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DIREITO ADMINISTRATIVO – Turma 8º S

Camila Rodrigues
Darielly Vaz de Lima
Eriberto Atti
Gustavo Padilha
Jonathan Erik von Erkert
Lidiane Mari Satomi
Luiz Balestra

1- Considerando a natureza e as especificidades da ANEEL, qual o


fundamento jurídico para a criação dessa agência reguladora?

O fundamento jurídico para a criação dessa agência é o de que o executivo


deverá, diretamente ou através de concessão ou permissão, prestar os
serviços públicos (artigo 175, CF/88). Porém, para que tais serviços sejam
prestados, a CF/88, em seu artigo 37, inciso XIX possibilita ao governo federal
criar autarquias (como a ANEEL), sendo que tal criação deverá ser feita por lei
específica e devendo definir a área de atuação da mesma (conforme artigo 37,
inciso XIX, CF/88).
Foi visando esta prestação de serviços públicos relacionados à área energética
brasileira que foi criada a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica),
através da Lei 9.427/96 e tendo por finalidade regular e fiscalizar a produção,
transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em
conformidade com as diretrizes com as políticas do governo federal (artigo 2º
da Lei 9.427/96).

A Constituição Federal outorga competência exclusiva para a União explorar,


diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços e
instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos das
águas, conforme artigo 21, XII, “b”.
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Foi visando regular esta prestação de serviços públicos relacionados à área


energética brasileira que foi criada a ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica), através da Lei 9.427/96, com finalidade regular e fiscalizar a
produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em
conformidade com as diretrizes com as políticas do governo federal (artigo 2º
da Lei 9.427/96).

A CF/88 dispõe sobre a ligação entre o Executivo e as agências nos artigos 84,
II (“Compete privativamente ao Presidente da República: II – exercer, com o
auxílio dos Ministros de Estado, a direção superior da administração Federal”)
e 87, parágrafo único, I, (“Compete ao Ministro de Estado, além de outras
atribuições estabelecidas nesta Constituição e na lei: I – exercer a orientação,
coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração federal na
área de sua competência e referendar os atos e decretos assinados pelo
Presidente da República”), pois há necessidade de supervisão administrativa
daquele em relação a estas.

2- Verificar na lei da ANEEL quais as competências que prestigiam o


atendimento aos princípios do Serviço Público.

Continuidade do Serviço Público: art. 17


Mutabilidade: art. 03º
Igualdade do Usuário: art. 02º, XII
Eficiência:
Modicidade das Tarifas: art. 02º, XVIII

03- Comentar os dispositivos que prestigiam o princípio da Continuidade


do Serviço Público.

O artigo 17 da Lei 9427/96 prevê a suspensão do fornecimento de energia


elétrica em caso de inadimplemento de consumidor que preste serviço público
ou essencial à população, porém, deve haver a comunicação com
antecedência de 15 dias ao Poder Público local ou ao Poder Executivo
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Estadual.
Tal dispositivo, em uma primeira análise abre o questionamento acerca da
possibilidade de estar sendo ferido o princípio da continuidade do serviço
público. Porém, tal assertiva não merece prosperar, uma vez que o
mencionado dispositivo não deve ser analisado isoladamente, mas em conjunto
com a Lei 8987/95, que é clara ao prever em seu artigo 6º, § 3º que não se
caracteriza como descontinuidade do serviço, sua interrupção em situação de
emergência ou após prévio aviso, por razões de ordem técnica ou de
segurança das instalações, ou ainda, por inadimplemento do usuário, conforme
prevê o caput do artigo 17 da lei em estudo.

04 – Indicar quais são os instrumentos determinantes para se considerar


a agência como um órgão técnico.

