social, pois em si, a
Questão Social é tema, objeto, tópico de estudo, análise e discussão, que pode ser
um ou vários.

57
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Existe uma única questão social ou várias questões sociais?

Por exemplo, quando questionamos uma das inúmeras questões sociais


é porque algo nos impulsiona para isto, visto que estamos presenciando ou
percebendo uma, duas ou mais de suas expressões ou manifestações na sociedade.

A Questão Social em si não é algo negativo, como, por exemplo, o trabalho,


a habitação, a educação, entre outras diversas questões sociais. O que perturba
são as manifestações negativas destas, tais como: o desemprego ou o emprego
informal, fragmentado, a falta de moradias, as favelas, a evasão escolar, a violência,
entre outras inúmeras expressões sociais que poderíamos descrever.

Agora, falando sobre as expressões da questão social, o Serviço Social


tem na questão social a base de sua fundamentação enquanto especialização do
trabalho. Nessa perspectiva, a atuação profissional deve estar pautada em uma
proposta que vise ao enfrentamento das expressões da questão social.

UNI

Como as expressões são manifestadas ou, até mesmo, que expressões são estas
sob o ponto de vista e olhar do Serviço Social?

Perceba nos quadros a seguir a descrição de algumas das inúmeras e


multifacetadas expressões sociais e, de várias questões sociais, algumas expressões
específicas de acordo com cada Questão Social apresentada.

58
TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

QUADRO 2 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA ECONÔMICO

QUESTÕES SOCIAIS
DO PONTO DE VISTA EXPRESSÕES SOCIAIS
ECONÔMICO
A QUESTÃO CAPITALISMO
DIGITAL
Aumento das desigualdades sociais, competitividade
A QUESTÃO DA acirrada, marginalização social, falta de acesso a novas
SOCIEDADE tecnologias, exclusão digital, mal-estar social e bem-
TECNOLÓGICA estar econômico, novas expressões sociais, expansão
de situações de risco social, aumento de situações de
A QUESTÃO vulnerabilidade social, exploração de países periféricos e
GLOBALIZAÇÃO de mão de obra, marginalização da ética, detrimento de
valores humanos e sociais, individualismo, intolerância,
A QUESTÃO DO insegurança social.
DESENVOLVIMENTO
SOCIAL
A QUESTÃO
DESENVOLVIMENTO
E CRESCIMENTO Aumento da exploração, injustiça social, concentração de
ECONÔMICO
renda, desigualdades sociais, surgimento e aumento da
pobreza, consumismo alienado, inconsciente e supérfluo,
A QUESTÃO ECONÔMICA
prostituição/turismo sexual/o tráfico de mulheres.
A QUESTÃO JUSTIÇA
SOCIAL
FONTE: A autora (2015)

Sob o ponto de vista econômico têm se manifestado na sociedade inúmeras


expressões sociais, algumas novas, outras antigas, porém permanentes. Muitas
aumentaram significativamente na realidade brasileira e no mundo.

QUADRO 3 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA POLÍTICO

QUESTÕES SOCIAIS DO
EXPRESSÕES SOCIAIS
PONTO DE VISTA POLÍTICO

A QUESTÃO ESTADO Corrupção, irresponsabilidade, clientelismo,


paternalismo, alienação, banalização da política,
A QUESTÃO POLÍTICA privatizações, falta de participação social, descaso com
o bem coletivo/público, enfraquecimento ou até erosão
A QUESTÃO POLÍTICA
do estado-nação, minimização dos direitos sociais,
SOCIAL
passividade e conformismo coletivo, políticas sociais
A QUESTÃO ineficientes, descentralizações fragilizadas e inoperantes,
PARTICIPAÇÃO SOCIAL falta de controle e participação.
FONTE: A autora (2015)

59
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

Sob o ponto de vista político, adentramos em um tema que vem sendo


discutido já nas civilizações antigas, gregas, entre outras: a política e a organização e
funcionamento do Estado é um entrave social, incapaz de promover o bem comum
em sua plenitude. Visivelmente, no Brasil, os esquemas de lavagem de dinheiro e
corrupção em todas as escalas do poder público têm demonstrado o quanto o ser
humano prioriza os interesses individuais em detrimento dos coletivos.

QUADRO 4 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA TRABALHO E RENDA

QUESTÕES SOCIAIS
DO PONTO DE VISTA EXPRESSÕES SOCIAIS
TRABALHO
A QUESTÃO TRABALHO

A QUESTÃO SOCIEDADE
Exploração, supranumerários (desempregados),
SALARIAL
precarização do trabalho, baixo salário, diminuição de
postos de trabalho, desvalorização salarial, trabalho
A QUESTÃO CONDIÇÃO informal, trabalho escravo, trabalho infantil, imigrações,
crescimento excessivo de imigrações e migrações,
HUMANA
exploração dos profissionais do sexo.

A QUESTÃO SEGURIDADE
SOCIAL
FONTE: A autora (2015)

O trabalho, a renda, o salário são questões que têm se destacado na agenda


de discussão da população, onde é vivenciado por todos o caráter polissêmico
e multifacetado do trabalho, onde a desvalorização profissional e os chamados
“inúteis” estão se tornando comuns.

QUADRO 5 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA AMBIENTAL

QUESTÕES SOCIAIS
DO PONTO DE VISTA EXPRESSÕES SOCIAIS
AMBIENTAL
Mudanças climáticas, aquecimento global, mercantilismo
A QUESTÃO DO florestal, degradação ambiental, destruição dos recursos
DESENVOLVIMENTO naturais, escassez e poluição das águas, desperdício
SUSTENTÁVEL de alimentos, alimentos geneticamente modificados,
poluição de modo geral, desmatamento, produção
demasiada de materiais não recicláveis, resíduos
A QUESTÃO AMBIENTAL nucleares, má qualidade de vida, falta de educação
ambiental,

60
TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

emigração/imigiração/migração, êxodo rural/êxodo


urbano, falta de estrutura nos grandes centros (mobilidade
A QUESTÃO urbana), falta de planejamento urbano, falta de alimentos,
SUPERPOPULAÇÃO agua potável, poluição ambiental, produção excessiva de
lixo, aglomerações habitacionais, aumento de favelas e
condições sub-humanas de moradias,
A QUESTÃO TERRITÓRIO/
favelas, cortiços, moradores de rua, grandes latifundiários,
HABITAÇÃO
má distribuição da terra, falta de moradias dignas, falta
de saneamento básico, falta de planejamento urbano,
movimentos sociais (sem-terra, sem teto, barragens...),
A QUESTÃO REFORMA
segregação urbana.
AGRÁRIA
FONTE: A autora (2015)

A questão ambiental e todas as sequelas do não desenvolvimento


sustentável estão mostrando quanto é necessária uma transformação social, de
valores, de visão de mundo, de consumo, de tudo.

QUADRO 6 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA DO DIREITO, DA JUSTIÇA, DA


LIBERDADE E PROTEÇÃO SOCIAL

EXPRESSÕES SOCIAIS
QUESTÕES SOCIAIS
A QUESTÃO SEGURIDADE
SOCIAL
Fome, desnutrição, mortalidade infantil, má alimentação,
doenças diversas, drogadição, alcoolismo, tabagismo,
A QUESTÃO SAÚDE
depressão, anorexia, doença ocupacional, diversas
psicopatologias (transtornos mentais), falta de leitos/
A QUESTÃO PREVIDÊNCIA
medicamentos em hospitais, qualidade e eficiência do
SOCIAL
SUS, falta de medicina preventiva, desvalorização dos
profissionais da saúde, falta de estrutura hospitalar,
A QUESTÃO ASSISTÊNCIA
prostituição infantojuvenil, falta de direitos sociais a
SOCIAL
imigrantes (haitianos), estrangeiros, falta de planejamento
e organização nas regiões fronteiriças.
A QUESTÃO DOS DIREITOS
SOCIAIS A IMIGRANTES
Analfabetismo, baixa escolarização, evasão/exclusão
A QUESTÃO EDUCAÇÃO
escolar, falta de qualidade e investimentos, desvalorização
dos profissionais, bullying, tráfico de drogas nas escolas,
A QUESTÃO DA INCLUSÃO
desvalorização e destruição das culturas e tradições locais/
SOCIAL
regionais.

61
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

A QUESTÃO SEGURANÇA Violência urbana/doméstica, depredações do patrimônio


público, delinquência juvenil, criminalidade, arrastões,
A QUESTÃO PROTEÇÃO homicídios, terrorismo, tráfico de pessoas, falta de
SOCIAL policiamento, hackers, formação de novas formas de
violência e crime, novas gangues de criminosos e
A QUESTÃO LIBERDADE traficantes, pedofilia, estupro, aversão homofóbica, Poder
HUMANA Judiciário lento/moroso/inoperante, leis ineficazes,.
A QUESTÃO DE GÊNERO
Violência do homem contra a mulher, diferença salarial,
matriarcalidade, abandono de idosos, de mulheres, de
A QUESTÃO ORIENTAÇÃO/
crianças, homofobia, discriminação e preconceito frente
OPÇÃO SEXUAL
a opção sexual, desrespeito ao livre-arbítrio sexual,

A QUESTÃO ÉTNICA E
RACIAL
Cultura coercitiva/mutilação genital feminina, xenofobia
A QUESTÃO
(aversão/ódio a estrangeiros), o racismo ou o preconceito
NACIONALIDADE
racial levam à discriminação e à intolerância racial,
assim a discriminação racial é toda ou qualquer
A QUESTÃO RELIGIÃO
quebra do princípio da igualdade: como distinção,
exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça,
A QUESTÃO CLASSE
cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso, condição
SOCIAL
social de classe, condição física e mental, procedência
nacional ou convicções políticas contra negros, pardos,
A QUESTÃO CONDIÇÃO
brancos; índios, ciganos, judeus, americanos, árabes,
FÍSICA E DE IDADE
alemães, haitianos; refugiados; católicos, evangélicos,
muçulmanos, espíritas; nordestinos, cearenses, gaúchos;
A QUESTÃO DA
a idosos; a pessoas com deficiência; a pessoa/família em
MAIORIDADE PENAL
condição de pobreza; a profissionais do sexo; ativistas
(CRIMINAL)
ou partidários; aumento do uso de usuários de drogas,
especificamente de usuários de crack...
A QUESTÃO INTERNAÇÃO
COMPULSÓRIA DE
USUÁRIOS DE DROGAS
FONTE: A autora (2015)

Contextos discriminatórios referentes à composição étnica e racial e a


opção sexual (manifestações homofóbicas) têm se tornado evidentes na sociedade,
a multiplicidade de transtornos psíquicos sociais tem aumentado drasticamente,
bem como as condições de desigualdade, pobreza absoluta e situações de pobreza
relativa, aumento de desaparecimento e tráfico de pessoas, tráfico de drogas e
prostituição, como também a abrangência da violência no mundo e na sociedade
brasileira – são fatos que parecem não ter fim.

62
TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

QUADRO 7 – QUESTÕES SOCIAIS SOB O PONTO DE VISTA FAMILIAR

QUESTÕES SOCIAIS
EXPRESSÕES SOCIAIS
DO PONTO DE VISTA
FAMILIAR
Discórdias familiares, divórcio, negligência, violência
doméstica, abandono infantojuvenil, valores distorcidos,
A QUESTÃO DA FAMÍLIA relações frias/hostis/instáveis/frágeis, passageiras,
NUCLEAR, CONJUGAL OU descaso com o outro, deveres familiares inoperantes,
ELEMENTAR (BIOLÓGICA) fragilização dos vínculos, conflitos/irresponsabilidade na
guarda compartilhada dos filhos, prostituição e trabalho
infantojuvenil, prática do aborto,
D esrespeito, preconceito e discriminação à família
homoafetiva/homoparental (casais do mesmo sexo),
desrespeito, preconceito e discriminação de adoção
por homoafetivos, aumento das famílias recompostas/
A QUESTÃO DAS NOVAS ampliadas/famílias reconstituídas (os meus, os teus e
CONFIGURAÇÕES os nossos), família unipessoal, famílias mononucleares
FAMILIARES ou monoparentais (responsabilidade de um só dos
progenitores), família composta (sociedades poligâmicas)
famílias binucleares – guarda compartilhada (alienação
parental), família extensa – incluindo três ou quatro
gerações, grupos domésticos diversificados...
FONTE: A autora (2015)

As metamorfoses das configurações familiares também configuram o


cenário mundial, contextos estes diversificados e complexos, que precisam ser
analisados, estudados, compreendidos, respeitados. Muitas leis estão sendo
revistas e criadas para tentar abarcar esse leque de metamorfoses sociais de novas
configurações e expressões sociais.

UNI

Podemos entender o significado de expressões ou manifestações multifacetadas


da questão social como aquelas que se apresentam na sociedade com várias facetas, muitas
faces, múltiplas aparências, características ou atributos.

Analisando o quadro e as inúmeras expressões sociais das diversas


questões sociais, quais expressões condizem com a realidade social da sua cidade?
Ou melhor, você poderia especificar mais uma expressão social não descrita
anteriormente?

63
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Procure pesquisar e discutir em grupo sobre as expressões sociais, procurando


entendê-las melhor!

3 REFLEXÕES SOBRE O TERMO “A NOVA QUESTÃO SOCIAL”


Alguns autores passaram a discutir e enfatizar o termo nova questão social,
sustentam o surgimento do conceito "nova questão social", assim, referente a este
tema, será que realmente floresceu ou não uma "nova questão social"? Ou será que
o que emergiu foram novas e diversas expressões sociais? Diferentes e complexas
manifestações? Novos dilemas e entraves sociais?

UNI

O que dizer sobre o termo que vem sendo utilizado = a nova questão social?

O termo nova questão social é aprofundado por Castel, em seu livro “A


Insegurança Social: o que é ser protegido”, de 2005, o qual enfatiza, em termos gerais,
que existem múltiplas manifestações da questão social, envolvendo segmentos
para além de trabalhadores e desprotegidos, existem mais categorias sociais
vulneráveis e à margem da ordem dominante. Assim, não podemos olhar para a
sociedade sob a ótica da velha ordem social onde existiam duas classes antagônicas,
como afirmava Marx: a burguesia e o proletariado. Na sociedade contemporânea
existem novas configurações sociais que exigem novas interpretações e análises
(BANDEIRA, 2013).

Iamamoto (2014, p. 174) descreve a questão social enfatizando a abordagem


do sociólogo francês Castel sobre a sociedade salarial onde o trabalho é parcialmente
desmercadorizado. Assim, “A desagregação desse sistema questiona a função
integradora do trabalho, sendo a nova questão social fruto do enfraquecimento
da sociedade salarial”. Com a precarização do trabalho a sociedade se torna
conflituosa, desagregadora, não promovendo proteção e segurança social.

64
TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

E
IMPORTANT

Alguns autores irão enfatizar que não podemos adotar antigas interpretações e
métodos para novos problemas contemporâneos, visto que o desenvolvimento do capitalismo
globalizado fez emergir novas formas de vida, novos tipos de relações sociais, econômicas,
políticas, culturais, entre outros.

Porém, temos que refletir e ter em mente que a Questão Social é um


termo novo, que exigiu novos pensares por causa das inúmeras expressões que
eclodiram com o surgimento e avanço do capitalismo. Porém, do ponto de vista
histórico, as preocupações com a vida social são um assunto antigo, pois desde
a Antiguidade o ser humano procurou pensar sobre como viver e sobreviver em
grupo, em sociedade.

O termo especificamente Questão Social é um termo novo, porém antes


do capitalismo já se pensava e se discutia sobre temas, assuntos, matérias, itens,
pontos, tópicos sociais que careciam de atenção e intervenção dos grupos, dos
povos, das civilizações, das sociedades, mas eram abordados com outros nomes
e características, pois também existiam outras formas de dominação, exploração e
desigualdade social.

Em cada momento histórico, as questões sociais vão ganhando novas


formas. Formas estas que chamamos de expressões da questão social, ou
seja, a questão social sempre foi a mesma desde os tempos mais remotos
da humanidade e independe de classe social. O que vem mudando são
suas formas de apresentação, pois, de acordo com as transformações
do modo de produção, vão surgindo contradições sociais, que se
transformam nas diversas formas de expressão da questão social.
(PIERITZ, 2013, p. 105).

Constata-se que o objeto do Serviço Social, especificamente no Brasil, tem


sido delimitado, historicamente, em razão das próprias conjunturas políticas e
socioeconômicas do país, não sendo diferente nas sociedades pré-capitalistas.

Assim, na profissão do Serviço Social, as perspectivas teóricas e ideológicas


sempre foram orientadoras da intervenção profissional, conforme cada momento
histórico da sociedade, sendo um processo contínuo, consequentemente.

Então, se a profissão surgiu com o capitalismo, é a partir do desenvolvimento


e consolidação dele que o Serviço Social também se desenvolveu e se consolidou,
construindo e desenvolvendo seu próprio universo profissional e conteúdo teórico
na Europa, nas Américas e na realidade brasileira.

O cenário histórico-conjuntural atual da sociedade brasileira e suas


incidências sob as diversas expressões da questão social demanda que

65
UNIDADE 1 | A GÊNESE DA ASSISTÊNCIA E DA QUESTÃO SOCIAL

os profissionais estejam focados e atualizados no seu fazer profissional.


Por conseguinte, o acompanhamento do desenvolvimento da sociedade
brasileira, principalmente no que tange à realidade social e cotidiana,
da práxis profissional do assistente social, demonstra-nos que os
profissionais de Serviço Social necessitam estar constantemente atentos
e vigilantes a toda e qualquer transformação da realidade social.
(PIERITZ, 2013, p. 3).

Temos o dever de estarmos atentos às transformações sociais, tanto


da realidade brasileira quanto do mundo. Enquanto profissionais éticos e
comprometidos com o bem comum, também temos a responsabilidade de
atualização, capacitação, visão de mundo, criticidade no fazer e refazer profissional.

Assim, entendo que os assistentes sociais trabalham com as expressões


da questão social em seu cotidiano, trabalham também diretamente com
os sujeitos que vivenciam as expressões da questão social, que requer
um profissional criativo, competente, e que desvele as expressões da
questão social, como também desvele quais as alternativas, opções e
caminhos para revertê-la. (PIERITZ, 2013, p. 118).

Vamos perceber que o acirramento das expressões sociais exige do


profissional qualificação, preparo, competência, pois para o enfrentamento de
problemas complexos necessariamente precisamos efetivar programas, projetos,
ações audaciosas que deem conta da demanda a ser enfrentada.

E
IMPORTANT

A aproximação dos assistentes sociais com os usuários é uma das condições


que permite impulsionar ações inovadoras no sentido de reconhecer e atender às reais
necessidades dos segmentos subalternos, a partir de uma análise crítica, macro e conjuntural
da questão social.

O assistente social pode e deve dispor de um discurso de compromisso


ético-político com a população, bem como de uma prática crítica no sentido da
garantia e efetivação dos direitos sociais, à emancipação humana e autonomia dos
usuários, pois se não tiver uma análise e postura das condições concretas, pode
reeditar programas e projetos alheios às necessidades da coletividade, de forma
paternalista e clientelista, visto que a assistência social como política pública não
perpassa essa via.

Historicamente, o enfrentamento da questão social, pelo Estado e


também pelas organizações da sociedade civil, na área de assistência
social, se deu de forma paternalista e clientelista, como ajuda, favor e
caridade. Sendo este fator que influencia a prática do profissional de
Serviço Social até a atualidade (PIERITZ, 2013, p. 104-105).

66
TÓPICO 4 | A ABRANGÊNCIA DA QUESTÃO SOCIAL E SUAS INÚMERAS EXPRESSÕES

O profissional precisa romper com a prática rotineira, acrítica e burocrática,


procurando buscar a investigação da realidade a que estão submetidos os usuários
dos serviços, tendo em vista as condições de vida dos mesmos e os referenciais
teóricos e políticos hegemônicos na profissão, previstos na sua legislação (CFESS,
2010).

Desafio? Digamos que, em parte sim, e em parte, compromisso profissional!

DICAS

Como forma de ampliar a discussão e os conhecimentos sobre a questão social


e suas expressões, assista ao filme O Caminho das Nuvens, baseado na história real de Cícero
Ferreira Dias, que saiu do sertão da Paraíba e, depois de cinco meses e dois dias, chegou ao
Rio de Janeiro. Descreve os dramas e enfrentamentos da família que decide buscar uma vida
melhor.

Ficha técnica:
Título Original: O Caminho das Nuvens
Gênero: Drama
Direção: Vicente Amorim
Roteiro: David França Mendes
Duração: 85 min.
Ano: 2003

67
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste quarto tópico estudamos a abrangência da questão social e de suas
expressões, no qual foram abordados:

• Que a questão social não é única, porém existem várias, com suas diversas e
multifacetadas expressões.

• Analisamos a descrição de algumas expressões sociais e de várias questões


sociais que se apresentam na sociedade.

• Pudemos ampliar a nossa visão sobre a abrangência da questão social e suas


expressões, que variam de acordo com cada conjuntura e contexto social.

• Refletimos sobre o termo “nova questão social”, que vem sendo utilizado por
alguns autores.

68
AUTOATIVIDADE

1 Quais são as manifestações sociais – as expressões sociais – que podem ser


percebidas, analisadas e descritas que se apresentam com maior evidência na
sua localidade, região ou cidade?

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2 Por que se instituiu a chamada nova questão social?

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_____________________________________________________________________

69
70
UNIDADE 2

O NEODESENVOLVIMENTO NO
CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender e analisar o surgimento do capitalismo e sua evolução na


contemporaneidade, a mundialização da economia e o agravamento e acir-
ramento das múltiplas expressões da questão social com o surgimento de
novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos excluídos
sociais, não se configurando apenas em trabalhadores ou desempregados,
mas essencialmente uma marginalização e exclusão de pessoas, categorias
e grupos diversos;

• verificar e analisar a estratégia neodesenvolvimentista frente à questão


social, a estratégia atual da política nacional, a nova institucionalidade
brasileira frente às expressões sociais e a tipificação nacional de serviços
socioassistenciais;

• analisar e discutir as situações de vulnerabilidade social e de risco social,


especificando as diferenças entre ambas.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles,
você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as ativi-
dades propostas.

TÓPICO 1 – O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO,


LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

TÓPICO 2 – A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS


EXPRESSÕES SOCIAIS

TÓPICO 3 – A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRA


SILEIRAS

TÓPICO 4 – A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS


SOCIOASSISTENCIAIS

71
72
UNIDADE 2
TÓPICO 1

O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO,


LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico estudaremos aspectos importantíssimos sobre
o acirramento das expressões da questão social, os fatos contemporâneos que
merecem ser discutidos sobre o desenvolvimento e crescimento desenfreado do
capitalismo na contemporaneidade.

Vamos verificar que além da pobreza, da exclusão e da desigualdade social


já existente, existem novas configurações sociais, novas formas de exclusão e novos
excluídos sociais, novas expressões sociais contemporâneas.

Entenderemos que na sociedade global, o mercado é o fator principal,


porém o Estado não é mais caracterizado como mínimo, mas desenvolve um papel
estratégico da implementação de uma série de políticas sociais. Assim vamos
compreender o novo termo neodesenvolvimentista.

2 A MUNDIALIZAÇÃO DA ECONOMIA E O ACIRRAMENTO


DAS EXPRESSÕES SOCIAIS
A mundialização da economia, o processo de globalização para manutenção
e desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão social
são fatos evidentes e inevitáveis nas sociedades contemporâneas.

Percebemos que adentramos no século XXI por uma via rápida de mão
única, marcada pelo crescimento da economia, pelo mercado de consumo, pelo
aumento progressivo das expressões da questão social, inerentes e indissociáveis
do sistema capitalista atual, onde o que prevalece é um projeto de inovação
e competitividade internacional, que silenciosamente está gerando uma crise
sistêmica que se acentua gradativamente.

Castel (apud TELLES, 1996, p. 85,) enfatiza que:

[...] a questão social é a aporia das sociedades modernas que põe em foco
a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica
societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia
da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade

73
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de


poder e dominação. Aporia que, nos tempos que correm, diz respeito
também à disjunção entre as esperanças de um mundo que valha a
pena ser vivido inscritas nas reivindicações por direitos e o bloqueio de
perspectivas de futuro para maiorias atingidas por uma modernização
selvagem que desestrutura formas de vida e faz da vulnerabilidade e
da precariedade formas de existência que tendem a se cristalizar como
único destino possível.

Essa epidemia ou pandemia é a aporia da sociedade com suas infinitas


expressões, que se alastra rapidamente e faz com que as vulnerabilidades sociais
e condições de risco social se acentuem na mesma proporção. Assim, vamos
percebendo as mutações e refrações das expressões sociais da questão social na
sociedade, bem como as desesperanças, desilusões, perspectivas frustradas de um
contingente de pessoas que são inevitavelmente atingidas pela dinâmica e lógica
capitalista e de mercado.

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2013), refração


significa “Desvio de direção que os raios luminosos sofrem quando passam de um
meio para outro”. Em outras palavras, podemos entender esse termo no âmbito
social como as várias mudanças de direção e de significados que as expressões
sociais sofrem ao receberem influências do modo como estão sendo produzidas
e reproduzidas as formas de condição humana na atual conjuntura econômica
mundial.

UNI

Podemos discutir, como exemplo, a questão social trabalho. Quando essa


questão social era debatida e pesquisada, as expressões sociais que se evidenciavam eram o
desemprego, a falta de qualificação profissional, a falta de segurança no trabalho, a ausência de
direitos trabalhistas, dentre outras.

Atualmente, quando discutimos a questão social trabalho, verificamos


as suas refrações sociais, ou seja, as expressões desviaram de direção quando
passaram de um meio para o outro, ou seja, quando passaram de um capitalismo
nacional para um capitalismo internacional, de um industrial local e regional para
um capitalismo digital e globalizado.

O economista Dowbor (2014, p. 101) descreve de forma muito procedente


sobre a própria mudança da dinâmica social das diversas sociedades, conforme
as transformações econômicas que ocorrem, nos mais variados países, de forma
globalizada.

A própria dinâmica social mudou profundamente. Não somos mais


sociedades compostas por camponeses, operários e burguesias. As
classes se desdobraram em segmentos variados e complexos, à medida
em que as pirâmides econômicas se foram tornando mais diferenciadas,

74
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

interdependentes e verticalizadas. Há uma classe assalariada milionária,


e temos hoje numerosos estudos desta complexidade crescente, como
a tecnoburocracia, a elitização operária, o complexo militar industrial,
a classe dirigente transnacional e outros fenômenos de uma sociedade
onde as técnicas, a globalização e os ritmos de transformação econômica
avançam muito mais rapidamente do que a nossa capacidade de
criar as instituições e a regulação correspondentes. Isto sem falar do
marco jurídico que constitui uma colcha de retalhos com cerca de 200
legislações nacionais diferenciadas segundo os países.

A partir do próprio desenvolvimento e crescimento desenfreado do


capitalismo na contemporaneidade, têm surgido novas expressões sociais, novas
demandas, novos entraves sociais, e é a partir desta perspectiva que alguns autores
trazem à tona para discussão o termo “nova questão social”, pois aparecem novas
configurações, perturbadoras, visto que anteriormente não existiam, no passado
não apareciam.

Mas a característica mais perturbadora da nova questão social é o


reaparecimento de trabalhadores sem trabalho: os inúteis para o
mundo ou supranumerários, isto é, pessoas que não têm lugar na
sociedade porque não são integradas e talvez nem sejam integráveis [...]
(IAMAMOTO, 2014b, p. 175).

É perceptível, na atualidade mundial, essa nova questão social dos


“suprassumários”, que compreende um número expressivo de pessoas que
poderiam estar no mercado de trabalho, mas se encontram sem ocupação ou
desestruturadas psiquicamente, que apresentam diferentes tipos de transtornos
mentais e não conseguem se adequar ao sistema atual, que exige múltiplas funções
e afazeres diversos.

Dando continuidade a essa linha de pensamento, Daniel (2007, p. 289)


descreve que:

[...] no contexto de avanço da sociedade industrial, globalização e crise


da sociedade salarial surge a nova pobreza e a nova questão social.
Castel destaca justamente este fenômeno em sua análise, enfatizando
a vulnerabilidade dos pobres, dos desempregados, que se expressa
no aumento da “exclusão” do emprego e na precarização das relações
contratuais.

A vulnerabilidade social aumentou significativamente, nessa perspectiva
identifica-se o acirramento da questão social com o aumento da pobreza em
diferentes versões e aumento da exclusão social de várias pessoas não somente em
situação de pobreza e nas relações no mundo do trabalho.

A mundialização da economia intensificou de maneira extraordinária


o capitalismo, em pouco tempo houve o surgimento desenfreado de empresas
multinacionais, interação intensa entre empresas transnacionais, a integração
dos mercados financeiros e empresas multinacionais, desenvolvimento de novas
tecnologias de informação, comunicação e telecomunicações, fortalecimento
dos grandes centros financeiros, integração e aliança entre o capital bancário e o

75
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

capital industrial, intensificação dos fluxos de investimento e de capital em escala


planetária, entre outros processos intensos e complexos.

Wanderley (2013, p. 72-73) descreve sobre a globalização:

Trata-se de um conceito ao mesmo tempo complexo, ambíguo e


ideológico. Comumente, ele é compreendido como um processo
crescente de mudanças que mundializa os mercados, as finanças,
informação, a comunicação, os valores culturais, criando um sistema
de vasos comunicantes entre países e continentes. Parece consensual
que o capitalismo, desde suas origens, desenvolveu um processo de
internacionalização do capital, desigual e combinado, rompendo e
integrando fronteiras geográficas. Nesse sentido, alguns sustentam
que o movimento de mundialização ou globalização (termos para eles
utilizados como sinônimos) é constante, adquirindo novas formas e
conteúdos em consequência das transformações socioeconômicas-
políticas-culturais em curso.

É em torno da noção de mundialização da economia e do processo de


globalização que o capitalismo se intensificou enquanto sistema econômico do
ponto de vista de integração e interação, para obter maior e melhor exploração
e dominação, assim a tendência à integração entre vários países se tornou uma
necessidade do capital ou, melhor dizendo, do processo de mundialização do
capital.

Nas últimas décadas tem‑se tomado maior consciência do mundo como


um sistema global e interdependente. Este fenômeno, denominado por
“globalização”, constitui‑se, em si mesmo, como um acontecimento de
uma nova e complexa história da humanidade. A globalização é um dos
termos mais difundidos e discutidos para explicar as transformações
das sociedades atuais. (RAMALHO, 2012, p. 346).

A globalização é um processo e uma nova etapa no desenvolvimento do


capitalismo contemporâneo. Representa a mundialização da economia e uma nova
configuração de exploração e dominação capitalista em escala global. No entanto,
não podemos apenas caracterizá-la como um processo político-econômico, mas
também sociocultural.

Assim, não tem como existir a globalização sem localização. Assim, sob o
ponto de vista social, cultural, político e geográfico, para que a mundialização da
economia seja alcançada é necessária a articulação ampliada dos territórios locais
com a economia mundial, criação de uma cultura universal planetária e difusão
entre outras, universalidade de valores e de conhecimentos. Nesse sentido, Ianni
(1994b, p. 8) descreve que:

A originalidade e a complexidade da globalização, no seu todo ou em


seus distintos aspectos, desafiam o cientista social a mobilizar sugestões
e conquistas de várias ciências. Acontece que a globalização pode ser
vista como um vasto processo não só político-econômico, mas também
sociocultural, compreendendo problemas demográficos, ecológicos, de
gênero, religiosos, linguísticos e outros.

76
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

Podemos especificar a globalização como um processo e como uma nova


etapa no desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, com suas vantagens
e desvantagens. Não podemos negar que, por um lado, a globalização apresenta
inúmeras vantagens, isto falando sob o ponto de vista econômico é um fenômeno
extraordinário, eficiente, rápido, acumulativo e lucrativo.

FIGURA 13 – GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=globalização&biw>. Acesso em: 5


jan. 2015.

Não podemos negar os inúmeros benefícios que a globalização trouxe para


a humanidade. No entanto, consequentemente promoveu inúmeros e desastrosos
problemas sociais, ambientais, culturais, entre outros. Podemos considerar que essa
nova sociedade contemporânea globalizada é complexa e excludente, acirrando
cada vez mais as expressões da questão social.

Montaño (2012), numa perspectiva das lutas de classes do pensamento


marxista, expõe uma caracterização histórico-crítica da pobreza e da questão social,
enfatizando que a questão social é um fenômeno do modo de produção capitalista
consequente da exploração e dominação; e a pobreza, enquanto expressão da
“questão social”, é uma manifestação da relação de exploração entre capital e
trabalho, assim o pauperismo é resultado da acumulação privada de capital, que
historicamente se perpetua na realidade brasileira.

77
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

O agravamento e acirramento das múltiplas expressões da questão social


não proliferaram ao acaso, mas emergiram a partir do próprio desenvolvimento
e crescimento capitalista, do processo de globalização, da concentração de renda,
da acumulação de capital, do avanço desenfreado tecnológico e inúmeros outros
aspectos relacionados ao poder de mercado e do setor econômico.

Nesse sentido, Iamamoto (2014a, p. 18) enfatiza:

Esses novos tempos reafirmam, pois, que a acumulação de capital


não é parceira da equidade, não rima com igualdade. Verifica-se o
agravamento das múltiplas expressões da questão social, base histórica
da requisição social da profissão. A linguagem de exaltação do mercado
e do consumo, que se presencia na mídia e no governo, ocorre paralela
ao processo de crescente concentração de renda, de capital e de poder.

Assim, vamos constatando que a sociedade capitalista está promovendo


e aumentando a desigualdade social, assim as novas expressões sociais são
consequências inevitavelmente emergidas do sistema de produção e reprodução
social em seu estágio mais avançado de exploração e dominação no mundo
globalizado, onde a economia atua de forma integrada em diversas atividades e
transações.

A concepção de trabalho alienado e explorado, conforme se tinha na visão


marxista, sofreu alterações; a lógica do proletário explorado, atualmente, está em
desuso, não se adequa mais com a realidade contemporânea, visto que o trabalho
está perdendo seu valor dentro da vida das pessoas, pelo próprio processo de
mundialização da economia e pelo caráter polissêmico e multifacetado do trabalho,
que demonstra as novas configurações além de trabalhadores, como também de
grupos, de classe, de gênero, de raça ou etnia, de geração, entre outros.

[...], a classe trabalhadora também se reconfigura mundialmente.


Portanto, este é o desenho compósito, diverso, heterogêneo, polissêmico
e multifacetado que caracteriza a nova conformação da classe
trabalhadora, a classe-que-vive-do-trabalho: além das clivagens entre
trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens e idosos,
nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e desqualificados,
‘incluídos’ e ‘excluídos’, entre outros, temos as estratificações e
fragmentações que se acentuam em função do processo crescente de
internacionalização do capital (ANTUNES, 2003, p. 59).

O mundo do trabalho se alterou de tal forma que não compactua com


o número de pessoas que deveriam estar no mercado de trabalho, a população
mundial aumentou, porém o emprego diminuiu em todas as áreas. O trabalho
polissêmico e multifacetado caracteriza a nova conformação da classe trabalhadora
que se sujeita a qualquer coisa para poder sobreviver, seja o trabalho informal,
sem contrato, quaisquer funções, inúmeras tarefas, horários alterados, entre outras
situações e condições.

Segundo descreve Iamamoto (2014a), a globalização nos fornece diversas


possibilidades, da produção e dos mercados possibilita o acesso rápido, senão
instantâneo a produtos de várias partes do mundo, cujos componentes são
78
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

fabricados em países distintos, favorece uma enorme possibilidade do ser


humano ter acesso à natureza, à cultura, à ciência, através da tecnologia rapidez
de informação e acesso ao conhecimento, porém, por outo lado, na medida em
cresce a concentração e acumulação de capital, concomitantemente também cresce
a miséria, a pauperização que atinge a maioria da população nos vários países
periféricos, onde existe um excedente de mão de obra, essencialmente mão de obra
barata.

Porém, do ponto de vista social, não favorece a muitos, pois os interesses


econômicos de mercado, além de obterem lucros extraordinariamente absurdos,
modificam diversas culturas locais, desvalorizam tradições culturais e religiosas,
alteram as sociedades tradicionais, promovem mais desemprego, transformam
postos de trabalho, desvalorizam o trabalho, geram mais pobreza, aumentando
a insegurança social de modo geral. Isso se retrata nas condições humanas atuais,
onde percebemos que a pessoa não tem medo apenas da violência, mas tem medo
de tudo e de todos.

FIGURA 14 – VANTAGENS DA GLOBALIZAÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=beneficios+da+globalização+no +mundo&biw>. Acesso em: 6 jan.
2015.

Sem dúvida que o mundo digital e os avanços da tecnologia são necessários


e de vital importância, no entanto, percebe-se que o ser humano aparece como a
primeira vítima de sua própria criação e manipulação, pois o encaminhamento do
desenvolvimento tecnológico vem ameaçando a humanidade, descaracterizando
também o meio ambiente, o ambiente local, a identidade cultural, os modos de
vida das pessoas.

O sociólogo brasileiro Octavio Ianni focou seus estudos na crítica à nova


ordem global do capitalismo, vindo a enfatizar que vivenciamos uma guerra
civil mundial, uma revolução social permanente, sujeitos a diversas formas de
integração e interação social, porém ao mesmo tempo sujeitos a diversas formas
de fragmentação dentre outros entraves e dilemas sociais, onde grupos diversos
ou classes diversas estão envolvidos e sendo negligenciados.

79
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Esses tempos são de luta de classes, em escala nacional e mundial. São


tempos de uma guerra civil mundial permanente, endêmica e aberta,
moderada e violenta, por dentro e por fora das guerras localizadas e
mundiais. Sim, por todo o século XX, e entrando pelo século XXI, o que se
verifica é uma revolução social permanente, subjacente às mais diversas
formas de integração e fragmentação, acomodação e contradição,
sempre envolvendo classes e facções de classes, grupos étnicos, de
gênero, religiosos e outros; na maioria dos casos, transbordando das
fronteiras nacionais, avançando além de fronteiras continentais (IANNI,
2004a, p. 16-17).

A globalização por meio da ideologia cria um processo de alienação, fazendo


emergir uma crise de valores na sociedade, onde o dinheiro, o acúmulo de bens e
o consumismo se tornam inevitáveis e necessários, bem como atitudes antiéticas
e imorais se tornam naturais, como também o individualismo, a intolerância, o
preconceito, discriminação e indiferença se tornam habituais.

O economista Dowbor (2014) enfatiza de forma crítica sobre o processo


dramático de concentração de renda no planeta e de concentração da riqueza
acumulada, que atinge níveis absolutamente escandalosos no planeta, decorrentes
da financeirização geral da economia. Para ele, é uma característica fundamental
da chamada globalização. Este duplo movimento de concentração de renda e de
riqueza está, por sua vez, diretamente ligado à centralização do poder de controle
empresarial, em um pequeno grupo de gigantes corporativos, especificamente de
corporações financeiras que estão lucrando de forma abusiva e sem precedentes.

Nesta mesma perspectiva de um sistema totalitarista, o francês Thomas


Piketty (2014), professor de Economia em Paris, em uma entrevista em outubro de
2014, na qual o tema abordado intitulava “Concentração de renda e riqueza pode
comprometer a democracia”, enfatizou que:

Os ricos ficarão sempre cada vez mais rapidamente mais ricos,


pois dispõem de um estoque de rendimentos de capital que traz
significativamente mais rendimentos do que o trabalho. Para a maioria
da população, em contrapartida, os rendimentos dos salários não são
mais suficientes para que criem reservas.

Estamos vivenciando a barbárie da atual fase da expansão capitalista, um


mundo e uma sociedade com muita riqueza e acumulação de renda e inúmeros
conflitos. A crise que vem se estabelecendo está enraizada no capitalismo,
tendo como fundamentalismo o consumismo desenfreado. Estamos sujeitos e
encurralados em uma globalização da perversidade e da crise de valores, com
uma ideologia perversa em um sistema global perverso, uma condição humana
em condições desumanas.

Para Milton Santos (2000, p. 39),


O que é transmitido à maioria da humanidade é, de fato, uma
informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde. A
contradição se faz e se refaz na impossibilidade de se produzir, de
imediato, uma informação libertadora. A alienação é a face que brota
aguda da globalização financeira, da globalização do dinheiro. Encanta-

80
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

se o mundo. O princípio e o fim são o discurso e a retórica. Então o que


fica para o ser comum é a farsa do consumo.

Realmente, o poder que o sistema de consumo tem em produzir informações


e desejos com fins manipulatórios é impressionante, sendo que o objetivo é sim
tornar a pessoa alienada, um objeto de manipulação, utilizá-la como meio e não
como fim faz parte da lógica do capitalismo e da globalização financeira.

E
IMPORTANT

Como forma de ampliar a discussão e os conhecimentos sobre a globalização,


assista ao documentário do cineasta brasileiro Sílvio Tendler, “Encontro com Milton Santos – O
mundo global visto do lado de cá”. No filme, o geógrafo brasileiro Milton Santos (1926-2001)
expõe sua concepção sobre o processo de globalização no mundo, relata vários aspectos
sobre a sociedade globalizada e seus entraves.

O documentário O Mundo
Global Visto do Lado de
Cá revela a globalização a
partir da visão do
professor Milton Santos,
grande pensador,
considerado por muitos o
maior geógrafo brasileiro,
que foi um crítico da
globalização perversa e o
único estudioso, fora do
mundo anglo-saxão, a
receber o Prêmio Vautrin
Lud, o equivalente ao
Nobel na geografia.

Ficha técnica:
Título Original: Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado
de Cá 
Gênero: Documentário
Tempo de duração: 89 minutos 
Ano de lançamento (Brasil): 2007

Cientistas políticos, sociólogos, geógrafos, historiadores, economistas,


assistentes sociais, filósofos, teólogos, antropólogos, entre outros, enfim, diversos
profissionais das áreas das ciências humanas e sociais com visões e posturas

81
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

ideológicas diferentes, pesquisam a sociedade moderna, bem como assuntos e


contextos relacionados a ela, como também os problemas, as adversidades, as
complexidades sociais, as diversas e inúmeras manifestações da questão social que
trazem desencantamentos, temores e aflições.

Ianni (1994b, p. 155) descreve:

A reflexão sobre a sociedade global, em suas configurações e


movimentos, transborda os limites convencionais desta ou daquela
ciência social. Ainda que haja ênfases e prioridades, quanto a este ou
aquele aspecto da globalização, logo fica evidente que qualquer análise
envolve necessariamente várias ciências. A economia da sociedade
global envolve também aspectos políticos, históricos, geográficos,
demográficos, culturais e outros. A cultura da globalização passa
pela cultura de massa, indústria cultural, mídia impressa e eletrônica,
religiões e línguas, além de outros aspectos que transbordam limites
convencionais da antropologia e da sociologia.

Por isso temos que ter a compreensão de que a “Questão Social” não é tema
unicamente objeto próprio e único do Serviço Social, mas na sociedade moderna
abrange uma postura ética de diversos profissionais que almejam a qualidade
de vida na sociedade, uma condição civil de direitos e dignidade humana, não
somente para alguns, mas para toda coletividade que almeja uma nova ordem
societária.

Nesse sentido, “A proposta da nossa atual ordem societária, o capitalismo,


busca as diferenças apenas na lógica mercadológica e a desigualdade no motriz de
sua existência” (MARTINS, 1998, p. 13). Visto que diferenças são apenas diferenças,
porém a desigualdade tem uma amplitude maior, pois no capitalismo a diferença
é apenas um detalhe, porém a desigualdade é consequência inevitável e necessária
para a sobrevivência e ampliação do capitalismo e lógica de mercado.

3 A ESTRATÉGIA NEODESENVOLVIMENTISTA FRENTE À


QUESTÃO SOCIAL
Como as sociedades nunca foram estáticas e nunca serão, o princípio da
ação e reação também pode ser caracterizado por analogia, visto que, se para a
física as forças atuam sempre em pares, assim, para toda força de ação existe uma
força de reação. Assim, na sociedade contemporânea, com a mundialização da
economia, não deixa de ser diferente, principalmente no que tange à relação do
Estado com a sociedade civil e com a sociedade de mercado, entre a esfera pública
e privada.

Dialeticamente agora falando, as forças existentes na sociedade capitalista


também atuam em forma de ação e reação, reação e outra nova ação, e assim
sucessivamente, fazendo emergir novas configurações e acirramentos, tanto da
esfera econômica quanto na social.

82
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

A contemporânea economia mundializada possui meandros e aspectos


de alta complexidade, importando em diferenciadas análises a depender
das ideologias e dos projetos societários que as embasam. O projeto do
novo desenvolvimentismo, numa economia dependente como a do
Brasil, embora em tese, intente aproximar os índices de crescimentos
econômicos e sociais, esbarra nos componentes estruturais de formação
da sociedade brasileira, que acumula séculos de miséria e pobreza.
(CASTRO, 2013, p. 364).

Nesse sentido vamos compreender como a mundialização da economia


proporcionou o acirramento das expressões da questão social e, agora, como o
Estado vem lidando com as multifacetadas e novas expressões sociais que aparecem
no cenário contemporâneo.

O acirramento das expressões sociais diz respeito ao aumento de inúmeras


e novas expressões, se refere ao incitamento das mesmas e seu consequente
agravamento, constatamos que teve um aumento significativos das expressões
e manifestações sociais, reforço considerável. Como, por exemplo, não temos
apenas na nossa sociedade usuários de álcool, cocaína, mas essencialmente de
novas drogas como o crack, assim novos tipos de violência, novas formas e tipos de
pobreza, novos excluídos sociais, e assim por diante.

E
IMPORTANT

Na atualidade surgiram novos conceitos, como, por exemplo, o


neodesenvolvimentismo ou o novo desenvolvimentismo, como uma estratégia nacional
– governamental – de um melhor e maior desenvolvimento do país, com a intenção de
aumentar a renda nacional em todos os sentidos e diminuir a desigualdade social em todos
os parâmetros.

A política neoliberal, antes da mundialização da economia, baseava-se


na desregulamentação, descompatibilização e privatização dos países em suas
ações, ou seja, o Estado se retirava da economia e todo o processo de concorrência
e formação de preços ficava a cargo do mercado. Com isso tínhamos um custo
social altíssimo, pois, estando o Estado fora da economia, ele também deixava
de ser um empregador e logo as inovações tecnológicas traziam consequências
avassaladoras, evidenciando o acirramento evidente das questões sociais.

De acordo com Fraser (apud MELO, 2013, p. 415), “[...], também as


desigualdades econômicas aumentaram no período em que forças neoliberais,
características do processo de globalização, se acirraram”.

O neodesenvolvimento que, em tese, se estrutura em substituição ao


neoliberalismo, forja um modelo híbrido de desenvolvimento que
tenta conciliar diretrizes desenvolvimentistas e liberais e prega o
crescimento econômico atrelado à expansão do social sob a fachada de
um capitalismo humanizado (CASTRO, 2013, apud PRATES, 2014, p. 1).

83
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Nesse sentido, parece que o neoliberalismo progrediu, sofreu uma mutação,


até porque se tornou evidente o fracasso das políticas neoliberais que priorizavam
um Estado mínimo na área social, deixando o mercado se autorregular. Por isso
que a estratégia e perspectiva neoliberal considerada até há pouco tempo não
se adequa mais ao contexto contemporâneo, onde a economia se mundializou
e o Estado precisou se “modernizar” desenvolvendo um papel estratégico para
poder competir nos mercados mundiais, promovendo para isso o consumo e o
crescimento econômico.

Na sociedade global, o mercado é o fator principal, porém o Estado não é


mais mínimo, mas desenvolve um papel estratégico da implementação de uma
série de políticas sociais. Na contemporaneidade, as atividades do setor moderno
e integrado da economia se entrelaçam entre si, efetivam transações envolvendo
diversos capitais: capital financeiro, capital bancário, capital tecnológico, capital
digital, capital social, para poder competir e obter lucros e acúmulo de capital.

UNI

O Estado era chamado como Estado mínimo, porém essa fundamentação


passa a configurar-se por uma outra lógica na atualidade, onde não se considera mais um
capitalismo selvagem, mas um capitalismo voltado também para o desenvolvimento social
concomitantemente. HOJE TEMOS UM ESTADO DE DIREITO! Ou, pelo menos é o que a
população brasileira pretende ter, um Estado democrático de direito.

Analisando o neodesenvolvimentismo nós podemos considerar, em


âmbitos gerais, que é um novo projeto do capital, visto que anteriormente, com
o neoliberalismo, tinha-se o princípio categórico, o máximo de investimento e
atenção para o setor econômico e o mínimo para a área social. Assim o Estado era
chamado como Estado mínimo, porém essa fundamentação passa a configurar-se
por uma outra lógica na atualidade, onde não se considera mais um capitalismo
selvagem, mas um capitalismo voltado também para o desenvolvimento social
concomitantemente.

A busca incansável do crescimento econômico flexiona a lógica de


“máximo para o econômico e mínimo para o social”, base da ideologia
neoliberal, para passar a assentar-se na ideia de um “capitalismo
humanizado” sem, no entanto, romper com o conservadorismo, que é
base da formação social, econômica e política brasileira. Trata-se de um
novo projeto do capital, que busca equilibrar crescimento econômico e
desenvolvimento social (CASTRO, 2013, p. 363).

O novo desenvolvimentismo emerge da nova face das políticas sociais


compensatórias de inclusão social forjada, forçada e precária, com o intuito de
estimular o sistema capitalista na garantia de que todas as necessidades serão
saciadas pelo consumismo.

