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Metodologia Das Ciências Sociais - Metodos Qualitativos - (Apontamentos) Jorge Loureiro
Metodologia Das Ciências Sociais - Metodos Qualitativos - (Apontamentos) Jorge Loureiro
Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas.
O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não
pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.
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Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.
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ÍNDICE
1. VISÃO PANORÂMICA 7
1.1. O Projecto de Investigação em Ciências Sociais 7
1.1.1. Duas questões prévias 7
1.1.1.1. A questão da informação disponível 7
1.1.1.1.1. Uma atitude de recordista 7
1.1.1.1.2. Recolha preliminar de informação 8
1.1.1.1.3. Já se escreveu tudo sobre determinado assunto? 9
1.1.1.1.4. O nevoeiro informacional 10
1.1.1.2. A questão da gestão do tempo 11
1.1.2. Elementos para o planeamento de uma investigação 12
1.1.2.1. Investigar o quê? (Delimitar o objecto de estudo) 12
1.1.2.2. Definir o objectivo da pesquisa 14
1.1.2.3. Programar a pesquisa 14
1.1.2.4. Identificar e articular os recursos necessários 15
1.1.3. Ferramentas metacognitivas para investigação 16
1.1.3.1. Os mapas conceptuais
1.1.3.1.1. O que é um mapa conceptual? 16
1.1.3.1.2. Passos para a elaboração de um mapa conceptual 16
1.1.3.1.3. Clarificar conceitos 17
1.1.3.1.4. Desempacotar um conhecimento complexo 18
1.1.3.1.5. Conceber um campo semântico 19
1.1.3.2. Outros diagramas estruturadores cognitivos 21
1.1.3.3. O Vê heurístico, epistemológico ou de Gowin 24
1.2. Pesquisa Documental 27
1.2.1. Papel da pesquisa documental no contexto do processo de 27
investigação 27
1.2.2. Documentos escritos 27
1.2.2.1. Onde procurar? 27
1.2.2.1.1. Bibliotecas e arquivos 28
1.2.2.1.2. Primeira triagem 30
1.2.2.2. Exploração do texto 30
1.2.2.2.1. A economia da leitura 30
1.2.2.2.2. Estratégias de exploração de texto 32
1.2.2.3. Registo de dados 32
1.2.2.3.1. Fichas bibliográficas 35
1.2.2.3.2. Fichas de leitura 36
1.2.2.3.3. Sistemas de classificação 36
1.2.2.4. Documentos oficiais 36
1.2.2.4.1. Publicações oficiais 37
1.2.2.4.2. Documentos não publicados 37
1.2.2.5. Estatísticas 37
1.2.2.5.1. Virtualidades 37
1.2.2.5.2. Limitações 38
1.2.2.5.3. Princípios orientadores 38
1.2.2.6. Documentos pessoais 39
1.2.2.6.1. Limitações 40
1.2.2.6.2. Princípios orientadores 40
1.2.2.7. Documentos escritos difundidos 40
1.2.2.7.1. O jornal como fonte de dados 41
1.2.2.7.2. Análise de impacto 42
1.2.3. Documentos não escritos 42
1.2.3.1. Objectos 42
1.3. Técnicas de Observação 43
1.3.1. O que é observar? 43
1.3.1.1. O testemunho dos deficientes 43
1.3.1.2. Os ensinamentos de Baden Powell 44
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1. VISÃO PANORÂMICA
Hermano Carmo
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4
Morin, Edgar (1981), As Grandes Questões do Nosso Tempo, Editorial Notícias, Lisboa, pag.19 e
sgs. Outros autores têm chamado a atenção para esta questão da falta de transparência da sociedade
contemporânea. Pierre Rosanvallon, por exemplo, defende que o desenvolvimento da visibilidade social
é uma das quatro estratégias indispensáveis à ultrapassagem da crise do Estado Providência.
Rosanvallon, P. (1984), A Crise do Estado Providência, Inquérito, Lisboa.
11
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6
De acordo com Peter Drucker, uma das figuras mais importantes da Teoria e da Metodologia da
Gestão, a gestão do facto, do fracasso e do êxito inesperados, constitui uma das principais fontes de
inovação.
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7
Situam-se neste tipo os estudos de natureza monográfica.
8
Cada questão deve ser operacionalizada desmultiplicando as perguntas de acordo com a clássica
proposta de Lasswell: o quê, quando, onde, quanto, como e porquê.