A característica que tornaria as agências reguladoras entidades de caráter


eminentemente técnico é a ausência de interferência política em sua gestão.
Elas devem, portanto, ter a autonomia financeira e o mandato fixo de seus
dirigentes – prerrogativas previstas no artigo 5º da Lei 9.427/96.
No entanto, apesar do orçamento definido e dos mandatos por tempo
determinado, os valores repassados às agências reguladoras ainda são
determinados pelo Estado, assim como a indicação dos seus gestores. Não é
uma completa autonomia.
Celso Antonio Bandeira de Melo também sugere que, no Brasil, as agências
reguladoras devem ter um caráter predominantemente técnico pela simples
impossibilidade de que atuar em outro papel – legislando, por exemplo, como
as agências americanas fazem.

05 - Quais são os mecanismos de controle da agência reguladora? Eles


prestigiam a efetiva “autonomia” da agência reguladora?

A ANEEL é autarquia de regime especial vinculada ao Ministério de Minas e


Energia. É o Ministério, segundo inteligência do artigo 3, I, da lei 9247/96,
quem atribuí à ANEEL a competência para implementar as políticas e diretrizes
do governo federal para a exploração da energia elétrica e o aproveitamento
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dos potenciais hidráulicos. O inciso II do mesmo artigo determina que após


aprovação do Executivo cabe à agência promover os procedimentos
licitatórios, tendo como base o plano de outorgas e diretrizes aprovados pelo
poder concedente ( Executivo ).
O artigo 3-A acrescido pela lei n 10848/04 vem a aumentar o poder do
Executivo sobre a agência, traz como sua a competência de elaborar o plano
de outorgas, de definir as diretrizes para os procedimentos licitatórios, além de
celebrar os contratos de concessão de uso de bens públicos, bem como
expedir atos autorizativos. Cabe à agência a operacionalização dos
procedimentos licitatórios e o Executivo delegando pode celebrar contratos e
expedir atos autorizativos.
A nomeação dos diretores da agência é feita pelo Presidente da República e
aprovada pelo Senado Federal. O que resta de autonomia é o fato de seu
mandato ser fixo o que impede a sua exoneração por motivos políticos.
O artigo 7 prevê que a administração da ANEEL estará sujeita a contrato de
gestão no qual o Ministério irá controlar a atuação, avaliar o desempenho e
estabelecer parâmetros para a administração da agência.
O artigo 11 dispõe sobre o orçamento da agência, que possui recursos
próprios, porém parcos, que são complementados por recursos advindos do
Tesouro Nacional. O artigo 32 mostra que mesmo que próprios tais recursos
dependem de dotação orçamentária portanto, na verdade, pertencem ao
Executivo.
Sendo assim, conclui-se que a agência não possui autonomia administrativa e
muito menos financeira, sendo mera autarquia subordinada ao Ministério de
Minas e Energia.

06 – Fazer uma relação entre a autonomia e a questão de recursos


orçamentários e financeiros.

