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O PROJETO DE MESTRADO

EM CIÊNCIA POLÍTICA
(IFCH – Unicamp)

O Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências


Humanas (IFCH) da Unicamp apresenta abaixo as características gerais da
dissertação do seu programa de mestrado.
O departamento visa oferecer, com este documento, uma orientação
geral e flexível aos estudantes sobre o trabalho de dissertação. Não se trata,
portanto, de um modelo detalhado e fechado. Na definição de um projeto de
dissertação, podem surgir problemas complexos e específicos e soluções
inovadoras que só devem ser encaminhados de acordo com o caso particular.
Não se trata, tampouco, de definir aspectos conteudísticos do trabalho de
dissertação atinentes à sua orientação teórica, à escolha do tema e ao
encaminhamento concreto da pesquisa. Essa definição é atribuição do próprio
estudante com a ajuda e a supervisão do seu orientador.
As características gerais da dissertação e as exigências aqui
estabelecidas conciliam o padrão tradicional de excelência acadêmica da nossa
universidade e do nosso departamento com a recente redução do período da
bolsa de mestrado imposta pelas agências de fomento. Em relação ao modelo
de dissertação de mestrado consagrado pela tradição no nosso programa,
reduzimos a amplitude do trabalho e mantivemos as exigências de qualidade.

I – O conceito de dissertação:
monografia, dissertação e tese

O nosso programa é um programa de mestrado estrito senso que,


diferentemente dos programas de mestrado lato senso, deve habilitar os
estudantes para a realização de pesquisa científica. Em decorrência disso, a
dissertação é imprescindível para a obtenção do título de mestre. A
dissertação distingue-se tanto da monografia, que é produzida no final de
alguns cursos de graduação, quanto da tese, que é exigida para se obter o título
de doutor.
A Monografia de Conclusão da Graduação é, acima de tudo, um
exercício do estudante, tem uma função pedagógica, formativa, e não se exige
que apresente uma contribuição original à área de pesquisa na qual ela se
insere. Já a Tese de Doutorado, embora possua, como toda atividade
acadêmica, uma função formativa, não se define por esse aspecto. O
específico desse trabalho é que ele deve conter tese, argumento e pesquisa
originais, contribuindo, de modo inovador, para o conhecimento na área em
que se insere. A tese de doutorado representa a afirmação da autonomia
intelectual do pesquisador. A dissertação de mestrado está a meio caminho
entre a monografia e a tese.
A elaboração da dissertação possui uma função formativa importante
para o estudante; ela deve ser considerada o seu primeiro trabalho científico,
aquele que o inicia na atividade de pesquisa. Mas, a essa função formativa,
acrescenta-se a exigência de que o trabalho de dissertação represente,
efetivamente, uma contribuição original na sua área de pesquisa. Tal
contribuição original, contudo, é distinta daquela que se exige de uma tese de
doutorado. A dissertação de mestrado não necessita apresentar uma tese
original, mas, sim, efetuar uma pesquisa original. O objetivo dessa pesquisa
original pode variar. Ela poderá ter como objetivo testar e desenvolver teses
presentes na bibliografia especializada, ou levantar informações novas sobre
um tema pouco estudado, ou, ainda, organizar de modo novo informações já
conhecidas.

II – Os tipos de dissertação

1. A dissertação pode ser uma pesquisa empírica ou uma pesquisa


teórica.

1.1 A pesquisa empírica tem como objeto uma realidade determinada,


enquanto a pesquisa teórica tem como objeto teorias e conceitos. Portanto, a
pesquisa empírica distingue-se da pesquisa teórica pelo seu objeto. No que
concerne aos meios utilizados por uma e por outra, esses são, no geral, os
mesmos; ambas operam, no tratamento do seu objeto, com teorias, com
conceitos e com informações sobre a realidade.

1. 2 A pesquisa empírica poderá versar sobre o Brasil ou sobre outros


países, podendo eleger para análise tanto um tema histórico quanto um tema
de atualidade. Dependendo do tema escolhido, a pesquisa em fonte primária
pode ser necessária, mas a utilização de fontes primárias não é uma exigência
para a produção da dissertação de mestrado.

2. Tanto a dissertação que realiza uma pesquisa teórica quanto a


dissertação que realiza uma pesquisa empírica podem ser classificadas em três
tipos: o estudo de caso contextualizado, o estudo exploratório ou o estudo
bibliográfico. A definição desses tipos toma por critério a relação da
dissertação com o conhecimento acumulado na área temática que ela trabalha.
Tal classificação não esgota todas as possibilidades para a elaboração de uma
dissertação, mas é útil para orientar o estudante.