84
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

Segundo Castro (2013, apud PRATES, 2014, p. 6),

Na perspectiva caracterizada como neodesenvolvimentista, o mercado


ampliado onde transitam diferentes interesses, demandas e classes, é
utilizado, ideologicamente, como lugar de referência onde as distâncias
sociais são diminuídas pelo fetiche do direito ao consumo que dissimula
uma “integração” social, que na verdade se configura como “inclusão
forçada” e precária com fins de estimular o mercado.

O que percebemos é que o impulso das políticas sociais através de


programas de transferência de renda, direcionados às camadas populacionais
mais necessitadas, gera uma falsa e ilusória integração social. Não podemos negar
os avanços consideráveis e conquistas no âmbito das políticas sociais, porém
promoveu a precarização existencial.

Castro (2013, p. 363) especifica que “A inovação da transferência de recursos


através do cartão em conta bancária imprime um certo status de cidadania aos
pobres, historicamente identificados como os não cidadãos”.

De forma crítica, estamos aqui enfatizando as políticas sociais como


compensatórias, visto que não estamos seguindo a lógica de pensamento
e perspectiva do neoliberalismo, que se transformou na atualidade em
neodesenvolvimentismo, mas sim, tendo como fundamento e base a perspectiva
crítico-dialética. Assim, sobre as políticas compensatórias, Castro (2013, p. 363)
também esclarece que:

As políticas compensatórias, contemporaneamente, destacadas


no âmbito das políticas sociais, são reflexos deste novo ciclo de
reordenamento do capital, que tem no Estado uma intervenção mais
atuante na extrema pobreza. Sob a ótica de equilibrar crescimento
econômico e desenvolvimento social, o Brasil tem dado ênfase às
políticas de transferência de renda, e segue no seu percurso de buscar
o desenvolvimento econômico, desta feita, como país emergente que
tem alcançado, nos últimos anos, patamares satisfatórios na economia
mundializada.

A ideia de integralidade e universalidade, descentralização, participação


e controle social, em âmbitos gerais, se passa uma visão da efetivação da
cidadania plena teoricamente falando, no entanto, simultaneamente esse projeto
de neodesenvolvimetismo produz fragmentos sociais. Podemos considerar esses
fragmentos sociais, como, por exemplo a passividade humana, o conformismo,
a indiferença, a neutralidade, a omissão, a apatia e a inércia coletiva, tanto é
que os movimentos sociais organizados desapareceram do cenário nacional
na contemporaneidade e as pessoas deixaram de expor suas ideias, interesses e
reivindicações, evitam se expor e pouco protestam ou lutam por direitos ou valores
em que acreditam, evitam qualquer tipo de conflito.

Martins (1998, p.16), sobre a neutralidade, enfatiza:

A neutralidade consideravelmente nos torna omisso da modificação


dos fatos expostos e nos traz a marca que contrariamente poderíamos

85
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

acreditar que não tivemos nada com o acontecido partimos do contrário.


Que pela nossa neutralidade prejudicamos a possibilidade de uma
transformação construtora de possibilitar igualdade ou reconhecer
diferenças, estas diferenças são contrárias a lógica da desigualdade.

Podemos constatar que uma das estratégias do “neodesenvolvimentismo” é o


incentivo ao consumo com o objetivo de estimular a economia para que o país venha
a um patamar competitivo e imponente no processo da mundialização econômica,
porém, para alcançar esse fim, utiliza como meio as políticas de transferência de
renda, que são focadas na extrema pobreza.

UNI

É antiga e bem conhecida essa história de utilização das políticas sociais


pelo Estado como processo e forma de regulação, controle e determinação das relações
econômicas. Nesse sentido, podemos alterar o ditado de que os fins justificam os meios, pois
a lógica do neodesenvolvimentismo é que os meios justifiquem o fim, e não o contrário, pois
o que mais importa é o consumo, o poder econômico.

Nesse sentido, a função do Estado "neodesenvolvimentista" é regular e


impulsionar cada vez mais de forma eficiente o crescimento econômico, porém com
inclusão social. É o estilo do capitalismo não mais selvagem, mas com a lógica de
um sistema capitalista humanizado que garante a cidadania através das políticas
sociais e, desse modo, melhorando ou aumentando, mesmo que seja no mínimo e
aparente, o índice de indicadores sociais. Pressupõe uma retomada ou alavancada
do crescimento e desenvolvimento do país.

FIGURA 15 – ESTRATÉGIAS NEOLIBERAIS E NEODESENVOLVIMENTISTAS

FONTE: A autora (2015)

86
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

E é nesse contexto atual, de um Estado neodesenvolvimentista, que o


Serviço Social circula, adentrando nas políticas sociais, procurando responder às
necessidades humanas conforme os ramos da ética, da ética profissional.

Por isso o assistente social não pode deixar de aprofundar cada vez mais o
tema da complexidade, que também condiz com o tema da “questão social”, numa
perspectiva de atitude crítica, reflexiva e interventiva no enfrentamento à pobreza
e da desigualdade social em todos os âmbitos, para a melhoria da qualidade de
vida das pessoas na sociedade em todos os sentidos.

Pouco tempo atrás, a pobreza era entendida em termos de rendimento


ou de falta deste, significava não ter meios econômicos para pagar por uma boa
alimentação, ter uma habitação adequada, ter recursos para pagar as contas
mensais de água, energia, entre outros, para a sobrevivência necessária, e só. Mas a
pobreza não consiste apenas em rendimentos ou numa alimentação insuficientes,
ela tem a ver com a recusa de oportunidades e de escolhas que são, de um modo
geral, consideradas essenciais para se ter uma existência longa, saudável e criativa
e gozar de um nível de vida razoável, de liberdade, de dignidade, de autoestima,
respeito, significado e valor (ANNAN, 2001).

Sobre a pobreza que aumentou na América Latina, bem como sobre a


questão social e suas novas modalidades e expressões, Wanderley (2013, p. 68-69)
descreve:

Pobreza que se ampliou nas últimas décadas na América Latina,


ocasionada por causas internas e externas interligadas e que vem se
acirrando com a maneira pela qual se desenvolve a “globalização”. A
questão social, nessa perspectiva, vem adquirindo novas modalidades,
nos últimos tempos, por força das mudanças profundas que estão
acontecendo nas relações entre capital e trabalho, nos processos
produtivos, na gestão do Estado, nas políticas sociais, e pelo chamado
“princípio da exclusão”, que se concretiza tanto da parte dos excluídos
do processo produtivo, do trabalho assalariado, quanto da parte dos
excluídos pela origem étnica, pela identidade cultural, pelas relações
de gênero.

Assim, vamos perceber que, além da pobreza, da exclusão e da desigualdade


social já existentes, surgiram novas configurações sociais, novas formas de
exclusão e novos excluídos sociais, não se configurando apenas em trabalhadores
ou desempregados, mas essencialmente uma marginalização e exclusão de grupos
específicos.

Grupos e classes sociais abrangendo homens, mulheres, adolescentes e


crianças de todas as idades e localidades: negros, brancos, religiosos e não religiosos
vítimas da violência e de ações terroristas, imigrantes e migrantes, usuários de
drogas, portadores de alguma síndrome psíquica, judeus ou nordestinos, casais
homoafetivos, assalariados fragmentados, trabalhadores informais, entre outros
diversos excluídos socialmente.

87
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Em outras palavras, evidenciou-se o acirramento das expressões da questão


social em todos os níveis, por isso que as expressões são caracterizadas como multifacetadas.

Com base no Dicionário Temático Desenvolvimento e Questão Social: 81


Problemáticas (2013), podemos citar inúmeras e novas expressões sociais, conforme
quadro a seguir:

QUADRO 8 – EXEMPLOS DE ALGUMAS NOVAS EXPRESSÕES SOCIAIS

NOVAS EXPRESSÕES SOCIAIS CONTEMPORÂNEAS


Aumento da exploração e empobrecimento dos que trabalham.
Aumento da desigualdade social em mais categorias ou classes.
Aumento da massa de despossuídos de direitos fundamentais.
Aumento da massa sem autonomia cultural.
Aumento da corrupção e da massa sem poder político.
Aumento da massa de novos excluídos e empobrecidos.
Nova pobreza urbana: pessoas privadas de bens e serviços, instabilidade, flexibilidade
e degradação das condições vigentes de trabalho urbano, falta de qualidade de vida,
liberdade, lazer.
Novos excluídos sociais chamados: “inúteis do mundo”.
Aumento da massa de desocupados – mão de obra disponível ou não qualificada, os
chamados “inúteis”.
Precarização salarial.
Baixos salários e subempregos.
Aumento da massa de terceirizados.
Diminuição do trabalho assalariado, estável e bem remunerado.
Desproteção social – restrição de direitos.
Desaparecimento de postos de trabalho.
Diminuição da massa de trabalhadores.
Cortes nos serviços públicos.
Precariedade e informalidade do trabalho.
Políticas públicas ineficazes.
Aumento da insegurança social.
Ascensão das taxas da criminalidade.
Aumento da violência na sociedade.
Aumento do número de encarceramentos.
Aumento de usuários de crack.

88
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

Facções criminais em territórios de favela.


Facções corruptas e criminais na política.
Facções corruptas e criminais na polícia.
Aumento de ações terroristas.
Aumento do fundamentalismo religioso e discriminação.
Desrespeito e exclusão cultural.
Aumento da imigração e de imigrantes ilegais.
Desvalorização e destruição das culturas e tradições locais/regionais.
A não garantia de direitos sociais aos imigrantes (haitianos).
Aversão homofóbica.
Desrespeito, preconceito e discriminação à família homoafetiva/homoparental e casamento
entre casais do mesmo sexo.
Desrespeito, preconceito e discriminação de adoção de crianças e adolescentes por
homoafetivos.
Conflitos/irresponsabilidade na guarda compartilhada dos filhos.
Aumento da massa de: traficantes, presidiários, moradores de rua, usuários de drogas.
Aumento do número de adolescentes soropositivos.
A morosidade ou não efetivação da internação compulsória de usuários de drogas (crack
– especificamente).
A impunidade legal de adolescentes que cometem inúmeros crimes na sociedade.
FONTE: Adaptado de: Dicionário temático desenvolvimento e questão social: 81 problemáticas.
Anete B. L. Ivo (Coord.). São Paulo: Annablume; Brasília: CNPq; Salvador: FAPESB, 2013.

E
IMPORTANT

Como estudamos em tópicos anteriores do caderno, a palavra “questão” vai muito


além de uma simples pergunta. Nesse sentido, podemos imaginar então a complexidade da
referida “questão social” devido às suas perplexas expressões, por isso que não é à toa que
muitos teóricos estão se debruçando sobre esta temática a fim de poder contribuir para o
entendimento da mesma nesta sociedade complexa e globalizada.

Frente às transformações ocorridas no mundo, no sistema capitalista,


na sociedade, o Serviço Social necessitou avançar rompendo com referenciais
teórico-práticos conservadores, trazendo à tona uma nova proposta de criticidade,
de inovação e acompanhamento teórico e prático de todo o processo. “Pensar o
Serviço Social na contemporaneidade requer os olhos abertos para o mundo
contemporâneo para decifrá-lo e participar de sua recriação” (IAMAMOTO, 2014a,
p. 19).

89
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A partir do movimento de reconceituação do Serviço Social, bem como


reconhecimento da profissão, muitos termos foram alterados, por isso não devemos
enfatizar “ajuda ao pobre, desvalido”, e sim assistência ou atendimento às pessoas
em situação de pobreza ou em situação de vulnerabilidade social, ou em situação
de risco social.

FIGURA 16 - MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO – POSTURA QUESTIONADORA


SOBRE A QUESTÃO SOCIAL E A PROFISSÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=igreja+na+idade+m


edia+e+os+pobres&tbm>. Acesso em: 5 jan. 2015.

E
IMPORTANT

Atualmente, todas as pessoas atendidas pelo Serviço Social devem ser


caracterizadas como usuários, sujeitos de direitos.

QUADRO 9 - ESPECIFICAÇÕES DA PROFISSÃO SEGUNDO O CFESS (2014)

CONSELHO FEDERAL Responsáveis em orientar, disciplinar, normatizar,


DE SERVIÇO SOCIAL fiscalizar e defender o exercício profissional do/a
assistente social no Brasil, em conjunto com os
CONSELHOS Conselhos Regionais de Serviço Social (CRESS). O
REGIONAIS DE Conselho Federal e os Conselhos Regionais atuam na
SERVIÇO SOCIAL normatização e na defesa da categoria profissional.

90
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

O Serviço Social é a profissão de nível superior regida


pela Lei Federal nº 8.662/93 que estabelece suas
FACULDADE DE competências e atribuições.
SERVIÇO SOCIAL Para esclarecer, não existe faculdade de assistência
– GRADUAÇÃO social, nem curso técnico de algumas horas, como
SUPERIOR alguns enfatizam erroneamente, existe sim a
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL, que dura no
mínimo quatro anos ou oito semestres.
O assistente social é o profissional com graduação
em Serviço Social (em curso reconhecido pelo MEC)
e registro no Conselho Regional de Serviço Social
ASSISTENTE SOCIAL É (CRESS) do estado em que trabalha. O assistente
UM PROFISSIONAL social não é dama de caridade, nem primeira dama
que procura “dar coisas” e ter “pena” dos “pobres”,
é um profissional formado por homens e mulheres
com competência e atribuições profissionais.
A Assistência Social é entendida como uma política
pública de direito de todo cidadão e dever do Estado,
prevista na Constituição Federal. Essa política pública
ASSISTÊNCIA SOCIAL
é regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência
É UMA POLÍTICA
Social (LOAS). Conforme a Constituição Federal,
PÚBLICA
a Seguridade Social no Brasil é composta por três
políticas sociais: a Previdência Social, a Saúde Pública
e a Assistência Social.
São serviços disponibilizados à população e atividades
continuadas que visam à melhoria da qualidade de
vida principalmente daquelas pessoas que de alguma
SERVIÇOS
forma não possuem seus direitos sociais garantidos e
SOCIOASSISTENCIAIS
acesso à cidadania. A LOAS prevê a efetivação destes
em rede, de acordo com os níveis de proteção social:
básica e especial, de média e alta complexidade.
O assistencialismo surgiu nas práticas de ação social
do passado, e por vezes persiste na atualidade, é
uma forma de intervenção social assistencialista de
ASSISTENCIALISMO É
oferta por meio de uma doação, favor, boa vontade
UMA PRÁTICA A SER
ou interesse de alguém e não como um direito. É uma
COMBATIDA
prática clientelista que não promove a autonomia
da pessoa enquanto sujeito de direitos, bem como
emancipação humana.
FONTE: Adaptado de: Conselho Federal de Serviço Social – CFESS (2014). Disponível em: <http://
www.cfess.org.br/visualizar/menu/local/perguntas-frequentes>. Acesso em: 12 nov. 2014.

A ação profissional deve estar pautada por ações concretas, objetivas e


reais, propostas críticas fundamentadas historicamente, por isso é necessário que
o profissional tenha qualificação e ética profissional. Nesse aspecto, Morin (2007,

91
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

p. 15) enfatiza que “A ética não pode escapar dos problemas da complexidade. Isso
nos obriga a pensar a relação entre conhecimento e ética, ciência e ética, política e
ética, economia e ética”.

A ação autoética é a mais individual possível, engajando a


responsabilidade pessoal; ao mesmo tempo é um ato transcendental que
nos liga às forças vivas de solidariedade, [...]. O prefixo de envolvimento
com- encontra-se ao mesmo tempo na:
- complexidade
- compreensão
- comunidade
O verbo complectere, do qual vem complexus, significa “abraçar”. O
pensamento complexo é o pensamento que abraça a diversidade e
reúne o separado. [...] A palavra “com-preensão” indica que há uma
ação de envolvimento, algo que abraça, no sentido cognitivo do
termo e no sentido afetivo. A palavra “comunidade”, ela mesma nos
abraça. [...]. A autoética religa-nos à nossa humanidade: incita-nos a
assumir a identidade humana no seu nível complexo e convida-nos
para a dialógica razão/paixão, sabedoria/loucura. Reclama a nossa
compreensão da condição humana, com seus desvios, ilusões, delírios.
Estimula-nos à reforma, a que reformemos nossas vidas (MORIN, 2007,
p. 142-143).

Sabe-se que efetivar uma atitude autoética de envolvimento, bem como


construir um projeto profissional ético, crítico, criativo no âmbito da complexidade,
compreensão e comunidade, ter um pensamento complexo no sentido de abraçar
a diversidade, envolver-se, comprometer-se integralmente para o bem da
humanidade e construção de uma nova ordem societária não é algo fácil e simples.

Martins (1998, p. 16) enfatiza que

A relação entre igualdade e diferenças traz em sua relação conjunta a


diversidade humana e a possibilitar de se romper com os propósitos
ingenuamente pacificadores entendendo que por sermos atores de uma
construção societária estamos naturalmente dispostos ao conflito.

Como profissionais éticos, precisamos perceber, analisar, constatar e


compreender a realidade social, para assim enfrentar as inúmeras e multifacetadas
expressões da questão social, que estão em áreas de conflito e tensão com interesses
antagônicos. Direcionar nossas intenções e esforços na preservação, defesa e
ampliação dos direitos sociais e humanos, contribuindo assim para a construção de
um projeto de igualdade e justiça social com plena inclusão social, plena cidadania
e real participação social, significa comprometimento ético.

A ética pode ser compreendida como uma estruturação de valores


que proporcionam qualidade à vida, ela nasce e desenvolve-se dentro
dos sujeitos e das comunidades, vindo a responder às diversas
necessidades humanas, por isso não se estrutura em normas fixas ou
códigos preestabelecidos, mas se manifesta como um modo de vida,
modo dinâmico de ser e viver. E, não é simples falar sobre ética, é uma
dimensão muito complexa, visto que envolve pensamento e raciocínio,
reflexão sobre regras, normas, valores, cultura, tabus, preconceitos,
regras, formas, leis. Por isso que o pensador Morin (2007) enfatiza

92
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

que essa atitude reflexiva faz repensar e a revisitar o bem, o possível,


o necessário, o tangível, o mais apropriado, o mundo, a sociedade, a
vida. “A ética não pode escapar dos problemas da complexidade.
Isso nos obriga a pensar a relação entre conhecimento e ética, ciência
e ética, política e ética, economia e ética” (MORIN, 2007, p. 15, apud
MONTIBELLER, 2011, p. 76-77).

Teóricos de diversas áreas dedicam-se ao estudo das sociedades, de temas


sociais diversos a fim de propiciarem um melhor entendimento das complexidades
sociais. Assim, para propiciar alternativas teóricas e práticas, muitos se debruçam
sobre os problemas da complexidade da sociedade moderna, das diversas formas,
manifestações e multifacetadas expressões sociais, sem deixar de pensar e discutir
a relação que deve existir entre a ética e as demais categorias que fazem parte do
complexo social, como a economia, a política, a ciência, a cultura, a educação.

Assim, a questão social deve assumir um lugar de destaque junto às


temáticas abordadas pela profissão, uma vez que esta se configura junto ao
projeto profissional como sendo o objeto no qual o serviço social intervém, e
estando descrita com grande relevância junto às Diretrizes Curriculares aprovadas
em 1996, que sinalizam um dos pilares deste projeto, juntamente com a Lei de
Regulamentação da Profissão e o Código de Ética Profissional, ambos aprovados
ainda em 1993.

FIGURA 17 – A ÉTICA EM CONSTRUÇÃO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=ÉTICA&biw>.


Acesso em: 6 jan. 2015.

O Código de Ética Profissional, Resolução do CFESS nº 273/93, aprovado


em 15 de março de 1993, dia instituído como Dia do Assistente Social, especifica
alguns princípios, gerais e abrangentes, considerados como fundamentais,
conforme segue:

93
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

QUADRO 10 – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA PROFISSÃO

LIBERDADE como valor ético central...


DIREITOS HUMANOS e recusa do arbítrio e do autoritarismo...
CIDADANIA: sua ampliação e consolidação...
DEMOCRACIA: defesa de seu aprofundamento...
EQUIDADE e JUSTIÇA SOCIAL: posicionamento em favor...
RESPEITO À DIVERDADE: eliminação de todas as formas de preconceito...
PLURALISMO no sentido de garanti-lo...
NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: construção de uma sociedade sem dominação,
exploração de classe, etnia e gênero...
ARTICULAÇÃO com os movimentos de outras categorias profissionais...
QUALIDADE DOS SERVIÇOS prestados à população...
AUTONOMIA E RESPEITO: exercício do serviço social sem ser discriminado,
nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física.
FONTE: Adaptado de: BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei nº 8.662/93 de
regulamentação da profissão. 10ª ed. rev. e atual. Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social,
2012.

Retroceder, estagnar ou avançar profissionalmente? Não acompanhar


criticamente todo processo histórico? Deixar acontecer e se deixar levar, trabalhar
por trabalhar, sem se atualizar, é retroceder, não assumir uma postura crítica é
estagnar. Assim, precisamos avançar e isto significa estar neste processo histórico
e realmente se sentir dentro dele, buscar algo a mais, buscar saídas e respostas, ser
sujeito do processo e peça fundamental de ações concretas, tentar inovar e tentar
construir uma nova ordem societária.
Para que possamos pensar em uma Nova Ordem Societária, a mesma
indissociável da diversidade humana e da igualdade de condições traz
a necessidade de uma concepção clara, predisposta a transformação e
impassível da neutralidade.
Para que iria servir a neutralidade se a mesma, além de não ser neutra,
apenas consegue manter a desigualdade exposta entre sujeitos sociais
na busca de uma possível desconstrução daqueles que querem mudar a
ordem vigente? (MARTINS, 1998, p. 20).

É necessário avançar profissionalmente, pelo menos tentar avançar na


luta e enfrentamento das múltiplas expressões sociais oriundas do capitalismo
“humanizado”, economia mundializada, sociedade complexa e perversa.

E
IMPORTANT

Para fundamentação da nossa profissão temos o DICIONÁRIO DE TERMOS


TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, que precisamos ler e reler, até para adquirirmos cada vez
mais o nosso vocabulário próprio profissional.

94
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA


SOCIAL. Prefeitura Municipal/Secretaria Municipal
Adjunta de Assistência Social. Belo Horizonte: ASCOM,
2007.

LEITURA COMPLEMENTAR

Erich Fromm

TER OU SER?

No sentido e com o objetivo em mente de abordar e ampliar temas


humanísticos de caráter filosófico e holístico, vou fazer um resumo de uma obra
sobre dois conceitos tão fundamentais que estamos em permanente imersão com
eles diariamente. Tais conceitos expressam-se tão simplesmente por TER e SER.

O principal objetivo deste resumo é introduzir a análise de dois modos


básicos de estar no mundo: o modo TER e o modo SER. “Somos uma sociedade de
gente visivelmente infeliz: sós, ansiosos, deprimidos, destrutivos, dependentes –
gente que se alegra quando matou o tempo que tão desesperadamente tentamos
poupar”.

A nossa experiência social é a maior alguma vez feita no sentido de


resolver a questão de se o prazer poderá ou não ser uma resposta satisfatória para
o problema da existência humana. Pela primeira vez na História, a satisfação do
prazer não constitui apenas o privilégio de uma minoria. Tornou-se acessível a
mais de metade da população. Ser egoísta não se relaciona apenas com o meu
comportamento, mas com o meu caráter. Ou seja: que quero tudo para mim; que
me dá prazer possuir e não partilhar; que devo tornar-me ávido, porque, se o meu
objetivo é ter, eu sou tanto mais quanto mais tiver; que devo sentir todos os outros
como meus adversários: os meus clientes a quem devo iludir, os meus concorrentes
a quem devo destruir, os meus trabalhadores que pretendo explorar.

Nunca poderei estar satisfeito, porque não existe fim para os meus desejos;
devo sentir inveja daqueles que têm mais e receio daqueles que têm menos. Mas
tenho de reprimir todos estes sentimentos para poder revelar-me (aos outros e a
mim próprio) como o ser humano sorridente, racional, sincero e amável que toda
a gente pretende ser. “A paixão pelo ter conduzirá a uma interminável luta de
classes”. Na sociedade medieval, como em muitas outras altamente desenvolvidas

95
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

e também nas sociedades primitivas, o comportamento econômico era determinado


pelos princípios éticos.

O capitalismo do século XVIII foi sujeito a uma mudança radical: o


comportamento econômico foi separado dos valores éticos e humanos. Com
efeito, a máquina econômica devia ser uma entidade autônoma, independente das
necessidades e desejos do Homem. Foi um sistema que decorreu naturalmente e
de acordo com as suas próprias leis. O sofrimento dos trabalhadores, assim como
a destruição de um número sempre crescente de pequenas empresas em nome do
crescimento de corporações cada vez maiores, foi uma necessidade que, ainda que
pudesse ser lamentada, havia que aceitar como o resultado de uma lei natural.

“O desenvolvimento deste sistema econômico não era já determinado


pela pergunta: O que é bom para o Homem? Mas por uma outra: O que é bom para o
crescimento do sistema?

Não é de considerar menos importante um outro fator: a relação das


pessoas com a Natureza tornou-se profundamente hostil. Sendo, como somos,
«fenômenos da Natureza», existindo dentro dela pelas próprias condições do
nosso ser e transcendendo-a pela dádiva da razão, tentamos resolver o problema
existencial desistindo da visão messiânica da harmonia entre a Natureza e a
Humanidade, optando por conquistá-la, transformá-la, de acordo com os nossos
interesses, até que essa conquista se tornou cada vez mais semelhante à destruição.
O nosso espírito de conquista e a nossa hostilidade cegaram-nos para os fatos de
que as fontes naturais têm os seus limites e podem eventualmente esgotar-se, e de
que a Natureza pode voltar-se contra a violação humana.

A Sociedade Industrial despreza a natureza. Uma nova sociedade só é


possível se ao longo do processo do seu desenvolvimento surgir um novo ser
humano, ou, em termos mais simples, se uma mudança fundamental ocorrer na
estrutura do caráter do Homem contemporâneo. Pela primeira vez na história, a
sobrevivência física da raça humana depende de uma alteração profunda do coração do
Homem. Todavia, essa mudança terá de acompanhar a dimensão das alterações
econômicas e sociais ocorridas, capazes de dar ao coração humano uma hipótese
de mudar e coragem para o conseguir.”

O estilo do discurso mais recente indica o predominante grau de alienação.


Ao afirmar «Eu tenho um problema» em vez de «Estou preocupado» a experiência
subjetiva é eliminada: o eu ligado à experiência passa a ligar-se à posse. Transformei
o meu sentimento em qualquer coisa que possuo: o problema. Mas «problema»
é um termo abstrato para todos os tipos de dificuldades. Eu não posso ter um
problema porque ele não é uma coisa que eu possua; todavia, ele pode possuir-me.
Ou seja, eu transformei-me num «problema» e estou agora à mercê daquilo que
criei. Este tipo de linguagem denuncia uma alienação inconsciente”.

[...] Consumir é uma forma de ter e talvez a mais importante de todas na


atual sociedade industrial da abundância. Consumir tem características ambíguas:
liberta a ansiedade, dado que aquilo que se tem não nos pode ser retirado; mas ao
96
TÓPICO 1 | O SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO, LIBERALISMO E NEOLIBERALISMO

mesmo tempo exige que se consuma cada vez mais, porque tudo o que se consumiu
depressa perde o seu caráter satisfatório. Os modernos consumidores podem
identificar-se pela seguinte fórmula: Eu sou igual ao que tenho e ao que consumo”. [...]

Uma sociedade cujos princípios são a aquisição, o lucro e a propriedade,


produz um caráter social orientado para o ter e, uma vez estabelecido o padrão
dominante, ninguém quer um marginal ou um proscrito; a fim de evitar este risco,
todos se adaptam à maioria, que tem apenas em comum o antagonismo mútuo.

Como consequência desta atitude preponderante de egoísmo, os dirigentes


da nossa sociedade acreditam que as pessoas podem ser motivadas apenas pelo
incentivo de vantagens materiais, ou seja, através de recompensas, e que não
reagirão aos apelos da solidariedade e do sacrifício. Portanto, com exceções dos
tempos de guerra, estes apelos raramente são feitos, e as hipóteses de observar os
possíveis resultados perdem-se por completo.

Apenas uma estrutura socioeconômica e um quadro da natureza


humana radicalmente diferentes poderiam mostrar outra maneira de influenciar
positivamente as pessoas.

REFERÊNCIA:
FROMM, Erich. Ter ou ser? Disponível em:
<http://dhnet.org.br/direitos/filosofia/erich_fromm_ter_ser.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.

97
RESUMO DO TÓPICO 1
No Tópico 1, da Unidade 2, do Caderno de Estudos, estudamos a
mundialização da economia, o processo de globalização para a manutenção,
o desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão
social. Foram abordados os seguintes temas:

• Constatamos que o agravamento e acirramento das múltiplas expressões


da questão social não proliferam ao acaso, mas emergem do processo
de desenvolvimento e crescimento desenfreado do capitalismo na
contemporaneidade e a mundialização da economia.

• Discutimos que a característica fundamental da chamada globalização tem


duplo movimento, de concentração de renda e de riqueza, e está por sua vez
diretamente ligado à centralização do poder de controle empresarial, de um
pequeno grupo de gigantes corporativos, especificamente de corporações
financeiras.

• Analisamos e percebemos que, além da pobreza, da exclusão e da desigualdade


social já existente, existem novas configurações sociais, novas formas de exclusão
e novos excluídos sociais, não se configurando apenas em trabalhadores ou
desempregados, mas essencialmente uma marginalização e exclusão de pessoas
e grupos específicos excluídos socialmente.

• Citamos inúmeras e novas expressões sociais contemporâneas e discutimos


que o Serviço Social enquanto uma profissão atribuída de um conjunto teórico-
metodológico, técnico-operativo e ético-político, não pode deixar de aprofundar
cada vez mais o tema da complexidade, no atual contexto da mundialização da
economia.

• Discutiu-se a necessidade de que os profissionais precisam ter o sentido de


perceber, analisar, constatar e compreender a realidade social, para assim
poder enfrentar as inúmeras e multifacetadas expressões da questão social,
contribuindo assim para a construção de um projeto de igualdade e justiça
social.

• Conhecemos a estratégia atual da política nacional frente à questão social no


cenário contemporâneo, chamada de neodesenvolvimentista.

98
AUTOATIVIDADE

A mundialização da economia, o processo de globalização para manutenção


e desenvolvimento do capitalismo e o acirramento das expressões da questão
social são fatos evidentes e inevitáveis nas sociedades contemporâneas,
inclusive na realidade brasileira. Nesse sentido:

1 O que você compreendeu sobre o acirramento das expressões da questão


social? Que acirramento é esse?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

2 Qual é a diferença entre os termos liberalismo e neoliberalismo?


____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

99
100
UNIDADE 2 TÓPICO 2

A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS


EXPRESSÕES SOCIAIS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a nova institucionalidade brasileira frente às
novas expressões sociais, ou seja, aprofundaremos o significado e a abrangência
das políticas sociais e as políticas públicas do Estado brasileiro.

Abordaremos a história das políticas sociais de forma abrangente,


procurando demonstrar a evolução histórica da política social. Assim, devido a
diversas mudanças e transformações ocorridas na sociedade, vamos analisar e
compreender a relação entre o Estado e a sociedade frente à questão social no que
diz respeito aos padrões de proteção social.

Analisaremos a necessidade e a função das políticas públicas,


principalmente das políticas sociais e o desenvolvimento dos sistemas de proteção
social no que diz respeito à ampliação das políticas sociais brasileiras em sua nova
institucionalidade, especificamente, a de assistência social.

2 ORIGEM, SIGNIFICADO E ABRANGÊNCIA DAS POLÍTICAS


PÚBLICAS E DAS POLÍTICAS SOCIAIS
Podemos perceber que a evolução da política social é formada a partir
dos momentos históricos nos diversos contextos socioculturais, sociopolíticos
e econômicos, assim sempre existiram articulações, interações e relações entre o
Estado e a sociedade, algumas vezes de forma amena e, muitas vezes, de forma
antagônica e conflituosa.

Referindo-se à Antiguidade, com a queda do Império Romano, um novo


modo de produção se instituiu e dominou a Europa no período medieval, que era
caracterizado como feudalismo. Era o novo sistema oficial da época, tendo um
novo império que se tornou absoluto e incontestável por um longo período sob
o comando dogmático da Igreja Católica Apostólica Romana. Assim, no que diz
respeito à proteção ou algo relevante no plano dos direitos humanos, pouco se
efetivou, a não ser algumas ações filantrópicas e caritativas.

A ideia de direitos humanos há muito tempo já existia na Europa, porém


costuma-se afirmar que foi com o Rei John Landless, da Inglaterra, e sua

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Magna Carta (Great Charter, 1215), que surgiu o embrião do que seriam
os Direitos Humanos. Não que esse documento tratasse especificamente
disso, mas havia menções à liberdade da Igreja em relação ao Estado
(embora de maneira nenhuma consagrasse a tolerância religiosa)
e à igualdade do cidadão perante a lei. Com efeito, o parágrafo 39
declarava: “Nenhum homem livre poderá ser preso, detido, privado de
seus bens, posto fora da lei ou exilado sem julgamento de seus pares ou
por disposição da lei”. (BRAYNER; LONGO; PEREIRA, 2014).

Podemos enfatizar que no decorrer da história, algumas declarações e
constituições foram instituídas no período de 1776 a 1789, com o intuito de garantir
alguns direitos humanos essenciais, como, por exemplo, a Declaração de Direitos
de Virgínia, a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a
Constituição Norte-Americana, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
e a Constituição Francesa.

A Declaração de Virgínia, feita em 16/06/1776, proclamou o direito à


vida, à liberdade e à propriedade. Outros direitos humanos foram expressos
na declaração, como o princípio da legalidade, a liberdade de imprensa e a
liberdade religiosa.
A Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 04/07/1776,
teve como tônica preponderante a limitação do poder estatal e a valorização
da liberdade individual, É um documento de inestimável valor histórico, que
influenciou mesmo a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França,
1789) e inspirou e serviu de exemplo às outras colônias do continente americano.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão foi promulgada
em 26/08/1789 e a Constituição Francesa de 03/09/1791 foi a primeira a conter
uma enumeração dos direitos individuais e suas garantias. Porém, a doutrina
política contida nessas declarações achava-se estreitamente ligada ao processo
econômico e às suas consequências sociais.
Não obstante, já estava em curso o processo inexorável de difusão
das declarações de direitos pelo continente europeu, através das diversas
constituições escritas que começaram a surgir a partir daquele momento, como
a Constituição da República Germânica de Weimar (1919-1933) (BRAYNER;
LONGO; PEREIRA, 2014).

Diante do fervor e desenvolvimento do capitalismo em sua fase inicial,


cruel e desenfreada, e da crise econômica no mundo nos séculos XIII e XIX, a Igreja
se sentiu na obrigação de fazer algo. Assim, foram criadas várias encíclicas papais,
de caráter social. Uma foi a Encíclica Inscrutabili dei Consilio, sobre os males da
sociedade moderna, divulgada em 21 de abril de 1878, a Rerum Novarum, divulgada
em 15 de maio de 1891, a outra, chamada Quadragesimo Anno, divulgada em 15 de
maio de 1931, a Mater et Magistra, publicada em 15 de maio de 1961, a Populorum
Progressio (1967), que enfatizavam os problemas diversos e a exploração que os
trabalhadores (homens, mulheres, adolescentes, crianças) enfrentavam em sua
época.

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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

Essas encíclicas sociais, cartas sociais, procuravam sugerir algumas possíveis


soluções para os diversos problemas sociais. Nesse intuito, várias outras encíclicas
foram criadas, segundo o Instituto Sapientia de Filosofia (2015). Podemos citar:

QUADRO 11 – ENCÍCLICAS SOCIAIS DA IGREJA CATÓLICA

Carta encíclica Inscrutabili dei consilio, SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE


MODERNA, 21 de abril de 1878, Papa Leão XIII.
Carta Encíclica Rerum Novarum, SOBRE A CONDIÇÃO DOS OPERÁRIOS, 15
de maio de 1891, Papa Leão XIII.
Quadragesimo Anno, 40º aniversário da Rerum Novarum, SOBRE A CONDIÇÃO
DOS OPERÁRIOS, 15 de maio de 1931, Papa Pio XI.
Carta Encíclica Quemadmodum, SOBRE A ASSISTÊNCIA ÀS CRIANÇAS
INDIGENTES, 6 de novembro de 1946, Papa Pio XII.
Encíclica Mater et Magister, SOBRE A QUESTÃO SOCIAL À LUZ DA
DOUTRINA CRISTÃ, 15 de maio de 1961, Papa João XXIII.
Encíclica Populorum Progressio, SOBRE O DESENVOLVIMENTO DOS POVOS
E A QUESTÃO SOCIAL, 26 de março de 1967, Papa Paulo VI.
Encíclica Laborem Exercens, SOBRE O TRABALHO HUMANO no 90° aniversário
da Rerum Novarum, 14 de setembro de 1981, João Paulo II.
Encíclica Centesimus Annus, SOBRE O TRABALHO HUMANO – o centenário
da Rerum Novarum, 1º de maio de 1991, João Paulo II.
Encíclica CARITAS IN VERITATE, SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO
INTEGRAL NA CARIDADE E NA VERDADE, 29 de junho de 2009, Papa Bento
XVI.
FONTE: Adaptado de: Instituto Sapientia de Filosofia. Encíclicas papais. 2015. Disponível em:
<http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=127
9:enciclicas-papais&catid=98:geral>. Acesso em: 25 jan. 2015.

Interessante ressaltar que várias encíclicas papais – encíclicas sociais –


possuem a mesma proposição e fundamento: de que as nações mais desenvolvidas
auxiliem as outras menos desenvolvidas, assim elas se referem ao desenvolvimento
dos povos e aos seus problemas sociais, focando a questão social e a preocupação
com a solução dos problemas sociais na sociedade.

Assim, nas sociedades pré-capitalistas, as forças de mercado e da economia


não eram privilegiadas, porém algumas responsabilidades sociais eram prioritárias,
no sentido de manter a ordem social e punir ações de vagabundagem. Behring e
Boschetti (2011, p. 47) enfatizam que: “Ao lado da caridade privada e de ações
filantrópicas, algumas iniciativas pontuais com características assistenciais são
identificadas como protoformas de políticas sociais”.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Assim, sobre as origens das políticas sociais, podemos enfatizar que algumas
iniciativas pontuais com características assistenciais são identificadas como protoformas de
políticas sociais. Podemos entender como protoformas as instituições sociais com origem
confessional, de ajuda, caridade, solidariedade e práticas de filantropia segundo a ética cristã.

Também podemos enfatizar que várias leis inglesas foram criadas,


anteriormente à Revolução Industrial, porém não tinham caráter protetor e
sim coercitivo e punitivo. Eram regulamentações para fazer com que o pobre
aceitasse qualquer trabalho, o princípio categórico destas leis era obrigar todos a
trabalharem, bem como proibir a mendicância daqueles que podiam fazer alguma
atividade laborativa. Entre essas leis, Behring e Boschetti (2011, p. 48) citam:

Estatuto dos Trabalhadores, de 1349.


Estatuto dos Artesãos (Artífices), de 1563.
Leis dos pobres elisabetanas, que se sucederam entre 1531 e 1601.
Lei de Domicílio (Settlement Act), de 1662.
Speenhamland Act, de 1795.
Lei Revisora das Leis dos Pobres, ou Nova Lei dos Pobres (Poor Law
Amendment), de 1834.

Percebemos que algumas ações governamentais com objetivos voltados


para a proteção social começaram a ser produzidas de acordo com a consolidação
dos modernos Estados nacionais, no Ocidente Europeu, lá pelos séculos XVI e
XVII.

Período este de contexto de transição para o capitalismo, de expansão


do comércio e de valorização das cidades, onde a pobreza se tornava visível,
incômoda, e passava a ser reconhecida como um risco social. Assim, a primeira
fase da evolução da política social consistiu-se nas chamadas Leis dos Pobres,
bastante disseminadas pelos países europeus.

As Leis dos Pobres eram ordenações de Estado que faziam compulsória


a “caridade”, implicando a criação de um fundo público – o imposto
dos pobres, em geral recolhido pelas municipalidades – e que tinham
por finalidade tirar os pobres das ruas. Vigoraram em grande parte
dos países europeus entre os séculos XVII e XIX, e a despeito de
terem apresentado variações expressivas no decorrer deste período,
se caracterizaram pela natureza caritativa, pela forma de assistência
pública e pelo alvo a que se destinavam: a pobreza.
A pobreza, nesta fase, é o risco social predominante. O Estado age para
proteger a sociedade da ameaça representada pela pobreza (à qual se
associam a indigência, a doença, o furto, a degradação dos costumes) e
para proteger os pobres. (VIANNA, 2002, p. 3).

A primeira fase da evolução da política social consistiu-se nas chamadas


Leis dos Pobres na Europa, assim a primeira concretização de proteção social foi
instituída em 1601, na Inglaterra, com a edição da Lei dos pobres: “Poor Relief Act”.
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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

Com o Estado Absolutista, no período da Idade Média, houve a primeira


lei que versou sobre a assistência social, que ficou conhecida como Law of
Poor (Lei dos Pobres), ação de assistência aos pobres em 1601, na Inglaterra,
durante o reinado da rainha Isabel. Tratou da obrigação das autoridades locais
proporcionarem auxílio no caso de enfermidade, invalidez e desemprego e teve
como princípio a responsabilidade da comunidade pela assistência pública,
surgindo a obrigatoriedade de contribuições para fins sociais (DEZOTTI; MARTA,
2011).

Então, na Inglaterra, com a promulgação da Lei dos Pobres, que instituía


um aparato oficial centrado nas paróquias, destinava-se a amparar carentes,
necessitados e trabalhadores pobres. Assim, a primeira concretização de proteção
social foi instituída em 1601, na Inglaterra, com a edição da Lei “Poor Relief Act”
(Ato de Auxílio aos Pobres), a qual prioriza a contribuição obrigatória para fins
sociais.

Sobre a noção de proteção, bem como sobre os Direitos Humanos, Brayner,


Longo e Pereira (2014) descrevem que,

Com a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e


os ideais iluministas, o processo de formação dos Direitos Humanos
tomaria novo fôlego e sua disseminação pelo mundo já não poderia
mais ser contida. A noção de proteção a todos os cidadãos, com a
Revolução Francesa, no século XVIII, especificamente a partir de 1789,
influenciou e muito direitos essenciais ao ser humano, tais como a
liberdade, nacionalidade e fraternidade, como a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão.

Na Europa, até pelo início das diversas transformações e revoluções, pela


própria transformação do mundo feudal para o industrial, em âmbitos muito
gerais, vamos destacar algumas dimensões e aspectos históricos do Estado, e suas
ações governamentais voltadas para a proteção social e posteriormente para a
efetivação da seguridade social.

UNI

A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, emergindo aproximadamente


em 1775, se espalhou por toda a Europa. Assim, concomitantemente com o crescimento
econômico, crescia também o pauperismo, um número exorbitante de situações desumanas
e degradantes às quais os trabalhadores eram submetidos na época.

Em todo o continente europeu ocorreram inúmeras manifestações populares


e diversas revoluções. Em vários países, muitos movimentos de trabalhadores
começaram a eclodir, pois começaram a perceber a dominação e exploração e
começaram a negar a manutenção do poder burguês, a criticar a crise econômica,

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

a exigir melhores condições sociais, econômicas e políticas, a favor da democracia


e cidadania.

Nessa época, o alemão Karl Marx (1818-1883) criticava severamente o modo


de produção capitalista. Não publicou nenhuma carta nem encíclica, mas sim um
manifesto, chegando a publicar uma obra chamada “O Manifesto Comunista”.
Visto que era ateu, também criticava o poder institucionalizado da Igreja, enfatizava
que a religião era o ópio do povo, pois as pessoas, ao invés de lutarem pelos seus
direitos, acabavam se acomodando e se conformando pela doutrina da Igreja e
seus mandamentos.
O Manifesto Comunista foi escrito em uma época em que o capitalismo
desenfreado já fazia suas vítimas: homens, mulheres e mesmo crianças,
que trabalhavam até 18 horas por dia em condições subumanas. Tal
documento falava em liberdade e igualdade para o trabalhador, e
na união da classe trabalhadora contra os abusos do capitalismo:
“Trabalhadores do mundo, uni-vos”, clamava Marx. No manifesto,
Marx afirma que não há liberdade sem igualdade econômica (BRAYNER;
LONGO; PEREIRA, 2014).  

Nesse interim, na Alemanha se implantou o primeiro regime de seguros


sociais, isso em 1883, por Otto von Bismark, assim que o Estado do Bem-Estar Social
(Welfare State) foi originado, tendo como características setores sociais de grande
importância na época, tais como a previdência, a assistência social e a educação.
Assim, os cidadãos passaram a ter acesso a esses direitos sociais. “O primeiro
seguro social de que se tem notícia foi instituído por Bismarck, na Alemanha, nos
anos 1880”. (VIANNA, 2002, p. 4).
Historicamente, a questão social tem a ver com o surgimento da classe
operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol
de direitos trabalhistas. Foram as lutas sociais que romperam o domínio
privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão
social para a esfera pública, exigindo a interferência do Estado para o
reconhecimento e a legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais
envolvidos (IAMAMOTO, 2001, p.17).

Já em 1889 foi criada uma lei que enfatizava o seguro invalidez e o seguro
velhice, custeados pelos trabalhadores, empregadores e Estado. Assim, podemos
perceber, em termos gerais, que o nascimento da previdência social se deu na
Alemanha, onde se processava uma transição entre o Estado Liberal para o Estado
do Bem-Estar Social. Também na Grã-Bretanha, em 1864, foram criadas algumas
legislações trabalhistas, sendo adotado, posteriormente, entre 1905 e 1911, um
sistema progressivo de proteção nacional (PEREIRA, 2001).
Foi assim que o sistema previdenciário alemão, implantado entre
1883 e 1889, pelo chanceler Otto von Bismarck, representou a primeira
intervenção orgânica do Estado nas relações de trabalho industrial.
Foi assim, também, que na Grã-Bretanha surgiu em, 1864, a legislação
fabril e, entre 1905 e 1911, foi adotado um sistema de seguro nacional
progressivo. (PEREIRA, 2001, p. 31).

Assim, em busca de uma alternativa para o liberalismo, nasceu o Estado


capitalista regulador ou essencialmente intervencionista que, no século XX,
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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

recebeu o título de Estado de Bem-Estar ou Estado Social, garantindo, financiando


e administrando seguros sociais, favorecendo gradativamente aos trabalhadores
direitos sociais, rede previdenciária, saúde e educação públicas e outras atividades
afins diversas.

Vamos perceber que a partir do modelo de Bismark, a maioria dos países


ocidentais passou a adotar medidas de proteção social e de seguridade social,
técnicas protetivas, aos que delas necessitavam, principalmente aos trabalhadores,
atores sociais importantes para o desenvolvimento capitalista como um todo. De
modo geral, o modelo de seguro social difundiu-se por toda a Europa, visto que
na medida em que a democracia avançava, ampliavam-se também os direitos
sociais, tais como o direito ao voto, a legalização das centrais sindicais, chegada
dos partidos trabalhistas, participação política, entre outros.

Vianna (2002, p. 3) cita que “A pobreza, nesta fase, é o risco social


predominante. O Estado age para proteger a sociedade da ameaça representada
pela pobreza (à qual se associam a indigência, a doença, o furto, a degradação dos
costumes) e para proteger os pobres”.

Como novo modelo dominante de proteção social, surgiram os seguros


sociais, em fins do século XIX. É uma segunda fase da política social que se inicia,
frente aos riscos sociais associados ao trabalho assalariado e aos direitos sociais
não garantidos dos trabalhadores.
No novo cenário, de capitalismo industrial consolidado, aparecem
novos atores – sindicatos, partidos políticos – e arranjos institucionais
capazes de incluir, na agenda pública, demandas de setores emergentes
no mundo do trabalho. Para a sociedade, mais que a pobreza, a
ameaça agora está na recusa ao assalariamento. Recusa que se expressa
passivamente no absenteísmo (em razão de doença, de acidente, de
maternidade, ou sem razão nenhuma) e ativamente, de forma anárquica
como nos ataques e quebradeiras promovidos por trabalhadores
ingleses em várias ocasiões, ou de forma organizada pelos sindicatos
operários, crescentemente contestadores do próprio sistema capitalista.
(VIANNA, 2002, p. 3-4).

Muitas organizações surgiram e foram se mobilizando em torno da questão


do trabalho no capitalismo industrial. Conforme as adversidades a que todos os
assalariados eram submetidos, surgiam concomitantemente inúmeros protestos
de novos atores, sujeitos sociais e instituições consolidadas a favor da classe
proletariada.

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Caracteriza-se a segunda fase da evolução das políticas sociais no sentido da


garantia, financiamento e administração de seguros sociais aos trabalhadores.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Inúmeras transformações ocorreram ao longo da história, importantes


acontecimentos econômicos e políticos contribuíram para a efetivação do Estado
Social, crescimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, a vitória do socialismo
na antiga União Soviética, conflitos econômicos, as duas guerras mundiais, a
grande depressão de 1929, o aumento assustador do desemprego, dentre outros
acontecimentos, se configuraram como um novo contexto sociopolítico. Assim
surge a terceira fase da política social no Ocidente, onde a concepção de seguro
é substituída pela de seguridade social, universalista, tendo como prioridade a
cidadania (VIANNA, 2002).
A crise dos anos 20, transformações ocorridas no padrão de produção
capitalista, a vitória do socialismo na URSS, a valorização do
planejamento na própria teoria econômica, e duas guerras mundiais
compõem o pano de fundo de um novo contexto, no qual emerge a
terceira fase da política social no Ocidente desenvolvido. Nesta fase,
a ideia de seguro é substituída pela de seguridade social, a natureza
da política passa a ser universalista e seu alvo, a cidadania. Sistemas
públicos, estatais ou estatalmente regulados, se tornam os produtores
de políticas destinadas a garantir amplos direitos sociais a todos os
cidadãos, [...]. (VIANNA, 2002, p. 5).