A ANEEL é Agência Reguladora, constituindo-se uma autarquia de regime


especial, sob a égide da Lei 9.427/96.
O conceito de autonomia financeira está ligado à noção de independência,
representado pela maior ou menor capacidade de uma empresa ou entidade,
fazer face aos seus compromissos financeiros, através dos seus capitais
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próprios. Este conceito pode ser também utilizado para pessoas de direito
público, representando a expressão dar receita própria, passível de ser
utilizada autonomamente.
Ocorre que a própria formatação de uma Agência Reguladora, traz no seu bojo
a automomia em questão, para que se realize técnicamente os trabalhos a que
a entidade se propõe.
Destacamos que as receitas relevantes, do ponto de vista financeiro, de que se
serve a ANEEL, estão previstas no art. 11 inciso II “recursos ordinários do
Tesouro Nacional” e art. 12 recursos “da Taxa de Fiscalização de Serviços de
Energia Elétrica” da referida lei.
Na primeira hipótese, para pleitear recursos da Administração Central, a
Agência Reguladora terá que encaminhar à Secretaria Geral do Ministério a
que estiver submetida, uma proposta orçamentária. Em seguida esta proposta
será encaminhada ao Ministério do Planejamento onde fará parte da LOA (Lei
Orçamentária Anual), sempre exaurida com cortes. Em seguida a LOA será
enviada e aprovada pelo Congresso Nacional.
Com os recursos já aprovados e com cortes, o Governo Central, somente os
liberará às Agências, de forma paulatina, e isto, se não houver política de
contingenciamento.
Conseqüência lógica: absoluta dependência financeira do poder central, e
conseqüente perda da autonomia funcional.
No caso das receitas oriundas das Taxas de Fiscalização, previstas no art.12, o
itinerário financeiro é seguinte: recolhimento da taxa via GRU, pelo Banco do
Brasil. Estes valores são encaminhados à STN (Secretaria do Tesouro
Nacional) para registro fiscal, de onde deveriam ser repassados às entidades
legalmente beneficiadas.
Porém estes valores ficam retidos na STN, para fazer superávit fiscal, e são
repassados às Agências ao longo do exercício, e nem sempre na sua
totalidade.
Conseqüência: as autarquias não terão recursos em tempo hábil para utilização
nas suas tarefas; inviabilização para aplicação financeira dos recursos, prevista
em lei e reiteração da dependência econômico-financeira, junto ao poder
central.
Conclui-se, portanto, que a autonomia financeira conferida pelo legislador, na
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prática é uma ficção, o que coloca em xeque a própria razão de ser da Agência
Reguladora, que tem na sua essência a independência funcional, pois será a
sua administração tão rígida quanto à do próprio Estado, fazendo desaparecer
a conveniência da sua criação.

07 – Verificar a compatibilização da Lei da ANEEL com a Lei das


Concessões ordinárias.

O cotejo entre as leis revela uma principal diferença no que diz respeito à
indenização devida ao concessionário surgida na encampação da concessão.
A lei das concessões em seu artigo36 determina que a indenização devida
refere-se aos bens revertidos da concessão para o Estado, no que tange às
parcelas não amortizadas ou depreciadas, mas silencia em relação à
indenização por lucros cessantes.
Considerando que o principal fator na determinação dos valores apresentados
na licitação da concessão é o tempo do contrato (que permite calcular a
recuperação do investimento efetuado pelo concessionário), caso a concessão
seja encampada antes do decurso do prazo estipulado para ela é certo que o
concessionário tem direito ao que deixou de perceber no restante do tempo
que operaria a concessão. Neste caso, na forma de indenização.
No entanto, por outro lado a lei da ANEEL em seu artigo 19 explicita que a
indenização devida no caso da encampação exclui os lucros cessantes.
Necessária uma interpretação conforme a Constituição Federal, especialmente
quanto ao disposto no artigo 37, XXI, que exige, nos processos de licitação
para obras, serviços, compras e alienações, que sejam mantidas as condições
efetivas da proposta. Assim, uma vez extinto o contrato antes do prazo, por
razão de conveniência e oportunidade para a Administração Pública, não pode
o concessionário suportar os prejuízos decorrentes do desrespeito da equação
econômico-financeira do contrato. Outra solução não há a não ser a
indenização pelos lucros cessantes.

08 – É possível falar que a ANEEL tem competência normativa?

As agências reguladoras apresentam um regime especial. Dentre seus


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elementos, as agências possuem o poder normativo de caráter técnico. Este


