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ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR
Resumo
Introdução
ISSN 2176-1396
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Durante muito tempo, as ciências naturais, como também as ciências humanas, e nela
a história, concentrou suas atenções no espaço racional do lugar público, e o espaço privado
não era considerado relevante para explicar o os fatos históricos. Nesse contexto a mulher
mesmo presente na história torna-se invisível, já que o fazer histórico retrata o mundo
público, espaço ocupado predominantemente por homens. No século XIX, quando a
disciplina histórica se torna científica, a narrativa estava centrada na esfera pública,
contemplando as ações políticas das figuras masculinas. Nesse sentido, uma análise mais
apurada acerca das mulheres era inviável, pois as atuações das mulheres nos espaços públicos
eram esparsas e limitadas.
Em meados do século XX, Os Estudos Culturais chegam para romper com a barreira
da hierarquização das culturas, considerando nos meios acadêmicos a importância tanto da
cultura erudita, quanto da cultura popular, ao voltar seus interesses às questões teóricas e
políticas das culturas populares os estudos culturais aproximassem de questões referentes a
grupos das classes operarias de mulheres, de negros e outras minorias, abrindo espaço para se
estudar nos meios acadêmicos as chamadas subculturas.
Essa movimentação intelectual do século XX será estendida a outros campos do saber,
tais como a História que abre caminho através da Nova História Cultural, para o debate de
temáticas vinculadas a grupos sociais até então excluídos historicamente, como os operários,
camponeses, mulheres, escravos, pluralizando-se os objetos de investigação histórica. Essa
nova forma de fazer história possibilita: “a renovação das correntes da história e dos campos
de pesquisa, multiplicando o universo temático e os objetos, bem como a utilização de uma
multiplicidade de novas fontes” (PESAVENTO, 2005, p. 69).
A Nova História Cultural surge em um momento crucial do fazer cientifico, onde os
modelos cartesianos, estruturalistas e globalizantes, pautados nas explicações de recortes
macrossociais da realidade já não dão conta de colocar em cena os distintos atores que
compunham a trama social, em suas experiências cotidianas, e em suas relações entre si e com
o poder.
A aproximação da História com a Antropologia favoreceu um maior interesse pelos
estudos das relações familiares, ou seja, a pesquisa da vida privada, espaço de atuação
feminina. Outro fator responsável pela busca da construção de uma História das mulheres foi
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o feminismo, que coloca na ordem do dia a necessidade de se discutir sobre os vários aspectos
que englobam a vida das mulheres.
Essa nova forma de fazer História converge com o surgimento do paradigma
emergente da transdisciplinaridade, que busca em seu bojo superar a hierarquização dos
saberes.
Com movimento feminista que teve início na ideologia política do século XIX, mas
que só se expandiu nos anos 60 através das reivindicações das mulheres e dos movimentos
políticos, é que a História das mulheres ganha espaço e se consolida no meio acadêmico. A
historiadora Mary Del Priore afirma que foram as feministas que fizeram a História das
Mulheres antes dos historiadores, lançando as bases para a criação de uma História das
Mulheres.
Nesse contexto é inegável pensar em uma História das Mulheres sem pensar na
contribuição do movimento feminista. É importante destacar uma das principais precursoras
do projeto de criação de uma História das Mulheres a historiadora francesa Michelle Perrot.
“Da História, muitas vezes a mulher é excluída”, essa afirmação feita por Perrot,
balizava a inquietação das intelectuais feministas da época, vários questionamentos eram
feitos tais como: as mulheres têm uma História? ou é possível fazer uma História das
Mulheres? essas questões aparentemente de difícil resolução basearam os primeiros estudos
sobre a História das Mulheres. Com o tempo, nos debates e nos grupos de estudo de gênero,
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Para além dos estudos Feministas na construção de uma “Historia das Mulheres”
relações de gênero e como a identificação pessoal vai ser influenciada por fatores subjetivos e
objetivos. A construção da identidade dar-se na relação com o outro e por constituição
discursiva. Portanto, não há como tratar desta questão sem reconhecer que para a existência
de um, há que se ter reconhecimento do outro. E essa identidade constrói-se ainda de acordo
com o contexto. Como nos diz Ciampa (1984, 65):
Dicotomizar e exaltar apenas uma das características dos opostos (por exemplo,
racionalidade e objetividade) como base do ensino tem levado a incompreensões do
processo de ensino e aprendizagem, justamente pela unilateralidade.Essa polaridade
igualmente provoca nas gerações que geraram e continuam a passar por tal sistema a
incapacidade de administrar e articular-se como seres humanos completos e
internamente harmônicos (AKIKO SANTOS, 2009, P.27).
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Dessa forma o feminismo buscou e ainda busca a articulação entre ser e fazer, estar e
ser, diz não a fragmentação do processo histórico e tem na transdisciplinaridade um campo de
saber aliado para essa empreitada. De modo que as realidades possam dialogar, e as
multiplicidades das experiências possam aparecer como algo positivo a ser valorizado na
contemporaneidade, em busca de uma sociedade com mais equidade entre os gêneros.
Considerações Finais
REFERÊNCIAS
DUBY, Georges e PERROT, Michelle. (orgs.) Escrever a História das Mulheres. In:
THÉBAUD, Françoise.História das Mulheres no Ocidente. O século XX. Porto, Edições
Afrontamento, 1995.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & história cultural. 2ª Edição. Belo Horizonte:
Autêntica, 2005. 132p.
SCOTT, Joan W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Vol.
2, Jul/Dez. 1995.