Configura-se a partir deste novo contexto a criação e efetivação de políticas


destinadas a garantir os amplos direitos sociais a todos os cidadãos, tendo como
princípio a universalidade, distanciando de intervenções caritativas ou repressoras,
mas sim de políticas públicas visando à efetivação e garantia de direitos sociais.

Entendemos que a universalidade compreende os direitos e garantias


fundamentais vinculados também ao princípio da liberdade e da dignidade da
pessoa humana, que foram reivindicados pela classe operária a partir de sua
imersão no cenário político da sociedade.
A ascensão da proteção social à condição de direito do cidadão e dever
do Estado representou, inegavelmente, um aperfeiçoamento político-
institucional de monta no âmbito da regulação estatal; mas tal ascensão
não se deu por cima ou por fora dos conflitos de classe. Nesses conflitos,
ganha proeminência a histórica participação dos trabalhadores em
sua luta contra o despotismo do capital e o poder tendencialmente
concentrador do Estado (PEREIRA, 2001, p. 33).

Compreende-se que a efetivação e ampliação da proteção social à condição


de direito social não se efetivou de forma simples e pacífica, mas se consolidou
pela postura crítica e política dos trabalhadores, do envolvimento dos mesmos em
conflitos e lutas travadas contra o sistema capitalista opressor e explorador.

UNI

Assim surge a terceira fase da política social no Ocidente, onde a concepção


de seguro é substituída pela de seguridade social em âmbito universal, concedida a todos os
cidadãos.

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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

Referindo-se às origens da política social e seu processo histórico, Vianna


(2002) descreve que ocorreu uma evolução da política social, destacando o peso
das dimensões histórica e política, assim podem ser identificadas três grandes
fases da política social, sob o ponto de vista histórico:

QUADRO 12 – EVOLUÇÃO DA POLÍTICA SOCIAL

1ª FASE – para os pobres


Essencialmente, de proteção frente à ameaça representada pela pobreza e suas
consequências.
2ª FASE – para os trabalhadores
Especificamente, de seguros sociais relacionados ao trabalho assalariado.
3ª FASE – para todos os cidadãos

Racionalmente, a concepção de seguro é substituída pela de seguridade social de


modo universalista, tendo prioridade a cidadania.

FONTE: Adaptado de: VIANNA, Maria Lucia Teixeira Werneck. Em torno do conceito de
política social: notas introdutórias. 2002. Disponível em: <http://www.enap.gov.br/downloads/
ec43ea4fMariaLucia1.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2014.

Cabe ressaltar que a questão social está intrinsecamente vinculada com a


história do surgimento e desenvolvimento do capitalismo, bem como suas crises
e chamadas depressões econômicas, visto o desenrolar dos acontecimentos que
mudaram o curso da história da humanidade. Por isso precisamos conhecer o
passado para compreender e refletir sobre aspectos do cenário contemporâneo
mundial e da nossa própria realidade.

Embora se tenham criado e efetivado políticas destinadas a garantir os


amplos direitos sociais a todos os cidadãos, vamos perceber que as primeiras ações
de políticas sociais ocorreram na relação de continuidade entre o Estado liberal e o
Estado social, assim ambos terão um ponto em comum, que é o reconhecimento de
direitos sociais sem prejudicar a lógica do sistema capitalista, que é a de avançar
em todas as direções na obtenção do lucro e de sua manutenção.

UNI

Nesse sentido, podemos enfatizar que a questão social representa, simboliza,


retrata o conjunto das expressões sociais, das desigualdades sociais da sociedade,
que se desenvolveram concomitantemente com o capitalismo, fazendo com que viesse a
formular diversas políticas sociais.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A preocupação com o termo questão social foi analisada e aprofundada ao


redor das transformações econômicas, políticas e sociais que ocorreram nos séculos
XIX e XX, provenientes do processo de industrialização diante das demandas do
capitalismo. Verifica-se que não houve uma ruptura radical entre o Estado liberal
(século XIX) e o Estado social capitalista (século XX), mas essencialmente uma
metamorfose estatal, uma nova visão de Estado, pressionado por mudanças,
movimentos diversos, pressões, revoluções, lutas das classes trabalhadoras devido
à sua consciência política.

Nesse sentido, Behring e Boschetti (2011, p. 51-52) também descrevem que:

As políticas sociais e a formatação de padrões de proteção social são


desdobramentos e até mesmo respostas e formas de enfrentamento –
geral, setorializadas e fragmentadas – às expressões multifacetadas da
questão social no capitalismo, cujo fundamento se encontra nas relações
de exploração do capital sobre o trabalho. A questão social se expressa
em suas refrações (NETTO, 1992) e, por outro lado, os sujeitos históricos
engendram formas de seu enfrentamento.

Podemos enfatizar que o termo política é muito abrangente e não está


dissociado da economia, do Estado, do poder, do controle, da cultura, da
sociedade, do governo nacional, das autoridades locais, regionais e internacionais,
das organizações ou instituições diversas, sejam elas, empresas, indústrias, igrejas,
sindicatos, associações, partidos, família, dentre outras instituições sociais.

A política: “São guias para a ação, são regras estabelecidas para governar
funções e assegurar que elas sejam desempenhadas de acordo com os objetivos
desejados”. (CHIAVENATO, 2003 apud DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 84).

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A política sendo uma questão social, um tema e uma perspectiva de sociedade


que exige discussão, análise e interpretação, diz respeito ao desenvolvimento das sociedades, a
um conjunto de aspectos que estão articulados ou deveriam estar direcionadas para promover
a igualdade e a justiça social.

Etimologicamente falando, a origem da palavra político, conforme o


Dicionário Etimológico (2014): “Numa sociedade como a grega, em que a vida
pública interessava a todos os cidadãos, chamavam de politikos aquele que se
dedicava ao governo da polis ("a cidade, o Estado"), colocando o bem comum acima
de seus interesses individuais”.

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TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

UNI

Tanto é necessário compreender a dimensão política da questão social, quanto


entender a política social em si, enquanto categoria pública de interesse de todos os cidadãos.

A política, no sentido de colocar o bem comum coletivo acima dos


interesses individuais, nos faz refletir sobre o quanto, nas sociedades atuais, o
termo na prática está distorcido. Basta olhar para a nossa sociedade brasileira e
perceber as inúmeras expressões sociais da política governamental. Como, por
exemplo, uma delas, a corrupção, visível, aparentando ser um mal social quase
intransponível, bem como dos inúmeros efeitos desastrosos, socialmente falando,
das multifacetadas expressões sociais, que as políticas do capital financeiro com o
processo de globalização promovem.

Não se pode refletir sobre o conceito de desenvolvimento em sociedades


democráticas sem entender a dimensão necessariamente política da
questão social. Portanto, assumimos que o processo de desenvolvimento
confronta-se com a reprodução da questão social e as formas de luta
e resistência da cidadania organizada. Essa é sua expressão mais
crítica. Quer se trate dos mecanismos da redistribuição da renda, dos
regimes de acumulação, das condições de inserção precarizadas dos
trabalhadores no mercado de trabalho capitalista, dos níveis rebaixados
de remuneração do valor do trabalho, das condições de proteção das
famílias trabalhadoras, da seguridade alimentar, econômica, social
e civil, ou do estatuto das políticas sociais de proteção e assistência,
das dimensões da pobreza e das desigualdades de renda ou das
desigualdades e diversidades socioculturais implícitas nas relações de
gênero ou de geração e nas diversidades étnicas e raciais –, todos esses
aspectos estão articulados com as opções de desenvolvimento e justiça
social e expressam a dimensão eminentemente política e crítica das
contradições do desenvolvimento entre as classes sociais, os direitos da
cidadania sobre a reprodução e os bens públicos (IVO, 2013, p. 13).

É necessário compreendermos a dimensão política da questão social, visto


a amplitude que proporciona. Diversos aspectos devem ser revisitados, analisados,
discutidos, tais como os mecanismos utilizados pelo Estado na redistribuição
da renda, da forma como o sistema capitalista se organiza para não deixar de
acumular e explorar, das condições precárias que envolvem o mundo do trabalho,
especificamente do assalariado e não assalariado, das condições de proteção social
de pessoas e famílias em situações de vulnerabilidade social, das políticas sociais,
das desigualdades, das diversidades, das condições de discriminação e exclusão
social, dentre outras inúmeras feições.

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UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

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Existe diferença entre política pública e política social? Qual é o significado de cada uma?

Podemos afirmar que a política pública é ampla e pode ser enfatizada de


modo geral no âmbito das relações de poder, tanto na tomada de decisões quanto
na resolução de conflitos na sociedade.

Segundo Teixeira (2002, p. 2):


“Políticas públicas” são diretrizes, princípios norteadores de ação do
poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder
público e sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado.
São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em
documentos (leis, programas, linhas de financiamentos) que orientam
ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem
sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações
de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também
as “não ações”, as omissões, como formas de manifestação de políticas,
pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos.

Percebemos que as políticas públicas são todas as ações desencadeadas


pelo Estado, dizem respeito a tudo o que o Estado já realizou, realiza ou deixa
de realizar. Nessa perspectiva de análise de compreensão, podem oportunizar a
melhoria da qualidade de vida na sociedade, garantindo universalmente os direitos
sociais ou favorecer setores dominantes da sociedade capitalista, aumentando
ainda mais as expressões da questão social, a desigualdade social e a pobreza,
favorecendo a concentração de capital e renda, exploração e dominação pelos
grandes monopólios.
No âmbito político, é imprescindível compreender o papel do Estado e
sua relação com os interesses das classes sociais, sobretudo na condução
das políticas econômicas e social, de maneira a identificar se dá mais
ênfase aos investimentos sociais ou privilegia políticas econômicas;
se atua na formulação, regulação e ampliação (ou não) de direitos
sociais; se possui autonomia nacional na definição das modalidades e
abrangência das políticas sociais ou segue imperativos dos organismos
internacionais; se fortalece e respeita a autonomia dos movimentos
sociais; se a formulação e implementação de direitos favorece os
trabalhadores ou os empregadores. Enfim, deve-se avaliar o caráter e as
tendências da ação estatal e identificar interesses que se beneficiam de
suas decisões e ações (BEHRING; BOSCHETTI, 2011, p. 44).

Referente às políticas públicas, podemos analisar que todos os direitos


sociais que estão descritos na Constituição Federal de 1988 (MDS, 2015) se
configuraram como políticas públicas, amplas. Podemos analisar no artigo 6º os
direitos sociais especificados na Carta Magna:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à

112
TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma


desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64,
2010).

Assim, analisando os direitos sociais e as políticas públicas, podemos citar


algumas políticas públicas tendo como base e fundamento os direitos descritos
anteriormente, como por exemplo a:

Política Nacional de Educação


Política Nacional de Cultura
Política Nacional de Direitos Humanos
Política Nacional de Seguridade Social
Política Nacional de Saúde
Política Nacional de Previdência Social
Política Nacional de Assistência Social
Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho
Política Nacional de Habitação
Política Nacional de Esporte

Entre outras diversas políticas nacionais, conforme cada ministério e


secretarias com status de ministério.

As políticas públicas são várias, conforme cada área de abrangência. Por


exemplo, a política econômica se difere da política social, ambas são públicas,
porém uma está focada nas finanças públicas, nos arranjos produtivos, nos setores
do comércio e da indústria, no desenvolvimento da economia em si, e a outra
focada nas áreas especificadas acima, tais como na assistência social, educação,
saúde, habitação, dentre outras diversas voltadas para o social.

Agora, enfatizando as políticas sociais, Coelho (2012, p. 164) considera as


políticas sociais como “Programas e ações do governo (central, regional, local) com
repercussão na vida das populações em domínios como educação, saúde, proteção
social, emprego, habitação, transportes, ambiente, entre outros”.

As políticas sociais, de modo geral, são modalidades da política pública, são


necessárias para a concretização da cidadania. Assim, as políticas sociais no sentido
direcionado à proteção social são criadas, formuladas, reguladas, ampliadas,
revistas, renovadas, transformadas e se efetivam no seio da sociedade, garantindo
a inclusão social e a diminuição da desigualdade social, assim percebemos que as
políticas sociais de proteção emergiram das políticas públicas.
Ora, as Ciências Sociais – que estudam as políticas sociais – configuram
um campo do conhecimento que incide sobre tal dinâmica e é por
ela balizado. E que, portanto, se constroem e definem seus conceitos
mediante mecanismos semelhantes. Assim, o entendimento de que
política pública é ação governamental com objetivos específicos
consiste numa convenção acadêmica. Assim, também, constitui
convenção acadêmica, expressa pela literatura especializada, a ideia
de que política social é ação governamental com objetivos específicos
relacionados com a proteção social. (VIANNA, 2002, p. 2).

113
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Dessa forma, vamos compreendendo que tanto as políticas públicas quanto


as políticas sociais são ações governamentais com objetivos específicos, porém
podemos analisar que as políticas públicas são amplas e as políticas sociais são
mais específicas (de proteção social), desenvolvidas a partir de projetos, programas
e serviços institucionalizados, visto que em vários municípios no Brasil, muitas
políticas sociais ainda não foram implementadas.

O Estado e suas instituições possuem um papel crucial na sociedade:


atender a duas demandas, as econômicas e as sociais, por isso que não podemos
dissociar a política pública fora da relação entre Estado e sociedade.

Assim, podemos entender as políticas públicas como planos e medidas


governamentais tendo como objetivo a garantia dos direitos sociais, bem como, o
enfrentamento das expressões da questão social por meio das políticas sociais de
proteção social.

Sob uma perspectiva crítica, as políticas sociais e as políticas públicas no


capitalismo monopolista têm como função administrar as expressões da “questão
social” de forma a atender às demandas da ordem vigente e amenizar os conflitos
sociais. Netto (1996, apud PIANA, 2009, p. 36-37) descreve sob esta ótica:
Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista
procura administrar as expressões da “questão social” de forma a
atender às demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão
que recebe de categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas
de consenso variáveis, mas operantes [...] a funcionalidade essencial
da política social do Estado burguês no capitalismo monopolista se
expressa nos processos referentes à preservação e ao controle da força de
trabalho ocupada, mediante a regulamentação das relações capitalistas/
trabalhadoras [...].

No sentido de consensualidade, conformação e administração das


expressões da questão social, bem como do aumento e surgimento de novas
expressões sociais, podemos contatar que a nova institucionalidade de proteção
social no Brasil se efetivou após a Constituição Federal de 1988.

3 A NOVA INSTITUCIONALIDADE DE PROTEÇÃO SOCIAL NO


BRASIL
Assim, a Carta Magna brasileira, no que diz respeito à cidadania, é uma
nova ordem constitucional destinada a assegurar o exercício dos direitos sociais
como um de seus valores supremos, fazendo emergir a descentralização político-
administrativa e a participação popular por meio dos diversos conselhos sociais.

Como efetivar plenamente, como promover o desenvolvimento econômico


e o desenvolvimento social concomitantemente? Ou será que a proposta é
desenvolver o desenvolvimento social para o crescimento econômico? Ou
será o contrário? Como defender o meio ambiente nesse capitalismo acirrado

114
TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

internacionalmente? Como melhorar a qualidade de vida? Como erradicar a


pobreza no Brasil, sendo que ela é histórica e presente em suas diversificadas
formas? Como promover a igualdade no capitalismo onde a desigualdade se
prolifera de modos diferenciados, sendo a exploração o fator primordial para sua
perpetuação? Estes são questionamentos que não são simples de responder frente
à complexidade que vivemos na sociedade contemporânea.

Atualmente, no Brasil, para tentar organizar a forma de condução do


Estado, conforme o Portal do Planalto (2014), existem inúmeros ministérios e
secretarias com status de ministério, como podemos constatar atualmente o total
somam 41 órgãos do governo (grifamos aqueles que estão mais relacionados com
a área social). Que são:

Advocacia-Geral da União – AGU


Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA
Banco Central – BC
Casa Civil – CC
Cidades – Mcidades
Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI
Comunicações – MC
Controladoria-Geral da União – CGU
Cultura – MinC
Defesa – MD
Desenvolvimento Agrário – MDA
Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC
Educação – MEC
Esporte – ME
Fazenda – MF
Gabinete de Segurança Institucional – GSI
Integração Nacional – MI
Justiça – MJ
Meio Ambiente – MMA
Minas e Energia – MME
Orçamento da Presidência da República
Orçamento total dos ministérios
Pesca e Aquicultura – MPA
Planejamento, Orçamento e Gestão – MPOG
Previdência Social – MPS
Relações Exteriores – MRE
Saúde – MS
Secretaria da Micro e Pequena Empresa – SMPE
Secretaria de Assuntos Estratégicos – SAE
Secretaria de Aviação Civil – ASC
Secretaria de Comunicação Social – SeCom
Secretaria de Direitos Humanos – SDH
Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM

115
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Secretaria de Portos – SEP


Secretaria de Relações Institucionais – SRI
Secretaria Geral da Presidência – SG

Secretarias com status de ministério (ligadas à Presidência da República)


Trabalho e Emprego – TEM
Transportes – MT
Turismo – MTur

Bem, com a intenção de alcançar objetivos, o governo cria e recria ministérios,


cria novos ministérios e novas secretarias, cria e recria políticas públicas, cria e
amplia novas políticas sociais, para problemas antigos e novas expressões da
questão social.

LEITURA COMPLEMENTAR

CONTRADIÇÕES DA ASSISTÊNCIA SOCIAL NO GOVERNO


“NEODESENVOLVIMENTISTA” E SUAS FUNCIONALIDADES AO
CAPITAL

 Sheyla Suely de Souza Silva

O “neodesenvolvimentismo” brasileiro: sua proposta e sua não concreção


Tem sido recorrente a interpretação de que, no Brasil, a partir do
segundo mandato do presidente Lula, emerge um novo modelo de governo,
denominado  “neodesenvolvimentista”.  Castelo (2009) afirma que, para os seus
proponentes, embora esse modelo tenha suas raízes fincadas na matriz nacional-
desenvolvimentista,  deve hoje adensar um “sentido conceitual inovador”,
adequado às novas configurações do capitalismo contemporâneo, daí o prévio
adjetivo de “neo” ou “novo” desenvolvimentismo.

Na concepção de Sicsú (2008), esse modelo deve promover crescimento com


industrialização, por meio dos seguintes fundamentos: uma política monetária
lastreada por juros baixos; uma política cambial que administre uma taxa de
câmbio competitiva para a exportação de manufaturados e com regulação do fluxo
de capitais financeiros; uma política fiscal que cumpra o papel de controlar gastos
públicos com o objetivo de manter o pleno emprego, melhorar as condições de
vida da população e realizar uma arrecadação progressiva.

Para Pochmann (2010), são pressupostos desse “social-desenvolvimentismo”


um novo caminho que inclua justamente todos os brasileiros e que seja compatível com
o avanço tecnológico  da nação e a sustentabilidade ambiental.  Sua concreção requer
a “refundação do Estado”, através da constituição de novas institucionalidades
na sua relação com o mercado, tendo em vista garantir a inovação, por meio da
“concorrência combinada entre empreendedores e da maior regulação das grandes
corporações empresariais” (p. 179) e a ampliação do fundo público, por via de uma
maior tributação das grandes fortunas e propriedade intelectual e do avanço para

116
TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

um sistema tributário progressivo.

Na análise de Sallun Jr. (2009), o modelo de governo do segundo mandato


Lula se diferencia do neoliberalismo porque propõe um Estado forte, que intervém
em favor da economia; e se diferencia, também, do nacional-desenvolvimentismo
porque não almeja o mercado interno, mas, constitui-se uma economia competitiva
no plano internacional, por meio da atração das empresas transnacionais, do
estímulo às inovações tecnológicas e dos investimentos em infraestrutura. O papel
do Estado “neodesenvolvimentista” é regular e impulsionar de forma eficiente o
crescimento econômico com inclusão social.

Na crítica de Castelo (2007 e 2009), a corrente “neodesenvolvimentista”


nasceu na esteira da tradição nacional-desenvolvimentista que, malograda,
foi suplantada pelo neoliberalismo e, assim, a emergência do atual modelo de
governo se dá em meio a um quadro social adverso aos seus objetivos políticos,
cobrando-lhe, constantemente, a prestar contas ao nacional-desenvolvimentismo
– do qual é legatário – e enfrentar o neoliberalismo – com o qual é interlocutor.
O autor adverte que o termo “novo desenvolvimentismo” remonta à produção
teórica de Luiz Carlos Bresser Pereira, passando a compartilhar com os teóricos da
atual proposta vários ideais, no sentido de torná-lo adequado às configurações do
capitalismo contemporâneo.

Gonçalves (2011), outro crítico desse modelo “neodesenvolvimentista”,


atribui ao governo Lula a responsabilidade de ter implementado um “nacional-
desenvolvimentismo às avessas”, tendo em vista que operou, na esfera comercial,
uma desindustrialização, dessubstituição de importações, reprimarização e perda
de competitividade internacional; na esfera tecnológica, uma maior dependência
aos setores externos; na esfera produtiva, uma desnacionalização e maior
concentração do capital e, na financeira, teria estimulado um passivo externo
crescente e a dominação financeira.

Acerca do “neodesenvolvimentismo” brasileiro, é necessário desprender


nossas críticas em duas direções: primeiro à sua proposta original, encampada
por ideólogos como Sicsú e Pochmann e, segundo, ao modelo que efetivamente se
concretiza nas ações de governo. Em ambas as direções, esse modelo é caracterizado
pelo que Castelo (2009) denominou como uma “terceira via” que, inspirada na
ideologia social-liberalista das agências multilaterais, propõe conciliar, ao conjunto
de medidas macroeconômicas acima descritas, um conjunto de medidas sociais
que atuem sobre a questão social e promovam a equidade  e a justiça social.  Esta
terceira via encontra amplo respaldo no atual modelo da política de Assistência
Social brasileira.

Interlocuções da política de Assistência Social com o


“neodesenvolvimentismo” brasileiro

Um dos avanços que se registram no governo “neodesenvolvimentista” é a


expansão da política de Assistência Social e sua regulamentação, na perspectiva de
instituir o Sistema Único de Assistência Social (Suas). Partindo daquele pressuposto
117
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

já anunciado de que toda política social atende a demandas do trabalho, mas


é, também, funcional às requisições da expansão do capital, apreendemos,
na contraface dos recentes avanços da política de Assistência Social, as suas
funcionalidades às requisições da dinâmica de expansão do capital no Brasil.

O próprio marco regulatório recente da Assistência Social – não sendo imune


à dinâmica conflitiva capital/trabalho – incorpora conceitos sociais-liberalistas, os
quais visam à (re)naturalização da questão social, despolitizando-a, para blindá-
la de qualquer reflexão que permita o tensionamento de suas causas fundantes: a
expropriação e a exploração dos trabalhadores.

Neste sentido, Castelo (2009) questiona a assunção do conceito de equidade


na intervenção “neodesenvolvimentista”, posto que, herdado da tradição
liberal clássica, abraçado pelo Banco Mundial (BM) e mediado pela perspectiva
da inclusão,  permite o corte da focalização na extrema pobreza.  Na mesma
direção, a propositura do conceito de vulnerabilidade social remete à estratégia da
responsabilização dos indivíduos. Para Mendonça (2010), essa reconceituação
é oportuna no sentido de propor que o próprio indivíduo pobre construa
alternativas para a superação de sua condição, correspondendo às orientações
sociais-liberalistas do Banco Mundial.

Se, no caráter estrito da recente regulamentação da Assistência Social


brasileira, flagramos a sua impregnação pelo caldo político-ideológico social-
liberalista, na perspectiva da inserção do país na totalidade do capital, a
centralidade da Assistência Social é anunciada como uma das principais ações que
comporiam o novo modelo de governo, cujo fundamento é a inédita articulação
do binômio do crescimento econômico  com a redução da pobreza.  A adoção desse
binômio é, a nosso ver, também um substrato da apropriação que esse modelo
“neodesenvolvimentista” faz da matriz social-liberalista, sendo, inclusive, cunhado
por alguns autores de “modelo social-desenvolvimentista” (POCHMAN, 2010) e
que segue as recomendações das agências multilaterais. No caso do crescimento
econômico, as principais estratégias “neodesenvolvimentistas” privilegiam a
exportação de commodities e a atração das grandes empresas transnacionais e do
capital financeiro, por meio dos investimentos estrangeiros diretos (IEDs). Na
outra ponta, o desenvolvimento social seria alcançado por meio do fortalecimento
dos programas sociais, com destaque para os programas de transferência de renda
da política de Assistência Social.

No tocante ao crescimento econômico, o Brasil retoma a velha opção de


crescimento pela via das exportações de commodities,  com base nas “vantagens
comparativas” e marcada por baixa reinversão tecnológica, reprimarização
da economia e superexploração do trabalho, a qual é típica da produtividade
desse setor primário. No que diz respeito à atração de capitais, o estoque total
dos IEDs no país atingiu 30,8% do PIB e aqueles relativos à participação no
capital cresceram  256%,  entre 2005 e 2010, atingindo um montante equivalente
a 27% do PIB (Banco Central do Brasil, 2011). Segundo o Relatório de Inflação
do Banco Central do Brasil (2008), a remessa de lucros e dividendos ao exterior
acompanhou o crescimento de IEDs, tendo montantes comumente superiores aos
118
TÓPICO 2 | A NOVA INSTITUCIONALIDADE BRASILEIRA FRENTE ÀS EXPRESSÕES SOCIAIS

dos investimentos, no período 2001-2007. Enfim, essas duas principais estratégias


de crescimento econômico e de inserção no sistema internacional reincidem na
condição de dependência e heteronomia e, em verdade, obliteram a proposta de
desenvolvimento.

O “neodesenvolvimento” brasileiro promove um crescimento econômico


cujas maiores fatias são apropriadas pelas transnacionais e, em verdade,
dissimula o fenômeno do novo imperialismo, remetendo às sedes das empresas
transnacionalizadas as maiores fatias do crescimento interno, alcançado pela via
da dilapidação dos recursos naturais e da exploração do trabalho precário, sob um
dissimulado “sucesso” da justiça social, expressa em termos de aumento de postos
de trabalho e redução da desigualdade de renda, também entre o próprio trabalho.

Os organismos e as estatísticas oficiais afirmam que o Brasil gerou milhões de


postos de trabalho, fez emergir uma nova classe média e criou uma sólida economia
interna, resistente às crises internacionais. A reversão positiva de indicadores sociais
compõe o principal sustentáculo ideopolítico para o colaboracionismo em torno do
modelo “neodesenvolvimentista” e, com ele, da apropriação que o grande capital
internacional opera sobre o crescimento econômico (aparentemente) brasileiro, e
não é pequeno o papel da Assistência Social nesse processo.

Ainda quanto às transformações no âmbito do trabalho, cabe ressaltar,


a partir dos dados do Ipea (ago. 2011, fev. 2012) e da Anfip (2011), que o saldo
positivo do trabalho, desde 1995, se deu sempre nas faixas de rendimento mais
baixas, com expressiva predominância de postos com rendimentos de até 1,5
salário, e esses saldos positivos se deram em virtude da eliminação de postos de
trabalho em faixas salariais maiores. Em verdade, a geração de postos de trabalho
é dada em função e à custa da degradação da renda do trabalho em seu conjunto.
O fato é que, no atual momento histórico, o capital em crise distancia-se em marcha
acelerada das prerrogativas fordistas-keynesianas do pleno emprego e do bem-estar
e opta (por absoluta necessidade estrutural) por empregar mão de obra precária e
descartável, encontrando no Brasil um manancial na oferta desse perfil de trabalho
e amplos subsídios dos governos a essas subcontratações. Parte desses subsídios
apresenta-se na forma dos programas de transferência de renda.

Segundo a Anfip (2011), a importância desses programas na conjugação


das estatísticas positivas do trabalho não foi pequena e a Seguridade cumpriu um
papel importante ao financiar as políticas de reajustes reais para o salário mínimo, de
programas de benefícios assistenciais de prestação continuada, do Bolsa Família e
de outros benefícios de natureza assistencial. (ANFIP, 2011, p. 10; grifos nossos).
Vejamos, então melhor, como a preeminência dos programas de transferência
de renda incide sobre o crescimento econômico  e a justiça social  do governo
“neodesenvolvimentista”.

FONTE: SILVA, Sheyla Suely de Souza. Contradições da Assistência Social no governo


“neodesenvolvimentista” e suas funcionalidades ao capital. Serv. Soc. Soc. São Paulo, n. 113, Mar. 
2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 13 fev. 2015.

119
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste segundo tópico estudamos a nova institucionalidade brasileira
frente às expressões sociais, compreendendo os seguintes aspectos:

• Origem, significado e abrangência das políticas públicas e das políticas sociais,


bem como suas interligações e diferenciações.

• Percebemos que a política pública é ampla e pode ser enfatizada de modo


geral no âmbito das relações de poder tanto na tomada de decisões quanto na
resolução de conflitos na sociedade.

• Identificamos três grandes fases da política social, sob o ponto de vista histórico,
e vimos que as políticas sociais, de modo geral, são modalidades da política
pública, são necessárias para a concretização da cidadania, assim as políticas
sociais no sentido direcionado à proteção social são criadas, formuladas,
reguladas, ampliadas, revistas, renovadas, transformadas e se efetivam no seio
da sociedade, garantindo a inclusão social e a diminuição da desigualdade
social.

• Discutimos a nova institucionalidade de proteção social no Brasil, que se


efetivou após a Constituição Federal de 1988, é uma nova ordem constitucional
destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social.

• Verificamos as diretrizes instituídas pelo governo atual e compreendemos


efetivamente o projeto neodesenvolvimentista nacional, no sentido de fortalecer
a democracia e ao mesmo tempo fortalecer a economia.

120
AUTOATIVIDADE

1 Conforme estudo deste tópico, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Nova institucionalidade.
II- Políticas públicas
III- Políticas sociais
IV- Fases históricas da política social

( ) São criadas, formuladas, reguladas, ampliadas, revistas, renovadas,


transformadas e se efetivam no seio da sociedade, necessárias para a
concretização da cidadania, no sentido direcionado à proteção social.
( ) Podemos citar a primeira como de proteção, a segunda como de seguro
para os trabalhadores e a terceira como de seguridade social para todos os
cidadãos.
( ) Contata-se que se efetivou no Brasil após a Constituição Federal de 1988.
( ) São todas as ações do Estado, dizem respeito a tudo o que o Estado já
realizou, realiza ou deixa de realizar, que podem oportunizar a melhoria da
qualidade de vida na sociedade ou favorecer setores dominantes da sociedade
capitalista.
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

( ) I – IV – III – II.
( ) III – II – IV – I.
( ) III – IV – I – II.
( ) I – III – II – IV.

121
122
UNIDADE 2
TÓPICO 3

A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS


BRASILEIRAS

1 INTRODUÇÃO
Neste tópico estudaremos a necessidade e a função das políticas públicas,
das políticas sociais e o desenvolvimento dos sistemas de proteção social no que diz
respeito à ampliação das políticas sociais brasileiras em sua nova institucionalidade,
especificamente, a de assistência social.

Aprofundaremos a nova institucionalidade de proteção social no Brasil que


se efetivou após a Constituição Federal de 1988, uma nova ordem constitucional
destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social, conforme
as diretrizes postas pelo atual governo, assim iremos compreender um pouco
mais sobre a amplitude das políticas públicas, especificamente sobre a política de
assistência social no Brasil.

2 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURIDADE SOCIAL


O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)
se originou de três estruturas governamentais que foram extintas: Ministério
Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (MESA), Ministério da
Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor Interministerial
do Programa Bolsa Família.

“Com a criação do MDS, em 2004, o Governo Federal centralizou as


iniciativas e passou a executar sua estratégia de desenvolvimento social de forma
mais robusta e articulada e com maiores investimentos nas políticas públicas, que
atendem dezenas de milhões de pessoas”. (MDS, 2015).

Em 2004 foi criado o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome (MDS), tendo função de promover a inclusão social, a segurança alimentar,
a assistência integral e uma renda mínima de cidadania às famílias brasileiras
que vivem em situação de vulnerabilidade social. Nesse sentido, esse ministério

123
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

implementou inúmeros programas e políticas públicas de desenvolvimento social,


realizando a gestão do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e aprovando
os orçamentos gerais do Serviço Social da Indústria (SESI), do Serviço Social do
Comércio (SESC) e do Serviço Social do Transporte (SEST) (MDS, 2015).

Por meio de programas de transferência direta de renda, como o Bolsa


Família, o MDS proporciona cidadania e inclusão social aos beneficiários, que são
comprometidos com atividades de saúde e educação. O Ministério também realiza
ações estruturantes, emergenciais e sustentáveis de combate à fome, através de
ações de produção e distribuição de alimentos, de incentivo à agricultura familiar,
de desenvolvimento regional e de educação alimentar, respeitando as diversidades
culturais brasileiras. O órgão dedica-se, ainda, a consolidar o direito à assistência
social em todo o território nacional e dar agilidade ao repasse de verbas do Governo
Federal para os estados e municípios (MDS, 2015).

O MDS se originou de três estruturas governamentais que foram extintas:


Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional (Mesa),
Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do Conselho Gestor
Interministerial do Programa Bolsa Família. “Com a criação do MDS, em 2004,
o Governo Federal centralizou as iniciativas e passou a executar sua estratégia
de desenvolvimento social de forma mais robusta e articulada e com maiores
investimentos nas políticas públicas, que atendem dezenas de milhões de pessoas”.
(MDS, 2015).

Atualmente, todas as ações do MDS são realizadas nas três esferas


de governo e em parceria articulada com a sociedade civil, com organismos
internacionais e instituições de financiamento, procurando estabelecer uma sólida
rede de proteção e promoção social que tenta destituir o ciclo de pobreza histórica
no país e diminuição da desigualdade social.

A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 194, especifica que “A seguridade


social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes
públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social”. (PALÁCIO DO PLANALTO PRESIDÊNCIA
DA REPÚBLICA, 2015b).

Verificamos que a concepção de Seguridade Social representa um dos


maiores avanços da Constituição Federal de 1988, no que diz respeito à proteção
social e no atendimento às necessidades e reivindicações da classe trabalhadora,
da população brasileira, de grupos e pessoas que possuem interesses coletivos e
comuns no que diz respeito à qualidade de vida e justiça social.

124
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

FIGURA 18 – O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/


search?q=tripé+da+seguridade+social&biw >. Acesso em: 6 jan. 2015.

A Política de Seguridade Social priorizou a prevenção, promoção, prevenção


e redução de inúmeras situações de risco ou vulnerabilidade sociais da população
brasileira, abrangendo uma tríplice aliança entre a saúde, previdência e assistência
social na efetivação dos direitos sociais.

FIGURA 19 - SEGURIDADE SOCIAL BRASILEIRA

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS. Departamento
de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/
marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015.

No que diz respeito à Previdência Social, também sistema integrado da


Política de Seguridade Social, podemos compreendê-la, diferentemente da saúde
e da assistência social, no que tange ao processo de contribuição de quem trabalha;
125
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

em contrapartida, encontra-se segurado em caso de se tornar incapaz para o


trabalho.

Nesse sentido, a Previdência Social assegura direitos aos seus segurados,


garante a proteção ao trabalhador e sua família, por meio de um sistema público
que garante determinada renda para o contribuinte e de sua família, em casos
de doença, acidente, invalidez, deficiência, gravidez, reclusão (prisão), morte ou
velhice.

UNI

A PREVIDÊNCIA SOCIAL é uma instituição pública que presta serviços à clientela


previdenciária, é um seguro, SEGURO SOCIAL para o trabalhador que contribui, assim ela
oferece vários benefícios que juntos garantem certa tranquilidade ao trabalhador, tanto no
presente quanto ao futuro, assegurando um rendimento caso necessite.

A Previdência Social é o seguro social para a pessoa que contribui. É uma


instituição pública que tem como objetivo reconhecer e conceder direitos aos seus
segurados. A renda transferida pela Previdência Social é utilizada para substituir
a renda do trabalhador contribuinte, quando ele perde a capacidade de trabalho,
seja pela doença, invalidez, idade avançada, morte e desemprego involuntário, ou
mesmo a maternidade e a reclusão.

De acordo com o Ministério da Previdência Social (2015), podemos citar


alguns benefícios oferecidos pela Previdência Social, através do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), tais como:

Aposentadoria Especial
Aposentadoria por Idade Rural
Aposentadoria por Idade Urbana
Aposentadoria por Idade da Pessoa com Deficiência
Aposentadoria por Tempo de Contribuição Previdenciária
Aposentadoria por Tempo de Contribuição da Pessoa com Deficiência
Aposentadoria por Tempo de Contribuição Previdenciária de Professor
Aposentadoria por Invalidez
Salário-maternidade
Salário-família
Auxílio-acidente
Auxílio-reclusão
Pensão por morte

Benefício de Prestação Continuada (que não pode ser acumulado com outro
benefício no âmbito da Seguridade Social, como, por exemplo, aposentadoria e
pensão).
126
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

Além de prestar diversos benefícios, a Previdência Social também oferece


aos seus segurados e aos dependentes diversos serviços, tais como: serviços de
assistência reeducativa e de readaptação profissional, em casos de incapacidade
parcial ou total para o trabalho; orientação e apoio na melhoria de sua inter-relação
com a Previdência Social e na solução de problemas pessoais e familiares; bem como
são concedidos os auxílios materiais necessários, em caráter obrigatório, prótese e
órtese para atenuar a perda ou a redução da capacidade funcional no sentido de
assegurar a reinserção do segurado no mercado de trabalho (MINISTÉRIO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2015).

E
IMPORTANT

Você sabia que o Empreendedor Individual contribuinte também tem direito a


cobertura da Previdência Social? Também pode ser assegurado com benefícios e serviços?

Segundo o Ministério da Previdência Social (2015), conforme está citado


no seu site datado em 02/12/2014, o Empreendedor Individual tem direito sim a
cobertura da Previdência Social:

Para se tornar um empreendedor individual, o trabalhador por


conta própria deve ter faturamento bruto por ano de até R$ 60 mil e
exercer atividade da lista de ocupações permitidas ao empreendedor
individual. São quase 500 ocupações permitidas, entre as quais estão o
pipoqueiro, o cabeleireiro, a manicure, a doceira, o ambulante, o artesão,
o borracheiro e outras. Estão fora da lista profissões regulamentadas
como advogados, médicos, engenheiros etc.

Muitos direitos sociais foram ampliados e novas categorias foram


beneficiadas pela Previdência Social no Brasil, pois existem muitos empreendedores
que trabalham por conta própria, individualmente sustentam seus lares de
forma honesta e com muito esforço. Muitas ocupações têm surgido pela própria
necessidade de sobrevivência de muitas pessoas e famílias, motivadas pelo
esfacelamento do trabalho assalariado.

UNI

Considerando o tripé da seguridade social, a saúde, então, também é um direito


constitucional de caráter não contributivo e foi uma das áreas da seguridade social em que
os avanços constitucionais também foram significativos, embora na prática verificamos que
muito ainda deixa a desejar.

127
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

O Sistema Único de Saúde (SUS), integrante da Seguridade Social, é uma


das proposições do Projeto de Reforma Sanitária, foi regulamentado em 1990,
pela Lei Orgânica da Saúde (LOS), assim entendendo que o SUS é um sistema
de proteção social e dever do Estado, faz parte do Projeto de Reforma Sanitária.
“Ao compreender o SUS como uma estratégia, o Projeto de Reforma Sanitária tem
como base o Estado democrático de direito, responsável pelas políticas sociais e,
consequentemente, pela saúde”. (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL,
2010, p. 19).

A principal proposta da Reforma Sanitária é a defesa da universalização


das políticas sociais e a garantia dos direitos sociais. Nessa direção,
ressalta-se a concepção ampliada de saúde, considerada como melhores
condições de vida e de trabalho, ou seja, com ênfase nos determinantes
sociais; a nova organização do sistema de saúde por meio da construção
do SUS, em consonância com os princípios da intersetorialidade,
integralidade, descentralização, universalização, participação social
e redefinição dos papéis institucionais das unidades políticas (União,
Estado, municípios, territórios) na prestação dos serviços de saúde; e
efetivo financiamento do Estado (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO
SOCIAL, 2010, p. 19).

No que se refere ao serviço social, o projeto ético-político da profissão é


uma construção contínua, tendo como fundamento e princípio a perspectiva
da totalidade social, tendo na questão social sua análise, estudo, interpretação
e significação, por isso alguns temas sociais são fundamentais para a ação dos
assistentes sociais na saúde.

Temas tais como o significado de saúde, visto que não pode ser considerada
como a simples ausência de doença, a concepção de integralidade e universalidade,
de intersetorialidade e integração em rede, a importância da participação social,
como também o envolvimento, comprometimento e interdisciplinaridade, vistos
os diversos desafios e enfrentamentos na área da saúde, que não deixam de lado a
complexidade da sociedade atual.

O conceito de saúde contido na Constituição Federal de 1988 e na Lei


nº 8.080/1990 ressalta as expressões da questão social, ao apontar que “a
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação” (CF, 1988, artigo 196) e indicar
como fatores determinantes e condicionantes da saúde, “entre outros,
a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens
e serviços essenciais; os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do país” (Lei nº 8.080/1990, artigo 3º)
(CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2010, p. 39).

Entendendo a saúde como o completo bem-estar físico, mental e social,


e não simplesmente como a ausência de doença, a Organização Mundial da
Saúde atualizou o princípio de promoção da saúde, incorporando a questão do
desenvolvimento econômico, assim a saúde passou a ser descrita como um estado
de bem-estar físico, psíquico e social, em consonância com as discussões sobre o

128
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

meio e o contexto socioambiental na qual vivem e sobrevivem populações menos


favorecidas, ou seja, a ênfase diz respeito à saúde como prioridade social enquanto
política de proteção social.

A partir da reflexão de Gerber (2010), a Constituição Brasileira de 1988,


escrita e promulgada no período pós-ditatorial, expressou os anseios da intensa
mobilização social que ocorreu no país, visando ampliar a concepção de cidadania
e resgatar a dívida social de desigualdades acumuladas durante a ditadura militar.
A saúde, a partir de então, foi definida como política de relevância pública, direito
de todos os brasileiros, cabendo ao Estado a obrigação de garantir condições
necessárias para seu atendimento. Assim, somente a partir da Carta Magna de
1988 é que a saúde foi definida como um direito de cidadania.

“A implementação do SUS – Sistema Único de Saúde, além de se


direcionar para uma reorganização e redefinição dos serviços de saúde, objetivou,
principalmente, oferecer serviços de saúde que atendessem todas as necessidades
dos usuários” (GERBER, 2010, p. 27).

Para que a Constituição, no que diz respeito à saúde, consiga desenvolver


todas as suas atribuições enquanto política de direito de todos os cidadãos, é
necessário se efetivar ações participativas e integradas entre o Primeiro, Segundo
e Terceiro Setor, promovendo a partir desta integração a efetivação de uma equipe
profissional multidisciplinar capaz de desenvolver ações audaciosas que visem
suprir as demandas e entraves relacionadas à saúde coletiva que se difundem e se
manifestam nas comunidades e periferias, efetivar ações integradas que promovam
o bem-estar e a conquista de direitos de todos os envolvidos e afetados.

Considerando a complexidade e a dimensão da realidade da saúde no


Brasil vivida pela população, principalmente aquela de baixa renda residente
nas periferias urbanas, maioria das vezes privada de seus direitos sociais, se faz
necessário unir conhecimentos e esforços para que se possa garantir, pelo menos,
o mínimo necessário no que diz respeito à vida e dignidade humana.

Salienta-se que tendo em vista que a saúde é uma política pública de direito
constitucional, portanto, deve ser garantida não somente com a democratização
do acesso do sujeito às políticas públicas de saúde, mas, sobretudo à melhoria
da qualidade de vida das pessoas em todos os sentidos. Nesse contexto, cabe ao
profissional de Serviço Social, por meio de sua prática, ampliar e contribuir para
esta garantia.

Assim, o Serviço Social enquanto profissão atua no campo das políticas


sociais com o compromisso de defender e garantir os direitos sociais da população,
usando o fortalecimento da democracia. O exercício profissional está fundamentado
em legislação federal que protege e assegura os direitos sociais do cidadão. Entre
elas podemos citar: a legislação previdenciária; a Lei Orgânica da Assistência
Social – LOAS; o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; a Lei Orgânica de
Saúde – LOS; a Política Nacional do Idoso – PNI; a política e os serviços especiais
de prevenção e atendimento médico e psicossocial às vítimas de negligências e
129
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

maus tratos, exploração e abuso, crueldade e opressão; a política nacional para a


integração da Pessoa Portadora de Doenças Especiais; a política sobre a proteção e
os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais; a legislação que dispõe
sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde – SUS,
dentre outros (SCHAEDLER, 2005).

Sarreta (2008, p. 33) descreve que:

As proposições enunciadas no projeto ético-político do Serviço Social,


materializadas no Código de Ética de 1993, convergem e refletem
o movimento da Reforma Sanitária brasileira visando efetivar a
universalidade do acesso à saúde, por meio de políticas públicas efetivas.
Sua implementação destina-se a amenizar as diferenças e injustiças
instaladas na sociedade e considerar mecanismos que permitam ampliar
as possibilidades de acesso aos bens e serviços produzidos.

A atuação do assistente social na área da saúde nos remete a uma profunda


reflexão de diversas teorias políticas, sociológicas, psicológicas, antropológicas
e filosóficas, pois sua intervenção dependerá da corrente na qual o profissional
embasará o seu rigor e agir profissional, bem como de sua habilidade em promover
parcerias tanto institucionais como profissionais.

Seguindo a linha de pensamento de Shapiro (1999), a sociedade civil,


as instituições de ensino, as empresas privadas, a população em geral estão
representadas por ciências e saberes diversos, por culturas e manifestações
variadas, responsabilidades multifuncionais que se manifestam na sociedade
e se encontram num mesmo desafio de organização e participação social, e,
portanto, interagem com os mesmos problemas sociais, com anseios e dificuldades
dos mais variados, por isso possuem a corresponsabilidade de efetivar projetos
audaciosos que estreitem o elo entre a teoria e a prática, bem como dos problemas
proporcionarem soluções, de processos de exclusão, inclusão social.

A intervenção do profissional de Serviço Social nas políticas de saúde deve


estar voltada para os aspectos sociais que envolvem as populações usuárias do
sistema de saúde pública nas singularidades de seus processos de adoecimento,
sendo que a atuação deve ocorrer na perspectiva do conceito ampliado de saúde
de prevenção e promoção social (GERBER, 2010).

O assistente social é um profissional que está em contato direto e


cotidiano com as questões da saúde pública e coletiva, da criança
e adolescente, terceira idade, violência, habitação, educação etc.,
acompanhando como essas questões são vivenciadas pelos sujeitos e
construindo um acervo privilegiado de dados e informações sobre as
formas de manifestação das problemáticas cotidianas, tanto em nível
individual como coletivo – sendo, portanto, um ator importante na
produção do Cuidado em Saúde (IAMAMOTO, 2001, apud GERBER,
2010, p. 61).

Nesta direção existem iniciativas que buscam um olhar diferenciado de


forma participativa, responsável e comprometido com o desenvolvimento integral
dos envolvidos no cuidado à saúde e em espaços da política pública da saúde.

130
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

Nesse sentido, Gerber (2010, p. 61) também descreve:


O cuidado em saúde compreende o atendimento humanizado, baseado
no acolhimento, vínculo, escuta, na realidade social, garantindo o
usuário como coprodutor do seu processo saúde-doença, estando
relacionado com a experiência de todos os trabalhadores que constroem
o dia a dia dos serviços de saúde.

Dentre tantas políticas sociais adotadas no Brasil, acredita-se que muita


coisa há de ser revista, refeita e concretizada também na área da saúde, visto
que ocupa uma posição de extrema importância, pois visa garantir uma vida de
qualidade do povo enquanto seres humanos, cidadãos e sujeitos de deveres e de
direitos, atores sociais críticos, transformadores e responsáveis pelo cuidado de
sua vida e dos demais.

No cenário das políticas públicas dos estados brasileiros, pode-se


afirmar que ainda há muito que fazer. Os estados brasileiros realmente
carecem de um aceno do Governo Federal como motivador da
expansão de sua plataforma de ciência e tecnologia, seja indicando os
macroeixos estratégicos de desenvolvimento, seja disponibilizando
recursos para fomentar os investimentos, seja com abertura e apoio
no relacionamento com empresas, mercados e instituições de ensino e
pesquisa internacionais (SOUZA, 2010, p. 49).

Embora o Brasil tenha se desenvolvido e avançado muito na área econômica,


social e educacional nos últimos anos, ainda persistem muitos problemas e entraves
que afetam a vida de milhares de pessoas no âmbito da relação saúde-doença.
Percebe-se que a saúde pública apresenta e faz manifestar diversos problemas e
dificuldades, bem como diversos desafios para os profissionais que atuam nas
diversas áreas.

Nesse sentido Schaedler (2005, p. 2) enfatiza alguns aspectos interessantes:

A Organização Mundial de Saúde – OMS define saúde como "Completo


bem-estar físico, mental e social do indivíduo". Este conceito ampliado
traz novos desafios para a atuação dos serviços públicos de saúde
e para os profissionais que atuam nas diversas áreas. Atualmente,
vivenciamos uma transição demográfica com o envelhecimento
progressivo da população e a mutação epidemiológica, onde problemas
de saúde pública presumivelmente superados, tais como parasitoses,
desnutrição, dengue, hanseníase, tuberculose, etc., persistem em
aparecer juntamente com doenças da modernidade, como: neoplasias,
doenças cardiovasculares, estresse, doenças ocupacionais, transtornos
psiquiátricos, doenças psicossomáticas, etc.