consiste na delegação, conferida pelas leis instituidoras dessas autarquias, de
competência para editar normas técnicas específicas, capazes de inovar, em
certa medida, no ordenamento jurídico e insertas no âmbito próprio das
finalidades das agências reguladoras. Dessa forma, essas entidades passam a
deter competência para ditar normas com força de lei e com base apenas nos
conceitos vagos contidos na legislação.
À Aneel foi outorgada, no art. 2º de sua lei instituidora, a finalidade de " regular
e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia
elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal ". O
que diferencia as autarquias de regime especial das de regime comum é,
assim, justamente o poder regulamentar mais amplo conferido às agências.
De forma distinta deste, portanto, as agências reguladoras exercem função
disciplinadora, de caráter complementar, sempre em consonância com os
limites estabelecidos na lei instituidora. Em que pese o poder normativo
exercido pelas agências seja capaz de inovar, em certa medida, no
ordenamento jurídico, trata-se de simples delegação para edição de normas de
caráter técnico e complementar, e não de normas básicas de política
legislativa.
É necessário analisar o poder normativo exercido pelas agências reguladoras
com fundamento no princípio da especialidade e com vistas às finalidades com
que foram instituídas.
O fundamento para equiparar os atos das Agências Reguladoras com o
regulamento de competência do Chefe do Executivo está presente na
Constituição Federal, nos artigos 21, XI, 174 e 177, § 2°, III, os quais prevêem
a criação de órgãos reguladores. Considera-se que há uma delegação, prevista
na lei que criou as Agências, do poder regulamentar do Presidente da
República para esses órgãos, já que estão realizando função administrativa de
incumbência do Executivo. Ou seja, entende-se que o instrumento que prevê a
criação de órgãos para cumprir uma função de controle, a qual deveria ser
exercida pelo Executivo, prevê também a possibilidade de uso de recursos a
ele pertencentes, tais como o regulamento.
Analisando a Lei da ANEEL, temos como exemplo de competência normativa a
sua capacidade de fixar critérios para o processo de revisão tarifária, de acordo
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com o art. 3°, caput, entregou expressamente à ANEEL a atribuição prevista no


art. 29, V, da Lei n° 8.987/1995, que incumbe ao poder concedente “homologar
reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta Lei, das normas
pertinentes e do contrato”.
Em seguida, a Lei 9.427/96, ao trazer disciplina sobre o regime econômico-
financeiro das concessões de energia elétrica, prossegue delineando o
processo de revisão. O art. 15, IV, a sua vez, dispõe que as tarifas máximas do
serviço público de energia elétrica são fixadas “em ato específico da ANEEL,
que autorize a aplicação de novos valores, resultantes de revisão ou de
reajuste, nas condições do respectivo contrato”.
Ou seja, ao que se observa da leitura da legislação específica, foram definidas
apenas as linhas gerais da revisão tarifária, atribuindo-se ao poder concedente,
na figura da ANEEL (art. 3°, caput, da Lei n° 9.427/1996), competência para
promover o processo de revisão, no qual se garantisse o equilíbrio econômico-
financeiro e a apropriação de parte dos ganhos de eficiência empresarial e
competitividade, tendo como escopo a modicidade tarifária. Coube, então, aos
contratos de concessão estabelecer os parâmetros desse instrumento,
sinalizando claramente aos possíveis investidores os princípios que norteariam
a política tarifária.
Diante disso, pode-se perceber que as agências dispõem de um amplo poder
normativo, entendido aqui como a regulamentação das leis que regem o campo
de atividades a elas atribuído. Também lhes é conferido o poder de edição de
normas independentes sobre matérias não disciplinadas pela lei. Em outras
palavras, a lei concede às agências o poder de regulamentar a própria lei que a
instituiu. Sendo essa uma matéria que causa grande divergência na doutrina.
Assim, há correntes doutrinárias que defendem que a atribuição do poder
normativo para as agências reguladoras significa tão somente o
aprofundamento da atuação normativa do Estado e não a produção de
regulamentos autônomos, haja vista que todas as competências devem ter
base legal, e sendo assim, somente a lei pode criá-las, aferindo-lhes poderes
normativos.
No que tange ao principio da legalidade e o poder normativo das agências
reguladoras, relacionada está a impossibilidade da edição de regulamentos
independentes por parte das agências reguladoras que somente nos casos da
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outorga da competência normativa às agências reguladoras que foram


previstas no texto constitucional, e mesmo assim, se trata de uma capacidade
restrita e limitada, pois não podem contrariar a lei ou mesmo os decretos
emitidos pelo Presidente da República. Portanto, somente o Poder Constituinte
original ou o poder derivado (através das emendas constitucionais) poderiam
delegar a função normativa, e não as agências reguladoras.

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