2.1 O estudo de caso contextualizado é o tipo de dissertação mais


comum no Mestrado de Ciência Política da Unicamp. O objetivo desse tipo de
pesquisa é testar e desenvolver teses presentes na bibliografia sobre um
determinado tema. Para tanto, no estudo de caso contextualizado, o estudante
deve, de um lado, delimitar um tema específico e pesquisá-lo em detalhes, e,
de outro lado, inseri-lo no contexto bibliográfico pertinente. São essa inserção
e esse teste que conferem à dissertação um alcance que ultrapassa os limites
do caso estudado e vinculam-na ao processo mais amplo de desenvolvimento
da pesquisa em Ciência Política. Nesse tipo de estudo, a busca de informações
novas sobre um caso específico e o diálogo com o conhecimento acumulado
na bibliografia existente igualam-se em importância.
Para tal contextualização, não é necessário que a dissertação traga uma
exposição sistemática da teoria que irá utilizar e tampouco que apresente um
balanço bibliográfico amplo e diversificado do tema que irá examinar. Basta
que exponha e confronte, geralmente na introdução do trabalho de dissertação,
pelo menos as teses presentes na bibliografia que serão testadas ou
desenvolvidas ao longo do trabalho, indicando os pressupostos e implicações
de tais teses. A exposição dos dados e dos argumentos ao longo da dissertação
deve se subordinar aos problemas colocados nessa introdução.
O estudo de caso contextualizado contribui para a consolidação das
linhas de pesquisa do Mestrado em Ciência Política. Ele permite a divisão do
trabalho e a cooperação intelectual entre os mestrandos, ocupados com temas
conexos de uma mesma linha de pesquisa sob a coordenação de um
orientador, e possibilita, pela somatória dos resultados das pesquisas
individuais, o acúmulo de conhecimento sobre determinados temas, ampliando
e evidenciando a contribuição particular do Mestrado em Ciência Política da
Unicamp nas áreas de pesquisa que ele abriga.

2.2 O estudo exploratório versa sobre um tema pouco pesquisado, sobre


o qual ainda não se acumulou uma bibliografia significativa. Nesse tipo de
estudo, o que contam são as informações novas levantadas pelo mestrando, e
não o diálogo com o conhecimento acumulado, que ainda é pequeno. O
mestrando pode realizar um levantamento descritivo, mais ou menos livre,
sobre o seu tema. Deve, contudo, tomar por referência alguns conhecimentos
prévios mínimos, para definir qual é o interesse e a pertinência dos fatos
levantados. A dissertação que realiza um estudo exploratório deve apresentar
na sua introdução as razões que justificam a opção por esse tipo de estudo para
o caso do tema que toma como objeto.

2.3 O estudo bibliográfico é um tipo de pesquisa que também podemos


considerar à parte. A realização de um estudo desse tipo só tem sentido para
temas já bastante pesquisados, em torno dos quais se tenha acumulado uma
bibliografia significativa. É a situação oposta àquela do estudo exploratório.
No estudo bibliográfico, o diálogo com o conhecimento acumulado domina
amplamente a dissertação. O mestrando analisa, classifica e comenta a
bibliografia existente sobre um determinado tema.

3. Qualquer um desses três tipos de dissertação, o estudo de caso


contextualizado, o estudo exploratório ou o estudo bibliográfico, pode ser,
como já indicamos, uma pesquisa empírica ou uma pesquisa teórica.
Pode-se realizar um estudo de caso contextualizado sobre uma
determinada crise política, confrontando, no estudo dessa crise específica,
interpretações distintas do período histórico no qual ela se insere, mas também
se pode realizar um estudo de caso contextualizado sobre um determinado
conceito numa determinada obra, confrontando, no estudo específico de tal
conceito, interpretações distintas da teoria na qual ele se insere. O primeiro
exemplo é um estudo de caso que configura uma pesquisa empírica, enquanto
o segundo exemplo é um estudo caso que configura uma pesquisa teórica.
Pode-se realizar um estudo exploratório empírico, por exemplo, sobre
um movimento social muito recente, sobre o qual não se tenha acumulado
ainda uma bibliografia significativa, mas também se pode realizar um estudo
exploratório teórico, por exemplo, sobre a utilização de uma teoria ou de um
conceito numa área da Ciência Política, desde que a pesquisa sobre tal
utilização inexista ou seja ainda incipiente.
Pode-se realizar um estudo da bibliografia que trata das relações entre
determinados países num determinado período, ou um estudo bibliográfico
sobre teorias ou conceitos das relações internacionais. No primeiro exemplo, o
estudo bibliográfico irá analisar, classificar e comentar pesquisas empíricas,
no segundo, fará o mesmo tipo de trabalho só que sobre uma bibliografia
teórica.

4. Em cada uma das possibilidades indicadas acima, o mestrando poderá


eleger para o trabalho de dissertação temas pertencentes às linhas de pesquisa
do mestrado em Ciência Política da UNICAMP: movimentos sociais, partidos
políticos, cultura e política, Estado e políticas públicas, relações
internacionais, teoria política, política brasileira, política latino-americana e
outros.

III – Aspectos formais e quantitativos da dissertação


e sua relação com a tese de doutorado

1. A dissertação deve conter: a) uma introdução que apresenta os seus


problemas e objetivos, b) os capítulos que apresentam a pesquisa realizada e
c) uma conclusão onde são apresentadas ou resumidas as contribuições do
trabalho.

2. A extensão das dissertações pode variar. Como valor de referência e


indicativo, o Mestrado em Ciência Política estipula um trabalho de cerca de
250 mil caracteres, contando os espaços. Isso perfaz, utilizando a fonte Times
new roman tamanho 12, um trabalho de cerca de cem páginas de trinta linhas,
com 80 a 85 caracteres por linha.

3. A dissertação é um trabalho completo e independente, apto, nesse


aspecto, para publicação. Ela pode servir, contudo, de preparação para a tese
de doutorado, caso o mestrando tenha em vista avançar na atividade de
pesquisador. O projeto de doutorado pode ampliar ou aprofundar, de
diferentes maneiras, a pesquisa realizada no mestrado, permitindo ao
estudante acumular conhecimento e formular problemas e teses inovadoras no
doutoramento.

Departamento de Ciência Política, IFCH,


Unicamp, Agosto de 2007.

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