Diante das tomadas de decisões de grandes organismos sociais, como


é o caso da OMS, percebemos novas realidades sociais e nos deparamos com
problemas inevitáveis e desafios que devem ser enfrentados e superados, como é
o caso de diversas doenças que persistem em aparecer juntamente com as “novas”
da sociedade moderna e inovadora.

Frente à dicotomia das metanarrativas da modernidade na qual a ciência


e a tecnologia não concretizam suas propostas de inclusão social, garantia de
131
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

direitos e universalidade do bem comum, algumas reflexões e questionamentos


são necessários.

Na visão de Dufour (2001), a quebra das tradições e dos costumes e valores


socioculturais do passado evidencia, consequentemente, uma falta de cuidado de
si e do outro, de sentido da vida, bem como de significados simbólicos, e questiona
sobre o que está acontecendo com os quadros de referência, grandes sagas de
legitimação que davam segurança às pessoas, tais como a economia, o trabalho,
a religião, a política, a família estável, que davam aos indivíduos uma ancoragem
estável no mundo social.

Relembrando sobre a expressão da questão social “inúteis do mundo”,


que perspectiva idealista de libertação, de autonomia, de saúde e vida está se
formando na consciência dos indivíduos ou já se formou na mente de pessoas
que chegaram ao limite de perda de significado de suas próprias vidas, de
desvalorização e exclusão de si mesmas? “Que fenômenos estão vinculados à
transformação da condição do sujeito nas “democracias de mercado” e nas novas
formas de alienação e desigualdade sociocultural?” (MONTIBELLER, 2011, p. 71).
Essas são interrogações que nos fazem revisitar várias questões sociais, tais como:
desenvolvimento social, qualidade de vida, condição humana, família, saúde,
proteção, liberdade, entre outros.

3 A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA ÚNICO


DE ASSISTÊNCIA SOCIAL
Agora, no que diz respeito à assistência social como política pública, o que
poderemos abordar, conhecer, analisar, refletir, discutir e esclarecer?

A assistência social, enquanto política pública, foi reconhecida como direito


social e dever do Estado. Assim verificamos, ao longo da história, que de medida
filantrópica e caritativa, coercitiva e punitiva, assistencialista e clientelista, a
assistência se efetivou como política social, direito social, a todo cidadão brasileiro
que dela necessitar, independentemente de qualquer tipo de contribuição ou
condição de trabalhar ou não.

A assistência social, reconhecida como política pública de seguridade social,


vem passando por inúmeras e profundas transformações a partir da Constituição
Federal de 1988, como, por exemplo, com a criação e efetivação do Sistema Único
de Assistência Social – SUAS, criado em lei em 2011, com a aprovação da Lei nº
12.435, que alterou dispositivos da Lei nº 8.742/93 – Lei Orgânica de Assistência
Social (LOAS) e garantiu no ordenamento jurídico brasileiro inúmeras conquistas
efetivadas ao longo desses anos (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
E COMBATE À FOME, 2015).

A política de Assistência Social, legalmente reconhecida como direito


social e dever estatal pela Constituição de 1988 e pela Lei Orgânica de

132
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

Assistência Social (LOAS), vem sendo regulamentada intensivamente


pelo Governo Federal, com aprovação pelo Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS), por meio da Política Nacional de Assistência
Social (2004) e do Sistema Único de Assistência Social (2005). O objetivo
com esse processo é consolidar a Assistência Social como política de
Estado; para estabelecer critérios objetivos de partilha de recursos entre
os serviços socioassistenciais e entre estados, DF e municípios; para
estabelecer uma relação sistemática e interdependente entre programas,
projetos, serviços e benefícios, como o Benefício de Prestação Continuada
(BPC) e o Bolsa Família, para fortalecer a relação democrática entre
planos, fundos, conselhos e órgão gestor; para garantir repasse
automático e regular de recursos fundo a fundo e para instituir um
sistema informatizado de acompanhamento e monitoramento, até então
inexistente (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 6).

Nesse sentido, a Assistência Social é entendida como uma política pública


de direito de todo cidadão e dever do Estado, por isso tem caráter de universalidade,
política prevista na Constituição Federal, regulamentada pela Lei Orgânica da
Assistência Social – LOAS.

FIGURA 20 - MARCO LEGAL REFERENTE À ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS.
Departame nto de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social.
Ministério do Desen volvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em:
<http://pt.slideshare.net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso
em: 25 jan. 2015.

A Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, segundo o MDS (2015), trata


da organização da assistência social no Brasil, direcionada a todo cidadão em
forma de benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais:

A Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, Lei Orgânica de Assistência


Social – LOAS, dispõe sobre a organização da Assistência Social,
representando um marco para o reconhecimento da assistência social
como direito a qualquer cidadão brasileiro aos benefícios, serviços,
programas e projetos socioassistenciais. Esta publicação traz, ainda, a
legislação que regulamenta os aspectos essenciais da LOAS, incluindo:

133
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

o Decreto nº 1.605, de 25 de agosto de 1995, que regulamenta o Fundo


Nacional de Assistência Social. A Lei nº 9.604, de 5 de fevereiro de 1998,
que dispõe sobre a prestação de contas de aplicação de recursos a que se
refere a Lei nº 8.872, 7 de dezembro de 1993, e dá outras providências, o
Decreto nº 5.085, de 19 de maio de 200, que define as ações continuadas
de assistência social e, também, a Decisão nº 1.934-7, do Supremo
Tribunal Federal. A LOAS Anotada se presta a agilizar e facilitar o
trabalho de consulta às leis que regulamentam os serviços e benefícios
articulados em torno do SUAS.

Refletindo sobre a política de assistência social, vamos verificar a sua


importância na garantia de muitos direitos sociais que até então eram omitidos
pelo Estado, sendo que muitos ainda continuam sendo omitidos na prática,
visto que na teoria e nas legislações parece que todos os serviços e programas
funcionam de maneira exemplar para o resto do mundo, fato este questionado e
que é visivelmente percebido como ineficazes e fragmentados, senão por vezes
inexistentes.

Segundo o Conselho Federal de Serviço Social (2011, p. 7),

[...] todas as situações sociais vividas pelos sujeitos que demandam a


política de Assistência Social têm a mesma estrutural e histórica raiz
na desigualdade de classe e suas determinações, que se expressam pela
ausência e precariedade de um conjunto de direitos como emprego,
saúde, educação, moradia, transporte, distribuição de renda, entre
outras formas de expressão da questão social.

Com a criação da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei nº 8.742,


em 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da assistência social,
especifica a assistência enquanto direito do cidadão e dever do Estado. Temos que
ficar atentos, pois esta lei de 1993 foi consolidada com a Lei nº 12.435/2011, ou seja,
alterada, ampliada.

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é


Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos
sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa
pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. (BRASIL, 2014, p. 1-2).

Assim, percebemos que compete privativamente à União legislar sobre


seguridade social, nela incluída também a assistência social, tendo como
princípio da não contributivo ou da gratuidade, sem exigência de qualquer
contrapartida ou contribuição por parte de seus usuários, pois a assistência social
na contemporaneidade é direito de todo e qualquer cidadão brasileiro.

Conforme está descrito na LOAS de 1993, consolidada em 2011, podemos


destacar os objetivos da assistência social:

Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)
I - a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à
prevenção da incidência de riscos, especialmente:

134
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à


velhice;
b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes;
c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;
d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção
de sua integração à vida comunitária; e
e) a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família;
II - a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a
capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades,
de ameaças, de vitimizações e danos;
III - a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos
no conjunto das provisões socioassistenciais.
Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a assistência social
realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, garantindo mínimos
sociais e provimento de condições para atender contingências sociais e
promovendo a universalização dos direitos sociais. (BRASIL, 2014, p.
1-2).

UNI

De acordo com o Conselho Nacional de Assistência Social (2014), podemos


esclarecer que:
• Os termos “carente, pobre, miserável, mendigo”, bem como “vagabundo, malandro, bandido,
marginal”, encontram-se em desuso, tendo a administração pública utilizado na prática e nos
documentos relacionados à política de assistência social, a expressão PESSOA OU FAMÍLIA EM
SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL OU RISCO SOCIAL.
• Sabendo que o alcoolismo é uma doença séria e grave, os termos “bebum, bêbado, fraco,
alcóolatra” devem ser abolidos, assim as pessoas que possuem essa doença devem ser
consideradas como alcoólicos que necessariamente precisariam de tratamento adequado.
• Assim corresponde também ao termo “drogado, viciado”, o correto é afirmar dependente
químico.
• As palavras “ajuda”, “apoio”, “doação” também se encontram em desuso, tendo a administração
pública empregado na rede de serviços socioassistenciais os termos BENEFÍCIOS,
SERVIÇOS, PROGRAMAS E PROJETOS SOCIOASSISTENCIAIS, BENEFÍCIO OU SERVIÇO
SOCIOASSISTENCIAL. A ação socioassistencial pode ser compreendida e considerada como
atividade, programa, projeto, serviço e concessão de benefícios da assistência social.
• Os termos “inválido, aleijado, defeituoso, incapacitado, pessoa portadora de deficiência
ou pessoa com necessidades especiais” não são mais expressados e sim o termo PESSOA
DEFICIENTE OU PESSOA COM DEFICIÊNCIA. “A palavra inválido significa sem valor, assim eram
consideradas as pessoas com deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra
Mundial, por isso que o termo correto é: PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
• Do mesmo modo correto é afirmar SURDO, PESSOA SURDA, PESSOA COM DEFICIÊNCIA
AUDITIVA no lugar de “surdinho, mudinho ou surdo-mudo”; como também “ceguinho”, mas
sim PESSOA CEGA, PESSOA COM DEFIÊNCIA VISUAL.
• os termos pejorativos, tais como: “louco, maluco, doido, doente mental, debiloide, bêbado,
fraco”, não devem ser expressados, pois as pessoas não possuem por culpa própria ou vontade,
mas as pessoas possuem algum tipo de TRANSTORNO MENTAL, ALGUM TIPO DE SOFRIMENTO
PSÍQUICO.
• As palavras velhos ou velho, menor ou menores, moleque, delinquente, trombadinha,
também devem ser eliminadas do vocabulário popular e profissional, os termos adequados

135
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

são: IDOSO OU IDOSOS e CRIANÇA OU ADOLESCENTE.


• Os termos “doente mental, retardado, mongol, excepcional” também estão em desuso, o
correto é caracterizar PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL. Excepcionais foi o termo
utilizado nas décadas de 50, 60 e 70 para designar pessoas com deficiência intelectual.

UNI

Caso queira saber mais e se aprofundar nos termos corretos que devemos adotar,
estude a cartilha “Politicamente correto e direitos humanos”, disponível na internet.

FONTE: QUEIROZ, Antônio Carlos. Politicamente correto e direitos humanos. Brasília:


Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2004. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/
dados/cartilhas/a_pdf_dht/cartilha_politicamente_correto.pdf>. Acesso em: 14 fev. 2015.

136
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

Dando continuidade à questão da assistência social, as diretrizes da


LOAS (BRASIL, 2015) são caracterizadas pelas diretrizes da descentralização,
participação e controle das ações e responsabilidade do Estado na condução da
política de assistência social, conforme especifica o artigo quinto:

Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes


diretrizes:

I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito


Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de
governo;
II - participação da população, por meio de organizações representativas,
na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;
III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de
assistência social em cada esfera de governo.

Muitas alterações foram realizadas na LOAS, pela Lei nº 12.435/2011, que


tem mostrado vários avanços e conquistas no sentido de incorporar normativos
necessários à organização da Assistência Social no Brasil, efetivados em um
sistema descentralizado e participativo caracterizado como SUAS – Sistema Único
de Assistência Social.

UNI

Leia na íntegra a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a


organização da Assistência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.mds.
gov.br/assistenciasocial>.

FIGURA 21 – SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=SUAS&biw>. Acesso em: 6


jan. 2015.

137
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social


– NOB SUAS é que organiza o modelo da proteção social, normatizando e
operacionalizando os princípios e diretrizes de descentralização da gestão e
execução dos serviços, programas, projetos e benefícios referentes à assistência
social na realidade brasileira.

Nesse sentido, sobre os avanços da Lei nº 12.435/2011 sobre a LOAS, no


que diz respeito à Norma Operacional Básica do SUAS, Colin (2012) enfatiza que
melhorou e qualificou a organização da assistência social, e descreve algumas
conquistas:

QUADRO 13 – AVANÇOS DA LOAS A PARTIR DE 2011

Inclui entre os objetivos da Assistência Social a Proteção Social, a Vigilância


Socioassistencial e Defesa de Direitos.

Estabelece os níveis de proteção social básica e especial.

Dispõe sobre os CRAS e CREAS como unidades de referência da Assistência


Social.

Autoriza o pagamento de profissionais com recursos do cofinanciamento federal.

Institui o IGDSUAS e a obrigatoriedade de seu uso no fortalecimento dos


Conselhos.

Estabelece que os Conselhos de Assistência Social são vinculados ao órgão gestor


da política de assistência social.

Para efeitos do BPC, conceitua “família” e “pessoa com deficiência”.

Institui o Paif, Paefi e Peti.

Estabelece que cabe ao órgão gestor da Assistência Social gerir o Fundo de


Assistência Social, nas esferas de governo.

Estabelece que o cofinanciamento da política no SUAS, nas esferas de governo,


se efetua por meio de transferências automáticas entre os Fundos de Assistência
Social.

Efetiva alguns decretos, sendo um deles o Decreto n.º 5.209/2004, que cria o
Programa Bolsa Família, dentre outros e outras ações normativas.
FONTE: Adaptado de: COLIN, Denise. NOB SUAS 2012. Secretaria Nacional de Assistência Social.
Out., 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/ACER/Downloads/SNAS_NOB%20SUAS%20-%20
Denise%20Colin_06.11.2012%20(2).pdf>. Acesso em: 15 jan. 2015.

138
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS (2014) descreve que


a LOAS, criada em 1993, foi alterada pela Lei nº 12.435, de 2011, que instituiu o
Sistema Único da Assistência Social – SUAS. Assim especifica o artigo sexto da
LOAS: “Art. 6º A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob
a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único
de Assistência Social (SUAS), [...] (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)”.
(BRASIL, 2015).

O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que


organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no
Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e
recursos dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da
Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente
as estruturas e marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e
do Distrito Federal (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL
E COMBATE À FOME, 2015).

Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à


Fome (MDS), o sistema SUAS é composto pelo poder público e sociedade civil,
que participam diretamente do processo de gestão compartilhada. É um sistema
público, não contributivo, descentralizado e participativo, destinado à gestão
da assistência social, através da integração das ações dos entes públicos (União,
Estados, Municípios e o Distrito Federal) responsáveis pela política socioassistencial
e das entidades privadas de assistência social.

FIGURA 22 – ASSISTÊNCIA SOCIAL POLÍTICA SOCIAL PÚBLICA

FONTE: SÁ, Clara Carolina de. Sistema único de assistência social – SUAS.
Departamento de Gestão do SUAS. Secretaria Nacional de Assistência Social. Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2013. Disponível em: <http://pt.slideshare.
net/marciasilva65/apresentacao-vinculo-suas-loas>. Acesso em: 25 jan. 2015.

139
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

O Sistema Único de Assistência Social – SUAS especifica em seu primeiro


artigo a sua abrangência da função da política de assistência social:

Art. 1º A política de assistência social, que tem por funções a proteção


social, a vigilância socioassistencial e a defesa de direitos, organiza-se
sob a forma de sistema público não contributivo, descentralizado e
participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social – SUAS.
Parágrafo único. A assistência social ocupa-se de prover proteção à vida,
reduzir danos, prevenir a incidência de riscos sociais, independente de
contribuição prévia, e deve ser financiada com recursos previstos no
orçamento da Seguridade Social (BRASIL, 2012).

Assim, constatamos que a política de assistência social se rege de forma


decentralizada via SUAS e participativa a partir da criação e efetivação dos diversos
conselhos, se efetivando por um sistema público, não tendo caráter contributivo,
assim as pessoas que necessitarem da assistência não pagarão nada por ela, ou
seja, a assistência social independe de contribuição anterior.

Para concluir este assunto, indicamos como sugestão a leitura e estudo


das Cartilhas efetivadas pelo CFESS, sobre os PARÂMETROS PARA ATUAÇÃO
DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E NA
POLÍTICA DE SAÚDE.

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Gestão Tempo de


Luta e Resistência (2011-2014). Parâmetros para Atuação de Assistentes
Sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto
Profissional nas Políticas Sociais. CFESS: Brasília (DF), 2011. Disponível em:
<http://www.cfess .org.br/arquivos/Cartilha_CFESS_Final_Grafica.pdf>.
Acesso em: 15 jan. 2015.

140
TÓPICO 3 | A CRIAÇÃO E AMPLIAÇÃO DAS POLÍTICAS SOCIAIS BRASILEIRAS

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. LEI nº 8.662/1993 –


Regulamentação da Profissão de Assistente Social. Parâmetros para a Atuação de
Assistentes Sociais na Saúde. Brasília, 2010. Disponível em: <http://www.cfess.org.
br/arquivos/Parametros_para_a_Atuacao_de_Assistentes_Sociais_na_Saude.pdf>.
Acesso em 15 jan. 2015.

141
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico estudamos a nova institucionalidade brasileira frente às
novas expressões sociais, o significado e a abrangência das políticas sociais e as
políticas públicas do Estado brasileiro, a evolução histórica da política social e a
relação entre o Estado e a sociedade frente à questão social no que diz respeito
aos padrões de proteção social, em que foram abordados os seguintes temas:

• Analisamos a origem, significado e abrangência das políticas sociais e das


políticas públicas, assim podemos perceber que a evolução da política social é
formada a partir dos momentos históricos nos diversos contextos socioculturais,
sociopolíticos e econômicos, assim sempre existiram articulações, interações e
relações entre o Estado e a sociedade.

• Discutimos sobre a nova institucionalidade de proteção social no Brasil que se


efetivou após a Constituição Federal de 1988, uma nova ordem constitucional
destinada a assegurar uma nova ordem nacional, econômica e social, conforme
as diretrizes postas pelo atual governo.

• Compreendemos um pouco mais sobre a amplitude das políticas públicas,


especificamente sobre a política de assistência social no Brasil, assim refletimos
sobre a amplitude da política nacional de seguridade social.

• Analisamos a abrangência da política de assistência social, do Sistema Único de


Assistência Social e da tipificação nacional de serviços socioassistenciais.

• Constatamos o conceito de vulnerabilidade social e a importância da ampliação


das políticas sociais destinadas à população brasileira.

• Lembramos que devemos sempre recorrer às leis, estatutos, políticas, programas,


normas, decretos, buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada,
devido às diversas mudanças sociais e consequentemente legais que devem
acompanhar o curso da história.

142
AUTOATIVIDADE

1) Conforme estudo deste tópico, analise as alternativas e classifique (V) para


as sentenças verdadeiras e (F) para as falsas:

( ) MDS é a sigla do MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL,


responsável pelas políticas nacionais de desenvolvimento social, de segurança
alimentar e nutricional, de assistência social e de renda de cidadania.
( ) A LOAS é uma lei que trata sobre a organização da assistência social no
Brasil, direcionada a todo cidadão em forma de benefícios, serviços, programas
e projetos socioassistenciais.
( ) O Ministério da Assistência Social (MAS) e Secretaria Executiva do
Conselho Gestor Interministerial do Programa Bolsa Família existem desde
2004, com a criação do MDS.
( ) A seguridade social brasileira prioriza a prevenção, promoção, prevenção
e redução de inúmeras situações de risco ou vulnerabilidade sociais da
população brasileira, abrangendo uma tríplice aliança entre a saúde,
previdência e assistência social.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA.

( ) V – V – F – V.
( ) V – F – V – F.
( ) F – V – F – V.
( ) V – V – F – F.

2) De acordo com o Conselho Nacional de Assistência Social, descreva no


mínimo três palavras que se encontram em desuso no vocabulário dos
profissionais que atuam na área social, ou que não deveriam mais serem
pronunciadas pelas pessoas.

____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________

143
144
UNIDADE 2
TÓPICO 4

A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS


SOCIOASSISTENCIAIS

1 INTRODUÇÃO
Muitas alterações foram realizadas no âmbito das políticas sociais no
Brasil, prevalecendo a ampliação e criação de serviços e programas de benefícios
e transferência de renda, diante do aumento da pobreza, da exclusão social e da
desigualdade social no país.

Cresceram e muito as demandas por ações estatais voltadas à proteção


social. Assim, neste último tópico da Unidade 2 estaremos apresentando um novo
modelo de estratégia política e de intervenção frente às expressões da questão social,
que foi caracterizada como tipificação nacional de serviços socioassistenciais.

2 CARACTERIZAÇÃO DA TIPIFICAÇÃO
Os sistemas de proteção social são formas institucionais que as sociedades
ditas democráticas procuram efetivar a fim de atender às demandas sociais
decorrentes de diversas vulnerabilidades sociais que pessoas, grupos, famílias,
segmentos enfrentam na conjuntura em que vivem.

FIGURA 23 – TIPIFICAÇÃO RESOLUÇÃO DE 2009

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=tipificação+


nacional+serviços+socioassistenciais&biw>. Acesso em: 6 jan. 2015.

145
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Com o intuito de melhorar a qualidade e ampliar os serviços


socioassistenciais, foi aprovada uma resolução que descreve todos os tipos de
ações que devem ser desenvolvidas dentro de uma rede integrada. A Resolução
nº 109, de 11 de novembro de 2009, aprovou a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais, mas o que isto significa?

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é uma forma de


organizar a assistência social por níveis de complexidade do Sistema Único de
Assistência Social – SUAS: no que diz respeito à Proteção Social Básica e em relação
à Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

O quadro a seguir demonstra os tipos de proteção e os centros de referências


específicos (BRASIL, 2009, p. 3-4), de acordo com cada tipo de proteção e serviços
à população.

QUADRO 14 - TIPIFICAÇÃO DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

PROTEÇÃO BÁSICA (CRAS)


I - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL BÁSICA
a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)
b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

c) Serviço de Proteção Social Básica no domicílio para pessoas com deficiência e


idosas.

PROTEÇÃO ESPECIAL (CREAS)


II - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE MÉDIA COMPLEXIDADE:
a) Serviço de Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos
(PAEFI).
b) Serviço Especializado em Abordagem Social.
c) Serviço de Proteção Social a Adolescentes em Cumprimento de Medida
Socioeducativa de Liberdade Assistida (LA), e de Prestação de Serviços à
Comunidade (PSC).
d) Serviço de Proteção Social Especial para Pessoas com Deficiência, Idosas e
suas Famílias.
e) Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua.

146
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

PROTEÇÃO ESPECIAL (CREAS)


III - SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL ESPECIAL DE ALTA COMPLEXIDADE:
a) Serviço de Acolhimento Institucional, nas seguintes modalidades:
- abrigo institucional.
- Casa-Lar.
- Casa de Passagem.
- Residência Inclusiva.
b) Serviço de Acolhimento em República.
c) Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora.
d) Serviço de Proteção em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências.
FONTE: Adaptado de: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, aprova a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais. Brasília, 2009. Disponível em: <http://www.mds.gov.br/assistenciasocial/
protecaobasica/servicos/protecao-e-atendimento-integral-a-familia-paif/arquivos/tipificacao-
nacional.pdf/download>. Acesso em: 15 jan. 2015.

A Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, aprovada pelo CNAS


por meio da Resolução nº 109, de 11 de novembro de 2009, estabelece os serviços
que devem ser prestados nos CRAS e CREAS e os que podem ser prestados pelas
organizações e entidades de assistência social. Ao detalhar os objetivos de cada
serviço e as aquisições de seus usuários, a Tipificação oferece parâmetros para que
estados, municípios e Distrito Federal definam padrões de qualidade que podem
ser exigidos.

O Sistema Único da Assistência Social (SUAS) constitui-se na regularização


e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais. Ações
essas, baseadas nas orientações da nova Política Nacional de Assistência Social
(PNAS). Os serviços, programas e benefícios têm como objetivo atender às famílias,
seus membros e indivíduos, estando as suas ações focadas no desenvolvimento
das potencialidades de cada um e no fortalecimento dos vínculos familiares.

O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS)


promove o acesso à assistência social às famílias em situação de
vulnerabilidade, como prevê o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS). Articulada nas três esferas de governo, a estratégia de atuação
está hierarquizada em dois eixos: a Proteção Social Básica e a Proteção
Social Especial.
A Proteção Social Básica tem como objetivo a prevenção de situações
de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições
e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Destina-se à
população que vive em situação de fragilidade decorrente da pobreza,
ausência de renda, acesso precário ou nulo aos serviços públicos
ou fragilização de vínculos afetivos (discriminações etárias, étnicas,
de gênero ou por deficiências, dentre outras). (MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014).

147
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Podemos, assim, constatar que a partir da LOAS a assistência social foi


tipificada, ou seja, foi organizada com dois tipos de proteção social – básica e
especial, conforme o Conselho Nacional de Assistência Social descreve (BRASIL,
2014, p. 4-5):

Art. 6º- A. A assistência social organiza-se pelos seguintes tipos de


proteção: (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011)
I - proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos
e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de
vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares
e comunitários;
II - proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos
que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos
familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das
potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para
o enfrentamento das situações de violação de direitos.
Parágrafo único. A vigilância socioassistencial é um dos instrumentos
das proteções da assistência social que identifica e previne as situações
de risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território.

Nesta nova concepção, o SUAS é a organização de uma rede de serviços,


ações e benefícios de diferentes complexidades que se reorganizam por dois níveis
de proteção social:

• Proteção Social Básica sob responsabilidade do CRAS – Centro de Referência de


Assistência Social.

• Proteção Social Especial sob responsabilidade do CREAS – Centro de Referência


Especializado de Assistência Social.

O CRAS é uma unidade pública estatal de Proteção Social Básica do Sistema


Único de Assistência Social (SUAS), busca prevenir a ocorrência de situações
de riscos sociais através do desenvolvimento das capacidades dos atendidos,
fortalecendo os vínculos familiares e sociais, aumentando o acesso aos direitos da
cidadania. É uma unidade pública de referência para o desenvolvimento de todos
os serviços socioassistenciais de Proteção Básica do SUAS.

Pode-se dizer que básico é aquilo que é basilar, mais importante,


fundamental, primordial, essencial, ou aquilo que é comum a diversas
situações. Na PNAS (2004) e na NOB (2005), a Proteção Social Básica está
referida a ações preventivas, que reforçam a convivência, socialização,
acolhimento e inserção, e possuem um caráter mais genérico e voltado
prioritariamente para a família; e visa desenvolver potencialidades,
aquisições e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e se
destina a populações em situação de vulnerabilidade social (PNAS, p.
27) (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2011, p. 8).

Nesse sentido, o CRAS atende a programas de transferência de renda, tais


como:

148
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

• Programa Bolsa Família


• Programa Renda Cidadã
• Benefício de Prestação Continuada (BPC)
• Programa de Capacitação para o Trabalho

Os programas de transferência de renda visam ao repasse direto de recursos


dos fundos de assistência social aos beneficiários como forma de acesso à renda,
visando ao combate à fome, à pobreza e a outras formas de privação de direitos
que levem à situação de vulnerabilidade social, criando possibilidades para a
emancipação, o exercício da autonomia das famílias e indivíduos atendidos e o
desenvolvimento local.

Para aprofundar o tema da política social brasileira, indicamos o livro “A


Política

Brasileira no Século XXI: a prevalência dos programas de transferência de


renda”, de autoria de Maria Ozanira da Silva e Silva, Geraldo Di Giovanni e Maria
Carmelita Yazbek, São Paulo, Editor: Cortez, 2004. 225p.

FONTE: MARTINS, Valter. A política social brasileira no século


XXI: a prevalência dos programas de transferência de renda. Rev.
Katálysis, Florianópolis, v. 10, n. 1, June 2007. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
49802007000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 30 jan. 2015.

[...] como o Brasil é um país com alto índice de desigualdade social,


assistentes sociais no país, em sua maior parte, têm seu trabalho voltado
para a população em situação de pobreza ou com ausência de renda.
Trabalham também com pessoas que têm seus direitos violados ou que
estão em situação de vulnerabilidade social. (CFESS, 2014).

A vulnerabilidade social apresenta-se como uma baixa capacidade material,


simbólica e comportamental, de famílias e pessoas, para enfrentar e superar
os desafios com os quais se defrontam, o que dificulta o acesso à estrutura de
149
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

oportunidades sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do mercado


e da sociedade. Refere-se a uma diversidade de “situações de risco” determinadas
por fatores de ordem física, pelo ciclo de vida, pela etnia, por opção pessoal etc.,
que favorecem a exclusão e/ou que inabilitam e invalidam, de maneira imediata
ou no futuro, os grupos afetados (indivíduos, famílias), na satisfação de seu bem-
estar – tanto de subsistência quanto de qualidade de vida.

Uma situação de vulnerabilidade social significa:

[...] uma baixa capacidade material, simbólica e comportamental, de


famílias e pessoas, para enfrentar e superar os desafios com os quais
se defrontam, o que dificulta o acesso à estrutura de oportunidades
sociais, econômicas e culturais que provêm do Estado, do mercado e da
sociedade (DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA
SOCIAL, 2007, p. 111).

Pessoas e grupos em situações de pobreza, de desigualdade social,


desvantagem, de injustiça, de discriminação, de exclusão social são considerados
em vulnerabilidade ou em risco e constituem objeto de intervenção do Serviço
Social, público-alvo de redes de serviços socioassistenciais, de benefícios,
programas e projetos. Assim, podemos constatar que existem diversas situações
sociais que se caracterizam como de vulnerabilidade social ou de risco social, ou
seja, situações essas consideradas expressões sociais.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (2007, p. 13), “Os estudos


sobre vulnerabilidade social, especialmente os que se aplicam à realidade dos
países menos desenvolvidos, estão associados também à ideia de risco frente ao
desemprego, à precariedade do trabalho, à pobreza e à falta de proteção social”.

UNI

Você sabe a diferença entre vulnerabilidade e risco social?

Situações de vulnerabilidade social são condições sociais de pobreza,


desemprego, discriminação, fragilização dos laços afetivos e familiares, descaso
de caráter étnico, etário, de gênero, de condição física, psíquica, entre outros casos.
Situações de vulnerabilidade social são contextos de desproteção social, porém sem
risco, sem sequelas de degradação humana. Referindo-se a uma diversidade de
“situações de vulnerabilidade social”, elas são determinadas por diversos fatores
de ordem cultural, pelo ciclo de vida, pela etnia, por opção pessoal, entre outros,
que favorecem a exclusão de grupos afetados, indivíduos, famílias, na satisfação
de seu bem-estar e de qualidade de vida.

Já as situações sociais de risco envolvem aspectos e condições mais


extremas, no sentido de não ter condições dignas de vida, de sobrevivência, de
150
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

saúde física e psíquica, são casos extremos que inabilitam e invalidam, de maneira
imediata ou no futuro, pessoas, grupos ou famílias, envolvendo violência, maus
tratos, abandono, negligência, desnutrição, privação de bens, vivência na rua,
dependência química, dentre outras situações desumanas (KAUCHAKJE, 2011).

A pobreza, por exemplo, é uma vulnerabilidade efetiva, mas a condição


de vulnerabilidade, embora a inclua, não se esgota na pobreza. São consideradas
em situações de vulnerabilidade social ou em condições de risco social pessoas e
famílias nas seguintes condições:

QUADRO 15 – DIFERENÇA ENTRE VULNERABILIDADE E RISCO SOCIAL

SITUAÇÕES DE CONDIÇÕES DE
VULNERABILIDADE SOCIAL RISCO SOCIAL
Fragilidade de vínculos de afetividade Perda total ou parcial dos bens – vítima
/relacionais; de pertencimento de sinistros (desabamento / enchente/
sociabilidade. incêndio).
Discriminação por: etnia, gênero, Exploração no trabalho;
orientação sexual / opção pessoal, faixa Trabalho infantil;
etária, deficiências. Trabalho escravo.
Redução da capacidade pessoal / Violência doméstica (física e/ou
Desvantagem. psicológica), maus tratos.
Em situação de rua / população de
Discriminação de deficiência (auditiva,
rua, situação de mendicância/ sem
física, mental, visual e múltiplas).
domicílio fixo/ sem moradia.
Problemas de subsistência, ausência de
Assédio sexual.
renda; desnutrição.
Privação de condições dignas de
Desemprego de longa duração.
sobrevivência.
Conflito com a lei (no caso dos Dependentes químicos/usuários de
adolescentes infratores). drogas.
Inserção precária ou não inserção no
Violência física, abuso sexual, pedofilia.
mercado de trabalho formal e informal.
Negligência; descaso; falta de cuidados. Abandono.
FONTE: A autora, 2015 (adaptado)

É imprescindível que o Serviço Social intervenha na esfera das desigualdades


sociais, no que diz respeito às mais diversas expressões da questão social, pois sua
atuação se dá intrinsecamente na busca constante das transformações da sociedade,
através da garantia dos direitos sociais e da cidadania, objetivando o equilíbrio e a
mediação dos conflitos advindos da relação do trabalho versus capital, por meio de
diversas políticas sociais (PIERITZ, 2013).

151
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Agora, especificando sobre a abrangência do CREAS – Centro de Referência


Especializada de Assistência Social, o mesmo tem como foco a Proteção Social
Especial tendo por referência quando o risco já se instalou, e evidencia a ocorrência
de situações de vulnerabilidade social ou violação de direitos.

A Política Nacional de Assistência Social (MDS, 2015)

É uma política que, junto com as políticas setoriais, considera as


desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia
dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender à
sociedade e à universalização dos direitos sociais. O público dessa
política são os cidadãos e grupos que se encontram em situações de risco.
Ela significa garantir a todos, que dela necessitam, e sem contribuição
prévia, a provisão dessa proteção.

O CREAS é uma unidade pública estatal, faz parte da Proteção Social


Especial do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), oferecendo apoio e
orientação especializados a indivíduos e famílias vítimas de violência física,
psíquica e sexual, negligência, abandono, ameaça, maus tratos e discriminações
sociais.

A Proteção Social Especial deve garantir o acolhimento e desenvolver


atenções socioassistenciais a famílias e indivíduos, para possibilitar a reconstrução
de vínculos sociais e conquistar o maior grau de independência individual e social.
Assim o trabalho do CREAS baseia-se em:

• Acolher vítimas de violência;


• Acompanhar e reduzir a ocorrência de riscos, seu agravamento ou recorrência;
• Desenvolver ações para diminuir o desrespeito aos direitos humanos e sociais.

UNI

Foi possível compreender a diferença entre o CRAS e o CREAS?

Para aprofundar o tema e ampliar seus conhecimentos sobre a Tipificação


Nacional de Serviços Socioassistenciais, sugerimos a leitura e estudo da Resolução
nº 109, de 11 de novembro de 2009:

152
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

FONTE: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e


Combate à Fome. Resolução nº 109, de 11, de novembro
de 2009, que aprova a Tipificação Nacional de Serviços
Socioassistenciais. Brasília, 2009. Disponível em: <http://www.
mds.gov.br/assistenciasocial/protecaobasica/servicos/protecao-
e-atendimento-integral-a-familia-paif/arquivos/tipificacao-
nacional.pdf/download>. Acesso em: 15 jan. 2015.

UNI

Foi possível compreender um pouco mais sobre a amplitude das políticas públicas,
especificamente sobre a política de assistência social no Brasil?
Esperamos que sim!

Para ampliar ainda mais seus conhecimentos, analise este parecer do


Conselho Federal de Serviço Social (2011, p. 29-30):

O conhecimento da legislação social é um pré-requisito para o exercício


do trabalho. No caso do Serviço Social, esta é uma matéria obrigatória
prevista nas Diretrizes Curriculares. A atualização do conhecimento dos
marcos legais, contudo, é uma necessidade contínua de todos/as/ os/as
trabalhadores/as e deve ser buscada conjuntamente pelas equipes do
SUAS. Entre as principais legislações que são instrumento de trabalho
dos profissionais, destacam-se:
Constituição Federal – CF, 1988;
Lei Orgânica da Saúde – LOS/1991;
Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS/1992;
Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS / 1993;
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA/1990;
Estatuto do Idoso – Lei 10741/2004;
Política Nacional de Assistência Social – PNAS/2004;
Política Nacional do Idoso – PNI/1995
Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência – PNIPD/1999;
Norma Operacional Básica de Assistência Social – NOBSUAS/2005;
Novo Código Civil;
Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS – NOB-RH/
SUAS/2007;
Decretos e Portarias do Ministério de Desenvolvimento Social;
Programa Brasil sem Homofobia.

153
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

UNI

Não esqueça de recorrer às leis, estatutos, políticas, programas, normas, decretos,


buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada, principalmente
aqueles mais antigos, visto que muitos foram alterados no decorrer de sua data de criação,
pela questão da própria necessidade de adequação com a realidade da sociedade atual.

LEITURA COMPLEMENTAR

ANÁLISE DO SERVIÇO SOCIAL NA ASSISTÊNCIA SOCIAL

Thiago Bazi Brandão


Adriana Alves dos Reis Almeida

A partir da Lei 8.742/1993, que dispõe sobre a Assistência Social, é criado


em 2004 o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), pela união dos assistentes
sociais, profissionais, militantes da assistência e usuários na participação nos
Conselhos, Conferências, movimentos sociais e outros. Segundo o Conselho
Federal de Serviço Social- CFESS e ABEPSS (2009, p. 468):

Esse é, certamente, um dos maiores desafios dos assistentes sociais em


relação à tendência referida, considerando-se reafirmação da assistência
como o espaço privilegiado da prática profissional a partir da Lei Orgânica
da Assistência (LOAS) e agora do Sistema Único da Assistência Social
(SUAS), com o qual avançou entre os assistentes sociais a perspectiva
da luta pela assistência como direito, cuja centralidade merece atenção
em relação à luta pelo direito ao trabalho, fundamental na sociedade
capitalista e à organização da classe trabalhadora.

Diante dessa nova modalidade de atendimento, pergunta-se: Quais são os


desafios enfrentados pelos assistentes sociais na atuação com famílias, no âmbito
da Política de Assistência Social? Depois do ano de 2004, com a criação do SUAS,
o Serviço Social tem como desafio utilizar as competências dos profissionais
assistentes sociais para contribuir na efetivação da Política de Assistência Social.
De acordo com a Gestão do Trabalho do SUAS:

A Assistência Social é, nesse sentido, um campo fundamental e


estratégico de mediações políticas para a conquista de garantias do
trabalho na esfera pública dessa política pública e para o exercício
cotidiano da leitura crítica da realidade brasileira, especialmente no
contexto de centralização do combate à pobreza e de crise cíclica do
capital, na afirmação da necessária ampliação dos direitos e da proteção
social. (GESTÂO/SUAS, 2011, p. 36).

Para realizar trabalho em equipe, interligado com o Estado para articular


as redes socioassistenciais. Assim, propor projetos e planos de trabalho, pois o
serviço social trabalha o processo de reprodução das relações sociais tanto entre

154
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

os usuários que buscam atendimento, e os profissionais que estão envolvidos


no trabalho da Assistência Social: Iamamoto (2011) entende como competência
profissional as estratégias e técnicas junto à capacidade de leitura da realidade
conjuntural, na habilidade ao trato das relações humanas que o assistente social
tem com a equipe de trabalho e outros.

O Programa de Atenção Integral à Família – PAIF instituiu o Centro de


Referência em Assistência Social – CRAS para prestar atendimento às famílias
em vulnerabilidade social. De forma que no mesmo ano, também pela edição
da Política Nacional de Assistência Social/ PNAS-2004: o CRAS é vinculado ao
Sistema Único de Assistência Social, o SUAS. Segundo a Revista A Melhoria da
Estrutura Física para o Aprimoramento dos Serviços (MDS, 2011, p. 8):
O novo sistema procurou romper com a fragmentação de programas,
estabelecer um padrão de racionalidade e organicidade e reordenar-se
por categorias de serviços e níveis de complexidade. Nesse contexto, o
CRAS passou a ser o lócus preferencial para a articulação e coordenação
dos ‘serviços de proteção social básica’, uma das duas vertentes do
sistema, fundamentado em dois pilares: o da centralidade das famílias
e o da territorialidade.

De acordo com esta nova modalidade de atendimento ao usuário da


Assistência Social, o Serviço Social, em atendimento interdisciplinar, desenvolve
ações integradas que têm como propósito ampliar as perspectivas de abordagem
profissional, permitindo aos profissionais realizarem o trabalho com visões
diferentes e assim confrontar ideias, referentes ao que cada profissional defende
como princípios éticos.

E por meio dessa nova modalidade no atendimento que é desenvolvido


na Assistência Social, sendo de responsabilidade municipal; o MDS tem como
proposta a implantação do CRAS em pontos estratégicos de todas as cidades, em
todo o território brasileiro, na forma de proteção básica e inclusão social em níveis
de diferentes complexidades. Pois é na unidade onde está presente o profissional
do Serviço Social que faz-se a oportunidade desse profissional contribuir para a
autonomia e o protagonismo das famílias que buscarem atendimento.

De forma que o assistente social, juntamente com a equipe multiprofissional,


tem a oportunidade de maior acerto nas intervenções individuais, ao compartilharem
o conhecimento profissional. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome (2011, p. 65), “A interdisciplinaridade é um processo de trabalho
recíproco, que proporciona um enriquecimento mútuo de diferentes saberes, que
elege uma plataforma de trabalho conjunta, por meio da escolha de princípios e
conceitos comuns”.

Porém, a práxis do assistente social tem um diferencial das demais


profissões, pois sua estruturação é histórica, aconteceu pela luta nos movimentos
sociais com a sociedade em busca da democratização do país. A qual está ancorada
nos fundamentos históricos teórico-metodológicos, e na ação profissional vinculada
ao Código de Ética que norteia a profissão. De acordo com a Gestão do trabalho no
âmbito do SUAS:
155
UNIDADE 2 | O NEODESENVOLVIMENTO NO CAPITALISMO E O ACIRRAMENTO DAS
EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Convém lembrar que dos profissionais definidos na NOB RH/SUAS


para compor as equipes de referência dos CRAS (Assistência Social
e Psicólogo), CRES (Assistente Social, psicólogo e Advogado) e dos
serviços de acolhimentos (Assistente Social e Psicólogo). (GESTÃO/
SUAS, 2011, p. 96).

Sendo assim, o assistente social na Assistência Social, junto com a equipe


interdisciplinar, tem como papel realizar suas ações, de forma coletiva; a exemplo
deste trabalho profissional, os CRAS são instituições onde acontecem reuniões
semanais, buscam contextualizar o trabalho, não de maneira individual, mas sim
acontecem trocas de experiências profissionais, para a realização das atividades
dentro da instituição.

Podemos definir algumas das atividades do assistente social, como:


Assessoria aos movimentos sociais, realizar visitas, perícias técnicas, laudos,
informações e pareceres sobre o acesso e implantação da Assistência Social, realizar
estudos socioeconômicos, organizar os procedimentos e realizar atendimentos
individuais ou coletivos nos CRAS, e exercer função de direção ou coordenação
nos CRAS e CREAS e Secretarias. (CFEES, 2011, p. 22). O assistente social também
realiza junto à equipe de referência outras atividades, conforme o Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011, p. 40):

A partir da escolha da concepção de trabalho social com famílias do


PAIF que será adotada, é importante que se desenhe a(s) metodologia(s)
a serem implantada(s), de acordo com as características dos territórios,
planeje a organização do espaço físico, defina os equipamentos
necessários, os processos de trabalho, carga horária, e a rotina de
planejamento das atividades semanais (acolhida, acompanhamento de
famílias e de indivíduos, grupos/oficinas de convivência e atividades
socioeducativas, visitas domiciliares, busca ativa, atividades coletivas-
campanhas, palestras – e acompanhamento dos serviços prestados no
território de abrangência do CRAS).

Essas atividades que são desenvolvidas pelo serviço social, de forma a


proporcionar ao cidadão o acesso aos serviços socioassistenciais e benefícios de
transferência de renda, com garantia de direitos a todas as famílias que estão
incluídas no PAIF, são parte do trabalho do assistente social. E não somente na
modalidade de matricialidade sociofamiliar, como foi analisado no artigo da
autora Carloto, ‘No meio do caminho entre o privado e o público’. (CARLOTO;
MARIANO, 2010).

Carloto e Mariano (2010) fazem uma crítica ao atendimento nos CRAS,


onde as mulheres são quem recebem os benefícios de transferência de renda; são
elas que participam das reuniões de grupos, de forma que os homens pais, ou
outros responsáveis, não participam. Não há um envolvimento de toda a família,
e muitos homens, mesmo sendo responsáveis, não têm acesso a essas políticas
sociais, e sim as mulheres, os homens perdem a responsabilidade de provedor.

Mais recentemente, com a criação do SUAS, a família tornou-se o lócus


privilegiado do conjunto das ações de enfrentamento da pobreza no país.
Observa-se, no SUAS, a perspectiva da “matricialidade sociofamiliar”

156
TÓPICO 4 | A TIPIFICAÇÃO NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSISTENCIAIS

com papel de destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência


Social. (ALENCAR, 2013, p. 133).

O assistente social pode encontrar neste contexto o diferencial no trabalho,


não realizar ações somente para famílias com perfil de matricialidade, onde só a
mulher é responsabilizada pela proteção da família, mas investir na participação
de toda a família, independente do perfil familiar.

Com essa percepção, o assistente social tem a possibilidade de realizar


um trabalho com mais envolvimento com os usuários, e não cair em uma prática
alienada no desenvolvimento do seu trabalho profissional. Por isso é importante
analisar o contexto social das famílias e indivíduos, que serão atendidas por meio
da assistência social, buscando de forma crítica prestar esse atendimento. Esse é um
diferencial no trabalho do assistente social, não tratar uma situação que necessita
de uma intervenção apenas como mais um caso, sem uma análise contextualizada
da realidade.

A pesquisa é ainda um recurso importante no acompanhamento da


implementação e avaliação de políticas, subsidiando a (re)formulação
de proposta de trabalho, capaz de ampliar o espaço ocupacional dos
profissionais envolvidos. (IAMAMOTO, 2011, p. 146).

Outra questão que é importante ressaltar, presente na Política Nacional de


Assistência Social que criou o SUAS: que a Assistência Social é literalmente para a
classe subalterna, ou seja, para a família que está em situação de vulnerabilidade
social. (PNAS/2004, NOB/SUAS, 2005, p. 33)

Porém, esse trabalho poderia ser diferente. Em vez de ser interventivo,


ser de prevenção, como exemplo: promover atividades de esporte aos filhos das
famílias atendidas e para toda a comunidade próxima aos CRAS, antes que os
jovens se envolvam com drogas e com o crime organizado. Isso poderia acontecer
se o Estado investisse mais nas demais políticas sociais para atender à necessidade
da demanda de cada local. Essa conquista pode fazer parte de uma busca diária no
exercício do trabalho do assistente.

FONTE: BRANDÃO, Thiago Bazi; ALMEIDA, Adriana Alves dos Reis. Os desafios da atuação do
assistente social com família no campo socioassistencial, 2014. Trabalho de Conclusão de Curso.
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Lato Sensu em (Serviço Social, Política Social e Família).
Universidade Católica de Brasília. Disponível em: <http://repositorio.ucb.br/jspui/handle/10869/3346>.
Acesso em: 15 fev. 2015.

157
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste quarto tópico estudamos a tipificação nacional de serviços
socioassistenciais, compreendendo os seguintes aspectos:

• Percebemos o crescimento das ações estatais voltadas à proteção social, como


forma de erradicar a pobreza extrema e diminuir as desigualdades sociais.

• Compreendemos que a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais é uma


forma de organizar a assistência social por níveis de complexidade do Sistema
Único de Assistência Social – SUAS.

• Esclarecemos a diferença entre situação de vulnerabilidade social e de risco


social, especificando vários exemplos.

• Especificamos a importância de recorrer às leis, estatutos, políticas, programas,


normas, decretos, buscando sempre em sua forma mais atualizada, consolidada.

158
AUTOATIVIDADE

1. As ações estatais voltadas à proteção social foram ampliadas e consolidadas,


assim também surgiram várias siglas, termos, programas sociais, leis,
resoluções. Refletindo sobre a amplitude da política de seguridade social,
associe os itens, utilizando o código a seguir:

I – TIPIFICAÇÃO.
II – CRAS.
III – CREAS.
IV – NOB SUAS.

( ) Organiza o modelo da proteção social, normatizando e operacionalizando


os princípios e diretrizes de descentralização da assistência social na realidade
brasileira.
( ) Proteção social de pessoas e famílias que ainda não estão em situação de
risco social, mas precisam de proteção e promoção social.
( ) É uma forma de organizar a assistência social por níveis de complexidade,
compreendendo: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e
Alta Complexidade.
( ) Prestação de serviços a indivíduos e famílias que se encontram em situação
de risco pessoal ou social, por violação de direitos ou contingência, que
demandam intervenções especializadas da proteção social especial.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – IV – III – II.
b) ( ) IV – II – I – III.
c) ( ) II – I – IV – III.
d) ( ) I – III – II – IV.