15
● Equipamentos
— que tipo de hardware vou necessitar para o meu estudo
(computador – com que capacidade de disco, com que
memória RAM – impressora, scanner, modem, telefone,
gravador de video ou de audio, câmara fotográfica ou de
video – com que características)?
— que tipo de software será preciso (processamento de
texto, folha de cálculo, base de dados, gráfico,
estatístico, para telecomunicações, etc)?
● Apoio financeiro
— que patrocínios será possível obter para este tipo de
estudo?
— que bolsas?
● Apoio logístico
— expediente (cartas, recado, fax, arquivo)
— apoio administrativo (fotocópias, contabilidade)
● Apoio documentalístico
— bibliotecas, centros de documentação e arquivos
— documentalistas
● Orientação científica
— quem quero convidar para orientador(a)?
— que tipo de orientação pretendo? mais ou menos
directiva? mais centrada nos conteúdos ou na
metodologia da investigação?
16
Fonte: Carmo, 2005, O com bate à pobreza com o afirm ação dos Direitos Hum anos, Conferências Abertas, Coimbra, inédito.
Descolonização
Sociedade cosmopolita
Papel da Universidade
Personalidade Liderança Património Gerações Ambiente Mudança Pluralismo Igualdade Como Como
(gerações vivas (gerações cultural de género meta método
passadas) (presentes) futuras)
Educação da personalidade
Conjunto de traços
Que moldam
o
Carácter (identidade)
da da da
do da
da
grupo organização região nação espécie humana
pessoa
integra integra
1. Linguís ticos 5. Cine sté sica-corporais 9. Inibidore s de s olidariedade 10. Prom otores de
2. Lógico-m ate m áticos 6. Naturalistas ou biológicos (ódio, im paciê ncia, intolerância, s olidariedade (am or,
3. Es paciais 7. Intra-pe ss oais rancor, s oberba e afins => é tica de paciê ncia, tolerância,
4. M usicais 8. Inte r-pes soais refream ento: dis ciplina interior perdão, hum ildade e afins
Fonte: Carmo, 2004, Educar para a identidade nacional, numa economia solidária e numa cultura de
paz, in Educação da juventude: carácter, liderança e cidadania, “Nação e Defesa” (Número Extra Série,
Julho de 2004) Lisboa, Instituto de Defesa Nacional
_______________________________________
11
Chamamos estruturadores cognitivos aos diagramas que permitem uma melhor estruturação da
informação possibilitando a sua transformação em conhecimento.
22
Níveis de complexidade
da intervenção social
Identificação
do problema
Há Sim Análise do
Não consenso? problema
Definição de
Há Sim objectivos,
consenso?
programas
e acções
Não
Implementação e
Sim Há
seguimento das
consenso?
normas do contrato
Não
Não Sim
Programas Objectivos
cumpridos? alcançados?
Sim
Avaliação
Encerramento
Fonte: Carmo, 2001: 73
Cfr. Novak, Joseph; Gowin, Bob, 1996, Aprender a aprender, Lisboa Plátano, 1.ª ed. De 1984 ou Moreira,
M.A.; Buchweitz, B., 1993, Novas estratégias de ensino e aprendizagem: os mapas conceptuais e o Vê
epistemológico, Lisboa, Plátano; Novak, Joseph, 2000, Aprender, criar e utilizar o conhecimento – mapas
conceptuais como ferramentas de facilitação nas escolas e empresas, Lisboa, Plátano.
Exemplo 1
GRAWITZ, Madeleine (1993), Méthodes des sciences
sociales, Paris, Dalloz, 870 pp, com um excerto da lição de
abertura do Cours de science sociale (1888) de E.
Durkheim, prefácios da autora às 1ª e 9ª edições.
Exemplo 2
ABADIA, António Farjas; COLLAZO, Carmen Madrigal
(1989), Sociologia del Estudiantado y Rendimiento
Académico, Madrid, UNED.
Exemplo 3
DOERFERT, Frank et al. (1989), Short descriptions of
selected distance education institutions, Hagen,
FernUniversitat.
Exemplo 4
BOUDON, Raymond, coord. (1990), Dicionário de
Sociologia, Lisboa, D. Quixote.
Exemplo 5
AAVV, (1990), Ciências da Educação em Portugal, Porto,
Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação.
Exemplo 6
CEREZO, Sérgio Sánchez (coord.) 1983, Diccionario de
las Ciencias de la Educación, Madrid, Diagonal/Santillana.