159
160
UNIDADE 3

REDISCUTINDO AS QUESTÕES
SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES NA
CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA
ORDEM SOCIETÁRIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer, analisar as possibilidades e alternativas de reversão do agrava-


mento das expressões da questão social, especificamente, os desafios que
deverão ser enfrentados no novo milênio pelos diversos setores da socie-
dade;

• refletir sobre a construção de uma nova ordem societária, procurando sin-


tonizar o serviço social na contemporaneidade brasileira;

• abordar o tema da desigualdade social, as concepções dos sistemas de in-


dicadores e os objetivos do desenvolvimento social do milênio;

• analisar e discutir a reconstrução da sociedade pelo desenvolvimento da


cultura, da liberdade e da condição humana do sujeito.

PLANO DE ESTUDOS
A Unidade 3 está dividida em quatro tópicos e, ao final de cada um deles,
você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos realizando as ativi-
dades propostas.

TÓPICO 1 – POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO


AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

TÓPICO 2 – REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SIN


TONIZANDO O SERVIÇO SOCIAL NA
CONTEMPORANEIDADE

TÓPICO 3 – A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS


SISTEMAS DE INDICADORES

TÓPICO 4 – RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS


VULNERABILIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA
HUMANA

161
162
UNIDADE 3
TÓPICO 1

POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO


AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

1 INTRODUÇÃO
Este primeiro tópico tem por objetivo apresentar algumas reflexões
a respeito das possibilidades e alternativas de reversão do agravamento das
expressões sociais da questão social no Brasil.

Você irá rever e rediscutir as novas expressões sociais consideradas como


expressões sociais, que se mostram na realidade brasileira, bem como os dilemas
que o Estado deverá resolver ou equacionar de fato.

Serão abordadas as implicações das expressões sociais que são rebatidas


e enfrentadas pelo primeiro, segundo e terceiro setor, em alguns casos de forma
paliativa e conformista, clientelista e não democrática e em outros de forma
intencional, consciente e crítica, democrática e transformadora na construção de
novos valores sociais e de uma nova realidade brasileira, mais humana, justa e
participativa.

2 OS DESAFIOS DAS EXPRESSÕES MULTIFACETADAS DA


QUESTÃO SOCIAL
Os desafios para melhorar a qualidade de vida no mundo e no Brasil são
imensos e parecem infindáveis, visto o agravamento das expressões sociais que
se multiplicaram, se transformaram e se configuraram em outras “roupagens”,
problemas antigos e novos, porém em sua gênese questões sociais anteriormente e
historicamente, não abordados, não prevenidos e não resolvidos.

Assim, como o capitalismo teve um acirramento em sua forma de


se desenvolver e se constituir com a efetivação da chamada globalização e
internacionalização da economia, consequentemente as expressões sociais também
se proliferaram no cenário contemporâneo mundial e brasileiro.

Nesse sentido, o CFESS (2012, p. 50), especifica de forma bem clara:

Se a questão social é uma velha questão social, inscrita na própria


natureza das relações sociais capitalistas, ela também tem novas

163
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

roupagens, novas expressões em decorrência dos processos históricos


que a redimensionam na atualidade, aprofundando suas contradições.
Alteram-se as bases históricas que mediatizam sua produção/reprodução
na periferia dos centros mundiais, em um contexto de globalização
da produção e dos mercados, da política e da cultura, sob a égide do
capital financeiro, acompanhadas de lutas surdas e abertas, nitidamente
desiguais, que demarcam esse processo na cena contemporânea.

Assim, até por uma questão cultural fomentada pela ideologia capitalista,
muitos possuem uma visão comum e distorcida sobre o termo qualidade de vida,
como por exemplo, para algumas pessoas ter emprego e dinheiro é ter qualidade de
vida, pois consideram que conseguem comprar o que precisam, assim, a felicidade
está condicionada e associada ao valor e poder de compra e consumo.

Porém, percebemos que a qualidade de vida é muito mais do que a obtenção


de dinheiro, bens materiais e de consumo, como prioriza o capitalismo.

A qualidade de vida envolve um mundo muito além do que ter bens e


riquezas individualmente, trabalho e renda, poder de consumo de bens, serviços,
produtos e artigos de marca e luxo.

A noção de qualidade de vida envolve duas grandes questões: a


qualidade e a democratização dos acessos às condições de preservação
do homem, da natureza e do meio ambiente. Sob essa dupla
consideração, entendeu-se que a qualidade de vida é a possibilidade
de melhor redistribuição – e usufruto – da riqueza social e tecnológica
aos cidadãos de uma comunidade, a garantia de um ambiente de
desenvolvimento ecológico e participativo de respeito ao homem e à
natureza, com o menor grau de degradação e precariedade. Sabemos
que existem questões prioritárias que devem ser enfrentadas em
todos os sentidos, pelo Estado, pelas empresas, pelas instituições que
congregam o terceiro setor, em fim por toda sociedade civil organizada
e por cada cidadão brasileiro (DICIONÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS
DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 91).

Nesse sentido de amplitude, levando em consideração as melhores


condições de vida que o ser humano necessita, todos devem ser corresponsáveis
por uma natureza harmoniosa, um meio ambiente sadio e limpo, um mundo e
uma sociedade melhor. Porém, percebemos que muitos dos problemas mais
abrangentes e essenciais, melhor dizendo, prioritários, dependem do Estado em
suas vertentes enquanto poder legislativo, executivo e judiciário.

Para o melhor desenvolvimento de um país, o Estado é o principal


alavancador de ações em termos de qualidade de vida no sentido de amplitude,
descrito anteriormente, visto que existem inúmeros desafios maiores, expressões
sociais mais abrangentes que se configuram no cenário brasileiro que cabem ao
Estado enfrentá-los, diminuí-los ou saná-los.

Castel (2013a), em seu livro As Metamorfoses da Questão Social, enfatiza a


importância da proteção social ao trabalhador, isso no contexto do neoliberalismo,
procurando explicitar a necessidade da sociedade e do governo no sentido de

164
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

encontrar respostas para uma questão emergente, que diz respeito à questão
salarial na sociedade. Assim, o enfrentamento realizado pelo Estado deve ser
direcionado para a constituição de um Estado Social, promotor de coesão social,
ou melhor descrevendo, um Estado Democrático de Direito. “De um lado, em sua
obra inicial, R. Castel aponta uma crítica ao Estado e sua capilaridade, de outro
lado, em obras recentes, delineia uma defesa do Estado e clama justamente pela
expansão desses canais longínquos de proteção social”. (SILVA, 2012, p. 67).

Descrevemos, no quadro a seguir, alguns desafios frente às questões sociais


no Brasil, necessidades e prioridades que merecem estudo, análise, reflexão,
discussão e enfrentamento, essencialmente enfrentamento, que deve ser realizado
pelo chamado “primeiro” setor da sociedade, o Estado.

QUADRO 16 – DESAFIOS A SEREM ENFRENTADOS NO BRASIL PELO ESTADO

DESAFIOS FRENTE ÀS
QUESTÕES SOCIAIS NO
NECESSIDADES E PRIORIDADES
BRASIL

No sentido de uma profunda alteração


política no país, ou seja, uma transformação
sistêmica da engenharia política atual, e não
EFETIVAR DE FATO A
apenas reformas pontuais ou de algumas
REFORMA POLÍTICA NO PAÍS
situações ou casos do arcabouço institucional
político.
Distribuir renda não é dar benefícios para
as pessoas, faz-se necessário diminuir a
desigualdade social e melhorar, e muito, no
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA país as condições para obtenção de renda,
aumento da renda, investir “pesado” em
educação e saúde, ou seja, enfrentar a pobreza
como ela realmente deve ser enfrentada.
A distribuição de terras e produção de
alimentos saudáveis são desafios ao país, a
REFORMA AGRÁRIA
reforma agrária é proposta antiga no Brasil
que não se resolve de fato.
Para garantir moradia, governantes terão de
enfrentar a especulação imobiliária e suprir
MELHORAR A QUESTÃO
o déficit habitacional, bem como melhorar a
HABITACIONAL
qualidade das construções das moradias que
são oferecidas via aos programas sociais.
Transporte público e planejamento urbano
devem ser prioridades nos próximos anos,
MOBILIDADE URBANA
visto o caos de mobilidade nos centros
urbanos no país.

165
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Investimentos diversos de forma contínua


MELHORAR A QUALIDADE
e não esporádica são essenciais para a área
DO ATENDIMENTO NA
da saúde, financiamento, gestão e formação
SAÚDE
profissional devem ser prioridades vitais.
DIMINUIR A VIOLÊNCIA E A Redução de homicídios e presos também
CRIMINALIDADE deve ser prioridade na área de segurança.
O país precisa aumentar investimentos
DEMOCRATIZAR A significativos em educação e ampliar
EDUCAÇÃO E MELHORAR A matrículas, além da inclusão social de pessoas
QUALIDADE com deficiência, qualificação dos professores
e infraestrutura.
Há um número insuficiente de equipamentos
e estruturas nas regiões mais pobres do Brasil,
INVESTIR E AMPLIAR O como centros culturais, teatros, museus,
ACESSO DA POPULAÇÃO À dentre outros, quando não, inexistentes. O
CULTURA E PRESERVAÇÃO descaso público com bens culturais, falta
DO PATRIMÔNIO CULTURAL de investimentos, preservação e divulgação
NAS REGIÕES dos patrimônios culturais nas cidades são
desafios a serem enfrentados na área da
cultura.
Conciliar interesses de índios e produtores
rurais é um dos desafios para o país, bem
REDISCUTIR A POLÍTICA
como valorizar e conservar a cultura indígena.
INDÍGENA E VALORIZAR SUA
Percebe-se que é um desafio rediscutir a
IDENTIDADE
política indígena, porém não é vista como
prioridade no Brasil.
Se não houver investimentos na questão
EFETIVAR O PLANEJAMENTO urbana de forma efetiva, vamos continuar
URBANO E AMPLIAR O sofrendo as consequências no sentido de não
SANEAMENTO BÁSICO termos qualidade de vida, bem-estar coletivo,
saúde e um meio ambiente limpo.
PRESERVAÇÃO, Necessário alterar as formas de produção
CONSERVAÇÃO E e interação com o meio ambiente em que
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL vivemos. Talvez, nesse sentido, se possam
E DESENVOLVIMENTO diminuir os efeitos negativos que causamos
SUSTENTÁVEL a nós mesmos.
Carência de recursos e burocracia são
entraves para ciência e tecnologia no país,
AUMENTAR AS PESQUISAS
bem como financiamento contínuo, pois
E OS INVESTIMENTOS EM
algumas pesquisas não podem ser feitas a
CIÊNCIA E TECNOLOGIA
curto prazo, pois os resultados dependem de
tempo.
FONTE: Adaptado de ALMANAQUE ABRIL. 2015. Ano 41. São Paulo: Editora Abril. Disponível em:
<https://almanaque.abril.com.br/>. Acesso em: 13 mar. 2015.

166
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Acredita-se que, a reforma de todas as reformas, ou seja, a começar por ela,


é a reforma política, pois tudo depende dos poderes que congregam a função do
Estado, no caso do Brasil, do Estado Democrático de Direito.

Assim, conforme José Afonso da Silva (1994, p. 110, apud MARQUES;


NUNES, 2012), “a tarefa fundamental do Estado Democrático de Direito consiste
em superar as desigualdades sociais e regionais e instaurar um regime democrático
que realize a justiça social”.

Nesta perspectiva de análise e reflexão, é necessário esclarecer que existem


princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito, essenciais para o bem-
estar de toda coletividade, incluindo pessoas, natureza e meio ambiente, esses são
mais gerais e abrangentes, que se caracterizam como princípio de lei de regras
gerais, ou regras fundamentais tidas como base.

Alguns princípios fundamentais podem ser descritos, tais como o princípio


da constitucionalidade, da democracia, da justiça social, da igualdade social, da
divisão dos poderes, da legalidade, da segurança jurídica e o sistema de direitos
fundamentais (SILVA, 1994, apud MARQUES; NUNES, 2012).

Os princípios fundamentais de um Estado Democrático são os fundamentos


de uma sociedade, ou deveriam ser, tais como: a soberania, cidadania, dignidade,
valores sociais e o pluralismo político que dependem de vários poderes, como
do legislativo, executivo e judiciário, do poder que emana do povo que tem
como representantes os políticos e do poder da união indissolúvel dos Estados,
municípios e do Distrito Federal que devem efetivar a garantia dos direitos sociais.

Para explicar de forma mais objetiva e clara, segue uma visão geral e ampla
dos princípios e poderes da República Federativa do Brasil, assim podem ser
compreendidos na figura a seguir.

167
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 24 – MAPA MENTAL DOS PRINCÍPIOS DO ESTADO DEMOCRÁTICO

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/h?q=significado+princ%C3%ADpios+fu


ndamentais+do+Estado+Democr%C3%A1tico+de+Direito&espv>. Acesso em: 14 mar. 2015.

Referindo-se ao Estado Democrático de Direito no Brasil, percebemos uma


limitação profunda em efetivar a igualdade e a justiça social de fato, visto que
inúmeras reformas que foram realizadas não efetivaram as reformas políticas
necessárias para que as demais reformas fossem então reformuladas, criadas e
implementadas no país.

Assim, acredita-se que a reforma mais importante e que deveria impulsionar


todas as outras a partir de então, seria a reforma política, que parece intocável
pela sua própria institucionalização que favorece a todos aqueles que de início a
implementaram.

Nesse sentido percebe-se o número de vantagens, salários, cargos


comissionados, aposentadorias, benefícios, regalias, direitos absurdos daqueles
que estão no poder e não almejam mudança, seja no executivo, legislativo ou
judiciário.
Para alguns analistas, o comprometimento e os limites de várias
reformas propostas e implementadas nos governos FHC e Lula podem
ser esclarecidos pelo fato de a dimensão do sistema político não ter sido
atingida (Abranches, 2005; Fleischer, 2005). Ou seja, os atores políticos
atuantes nas instituições políticas estavam e estão inseridos na forma
viciada da engenharia política instituída. Nessa perspectiva, somente
com uma reforma política teria havido a possibilidade de outras
reformas mais amplas. A ‘mãe’ de todas as reformas seria a reforma
política, sendo a geradora de condições que resultariam em alterações
estruturais no País.
Cabe ainda esclarecer que o debate sobre a reforma política tem como
preocupação garantir o bom funcionamento de um regime político
democrático, baseado especialmente no desafio da construção da
governabilidade, na eficácia decisória e na boa representação. (KRAUSE,
2008, p.125).

168
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Ainda sobre a reforma política, Krause (2008, p. 124), descreve que “[...]
uma possível reforma política não irá instaurar a democracia, mas aperfeiçoá-la.
Não se refere a uma mudança de natureza do regime, mas da sua qualidade”.

Seguindo a discussão, como efetivar a igualdade social, a justiça social, a


distribuição de renda sem uma autêntica e profunda reforma política no Brasil?

Dando continuidade aos questionamentos, como é o perfil da distribuição


de renda, ou seja, como a riqueza total que é produzida no país é distribuída entre
a população?

Segundo Fonseca (2004, p. 1), “A relação entre desenvolvimento econômico


e distribuição de renda é dos temas mais controversos da teoria econômica”, pois
nem sempre desenvolvimento econômico é significado de desenvolvimento social
e humano, visto que no Brasil a distribuição de renda sempre foi considerada uma
das mais desiguais do mundo.

A questão social no Brasil é moldada de acordo com os interesses das


elites políticas. A questão social, que com a questão trabalhista firma-
se como proteção social (como direitos sociais e filantropia), assume
característica paternalista, de política do favor, de patriarcalismo
autoritário, ou seja, misérias transformam-se em instrumentos, armas
de dominação, bem como a reprodução do sistema. Por isso, ainda hoje,
direitos são vistos pela elite como privilégios, favores.
Desde a sua origem, o nosso sistema de proteção social, em vez de existir
para garantir a capacitação e inclusão dos cidadãos (desempregados,
analfabetos, pessoas em situação de miséria) no mercado de trabalho, tem
funcionado apenas para reproduzir o atual sistema de subalternidade,
de subserviência, de apadrinhamento das classes assalariadas e do
povo em geral frente àqueles detentores do poder econômico e político
do país. Vivemos, na verdade, um sistema de desproteção social, e as
múltiplas expressões da questão social atravessam o cotidiano da maior
parte dos brasileiros, levando-os a uma vida de privações e não acesso
aos bens sociais e à riqueza produzida socialmente. (GUIMARÃES;
BELLINI, 2013, p. 13).

Pode-se fazer uma análise sob duas perspectivas sobre o enfrentamento da


desigualdade social no Brasil, uma delas sob o ponto de vista crítico e outra sob
o ponto de vista protecionista tendo como base aqueles que estão no poder e que
efetivam as políticas públicas e sociais no país.

Seguindo uma linha de discussão crítica, o sistema de proteção social no


país não tem proposta de emancipação humana, em vez de existir para garantir
a capacitação e inclusão das pessoas no mercado de trabalho, para que assim,
obtenham renda para terem autonomia e independência, bem como para garantir
a melhoria das condições de renda daqueles que estão trabalhando, na realidade
tem funcionado em forma de assistencialismo para àqueles que estão em situação
de vulnerabilidade e risco social.

Assim, enquanto uns acham que estão vivendo melhor sendo beneficiados
com várias vertentes de alguns míseros benefícios sociais, outros indivíduos vão

169
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

migrando para outras situações e condições de pobreza, configurando novas


formas de pobreza, mesmo tendo trabalho e sendo assalariadas, pouco ou nada o
Estado faz de concreto em termos de prevenção ou promoção para que se tenha
uma renda adequada e um trabalho não vulnerável.

Agora, sob o ponto de vista protecionista, tendo como base a visão daqueles
que estão no poder e que efetivam as políticas públicas e sociais no Brasil, a
miséria foi combatida no país, a desigualdade social diminuiu significativamente,
a qualidade de vida das pessoas melhorou, e muito, os investimentos na área
social estão garantindo todos os direitos sociais à população vulnerável no país. A
democracia e a cidadania estão sendo efetivadas de fato no Brasil, a partir de todo
esforço do Estado por meio das políticas públicas e sociais, onde a inclusão social
de milhões de brasileiros está sendo efetivada e garantida pelo Estado Democrático
de Direito conforme a Constituição Federal.

Bem, temos que analisar esses dois pontos de vista, pois ambos são, em
parte, coerentes e, em parte, duvidosos!

A desigualdade social no Brasil, realmente é um fato antigo, histórico,


enraizado que abrange a economia e a má distribuição de renda, desde o surgimento
do sistema capitalista e seu desenvolvimento que continua avançando por meio do
processo de exploração e dominação em todos os sentidos, não somente do ponto
de vista econômico, mas político, social, cultural, ideológico, ambiental.

A libertação da polêmica envolvida na dicotomia entre crescimento


e desenvolvimento de forma alguma apaga ou negligencia qualquer
preocupação social do analista; ao contrário, contribui para explicitar,
de forma cabal, que desenvolvimento e distribuição são processos
diferenciados, não necessariamente coincidentes e que só coexistem
se cumpridas algumas pré-condições de natureza extremamente
complexa: institucionais, políticas e culturais. Assim, pode-se ter
desenvolvimento com ou sem melhoria da distribuição de renda, com
ou sem melhoria dos indicadores sociais, não havendo nenhuma “lei”,
natural ou social, que obrigue um ou outro caminho em termos de
economia. A distribuição pode ocorrer, mas não decorre da lógica do
crescimento [...]. (FONSECA, 2004, p. 3).

Assim, analisando a discussão sobre a distribuição de renda, ela pode ou


não ocorrer, mas realmente não irá depender do desenvolvimento econômico
como alguns acreditam, pois seguindo a lógica do capitalismo, se instaura um
modelo de vida e mundo não para o ser humano, mas essencialmente utilizando o
homem como meio, a favor do capital, do lucro, do sistema, embora obscuramente
se enfatize o contrário.

Segundo Oliveira (2006, p. 2)

Durante muito tempo, o pensamento dominante foi que desenvolvimento


e crescimento econômico seriam a mesma coisa: bastava que uma
comunidade produzisse riqueza, medida pelo Produto Interno Bruto
(PIB), para ser considerada desenvolvida. Acreditava-se também que o
crescimento econômico “transbordaria” dos ricos para os pobres e que,

170
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

por isso, bastaria atrair e incentivar empresas – de preferência grandes


– para desenvolver uma região. Os empregos seriam automaticamente
criados, a arrecadação de impostos aumentaria, e todos ganhariam com
isso. Os fatos e as pesquisas mostraram que o mundo real não é bem
assim.

Nessa lógica ideológica do capitalismo e do Estado que é mínimo, mas se


diz “máximo”, a miséria não desaparece, constatamos que ela apenas diminuiu
e a pobreza, na realidade, também não desaparece, mas aumentou de forma
diferenciada, sendo aliviada, camuflada e metamorfoseada.

FIGURA 25 – SITUAÇÃO DA POBREZA E DA FALTA DE MORADIA NA CIDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Na realidade, há um aumento da pobreza, pois surgem outras formas de


pobreza, além daquela em que as pessoas não possuem o básico para sobreviver,
enfim, surgem novas configurações das expressões da questão social no Brasil,
novos excluídos, seja na área rural ou urbana, campo ou cidade.

Num cenário de crescente pobreza, absoluta e relativa, cujo avanço da


ofensiva neoliberal imprime um papel para o Estado, mínimo para o
social e máximo para o capital (nos termos de NETTO, 1999), as agências
multilaterais se consagraram como as mais apropriadas para promover
ações e políticas de alívio à pobreza, ou seja: ajuda internacional
mediante transferência de capitais e tecnologias. É diante desse contexto
que o Banco Mundial vem assumindo a expressão do multilateralismo
e se tornando o principal promotor das políticas de combate à pobreza,
sobretudo nos países da periferia. (SIQUEIRA, 2012, p. 355).

Podemos compreender que, do ponto de vista normativo, existe a pobreza


absoluta e a pobreza relativa, analisando essa visão normativa a pobreza absoluta
é aquela em que as necessidades básicas de subsistência não são supridas, assim
as pessoas carecem de materiais básicos para a sobrevivência, como por exemplo:
falta de comida, de moradia, de vestuário, entre outros aspectos mínimos que
possam garantir a vida.

Refletindo sobre a desigualdade social e a má distribuição de renda


no país, até há pouco tempo, a pobreza era entendida em termos de
rendimento ou de falta deste. Ser pobre significava que não se dispunha
de meios econômicos para pagar uma dieta alimentar ou uma habitação
adequada. (FREITAS, 2010, p. 7).

171
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Verifica-se a pobreza absoluta no contexto das condições sociais de vida


das pessoas e das famílias no Brasil, onde os mesmos carecem de requisitos básicos
a sobrevivência digna, como exemplo, podemos observar a figura a seguir, que
demonstra essa realidade, aqui no caso da falta de moradia digna.

FIGURA 26 – UM DOS EXEMPLOS DE POBREZA ABSOLUTA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Podemos verificar que esta família carece de um dos requisitos básicos


para a existência humana, no caso, a falta de abrigo, um abrigo com qualidade e
dignidade, uma moradia, uma casa, um lar.

Freitas (2010, p. 7) descreve bem a caracterização da pobreza absoluta:

A concepção de pobreza absoluta entende a natureza da pobreza como


associada a não satisfação de um conjunto de necessidades básicas
e, portanto, na ideia base de subsistência. Estas necessidades são
identificadas através de processos próprios, podendo estar relacionados
com o contexto social. Para se viver numa situação de pobreza absoluta,
diz-se que os indivíduos carecem de requisitos fundamentais para a
existência humana: comida suficiente, abrigo e roupa. Um indivíduo
que se encontre abaixo deste padrão universal é considerado vítima de
pobreza absoluta.

Compreendendo a pobreza absoluta, iremos identificar melhor a concepção


de pobreza relativa, como não sendo aquela extrema, mas sendo aquela que pode
ser relacionada ou comparada com o padrão de vida das demais pessoas numa
determinada sociedade. Na pobreza relativa existem necessidades, porém não
básicas para a sobrevivência, sendo assim não comprometem a vida das pessoas,
como no caso ocorrem nas situações de risco social que caracterizam a pobreza
absoluta.

Assim, podemos enfatizar que na pobreza relativa, as pessoas estão em


situação de vulnerabilidade social, porém não de risco, mas na pobreza absoluta o
quadro é mais agravante, assim as pessoas se encontram em situação de risco social,
situações ou condições que comprometem os meios mínimos de sobrevivência, de
subsistência biológica para viver.
172
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Enquanto a concepção absoluta de pobreza considera primordial a


incapacidade de subsistência biológica das necessidades, na concepção
de pobreza relativa é o contexto social que determina as necessidades
a satisfazer. Na pobreza absoluta trata-se de casos mais extremos,
enquanto a relativa permite comparar com outros dentro da própria
comunidade. (FREITAS, 2010, p. 8).

Assim, a pobreza não consiste apenas em rendimentos ou numa ração


calórica insuficiente, especificamente tem a ver com a recusa de oportunidades
e de escolhas que são de um modo geral consideradas essenciais para ter uma
existência longa, saudável e criativa, bem como gozar de um nível de vida razoável,
de liberdade, de lazer, de dignidade, de respeito com as pessoas, com os bens
públicos, de cuidado de si e do outro.

Para Robert Chambers (2006 apud RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO


HUMANO 2014, p. 15) “vulnerabilidade não é o mesmo que pobreza. Não significa
estar carente ou necessitado, mas sim indefeso, inseguro e exposto a múltiplos riscos,
choques e estresse”. Assim, vamos percebendo que a vulnerabilidade é muito mais
complexa e ampla que a pobreza em si. Estar em situação de vulnerabilidade é
estar em uma das diversas situações ou condições diversas de insegurança, riscos,
pressão, estresse, entre outras inúmeras.

FIGURA 27 – VALORES DE RENDA NO BRASIL E POBREZA (2013)

FONTE: Datafolha/nov.2013. Disponível em: <www.google.com.


brsearch?q=má+distribuiçã o+de+renda&biw. Acesso em: 17 mar. 2015.

Analisando a pirâmide que demonstra a renda mensal das famílias no


Brasil, tendo como fonte a Datafolha/nov.2013, vamos perceber que não tem
como sobrar dinheiro para uma vida digna, de liberdade, com lazer, enfim, com
qualidade de vida. Estamos vivendo em uma época que, a renda mensal está sendo
direcionada apenas para o básico do básico ou seja, para as necessidades básicas
de sobrevivência, isso quando a família consegue pagar os impostos e as contas em
dia, como, por exemplo, a conta de energia elétrica que teve aumentos absurdos
neste ano no país.

Constatamos que mesmo trabalhando, a pessoa não consegue ter qualidade


de vida, especificamente um lazer digno, assim a TV se torna a única opção, um

173
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

mal necessário que aliena e aprisiona as mentes humanas e a capacidade de crítica


e reflexão.

Segundo Junho (2015, p. 49), “O sistema capitalista transformou o


trabalhador num verdadeiro escravo do tempo, sem ter condições de lazer ou, em
muitos casos, de receber um salário digno e proporcional a suas horas de dedicação
ao emprego”.

Assim, nós percebemos que a falta de recursos e renda para as diversas


satisfações do ser humano, por vezes, inexistem ou se existem, se fazem valer de
forma fragmentada ou ineficiente, bem como a falta de participação e poder nas
decisões do país de forma efetiva, da sociedade, da cidade, no seu bairro, assim,
aqueles que deveriam representar os interesses da população, na maioria dos casos
se preocupam em defender interesses que irão lhes garantir no poder.

Refletindo, vamos compreender então que, se faltam recursos e renda para


as pessoas, se elas não participam e não decidem politicamente sobre seus destinos,
da sua cidade e da sociedade, bem como, se sofrem com a falta de segurança em
todos os níveis na sociedade e, percebem que não possuem capacidades e formas
para o enfrentamento e para as resoluções dos problemas que os afligem, vamos
constatar que estas pessoas se encontram em situação de pobreza e de injustiça
social.

Relembrando o que foi discutido na Unidade 1 – Tópico 3, segundo Machado


(2014), compreender a questão social representa uma perspectiva de análise da
sociedade, pois não vemos a questão social em si, mas sim suas expressões, ou
seja, percebemos as inúmeras e incômodas manifestações e expressões sociais na
sociedade.

FIGURA 28 – REFLEXÃO SOBRE A JUSTIÇA E A INJUSTIÇA SOCIAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.


brsearch?q=má+distribuição+de+renda&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Agora, refletindo mais profundamente, quantos milhões de brasileiros


não estão nessa situação de pobreza, nessas condições de vulnerabilidade social
e de risco social? Se a miséria diminui no Brasil, segundo as estatísticas, de fato
podemos concluir sem dados números que a pobreza aumentou e muito no nosso
país.

174
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Sabemos que a pobreza não é uma questão somente vivenciada no Brasil,


mas no mundo, visto que ela existe em muitos países industrializados e caracteriza
regiões inteiras do mundo em desenvolvimento. As causas da pobreza residem
numa complicada teia de situações locais conjugadas com circunstâncias nacionais
e internacionais. É o produto de processos econômicos que se registram a diversos
níveis, bem como de uma série de condições sociais e econômicas que parecem
estruturar as possibilidades das pessoas (ANNAN, 2014).

Do mesmo modo, para ampliar ainda mais a discussão sobre a amplitude


da pobreza em relação ao sistema capitalista na contemporaneidade, não apenas
presenciamos, mas vivenciamos a falta de lazer e tempo para recarregar as energias
e ter saúde em sua plenitude, principalmente aquela chamada saúde psíquica, que
nos garante uma reflexão real, crítica e consciente sobre os fatos e a realidade na
qual vivemos.

Somos forçados a sobreviver, diga-se de passagem, uma vivência pobre,


nesse sentido, com uma qualidade de vida ilusória, sem dignidade, liberdade,
autonomia e respeito, num ambiente hostil onde a falta de segurança é geral e em
todos os sentidos. Estamos coagidos na sociedade atual e não temos medo apenas
do ladrão, mas de tudo e de todos, pois o mapa da violência é bem maior do que
imaginamos.

FIGURA 29 – AMPLITUDE DA PRESSÃO DA VIOLÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres?imgurl=https>. Acesso em:


19 mar. 2015.

Nesse sentido podemos enfatizar, de forma real e atual, que querendo ou


não, sofremos pressão todos os instantes em nossa vida, sendo um problema crucial
e está cada vez mais difícil recarregar as energias, forças, ânimos e motivações, bem
como até tempo para refletir e decidir sobre o que seria melhor para nós mesmos.

Nessa lógica de se ter tempo apenas para ganhar dinheiro, mesmo que de
forma multifacetada e informal, o lazer, o descanso, o happy hour estão se tornando
175
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

o prolongamento do trabalho, quando se tem. Segundo o sociólogo Junho (2015),


que se baseia no pensador venezuelano Ludovico Silva, discute a questão da mais-
valia no sentido de apropriação indevida de nosso tempo que deveria se ter para
o lazer e bem-estar.

FIGURA 30 – TRABALHO EM DEMASIA: APROPRIAÇÃO DO TEMPO

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=correndo+atrás+do+temp


o>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Essa chamada mais-valia se faz presente em tudo, não ocorre, somente,


dentro das empresas, mas o roubo do tempo acontece, também, de forma simbólica,
por meio da mais-valia ideológica, assim igualmente ocorre a exploração material
e a exploração simbólica. O sistema capitalista nos aprisiona, tornando-nos servos
de uma sociedade que somente tem “olhos” para a cultura do trabalho (JUNHO,
2015).

No entanto, como compreender e se “livrar” dessa mais-valia ideológica na


qual estamos aprisionados?

Sobre a mais-valia ideológica, Silva (2013, p. 164, apud JUNHO, 2015, p. 52),
descreve que: “A mente do homem, tal como chega a configurá-la o capitalismo
mediante suas armas de comunicação diária, está repleta de valores de troca: a
força do trabalho espiritual se mercantilizou, se fez mercadoria; [...]”. Interessante
ressaltar que o capitalismo procura explorar, por meio de uma indústria ideológica,
aquilo que o ser humano tem de mais precioso, que é a sua consciência, o seu
pensar.

Um dos exemplos mais comuns na atualidade é a preocupação excessiva


com a beleza, com a estética física, com a aparência externa, com o visual, com o
corpo ideal, com a perfeição do corpo, visto o imenso número de cirurgias plásticas
no Brasil e no mundo, bem como a busca da atividade física por questões estéticas
e não por razões relacionadas à promoção da saúde propriamente dita.

Assim vamos percebendo que, na realidade, o capitalismo cria e induz


diversas necessidades no ser humano que não são necessidades essenciais e sim
desejos inconscientes criados pela cultura ideológica do sistema.
176
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 31 – PROCESSO DE ALIENAÇÃO E MANIPULAÇÃO

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/


search?q=sujeito+manipulado&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Os processos de alienação no capitalismo são diversos e abrangem todas


as esferas sociais. Assim, o termo alienação não é algo atual, mas já era enfatizado
por Marx em seus estudos e análises críticas a respeito dos malefícios do sistema
capitalista para a humanidade e para a natureza.

Sobre a alienação Kilminster (1996, p. 7), descreve que:


Nos textos de Marx, é o processo histórico por meio do qual os seres
humanos vieram sucessivamente a se afastar da Natureza e dos
produtos de sua atividade (bens e capital, instituições sociais e cultura),
que a partir de então se impõem às gerações posteriores como uma força
independente, coisificada, ou seja, como uma realidade alienada. [...], o
termo refere-se a uma sensação de estranhamento da sociedade, grupo,
cultura ou do eu individual, que as pessoas comumente experimentam
quando vivem em sociedades industriais complexas, em particular nas
grandes cidades.

Como se livrar dessa massa de informações e valores na qual estamos


submetidos coercitivamente? Como não se deixar envolver por ações subliminares
que nos moldam como seres mercadológicos e consumistas, produtos e produtores
de alienação?

Como não sentir sensações de estranhamento? Como não gostar daquilo


que realmente não gostamos e nem necessitamos, ou fazer coisas que realmente
não queremos, mas fazemos, por uma questão de modismo, fanatismo, alienação,
inconsciência?

Bem, acabar com o capitalismo e as instituições sociais parece ser um


caminho utópico, irreal, impossível. Sair do capitalismo, talvez, bastaria, porém
também é ilógico, pois ir para aonde? Pensando na globalização aonde que o
capitalismo não está impregnado e impregnando pessoas, grupos, famílias, setores,
culturas, vivências, mentes e corpos?

Parece que a única saída seria uma luta travada de pensamento, uma luta
pedagógica, um esforço contínuo e diário do pensar crítico, vigilância da mente
e do comportamento 24 horas por dia, não se submetendo à lógica da ideologia
simbólica do capitalismo, que além de explorar nosso corpo, explora também
nosso pensar, nosso gostar, nossa maneira autêntica de ser, nossa identidade,
nossa cultura, nossos valores, nossas reais necessidades.
177
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Seguindo o raciocínio do sociólogo Junho (2015, p. 53):

A principal luta a ser travada nesse ambiente é a luta pedagógica.


Somente uma consciência revolucionária pode libertar-nos desse
labirinto. Ser revolucionário é denunciar todo o aparato cultural em que
vivemos. A nossa própria descolonização mental é uma das tarefas mais
difíceis que somos chamados a realizar.

Nesse sentido, uma pedagogia individual libertária é que precisamos


desenvolver, aquela que de alguma forma propicie a criticidade, a libertação
ideológica, revolucionária no sentido de denunciar. Uma prática pedagógica de
não aceitação dessa cultura que massifica e desagrega o ser humano, que inverte
os valores, fragmenta o sujeito, desintegra as famílias e comunidades, desqualifica
grupos, desvaloriza as culturas, provoca um comportamento coletivo acrítico,
passivo, apático, desmotivado e desorganizado, ou seja, um comportamento de
estranheza senão ainda, um comportamento indiferente, doentio e até mesmo,
violento.

FIGURA 32 – EDUCAR A AÇÃO PARA A LIBERDADE

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres?imgurl=http%3


A%2F%2F>. Acesso em: 18 mar. 2015.

O que se tem observando nos últimos tempos é um “esfriamento” dos


movimentos sociais que faziam a diferença na sociedade e no cenário brasileiro,
a organização dos movimentos sociais no Brasil, bem como a efetiva participação
social e engajamento das pessoas parecem não ter mais sentido e razão.

Também se verifica que até as organizações reivindicatórias que eram


efetivadas pelas instituições tradicionais na sociedade, tais como associações de
moradores, partidos políticos, entidades sindicais, conselhos de profissionais e a
própria igreja com os seus movimentos sociais de base, bem como teólogos que
abordavam questões relacionadas a fé cristã de forma crítica tal como a teologia
da libertação, entre outras, se esvaziaram, se dissiparam na sociedade brasileira.

Segundo Castro e Mota (2012, p. 2), “esta ausência de participação ativa em


movimentos sociais organizados denota o caráter de passividade política e aponta
para um refluxo dos movimentos sociais atualmente existentes e atuantes”.
178
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Acredita-se que ocorreu uma despolitização das pessoas que agregavam


os movimentos sociais, ou seja, a partir que alguns segmentos foram beneficiados
com as diversas políticas sociais, passando a suprir algumas das suas necessidades
básicas e complementares, bem como tendo acesso ao mínimo de conforto e outros
bens materiais, passaram a não reivindicar mais por questões, que anteriormente
eram importantes.

Segundo Gohn (2011, p. 7):

O tempo passou, surgiram novos campos temáticos de luta que


geraram novas identidades aos próprios movimentos sociais,
tais como na área do meio ambiente, direitos humanos, gênero,
questões etnicorraciais, religiosas, movimentos culturais etc. Alguns
movimentos transformaram-se em redes de atores sociais organizados,
ou fundiram-se em ONGs, ou rearticularam-se com as novas formas
de associativismo que surgiram dos anos de 1990; outros entraram em
crise e desapareceram; outros, ainda, foram criados com novas agendas
e pautas, como as recentes manifestações antiglobalização.

Como podemos lembrar, os movimentos sociais ligados a classe trabalhadora,


que eram reivindicatórios e atuantes, como por exemplo, o movimento social
da CUT, o Partido dos Trabalhadores, especificamente o MST no Brasil, tinham
uma participação, adesão, luta e força política de forma avassaladora, tanto é que
fizeram história e garantiram muitos direitos sociais, como também traziam à tona
questões sociais fundamentais para discussão e enfrentamento na nossa realidade
brasileira.

Após a inserção do partido dos trabalhadores ao poder, especificamente


na presidência da república, ocorreu de fato um abafamento, passividade e
conformismo dos movimentos sociais ligados à classe trabalhadora que hoje
praticamente inexistem. Ou, será que estamos caminhando para o esgotamento ou
mesmo fim do trabalho e da classe trabalhadora? Talvez num futuro bem próximo
não tenhamos mais o “proletariado”, mas sim uma massa de excluídos, mesmo
trabalhando de uma forma ou outra, mas desprotegidos, inseguros e sem valor.

No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma grave,


porque atinge intensamente todos os setores e classes sociais, sendo
constantemente ameaçada pelo pauperismo do século XX e pelos
excluídos do século XXI e, dessa forma, a realidade vigente de uma
política salarial injusta dificulta a construção de uma sociedade coesa
e articulada por meio de relações democráticas e interdependentes.
O que se tem no país é uma desmontagem do sistema de proteção e
garantias do emprego e, consequentemente, uma desestabilização e
uma desordem do trabalho que atingem todas as áreas da vida social.
(PIANA, 2009, p. 51-52).

Referente ao trabalho na contemporaneidade, ele é caracterizado como


polissêmico e multifacetado, vivenciamos essas refrações, não temos mais uma
classe especificamente de proletariados, mas sim de vários grupos, diversificados,
excluídos socialmente que se configuram, não mais como “exército de reserva”,
mas como “inúteis” ou “sobra” do sistema.

179
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 33 – A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search>. Acesso em: 20 mar. 2015.

Os “efeitos colaterais” da industrialização e acirramento do capitalismo


são inúmeros e a lógica da modernidade induz o ser humano ao campo de
desvalorização social, que passa a ser uma mercadoria ou até um “sem valor”, um
ser descartável como outro qualquer que, quando não funciona mais, ou melhor,
deixa de dar lucro ao sistema, é jogado fora e, mesmo sem ter outra escolha acaba
formando além do grande exército de reserva (desempregados que se sujeitam a
qualquer emprego e salário), um grande exército de excluídos sociais que buscam
o que podem do jeito que dá, nem que seja por meio de ações imorais e ilegais.

Assim, a transformação do processo de trabalho se evidencia historicamente


em acumulação capitalista que crescente e consequentemente faz emergir
uma intensa crise estrutural onde a força humana e a natureza são assolados
gradativamente.

[...] trabalhadores estáveis e precários, homens e mulheres, jovens


e idosos, nacionais e imigrantes, brancos e negros, qualificados e
desqualificados, ‘incluídos’ e ‘excluídos’, entre outros, temos as
estratificações e fragmentações que se acentuam em função do processo
crescente de internacionalização do capital. (ANTUNES, 2003, p.235).

Verificamos que, até por quase não existir mais a chamada “classe
proletariada”, o que está ocorrendo na atualidade, pelo menos é o que se presencia,
é que estão surgindo outras classes sociais e outros movimentos sociais, não mais
ligados diretamente a classe trabalhadora, mas ligados a outros segmentos sociais,
grupos mais específicos da sociedade brasileira, considerando os novos excluídos
sociais, pessoas e grupos sem garantia de qualidade de vida, dignidade, igualdade
e respeito, configurando no cenário brasileiro, novas expressões da questão social
no Brasil.

Podemos enfatizar, como por exemplo, o que ocorreu no dia 15 de março


de 2015 no Brasil, onde a população fez um manifesto popular através de inúmeros
protestos em todas as cidades do país, contra a corrupção e contra o atual governo
180
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

do PT que tem como Presidente, Dilma Rousseff, sucessora de Luís Inácio Lula da
Silva, que ficou no poder durante oito anos.

FIGURA 34 – MANIFESTO POLÍTICO DO DIA 15 MARÇO DE 2015

FONTE: Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=MANIFESTO+POLÍTICO


+NO+DIA+15+MARÇO+DE+2015&biw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Esse ato político que ocorreu de forma pacífica em todo território nacional,
mostrou dois novos movimentos sociais, não rurais como o MST, mas urbanos,
caracterizados como apartidários, sendo um deles, o “Movimento Vem pra Rua”
e o outro “Movimento Brasil Livre”. Também presenciamos a participação de um
novo movimento social no Brasil que é o movimento dos trabalhadores sem teto,
o MTST.

Agora, discutindo a distribuição de terras e a produção de alimentos


saudáveis enquanto desafios ao país, propriamente falando sobre a reforma agrária
no Brasil, tão exigida pelo MST no passado recente, passou a ser uma obrigação
constitucional, porém está distante de ser concretizada na prática.

Além de um desafio, a reforma agrária é uma obrigação constitucional


que deve ser efetivada por todos os governos, assim como políticas
de saúde e educação, destaca o professor da Universidade de São
Paulo (USP) Ariovaldo Umbelino. Segundo ele, ‘a reforma agrária é
instrumento de política pública para que a terra cumpra sua função
social e a renda seja melhor distribuída na sociedade brasileira’.
Para ele, a distribuição de terras também é fundamental para acabar
com conflitos. ‘A barbárie vivida no campo brasileiro é a melhor
evidência da necessidade urgente de o país fazer, de fato, a reforma
agrária’, diz Umbelino. Nos últimos 15 anos, segundo o especialista,
524 pessoas foram assassinadas no campo e foram registrados 19.548
conflitos envolvendo 10,5 milhões de habitantes. (BERALDO, 2014).

Atualmente, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST –


não deixou de existir, mas parece que cedeu espaço ao MTST – Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto, que se configura no atual cenário brasileiro na luta pelo
direito básico à moradia e habitação digna no âmbito urbano.

181
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 35 - MST: PELA REFORMA AGRÁRIA E MTST: PELA REFORMA URBANA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 17 mar. 2015.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que desde 1997,


reivindicou a reforma agrária estava vinculado com as questões relacionadas ao
campo, agora o MTST contesta e desafia a ordem política nos centros urbanos, nas
grandes metrópoles, frente às dramáticas estatísticas do déficit habitacional.
As desapropriações de casas para dar lugar a obras de mobilidade urbana
e as frequentes ocupações de imóveis vazios nos grandes centros trazem
à tona o problema do acesso à moradia adequada. As manifestações de
2013 trouxeram o tema para o debate, [...]. O país tem um déficit de
5 milhões de habitações, segundo cálculos do Ministério das Cidades.
Especialistas em urbanismo ouvidos pela Agência Brasil defendem que
esse problema não será resolvido apenas com a construção de casas
e que será preciso enfrentar a especulação do mercado imobiliário.
(BERALDO, 2014).

Esses novos movimentos sociais que estão se mostrando no cenário


brasileiro, representam a figuração das novas pobrezas sociais, novas expressões
da questão social no Brasil, por isso que a pobreza não desaparece, mas além de
aumentar também se transforma no decurso da história. Um exemplo bem claro
disso é que evidenciamos na realidade brasileira, além dos sem-terra, os sem-teto,
ou seja, além das pessoas no campo não terem terra, no meio urbano as pessoas
também não possuem moradia.

FIGURA 36 - IMAGEM DE PESSOAS E FAMÍLIAS DO MTST

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=novas+formas+de+pobreza>


. Acesso em: 18 mar. 2015.

182
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Percebe-se que os desafios vão se multiplicando, pois pensando em resolver


uma das inúmeras problemáticas sociais, outras vão surgindo consequentemente,
como é o caso da especulação imobiliária que nada mais é, do que a esperteza
daqueles que possuem imóveis, porém inutilizados. Os especuladores ficam
aguardando para que a área abrangente seja valorizada, aumentando o valor ainda
mais do imóvel na pretensão de maiores lucros. Seja no campo ou na cidade, a
terra está intocável, não tem função social, e sim apenas especulativa para fins
lucrativos no futuro.

Segundo Guilherme Boulous (apud BERALDO, 2014), da coordenação


nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a falta de moradia
aumenta à medida que sobem os preços dos aluguéis, pois segundo ele, a
construção de casas por governos, no ritmo atual, é insuficiente para atender a
todas as famílias que precisam de um novo lar e pouco influencia na queda do
valor dos aluguéis.

Enfatizando a vida urbana, outro desafio a ser enfrentado diz respeito à


mobilidade urbana, pois quanto mais cresce uma cidade mais caótica ela se torna,
em termos de ir e vir, vivenciamos um trânsito que em qualquer cidade no Brasil é
um caos, um engodo, um estorvo, motivo de estresse e cansaço.
Quase 85% dos brasileiros vivem em ambiente urbano, aponta o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a Organização
das Nações Unidas (ONU) estima que a taxa de urbanização do país
deva chegar a 90% nos próximos cinco anos. Com tanta gente vivendo
nas cidades, é preciso articular políticas públicas que possibilitem uma
convivência harmônica e igualitária nesse espaço. Um dos desafios
cotidianos das cidades é o de garantir o direito de ir e vir de tantas
pessoas. (BERALDO, 2014).

Percebe-se que quando há um crescimento populacional acelerado,


especificamente da população urbana, ou seja, nos centros metropolitanos das
grandes cidades, sem planejamento necessário, vamos constatar que emergem
demandas na mesma proporção, assim crescendo a população também crescem
os inúmeros problemas tanto de infraestrutura, principalmente nas áreas mais
essenciais tais como habitação, segurança, saúde, dentre outras, bem como de
doenças diversas, tanto físicas quanto psíquicas, como por exemplo, o número de
transtornos mentais aumentou significativamente no Brasil.

E, se falando em doença, no que diz respeito à falta de investimento na


saúde, ocorreram diversas manifestações populares em face dos investimentos
absurdos feitos pelo governo para a Copa do Mundo no Brasil, em 2013, setor não
essencial e não necessário para a população mais vulnerável, que de modo geral
no país, sofre com a falta de investimentos em áreas importantes como a da saúde,
especificamente.

183
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 37 – MANIFESTAÇÃO POPULAR EM 2013 NO BRASIL

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search?q=NÃO+QUERO+COPA+QUERO+


SAUDE+EDUCAÇÃO>. Acesso em: 18 mar. 2015.

A qualidade dos serviços públicos em saúde foi colocada em xeque pelos


brasileiros durante as manifestações de junho de 2013. Às vésperas da
Copa das Confederações, evento realizado pela Federação Internacional
de Futebol (Fifa), os brasileiros foram às ruas exibir cartazes pedindo
“hospitais padrão Fifa” e mais recursos para o setor. As reivindicações
em relação à saúde foram uma das principais bandeiras dos protestos
populares que se estenderam até meados deste ano. (BERALDO, 2014).

Não podemos negar que algumas conquistas foram efetivadas no sistema


universal de saúde no país a partir da Constituição Federal de 1988, porém, ainda
há evidências de situações degradantes para serem resolvidas na área da saúde,
entre elas, o financiamento adequado do Sistema Único de Saúde (SUS) para que
não faltem equipamentos, medicamentos, profissionais qualificados e valorizados,
estrutura adequada, entre outras inúmeras necessidades, principalmente, nos
hospitais públicos do país.

Analisando o gráfico a seguir, não podemos deixar de refletir sobre o aumento


do número dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPs no país, de 2008 a 2014, ou
seja, em seis anos foram implementados mais 829 CAPs, assim, 138 novos centros
por ano no Brasil. Agora, vamos nos questionar e discutir, por que a criação de tantos
CAPs no Brasil? Se houve um crescimento significativo de centros de atendimento
a pessoas com transtornos mentais é porque ocorreu o acirramento das expressões
sociais da questão social saúde mental, saúde psíquica.

GRÁFICO 1 – ATENDIMENTO A PORTADORES DE TRANSTORNOS MENTAIS (2008-2014)

184
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Crédito - Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: <https://almanaque.


abril.com.br/graficos_e_tabelas#!lightbox/26/>. Acesso em: 13 mar. 2015.