Exemplo 7
COSTA, A. Bruto da (1984), Conceito de Pobreza,
“Estudos de Economia”, Lisboa, (3), Abril-Junho, pp.
275-295.
Exemplo 8
CÂMARA, J. Bettencourt da (1986), A III Revolução
Industrial e o Caso Português, in AAVV, “Portugal Face à
III Revolução Industrial; Seminário dos 80”, Lisboa, ISCSP,
pp. 63-111.
Exemplo 9
Identificação da obra
Resumos
Comentários e
pessoais
“(...)citações (pág. n)”
Exemplo 10
Miranda, Joana Catarina Tarelho de (1994), Grupos
étnicos em Portugal. Os estereótipos dos
“portugueses”, Lisboa, s.n., 197 pp, tese de mestrado em
relações interculturais.
Psicologia Social, Interculturalismo, Comportamento,
Juventude, Identidade, MRI, Questionários, Grupos étnicos,
Portugal, Relações intergrupos, Estereotipo, Racismo,
Xenofobia.
1.2.2.5. Estatísticas
As estatísticas podem também ser excelentes fontes de
informação. No entanto, há que ter consciência que não passam de
simples instrumentos ao serviço do investigador tendo
potencialidades e limitações e devendo ser usadas
adequadamente como qualquer outra ferramenta.
1.2.2.5.1. Virtualidades
Dados provenientes de Censos, de Anuários ou de
Estatísticas Especiais, podem constituir elementos valiosos
por exprimirem grandes tendências nos campos
demográfico, social, económico e cultural, de outra maneira
dificilmente percepcionáveis.
1.2.2.5.2. Limitações
1.º As estatísticas são concebidas por pessoas, com
critérios de categorização e arrumação discutíveis,
nem sempre suficientemente explícitos. Polémicas
frequentes em torno do modo como se concebem e
analisam as taxas de inflação e de desemprego, mostram
que nem sempre a fundamentação conceptual das
estatísticas é consensual, permitindo margens de
interpretação demasiado amplas para serem fiáveis em
________________________________
17
O fenómeno a que Adriano Moreira chama clandestinidade do Estado (1979, Ciência Política, Lisboa,
Bertrand) traduz-se, mesmo nos Estados em que a Democracia tem fortes raízes, num manto secreto
e/ou sagrado com que a informação é coberta face aos cidadãos exteriores ao aparelho de Estado, o
que naturalmente dificulta o trabalho de qualquer investigador. Isto, apesar da legislação conducente a
dar maior transparência ao trabalho da Administração como, entre nós, o Código de Procedimento
Administrativo.
38
termos absolutos.
2.º Há que não esquecer que, por vezes, as estatísticas são
concebidas não para clarificarem a realidade mas para
justificarem prévias interpretações sobre essa mesma
realidade. A posição do investigador perante os dados
estatísticos deve ser, por isso, acompanhada de uma
atenção crítica constante, sobretudo no que respeita aos
critérios de categorização e de cálculo.
3.º Os conceptores das estatísticas não têm os mesmos
interesses que os investigadores o que os leva a não
terem em conta os mesmos critérios classificatórios.
A simples categorização de grupos culturais inserta na
base de dados Entreculturas ilustra as dificuldades que
se podem encontrar nestes domínios, sublinhando o
cuidado com que as estatísticas devem ser manipuladas.
1.2.2.6.1. Limitações
Em síntese é importante ter em conta que:
● como expressões subjectivas dos actores sociais, estão
limitados pelos preconceitos, esteriótipos e ideologias dos
autores; valendo como testemunhos privilegiados de quem
viveu dada realidade, não a retratam com objectividade mas
com os olhos de quem a viveu por dentro, por vezes em
situações de grande envolvimento emocional com os
inevitáveis filtros perceptivos de natureza afectiva e
cognitiva;
● por vezes não constituem documentos sociográficos (ainda
que subjectivos) mas auto-justificações mais ou menos
fundamentadas do comportamento dos autores (bastante
frequente em autobiografias de celebridades);
dada a singularidade de algumas informações que os
●
integram, é difícil provar a sua veracidade;
________________________________
19
Utilizamos o termo empatia no sentido rogeriano do termo, expressando a ideia de o investigador
entender o modo como o Outro (neste caso o investigado) vê e experimenta o Mundo e a Vida, tendo
no entanto consciência que não se é o Outro. Para ilustrar o conceito de empatia, Gisela Konopka
numa obra clássica cita um provérbio índio que diz: Nunca julgue um homem sem antes ter caminhado
com os seus moccasins durante uma lua. Konopka, G. (1972) Serviço Social de Grupo: Um
Processo de ajuda, Rio de Janeiro, Zahar, 2ª edição, da edição original de 1963, pp. 111-112
40
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21
Este tipo de aproximação é mais próprio dos arqueólogos e dos antropólogos culturais que estudam
culturas tradicionais. Numa dissertação sobre Relações Interculturais provavelmente o investigador
observará objectos e classificá-los-á mas não necessitará de os recolher. Para quem precisar de o
fazer é recomendável a leitura de um livro dessas especialidades. Cfr. por exemplo Mauss, Marcel (s/d)
ou Ribeiro (2003).