EVOLUÇÃO – A estrutura desse serviço cresce em ritmo acelerado. Em


2002, havia 424 Centros de Atenção Psicossocial.

O governo se orgulha pelos investimentos realizados na área da saúde,


porém são investimentos esporádicos que não abrangem a totalidade no país, são
paliativos, pois não se efetiva a saúde preventiva antes que a doença ocorra, mas
essencialmente voltados para a recuperação da saúde.

O descaso que se tem em programas de prevenção na área da saúde em


todos os sentidos, especificamente em saúde mental, é evidente, percebe-se que a
população de modo geral, está desenvolvendo inúmeros transtornos psíquicos, o
maior deles é a depressão, devido à falta de ou a má qualidade de vida que se tem
no país.

De acordo com Bock (2002), falar em doença implica não somente


pensar na cura, mas essencialmente na prevenção. O processo curativo centra-
se em medicamentos, hospitalização, psicoterapia etc. Já a prevenção significa
criar estratégias para evitar o seu aparecimento, geralmente está ligada a ações
desenvolvidas no meio social e por políticas públicas e sociais, educacionais,
culturais, entre outras.

Os transtornos mentais podem ser definidos como alterações do


funcionamento da mente, que prejudicam o desempenho da pessoa na vida social,
familiar, pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na
possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade de ter
prazer na vida em geral.

É assim que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu, desde 1958,


o conceito de saúde:

185
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

[...] como o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente


como ausência de doença [...] em 1991 atualizou o princípio de
promoção de saúde, incorporando a questão do desenvolvimento
econômico. Saúde passou a ser descrita como um estado de bem-estar
físico, psíquico e social, em consonância com as discussões sobre meio
ambiente, ou seja, saúde ambiental como prioridade social.

Porém, como ter saúde, onde não se propicia um cuidado com o meio
ambiente? Como viver bem em grandes centros urbanos com tanta poluição,
violência, barulho, pressão psicológica, congestionamento, enchentes, falta de
água, de luz, de lazer, baixos salários, insegurança no emprego, na cidade, na rua,
na praia, no trânsito, entre tantos outros problemas urbanos?

Beraldo (2014), enfatizando também sobre o aumento da violência e da falta


de segurança, descreve sobre os desafios na área da segurança pública no Brasil:
O crescimento da violência e da sensação de insegurança por parte da
população impõe ao país vários desafios na área de segurança pública,
entre eles, a redução do número de homicídios que, desde 2008,
ultrapassam os 50 mil por ano. Segundo o Ministério da Saúde, em 2012,
o número de pessoas assassinadas chegou a 56,3 mil. Mais da metade
das vítimas de homicídio no país (53%) têm entre 15 e 29 anos.

Segundo o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, organizador do Mapa da


Violência, divulgado anualmente com informações sobre crimes violentos em todo
o país (apud BERALDO, 2014), afirma:
Precisamos de uma política nacional de enfrentamento da violência.
Cada estado tem uma política diferente. A violência virou problema
nacional. Antigamente, as regiões eram restritas a algumas poucas
regiões metropolitanas, como Rio, São Paulo e Recife. Na virada do
século, a violência se espalhou para o interior dos estados e para outras
regiões.

Agora, discutindo a respeito da educação no país, segundo Beraldo (2014),


será necessário avançar nas metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação
(PNE) que é um dos principais desafios para os próximos anos. O plano contém
20 metas para serem cumpridas, isso nos próximos dez anos, que abrangem do
ensino básico ao ensino superior. O plano enfatiza questões como ampliação de
matrículas, inclusão de pessoas com deficiência, melhorias na infraestrutura e
valorização dos professores e trabalhadores que atuam na educação.

Outro desafio é investir e ampliar o acesso da população à cultura e à


preservação do patrimônio cultural no Brasil, principalmente, em regiões mais
vulneráveis. Somente a partir da Constituição Federal de 1988 que se começou
a discutir aspectos relacionados à cultura, aos direitos culturais, ao patrimônio
cultural propriamente dito:
Art. 215 O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos
culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do

186
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

processo civilizatório nacional.


§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta
significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
§ 3º A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração
plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração
das ações do poder público que conduzem à: (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 48, de 2005)
I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
II produção, promoção e difusão de bens culturais; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 48, de 2005)
III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas
múltiplas dimensões; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 48, de
2005)
IV democratização do acesso aos bens de cultura; (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 48, de 2005)
V valorização da diversidade étnica e regional. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 48, de 2005)

Compreendemos que o universo cultural é imenso e a cultura é dotada


de vontade criativa, aprendida e acumulada pelos membros de determinado
grupo, povo, e transmitida socialmente de uma geração a outra e perpetuada em
sua forma original ou modificada. Assim os indivíduos aprendem a cultura ou
os aspectos da cultura no transcurso de suas vidas, no processo de socialização e
integração social.
O Patrimônio Cultural Brasileiro não se resume aos objetos históricos
e artísticos, aos monumentos representativos da memória nacional ou
aos centros históricos já consagrados e protegidos pelas instituições e
agentes governamentais responsáveis por essa proteção, como o IPHAN,
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no âmbito federal,
e os órgãos de patrimônio estaduais e municipais. Existem outras formas
de expressão cultural que constituem o patrimônio vivo da sociedade
brasileira: artesanatos, maneiras de pescar, caçar, plantar, cultivar
e colher, de utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir
moradias e fabricar objetos de uso, a culinária, as danças e músicas,
os modos de vestir e falar, os rituais e festas religiosas e populares, as
relações sociais e familiares, as canções, as histórias e lendas contadas
de geração a geração, tudo isto revela os múltiplos aspectos que pode
assumir a cultura viva e presente em uma comunidade. (HORTA, 2003,
p. 8).

Interessante ressaltar, mas parecem ser objetivos distantes a serem


concretizados na prática, visto que a educação patrimonial não é considerada
como instrumento de cidadania. Na maioria das vezes o patrimônio cultural passa
a ser considerado como algo vago para a construção do sujeito e da identidade
social, distante das realidades periféricas e daquelas pessoas sem poder aquisitivo.

Pensando sobre a diversidade cultural em nosso país, Horta (2003, p. 8-9)


descreve alguns exemplos de expressões culturais que precisam ser conhecidas,
reconhecidas, valorizadas, incentivadas, preservadas, cuidadas, asseguradas:
O saber e a experiência da vida na floresta são partes fundamentais da
herança cultural dos índios da Amazônia, ou de outras regiões do país,
nas quais muitas vezes esse patrimônio cultural vem se perdendo na

187
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

memória dessas comunidades. O maracatu, tão popular no Nordeste


e no Norte do país, é a expressão de elementos trazidos pela cultura
africana, incorporando uma prática religiosa e uma manifestação
popular, sendo assim, da mesma forma, um elemento significativo da
cultura brasileira. O Carnaval de Olinda, as vaquejadas do Pantanal, as
técnicas tradicionais da pesca no litoral de Santa Catarina, o trabalho
das rendeiras nordestinas, as panelas fabricadas pelas mulheres do Vale
do Jequitinhonha, a maneira de plantar, fiar e tecer o linho que ainda
sobrevive no interior do Rio Grande do Sul, as rodas de samba cariocas,
as festas do Divino em Parati, são exemplos da cultura viva que pode
ser trabalhada e conhecida por meio da Educação Patrimonial.

E falando em diversidade cultural, agora especificamente na cultura


indígena, constatamos a falta de reconhecimento, de valorização, incentivo e
preservação dos valores culturais do povo indígena no Brasil, bem como o descaso
e a morosidade da demarcação de terras indígenas.

Nesse sentido, Beraldo (2014), especifica que,


A Constituição Federal de 1988 reconhece o direito dos povos
indígenas às terras que ocupavam no passado. Por terras tradicionais,
os constituintes entendiam os territórios habitados por comunidades
indígenas em caráter permanente, bem como as por elas utilizadas
para suas atividades produtivas ou que sejam imprescindíveis à
preservação dos recursos naturais necessários ao bem-estar comunitário
e à reprodução física e cultural desses povos, segundo seus próprios
costumes e tradições. Embora destinadas à posse permanente e
usufruto indígena, essas terras pertencem à União, que deveria concluir
a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da
promulgação do texto constitucional – ou seja, até 5 de outubro de 1993.

Necessário se faz, de fato, efetivar o que estabelece a Constituição Federal


de 1988, no que diz respeito ao direito dos povos indígenas, ao reconhecimento e à
demarcação de seus territórios, sem grandes discursos ou empecilhos, se for ainda
o caso, indenizar os agricultores ou fazendeiros que no passado ou atualmente
usufruem daquilo que não é deles.

Outro desafio está relacionado ao meio ambiente, no que diz respeito


à preservação, conservação e recuperação ambiental e ao desenvolvimento
sustentável, realmente é necessário alterar as formas de produção e interação com
o meio ambiente em que vivemos, talvez, nesse sentido, se possam diminuir os
efeitos negativos que causamos, porém isso também não irá ocorrer ao acaso se
não investirmos na mudança de valores e de comportamentos na sociedade, em
educação ambiental e diferentes formas de interação com a natureza e em políticas
ambientais eficientes e eficazes.

188
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FIGURA 38 – DIMENSÕES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

FONTE: Disponível em: <www.google.de/search>. Acesso em: 17 mar. 2015.

Analisando a figura exposta, o desenvolvimento sustentável procura


atender às necessidades da população atual, porém com planejamento para as
gerações futuras, propiciando da mesma forma o desenvolvimento econômico, o
social e a preservação ambiental. Nesse sentido, o desenvolvimento sustentável
busca a qualidade de vida no planeta, uma realização humana e cultural, justa e
equilibrada.

Nessa perspectiva de análise ambiental, o professor Adriano Prembida,


doutor em Sociologia, em uma entrevista, enfatizou que:
A questão urbana, atualmente, é essencial para pensarmos o bem-
estar coletivo e a articulação de políticas ambientais. Se pensarmos
em alterações ecológicas drásticas, e que nos atingem cotidiana e
cronicamente, devemos nos focar no que acontece nas cidades da
região, com baixos índices de saneamento e planejamento urbano,
áreas junto aos rios, que, necessariamente, são pontos logísticos vitais
para a economia local e consequente impulso para as atividades que
possam degradar o ambiente (PREMBIDA apud QUARESMA; NEVES;
DUARTE, 2014, p. 8).

A degradação ambiental é um fato, e bem sabemos que o desenvolvimento


econômico prevalece sobre o ambiental, o social, o cultural, de maneira bem
explícita nas nossas sociedades, nossos bairros, onde as pessoas sofrem pela falta
de saneamento básico, água potável e o meio ambiente limpo e conservado.

189
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 39 – FALTA DE CONDIÇÕES ADEQUADAS PARA SOBREVIVÊNCIA

FONTE: Disponível em: <http://www.google.de/imgres>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Muito é preciso fazer, os desafios não são “humildes”, mas estão revestidos
de “soberba”, difíceis de serem alterados de fato, pois também precisamos de dados
concretos e específicos, porém faltam estudos, pesquisas, pesquisas aplicadas no
sentido de evidenciar a resolução de problemas diversos que são considerados
como entraves para a qualidade de vida no planeta.

Referente à pesquisa, ciência e tecnologia, a falta de apoio, investimentos,


recursos efetivos e contínuos, bem como além de todo um sistema burocrático
excessivo para o desenvolvimento de pesquisas, são enfatizados como os maiores
problemas e dificuldades a serem enfrentados pelo setor de ciência, tecnologia e
inovação (CT&I), mesmo que os últimos dados de estudo apontavam para um
crescimento do interesse pelo setor, ainda faltam muitos investimentos na área
(BERALDO, 2014). Como fazer pesquisa, quando a bolsa que, às vezes, é proferida
para alguns, mal paga ao transporte para realizá-la?

Segundo a AGÊNCIA BRASIL (2014), desenvolver o país melhorando a


qualidade de vida é garantir muito mais do que moradia adequada à população
brasileira, é desenvolver políticas públicas que garantam os direitos sociais, que
diminuam a sensação de insegurança da população e que reduzam a violência nos
centros urbanos, é necessário definir e efetivar metas prioritárias ao país.

Acredita-se que os próximos governantes terão inúmeros desafios, no


sentido de enfrentamento para resolver questões históricas e problemas estruturais
no Brasil, cuja população já soma mais de 202 milhões de habitantes.

190
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

3 REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DE REVERSÃO DO


AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS NO PRIMEIRO,
SEGUNDO E TERCEIRO SETOR
Compreende-se, que o terceiro setor se originou para enfrentar e atender às
demandas e necessidades sociais que não foram abarcadas pelo Estado.

A participação de pessoas e grupos sociais envolvidos com a questão social


e suas expressões se constituiu realmente um fato no mundo e no Brasil, porém
não podemos deixar de considerar a lógica do capitalismo e do neoliberalismo
que proporciona uma pressão para que a sociedade resolva os “seus problemas”,
diminuindo assim a intervenção e gastos estatais.

Percebeu-se um adensamento e envolvimento de interação entre os três


setores da sociedade na questão de enfrentamento à pobreza e na efetivação e
garantia dos direitos sociais no Brasil, visto o agravamento das expressões sociais.

Assim é comum anúncios, cartazes, propagandas e outras ações


pressionando para que as pessoas assumam valores e posturas de solidariedade,
de ajuda, de voluntariado, de engajamento social, assim o que as pessoas e as
instituições sociais fazem, o Estado não precisa fazer.

Analisando de forma crítica essa perspectiva de função social, vamos


percebendo que as empresas e as ONGs acabam assumindo funções sociais de
dever do Estado.

A realidade social foi dividida em três esferas consideradas autônomas: o


Estado, o mercado e as ONGs (instituições não estatais e não mercantis), porém
essa divisão não deveria existir, mas surgiu e existe por questões ideológicas e
necessárias ao desenvolvimento do projeto neoliberal para avanço do capitalismo.

Estaremos especificando a seguir cada setor, mas tendo como fundamento


a criticidade e base teórica do assistente social, doutor em serviço social Carlos
Montaño:
Temos aqui a conceituação corriqueira de “terceiro setor”: organizações e/
ou ações da “sociedade civil” (não estatais e não mercantis). Porém, numa
perspectiva crítica e de totalidade, este conceito resulta inteiramente
ideológico e inadequado ao real. A realidade social não se divide em
“primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor – divisão que, [...], consiste
num artifício positivista, institucionalista ou estruturalista. [...] No
entanto, alguma está efetivamente ocorrendo na atualidade; a sociedade
civil está desenvolvendo atividades atribuídas ao Estado. [...] A partir
das mudanças da realidade contemporânea, promovidas pelo embate
desigual entre o projeto neoliberal e as lutas dos trabalhadores,
verdadeiras transformações estão se processando nas respostas da
sociedade à chamada “questão social” e suas refrações. (MONTAÑO,
2010, p. 182-183, grifos do autor).

191
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

O “Primeiro” setor refere-se ao setor público, abrange a esfera estatal


Estado/Governo, estão caracterizadas todas as instituições e órgãos públicos,
designa o governo em si na sua responsabilidade em cumprir e efetivar o que
emana da Constituição Federal.

Uma sociedade globalizada e tecnológica nos faz refletir sobre todas as


questões sociais, bem como das políticas sociais adotadas pelo Estado no combate
ao crescimento e agravamento das expressões sociais que são geradas pelo próprio
desenvolvimento e crescimento acirrado do capitalismo.

A Política Social adotada pelo Estado, em suas diversas vertentes


(educação, saúde, assistência, previdência, habitação, cultura...) guarda, em si,
uma contradição. Destinada a garantir os direitos sociais e a proteção social, ela
suscita o seguinte: é possível garantir o bem-estar a quem está em uma condição
de desigualdade social ou esteja em situação de miséria e pobreza, isto é, é possível
a um não privilegiado conseguir, com ou sem ajuda do Estado e da Sociedade,
chegar ao bem-estar digno e humano sem sair de sua posição de inferioridade?

A questão fundamental não seria eliminar a situação de injustiça e


desigualdade pela qual passa uma sociedade? Esta contradição faz com que a
Política Social, seja sempre mais compensatória das injustiças e desigualdades do
que um mecanismo eficaz para a sua correção.

Sabemos que é função do Estado, através das Políticas Públicas e Sociais,


minimizar, diminuir, erradicar a situação de desigualdade social, pobreza e miséria,
esse papel é dever do Estado que, quando não assumido com seriedade produz
prejuízos incalculáveis, por muitas vezes, irreversíveis como hoje presenciamos nas
grandes cidades brasileiras onde as expressões sociais se configuram e proliferam.

Atualmente o MDS, garante que o Brasil melhorou e muito na diminuição


da desigualdade social a partir de seus programas, serviços e benefícios sociais.

FIGURA 40 – DEMONSTRAÇÕES SOBRE OS RESULTADOS DO PLANO BRASIL SEM MISÉRIA – SM


2011-2014

192
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <http://inclusaoprodutiva.org/>. Acesso em: 18 mar. 2015.

Os programas e serviços que o governo vem desenvolvendo são vários e


abrangem três eixos, entre eles:
• Garantia de Renda (Bolsa Família, Busca Ativa).
• Inclusão Produtiva Urbana e Rural (Pronatec, Microempreendedor Individual,
Programa Crescer, Economia Solidária, Assistência Técnica e Fomento, Água
para Todos, Agroamigo, Programa Bolsa Verde, Programa Luz para Todos).
• Acesso a Serviços Públicos (Assistência Social, Ação Brasil Carinhoso – Creches,
Educação em Tempo Integral, Minha Casa Minha Vida) (MDS, 2014).

A seguir, uma visão geral dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria – BSM.

193
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 41 - ORGANOGRAMA DO PLANO BRASIL SEM MISÉRIA

FONTE: Disponível em: <www.google.com.brsearch?q=organograma+dos+eixos+do


+brasil+sem+miseria>. Acesso em: 20 mar. 2015.

Mesmo que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome


– MDS divulgue os resultados de três anos do Plano Brasil Sem Miséria, dados
de junho de 2011 a junho de 2014, com demonstrações de gráficos e relatórios
diversos, dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria descritos anteriormente, vamos
constatar que os desafios a serem enfrentados pelo Estado ainda são diversos e
abrangem todo o contexto nacional, assim, muito ainda se tem por fazer frente a
todas e inúmeras expressões sociais atuais e futuras que estão por vir da questão
social no Brasil.

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, do Programa das


Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 31):
A maioria dos países tem registrado progressos consideráveis em matéria
de desenvolvimento humano ao longo das últimas décadas. Porém,
face aos níveis de vulnerabilidade elevados e crescentes, aumenta a
possibilidade de erosão dessas conquistas de desenvolvimento humano,
a necessidade de verificar se essas conquistas são sólidas e sustentáveis,
bem como a necessidade de identificar políticas destinadas a reduzir a
vulnerabilidade e reformar a resiliência.

Tendo como base o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014, os


níveis de vulnerabilidade cresceram consideravelmente no sentido de que o
desenvolvimento humano está fragilizado, não garantido plenamente, visto
que as conquistas efetivadas até então por alguns países, parece não ser sólidas
e concretas. Dessa forma, então, há a necessidade de reformar a resiliência, ou
seja, qualificar as pessoas para o enfrentamento das adversidades. Sendo assim,
desenvolver competências, habilidades e estratégias para o fortalecimento dos
sujeitos resilientes na sociedade é um dos grandes desafios para os profissionais
assistentes sociais.
194
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Compreende-se por resiliência a capacidade de resposta ou adaptação das


pessoas às situações adversas, sejam elas temporárias ou não. Assim há pessoas
que apresentam maior resistência aos fatores agressores que perpassam pela vida,
criando alternativas para controlar os desafios e responder às dificuldades, assim
reagem e enfrentam às adversidades mostrando a capacidade de superação de
situações e condições vulneráveis.

UNI

Procure analisar os dados deste relatório do MDS, resultado de 3 anos de


intervenção estatal no enfrentamento das expressões da questão social no Brasil. Vale a pena
conferir, até para entender melhor os eixos do Plano Brasil Sem Miséria.

Mesmo que o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome –


MDS divulgue os resultados de três anos do Plano Brasil Sem Miséria, dados de
junho de 2011 a junho de 2014, com demonstrações de gráficos e relatórios diversos,
disponível em <http://pt.slideshare.net/mdscomunicacao/caderno-brasil-sem-
misria-3-anos>, dos eixos do Plano Brasil Sem Miséria descritos anteriormente,
vamos constatar que os desafios a serem enfrentados pelo Estado ainda são
imensos e abrangem todo o contexto nacional, assim muito ainda se tem por fazer
frente a todas e inúmeras expressões sociais atuais e futuras que estão por vir da
questão social no Brasil.

Assim, seguindo a perspectiva crítica com fundamentação das lutas de


classes do pensamento marxista, da caracterização histórica e crítica da pobreza
e da “questão social”, devem-se considerar alguns aspectos, conforme descreve
Montaño (2012), a partir de suas reflexões:

• Um dos aspectos é que a “questão social” é um fenômeno próprio do modo de


produção capitalista consequente da exploração e dominação.
• Outro aspecto é que a pobreza, enquanto expressão da “questão social” é uma
manifestação da relação de exploração entre capital e trabalho; o pauperismo é
resultado da acumulação privada de capital.
• E, por último aborda criticamente que, todo enfrentamento da pobreza
direcionado ao fornecimento de bens e serviços é meramente paliativo, quanto
mais desenvolvimento das forças produtivas, quanto maior o lucro, maior será
a desigualdade e o pauperismo.

Então, analisando essa perspectiva e linha de pensamento, vamos verificar


que, não necessariamente o desenvolvimento econômico com todo seu aparato,
crescimento e internacionalização, irá propiciar o desenvolvimento social, como
muitos acreditam e enfatizam e, que a questão social é indissociável do sistema
capitalista, assim quanto maior for a dominação, a exploração e o lucro, maior será
a pobreza, maior a desigualdade, maior o número das expressões multifacetadas da
questão social.
195
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

O “Segundo” setor é caracterizado na sociedade pelas empresas que


objetivam lucro, é o setor produtivo privado que segue a lógica do mercado, assim seus
interesses se direcionam no reforço à competividade, pois possuem fins lucrativos.

Todas as empresas privadas com fins lucrativos estão enquadradas no


chamado “segundo” setor, portanto, privado e que lucra, assim sob a dimensão
econômica o objetivo da empresa está pautado no aumento da produtividade e
do lucro, garantindo manutenção e desenvolvimento do capitalismo. Porém nos
últimos tempos, em vez de desenvolver a filantropia, vem desenvolvendo ações
sociais estratégicas e planejadas, investindo em capital humano e social numa
perspectiva de gestão responsável socialmente.
Responsabilidade Social Expressão recentemente adotada para referir-
se ao modo como o Estado, as empresas e a sociedade se comportam
em suas relações recíprocas. Compõem o conceito de responsabilidade
social os padrões de ética, moralidade, transparência e altruísmo que
permeiam a conduta dos atores sociais.
Fala-se muito em Responsabilidade Social Empresarial ou Corporativa,
para se referir aos valores que permeiam o comportamento das empresas
em suas relações com o Estado, com o meio-ambiente, com seus
funcionários, consumidores e fornecedores, e com a comunidade em geral.
É importante notar, portanto, que a responsabilidade social empresarial
é intrínseca a toda e qualquer atividade da empresa (DICIONÁRIO DE
TERMOS TÉCNICOS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2007, p. 94-95).

Os projetos e programas de Responsabilidade Social dizem respeito à gestão


de ações sociais, tendo como foco as pessoas, grupos diversos, as comunidades, a
cidade, o meio ambiente, a sociedade em geral.

Nesse sentido, “o exercício da cidadania empresarial pressupõe uma


atuação eficaz da empresa em duas dimensões: a gestão da responsabilidade social
interna e a gestão da responsabilidade social externa”. (MELO NETO; FROES,
1999, p. 85).

Segundo Kraychete, (2013, p. 475),


Com base na mobilização de noções como capital social e boa governança,
vai-se conformando discurso no qual é cada vez mais presente o
chamamento à participação de organizações da sociedade civil. Nesse
contexto é que passa a ser valorizada a presença de empresas, sob a
rubrica da responsabilidade social, [...].

Assim, a responsabilidade social passou a ser foco de atenção privilegiada


das empresas, até porque na busca das certificações internacionais e nacionais,
e publicação do balanço social, o marketing social se faz valer agregando valor
ao produto e à imagem da empresa. No entanto, analisando de forma crítica,
os ideais do neoliberalismo conduzem a um discurso e às práticas sociais pelas
empresas, visto que subliminarmente se insere uma visão moderna de cidadania,
com o slogan “empresa cidadã”. Assim, vem repassando uma ideia de não apenas
preocupada com o lucro, mas, de inserção na lógica do desenvolvimento social, de
solidariedade humana, social, ambiental, educacional, entre outras vertentes que
agregam valor a sua imagem.
196
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Nessa lógica neoliberal do capitalismo, a promoção da justiça social e da


cidadania, é mistificada pela ideia da solidariedade empresarial a partir de um
discurso ilusório de igualdade e inclusão social, bem como de desenvolvimento
sustentável.

UNI

ANALISANDO O CHAMADO “TERCEIRO” SETOR!


O Terceiro Setor se consolidou pela questão da participação social, segmento este
que engloba as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos que defendem os interesses
públicos, caracteriza-se pelo conjunto das entidades privadas, porém públicas.

O “terceiro” setor é designado privado, porém sem fins lucrativos, com


interesse e função totalmente pública e se tornou corresponsável pelas expressões da
questão social diferenciando-se da lógica do mercado e do aspecto governamental,
visto a autonomia institucional.

A crítica focada nesse termo, enfatizada por Montaño, citado anteriormente,


é que este “setor”, não descreve o que realmente constitui e integra também a
sociedade civil, como por exemplo, os movimentos sociais combativos, que
denunciam a ordem, a dominação e a exploração do capitalismo desenfreado,
estes sim possuem uma função social e valores de solidariedade (não local), mas
de solidariedade social e, valores de universalidade e direitos dos serviços que
devem ser prestados pelo Estado, dito Democrático de Direito. Estes valores é que
deveriam fazer parte do projeto político de qualquer ONG, por isso temos que
analisar criticamente o que está por trás do chamado “terceiro setor”.

Segundo Montaño (2010, p. 185), “O que na realidade está em jogo não é


o âmbito das organizações, mas a modalidade, fundamentos e responsabilidades
inerentes à intervenção e respostas para a ‘questão social’”.

Sem dúvida, o que preocupa realmente diz respeito ao que as organizações


privadas de interesse público querem fazer, fazem efetivamente e como, quais
valores fundamentam seu existir, planejar e intervir, suas responsabilidades reais e
abrangentes, e não focais e específicas, por vezes ações de mediação ou conformação
social. Como lidam com a questão social, como enfrentam as expressões sociais e
qual propósito que possuem além do que demonstram?

Para esclarecer, o termo ONG – Organização Não Governamental, é uma


sigla para especificar as organizações que atuam na sociedade, não são estatais e
não visam a lucros, mas são organizações privadas de interesse público sem fins
lucrativos.

A Lei do Terceiro Setor, Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999, foi criada no


sentido da qualificação das pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos,
197
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

como as chamadas OSCIPs – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público,


que devem ter seus objetivos sociais findados realmente no interesse público:
Art. 3º A qualificação instituída por esta Lei, observado em qualquer
caso o princípio da universalização dos serviços, no respectivo âmbito
de atuação das organizações, somente será conferida às pessoas jurídicas
de direito privado, sem fins lucrativos, cujos objetivos sociais tenham
pelo menos uma das seguintes finalidades:
I - promoção da assistência social;
II- promoção da cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico
e artístico;
III- promoção gratuita da educação, observando-se a forma
complementar de participação das organizações de que trata esta Lei;
IV- promoção gratuita da saúde, observando-se a forma complementar
de participação das organizações de que trata esta Lei;
V- promoção da segurança alimentar e nutricional;
VI- defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável;
VI - promoção do voluntariado;
VIII- promoção do desenvolvimento econômico e social e combate à
pobreza;
IX- experimentação, não lucrativa, de novos modelos socioprodutivos
e de sistemas alternativos de produção, comércio, emprego e crédito;
X- promoção de direitos estabelecidos, construção de novos direitos e
assessoria jurídica gratuita de interesse suplementar;
XI- promoção da ética, da paz, da cidadania, dos direitos humanos, da
democracia e de outros valores universais;
XII- estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias alternativas,
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos que digam respeito às atividades mencionadas neste artigo.

Em relação a OSCIP – Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público,


foi estabelecida uma nova lei no Brasil sobre o terceiro setor, a Lei nº 13.019, de 31
de julho de 2014, que especificou novas regras e alterou as Leis de nº 8.429, de 2 de
junho de 1992, e de nº 9.790, de 23 de março de 1999.

Esta nova lei estabelece o regime jurídico das parcerias voluntárias,


envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil, em regime de mútua cooperação,
para a consecução de finalidades de interesse público; define diretrizes para a
política de fomento e de colaboração com organizações da sociedade civil; institui
o termo de colaboração e o termo de fomento, alterando também as leis anteriores
que embasavam as organizações da sociedade civil.
Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se:

I- organização da sociedade civil: pessoa jurídica de direito privado


sem fins lucrativos que não distribui, entre os seus sócios ou associados,
conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais resultados,
sobras, excedentes operacionais, brutos ou líquidos, dividendos,
bonificações, participações ou parcelas do seu patrimônio, auferidos
mediante o exercício de suas atividades, e que os aplica integralmente na
consecução do respectivo objeto social, de forma imediata ou por meio da
constituição de fundo patrimonial ou fundo de reserva. (BRASIL, 2014b).

198
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

A sociedade se desenvolve e entra em crise e, é a mesma que se justifica


criando formas de superação desta crise. Surge então a necessidade de superar os
problemas que gradualmente emergem, de modificar e transformar o que precisa
ser.

“A visão-missão do Terceiro Setor em sociedades de baixa participação:


contribuir para a construção do projeto de nação”. (TORO, 2000, p. 35). É necessário
que o Terceiro Setor tenha um real significado num projeto sociopolítico tanto em
nível municipal, estadual, nacional, como mundial.

Que as ações desenvolvidas não se apresentem apenas para superar as


necessidades momentâneas e garantir alguns direitos daquele ou outro segmento
vulnerável, mas voltada para a construção e desenvolvimento de uma democracia
além de participativa, mas sobretudo libertadora. “É função do Terceiro Setor,
nos países de baixa participação, contribuir para a formação e o fortalecimento do
comportamento de cidadão e da cultura democrática”. (TORO, 2000, p. 36). Formar
e fortalecer as pessoas para a cidadania e autonomia, conscientização e liberdade,
através de uma intervenção social democrática e acima de tudo educativa.

Assim já descrevia Paulo Freire (1980, p. 40): “O homem não pode


participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade, se
não é auxiliado a tomar consciência da realidade e de sua própria capacidade para
transformá-la”. Para transformá-la e não remediá-la, ou confortá-la, pois muitas
pessoas se engajam em ações participativas na sociedade, seja na empresa ou em
ONGs, por questões não políticas de transformação social ou de denúncia, mas
por obrigação, coerção, medo, modismo, culpa, ou porque viveu um problema e
acaba tendo pena das pessoas que possuem o mesmo dilema, entre outros aspectos
que não estão ligados a uma prática realmente pedagógica libertadora, mas sim de
solidariedade e ajuda mútua de conforto e apaziguamento social.

As organizações que compõem o Terceiro Setor, na maioria das vezes,


para não enfatizar sempre, buscam nas instituições públicas e privadas apoio e
parceiras para se manter, por isso que um dos dilemas destas instituições é poder
sobreviver.

As prioridades do Terceiro Setor dizem respeito a melhorar os níveis de


vida da população, aumentar os investimentos, estimular a participação, bem
como criar condições de igualdade cultural onde as pessoas, principalmente em
situação de vulnerabilidade e risco social, possam ter igualdade de oportunidades
e espaços de criação, produção, entendimento e amplitude de visão de mundo.

Muitas organizações sem fins lucrativos, não estão voltadas para uma
democracia participativa e libertadora. Nesse sentido, percebe-se que existem
ONGs que exercem sua real função, não assumindo ações do Estado, mas são
efetivos motores de transformação social, uma nova forma de fazer política,
visto que a ética política se faz valer, assim a questão social e suas expressões são
reconhecidas e enfrentadas com o objetivo de transformação em demanda política
e em responsabilidade pública e não ao contrário.
199
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Porém, infelizmente, também existem ONGs que são campos propícios às


ações do neoliberalismo e do moralismo em que o Estado procura repassar suas
responsabilidades sociais para o campo da sociedade civil, assim as instituições
sociais, acabam abafando os problemas sociais criando certa dependência, a partir
do desenvolvendo de práticas sociais camufladas, clientelistas e assistencialistas.

Constatam-se muitos desafios que devem ser enfrentados e superados pelas


organizações do Terceiro Setor, para que sejam consideradas verdadeiramente em
sua totalidade como propulsores de uma sociedade igualitária e libertadora.

É necessário haver transparência e seriedade, não somente nas ações,


mas principalmente nos recursos financeiros das organizações que devem ser
direcionados de forma correta. “O desafio da legitimação é apenas um dos muitos
com que se depara o Terceiro Setor no mundo inteiro. Igualmente grave é o desafio
da eficiência, a necessidade de mostrar a capacidade e a competência do setor”.
(SALAMON, 2000, p. 105). Sua real competência, no sentido de não ficar à mercê
de práticas neoliberais ou de fazer o que o Estado não faz, em termos de garantia
de direitos.

Frente a todo esse aparato de instituições sem fins lucrativos, que no fundo
acabam acatando funções que são do Estado, foi criada uma lei específica sobre essa
questão da legitimação das mesmas, a Lei nº 13.019/2014. Esta lei criada em 2014,
trata do regime jurídico das parcerias do Estado com as instituições do Terceiro
Setor, no sentido de fortalecer o controle interno e externo no que diz respeito
às prestações de contas das instituições, pois muitas ONGs acabam sendo alvos
fáceis de lavagem de dinheiro, desvios de verbas, irregularidades financeiras,
apropriação indébita por seus dirigentes, entre outras falcatruas.

Segundo Castro (2014, p. 1),


No âmbito dos Tribunais de Contas e da Administração Pública, após
inúmeros casos de desvios de dinheiros públicos no terceiro setor, a
aludida lei significa uma resposta à sociedade. A lei, que entrará em
vigor após 90 dias da sua edição, em 31 de julho de 2014, estabeleceu
maior rigor ao controle interno e externo.
Ao Terceiro Setor impõe-se um novo e vigoroso dever de zelo pelos
recursos administradores, com transparência e publicidade (art. 87).
Aguardemos os resultados.

Mesmo que, teoricamente, não deveríamos fazer essa separação “primeiro”,


“segundo” e “terceiro” setor, porém realizamos pela questão existente na prática
da realidade brasileira e mundial, esses segmentos se formaram e se fortaleceram
em seus propósitos, e não tem como negarmos a função social de cada um.

O que se constata é que esses três setores se fortaleceram, interagem e


se inter-relacionam formando parcerias diversas, em razão especificamente do
agravamento das expressões sociais, da intensidade das expressões sociais que
atinge a tudo e a todos no cenário contemporâneo.

200
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Nesse sentido, Piana (2009, p. 52) enfatiza que,


Pensar a questão social na contemporaneidade é um desafio, pois
esta é reproduzida pela mundialização da economia. No Brasil hoje, a
questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge intensamente
todos os setores e classes sociais, sendo constantemente ameaçada pelo
pauperismo do século XX e pelos excluídos do século XXI e, dessa
forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta dificulta a
construção de uma sociedade coesa e articulada por meio de relações
democráticas e interdependentes.

A triste realidade mostra-nos, explicitamente, a pobreza e a exclusão social,
o pauperismo e as injustiças sociais, novas pobrezas e novos excluídos na sociedade
contemporânea, pessoas de bem, muitas com estudo, com profissão, porém em
situação de vulnerabilidade e de exclusão social.

FRENTE DO AGRAVAMENTO DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO
SOCIAL O QUE VOCÊ, ENQUANTO PESSOA, ENQUANTO CIDADÃO(Ã),
ESTÁ FAZENDO DE FATO?

Algumas pessoas acreditam que apenas reclamar das situações e expressões


ou fazer julgamentos diversos, sem sustentação, ou fazer críticas, até muitas vezes
ofensivas frente a tudo e a todos, parece ser suficiente e racional, porém sabemos
que isso não tem lógica e muito menos diminuição ou reversão do agravamento
das expressões sociais. Assim, reflita sobre suas ações na sociedade, o que você,
enquanto pessoa está fazendo de fato ou poderia fazer?

Para lhe auxiliar segue a lista de desafios a ser enfrentada em nível macro
que pode nos dar base para reflexões de ações cotidianas.

TABELA 1 – REFLETINDO O ENFRENTAMENTO INDIVIDUAL DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

BASE DE REFLEXÃO PARA POSSIBILIDADES COMPORTAMENTAIS


NOSSAS AÇÕES COTIDIANAS DE ENFRENTAMENTOS

Podemos ter uma participação mais


efetiva na sociedade, no sentido de
denunciar, cobrar exigir as transformações
REFORMA POLÍTICA NO PAÍS
necessárias. Precisamos ser mais políticos
e politizar mais.

Podemos parar de dar esmolas e fazer com


que os que estão em situação de pobreza
cobrem do Estado ações para que tenham
DISTRIBUIÇÃO DE RENDA condições para obtenção de sua própria
renda, de aumento da sua renda por meio
do trabalho, como também que invistam
na educação e na saúde de fato.

201
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Que possamos ter um conhecimento mais


aprofundado sobre a reforma agrária, que
possamos conhecer os reais objetivos do
MST no Brasil, que possamos participar
de conselhos, ONGs, movimentos que
SOBRE A REFORMA AGRÁRIA E
discutam essas questões referentes à
A QUESTÃO HABITACIONAL
distribuição de terras e produção de
alimentos saudáveis e superação do déficit
habitacional, bem como a qualidade
das construções das moradias que são
oferecidas via programas sociais.
Participar de conselhos, ONGs,
SOBRE A MOBILIDADE URBANA,
movimentos sociais que se preocupam e
PLANEJAMENTO URBANO E
reivindicam a superação dos problemas
AMPLIAR O SANEAMENTO
relacionados ao transporte público e de
BÁSICO
mobilidade urbana em sua cidade.
Participar de conselhos, ONGs,
SOBRE A QUALIDADE DO movimentos sociais que se preocupam
ATENDIMENTO NA SAÚDE e reivindicam investimentos na área da
saúde no município em todos os sentidos.
Participar de conselhos, ONGs, movimentos
sociais que se preocupam e reivindicam
SOBRE A VIOLÊNCIA E A
investimentos efetivos em segurança
CRIMINALIDADE
no município, bem como a redução de
homicídios e presos no município.
Participar de conselhos, ONGs,
movimentos sociais que se preocupam e
reivindicam investimentos significativos
SOBRE A DEMOCRATIZAÇÃO DA
em educação no município no sentido de
EDUCAÇÃO E MELHORIA DA
ampliar matrículas, a inclusão social de
QUALIDADE
pessoas com deficiência, qualificação dos
professores, infraestrutura, entre outras
ações.
Participar de conselhos, ONGs,
movimentos sociais que se preocupam
SOBRE O ACESSO DA e reivindicam investimentos na área da
POPULAÇÃO A CULTURA E cultura, equipamentos e estruturas como
PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO centros culturais, teatros, museus, bem
CULTURAL NAS REGIÕES como, preservação e divulgação dos
patrimônios culturais na sua cidade, no
seu Estado.
Participar de conselhos, ONGs,
movimentos sociais que se preocupam e
SOBRE A POLÍTICA INDÍGENA E reivindicam a valorização e conservação da
VALORIZAÇÃO DA CULTURA cultura indígena, que rediscutam a política
indígena como prioridade no Brasil e
regiões onde vivem ou tentam sobreviver.

202
TÓPICO 1 | POSSIBILIDADES E ALTERNATIVAS DE REVERSÃO DO AGRAVAMENTO
DAS EXPRESSÕES DA QUESTÃO SOCIAL

Participar de conselhos, ONGs, movimentos


sociais, programas municipais que se
preocupam e reivindicam a alteração das
formas de produção e interação com o meio
PRESERVAÇÃO, CONSERVAÇÃO
ambiente, no sentido de diminuir os efeitos
E RECUPERAÇÃO AMBIENTAL
negativos no meio ambiente. Se preocupar
E DESENVOLVIMENTO
com a reciclagem de materiais no âmbito
SUSTENTÁVEL
familiar e exigir a coleta seletiva de lixo no
município, bem como, destino adequado
do lixo não reciclável, entre outras ações
diárias que precisam ser reavaliadas.
Se preocupar e efetivar pesquisas em seu
município, que seus resultados provoquem
mudanças sociais, efetivar pesquisas
SOBRE AS PESQUISAS E OS
aplicadas, que possam modificar ações
INVESTIMENTOS EM CIÊNCIA E
seja de programas e ações da prefeitura, de
TECNOLOGIA
ONGS, de empresas etc. Solicitar e exigir
bolsas de pesquisas na própria faculdade e
no município onde reside.
FONTE: A autora

Essas ações, mesmo que aparentemente sendo consideradas tão


insignificantes, também são alternativas de reversão do agravamento das
expressões da questão social no seu meio, na sua família, na sua comunidade, no
seu bairro, na sua escola, na sua cidade, no nosso país.

FIGURA 42 – A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL COMEÇA PELA INDIVIDUAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=8+objetivos+do+milênio+a+ser


em+alcançados+para+2015>. Acesso em: 20 mar. 2015.

203
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Podemos também esclarecer que quando não temos preconceito na


sociedade também não iremos discriminar ou desvalorizar pessoas, grupos,
setores, regiões, religiões, costumes, culturas, nos diversos âmbitos na sociedade,
sejam de segmentos relacionados aos aspectos religiosos, raciais, condição social
e de poder de renda, de saúde, gênero, etnia ou qualquer outro que compromete
processos e valores democráticos de respeito, dignidade, equidade, igualdade e de
justiça social.

A exemplo disso podemos constatar que algumas ações estão sendo


efetivadas na sociedade civil, então cabe a cada um de nós revermos nossos valores
e nossas atitudes cotidianamente.

Em um hotel em São Paulo constatou-se esta placa na entrada do elevador,


não tem como não ver e não lê-la, é uma iniciativa para que as pessoas tomem
consciência de que qualquer forma de preconceito e discriminação em virtude de
raça, sexo, origem, condição social, idade, deficiência e doença não contagiosa,
deve ser banida na sociedade, e se efetivada de fato, criminalizada.

UNI

Conseguiu refletir e rever suas ações na sociedade, o que você enquanto pessoa
está fazendo ou poderia fazer para o enfrentamento do agravamento das expressões sociais
no seu meio?

UNI

Discuta com seus familiares, amigos, conhecidos, vizinhos, colegas de sala de


aula, tutor e reveja ações possíveis, com certeza você se sentirá uma pessoa mais íntegra na
sociedade, corresponsável pela melhoria da qualidade de vida das pessoas!

204
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste primeiro tópico, ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um


pouco mais sobre as possibilidades e alternativas de reversão do agravamento
das expressões sociais da questão social no Brasil.

Nesse sentido, enfatizamos vários itens:

• Revemos e rediscutimos as novas expressões sociais que se mostram na realidade


brasileira, bem como os dilemas e desafios que o Estado enfrenta para resolução
ou minimização das mesmas.

• Descrevemos e discutimos as prioridades e necessidades sociais, sob


responsabilidade do Estado, considerado “primeiro” setor da sociedade.

• Analisamos as implicações das expressões sociais que são rebatidas e enfrentadas


pelo “primeiro”, “segundo” e “terceiro” setor, em alguns casos de forma
paliativa e conformista, clientelista e não democrática e, em outros de forma
intencional, consciente e crítica, democrática e transformadora na construção de
novos valores sociais e de uma nova realidade social.

• Discutimos de forma crítica sobre a responsabilidade e função do chamado


“terceiro” setor, seguindo a linha de pensamento de Montaño, que nos faz
refletir numa perspectiva crítica e de totalidade, sendo que este conceito, para ele,
resulta inteiramente do aspecto ideológico do sistema neoliberal e é inadequado
ao real.

• Vimos que, para Montaño, a realidade social não se divide em “primeiro”,


“segundo” e “terceiro” setor, pois consiste num artifício positivista,
institucionalista ou estruturalista, conforme o sistema capitalista almeja,
uma sociedade fragmentada e funcional, visto que a sociedade civil está
desenvolvendo atividades que deveriam ser atribuídas ao Estado.

• Refletimos também sobre o enfrentamento individual das expressões da questão


social, enfatizando os tópicos de desafios do estado, como base de reflexão
para nossas ações cotidianas, bem como possibilidades comportamentais de
enfrentamentos.

205
AUTOATIVIDADE

1 Conforme estudo e análise da discussão sobre alguns conceitos, descreva


sobre o significado do termo QUALIDADE DE VIDA, procurando demonstrar
sua amplitude na dimensão necessária para o ser humano.

2 Conforme análise do estudo realizado sobre pobreza absoluta e pobreza


relativa, você conseguiu entender a diferenciação entre ambas? Qual é o
significado de cada uma?

206
UNIDADE 3
TÓPICO 2

REFLEXÕES SOBRE A CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA


ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZANDO O SERVIÇO SOCIAL
NA CONTEMPORANEIDADE

1 INTRODUÇÃO
Iremos analisar e discutir, neste segundo tópico, a construção de uma nova
ordem societária, procurando sintonizar o serviço social na contemporaneidade,
enfatizando as estratégias e o projeto profissional do serviço social no enfrentando
das expressões sociais.

Abordaremos também as competências e as atribuições profissionais do


assistente social que estão especificadas no Código de Ética Profissional, lei que
regulamenta a profissão do assistente social.

Bem como, analisaremos a necessidade do repensar a prática profissional,


frente as transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas
cotidianamente e as novas expressões da questão social que se configuram no
cenário contemporâneo.

2 AS ESTRATÉGIAS E O PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO


SOCIAL NO ENFRENTANDO DAS EXPRESSÕES SOCIAIS
Sintonizar o serviço social com os novos tempos não é algo tão simples
assim, visto a dimensão e complexidade da sociedade atual na qual presenciamos
e vivenciamos situações adversas, inconstantes, dispersas, multifacetadas,
contraditórias, confusas que permeiam todas as relações sociais, inclusive as
condições de trabalho dos profissionais.

Bem, diante das reflexões sobre a construção de uma nova ordem societária
para o nosso país e população, muitos questionamentos e preocupações perpassam
nossa consciência profissional, dentre elas podemos enfatizar:

207
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

ATENCAO

• Como o Serviço Social pode contribuir para o enfrentamento das expressões


sociais, visto que os desafios são estruturais e amplos, bem como envolvem um
processo abrangente de toda sociedade, prioritariamente do Estado?
• Como o serviço social, enquanto profissão inserida no contexto capitalista, lida com o
público e o privado nas relações contemporâneas, ou seja, nas novas relações entre Estado e
sociedade civil?
• Quais espaços sócio-ocupacionais do Serviço Social no contexto contemporâneo de
enfrentamento das expressões da questão social estão sendo ocupados com qualidade e
autenticidade visando à ruptura com o conservadorismo e a falta de qualificação profissional?
• Frente a tantos desafios, expressões sociais antigas, novas e diversas que envolvem a
sociedade atual, quais são as estratégias mais adequadas de intervenção para o enfrentamento
das expressões?
• Como consolidar o projeto ético-político, por meio do exercício profissional dentro da
divisão técnica do trabalho com vistas à construção de uma nova ordem societária?

Assim como o Estado possui inúmeros desafios a serem enfrentados, com a


nossa profissão não é diferente, no sentido do desenvolvimento de estratégias para
o enfrentamento das expressões da questão social.

O profissional se coloca frente a frente com as expressões sociais, não é


algo distante e abrangente, mas essencialmente muito próximo e específico, pois
os usuários do serviço social são aquelas pessoas e grupos que se encontram em
situações de vulnerabilidade e/ou risco social, desprovidos essencialmente de uma
vida digna.

Percebemos que estivemos e ainda estamos inseridos num sistema que


propicia a desigualdade social, pois o capitalismo não luta pela igualdade, mas
essencialmente pela desintegração social e humana em detrimento do próprio
sistema de produção, exploração, acumulação e lucro, por isso existem muitas
situações de vulnerabilidade e risco social.

No Brasil hoje, a questão social apresenta-se de forma grave, porque atinge


intensamente todos os setores e classes sociais, sendo constantemente
ameaçada pelo pauperismo do século XX e pelos excluídos do século
XXI e, dessa forma, a realidade vigente de uma política salarial injusta
dificulta a construção de uma sociedade coesa e articulada por meio
de relações democráticas e interdependentes. O que se tem no País é
uma desmontagem do sistema de proteção e garantias do emprego e,
consequentemente, uma desestabilização e uma desordem do trabalho
que atingem todas as áreas da vida social (PIANA, 2009, p. 51-52).

Na sociedade brasileira, conforme descrevemos nas unidades anteriores, o


acirramento das expressões sociais é evidente, tanto é que presenciamos visivelmente
novas expressões sociais na atualidade, inclusive de forma bem acirrada na
dimensão do trabalho, emprego e renda das pessoas na contemporaneidade, visto
que a questão salarial tem sido foco de debates tanto no Brasil como no mundo.

208
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Castel (2013a, p. 21), em seu livro, As Metamorfoses da questão social –


uma crônica do salário, descreve a condição salarial enfatizando que,

[...] a situação atual é marcada por uma comoção que, recentemente,


afetou a condição salarial: o desemprego em massa e a instabilidade das
situações de trabalho, a inadequação dos sistemas clássicos de proteção
para dar cobertura a essas condições, a multiplicação dos indivíduos que
ocupam na sociedade uma posição de supranumerários, inempregáveis,
inempregados ou empregados de modo precário, intermitente.

Não podemos negar que os assistentes sociais estão inseridos num terreno de
incoerências, nesse sentido os profissionais buscam e priorizam o desenvolvimento
social e não o desenvolvimento econômico, valorizam essencialmente o ser humano
e não o capital. Os profissionais procuram defender a democracia, os direitos
sociais, os valores éticos, uma sociedade justa e emancipada onde as pessoas
possam ser libertas das diferentes formas de dominação, alienação, desigualdade,
intolerância e desrespeito.

É tarefa inerente à profissão compreender a lógica de formação e o


desenvolvimento da sociedade capitalista e os impasses colocados
pelos conflitos sociais, tendo como campo de atuação as expressões
da questão social. E nessa perspectiva, o assistente social defende a
luta pela democracia econômica, política e social, busca a defesa de
valores éticos para o coletivo em favor da equidade, defende o direito
ao trabalho e o emprego para todos, a luta pela universalização da
seguridade social, com garantia de saúde pública e previdência para
todos os trabalhadores, uma educação laica, pública e universal em
todos os níveis, enfim, luta pela garantia dos direitos como estratégia
de fortalecimento da classe trabalhadora e mediação fundamental
e urgente no processo de construção de uma sociedade emancipada.
(PIANA, 2009, p. 56).

Assim, descrevendo por analogia, nadamos contra a maré e nesse mar


imenso que parece não ter fim, procuramos sobreviver e salvar àqueles que se
encontram nesse mar revolto e bravo, como também, orientar e esclarecer àqueles
que já cansaram de nadar e estão à deriva, e quando possível, procuramos alertar
aos que ainda não afundaram de vez. É triste dizer, mas muitos não sobrevivem e
morrem na beira da praia mesmo, isso quando chegam lá.

Segundo Iamamoto (2012c, p. 48)

A questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políti­


cas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas
relações de gênero, características etnicorraciais e formações regionais,
colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso
aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela
atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela
cidadania, (Ianni, 1992), no embate pelo respeito aos direitos civis,
sociais e políticos e aos direitos humanos. Esse pro­cesso é denso de
conformismos e rebeldias, forjados ante as desigualdades sociais,
expressando a consciência e a luta pelo reconhecimento dos direitos
sociais e políticos de todos os indivíduos sociais. É nesse terreno de
disputas que trabalhamos.

209
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

As disparidades sociais são imensas no sistema capitalista em que


nos encontramos enquanto profissionais e cidadãos, assim frente à questão
social constatamos uma realidade complexa, visto que essas disparidades são
as expressões multifacetadas da questão social, que se deslocam de lugar e
fragmentam qualquer consciência, qualquer sujeito, qualquer cultura, qualquer
trabalho, qualquer campo de justiça, cidadania e igualdade social.

O serviço social no enfrentando das expressões da questão social na


contemporaneidade, conforme o espaço ocupacional em que atua, seja no
“primeiro”, “segundo” ou “terceiro setor”, possui inúmeras competências.

Nesse sentido o CFESS (2012, p. 10-14), especifica as competências da


profissão em suas diversas dimensões, como está exposto a seguir:

As competências específicas são definidas com diversas dimensões


interventi­vas, complementares e indissociáveis. São elas:

1. Uma dimensão que engloba as abordagens individuais, familiares ou gru­


pais na perspectiva de atendimento às necessidades básicas e acesso aos
direitos, bens e equipamentos públicos. Essa dimensão não deve se orien­
tar pelo atendimento psicoterapêutico a indivíduos e famílias (próprio da
Psicologia), mas sim à potencialização da orientação social com vistas à
ampliação do acesso dos indivíduos e da coletividade aos direitos sociais.
2. Uma dimensão de intervenção coletiva junto a movimentos sociais, na pers­
pectiva da socialização da informação, mobilização e organização popular,
que tem como fundamento o reconhecimento e fortalecimento da classe
trabalhadora como sujeito coletivo na luta pela ampliação dos direitos e
responsabilização estatal.
3. Uma dimensão de intervenção profissional voltada para inserção nos es­paços
democráticos de controle social e construção de estratégias para fomentar
a participação, reivindicação e defesa dos direitos pelos(as) usuários(as) e
Conselhos, Conferências e Fóruns da Assistência Social e de outras políticas
públicas.
4. Uma dimensão de gerenciamento, planejamento e execução direta de bens
e serviços a indivíduos, famílias, grupos e coletividade, na perspectiva de
fortalecimento da gestão democrática e participativa capaz de produzir,
intersetorial e interdisciplinarmente, propostas que viabilizem e potenciali­
zem a gestão em favor dos(as) cidadãos(ãs).
5. Uma dimensão que se materializa na realização sistemática de estudos e
pesquisas que revelem as reais condições de vida e demandas da classe tra­
balhadora, e possam alimentar o processo de formulação, implementação e
monitoramento da política de Assistência Social.
6. Uma dimensão pedagógico-interpretativa e socializadora de informações
e saberes no campo dos direitos, da legislação social e das políticas públi­
cas, dirigida aos(às) diversos(as) atores(atrizes) e sujeitos da política: os(as)
gestores(as) públicos(as), dirigentes de entidades prestadoras de serviços,
trabalhadores(as), conselheiros(as) e usuários(as).

210
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Essas diversas dimensões interventivas podem se desdobrar em


competências, es­tratégias e procedimentos específicos, e são assim apresentadas
nos Parâmetros:

• Realizar pesquisas para identificação das demandas e reconhecimento das


situações de vida da população que subsidiem a formulação dos planos de
Assistência Social.
• Formular e executar os programas, projetos, benefícios e serviços próprios
da Assistência Social, em órgãos da Administração Pública, empresas e or­
ganizações da sociedade civil.
• Elaborar, executar e avaliar os planos municipais, estaduais e nacional de
Assistência Social, buscando interlocução com as diversas áreas e políticas
públicas, com especial destaque para as políticas de Seguridade Social.
• Formular e defender a constituição de orçamento público necessário à im­
plementação do plano de Assistência Social.
• Favorecer a participação dos(as) usuários(as) e movimentos sociais no pro­
cesso de elaboração e avaliação do orçamento público.
• Planejar, organizar e administrar o acompanhamento dos recursos orça­
mentários nos benefícios e serviços socioassistenciais nos Centro de Refe­
rência em Assistência Social (CRAS) e Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS).
• Realizar estudos sistemáticos com a equipe dos CRAS e CREAS, na perspec­
tiva de análise conjunta da realidade e planejamento coletivo das ações, o
que supõe assegurar espaços de reunião e reflexão no âmbito das equipes
multiprofissionais.
• Contribuir para viabilizar a participação dos(as) usuários(as) no processo
de elaboração e avaliação do plano de Assistência Social; prestar assessoria
e consultoria a órgãos da Administração Pública, empresas privadas e mo­
vimentos sociais em matéria relacionada à política de Assistência Social e
acesso aos direitos civis, políticos e sociais da coletividade.
• Estimular a organização coletiva e orientar os(as) usuários(as) e
trabalhadores(as) da política de Assistência Social a constituir entidades
representativas.
• Instituir espaços coletivos de socialização de informação sobre os direitos
socioassistenciais e sobre o dever do Estado de garantir sua implementação.
• Assessorar os movimentos sociais na perspectiva de identificação de de­
mandas, fortalecimento do coletivo, formulação de estratégias para defesa e
acesso aos direitos.
• Realizar visitas, perícias técnicas, laudos, informações e pareceres sobre
acesso e implementação da política de Assistência Social.
• Realizar estudos socioeconômicos para identificação de demandas e ne­
cessidades sociais.
• Organizar os procedimentos e realizar atendimentos individuais e/ou cole­
tivos nos CRAS.
• Exercer funções de direção e/ou coordenação nos CRAS, CREAS e Secreta­
rias de Assistência Social.

211
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

• Fortalecer a execução direta dos serviços socioassistenciais pelas prefei­turas,


governo do DF e governos estaduais, em suas áreas de abrangência.
• Realizar estudo e estabelecer cadastro atualizado de entidades e rede de
atendimentos públicos e privados.
• Prestar assessoria e supervisão às entidades não governamentais que cons­
tituem a rede socioassistencial.
• Participar nos Conselhos municipais, estaduais e nacional de Assistência So­
cial na condição de conselheiro(a).
• Atuar nos Conselhos de Assistência Social na condição de secretário(a)
executivo(a).
• Prestar assessoria aos conselhos, na perspectiva de fortalecimento do controle
democrático e ampliação da participação de usuários(as) e trabalhadores(as).
• Organizar e coordenar seminários e eventos para debater e formular estra­
tégias coletivas para materialização da política de Assistência Social.
• Participar na organização, coordenação e realização de conferências muni­
cipais, estaduais e nacional de Assistência Social e afins.
• Elaborar projetos coletivos e individuais de fortalecimento do protagonis­mo
dos(as) usuários(as).
• Acionar os sistemas de garantia de direitos, com vistas a mediar seu acesso
pelos(as) usuários(as).
• Supervisionar direta e sistematicamente os(as) estagiários(as) de Serviço
Social.

O chamado trabalho interdisciplinar também é abordado neste


documento so­bre o Serviço Social no SUAS, preservando-se o resguardo das
atribuições e do sigilo profissional, numa perspectiva ética, alertando-se sobre
a necessidade de discernir sobre informações, atribuições e tarefas que estejam
no campo de atuação de cada profissão.

No trabalho conjunto com outros/as profissionais, deve-se preservar


o caráter confidencial das informações sob a guarda dos/as assistentes sociais,
registrando-se nos documentos conjuntos aquilo que for necessário para o
cumprimento dos objetivos do trabalho.

Por fim, afirma-se que o trabalho em equipe não pode negligenciar a


responsabilidades individuais e competências, e deve buscar identificar papéis,
atribuições, de modo a estabelecer objetivamente quem, dentro da equipe
multidisciplinar, encarrega-se de determinadas tarefas.

FONTE: CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL – CFESS. Atribuições privativas do/a assistente
social em questão. 1ª edição ampliada. 2012. Gestão “Tempo de Luta de Resistência” (2011-2014).
CFESS: Brasília (DF), 2012. Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/atribuicoes2012-
completo.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2015.

Podemos perceber que as atribuições do profissional são diversas e em


diversos setores e as competências específicas e singulares do assistente social são
definidas em diversas dimensões interventi­vas, que se complementam e que não
podem ser consideradas indissociáveis.

212
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

A Regulamentação da Profissão – Lei n° 8.662, 7 de junho de 1993, dispõe


sobre a profissão de Assistente Social e dá outras providências, sendo que
estabelece no seu Artigo 4º, dez competências da(o) assistente social, sendo que
também estabelece no seu Artigo 5º treze atribuições privativas da(o) assistente
social, sendo que também são competências, porém exclusivas, decorrentes,
especificamente, da formação profissional (BRASIL, 2012).

ATENCAO

Será que existe diferença entre COMPETÊNCIAS E ATRIBUIÇÕES? Você saberia


descrever qual é a diferença entre os dois termos no âmbito da profissão? O que diferencia um
do outro?

Analisando especificamente esta Lei, que regulamenta a profissão a


partir do Código de Ética Profissional, existe certa diferença entre os termos
COMPETÊNCIAS e ATRIBUIÇÕES, que, muitas vezes, são consideradas como
sinônimos no aparato profissional, porém analisando os artigos quarto e quinto do
código, constatamos que se diferenciam.

As competências são qualificações profissionais para prestar serviços, que


a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a profissionais
de outras categorias, assim, dentro do item das competências, artigo 4º do Código
de Ética Profissional (BRASIL, 2012 – grifos da autora), verificamos várias ações que
não são exclusivas do assistente social, mas também podem ser executadas por
outros profissionais, tais como:

COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL E DEMAIS PROFISSIONAIS

1. Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da


administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações
populares.
2. Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que
sejam de âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade
civil.
3. Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e
à população.
4. Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de
identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa
de seus direitos.
5. Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais.
6. Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise
da realidade social e para subsidiar ações profissionais.

213
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

7. Prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta,


indireta, empresas privadas e outras entidades.
8. Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às
políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais
da coletividade.
9. Planejamento, organização e administração de serviço social e de unidade
de serviço social.
10. Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios
e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta,
empresas privadas e outras entidades.

Agora no âmbito das atribuições, no Art. 5º do Código de Ética, especifica


as ações que são privativas do Assistente Social, assim constatamos que as
ATRIBUIÇÕES PRIVATIVAS também são competências, porém exclusivas,
decorrentes, especificamente, da formação profissional em serviço social, assim
não podem ser desenvolvidas por outros profissionais, mas somente por assistentes
sociais.

De acordo com o artigo 5º do Código de Ética Profissional (BRASIL, 2012


–grifos da autora), são atribuições do assistente social:

ATRIBUIÇÕES ESPECÍFICAS SOMENTE DO ASSISTENTE SOCIAL

1. Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas,


planos, programas e projetos na área de Serviço Social.
2. Planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de
Serviço Social.
3. Assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta,
empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social.
4. Realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres
sobre a matéria de Serviço Social.
5. Assumir, no magistério de Serviço Social tanto em nível de graduação como
pós-graduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e
adquiridos em curso de formação regular.
6. Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço
Social.
7. Dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de
graduação e pós-graduação.
8. Dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa
em Serviço Social.
9. Elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras
de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde
sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social.
10. Coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados
sobre assuntos de Serviço Social.

214
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

11. Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e


Regionais.
12. Dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou
privadas.
13. Ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em
órgãos e entidades representativas da categoria profissional.

“Assim, as competências são qualificações profissionais para prestar


serviços, que a Lei reconhece, independentemente de serem, também, atribuídas a
profissionais de outras categorias”, segundo o Parecer Jurídico nº 27/98, de Sylvia
Helena Terra, assessora jurídica do CFESS (CFESS, 2009, p. 18).

Diz respeito à capacidade decorrente de profundo conhecimento que tem


sobre determinado assunto, especialista em determinado assunto; é formada por
um conjunto de habilidade, atitude e conhecimento; conhecimento e capacidade em
determinada área; aptidão designando qualidade de quem é capaz de desenvolver
determinada função; qualidade de quem é capaz de apreciar e resolver algum
assunto.

E as atribuições privativas também são competências, porém exclusivas,


decorrentes, especificamente, da formação profissional (CFESS, 2009), e dizem
respeito ao preenchimento de um requisito qualitativo, um atributo específico,
um encargo peculiar; responsabilidade de um cargo, ou função; envolve deveres e
funções próprias da profissão.

Temos que admitir, que neste contexto de esclarecimento e discussão, no que


diz respeito às competências e as atribuições profissionais, infelizmente, existem
muitas práticas burocráticas, funcionais, alienadas e desprovidas de criticidade e
visão política, destituídas de referencial histórico-crítico e teórico-prático, que vem
sendo acompanhadas de falta de qualificação profissional.

Certamente, que um dos maiores desafios a serem enfrentados pelos


profissionais na sociedade brasileira na atualidade, designa em saber pesquisar,
analisar, interpretar, refletir sobre as antigas e as novas configurações sociais que
proliferam na sociedade, novas expressões sociais que se apresentam de forma
multifacetada impondo aos assistentes sociais um repensar crítico sobre a teoria
e a prática profissional, redefinir e construir propostas de trabalho criativas e
diferenciadas, capazes de enfrentar as demandas emergentes que parecem se
consolidar de fato de forma infindáveis.

A ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social,


vem desempenhando uma significativa função no direcionamento do ensino e da
pesquisa em serviço social no Brasil, impulsionando profissionais para a discussão
sobre a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão.

215
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 42 – ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E PESQUISA EM SERVIÇO SOCIAL

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=símbolo+da+ABEPSS>. Acesso


em: 24 mar. 2015.

É de extrema necessidade que o profissional analise, pesquise, decifre,


reflita criticamente, atue de forma propositiva sobre as múltiplas expressões da
questão social. Planeje de forma fundamentada a prática profissional, implemente
e execute políticas, planos, programas e projetos sociais de forma qualificada
e coerente, enfim, que seja um profissional comprometido com o projeto ético-
político da profissão.

Que seu pensar e agir estejam fundamentados nos valores e princípios do


Código de Ética do Assistente Social, pelas competências especificadas e pelas
atribuições particulares e privativas do(a) assistente social, conforme regulamenta
a Lei nº 8.662, de 7 de junho de 1993, assim como também, tenha observância nas
orientações da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social –
ABEPSS.

Ser um profissional propositivo, ou seja, ser um assistente social centrado


na construção de propostas que possam superar demandas e expressões sociais,
não sendo apenas um trabalhador funcional, burocrático e executivo ou, um
profissional que não se atualiza e trabalha simplesmente por trabalhar no sentido
do “faz de conta” é um dos maiores desafios a serem evitados, combatidos,
enfrentados pela profissão (IAMAMOTO, 2014a).
A complexidade da sociedade atual exige um repensar contínuo do
saber teórico e metodológico da profissão, da ampliação da pesquisa no
conhecimento da realidade social, na produção do conhecimento sobre

216
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

a organização da vida social e na busca da consolidação do projeto ético-


político, por meio do exercício profissional nas atividades diárias, na
inserção e participação política nas entidades nacionais de Serviço Social
(CFESS/Cress, ABEPSS, Enesso), na articulação com outros movimentos
sociais em defesa dos interesses e necessidades da classe trabalhadora
e em luta permanente contra as imposições do neoliberalismo, contra o
predomínio do capital sobre o trabalho, da violência, do autoritarismo,
da discriminação e de toda forma de opressão e de exploração humana.
(PIANA, 2009, p.55).

Precisamos repensar nossa prática profissional, nossas competências


e atribuições frente às transformações sócio-históricas, as demandas postas a
serem enfrentadas cotidianamente, as novas expressões da questão social que se
configuram no cenário contemporâneo, pois toda essa complexidade exige uma
postura dialética de ação e reflexão para uma nova ação. Repensar e redimensionar
ações e espaços ocupacionais, bem como enfrentar os desafios, exigem maior
qualificação profissional em todos os sentidos.
Requer considerar o redimensionamento dos espaços ocupacionais e
das demandas profissionais que impõem novas competências a esse
profissional. A reconfiguração dos espaços ocupacionais é resultante das
profundas transformações sócio-históricas, com mudanças regressivas
nas relações entre o Estado e sociedade em um quadro de recessão na
economia internacional, submetida à ordem financeira do grande capital.
As dificuldades para impulsionar o crescimento econômico, o aumento
do desemprego e do subemprego e a radicalização das desigualdades
de renda, propriedade e poder, das disparidades religiosas, raciais, de
gênero e etnia comprometem processos e valores democráticos. Elas são
marcas destes tempos adversos, como registra o poeta, um tempo de
aflição e não de aplausos (CFESS, 2012, p. 33-34).

Visto que, as transformações sociais sempre irão ocorrer, mudanças são


inevitáveis em todas as relações sociais, seja no âmbito do Estado com a economia,
com a sociedade, com meio ambiente, com os movimentos sociais; da sociedade
com os outros setores, instituições e grupos que se interagem e entram em acordos
e desacordos, organizações, participações, conflitos, discriminações; dentre outras
situações adversas e condições de vulnerabilidade na sociedade decorrentes das
disparidades e desigualdades sociais provenientes do sistema capitalista.
Com tudo isso, tem-se que a questão social, que deve ser enfrentada
enquanto expressão das desigualdades da sociedade capitalista
brasileira, é construída na organização da sociedade e manifesta-se no
espaço societário onde se encontram a nação, o Estado, a cidadania, o
trabalho. (PIANA, 2009, p. 52).

De fato temos que enfrentar a questão social enquanto expressão das


desigualdades sociais do sistema capitalista, enquanto manifestação das disparidades
sociais, pois ela é construída na própria organização e desenvolvimento da sociedade,
e se manifesta nos novos espaços sociais, espaços de atuação do profissional de serviço
social, que se configuram em novos desafios e novas demandas, do “primeiro”,
“segundo” ou “terceiro” setor da realidade social.

217
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

DICAS

Para aprofundamento do estudo sobre os espaços ocupacionais indicamos a


leitura do livro ESPAÇOS OCUPACIONAIS E SERVIÇO SOCIAL: ENSAIOS CRÍTICOS,
de autoria de Rose Mary Sousa Serra, de 2012.

A obra enfatiza as mudanças nas relações entre o Estado e a


sociedade, assim como das metamorfoses operadas nas políticas
sociais, que se materializam na expansão do chamado terceiro setor
e do voluntariado, nos programas de responsabilidade social das
empresas, nas fundações e institutos empresariais, nos programas
de emprego, trabalho e renda, nas políticas de qualificação e
de microcrédito, nas relações entre trabalho e educação e nos
processos de assessorias, diversificando os espaços ocupacionais
do Serviço Social.

Discutindo sobre novos espaços ocupacionais, podemos enfatizar aqueles


que permeiam o meio ambiente, assim percebemos que a profissão tem, junto às
questões ambientais, um espaço que vale a pena ser ocupado, atualmente não muito
priorizado. Todavia, existem inúmeras possibilidades de estudos interdisciplinares
que apresentam, não só frente às questões ligadas ao desenvolvimento urbano, à
preservação do meio ambiente e à geração de renda, mas também pela importância
da qual se revestem essas questões, que criam inúmeras oportunidades de
intervenção ao serviço social, em ações de mobilização, organização das populações
ameaçadas pela degradação do seu meio ambiente ou de educação dessa mesma
população para sua preservação.

Segundo Colito e Pagani (1999, p. 247)

Devemos nos lembrar que ao colocarmos como objeto de intervenção a


questão social, as questões ambientais estão ali contidas; são expressões
dela. Se formos privilegiar as políticas sociais veremos que a política
pública com vistas à geração de energia, gera sérias consequências
que clamam por políticas sociais adequadas para o atendimento das
populações que se veem atingidas. Como vemos não existem diferenças
entre questões ambientais e questão social tida como alvo da intervenção
do Serviço Social.

Nesse contexto, a educação ambiental pode ser compreendida como um dos


processos mais importantes de construção de valores, conhecimentos, habilidades
e atitudes, tendo como objetivo estimular e fortalecer para que se possa promover
uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social, na perspectiva do
desenvolvimento sustentável.

218
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO – Serviço Social na Contemporaneidade


Música: “Cidadão” por Zé Ramalho (Google Play - iTunes)
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fCHlSe4VwZw>. Acesso em: 18 mar. 2015.

LEITURA COMPLEMENTAR

PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL

Braz Moraes dos Reis

O que é um projeto? Um projeto tem teleologia, indica a direção que uma


sociedade, uma categoria constrói para concretizar o que idealizou, o que sonhou
e sonha. E por isso podemos diferenciar os projetos societários dos projetos
profissionais.

Segundo Netto (1999), os projetos societários aprestam uma imagem de


sociedade a ser construída, que reclamam determinados valores para justificá-la e
que privilegiam certos meios (materiais e culturais) para concretizá-la. Constituem-
se em projetos macroscópicos, para o conjunto da sociedade. São, portanto, projetos
de classe.

Os projetos profissionais são coletivos; apresentam a autoimagem de uma


profissão; elegem os valores que a legitimam; delimitam e priorizam seus objetivos
e funções; formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o seu
exercício; prescrevem normas para o comportamento dos profissionais; estabelecem
as balizas da sua relação com os usuários dos serviços, com as outras profissões
e com as organizações e instituições sociais, privadas e públicas; são construídos
por um sujeito coletivo – a categoria profissional; e através da sua organização
(que envolve os profissionais em atividades, as instituições formadoras, os
pesquisadores, os docentes e estudantes da área, seus organismos corporativo e
sindicais) que a categoria elabora o seu projeto profissional (NETTO,1999).

O QUE É O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL?

É o nosso projeto profissional que foi construído no contexto histórico de


transição dos anos 1970 aos 1980, num processo de redemocratização da sociedade
brasileira, recusando o conservadorismo profissional presente no Serviço Social
brasileiro. Constata-se o seu amadurecimento na década de 1990, período de
profundas transformações societárias que afetam a produção, a economia, a

219
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

política, o Estado, a cultura, o trabalho, marcadas pelo modelo de acumulação


flexível (Harvey) e pelo neoliberalismo.

Condições necessárias para desenvolver e aprofundar o projeto ético-


político:

Condição política, que teve na luta pela democracia seu principal


rebatimento, onde as aspirações democráticas e populares foram incorporadas e
intensificadas pelas vanguardas do Serviço Social.

Espaço legitimado na academia, que permitiu a profissão estabelecer


fecunda interlocução com as Ciências Sociais e criar e revelar quadros intelectuais
respeitados no conjunto da categoria.

Debate sobre a formação profissional, cujo empenho foi dirigido no sentido


de adequá-la às novas condições postas, em um marco democrático da questão
social. Em suma, a construção de um novo perfil profissional.

No interior da categoria profissional, modalidades prático-interventivas


tradicionais foram ressignificadas e novas áreas e campos de intervenção foram
emergindo devido, sobretudo, às conquistas dos direitos cívicos e sociais que
acompanharam a restauração democrática na sociedade brasileira (práticas
interventivas junto a categorias sociais como criança, adolescente, mulheres, e
outras).

ESTRUTURA BÁSICA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Núcleo: reconhecimento da liberdade como valor central.

Ø Compromisso com a autonomia, a emancipação e a plena expansão dos


indivíduos sociais.
Ø Vincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem
social.

Dimensão política: se posiciona m favor da equidade e da justiça social,


na perspectiva da universalização; a ampliação e consolidação da cidadania. Este
projeto se reclama radicalmente democrático – socialização da participação política
e socialização da riqueza socialmente produzida.

Do ponto de vista profissional: o projeto implica o compromisso com a


competência, cuja base é o aprimoramento profissional – preocupação com a (auto)
formação permanente e uma constante postura investigativa.

Usuários: o projeto prioriza uma nova relação sistemática com os usuários


dos serviços oferecidos – compromisso com a qualidade dos serviços prestados à
população, a publicização dos recursos institucionais e sobretudo, abrir as decisões
institucionais à participação dos usuários.

220
TÓPICO 2 | REFLEXÕES SOBRE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA: SINTONIZAN-
DO O SERVIÇO SOCIAL NA CONTEMPORANEIDADE

Articulação com os segmentos de outras categorias profissionais que


partilhem de propostas similares e com os movimentos que se solidarizam com a
luta geral dos trabalhadores.

COMPONENTES QUE MATERIALIZAM O PROJETO ÉTICO-POLÍTICO

Dimensão da produção de conhecimento no interior do Serviço Social:


é a esfera da sistematização das modalidades práticas da profissão, onde se
apresentam os processos reflexivos do fazer profissional.

Dimensão político-organizativo da profissão: fóruns de deliberação e as


entidades representativas (conjunto CFESS/CRESS, ABEPSS e as demais associações
político-profissionais, movimento estudantil representado pelo conjunto dos CAs
e DAs e pela ENESSO). É aqui que são tecidos os traços gerais do projeto, quando
são reafirmados (ou não) determinados compromissos e princípios.

Dimensão jurídico-política da profissão: aparato político-jurídico


estritamente profissional (Código de Ética Profissional e a Lei de Regulamentação
da Profissão – Lei 8.662/93 e as novas Diretrizes Curriculares do MEC; aparato
jurídico-político de caráter mais abrangente (conjunto das leis advindas do capítulo
da Ordem Social da Constituição Federal de 1988).

Texto adaptado da Coletânea de Leis – CRESS 17ª Região/ES e do texto de


Marcelo Braz Moraes dos Reis (professor da ESS/UFRJ. Conselheiro do CFESS –
Gestão 2002-2005/2005-2008, ex-diretor CRESS 7ª Região), intitulado “Notas sobre
o Projeto Ético Político do Serviço Social”.

FONTE: REIS, Braz Moraes dos. Projeto ético-político. CRESS 17ª Região/ES – Gestão 2008-2011.
Disponível em: <http://cress-es.org.br/projetoetico.htm>. Acesso em: 29 mar. 2015.

221
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste segundo tópico, ampliamos nossos conhecimentos e estudamos um


pouco mais a construção de uma nova ordem societária, procurando sintonizar
o serviço social na contemporaneidade, enfatizando as estratégias e o projeto
profissional do serviço social no enfrentando das expressões sociais.

Nesse sentido abordamos algumas análises e discussões, onde


percebemos que:

• O profissional se coloca frente a frente com as expressões sociais, assim não é


algo distante e abrangente, mas essencialmente muito próximo e específico, que
nos espaços ocupacionais o assistente social procura responder às demandas e
garantir os direitos sociais.

• Estivemos e ainda estamos inseridos num sistema que propicia a desigualdade


social, pois o capitalismo não luta pela igualdade, mas essencialmente
pela desintegração social e humana em detrimento do próprio sistema de
produção, exploração, acumulação e lucro, por isso existem muitas situações de
vulnerabilidade e risco social.

• As competências e as atribuições profissionais estão especificadas no Código de


Ética Profissional, lei que regulamenta a profissão do assistente social.

• É necessário repensar a prática profissional, as competências e atribuições frente


às transformações sócio-históricas, as demandas postas a serem enfrentadas
cotidianamente e as novas expressões da questão social que se configuram no
cenário contemporâneo.

222
AUTOATIVIDADE

1 O Projeto Ético-Político, hegemônico no Serviço Social, identifica, nas


expressões da questão social, o objeto ou a matéria-prima dos processos de
trabalho do Assistente Social. Nesse sentido, sob essa ótica de análise, analise
as afirmativas a seguir que condizem com o estudo realizado sobre a questão
social:

I - Pode-se definir a questão social como uma política social, fragmentada


e setorializada, voltada ao enfrentamento das complexas e multifacetadas
expressões sociais do capitalismo.
II - As expressões sociais da questão social são como ações pontuais do
“primeiro” setor, que passaram a ser introduzidas a partir do capitalismo.
III - A questão social se caracteriza pelo conjunto das expressões das
desigualdades sociais da sociedade capitalista.
IV - Historicamente a Questão Social tem a ver com o surgimento da classe
operária e seu ingresso no cenário político por meio das lutas em prol de
direitos trabalhistas.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa IV está correta.


b) ( ) As afirmativas III e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e IV estão corretas.
d) ( ) Somente a afirmativa III está correta.

2 Analisando o esclarecimento realizado a partir do estudo deste tópico com


embasamento no Código de Ética Profissional, o que diferencia os termos
COMPETÊNCIAS e ATRIBUIÇÕES no agir do assistente social?

223
224
UNIDADE 3
TÓPICO 3

A DESIGUALDADE SOCIAL E AS CONCEPÇÕES DOS


SISTEMAS DE INDICADORES

1 INTRODUÇÃO
Este terceiro tópico tem por objetivo apresentar algumas reflexões que
envolvem a abrangência da desigualdade social na contemporaneidade, que
abrangem muitas regiões do mundo e do Brasil, impondo a milhares de pessoas
uma condição de injustiça social sem acesso à qualidade de vida e aos mesmos
benefícios, serviços, renda, oportunidades que alguns poucos possuem.

Abordaremos algumas reflexões sobre a diversidade e a desigualdade


social, bem como, os parâmetros utilizados para se saber os graus de desigualdade
em um país, os sistemas de indicadores ou índices de mensuração.

2 REFLEXÕES SOBRE A DIVERSIDADE E A DESIGUALDADE


SOCIAL
Todos nós somos diferentes, porém na sociedade na qual vivemos,
essencialmente capitalista, somos tratados de forma desigual, assim, em muitos
momentos, as diferenças podem se transformar em objeto de desigualdade social,
preconceito, discriminação e racismo.

UNI

Você já pensou sobre a distinção entre os termos: “desigualdade” e “diferença”?


Qual seria? Ou, quais as diferenças entre ser diferente e ser desigual na sociedade?

Há distinção entre os termos desigualdade e diferença, vamos esmiuçar


esses termos para compreendermos melhor e não confundirmos no dia a dia. A
diferença pode ser tanto natural quanto cultural, porém a própria natureza pode
ajudar a esclarecer os conceitos e mostrar como a desigualdade não é natural, mas
sim essencialmente social, assim não se discute que haja injustiças na natureza.

225
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Inevitavelmente, existem diferenças entre os humanos, não no todo, mas


em aspectos particulares tais como força, altura, inteligência, sexo, cor etc. sendo
que essas diferenças são naturais e não têm como eliminá-las e nem convém.

Refletindo um pouco mais, vamos perceber que a desigualdade não é natural,


visto que em algumas circunstâncias uns são privilegiados, outros não. Em algumas
circunstâncias, situações, condições de sistemas e forma de organização social são
privilegiados em detrimento da maioria, que são construídas socialmente, sendo
na maioria das vezes, caracterizada como formas injustas de relação social. Já que
a desigualdade não é natural, é desejável assim a possibilidade de sua eliminação.

Não se pode dizer que haja uma desigualdade natural intrínseca, assim a
“diferença” não é o mesmo que “desigualdade”, embora os dois termos até sejam
usados como sinônimos.

Para esclarecer melhor, Barros (2005, p. 345, grifos do autor), focando sua
análise entre igualdade e diferença e entre igualdade e desigualdade descreve:

Quando se considera o par «igualdade × diferença» (ou «igual» ×


«diferente»), tem-se em vista algo da ordem das essências: uma coisa
ou é igual a outra (pelo menos em um determinado aspecto) ou então
dela difere. Podemos, no âmbito de um certo número de indivíduos,
considerar sua igualdade ou diferença em relação ao aspecto sexual, ao
aspecto profissional, ao aspecto étnico, e assim por diante. A oposição
entre igualdade e diferença, se colocarmos a questão dentro de uma
perspectiva semiótica, é da ordem dos «contrários» (de duas essências
que se opõem).
Já o contraste entre igualdade e desigualdade refere-se quase sempre não
a um aspecto «essencial», mas a uma «circunstância» associada a uma
forma de tratamento (mesmo que esta circunstância aparentemente se
eternize no interior de determinados sistemas políticos ou situações
sociais específicas). Tratam-se dois ou mais indivíduos com igualdade
ou desigualdade relativamente a algum aspecto ou direito, conforme
sejam concedidos mais privilégios ou restrições a um e a outro (isto
pode ocorrer independentemente de serem eles iguais ou diferentes no
que se refere ao sexo, à etnia ou à profissão).

Temos que refletir e entender que existem diversas diferenças e


desigualdades na sociedade, porém não são as mesmas, no entanto uma conduz
às demais. A desigualdade social em âmbito mais geral propicia o surgimento de
outras desigualdades correlacionadas com as diferenças que existem na sociedade,
que deveriam ser consideradas como naturais intrínsecas ao aspecto biológico e
cultural.

Hannah Arendt, em seu livro A Condição Humana, o mundo moderno é


um grande ameaçador da existência humana, nesse sentido sua análise enfatiza
que o capitalismo, no prisma de modernidade, o ser humano e tudo o que há no
mundo se torna objeto de exploração, bens de consumo sendo tudo descartável,
inclusive o homem. Assim uma das condições mais básicas da vida em sociedade é
a pluralidade que consiste numa síntese entre igualdade e diferença, ou seja, cada

226
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

pessoa é única no mundo, porém sua individualidade somente se constitui nas


relações sociais entre os seres humanos (ARENDT, 2014).

Assim, analisando sob o ponto de vista individual, o termo desigual


compreende o que não é igual, em um sentido mais restrito, as pessoas não são
iguais, possuem diferenças diversas do ponto de vista biológico, físico, cultural,
mental e psicológico, valores e costumes, defeitos e qualidades, habilidades e
competências, entre outras.

Do ponto de vista não biológico, enfatizando agora o termo desigualdade


social, em seu sentido amplo, estrutural e macro, percebe-se que a questão social
expressa inúmeras situações, decorrentes de diversas desigualdades não só
de classes sociais, mas de pessoas, grupos e famílias, de etnias, de culturas, de
profissões, de renda, de saúde, de conhecimento, de gênero, de poder, crenças etc.

Assim, entende-se que a desigualdade social é um fenômeno mundial


desencadeado pela má distribuição de renda na sociedade em suas devidas
proporções e dimensões, promovendo diversas privações de liberdade, autonomia,
respeito, valorização, bem-estar, saúde, qualidade de vida, bem como exclusões
sejam elas sociais, políticas, econômicas, culturais, educacionais, laborais,
habitacionais, entre outras.

Segundo a UNESCO (2002), a Declaração Universal sobre a Diversidade


Cultural, em seu Artigo 1º, que enfatiza a diversidade cultural, patrimônio comum
da humanidade, descreve que:

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço.


Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de
identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem
a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade,
a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como
a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui
o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e
consolidada em benefício das gerações presentes e futuras.

No Brasil, a diversidade cultural é bastante expressiva, porém as identidades


que caracterizam grupos diversos no contexto nacional, por vezes, são ameaçadas
pelas diversas formas de desigualdade social, preconceito, discriminação e racismo
em virtude de raça, sexo, origem, condição social, idade, deficiência, doença
não contagiosa, entre outras condições sociais, seja política, profissional, crença
religiosa, etnia, cultura, entre outras que possam provocar exclusão social.

No sistema capitalista, os valores estão distorcidos, assim as diversidades


culturais são confundidas como diferenças que devem ser banidas da sociedade,
assim as pessoas acabam aprendendo a serem preconceituosas, discriminando,
desvalorizando e excluindo pessoas, grupos e segmentos diversos que existem na
sociedade.

227
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

FIGURA 43 – REFLEXÃO SOBRE O PRECONCEITO NA SOCIEDADE

FONTE: Disponível em: <www.google.com.br/search?q=ser+desigual+e+ser+diferente>.


Acesso em: 20 mar. 2015.

A discussão sobre a diversidade cultural e a desigualdade social nos


tempos atuais, tem sido cada vez mais comum, pois estamos vivendo numa época
muito adversa, com muitos conflitos em todas as áreas, principalmente no âmbito
cultural e educacional. Investir em novos valores, em novas atitudes também é
um desafio para os profissionais que lidam diretamente com expressões sociais
advindas dos processos de exclusão e discriminação social.
Segundo Gomes (2012, p. 687)

A diversidade, entendida como construção histórica, social, cultural e


política das diferenças, realiza-se em meio às relações de poder e ao
crescimento das desigualdades e da crise econômica que se acentuam
no contexto nacional e internacional. Não se pode negar, nesse debate,
os efeitos da desigualdade socioeconômica sobre toda a sociedade e, em
especial, sobre os coletivos sociais considerados diversos. Portanto, a
análise sobre a trama desigualdades e diversidade deverá ser realizada
levando em consideração a sua inter-relação com alguns fatores, tais
como: os desafios da articulação entre políticas de igualdade e políticas
de identidade ou de reconhecimento da diferença no contexto nacional
e internacional, a necessária reinvenção do Estado rumo à emancipação
social, o acirramento da pobreza e a desigual distribuição de renda da
população, os atuais avanços e desafios dos setores populares e dos
movimentos sociais em relação ao acesso à educação, à moradia, ao
trabalho, à saúde e aos bens culturais, bem como os impactos da relação
entre igualdade, desigualdades e diversidade nas políticas públicas.

Vários são os fenômenos gerados pela desigualdade social, que acarreta


outros inúmeros fenômenos igualmente preocupantes numa sociedade, trazendo
malefícios diversos, além do acirramento da pobreza em sua amplitude, também
fomenta o preconceito e a discriminação sobre os coletivos sociais considerados
diversos nas sociedades, inclusive na realidade brasileira, ou seja, fomenta outras

228
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

desigualdades sob o ponto de vista cultural, tais como as desigualdades raciais,


étnicas, de gênero, entre outras.

Percebe-se, através de pesquisas, estudos e levantamentos feitos


por órgãos competentes, que os países onde a desigualdade social é
elevada, também registram índices igualmente elevados de outros
fatores negativos, tais como: violência e criminalidade, desemprego,
desigualdade racial, guerras, educação precária, falta de acesso a
serviços públicos de qualidade, diferenciação de tratamento entre ricos
e pobres, entre outros. (LÚCIO, 2011).

Constata-se, realmente, nos países onde a desigualdade social é acirrada,


que se desencadeiam inúmeros outros problemas, como por exemplo, a pobreza
em suas diversas dimensões, por isso que também há o acirramento das expressões
sociais. Quanto maior a desigualdade social, maior a quantidade e diversidade
de expressões sociais na sociedade, assim consequentemente maiores serão os
desafios a serem enfrentados pelo Estado, pela sociedade e pelos profissionais.

3 TIPOS E SIGNIFICADOS DOS SISTEMAS DE INDICADORES


UTILIZADOS
É necessário conhecermos e compreendermos alguns indicadores de
avaliação da desigualdade social, indicadores de desenvolvimento humano, pois a
distribuição de renda leva a mensurações da desigualdade existente e de dilemas
preocupantes na sociedade.

Nos primeiros tempos da ONU, a pobreza era medida em termos da capacidade


de obter um número mínimo de calorias ou de ter um nível mínimo de rendimentos
para satisfazer as necessidades (pobreza em termos de rendimentos). O “limiar de
pobreza” definia esse nível mínimo e os pobres eram aqueles cujos rendimentos ou
ração calórica eram inferiores a esse mínimo.

Um indicador utilizado habitualmente para efeitos das comparações


internacionais de pobreza de rendimentos é o de 1 ou 2 dólares por dia (poder de
compra equivalente a 1 ou 2 dólares nos Estados Unidos em 1993). Houve mudanças
ao nível das ideias sobre a forma de medir a pobreza, tendo havido tentativas de
integrar no indicador algumas das suas diferentes dimensões, bem como as suas
relações circulares de que falamos anteriormente (ANNAN, 2001).

Na década de 1970, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) alargou


o conceito e a pobreza passou a ser entendida como incapacidade de satisfazer
as necessidades básicas. Nas décadas de 1980 e 1990, o conceito sofreu mais
mudanças, ao serem considerados aspectos não monetários como o isolamento,
a impotência, vulnerabilidade e falta de segurança, bem como a capacidade e a
aptidão das pessoas para sentir bem-estar (ANNAN, 2001).

229
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 (2014, p. 3)


publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD,

As pessoas em situação de pobreza e privação extremas integram


o núcleo dos mais vulneráveis. Apesar dos recentes progressos na
redução da pobreza, mais de 2,2 milhões de pessoas continuam a viver
em situação de pobreza multidimensional ou quase. Isto significa que
mais de 15 por cento da população mundial permanece vulnerável
à pobreza multidimensional. Por outro lado, quase 80 por cento da
população global não dispõe de proteção social alargada. Cerca de 12
por cento (842 milhões) padecem de fome crónica, 6 e quase metade dos
trabalhadores – mais de 1,5 milhões – trabalha em regime de emprego
precário ou informal. Em muitos casos, os pobres – a par, por exemplo,
das mulheres, dos imigrantes, dos grupos indígenas e dos idosos – são
estruturalmente vulneráveis. A sua insegurança, perpetuada por longos
períodos, agravou-se e criou divisões – de gênero, étnicas, raciais,
profissionais e de estatuto social – que não são fáceis de ultrapassar.

Sabemos que a vulnerabilidade humana, a pobreza em si, não é um fenômeno


novo, é antigo e está se agravando em consequência do próprio processo do
capitalismo e da globalização, bem como das diversas instabilidades sociais, sejam
financeiras, de segurança, ambientais como as alterações climáticas, entre outras
situações adversas que influenciam na qualidade e potencial de desenvolvimento
humano das pessoas no mundo e no Brasil.

Sobre os diversos indicadores, existe o Coeficiente de Gini – o Índice de


Gini, geralmente utilizado para calcular a desigualdade de distribuição de renda,
como também, mensurar em pontos percentuais a desigualdade de riqueza em um
país. Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde mais próximo do 0 caracteriza
igualdade de renda e riqueza, porém mais próximo do 1 corresponde a maior
desigualdade social.

A desvantagem no Coeficiente de Gini é que ele mede a desigualdade de


renda, mas não a desigualdade de oportunidades.

Lúcio (2011), da empresa Kerdna Produção Editorial, descreve alguns tipos


de indicadores utilizados para mensurar fatores relacionados à desigualdade social,
como enfatiza a seguir.

Índices Utilizados

Existem diversos tipos de indicadores para se medir o fator da


desigualdade social em uma conjuntura global, nacional, estadual ou regional,
sendo, porém, que nenhum desses índices é totalmente seguro, uma vez que
uma população é constantemente mutável, não sendo possível estabelecer
cálculos exatos nem definitivos sobre desigualdade social. São índices
desenvolvidos através de teorias e pesquisas e que são refeitos de tempos em
tempos para que sejam sempre atualizados, conforme as mudanças ocorridas
em uma sociedade com o passar do tempo.

230
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

Seguem alguns dos índices mais usados no Brasil e no mundo, para


se medir o fenômeno da desigualdade social, índices estes que são agregados
a outros aspectos da sociedade, não só o social, como também o econômico.

Produto Interno Bruto (PIB) – Índice utilizado para se obter a soma em


valores monetários de todos os produtos, bens e serviços finais produzidos
por uma região, que pode ser um país, um estado, uma cidade, um distrito, ou
um município, durante um período de tempo (mês, trimestre, semestre, ano
etc.). O PIB é o principal índice para se medir a atividade econômica de uma
região.

Renda Per capita – Ou rendimento per capita (do latim = por cabeça, ou
por pessoa), é um indicador que auxilia para saber o grau de desenvolvimento
de uma determinada região, onde é extraído o resultado da soma de todos
os salários da população e dividido pelo número de habitantes, quando,
do resultado, se obtém o produto nacional bruto. Embora seja um índice
muito válido, é paliativo para mensurar a desigualdade social, pois não leva
em conta as disparidades entre as diferentes classes sociais decorrentes no
processo de cálculo.

IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) – É um índice criado pela


ONU através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento)
que, através de comparação, estabelece o grau de desenvolvimento humano
de cada país, fazendo a separação entre os mais desenvolvidos (com elevado
IDH), os países em desenvolvimento (com médio IDH) e os subdesenvolvidos
(com IDH baixo). O índice de Desenvolvimento Humano é uma estatística
composta através de dados levantados sobre um país em relação à expectativa
de vida ao nascer, e em relação à educação e o PIB do país; esse último, como
um indicador geral do padrão de vida da população.

Vale ressaltar que todos esses índices, aliados a dados levantados


sobre uma determinada sociedade, promovem resultados mais precisos sobre
a desigualdade social em uma região, e que se obtêm resultados através de
estudos e levantamentos periódicos nessas determinadas localidades, países
etc.

FONTE: LÚCIO, Charlyson Willian Freitas. Desigualdade social. 2011. In: KERDNA PRODUÇÃO
EDITORIAL. Brasil e cidadania – desigualdade social. 2015. Disponível em: <http://www.kerdna.
com.br/mos/view/Brasil_e_Cidadania/>. Acesso em: 30 mar. 2015.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),


inspirado pela obra de Amartya Sen, economista indiano que ganhou o Prêmio
Nobel de Economia em 1999, introduziu indicadores de progresso e de carência
que se centram na pobreza, sob uma perspectiva de desenvolvimento humano.

Nesse sentido, a pobreza é considerada a partir da negação de escolhas e


oportunidades, de ter uma vida tolerável e com qualidade. Assim, foi elaborado
outro indicador, o Índice da Pobreza Humana (IPH), elaborado em relação a cada

231
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

país, fornecendo uma imagem da carência em termos de longevidade, educação


e de fatores econômicos (ANNAN, 2014, grifo da autora). O IPH serve como
indicador da taxa de pobreza e desigualdade existentes em determinado país ou
região, percentuais da duração da vida, população analfabeta e percentagem das
pessoas que não possuem acesso a serviços de saúde, água potável, nutrição, entre
outros.

O economista Sen enfatiza a condição de pobreza não somente da absoluta,


mas além ainda da pobreza relativa, visto que considera a amplitude das privações
que não garantem uma qualidade de vida digna a pessoa humana.

Amartya Sen pensa a pobreza não sendo mensurável apenas pelo nível
de renda (ou pobreza absoluta), mas como a privação de capacidades
básicas que envolve acessos a bens e serviços; inclusive por isso lhe é
atribuída a formulação de pobreza na sua multidimensionalidade. Para
ele, o analfabetismo, a doença, a miséria, a falta de acesso ao crédito,
a falta de acesso aos serviços públicos e a exclusão da participação
social e política, assim como outras, revelam-se como “privações de
capacidades”, que impedem a superação da pobreza. (SIQUEIRA, 2012,
p. 361-362).