43
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22
O termo scout significa literalmente batedor, explorador, observador militar, sentinela avançada. Em
português a palavra foi traduzida por escoteiro (designação adoptada pela Associação dos Escoteiros
de Portugal) e por escuteiro ou escuta (tradução convencionada pelo Corpo Nacional de Escutas).
45
Outro
Conhecido Desconhecido
Próprio pelo outro pelo outro
Conhecido
Área livre Área secreta
pelo próprio
Desconhecido
Área cega Área inconsciente
pelo próprio
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27
Com o termo objectivamente, quer sublinhar-se que as consequências desta situação seriam
independentes da boa vontade dos nossos informadores.
57
________________________________
33
Correspondentes à sua área secreta.
60
61
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34
Não é relevante falar-se das áreas inconscientes uma vez que estas não se alterarão
significativamente numa entrevista deste tipo.
62
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35
Um exemplo deste tipo de questões: na pesquisa sobre os sistemas ibéricos de ensino superior à
distância não se encontrou, na documentação escrita, qualquer alusão significativa às resistências à
criação da Universidade Aberta, ocorridas durante os diversos anos da sua gestação. Para se
responder a esta questão, foi necessário recorrer a entrevistas a informadores qualificados.
64
1 - Entrevista clínica
2 - Entrevista em profundidade
● Entrevistas mistas
3 - Entrevista livre
4 - Entrevista centrada
● Entrevistas dominantemente formais
Situação Possibi-
Tipo de Número de Ordem das Forma das Focagem das
Comuni- lidades de
entrevista questões questões questões questões
cacional análise
1. Clínica <<< <<< + no Quase +
< <
4. Centrada
> >
5. Com
perguntas
abertas >> >>
6. Com + nos conhe- +
perguntas cimentos do Quase diálogo
fechadas >>> >>> fechadas entrevistado quantitativa
________________________________
37
Quase-monólogo uma vez que o entrevistador tem uma intervenção extremamente reduzida. O termo
quase, exprime a interacção do entrevistador que, ainda que reduzida, intervém na produção do
discurso com a sua simples presença.
38
Quase-diálogo visto que a situação de entrevista é artificial. Apesar da dinâmica interactiva gerada
pelo conjunto perguntas/respostas ser semelhante a um diálogo vulgar, a sua formalização retira-lhe a
espontaneidade; daí a expressão quase.
66
ANTES:
● Definir o objectivo
● Construir o guia de entrevista
● Escolher os entrevistados
● Preparar as pessoas a serem entrevistadas
● Marcar a data, a hora e o local
● Preparar os entrevistadores (formação técnica)
DURANTE:
● Explicar quem somos e o que queremos
● Obter e manter a confiança
● Saber escutar
● Dar tempo para “aquecer” a relação
● Manter o controlo com diplomacia
● Utilizar perguntas de aquecimento e focagem
● Enquadrar as perguntas melindrosas
● Evitar perguntas redutoras
DEPOIS:
● Registar as observações sobre o comportamento do entrevistado
● Registar as observações sobre o ambiente em que decorreu a
entrevista
ou ainda
2. APROFUNDAMENTO TEMÁTICO
Manuela Malheiro Ferreira
2.3.3.1. Inquéritos
Nestes estudos utilizam-se questionários e entrevistas para
recolher dados.
2.4.3.5. Quantificação
Está fora do âmbito deste Manual indicar toda a variedade das
técnicas de quantificação na Análise de Conteúdo, técnicas que
evoluíram muito e se diversificaram devido não só ao
desenvolvimento da análise estatística aplicada ao campo das
Ciências Sociais como à utilização do próprio computador.