Os índices auxiliam a analisar e compreender como os habitantes de um


país se beneficiam (ou não) da riqueza produzida, assim como o IPH, o IDH,
conforme especificado anteriormente, vem sendo utilizado pelo Pnud – Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

O QUE É O IDH
O objetivo da criação do Índice de Desenvolvimento Humano foi o de oferecer
um contraponto a outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB)
per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.
Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya
Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, o IDH pretende ser uma
medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.
Apesar de ampliar a perspectiva sobre o desenvolvimento humano, o IDH não
abrange todos os aspectos de desenvolvimento e não é uma representação da
"felicidade" das pessoas, nem indica "o melhor lugar no mundo para se viver".
Democracia, participação, equidade, sustentabilidade são outros dos muitos
aspectos do desenvolvimento humano que não são contemplados no IDH. O IDH
tem o grande mérito de sintetizar a compreensão do tema e ampliar e fomentar
o debate.
Desde 2010, quando o Relatório de Desenvolvimento Humano completou 20 anos,
novas metodologias foram incorporadas para o cálculo do IDH. Atualmente, os
três pilares que constituem o IDH (saúde, educação e renda) são mensurados da
seguinte forma:
• Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida.
• O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de
educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos
durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de
escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total

232
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

de anos de escolaridade que um criança na idade de iniciar a vida escolar pode


esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas
por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança.
• E o padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per
capita expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar,
tendo 2005 como ano de referência.
Publicado pela primeira vez em 1990, o índice é calculado anualmente. Desde
2010, sua série histórica é recalculada devido ao movimento de entrada e saída
de países e às adaptações metodológicas, o que possibilita uma análise de
tendências. Aos poucos, o IDH tornou-se referência mundial. É um índice-chave
dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas e, no Brasil,
tem sido utilizado pelo governo federal e por administrações regionais através
do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M).
O IDH-M é um ajuste metodológico ao IDH Global, e foi publicado em 1998 (a
partir dos dados do Censo de 1970, 1980, 1991) e em 2003 (a partir dos dados do
Censo de 2000). O indicador pode ser consultado nas respectivas edições do Atlas
do Desenvolvimento Humano do Brasil, que compreende um banco de dados
eletrônico com informações socioeconômicas sobre todos os municípios e estados
do país e Distrito Federal. Uma nova versão do Atlas, com dados do Censo 2010,
está sendo produzida pelo PNUD e deve ser lançada no início de 2013.
Indicadores complementares de desenvolvimento humano (IDH – IDHAD,
IPM e IDG)
Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD)
O IDH é uma medida média das conquistas de desenvolvimento humano básico
em um país. Como todas as médias, o IDH mascara a desigualdade na distribuição
do desenvolvimento humano entre a população no nível de país. O IDH 2010
introduziu o IDH Ajustado à Desigualdade (IDHAD), que leva em consideração
a desigualdade em todas as três dimensões do IDH “descontando” o valor médio
de cada dimensão de acordo com seu nível de desigualdade.
Com a introdução do IDHAD, o IDH tradicional pode ser visto como um
índice de desenvolvimento humano “potencial” e o IDHAD como um índice
do desenvolvimento humano “real”. A “perda” no desenvolvimento humano
potencial devido à desigualdade é dada pela diferença entre o IDH e o IDHAD e
pode ser expressa por um percentual.
Índice de Desigualdade de Gênero (IDG)
O Índice de Desigualdade de Gênero (IDG) reflete desigualdades com base
no gênero em três dimensões – saúde reprodutiva, autonomia e atividade
econômica. A saúde reprodutiva é medida pelas taxas de mortalidade materna
e de fertilidade entre as adolescentes; a autonomia é medida pela proporção de
assentos parlamentares ocupados por cada gênero e a obtenção de educação
secundária ou superior por cada gênero; e a atividade econômica é medida pela
taxa de participação no mercado de trabalho para cada gênero.
O IDG substitui os anteriores Índice de Desenvolvimento relacionado ao Gênero
e Índice de Autonomia de Gênero. Ele mostra a perda no desenvolvimento
humano devido à desigualdade entre as conquistas femininas e masculinas nas
três dimensões do IDG.

233
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)


O IDH 2010 introduziu o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), que
identifica privações múltiplas em educação, saúde e padrão de vida nos mesmos
domicílios. As dimensões de educação e saúde se baseiam em dois indicadores
cada, enquanto a dimensão do padrão de vida se baseia em seis indicadores.
Todos os indicadores necessários para elaborar o IPM para um domicílio são
obtidos pela mesma pesquisa domiciliar.
Os indicadores são ponderados e os níveis de privação são computados para
cada domicílio na pesquisa. Um corte de 33,3%, que equivale a um terço dos
indicadores ponderados, é usado para distinguir entre os pobres e os não pobres.
Se o nível de privação domiciliar for 33,3% ou maior, esse domicílio (e todos nele)
é multidimensionalmente pobre. Os domicílios com um nível de privação maior
que ou igual a 20%, mas menor que 33,3%, são vulneráveis ou estão em risco de
se tornarem multidimensionalmente pobres.
O IPM é um indicador complementar de acompanhamento do desenvolvimento
humano e tem como objetivo acompanhar a pobreza que vai além da pobreza de
renda, medida pelo percentual da população que vive abaixo de PPP US$ 1,25
por dia. Ela mostra que a pobreza de renda relata apenas uma parte da história.
FONTE: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DEENVOLVIMENTO – PNUD. O que é IDH.
2015. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/IDH/IDH.aspx?indiceAccordion=0&li=li_IDH>. Acesso
em: 29 mar. 2015.

O IDH – Índice de Desenvolvimento Humano é calculado priorizando


três indicadores sociais, um deles é a saúde, outro a educação e o outro a renda,
sendo que todos possuem o mesmo peso, são analisados sob o mesmo enfoque e
não apenas a falta de condições financeiras e aquisição de bens de consumo.

Milena (2012) descreve como o IDH é calculado enfatizando que:

O IDH é a média de três indicadores escolhidos para mensurar:


1- Vida saudável, por meio de um indicador de saúde.
2- Acesso ao conhecimento, por meio de um ou mais indicadores de
educação.
3- Situação material, por meio de um indicador de renda.
Os três indicadores têm o mesmo peso para o índice final, ou seja, cada
parte é calculada numa escala que vai de 0 a 1, e o resultado final é a
média, após a soma e a divisão por três.

Para compreender melhor, a seguir demonstramos estes três indicadores,


categorias de análise para o cálculo do índice do desenvolvimento humano, sendo
que dependendo da condição de vida, o índice do país, da região, do município
pode ser baixo, médio, alto ou muito alto.

234
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

FIGURA 44 - COMPREENDENDO O CÁLCULO O IDH

FONTE: Disponível em: <https://www.google.com.br/search?q=CALCULANDO+O+IDH&biw>.


Acesso em: 13 mar. 2015.

Interessante ressaltar que, no Brasil foi criado o Índice de Desenvolvimento


Humano Municipal (IDHM), que é uma medida composta de indicadores de
três dimensões do desenvolvimento humano: longevidade, educação e renda,
para analisar o desenvolvimento das cidades brasileiras, nesse sentido o IDHM
brasileiro segue as mesmas três dimensões do IDH em nível mundial. 

Se desejarmos conhecer os dados de cada município no Brasil, o Programa


das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2015), dispõe no seu site o
Atlas Brasil 2013 que é um site de consulta ao IDHM onde consta de 200 indicadores
de desenvolvimento humano dos municípios e estados brasileiros. Os indicadores
são de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade,
com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Segundo dados do Almanaque Abril (2015, web), “Apenas cinco capitais


figuram entre os 20 municípios de IDHM mais elevado do país: Florianópolis,
Vitória, Curitiba, Brasília e Belo Horizonte. O município com maior IDHM do país
é São Caetano do Sul, em São Paulo (0,862) e o pior é Melgaço, no Pará (0,418)”.
235
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Para acessar os dados e os números do desenvolvimento humano em seu


município nos últimos 20 anos basta acessar o site: <http://www.atlasbrasil.org.
br/2013/>.

Segundo Milena (2012)


O Brasil faz parte de um grupo relativamente pequeno de países que
melhoraram seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2011,
segundo o relatório anual divulgado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (Pnud). Entre 187 nações avaliadas, 151
mantiveram ou perderam posição no ano, e o Brasil está entre as 36
nações restantes com um desempenho aceitável.
Iniciado em 1990, esse indicador mostra uma série favorável de
evolução média do Brasil em renda, educação e saúde. O país está no
grupo de nações que possuem alto desenvolvimento humano, porém,
ainda se encontra na 84ª posição, muito longe do grupo de 47 países
com o indicador muito alto. O IDH mede a qualidade de vida de um
grupo – cidade, estado, região ou país –, traduzindo em números o nível
de bem-estar de uma população. Ele funciona como uma régua, em que
o valor mínimo é zero e o máximo, 1. Lidera o ranking de 2011, com o
melhor IDH mundial, a Noruega (0,943), seguida pela Austrália (0,929).
Na pior situação encontram-se a República Democrática do Congo
(0,286) e Níger (0,295), ambas nações da região mais pobre do planeta,
a África Subsaariana.

Interessante ressaltar, conforme o relatório anual do Pnud, que o Brasil está


no grupo de nações que possuem alto desenvolvimento humano, porém, ainda se
encontra na 84ª posição, muito longe do grupo de 47 países com o indicador muito
alto de desenvolvimento humano. Frente a todo processo de desigualdade social
e má distribuição de renda no país, acoplada à corrupção no Estado brasileiro, na
teoria diga-se que o país possui Alto IDH, porém na prática e na realidade social,
e em muitos casos, situações e regiões, a de se convencer e afirmar que este índice
não condiz com a realidade de todas as regiões do Brasil, inclusive não tem como
generalizar dados do país frente à dimensão que se tem.
Em 2013, foi divulgada a última pesquisa, com dados de 2010. O IDHM
do Brasil ficou em 0,727, considerado Alto Desenvolvimento Humano.
Nas últimas décadas, o Brasil evoluiu de 0,493, em 1991, para 0,612,
em 2000, até atingir o valor atual. Dessa forma, o país apresenta uma
evolução de 0,119 pontos nessa escala entre 1991 e 2000, e de 0,115 entre
2000 e 2010. Em termos percentuais, seu desempenho foi 24,4% maior
entre 1991 e 2000, e cresceu 18,8% entre 2000 e 2010, correspondendo a
um aumento total de 47,5% no período (ALMANAQUE ABRIL, 2015).

Mesmo que o país tenha avançado nas últimas décadas, sendo considerado
“Alto Desenvolvimento Humano”, no entanto, verificamos que as desigualdades
sociais no Brasil persistem, e que este índice parece não condizer com a realidade
social atual, no que diz respeito ao acirramento das expressões sociais no país.

Sendo que ainda, os dados de IDH dos municípios da região centro-sul do


país divergem e muito dos municípios das regiões do Norte e Nordeste brasileiro,
essa dicotomia e disparidade social brasileira entre sul e norte é antiga, real, visível
e persiste.

236
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

Cabe ressaltar também que no Brasil, o IBGE – Instituto Brasileiro


de Geografia e Estatística constitui um dos principais provedores de dados e
informações do país e vem oferecendo um panorama completo e atual de todos os
dados brasileiros, principalmente de indicadores sociais, tais como: de mercado
de trabalho, de saúde, mobilidade social, mortalidade infantil, educação, trabalho,
indicadores culturais, indicadores sociais mínimos (dados gerais da população,
sexo, cor, idade, emprego e desemprego, renda, pobreza, condições de vida, dentre
outros aspectos).

Assim, nesse sentido, especificamos alguns dos índices mais usados no


Brasil e no mundo, parâmetros utilizados para se saber os graus de desigualdade
em um país. Como por exemplo, analisamos alguns dos sistemas de indicadores
ou índices de mensuração, tais como:

• Índice de Gini
• Índice do Produto Interno Bruto (PIB)
• Renda Per capita
• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
• Índice da Pobreza Humana (IPH)
• Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), bem como os indicadores
complementares de desenvolvimento humano (IDH – IDHAD, IPM e IDG):
o Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD)
o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)
o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG).

UNI

Para compreender melhor o assunto apresentado assista ao vídeo que


apresenta de forma detalhada o conceito IDH e IDHM, ele está disponível no site do Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil:
<http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil é um site que traz o Índice de Desenvolvimento


Humano Municipal (IDHM) e outros 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho,
habitação e vulnerabilidade dos municípios brasileiros.

É uma plataforma de consulta ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de


5.565 municípios brasileiros, 27 Unidades da Federação (UF), 20 Regiões Metropolitanas (RM) e
suas respectivas Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH). O Atlas traz, além do IDHM,
mais de 200 indicadores de demografia, educação, renda, trabalho, habitação e vulnerabilidade,
com dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

237
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

LEITURA COMPLEMENTAR

INCLUSÃO NO CADASTRO ÚNICO

Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS

O que é o Cadastro Único para Programas Sociais?

O Cadastro Único para Programas Sociais é um instrumento de identificação


e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, entendidas
como aquelas com renda igual ou inferior a meio salário mínimo por pessoa (per
capita) ou renda familiar mensal de até três salários mínimos. Suas informações
podem ser utilizadas pelos governos federal, estaduais e municipais para obter
diagnóstico socioeconômico das famílias cadastradas, para desta forma, possibilitar
a análise das suas principais necessidades.

Qual é a importância do cadastramento?

O cadastramento das famílias no CADÚNICO permite identificar seu grau


de vulnerabilidade. São consideradas questões como renda, condição de moradia,
de acesso ao trabalho, à saúde e à educação.

Com isso pode-se ter uma visão mais aprofundada de alguns dos principais
fatores que caracterizam a pobreza, o que permite delinear políticas públicas de
proteção social voltadas para essa população.

Quem pode ser incluído no Cadastro Único?

Devem ser incluídas no Cadastro Único as famílias de baixa renda que são
aquelas com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo e as
que possuam renda familiar mensal de até três salários mínimos.

Além disso, famílias com renda superior a três salários mínimos poderão
ser incluídas no Cadastro Único, desde que sua inclusão esteja vinculada à seleção
ou ao acompanhamento de programas sociais implementados por quaisquer dos
três entes da Federação.

Sendo assim, as famílias com renda mensal total superior a três salários
mínimos só devem ser cadastradas por demanda para programas específicos, como
os programas de habitação e saneamento que utilizem os registros do Cadastro
Único para a seleção das famílias.

No cálculo da renda familiar, são considerados os rendimentos do trabalho,


de aposentadoria, pensão, seguro-desemprego e do BPC. Não são considerados os
benefícios de programas de transferência de renda federal, estadual e municipal.

O cadastramento não significa a inclusão no Programa Bolsa Família. O


Programa Bolsa Família somente é concedido para as famílias com renda familiar
por pessoa de até R$ 140,00 e a concessão, além de outros fatores, depende de
238
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

previsão financeira e orçamentária. Enquanto não ocorre a concessão do benefício,


as famílias devem manter seus cadastros sempre atualizados.

O que é a Renda Familiar Mensal?

Renda familiar mensal é a soma dos rendimentos brutos de todos os


membros da família.

Entretanto, não devem ser incluídos no cálculo os rendimentos seguintes


programas:

a) Programa de Erradicação do Trabalho Infantil;


b) Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano;
c) Programa Bolsa Família e os programas remanescentes nele unificados;
d) Programa Nacional de Inclusão do Jovem – Pró-Jovem;
e) Auxílio Emergencial Financeiro e outros programas de transferência de renda
destinados à população atingida por desastres, residente em Municípios em
estado de calamidade pública ou situação de emergência; e
f) Demais programas de transferência condicionada de renda implementados por
Estados, Distrito Federal ou Municípios;

Onde fazer o Cadastro?

O cadastramento é feito pelo setor responsável pelo Programa Bolsa


Família no município. A inclusão de famílias no Cadastro Único é uma atividade
permanente e de responsabilidade do gestor do Programa Bolsa Família.

Quais são os documentos obrigatórios para o cadastramento?

 Para o Responsável Familiar: CPF ou título de eleitor;


 Para os demais membros da família: qualquer documento de identificação,
como a carteira de identidade, CPF, título de eleitor, certidão de casamento ou
nascimento, carteira de trabalho.

Não é necessário fazer mais de um cadastro, porque o sistema identificará


a duplicidade e isso pode prejudicar a família. Se o cadastro foi feito há muito
tempo e a família ainda não foi beneficiada pelo Programa Bolsa Família, deve-
se procurar o setor responsável pelo PBF no município para atualizar os dados
sempre que houver qualquer alteração na família, como renda familiar, entrada
ou saída de pessoas na família, mudança de endereço, mudança de município e
mudança de escola.

Mesmo não havendo alteração na família, é necessário atualizar os dados


cadastrais a cada 2 anos.

O cadastramento de cada família estará vinculado a um Responsável


Familiar – RF, maior de dezesseis anos, preferencialmente mulher. O RF será o
responsável pelo recebimento do benefício e cumprimento das condicionalidades
de todos os membros da família.
239
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Quais são os documentos necessários para o cadastramento de Povos


Indígenas e Comunidades Quilombolas?

O Responsável pela Unidade Familiar (RF) de famílias indígenas e famílias


quilombolas pode ser cadastrado segundo os critérios definidos pelo MDS, sem a
exigência de CPF ou Título de Eleitor. Nesses casos, o RF poderá ser cadastrado com
a apresentação de qualquer documento de identificação (Certidão de Nascimento,
Certidão de Casamento, Registro Geral de Identificação – RG, e/ou Carteira de
Trabalho e Previdência Social).

No caso de povos indígenas, será aceita a Certidão Administrativa de


Nascimento do Indígena (RANI), caso a pessoa não possua qualquer um dos
documentos de identificação indicados.

Como localizar o Gestor Municipal do Programa Bolsa Família pela


internet?

É possível localizar o Gestor do programa no município por meio do portal


do MDS/Bolsa Família, pelo link: <www.mds.gov.br/sistemagestaobolsafamilia>.
Na página inicial, é necessário clicar em Estados e Municípios e em seguida em
Municípios > Informações dos Municípios. Em seguida basta selecionar a UF,
digitar o nome do município e clicar em pesquisar.

Como é a agenda de cadastramento nos municípios?

As agendas de cadastramentos municipais podem ser vinculadas às


necessidades e possibilidades administrativas e burocráticas dos municípios. Para
cada município existe um tipo de cadastramento. Alguns trabalham com uma
agenda cadastral, outros divulgam em rádios, e até municípios de menor porte
que optam por cadastro diário. Essa será uma ação que o Gestor do Programa no
município buscará para administrar da melhor maneira o cadastramento.

Se a família já fez o cadastro significa que receberá imediatamente o


benefício do Programa Bolsa Família?

Não. O cadastramento não significa a inclusão imediata no Programa Bolsa


Família.

Qual é o prazo para receber o benefício?

Não há prazo fixado para concessão do benefício do Bolsa Família para as


famílias cadastradas. Para começar a receber o benefício, a família precisa aguardar
que o sistema analise as informações do Cadastro Único para verificar se tem perfil
do programa e se o município não atingiu ainda sua meta, ou seja, se ainda há
espaço para outras famílias pobres serem beneficiadas.

A ordem de concessão de benefício é a de renda, identificada pelos dados


inseridos no sistema pelo setor responsável no município. Não é por ordem de
240
TÓPICO 3 | A DESIGUALDADE SOCIAL E CONCEPÇÕES DOS SISTEMAS DE INDICADORES

cadastramento. É possível haver famílias que fizeram cadastro juntas e uma receber
primeiro. Isso ocorre porque o sistema identifica aquelas com menor renda para
fazer a concessão primeiro.

É possível realizar o cadastramento de estrangeiros?

Sim, contudo somente é possível o cadastramento de estrangeiro que


estejam legalmente no Brasil e tenham ao menos um documento previsto nos
formulários do Cadastro Único (certidão de nascimento/casamento, RG, CPF,
Título de Eleitor, Carteira de Trabalho).

O que ocorrerá em caso de prestação de informações falsas no


cadastramento?

A comprovação de fraude ou prestação de informações incorretas no


processo de cadastramento pela pessoa informante acarreta o cancelamento
do benefício e também a obrigação da devolução da importância recebida
indevidamente, além de outras sanções previstas.

Caso seja comprovada a participação da autoridade responsável pela


organização e manutenção do cadastro na inserção de dados ou informações
diversas das que deveriam ser inscritas, a fim de alterar a verdade sobre o fato ou
contribuir para a concessão do benefício, este também será responsabilizado.

Em quais situações haverá a exclusão do cadastro da família?

O governo local efetuará a exclusão do cadastro da família da base local do


Cadastro Único apenas e tão somente quando ocorrer:

I) falecimento de toda a família;


II) recusa de família em prestar informações; ou
III) comprovação de omissão de informações ou prestação de informações falsas
pela família e que caracteriza má fé.

Nos casos em que passado o período de dois anos, caso os cadastros não
tenham sido atualizados ou revalidados, o governo local poderá excluí-los se,
no decorrer dos dois anos subsequentes a família não tiver sido encontrada para
atualização ou revalidação do seu cadastro.

Nos casos relacionados aos itens II e III, a exclusão deverá ser realizada após
a emissão de parecer social, elaborado e assinado por assistente social do governo
local que ateste a ocorrência do motivo da exclusão. O documento elaborado, ou a
cópia, será anexado ao formulário de cadastramento da família e arquivado.

Do que se trata a carta recebida pelas famílias contendo informações


relativas à composição familiar no Cadastro Único?

O envio das cartas é uma iniciativa da Secretaria Nacional de Renda


de Cidadania cujo objetivo é informar às famílias sobre sua efetiva inclusão no
241
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, bem como orientá-
las sobre a necessidade de atualização cadastral a cada dois anos ou sempre que
houver alteração nos dados cadastrais.

As cartas contêm a relação de todas as pessoas da família que foram


cadastradas e informam os NIS – Número de Identificação Social de cada uma
delas. É importante que a família guarde bem esta carta, pois ela serve como
comprovante de que a família foi incluída no Cadastro Único.

Por ter recebido esta carta significa que eu vou receber meu benefício?

Não. O fato de se ter recebido a carta apenas indica que a família foi incluída
no Cadastro Único, e esse cadastramento não significa a inclusão automática da
família no Programa Bolsa Família. Para começar a receber o benefício, a família
precisa estar dentro dos critérios do Programa, aguardar que o sistema analise
as informações do Cadastro Único e que haja disponibilidade no número de
benefícios para o município.

A ordem de concessão de benefício à família é a de renda, identificada pelos


dados inseridos no sistema pelo Setor Responsável, e não a ordem cronológica. É
possível existirem famílias que fizeram cadastro juntas e uma receber antes da
outra. Isto ocorre porque o sistema identifica aquelas com menor renda para fazer
a concessão primeiro. Não se deve fazer mais de um cadastro, porque o sistema
identificará a duplicidade, o que prejudicará a família.

Orientamos que o(a) senhor(a) entre em contato com o setor responsável


pelo Programa Bolsa Família no município em que reside, para obter mais
informações.

FONTE: MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME (MDS). Inclusão no


Cadastro Único. 2015. Disponível em: <www.mds.gov.br>. Acesso em: 28 mar. 2015.

242
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste terceiro tópico, apresentamos algumas reflexões da desigualdade


social na contemporaneidade, bem como, os parâmetros utilizados para se
saber os graus de desigualdade social em um país ou em regiões, assim foram
abordados os seguintes aspectos:

• Verificamos a distinção entre os termos: “desigualdade” e “diferença”,


abrangendo também a questão da diversidade cultural.

• Constatamos que desigualdade social é um fenômeno mundial desencadeado


pela má distribuição de renda na sociedade em suas devidas proporções e
dimensões, promovendo diversas privações de liberdade, autonomia, respeito,
valorização, bem-estar, saúde, qualidade de vida, bem como exclusões sociais
diversas.

• Verificamos e conhecemos alguns tipos e significados dos sistemas de indicadores


utilizados para mensurar o desenvolvimento humano.

• Especificamos alguns dos índices mais usados no Brasil e no mundo: o IBGE, o


Índice de Gini, o Índice do Produto Interno Bruto (PIB), o da Renda Per capita,
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Índice da Pobreza Humana
(IPH), o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM).

• Apresentamos também os Indicadores complementares de desenvolvimento


humano (IDH – IDHAD, IPM e IDG): Índice de Desenvolvimento Humano
Ajustado à Desigualdade (IDHAD), Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)
e o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG).

243
AUTOATIVIDADE

1 Refletindo sobre a desigualdade social na contemporaneidade, bem como, os


parâmetros utilizados para se mensurar fatores decorrentes da desigualdade
social, associe os indicadores a seguir, utilizando os seguintes códigos:

I - Índice do Produto Interno Bruto (PIB).


II - Índice da Pobreza Humana (IPH).
III - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
IV - Índice da Renda Per capita.
V - Índice de Gini.

( ) Este índice fornece uma imagem da carência em termos de longevidade,


educação e de fatores econômicos, servindo como indicador da taxa de pobreza
e desigualdade existentes em determinada local.

( ) Este índice procura mensurar a desigualdade de renda, mas não a


desigualdade de oportunidades.

( ) Este índice foi criado para oferecer um contraponto a outro indicador


muito utilizado que é o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera
apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.

( ) Este índice é utilizado para se obter a soma em valores monetários de todos


os produtos, bens e serviços finais produzidos por uma região, que pode ser
um país, um estado, uma cidade, um distrito, ou um município.

( ) Índice por pessoa, é um indicador que auxilia para saber o grau de


desenvolvimento de uma determinada região, onde é extraído o resultado da
soma de todos os salários da população e dividido pelo número de habitantes,
quando, do resultado se obtém o produto nacional bruto.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) II – V – III – I – IV.
b) ( ) IV – V – II – I – III.
c) ( ) V – II – I – IV – III.
d) ( ) I – III – V – II – IV.
e) ( ) III – I – IV – V – II.

244
2 Faça uma pesquisa sobre o IDH da sua região (Centro-Oeste, Nordeste,
Norte, Sudeste ou Sul) e sobre o IDHM do seu município, procure acessar
os dados e os números do desenvolvimento humano, acessando o site:
<http://www.atlasbrasil.org.br/2013/>. Anote todos os aspectos relevantes e
discuta em sala de aula com os demais colegas, averiguando se esses dados
realmente estão condizentes com a realidade visível de sua região, bem como
comparando com as expressões sociais visíveis em seu município.

245
246
UNIDADE 3
TÓPICO 4

RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS


VULNERABILIDADES E REFORÇO À RESILIÊNCIA HUMANA

1 INTRODUÇÃO
Nesse tópico refletiremos sobre a reconstrução de uma sociedade
emancipada no sentido de discutir a redução das vulnerabilidades e o reforço a
resiliência, tema de destaque no último relatório de 2014, do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

Serão abordados os objetivos do desenvolvimento social do milênio, bem


como algumas considerações sobre o desenvolvimento da condição e existência
humana, principalmente sobre o tema da segurança humana na contemporaneidade.

Iremos compreender e esclarecer o significado do termo resiliência e


a importância de compreendermos essa capacidade humana, tão necessária
na atualidade frente a tantos entraves, problemas, injustiças, discriminações e
expressões sociais.

2 OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DO MILÊNIO


PARA REDUÇÃO DAS VULNERABILIDADES
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 17), “A abordagem
do desenvolvimento humano é incompleta se não incluir a vulnerabilidade e a
resiliência na análise. O progresso sustentado no desenvolvimento humano
implica alargar as escolhas das pessoas e manter essas escolhas seguras”.

O tema da segurança humana está sendo na atualidade uma questão


social complexa, devido à fragilidade em que todos se encontram, não somente
pela falta de segurança e acirramento da violência em todos os sentidos, mas
nas impossibilidades de escolhas e na manutenção de opções tomadas que não
possuem garantia nesta sociedade pós-moderna.

Transformações rápidas e repentinas em todas as áreas, avanços


desenfreados no capitalismo vêm moldando uma nova sociedade considerada

247
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

como pós-moderna, assim surge a chamada pós-modernidade, compreendida


como uma nova condição sociocultural e estética do capitalismo contemporâneo
que na realidade fragmenta os saberes, as identidades, as culturas, os valores, o
sujeito.

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO – Modernidade e Pós-modernidade


Palestra do Prof. José Paulo Netto

Vídeo da palestra, realizada em início dos anos 2000, que lança algumas hipóteses de trabalho
desenvolvidas pelo Prof. José Paulo Netto sobre o debate contemporâneo entre as correntes
de pensamento modernas e pós-modernas.
Evento organizado pelo Núcleo de Estudos em Sociologia do Trabalho – NEST da UERJ.
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fHrZi1F7jd4>.

O filósofo francês Lyotard procurou apresentar e discutir a questão da


modernidade e da emancipação do sujeito, focando a “condição pós-moderna”
como uma necessidade de superação humana, sobretudo superação de uma crença
absoluta na ciência, no progresso, na industrialização, na razão como formas
de emancipação humana. O que ele percebeu e também presenciamos é que na
verdade essa nova condição humana capitalista é responsável pela continuação da
subjugação do indivíduo, de deteriorização do sujeito, de descaso de sua condição
e desenvolvimento humano.

Conforme o pensar de Lyotard (2002), a emancipação do ser humano,


enquanto sujeito de sua própria história, deve ser alcançada através da valorização
do seu ser, do intuitivo, do sentimento, do pensar e sentir, da arte, da cultura,
daquilo que o homem possui de mais criativo e, portanto, de mais livre, que é a sua
capacidade de pensar, escolher, optar, se responsabilizar, dar destino a si mesmo.

Em seu livro A Condição Pós-Moderna (1979), ele enfatizou a "condição pós-


moderna" especificada pelo fim das metanarrativas, ou seja, pelo fim de grandes
referenciais que serviam de segurança para todos, sendo assim não havendo mais
garantias e certezas, posto que mesmo a ciência já não poderia ser considerada
como a fonte da verdade e de emancipação humana.

Assim se constatam inúmeras características da pós-modernidade, sendo


algumas delas, a fragmentação de centros de referência, a multiplicação de
referenciais que davam certeza à complexidade das relações sociais dos sujeitos,
bem como a desproteção e o desamparo do ser humano enquanto ser de linguagem,
consciência e sentimento.

Nesse sentido, Lyotard fala das metanarrativas, ou grandes referenciais,


que expressam os valores que caracterizam a modernidade, os quais são:

248
TÓPICO 4 | RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABI-
LIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA HUMANA

a emancipação da razão e liberdade, o enriquecimento da humanidade,


o progresso da sociedade capitalista e tecnocientífica, o estado
burocrático moderno ou os grandes nomes da revolução comunista [...].
Segundo o autor, apesar da afirmação de legitimidade e de totalidade
das metanarrativas da modernidade, a ciência e a tecnologia não
concretizam as suas propostas (metanarrativas) de universalidade do
bem-comum. Ao contrário, aceleram o processo de pulverização e de
destruição. (WESTPHAL, 2006, p. 122-123).

Acreditava-se que as metanarrativas da modernidade, na qual a ciência


e a tecnologia se fortaleceram, iriam concretizar as propostas de inclusão e
universalidade do bem comum, porém justamente ocorreu o contrário.

Será que a quebra das tradições, costumes e valores não evidenciam


consequentemente dessa forma uma falta de sentido da vida bem como,
de significados simbólicos? O que está acontecendo com os quadros de
referência, grandes sagas de legitimação, especialmente as da religião
e da política, que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no
mundo social? Que perspectiva idealista de libertação e de autonomia
está se formando na consciência dos indivíduos? Que fenômenos estão
vinculados à transformação da condição do sujeito nas “democracias de
mercado” e nas novas formas de alienação e desigualdade sociocultural?
Será que a humanidade não está amparada por um vazio existencial,
vinculados às paixões momentâneas e diversas, a crenças cegas à
ciência, às tecnologias, às religiões, ao exagero ao consumo, ao prazer
sem reservas, à liberdade sem limites? (MONTIBELLER, 2011, p.71).

Muitos questionamentos são realizados, porém muitos não terão respostas


evidentes e concretas, pois o capitalismo cria ilusões e não referências de base e
segurança, delimita uma condição humana paupérrima e degradante onde a ética,
a justiça e a liberdade se configuram apenas na perspectiva do pensamento e muito
pouco na prática.

Para aqueles/as teóricos/as que acreditam que as identidades modernas


estão entrando em colapso, o argumento se desenvolve da seguinte
forma. Um tipo diferente de mudança estrutural está transformando
as sociedades modernas no final do século XX. Isso está fragmentando
as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça
e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas
localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão
também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que
temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um
“sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento
ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento – descentração
dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto
de si mesmos – constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo.
(HALL,1999, p. 9).

No sentido de priorizar o desenvolvimento humano, desde o ano 2000,


algumas nações começaram a se mobilizar em função do futuro da humanidade,
no combate à pobreza, redução da desigualdade social, melhoria da qualidade
de vida no planeta. “Trata-se de um compromisso universal com a erradicação
da pobreza e com a sustentabilidade do Planeta, traduzido em oito metas – os 8
Objetivos do Milênio (ODM), que no Brasil são chamadas também de 8 Jeitos de

249
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Mudar o Mundo – a serem alcançadas pelas nações até o ano de 2015”. (INSTITUTO
GRPCOM, 2015).

Sobre a Declaração do Milênio, em setembro de 2000, 189 nações firmaram


um compromisso para combater a extrema pobreza e outros males da
sociedade. Esta promessa acabou se concretizando nos 8 Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio (ODM) que deverão ser alcançados até
2015. Em setembro de 2010, o mundo renovou o compromisso para
acelerar o progresso em direção ao cumprimento desses objetivos
(PNUD, 2015b).

FIGURA 45 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO

FONTE: PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO – PNUD. Os Objetivos


de Desenvolvimento do Milênio: 8 Objetivos para 2015. 2015b. Disponível em: <http://www.
pnud.org.br/ODM.aspx>. Acesso em: 30 mar. 2015.

Nesse sentido, os 8 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)


possuem como metas:

• reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população com renda abaixo da
linha da pobreza; e reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população
que sofre de fome;
• garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, de todas as regiões
do País, independentemente da cor, raça e sexo, terminem o ensino fundamental;
• eliminar a disparidade entre os sexos no ensino fundamental e médio;
• reduzir em dois terços, até 2015, a mortalidade materna de crianças menores de
5 anos;

250
TÓPICO 4 | RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABI-
LIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA HUMANA

• reduzir em três quartos, até 2015, a taxa de mortalidade materna;


• até 2015, deter e começar a reverter a propagação do HIV/AIDS; até 2015, deter
e começar a reverter a propagação da malária e outras doenças;
• integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas
nacionais e reverter a perda de recursos ambientais até 2015; reduzir à metade,
até 2015, a proporção da população sem acesso sustentável à água potável
segura; até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas de pelo
menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados;
• em cooperação com os países em desenvolvimento, formular e executar
estratégias que permitam trabalho digno e produtivo aos jovens; em cooperação
com o setor privado, tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias,
especialmente nos setores de informação e comunicação (INSTITUTO
GRPCOM, 2015).

O Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações


Unidas para o Desenvolvimento – PNUD defende que, para a concretização do
desenvolvimento humano é necessário abordar a questão da segurança humana
em seu sentido mais amplo, onde não se reproduzam as fragmentações culturais,
de classe, gênero, etnia, nacionalidade, entre outras diversas.

Assim, a prioridade é reforçar e proteger as escolhas e as capacidades


individuais, considerando que as competências sociais são essenciais para o
desenvolvimento humano, bem como as estratégias e as políticas de desenvolvimento
devem visar à redução da vulnerabilidade e o reforço da resiliência.

Os grandes problemas, que se encontram na origem da vulnerabilidade


de pessoas e comunidades, podem ser paliados por políticas e medidas
conexas em três grandes áreas: prevenção, promoção e proteção. O
interesse reside, neste caso, em políticas úteis nas três vertentes e
que permitam aumentar a resiliência de indivíduos e sociedades.
(RELATÓRIO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2014, p. 26).

Acredita-se realmente que políticas de prevenção, promoção e proteção,


poderão diminuir as vulnerabilidades na sociedade, visando garantir os direitos
das pessoas e a qualidade de vida, centrando-se no desenvolvimento da condição
e existência humana em plenitude.

251
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

3 DESENVOLVIMENTO DA CONDIÇÃO E EXISTÊNCIA


HUMANA PARA REFORÇAR A RESILIÊNCIA HUMANA
Como reforçar a resiliência humana? Ou melhor, o que é resiliência?

[...] entende-se por resiliência humana a capacidade de resposta


ou adaptação das pessoas. A maioria das pessoas é resiliente até
certo ponto, podendo, por exemplo, adaptar-se a choques de menor
dimensão. Contudo, a capacidade de adaptação a choques maiores
ou persistentes sem pesados sacrifícios e perda de desenvolvimento
humano varia de acordo com as suas circunstâncias. O ajustamento
necessário depende da natureza do choque e das condições de vida das
pessoas afetadas. Os indivíduos que estão em melhores circunstâncias
e têm mais facilidade de adaptação são mais resilientes. (RELATÓRIO
DO DESENVOLVIMENTO HUMANO, 2014, p. 16).

“A resiliência humana significa que as pessoas podem exercer as suas


escolhas segura e livremente, incluindo a confiança de que as oportunidades
que têm hoje não serão perdidas amanhã”, conforme está descrito no Relatório
do Desenvolvimento Humano 2014, do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento – PNUD (2014, p. 17).

A resiliência representa uma capacidade do ser humano, no sentido de


recuperar-se mesmo num ambiente desfavorável, construir-se positivamente,
utilizando as forças que lhe advêm do enfrentamento dos problemas, das
adversidades, das crises, do estresse, dos problemas que vivencia.

Segundo Fajardo, Minayo e Moreira (2010, p. 764)

O conceito de resiliência é mais rico e completo do que apenas o


sentido que lhe é dado de capacidade de superar-se. Ele comporta duas
dimensões: 1) a resistência à destruição, a capacidade de proteger sua
integridade sob fortes pressões; 2) e também a capacidade de construir,
de recriar uma vida digna a despeito das circunstâncias adversas e
mesmo, por causa delas.

Agora, analisando o termo mais afinco, como a resiliência é expressa,


quando sabemos que uma pessoa tem ou não a resiliência?

Em âmbitos gerais a manifestação da resiliência se caracteriza em algumas


situações ou condições de vulnerabilidade ou risco social onde a pessoa, família ou
grupo, desenvolve habilidades para o enfrentamento das mesmas sendo capaz de
dar continuidade a sua vida.

Poletti e Dobbs (2007) descrevem três aspectos de manifestação da


resiliência: (1) em situações onde exista um grande risco provocado por
acumulação de fatores de estresse e de tensão; (2) quando a pessoa é
capaz de conservar aptidões em face do perigo e seguir crescendo e se
desenvolvendo; (3) quando há cura de um ou vários traumas seguidos
de sucessos na vida. (apud FAJARDO; MINAYO; MOREIRA, 2010, p.
764).

252
TÓPICO 4 | RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABI-
LIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA HUMANA

Situações adversas sempre existiram e sempre existirão, seja a nível macro


ou micro, no mundo na sociedade, da comunidade, na família, com a pessoa, como
a economia, política, meio ambiente etc. Conforme o Relatório do Desenvolvimento
Humano 2014, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD
(2014, p. 53):
O mundo sempre esteve sujeito à incerteza e imprevisibilidade.
Contudo, a crescente frequência e gravidade dos choques econômicos
e ambientais ameaçam o desenvolvimento humano, o que torna
fundamental a adoção de políticas nacionais e internacionais ousadas
destinadas a reduzir a vulnerabilidade dos indivíduos, comunidades e
países e a aumentar a sua resiliência.

Frente às adversidades, a maior preocupação ou o maior desafio seja o de


diminuir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência na humanidade, no sentido
de lutar e enfrentar ou até mesmo ultrapassar os limites impostos.

Tendo por base ideias que regem o desenvolvimento humano e a


promoção da igualdade de oportunidades de vida, propomos quatro
princípios orientadores para a concepção e execução de políticas
que reduzam as vulnerabilidades e reforcem a resiliência: abraçar a
universalidade, colocar as pessoas em primeiro lugar, o empenho na
ação coletiva e a coordenação dos Estados e instituições sociais. Tendo
em conta a necessidade de uma variedade de abordagens e perspectivas
para a redução da vulnerabilidade, consoante o tipo de acontecimentos
adversos que as pessoas enfrentam, estes princípios podem tornar
o desenvolvimento mais sustentável e resiliente. (RELATÓRIO DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014, p. 27).

Os princípios que devem ser prioridades, conforme o Relatório do


Desenvolvimento Humano 2014, condizem em abraçar a universalidade, colocar
as pessoas em primeiro lugar, efetivar uma ação coletiva e viabilizar a coordenação
dos Estados e instituições sociais, para que se possa promover a igualdade de
oportunidade de vida para o ser humano.

Muitos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio são suscetíveis


de ser alcançados a nível nacional até 2015, mas o sucesso não é
automático e os ganhos não são necessariamente permanentes. Ir mais
longe no caminho do desenvolvimento implica proteger as conquistas
feitas contra a vulnerabilidade e contra os choques, reforçando a
resiliência e aprofundando o progresso. Identificar e orientar os grupos
vulneráveis, reduzir a desigualdade e dar resposta à vulnerabilidade
estrutural são ações essenciais para sustentar o desenvolvimento ao
longo da vida do indivíduo e ao longo de gerações. (RELATÓRIO DO
DESENVOLVIMENTO HUMANO 2014, p. 134).

Sabemos que alcançar os objetivos e metas, priorizar princípios para o


desenvolvimento humano no planeta e em nosso país é possível, porém não irá
ocorrer ao acaso e de forma repentina.

253
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Como profissionais, temos também como competência, proteger conquistas


já efetivadas e direitos humanos já garantidos, identificar, conhecer e orientar
grupos vulneráveis, reduzir a desigualdade e dar respostas às expressões sociais,
diminuir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência, são ações essenciais, como
está especificado no Relatório, para sustentar o desenvolvimento ao longo da vida
das pessoas e ao longo de gerações.

DICAS

ASSISTA AO VÍDEO: Resiliência – O que é?


Clínica IMEB
Dr. Renato Barra entrevista Eduardo Carmello, especialista no assunto, em evento da N Produções,
para explicar um pouco sobre o que é resiliência.
Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=4tdlLwgYOm0>.

LEITURA COMPLEMENTAR

COLOCAR AS PESSOAS EM PRIMEIRO LUGAR NUM MUNDO


GLOBALIZADO

Relatório do Desenvolvimento Humano 2014

Reforçar as capacidades e proteger as escolhas podem reduzir a


vulnerabilidade às ameaças transnacionais, permitindo que as pessoas reajam
melhor. O mesmo se pode dizer da redução da frequência, gravidade e extensão
dos choques ou da sua prevenção total. Os meios para atingir esses objetivos são
duplos.

Em primeiro lugar, o fornecimento de certos tipos de bens públicos, aqueles


que poderiam ser considerados elementos de um contrato social global é passível
de abrir espaço político nacional e ajudar as pessoas a enfrentar os acontecimentos
adversos. Em segundo lugar, melhorar os sistemas de governação global pode
facilitar a provisão de bens públicos e reduzir a probabilidade e o âmbito dos
choques transnacionais.

Elementos de um contrato social global. As capacidades podem ser


reforçadas e as escolhas protegidas em nível nacional através da prestação
universal de serviços, como a educação, a saúde, a água e eletricidade, bem como
por meio da proteção social universal, que dota os indivíduos de maiores recursos
para resistir aos choques externos.

Esses bens públicos reduzem a pressão que recai sobre os indivíduos que
têm de tomar decisões difíceis: as pessoas não deveriam ter de escolher qual dos
seus filhos deve abandonar os estudos quando perdem o emprego e as propinas

254
TÓPICO 4 | RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE PELA REDUÇÃO DAS VULNERABI-
LIDADES E REFORÇO A RESILIÊNCIA HUMANA

são demasiado elevadas, ou ter de optar por atividades humilhantes e perigosas,


como a prostituição ou a catação de lixo, para conseguir pagar alimentos e abrigo.

As medidas nacionais são aplicadas mais facilmente quando existem


compromissos em nível mundial e se encontra disponível apoio de caráter global.
Por isso, a agenda pós-2015 deve incluir como metas essenciais para a comunidade
mundial a prestação de serviços públicos nacionais universais, plataformas
nacionais de proteção social e pleno emprego.

Estes elementos de um contrato social global podem equilibrar a


maximização dos benefícios da integração mundial e minimizar os custos e
inseguranças.

A existência de compromissos em nível mundial para a consecução destes


objetivos poderá aumentar a margem de manobra política em nível nacional na
definição de abordagens que favoreçam a criação de emprego e a disponibilização
de serviços sociais e regimes de proteção que funcionem melhor nos respetivos
contextos, contudo, são essenciais acordos globais, pois podem instigar a ação e os
compromissos, bem como gerar apoio financeiro e institucional.

As opções políticas têm sido fortemente influenciadas por crenças


arraigadas na eficiência dos mercados e no poder da privatização. Os governos
de todo o mundo privatizaram empresas públicas, reduziram os controlos
sobre o movimento de capitais, desregulamentaram os mercados de trabalho e
introduziram novos regimes de propriedade intelectual.

Foram-se sedimentando ideologias semelhantes relativamente aos


indivíduos. Espera-se das pessoas que exaltem o individualismo, a autossuficiência
e o empreendedorismo; que equiparem a procura do interesse próprio à liberdade
e que associem os governos à ineficiência e à corrupção. Essas crenças são
predominantes, mesmo entre os grupos vulneráveis que mais precisam da proteção
dos bens públicos e do apoio do governo.

Um espaço público mundial que consiga um maior equilíbrio entre


interesses públicos e privados pode aumentar a margem de manobra política
nacional. As opções políticas que retratem a disponibilização pública de proteção
social como um instrumento positivo podem permitir aos Estados a adoção e
aplicação de políticas e programas de proteção dos indivíduos nos respetivos
territórios.

A inação em Estados frágeis pode ter repercussões para a segurança, a


estabilidade e a prosperidade nacional, regional e internacional. Essas opções
podem incentivar os Estados a comprometer-se com uma proteção universal do
trabalho que reduza a probabilidade da exploração laboral ao incentivar à fixação
de mínimos de proteção social tanto para os trabalhadores como para aqueles que
estão afastados do mundo do trabalho, ou porque se encontram desempregados
e procuram emprego, ou porque estão feridos, são deficientes, são idosos ou
grávidas.
255
UNIDADE 3 | REDISCUTINDO AS QUESTÕES SOCIAIS E SUAS EXPRESSÕES
NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM SOCIETÁRIA

Hoje, apenas 20 por cento das pessoas no mundo em idade ativa possuem
uma cobertura adequada da segurança social, sendo que muitas não possuem
qualquer tipo de segurança social. Uma visão mais positiva do domínio público
promoveria a exigência de serviços públicos universais e de uma proteção social
que melhorasse a capacidade de resposta dos indivíduos quando as crises ocorrem.

A necessidade de serviços sociais e de proteção social foi já consagrada


em convenções e acordos internacionais, em particular na Declaração do Milénio.
Os artigos 22, 25 e 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948)
reconhecem o direito à segurança social, o mesmo acontecendo com o artigo 9 do
Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). No Tratado
de Lisboa de 2007, a União Europeia identificou medidas para a coordenação das
políticas de inclusão social e de proteção social.

Em 2009, a iniciativa Piso de Proteção Social reuniu 19 órgãos da ONU,


várias instituições financeiras internacionais e 14 parceiros de desenvolvimento
para promover o objetivo do acesso universal a serviços essenciais, a saber, a saúde,
a educação, a habitação, a água e o saneamento, bem como transferências sociais
destinadas a garantir rendimento e segurança alimentar e nutricional adequada.

O artigo 26 da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) reconhece o


direito de toda criança a beneficiar da segurança social, incluindo seguro social.
A Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) relativa à norma
mínima de segurança social (1952) está entre as primeiras iniciativas a exigir que
os Estados que a ratificaram garantam um leque de benefícios relacionados com a
doença, o desemprego, a velhice, os acidentes, a invalidez e a maternidade.

Mais recentemente, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento


sustentável no Rio de 2012 apelou a que se adotasse um conjunto de metas de
desenvolvimento sustentável. Essas metas produziriam um domínio público mais
estável, colocando a igualdade e a sustentabilidade no centro dos esforços do
desenvolvimento mundial.

Juntamente com a preparação para a agenda pós 2015, a criação de


metas de desenvolvimento sustentável representa uma oportunidade para que
a comunidade internacional e os Estados-Membros promovam o princípio da
universalidade da prestação pública de serviços sociais e do acesso universal aos
cuidados de saúde, à educação, ao pleno emprego e à proteção social, elementos
essenciais de um desenvolvimento humano mais sustentável e resiliente.

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Reduzir as Vulnerabilidades e Reforçar a Resiliência. USA: PNUD, 2014. Disponível em: <http://hdr.
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256
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste quarto e último tópico do caderno, estudamos reconstrução da


sociedade pela redução das vulnerabilidades e reforço a resiliência humana, bem
como os objetivos do desenvolvimento social do milênio, na qual foram abordados
os seguintes itens:

• Sobre o desenvolvimento da condição e existência humana, principalmente


sobre o tema da segurança humana na contemporaneidade.

• Significado do termo resiliência e a importância de compreendermos essa


capacidade humana, tão necessária na atualidade frente a tantos entraves,
problemas, injustiças, discriminações, expressões sociais.

• Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 do Programa das Nações Unidas


para o Desenvolvimento – PNUD.

• Aprofundamento dos objetivos de desenvolvimento do milênio.

• Frente às adversidades, a maior preocupação ou o maior desafio seja o de


diminuir as vulnerabilidades e aumentar a resiliência na humanidade, no
sentido de lutar e enfrentar ou até mesmo ultrapassar os limites.

257
AUTOATIVIDADE

1 Após o estudo e reflexão sobre a reconstrução de uma sociedade emancipada,


com perspectiva de redução das vulnerabilidades e reforço nas resiliências,
procure descrever sobre a abrangência, significado e importância do termo
RESILIÊNCIA, que vem sendo utilizado atualmente pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento – PNUD em seu Relatório 2014.

258
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jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos
financeiros, entre a administração pública e as organizações da sociedade
civil, em regime de mútua cooperação, para a consecução de finalidades de
interesse público; define diretrizes para a política de fomento e de colaboração
com organizações da sociedade civil; institui o termo de colaboração e o termo
de fomento; e altera as Leis nos 8.429, de 2 de junho de 1992, e 9.790, de 23 de
março de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
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ANOTAÇÕES

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